O ECLÉTICO

May 29, 2017 | Autor: H. De Oliveira Lo... | Categoria: Architecture and urbanism
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XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis

O ECLÉTICO Autor: Hélade de Oliveira Lorenzoni Titulação: Arquiteta e Urbanista, mestranda em Arquitetura Instituição de origem: UniRitter Endereço eletrônico: [email protected]

Resumo: O Eclético, segundo seu significado no dicionário é aquilo que é formado por diferentes gêneros ou opiniões. Eclético em arquitetura é a maneira de projetar e edificar que abrange várias referências de épocas do passado. A historiografia considera que o período estende-se do Século XIX ao início do Século XX. No que concerne à arquitetura, o Eclético engloba uma vasta gama de características, desde distintos estilos arquitetônicos a diferentes técnicas construtivas. São formas que englobam linguagens do classicismo Greco-romano, passando pelo renascimento, até o Barroco e Rococó e em certo momento, de acordo com seu autor, essas diferentes linguagens são empregadas ao mesmo tempo, na mesma edificação. Vale-se de liberdade e pluralidade compositiva, não se atendo unicamente a essa ou aquela escola. Incorpora a multiplicidade de elementos produzidos em série, decorrentes da Revolução Industrial, além das então novas técnicas construtivas, que empregavam o ferro em estruturas revestidas, ou não.

Em um

determinado momento histórico lhe foi subtraído o valor. Esse artigo propõe uma revisão do período Eclético, apresentando sua contribuição para a História da Arquitetura, como resgate social e cultural. Palavras-chave: eclético; estilo polêmico; contribuição eclética.

1 Introdução Revisar o Estilo Eclético é a finalidade desse artigo. O Eclético apresenta ampla abrangência de significados. Também é um importante momento da História da Arquitetura, cujo período a historiografia considera estender-se do século XIX ao início do XX. O Eclético engloba uma vasta gama de características, desde distintos estilos arquitetônicos a diferentes técnicas construtivas. “No final do Século XVIII houve um retorno da arquitetura para Roma e Grécia, que foram a fonte principal da tradição europeia ocidental;”1 (HITCHCOCK. 1998, p.627). São formas que englobam linguagens do classicismo Greco-romano, passando pelo renascimento, Gótico, até o Barroco e Rococó e 1

Tradução do espanhol para o português pela autora.

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em certo momento, de acordo com seu autor, essas diferentes linguagens são empregadas ao mesmo tempo, na mesma edificação. O Ecletismo vale-se de liberdade e pluralidade compositiva, não se atendo unicamente a essa ou aquela escola. Incorpora a multiplicidade de elementos produzidos em série, decorrentes da Revolução Industrial, além das então novas técnicas construtivas, que empregavam o ferro em estruturas revestidas, ou não. Esse artigo propõe apresentar o Eclético, bem como a arquitetura influenciada por essa vertente, através de revisão bibliográfica de vários autores reconhecidos pela historiografia arquitetônica. Aborda o período de vigência que engloba sua aplicação no campo da arquitetura. Apresenta a polêmica instaurada por essa maneira de projetar e construir determinadas edificações. Afinal, por que, por certo período, o Estilo Eclético foi um estilo muito polemizado e desvalorizado? Por fim, demonstra sua contribuição para a evolução da arquitetura. 2 Eclético Eclético segundo o dicionário Aurélio é um adjetivo e significa aquilo que é formado por diferentes gêneros ou opiniões e Ecletismo, um substantivo masculino, que designa um método que reúne teses de sistemas diversos. Segundo Arnold Whittick (1955, p.30), Eclético é uma palavra derivada do grego e que em certo tempo se aplicou aos filósofos que assumiam os pensamentos de várias escolas. Na crítica moderna de arte há se empregado extensamente para designar ao artista que elege e mescla entre si as características de distintas escolas e estilos. O Eclético em arquitetura é o modo de edificar que abarcou várias referências de épocas pretéritas, do classicismo Greco-romano até o Barroco e Rococó. Valeu-se de liberdade compositiva, não se atendo unicamente a essa ou aquela escola. Incorpora a pluralidade de elementos produzidos em série, decorrentes da Revolução Industrial, além das então novas técnicas construtivas, que empregavam o ferro em estruturas revestidas, ou não. É denominado por alguns autores como estilo Historicista e em função da diversidade tipológica e devido à quantidade de símbolos estampados na fachada das construções, também é conhecido como “arquitetura falante”, pois se pode ler através desses elementos carregados de significados, a função do edifício. Segundo Patetta (1987 apud FABRIS, p.14): A cultura arquitetônica deleitou-se, por mais de cem anos, com o fato de ter acolhido os mais variados elementos lexicais, extraindo-os de todas as épocas e regiões, recompondo-os de diferentes maneiras, de acordo com princípios ideológicos...

