O ecossistema do livro digital: heranças e o potencial de inovação | THE ECOSYSTEM OF DIGITAL BOOK: HERITAGES AND POTENTIAL FOR INNOVATION

June 23, 2017 | Autor: Bruno Rodrigues | Categoria: Design, E-books, Hipermídia, Inovação, Livro Digital
Share Embed


Descrição do Produto

O ECOSSISTEMA DO LIVRO DIGITAL: HERANÇAS E O POTENCIAL DE INOVAÇÃO THE ECOSYSTEM OF DIGITAL BOOK: HERITAGES AND POTENTIAL FOR INNOVATION Bruno C. de M. Rodrigues UFSC Florianópolis, SC, Brasil [email protected]

Berenice S. Gonçalves UFSC Florianópolis, SC, Brasil [email protected]

recorrentes; 4) representação dos resultados em uma figura. Como resultado final, foi elaborada a figura que pretende representar o ecossistema do livro digital, em que cada dimensão expõe um ator específico, sendo que todos estão conectados, em constante mudança e transformação. É destacado, por fim, que a inovação pode estar nas estratégias que preveem uma maior integração das dimensões descritas nesse ecossistema.

RESUMO Em um contexto de crescimento da produção do livro digital, em que editoras estão mais preocupadas com questões técnicas e os leitores estão desamparados entre várias possibilidades de acesso, parte-se do pressuposto de que um maior conhecimento do universo do livro digital é necessário para que designers e outros atores do processo de publicação tenham uma visão mais abrangente e complexa do processo de concepção desse tipo de produto. Portanto, este artigo teve como objetivo propor uma figura que represente o ecossistema do livro digital, sinalizando dimensões e principais atores envolvidos. Para tanto, o primeiro capítulo conceitua o que é livro e livro digital em um momento de expansão tecnológica e de inovação, diante às possibilidades do meio digital; também apresenta o fluxo de produção do livro impresso, destacando que não existe uma versão específica para o digital. No segundo capítulo é apresentada a pesquisa exploratória, cujos procedimentos metodológicos foram: 1) identificação das principais entidades e organizações ligadas ao livro; 2) seleção das entidades e de produtoras mais direcionadas às publicações digitais; 3) resumo em eixos dos principais discursos

PALAVRAS-CHAVE: Livro concepção, ecossistema.

digital,

inovação,

ABSTRACT In a context of growth of the digital book production – where publishers are more concerned with technical issues and readers are helpless among several possibilities of access – we assume that is necessary a greater knowledge of this universe, in order to designers and other actors in the publishing process have more complex view in the design process of e-books. Therefore, this article aims to propose a figure that represents the ecosystem of the digital book. The first chapter conceptualizes what is book and digital book at an age of technological expansion 1

Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation. Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

and the possibilities of digital media; it also presents the printed book workflow, highlighting that there is not a specific version to the digital book. The second chapter presents the exploratory research. The methodological procedures were: 1) identify the main entities and organizations linked to the book; 2) selection of the most targeted organizations and producers to digital publications; 3) a summary of the main topics in recurrent speeches; 4) representation of the results in a figure. As result, a flow was prepared – it seeks to represent the ecosystem of digital book, where each dimension represents a specific actor, which are connected and in constant change and transformation. We stress that innovation can exist when strategies can integrate all of these dimensions. KEYWORDS: Digital conception, ecosystem.

book,

Mesmo com o aumento do consumo, a recepção dos livros digitais no Brasil ainda é baixa. Existem indícios obtidos pela 3ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil [2] que estimam um público de leitores de livros digitais de 9,5 milhões de pessoas. Dessas, a maior parte é do sexo feminino, na faixa dos 18 aos 39 anos, com nível médio ou superior, classes A e B, habitantes da região sudeste ou nordeste. Desse público, a grande maioria (87%) baixou gratuitamente o arquivo e 13% pagou pelo download. Entre os que baixaram gratuitamente, 38% informaram que eram “piratas”. Apesar do número de leitores de livros digitais ainda ser muito baixo (7% da população estudada), as respostas positivas apontam tendências de crescimento – pois, entre os que tiveram acesso, 54% responderam que gostaram muito e 40% que gostaram um pouco.

innovation,

É possível, também, elencar algumas das principais reclamações por parte dos leitores sobre os livros digitais, a saber: o preço alto cobrado por um livro de baixa qualidade; os preços são mais altos que os dos próprios livros impressos; e a “volatilidade” que é o acesso a produtos virtuais, levantando discussões sobre a “posse” dos livros digitais, pois eles são vendidos como se fossem uma “licença de uso”.

