O Ecrã ao serviço do Capitalismo Ocidental do séc. XXI

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O Ecrã ao serviço do Capitalismo Ocidental do séc. XXI Alexandre Alagôa, nº 7120 Mestrado em Arte Multimédia, 1º Ano, 1º Semestre FBAUL, 2015-2016 Índice Introdução ................................................................................................................................ Jonathan Crary: 24/7 ............................................................................................................... O Ecrã ..................................................................................................................................... Tipos de Ecrã: Passivo e Activo .............................................................................................. Conclusão ............................................................................................................................... Referências .............................................................................................................................

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Resumo Apresenta-se o texto 24/7 de Crary. Expõe-se a ideia fundamental discutida pelo autor: o controlo do sono pela política capitalista. Discute-se o papel do ecrã na actualidade. Caracterizam-se dois tipos de ecrã: ecrã passivo e ecrã activo. Exemplificam-se os principais efeitos destes ecrãs em rede: a prática ritual de consumo através do acesso ao virtual e a vigilância das massas. Palavras-Chave: Ecrã, Sono, Capitalismo Introdução O seguinte texto procura investigar a principal função que o Ecrã tem desempenhado na esfera política e social do séc. XXI. Pretende-se compreender como o Ecrã tem causado uma certa fragmentação do Ser, impondo-se na sua própria experiência (como animal e humano) para com o universo exterior, através de uma vigilância constante mascarada na interligação entre o indivíduo (privado) e o mundo (público). Dá-se inicio ao ensaio com a apresentação do livro de Jonathan Crary, 24/7: Late Capitalism and the Ends of Sleep. Indicam-se as principais questões do autor: a tentativa de controlo sobre o sono, por parte do sistema capitalista, para a imposição de uma constante ligação ao círculo de produção e consumo. De seguida, elabora-se uma discussão em torno do Ecrã. Procura-se compreender qual a principal função do Ecrã na actualidade e a sua relação com esse sistema de produção-consumo.

Jonathan Crary: 24/7 Jonathan Crary dá inicio ao seu livro 24/7 com uma apresentação das aves migratórias que se deslocam ao longo da costa oeste do continente americano, colocando um especial enfâse no pardal branco coroado (“white crowded sparrow”). A particularidade curiosa deste pássaro é a sua capacidade para ficar acordado até cerca de sete dias durante esses períodos de migração, tendo assim a possibilidade

para voar e percorrer longas distâncias ao mesmo tempo que procura por alimento e nutrição. Os Estados Unidos, aponta Crary, têm gasto uma enorme quantidade de dinheiro e tempo a estudar o organismo destes pássaros na esperança de recolher informação suficiente que, de alguma maneira, torne exequível este estado de insónia, de privação de sono, ao próprio ser humano. O principal objectivo seria então desprover o indivíduo de sono e, ao mesmo tempo, torná-lo funcional, produtivo e eficiente. A primeira aplicação deste conceito, refere Crary, seria, inevitavelmente, militar. O autor menciona que o pardal branco é apenas um entre os vários meios de investigação para criar um controlo sobre o sono humano. O póprio Pentágono tem vindo já a realizar uma série de experiências - “neurochemicals, gene therapy, and transcranial magnetic stimulation” (Crary, 2013, p. 2) - com a finalidade não de estimular o estar acordado mas sim, de facto, de reduzir a própria necessidade do organismo para entrar num modo de repouso - de sono. O que esta investigação científico-militar procura incide, portanto, na criação de um soldado que consiga estar acordado vários dias e que, simultaneamente, preserve um alto nível de desempenho das suas potencialidades físicas e mentais. Crary discute que, apesar da lógica militar se organizar (supostamente) numa tentativa de afastar o ser humano da linha de participação em operações mais avançadas e perigosas e, ainda, independentamente do constante desenvolvimento de novos sistemas operativos mortíferos nos quais são gastos biliões todos os anos, que a necessidade para a criação de grandes exércitos não será diminuída pois são precisamentes esses novos desenvolvimentos científicos que permitem uma maior interacção entre humano e máquina: «The sleeplessness research should be understood as one part of a quest for soldiers whose physical capabilities will more closely approximate the functionalities of non-human apparatuses and networks» (Crary, 2013, p. 3). Várias tentativas têm sido feitas pela ciência militar para intensificar esta relação humano-máquina. Uma outra, menciona Crary, é a criação de uma droga anti-medo: «There will be occasions when, for example, missile-armed drones cannot be used and death squads of sleep-resistant, fear-proofed commandos will be needed for missions of indefinite duration» (Crary, 2013, p. 3). Contudo, como refere Crary e como se tem observado ao longo da história, estas