O estilo Eclético não apresentou novidade no quesito elementos de linguagem, mas sim, foi inédito na maneira de misturar e adaptar esses elementos compositivos de distintas XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015

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épocas em arranjos curiosos e múltiplos, conjugados na mesma fachada. Escolher e misturar, eis aí o trunfo do Eclético, a convivência harmoniosa ou não, das escolhas pinçadas no cardápio dos estilos e elementos arquitetônicos. Dentro dos estilos da história da arquitetura é o que acolhe o maior acervo de elementos do passado conjugados em um único edifício. É praticamente uma colagem de referências e estilos de várias épocas e apesar dessa mistura é ela que ilustra o percurso da humanidade em termos de arquitetura praticada até então. Colunas e ordens gregas, frontões, frisos, arcos plenos, abatidos e ogivais misturam-se sem restrições. O sistema de hierarquia, simetria e ritmo também segue os padrões clássicos empregados desde a Grécia antiga, assim como o uso das ordens clássicas. A divisão da edificação em base, corpo e coroamento segue a mesma do Renascimento, que por sua vez remeteu-se aos ideais clássicos. Os elementos seguem os mesmos, porém dessa vez seu uso é exaustivo, muito mais do que o empregado anteriormente no Renascimento, Barroco e Rococó. Há agora uma profusão de frisos, balaústres, estatuária, colunas e arcos de todos os tipos, ânforas e liras misturados. O coroamento apresenta platibanda e essa é recheada de enfeites aplicados, floreios e grupos escultóricos, ânforas, medalhões, anjos, balaústres, estatuárias e rococós. A demarcação da hierarquia do acesso principal, através do uso do frontão grego na platibanda das edificações, empregadas por Palladio no Renascimento é repetido no Eclético. Patetta (1997) considera o Eclético um revival medievalista e Gótico, decorrente da necessidade de manutenção do patrimônio artístico da Idade Média. Segundo ele, o período pode ser subdividido em três correntes principais: Composição Estilística, Historicismo Tipológico e Pastiches Compositivos. Composição Estilística: Engloba a precisa imitação das escolas do passado. Nessa esteira aparece o neogrego, neoegípcio e o neogótico; Historicismo Tipológico: Abrange escolhas segundo a função do edifício, de modo que para Igrejas e templos foram adotados parâmetros místicos e religiosos da Idade Média; para construções de cunho público, a suntuosidade da Renascença; para equipamentos de lazer, o Barroco e os estilos orientais; para edificações de caráter solene, como museus, parlamentos e palácios governamentais, a pesquisa recaía nos ideais clássicos puros. Pastiches Compositivos Apresentavam uma mescla eclética, com liberdade compositiva, onde a escolha das soluções não se intimidava com a proveniência de distintos períodos, dos elementos adotados. (1987 apud FABRIS, p. 14) XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015

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Um edifício ícone da arquitetura eclética é a Ópera de Paris. Encomendada ao arquiteto Charles Garnier inaugurou em 1861. Sua construção foi orquestrada pelo prefeito, o Barão Haussmann, no governo de Napoleão III. Figura 1: Ópera de Paris, Charles Garnier, 1861.