INTRODUÇÃO A partir da evolução da computação, o termo livro passou a ser conhecido não apenas a partir de folhas impressas, mas também por outros formatos, como o eletrônico. Ou seja, a expansão tecnológica e o advento das novas mídias1 trouxeram transformações na forma de publicar, produzir e distribuir livros e um dos frutos dessa evolução foi o livro digital.

Além disso, a partir da primeira pesquisa do mercado do livro digital no Brasil4 realizada pela CBL, também é possível elencar alguns motivos que adiam a entrada de algumas editoras no mercado do livro digital:

De acordo com dados da pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro2, feita pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) por encomenda da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional de Editores (SNEL), o faturamento do mercado editorial brasileiro com os e-books saltou de R$ 3,8 milhões em 2012 para R$ 12,7 milhões em 2013. A pesquisa foi realizada com uma amostra de 217 editoras, que representariam 72% do mercado3.

1. Competitivo, pois teme que as vendas digitais afetem as físicas; 2. Econômico, pois não acha recuperar o investimento;

que

irá

3. Jurídico, pois teme a pirataria e a falta de controle e fiscalização; 4. Técnico, pois está inseguro quanto a que formato utilizar ou não tem conhecimento suficiente.

Segundo Manovich [1], novas mídias são as mídias tradicionais que sofreram um processo de digitalização e estão vinculadas ao uso do computador. 2 Disponível em http://www.snel.org.br/wpcontent/themes/snel/docs/Apresentacao_pesquisa_FIPE_impr ensa_2013.pdf. Acesso em 18/02/2015. 3 Segundo a pesquisa, foram produzidos 30.683 títulos digitais em 2013 – 26.054 e-books e 4.629 aplicativos. Em 2012, esses números foram, respectivamente, 7.470 e 194. 1

Portanto, nesse contexto, é possível observar que mesmo que haja uma perspectiva de crescimento Disponível em http://www.congressodolivrodigital.com.br/site/imgs/arquivos /resultado_cbl_4_congresso.pdf. Acesso em 05/05/2015. 4

2 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation. Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

do mercado de livros digitais no país, ainda é necessário aprofundar questões sobre a concepção e oferta desse tipo de produto, levando em conta também as necessidades do leitor, entre outras problemáticas envolvidas. Nessa perspectiva, levanta-se a questão de como inovar no universo das publicações digitais no Brasil? Para tanto, parte-se do pressuposto de que é necessário, primeiramente, ter um estudo mais profundo sobre esse universo, de maneira a entender os principais atores envolvidos, as problemáticas e possíveis influências no meio.

evolução da computação e da digitalização das coisas; o livro é caracterizado a partir de um conteúdo que pode estar em uma gama de suportes, sendo a digital uma delas. Com a revolução digital, forma e conteúdo podem ser apartados, ou seja, o conteúdo pode ser veiculado em muitas outras formas. A partir de Paiva [ibid], o livro digital pode ser definido como um livro em formato digital, possível de ser lido em equipamentos eletrônicos, como computadores ou até mesmo celulares. É um método de armazenamento de pouco custo e de fácil acesso devido a propagação da internet. De acordo com Pinsky [ibid] um livro digital “é uma possibilidade a mais de leitura, porém, traz em si um potencial de transformação radical do próprio livro”. Segundo a autora, o livro digital pode ser produzido a partir do impresso ou concebido exclusivamente para o meio digital, assim chamado os livros “nativos digitais”.