inovações científicas e tecnológicas ao serviço da guerra - para mencionar os mais recorrentes: computador, internet, drogas, etc... - têm sido assimilidas e institucionalizadas como uma parte inevitável e fundamental à organização política e social do mundo, e, assim, portanto, consideradas como indispensáveis à própria vida do ser humano. Com isto, Crary evoca então a ideia de que este soldado que não dorme seria, no fundo, o modelo antecedente do trabalhador que não dorme e, por conseguinte, do consumidor, sendo ainda, em último lugar, o do próprio indivíduo como Ser. Os principais argumentos na tese de Crary incidem então na ideia de que a civilização humana tem vindo a organizar-se e instituir-se numa esfera contínua e imparável ao serviço de um regime político-social global no qual a tecnologia tem servido uma principal função - a de vigilância das massas e a de imposição de auto-controlo do indivíduo - contribuindo assim para a implementação de uma sociedade assente no consumo e na produção a um ritmo constante, impulsivo, acelarado, vinte e quatro horas por semana, sem interrupção, e para uma diminuição e empobrecimento da contemplação, do repouso, do momento, do presente e da própria experiência. O sono entra neste paradigma pois vem impôr-se como uma das únicas principais barreiras a este mesmo sistema. Crary refere que, ao contrário das várias necessidades base inerentes à natureza do ser humano (fome, sede, desejo sexual), o sono identifica-se como a única que não é (ainda) colonizada, reestruturada e mercantilizada. O sono é, diz Crary, a interrupção do roubo de tempo que nos é forçado pelo capitalismo contemporâneo, e assim, portanto, considerado como a grande afronta humana a essa política: Sleep poses the idea of a human need and interval of time that cannot be colonized and harnessed to a massive engine of profitability, and thus remains an incongruous anomaly and site of crisis in the global present. In spite of all the scientific research in this area, it frustrates and confounds any strategies to exploit or reshape it. The stunning, inconceivable reality is that nothing of value can be extracted from it. (Crary, 2013, pp. 10-11)

O Ecrã Os aparelhos digitais e a dimensão virtual com que interagimos diariamente, tanto no emprego como no espaço pessoal e íntimo, existem, sobretudo, sobre o formato do ecrã. O ecrã torna-se agora indissociável da organização política e social

do mundo; diria-se até que se coloca como a fonte de energia indispensável a toda a vida humana. Porém, esta ligação incessante e aditiva ao universo visual tem vindo, simultaneamente, a instaurar a principal fragmentação (ou duplicação) do sujeito (o eu, o self, o mesmo) na actualidade. O ecrã é a maior arma do ocidente contra si mesmo, a imagem é a sua muniçao, e esta é infinita. Os vários dispositivos recorrentes do dia-a-dia, desde o computador, a televisão, os telemóveis, têm a capacidade de estar constantemente a disparar imagens para o público. Nós, por alguma razão, fazemos delas um ritual de consumo diário; tomamo-las quase sempre como verdadeiras, mesmo que nos mintam descaradamente, tal é o seu poder... Um exemplo imediato será aquele caso curioso das campanhas políticas, onde partidos se apropriaram de fotografias de várias pessoas, à partida, desempregradas, e decidiram partilhar as imagens nas redes sociais e em grandes cartazes (estes últimos que de certa forma também funcionam como ecrãs). Contudo, veio a verificar-se que as histórias eram falsas. E concerteza não será a primeira nem última vez que a política tira partido da imagem para a encher de codificações e interpretações enganosas para com o público. Parece que, mal saímos à rua, nas grandes cidades principalmente, abre-se o olhar para todo um consumo de imagens. Se esse consumo é voluntário ou involuntário isso deixa de interessar para aqueles que controlam o ecrã, desde que ele exista. Durante as campanhas políticas, os partidos parece que se tornam em empresas de marketing e publicidade. Isto transmite uma grande sensação de estranheza... Toda esta apropriação e manipulação do ecrã e da fotografia para a imposição de um consumo constante perante as massas e perante o indivíduo é, de facto, (para mim) muito estranha... A constante acessibilidade, instantaneidade e omnipresença que o ecrã começa a instalar e a intensificar na interacção do público com a imagem fotográfica vem elevá-los (tanto ao ecrã como à fotografia) ao estatuto de ferramentas apropriadas para a instituição de poder, controlo e manipulação por parte das organizações políticas e governamentais sobre as populações, tendo o central objectivo de implantar e projectar uma série de comportamentos específicos no público consumidor da imagem: códigos. Contudo, ao mesmo tempo e paradoxalmente, vem colocá-los (ao ecrã e à fotografia) também como um meio expressivo da vida social e privada do indivíduo comum e das multidões. Porém, aqui dá-se um paradoxo dentro