Fonte: http://global.britannica.com/EBchecked/topic/226128/Charles-Garnier

3 O Eclético como Período O estilo Eclético surgiu na Europa e obteve sua maior manifestação no século XIX. Alguns autores, como Patetta, alongam o período. Segundo ele seu surgimento no âmbito europeu se dá em meados do século XVIII: ... o período que vai da metade do século XVIII até o início do nosso como um “único longo período”. Acabamos por reencontrar uma continuidade histórica que tem

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XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis origem na crise da antiga tradição clássica e vitoriana (por volta de 1750) e que culmina no abandono total de qualquer referência aos estilos históricos, pretendido pela arte moderna. (1987 apud FABRIS, p.10)

O contexto de sua aparição é marcado pela contraposição entre uma sociedade predominantemente agrária e artesanal e uma sociedade urbana e industrial. O advento da Revolução Industrial, com a produção em grande escala de artefatos antes produzidos de forma artesanal, como os em ferro, afetou profundamente as relações sociais, econômicas, políticas e posteriormente os modos de produção, além do ambiente nas cidades. Na França a Revolução Industrial se desenvolveu no ventre da República, novo regime político que deu nascimento a nação moderna. Os burgos, de configuração medieval, devido aos novos meios de produção, com a instalação de indústrias dentro do círculo urbano tornaram-se um caos. Não havia estrutura para abrigar o imenso contingente de pessoas, devido ao êxodo rural, em busca das oportunidades de trabalho e ganho, que as incipientes fábricas ofereciam. Resultado: houve uma pletora acelerada desses burgos, que não estavam preparados para comportar tal contingente populacional. A República constituiu-se no regime político que representava a maioria da população burguesa, responsável pela nova economia. O panorama arquitetônico também mudou, com o advento da Revolução Industrial. As estruturas em ferro renovaram a arquitetura estendendo seus limites e o estilo Eclético incorporou essa tecnologia. O que marca e diferencia o estilo dos seus antecessores é o emprego do ferro fundido ou em folhas, agora fabricado em série e usado em abundância, produto da nova indústria. A arquitetura eclética utiliza esse material na confecção de cúpulas, esquadrias e gradis, assim como o utiliza na execução de estruturas, como pilares e vigas. Há também a confecção industrializada de vidro e artefatos em cimento, em contraposição com os artigos artesanais empregados. O estilo Eclético é um estilo de múltiplas referências, que se vale da liberdade de composição somada à infinidade de elementos produzidos em série, decorrentes da Revolução Industrial. A oferta em grande escala desses artigos industrializados e produzidos sistematicamente gerou infinitas possibilidades de composição. Segundo Patetta (1987, apud FABRIS, p.15), na França, em decorrência da demanda de numerosas construções de igrejas neogóticas, foi fundada a Societé catholique pour la fabrication, la vente, la conession de touts les objets consacrés au culte (1842), onde o estilo empregado era prescrito pelos bispos. Hitchcock (1998, p.235). refere-se ao Eclético, como estilo Segundo Império, também chamou de arquitetura do ferro, a que preparou o caminho para o Art Nouveau. Além das referências do passado, o estilo Eclético faz uso de novas técnicas construtivas, que empregam o ferro em estruturas aparentes, ou revestidas. Salientando a incorporação do ferro na arquitetura escreve da Silva (1988, p.45): XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015

XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis Sabe-se que o ferro, já industrializado, comparece em edifícios sob a forma de grades de balcões, bandeiras de portas e janelas, portões e grades de jardins, além de escadas que são utilizadas juntamente com outros materiais de construção... Há casos em que o ferro é talvez o elemento estrutural mais importante do edifício, mas está inteiramente encoberto com alvenaria de tijolos ou de pedra, como se o ferro à mostra constituísse uma afronta às normas construtivas. Em outros casos, o ferro comparece, com várias funções, dentre as quais prepondera a decorativa, sem evidentes compromissos com a estrutura do edifício. Neste caso, o ferro decora a alvenaria. No anterior é a alvenaria que disfarça o ferro e assume o papel da ornamentação.