1. CONCEITO DE LIVRO DIGITAL Para que seja possível conceituar o termo livro digital, é necessário inicialmente definir o que é livro. Existem autores que tratam o livro de acordo com seu aspecto físico, calcado no modelo impresso. Segundo Machado [3], o códice cristão foi um formato característico de manuscrito em que o pergaminho era retalhado em folhas soltas, reunidas por sua vez em cadernos costurados ou colados em um dos lados e muito comumente encapados com algum material mais duro. Como exemplo de conceito baseado no códex, é possível citar Haslam [4], o qual afirma que livro é “um suporte portátil que consiste de uma série de páginas impressas e encadernadas que preserva, anuncia, expõe e transmite conhecimento ao público, ao longo do tempo e do espaço”. Da mesma maneira, a Política Nacional do Livro5 retrata o livro como “a publicação de textos escritos em fichas ou folhas, não periódica, grampeada, colada ou costurada, em volume cartonado, encadernado ou em brochura, em capas avulsas, em qualquer formato e acabamento”. Observa-se que o conceito de livro baseado no códice prolongou-se ao longo de muitos anos, o que resultou em uma concepção tradicional do termo.

Os livros digitais possuem diversos formatos, sendo os mais comuns: ePub 6; Amazon Kindle Formats (MOBI, AZW e KF8)7; PDF (Portable Document Format)8; Digital Replica9; aplicativo (app-based); e, mais recentemente, o HTML 5 10 (BURKE [8]). O formato mais comum, que exige apenas uma transformação automática, é o PDF, pois funciona para telas de computadores, mas não é possível moldá-lo para os diferentes dispositivos. Se o livro for pensado com funcionalidades características do digital – como vídeos, animações, sons e toques na tela – aplicados para tablets, o formato é app-based ou aplicativo (PINSKY [ibid]).

O ePub pretende ser um formato padrão mundialmente reconhecido, promovendo a democratização de acesso aos ebooks, muito embora nem todas as editoras o utilizem como formato final de seus livros. 7 Formatos utilizados no Kindle e Kindle Fire. 8 O formato mais simples, que exige apenas uma transformação automática. Funciona para telas de computadores, mas não é possível moldá-lo para os diferentes dispositivos (PINSKY, 2013). 9 Formato de revistas eletrônicas. 10 Hypertext Markup Language (HTML) é um método de codificação utilizado para criar arquivos padronizados, possíveis de serem traduzidos igualmente por qualquer tipo de computador. 6

No entanto, outros autores (a saber, Machado [ibid], Paiva [5]; Chartier [6]; Pinsky [7]) assumem uma conceituação mais abrangente, ou seja, a partir da expansão da tecnologia, da Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.753.htm. Acesso em 13/04/2015. 5

3 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation. Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

De acordo com Stumpf [9], o formato ePub (eletronic publication) é uma extensão baseada na linguagem para internet, livre e aberta, sendo “interoperáveis entre diferentes dispositivos e aplicativos de leitura”. Nesse formato, é possível trabalhar com dois tipos de layout – um fluido e um fixo.

variação é infinita. Todas as etapas do circuito estão interligadas de alguma forma. Da mesma maneira, para Haslam [ibid], o livro impresso é um produto resultante de um processo colaborativo. A figura a seguir explicita outro fluxo tradicional da publicação de um livro impresso:

Também deve-se levar em consideração os dispositivos em que os livros digitais serão lidos. Os e-readers são dispositivos dedicados, ou seja, usados exclusivamente para a atividade de leitura. Eles possuem tecnologia de tinta eletrônica (e-ink), que simulam a leitura em papel. Como exemplos, existem o Kindle, o Kobo, o Sony Reader, o Lev, entre outros.

Figura 1: Fluxo tradicional de publicação de um livro impresso com retorno ao autor.

Os tablets também são dispositivos que permitem a leitura de e-books, porém, são computadores portáteis multitarefas, que tornam a leitura digital uma função a mais. Entre eles, podem ser citados o Samsung GalaxyTab e o iPad.

Como existe a contribuição do editor no texto, o livro precisa voltar ao escritor para que este faça também sua aprovação, o que torna o processo cíclico. Esse é um fluxo tradicional da publicação, descendente de uma prática histórica que ainda sofre alterações e adaptações, mas que atualmente segue uma estrutura similar.