Na Europa havia firmas que disponibilizavam catálogos para agilizar a escolha dos componentes aos futuros proprietários, ou contratantes dos serviços de arquitetura. Conforme Geraldo Gomes da Silva (1988 p.54): “(...) as firmas especializadas em exportar componentes em ferro fundido para embelezar edifícios ofereciam, em seus catálogos, várias alternativas de produtos (...)” Para a burguesia em ascensão foi muito propício o acesso a tais elementos de estilo, pois vinha de encontro com seu desejo de demonstrar força e poder. Outra contribuição, que diferencia o estilo Eclético na arquitetura é a transição da bidimensionalidade das edificações para a visão tridimensional. As construções são descoladas das empenas. Essa nova situação é principalmente praticada na arquitetura de cunho residencial. Em termos de urbanismo, no século XIX houve a substituição das muralhas dos burgos medievais por alamedas. Ocorreu o alargamento dos becos e ruelas, devido ao aumento de fluxo no interior citadino e a necessidade de aumentar a salubridade. Também houve a instauração de novos bairros, com a construção de palacetes para abrigar a classe burguesa das cidades, que passaram a contar com a arquitetura eclética. 4 A Polêmica O Eclético é um estilo polêmico, apresenta elementos peculiares em sua constituição e em um dado momento, no início do século XX, lhe foi subtraída a importância. Uma das razões pode ter sido a vasta gama de linguagens arquitetônicas, que comparecem ao mesmo tempo na arquitetura eclética. Fabris (1987, p.7) afirma que por longo tempo o Eclético foi esquecido pela historiografia artística, devido “aos preconceitos oriundos da ortodoxia modernista”. O estilo Eclético apresenta uma profusão de linguagens arquitetônicas variadas, de períodos antecedentes, em composição mista. A Arquitetura Eclética trata-se de mais de um modo de ornamentar a arquitetura do que uma mudança na tipologia arquitetônica propriamente dita. Refere-se Patetta: (1987 apud FABRIS, p.15) “as numerosas escolhas estilísticas possíveis pareceriam denotar uma época de grandes liberdades, quase XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015

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anárquicas; entretanto, a elas correspondiam, sob o ponto de vista do projeto, uma prudência e uma timidez enormes.” Essa demasia de ornamentos nem sempre foi contemplada com boa crítica. Ao abordar a questão Argan (1992, p.221) comenta: “A. LOOS assumiu uma posição duramente polêmica. (...). A sociedade, declara ele, não precisa de arquitetura, mas de moradias. Enquanto faltarem moradias, é imoral gastar dinheiro para transformar as moradias em arquitetura. Ele condena a originalidade inventiva,apenas as invenções técnicas podem determinar modificações nas formas construtivas; denuncia o ornamento como um crime(...)”

5 - Conclusões O estilo Eclético apresenta elementos peculiares em sua composição e em suas técnicas construtivas. Geralmente está relacionado às edificações de meados do século XIX até princípios do século XX. Escolher e misturar, eis aí o trunfo do Eclético, a convivência harmoniosa, ou não, das escolhas pinçadas no cardápio dos estilos. Sua maior contribuição para a arquitetura além da afirmação da liberdade de escolha é o emprego em larga escala de elementos industrializados. Essa nova postura determinou a transição de uma sociedade artesanal para uma sociedade industrial e a volta à cultura de viver em cidades, perdida a partir da dissolução do Império Romano. O emprego do ferro industrializado, material utilizado, desde ornamentos até elementos estruturais, revolucionou não só a arquitetura, como também as relações sociais, econômicas e urbanas. Graças ao emprego desse material pela arquitetura eclética, a humanidade vislumbrou novas possibilidades e foi conduzida aos avanços alcançados no século XX. Verificar o Eclético significa disseminar o aprofundamento do conhecimento sobre ele. Disseminar a consciência da imensa gama de possibilidades arquitetônicas que esse polêmico estilo conduziu concorre a um maior entendimento da arquitetura praticada no nosso século.

Referências ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. 1.ed. São Paulo: Ed Companhia das Letras, 1992. DA SILVA, Geraldo Gomes. Arquitetura do Ferro no Brasil. 2.ed. São Paulo: Ed Nobel, 1988. XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015

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FABRIS, Annateresa. Ecletismo na Arquitetura Brasileira. 1.ed. São Paulo: Ed Nobel, 1987. HITCHCOCK, Henry-Russell. Arquitectura de Los Siglos XIX y XX. 5.ed. Madri: Ed Cátedra, 1998. KOCH, Wilfried. Dicionário dos Estilos Arquitetônicos. 2.ed. São Paulo: Ed Martins Fontes, 1996. PATETTA apud FABRIS, Anateresa. Ecletismo Na Arquitetura Brasileira. 1.ed. São Paulo: Ed Nobel, 1987. PATETTA, Luciano. Historia De La Arquitectura. 1.ed. Madri: Celeste Ed, 1997. WHITTCK, Arnold. Arquitectura Europea Del Siglo XX. 1.ed. Barcelona: Ed AHR, 1955.

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