Outra questão levada por conta na produção é a segurança contra pirataria. Um padrão comum de proteção usado para livros digitais é o sistema de DRM (Digital Rights Management), que restringe o que o leitor pode fazer com um livro digital, de acordo com o que a editora ou o vendedor determinam.

Em relação ao livro digital, contudo, não existe um fluxo específico que representa as etapas de concepção e produção. Pode-se dizer que algumas etapas são similares ao do impresso, como a tríade autor, texto e editora. Darnton [ibid] define três estágios históricos da concepção dos livros digitais:

A partir do que foi apresentado, pode-se destacar que o mercado está focado principalmente em aspectos técnicos e tecnológicos do livro digital e aspectos de concepção, projeto e experiência ainda são escassos. Circuito da comunicação do livro

1. O primeiro estágio foi o entusiasmo utópico de poder criar um espaço eletrônico onde pudesse ser colocado “tudo ali dentro e então deixar que os leitores cuidassem da filtragem e da organização”;

Darnton [10] propõe um diagrama (Anexo A) que representa as etapas e os participantes da publicação de um livro impresso que abarca todos os períodos da história, especialmente a partir do século XVIII.

2. O segundo momento foi de desilusão, quando se descobriu que “ninguém leria um livro inteiro numa tela de computador nem estaria disposto a escarafunchar pilhas e mais pilhas de folhas impressas”;

O diagrama expõe os principais atores (autor, editora, gráficas, fornecedores, distribuidoras, livreiros e leitores) que estão relacionados diretamente ao texto, e as influências externas (geralmente a publicidade, os críticos, as conjunturas econômicas, sociais e políticas) cuja

3. O terceiro estágio é atual e segue uma tendência, que consiste na possibilidade de suplementar o livro tradicional com edições eletrônicas criadas especificamente para determinados propósitos e públicos. De acordo com autor, o livro digital deve servir como

1.1

4 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation. Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

“suplemento, e não substituto, da grande máquina de Gutenberg”. Revela-se uma postura de que os livros digitais podem ser complementares aos livros impressos, e não o opositor deles. Como visto em Rodrigues e Gonçalves [11], embora haja um modelo tradicional de produção e publicação de livros, o avanço da tecnologia permitiu o surgimento de outros percursos para realizar essa publicação. Por exemplo, existem sites que permitem a auto publicação – geralmente de forma gratuita – de livros em formato digital que depois são comercializados em lojas virtuais.

Figura 2: Curva da difusão da inovação em forma de S. Fonte: Scielo11

Exemplos são a Amazon Kindle Direct Publishing e a Publique-se! da Saraiva. Outros sites, como Wattpad e Widbook, potencializam a publicação online ao funcionarem, também, como redes sociais digitais. Eles podem substituir algumas das etapas de publicação tradicional de uma editora, tanto na produção (formatação, adição de recursos) como na pós-produção (formação de público, distribuição e divulgação). Isso não quer dizer que a editora tenha perdido seu papel no universo da publicação, porém, sofreu influências da tecnologia, que trouxeram novas possibilidades.

A inovação em um processo de concepção de livros digitais pode estar na união entre editoras e startups de tecnologia. Um estudo realizado pela Dosdoce Digital Culture12, com mais de 170 editoras e startups do mundo, indica que ambas as entidades estão “condenadas” a se entenderem. As possibilidades de colaboração são grandes, necessitando apenas diálogo e negociação entre as partes. A pesquisa afirma que as entidades "tradicionais" do mundo do livro (editores, livrarias, bibliotecas, etc.) precisam trabalhar mais de perto com as novas empresas “nativas digitais" – leia-se startups –, a fim de aproveitarem melhor as oportunidades de negócios que a internet oferece.

Nesse contexto, questiona-se como inovar no processo de concepção e produção do livro digital.

Outra maneira de se pensar a inovação em publicações digitais é a partir dos recursos próprios do meio digital. Segundo Gosciola [14], a “hipermídia é a linguagem audiovisual do hipertexto, um meio e uma linguagem que faz uso do som e da imagem para comunicar”. Nesse sentido, uma publicação pode conter links, imagens, ilustrações, sons e vídeos. Manovich [ibid] destaca que as trajetórias da evolução da computação e das tecnologias de mídias sofreram uma convergência, originando o que pode ser definido como “novas mídias”. Elas também trazem recursos que podem incrementar as

1.2 Inovação em publicações digitais O conceito de inovação vai além do significado de criar “coisas novas”. A inovação é o resultado de um processo sustentado de incontáveis repetições que visam refinar o produto e adequálo as necessidades do mercado (KOLOPOULOS, 2011 apud BALEM; CAMPOS; GOMEZ [12]). Em outras palavras, trata de mudanças importantes que criam novas experiências, significando uma mudança de comportamento. Na curva em forma de S de Rogers [13] são apresentadas cinco categorias da adoção da inovação, a saber, os inovadores, os primeiros adeptos, a maioria inicial, a maioria tardia e os retardatários.

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S01 03-65132005000300014. Acesso em 10/11/2014. 12 Disponível em http://www.dosdoce.com/articulo/estudios/3839/estudocomo-colaborar-com-startups-versao-em-portugues/. Acesso em 01/05/2015. 11

5 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation. Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

histórias, criando uma outra experiência de leitura. Manovich elencou cinco princípios das novas mídias, não definitivos, que são tendências gerais da cultura computadorizada:

realizada uma pesquisa exploratória, em sites das principais livrarias, editoras, produtoras e distribuidoras de livros digitais no Brasil. As principais etapas da pesquisa foram:

1. Representação numérica: as novas mídias, não importa a forma que apareçam, são compostas em um código digital, sendo descrita matematicamente e programável;

1. Identificação das principais entidades e organizações ligadas ao livro13: Câmara Brasileiro do Livro (CBL), Sindicato Nacional de Editores (SNEL), Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares (ABRELIVROS), Instituto Pró-Livro, Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR), Liga Brasileira de Editoras (LIBRE), Fundação Biblioteca Nacional, Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL), outras;

2. Modularidade: uma nova mídia mantém a mesma estrutura em escalas diferentes e de forma independente; 3. Automação: o ser humano pode ser intencionalmente removido do processo criativo, em parte, frente a processos automáticos; 4. Variabilidade: natureza mutável e líquida das novas mídias. Em vez de cópias idênticas, as novas mídias geram versões diversificadas, porém, sem mudar seu conteúdo;

2. Seleção das entidades e produtoras mais direcionadas às publicações digitais; 3. A partir dos dados coletados, foi realizado um resumo em tópicos dos principais eixos de discursos recorrentes, apresentados a seguir;

5. Transcodificação: as novas mídias consistem de duas camadas distintas, a camada cultural, o que a tela nos mostra, e a camada computacional, a linguagem própria da máquina.

4. Representação dos resultados em uma figura que explicite o ecossistema do livro digital.

Por sua vez, Murray [15] destaca que as narrativas são enriquecidas com a evolução da computação, pois essa possibilita criar sistemas interativos que conseguem representar, de maneira cada vez mais aproximada, o mundo real, simulando a própria vida humana. A autora também cita as propriedades do ambiente digital: elas são procedimentais, participativas, espaciais e enciclopédicas.

2.1 Resultados Existem diversas entidades que publicam livros digitais no Brasil: produtoras14, editoras15, editoras produtoras16, sites de auto publicação17, multinacionais de tecnologia18, entre outras. Cada uma com formatos abertos ou fechados e, algumas vezes, com seu próprio dispositivo de leitura.

Como visto, o livro digital assume diversos formatos e maneiras de concepção, sofrendo influências da expansão tecnológica e tendo participação de diversos atores. A seguir, será apresentada a pesquisa exploratória, que teve como objetivo elencar os diversos atores que compõe o universo do livro digital no Brasil.

Em resumo, os principais eixos de discurso são: Disponível em http://www.abrelivros.org.br/home/index.php/entidades-dolivro?limitstart=0. Acesso em: 01/05/2015. 14 A exemplo de FutureLab, BookPartners e Digital Pages. 15 Selos editorias da Companhia das Letras (Paralela, Seguinte); Moderna (Salamandra, Moderna Literatura, Alfaguara, Suma, Fontanar, Foglio, Ponto de Leitura); Grupo Editorial Global; Intrínseca; entre outros. 16 Storymax, Draco, Estronho, Simplíssimo, Baraúna, KBR, Geração Digital, Ebook Mundial; entre outros. 17 Wattpad; Widbook; Digital Books; Buqui Self; Kindle Direct Publishing (Amazon); Publique-se (Saraiva); entre outros. 18 Amazon, por exemplo. 13

2. PESQUISA EXPLORATÓRIA A fim de aprofundar a relação entre os principais atores envolvidos no universo do livro digital, foi 6

Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation. Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

1. Publicar um livro digital (e-book) apresenta diversas vantagens do que sua versão impressa. O processo é mais simples, mais rápido e principalmente menos oneroso para o autor. Além do baixo custo de edição, o e-book permite uma rápida e ampla distribuição, facilitando sua aquisição. Um e-book publicado e vendido no Brasil pode ser adquirido em qualquer lugar do mundo, em questão de segundos19.

11. Mais interatividade para os alunos; 12. Transformação na experiência de ler, no ensino e na aprendizagem; 13. Admirável mundo novo do livro digital; 14. É inovador e surpreendente; 15. Preservam o meio ambiente: evitam a derrubada de quase 4 mil árvores, utilização de milhões de litros de água e o gasto de energia elétrica na produção de livros impressos;

2. O formato usado em nossos livros digitais é o ePUB, padrão do mercado e pode ser lido em qualquer e-reader que possa abrir arquivos protegidos por DRM Adobe20.

16. Estão quando e onde você quiser; 17. Plataforma multimídia, fácil, prática e moderna de usar; 18. É o futuro.

3. É uma aventura, uma descoberta, uma viagem pelo mundo digital. Prepare-se para ser guiado pelas novas experiências que o mundo digital proporciona nesta evolução de leitura e da cultura21.

A principal reclamação das editoras e livrarias sobre o comércio de livros digitais é a distribuição, sendo a pirataria uma problematização disso.

4. Indo direto ao assunto, nós queremos ebooks bem escritos, diagramados com cuidado, práticos e funcionais, ebooks que honrem o nome Livro. Queremos ebooks a preços justos – preferencialmente, baratos! – sem que isso signifique, jamais, uma experiência de leitura de baixa qualidade22.

Quanto a distribuição de livros digitais no Brasil, existem poucas empresas especializada no assunto. Podem ser apresentadas a Xeriph23, a DLD24, a iSupply25 e a Acaiaca Digital26. Essas distribuidoras, entre outros serviços, fazem o trabalho similar em relação ao livro impresso, intermediando editora e ponto de venda, que nesse caso tratam-se das livrarias digitais27.

5. Livro digital é revolução, é tecnologia;

Um caso a ser destacado é o da livraria virtual IBA. Desde agosto de 2014, a IBA passou a se concentrar exclusivamente na distribuição de assinaturas de revistas digitais, deixando de vender e-books, revistas e jornais avulsos. Contudo, a empresa passou por um problema: o acesso aos livros digitais comprados pelos

6. Ocupa pouco espaço; 7. Praticidade e comodidade; 8. Compactos e mais leves que os livros impressos; 9. É interativo e dinâmico; 10. Capacidade de publicar seu próprio livro de forma fácil e gratuita na internet;

Disponível em http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/abril-midiainveste-na-carioca-xeriph. Acesso em 17/03/2015. 24 http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,editorasse-unem-e-criam-distribuidora-de-livros-digitais,21254e. Acesso em 17/03/2015. 25 Disponível em http://www.isupply.com.br/quemsomos.php. Acesso em 17/03/2015. 26 Disponível em http://www.acaiacadigital.com.br/Default.aspx. Acesso em 17/03/2015. 27 Exemplos de livrarias de livros digitais são: Amazon, Kobo, Apple, Google Play, Saraiva, Cultura, Jetebooks, Gato Sabido. 23

Disponível em: http://www.digitalbookseditora.com.br/. Acesso em 15/03/2015. 20 Disponível em http://editoradraco.com/ebooks/. Acesso em 15/03/2015. 21 Disponível em https://seguro.buqui.com.br/site/default.asp?TroncoID=4705 15&SecaoID=645182&SubsecaoID=635531. Acesso em 15/03/2015. 22 Disponível em http://www.simplissimo.com.br/o-nossojeito/. Acesso em 15/03/2015. 19

7 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation. Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

clientes só existiria até outubro do mesmo ano pelo aplicativo, o que deixou os clientes frustrados com o risco de perder o produto28. A solução da IBA foi oferecer dois procedimentos para transferir os e-books para outros aplicativos de leitura, porém, esses procedimentos tinham data limite para serem realizados29.

um ecossistema do livro digital, ou seja, um sistema integrado em que cada indivíduo tem seu envolvimento, possuem suas próprias características e influenciam a existência desse produto, objeto de um universo complexo e interdependente. Esse é um ecossistema em constante transformação e expansão por conta da evolução da tecnologia.

Esse caso ressalta a volatilidade que é o acesso a produtos virtuais e levanta discussões sobre a “posse” dos livros digitais, pois eles são vendidos por algumas lojas como se fossem uma “licença de uso”.

Nessa perspectiva, foi proposta uma representação visual desse ecossistema, conforme mostrado no anexo B. A referida imagem expõe os principais atores (autor, editora, distribuidoras, livreiros, leitores) que estão relacionados diretamente ao livro digital, e as influências externas (geralmente a expansão tecnológica e o contexto econômico e social). Todas as etapas estão interligadas de alguma forma e estão em constante transformação.

Um exemplo clássico do problema da pirataria foi o caso do extinto site iOS Books, que oferecia o download ilegal de mais de mil obras em versões ePub e Mobi, além de compra coletiva de livros impressos que, após votação, eram digitalizados e colocados para download. O site foi fechado após os administradores terem recebido ação movida pela ABDR (Associação Brasileira de Direitos Reprográficos)30.

Destaca-se que essa figura é um ensaio, portanto, não definitiva e nem pretende abarcar todo o contexto histórico de concepção e produção dos livros digitais ao longo dos anos. É resultado de uma pesquisa exploratória que objetivou levantar os principais atores que influenciam direta ou indiretamente esse ecossistema.

Para contornar esse tipo de situação, uma tendência identificada é que cada editora ou livraria tente aperfeiçoar sua própria plataforma (app) de leitura, de modo a salvaguardar o pagamento dos serviços prestados, além de utilizar o DRM.

Observa-se que o conteúdo é, geralmente, criado por um autor ou vários autores, os quais podem repassar o texto à uma editora, mas também existem outras opções de publicação do livro digital. Destaca-se que esse conteúdo pode ser moldado e retrabalhado juntamente com o autor, de acordo com as possibilidades do ambiente digital. Em seguida, o livro é distribuído para livrarias virtuais ou outros sites que facilitam o acesso para os leitores.

Em função disso, o leitor fica perdido em meio a tantas possiblidades de acesso, formatos, aplicativos, códigos e suportes para conseguir ler um livro digital, visto que as alianças e a busca de um formato padrão estão longe de serem consolidadas.

3. UM MAPEAMENTO DO ECOSSISTEMA DO LIVRO DIGITAL

Como visto, o leitor possui muitas opções para ter acesso aos livros digitais, porém, está perdido em um meio cheio de formatos, aplicativos e suportes de leitura. Dessa forma, atitudes do leitor também pode influenciar em decisões de mercado.

Todas essas informações de público, produção, concepção, atores e difusores correspondem a http://revolucaoebook.com.br/loja-iba-suspendera-vendade-ebooks-ha-risco-de-usuarios-perderem-acesso-aosebooks/. Acesso em 17/03/2015. 29 Disponível em https://www.iba.com.br/ajuda/comoacessar-meus-produtos. Acesso em 17/03/2015. 30 Disponível em http://www.tecnoartenews.com/share/aposfechamento-do-site-ios-books-piratas-liberam-lista-completade-1300-livros-pirateados/. Acesso em 03/08/2014. 28

Deve-se frisar que existe um dinamismo entre as dimensões, de modo que uma maior colaboração entre as partes é possível. Tal colaboração pode permitir um processo de publicação do livro

8 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation. Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

digital mais integrado com necessidades editoras, livreiros, distribuidores e leitores.

de

REFERÊNCIAS [1] Manovich, L., 2001, The language of new media, The MIT Press Cambridge, London.

4.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

[2] Failla, Z., 2012, Retratos da leitura no Brasil 3, Instituto Pró-Livro, São Paulo.

Este artigo pretendeu reunir os principais atores e discursos envolvidos no universo das publicações digitais, representado em uma figura denominada de ecossistema do livro digital.

[3] Machado, A., 1994, “Fim do livro?”, Revista Estudos Avançados, São Paulo, 8, (21).

Pensar em inovação no contexto do livro é, primeiramente, propor estratégias que se adequem a necessidades do mercado, levando em conta a maior parte das dimensões envolvidas nesse ecossistema.

[4] Haslam, A., 2007, O livro e o designer II: como criar e produzir livros, Edições Rosari, São Paulo.

A representação proposta se trata de um ensaio, mas pretende auxiliar o designer a ter uma visão mais ampla do contexto do livro digital. Ela também possui fragilidades, por exemplo, não foi aprofundada a dimensão das redes sociais como influenciadora do meio. Da mesma maneira, podem existir outras iniciativas relacionadas ao livro que não foram previstas.

[6] Chartier, R., 1999, A aventura do livro: do leitor ao navegador, UNESP, São Paulo.

[5] Paiva, A. P. M., 2010, A Aventura do Livro Experimental, Autêntica, Belo Horizonte, Edusp, São Paulo.

[7] Pinsky, L., 2013, “Os editores e o livro digital: o que está sendo feito e pensado em tempos do incunábulo digital”, LIVRO: revista do núcleo de estudos do livro e da edição, (3), Ateliê Editorial, São Paulo, p. 350.

Porém, observa-se um potencial de inovação no processo de publicação a partir das potencialidades do meio digital e da evolução da tecnologia, mas, principalmente, a partir de estratégias que integrem todas as dimensões do ecossistema.

[8] Burke, P., 2013, ePublishing with InDesign CS6: Design and produce digital publications for tablets, ereaders, smartphones, and more, John Wiley& Sons, Indiana. [9] Stumpf, A., 2013, A interação no livro digital em formato EPUB: potencialidades da hipermídia em obras histórico-regionais, Dissertação (mestrado), Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Design e Expressão Gráfica, Florianópolis, p. 47. [10] Darnton, R., 2009, A questão dos livros: passado, presente e future, versão ebook, Companhia das Letras, São Paulo. [11] Rodrigues, B., Gonçalves, B., 2014, “Redes sociais e a auto publicação de livros: potencialidades no campo editorial”, 5º Congresso do Livro Digital CBL, São Paulo. 9

Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation. Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

[12] Balem, F., Campos, A. Q., Gomez, L. S., 2013, “A captação de tendências para a inovação: proposta de um observatório no Estado de Santa Catarina”, Revista Convergências, (12), Santa Catarina. [13] Rogers, E. M., 2003, Diffusion of Innovations, The Free Press, Nova Iorque. [14] Gosciola, V., 2010, “A linguagem audiovisual do hipertexto”, Hipertexto e hipermídia: as novas ferramentas da comunicação digital, Contexto, São Paulo, p. 109. [15] Murray, J., 2003, Hamlet holodeck. O futuro da narrativa digital ciberespaço, Unesp, São Paulo.

no no

10 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation. Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

ANEXO A CIRCUITO DAS COMUNICAÇÕES DO LIVRO IMPRESSO

11 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation. Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

ANEXO B O ECOSSISTEMA DO LIVRO DIGITAL

12 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation. Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.