desse mesmo paradoxo: é através desse espaço aparantemente íntimo e privado que se insere uma (auto-)vigilância camuflada do cidadão, de novo, através do ecrã. Na sua obra On Photography, e principalmente no capítulo «Mundo-Imagem», Susan Sontag refere que o capitalismo tiraria partido destas questões para adoptar uma política com a finalidade de impôr uma cultura e uma interacção social assente na produção, no consumo e na dependência da imagem. A imagem fotográfica, ao serviço da sociedade industrial, teria apenas duas funções: 1ª - servir de espectáculo para as massas com o objectivo de estimular a compra e gerar um ciclo vicioso de consumo; 2ª - servir como objecto de vigilância para os governantes e reunir uma interminável quantidade de informação para que esse mesmo ciclo continue em movimento. A principal função que o ecrã tem vindo a desempenhar ao serviço deste capitalismo acentuado é então o de transformar as imagens em objectos de consumo diários, contribuindo para uma substituição da experiência do mundo real pelo espaço visual e virtual, dando origem tanto a uma degradação da coisa real como do próprio conteúdo imagético. O acto de tirar fotografias e de as colocar nesse mesmo fluxo de imagens em rede tem-se afirmado como uma praxis fundamental ao longo do século XXI, com tendência a acentuar-se cada vez mais. Quem não participa nela já é olhado com certa estranheza, como que desactualizado do mundo... Um exemplo algo recorrente desta prática que se começa a verificar cada vez mais hoje em dia será o dos grandes eventos, como os festivais ou os concertos de música, nos quais se observa membros do público constantemente a filmar ou a fotografar parte da performance. A presença e experiência do indivíduo nesse mesmo acontecimento parece só se tornar efectiva ou ligitimada a partir do momento em que há um registo fotográfico ou em vídeo e, imediatamente, uma partilha desse mesmo numa rede social. As multidões passam a experienciar determinados eventos através da objectiva da máquina fotográfica, de seguida através da imagem por ela criada e mais tarde através do ecrã no qual essa imagem é inserida; ou seja, no fundo, através de uma série de películas e não directamente com o próprio olhar ou com a sua presença efectiva num determinado espaço. É então esta instantaneidade que o ecrã vem instaurar na experiência do ser humano com a imagem e com o mundo que o rodeia, começando assim a remodular o seu próprio comportamento. Por outro lado, parece também haver um instalar de uma

pressão sobre a necessidade de reunir informação, quase como um arquivo digital; uma imposição interior de uma necessidade em estar sempre ligado. O ser começa assim a fragmentar-se a si próprio ao transformar o próprio corpo diariamente em meros dados e códigos criados a partir de imagens fotográficas que já não apenas documentam ou registam um determinado acontecimento, mas começam sim a substituir e a legitimar esse mesmo como experiência vivida. O ecrã vem afirmar-se como um novo espaço, o espaço do não-discurso, e ainda como o lugar da experiência não-vivida. Needing to have reality confirmed and experience enhanced by photographs is an aesthetic consumerism to which everyone is now addicted. Industrial societies turn their citizens into image-junkies; it is the most irresistible form of mental pollution. (...) Ultimately, having an experience becomes identical with taking a photograph of it, and participating in a public event comes more and more to be equivalent to looking at it in photographed form. (Sontag, 2005, pp. 27-28)

Tipos de Ecrã: Passivo e Activo Desta forma, propõe-se dois termos principais, bastante simples e directos, para designar os diferentes e, aparentemente, os principais géneros de ecrã em rede com a sua respectiva função como meio controlador. O Ecrã Passivo (ex: a televisão, os cartazes/ecrãs publicitários): onde o observador se sujeita à exposição de luz e som não actuando directamente no ecrã, sendo o conjunto de imagens e/ou ruídos por este emitidos que reconfiguram uma série de códigos no seu comportamento. Este ecrã diz respeito, principalmente, ao controlo das massas. E o Ecrã Activo (ex: o ecrã dos computadores e da maior parte dos telemóvies [que agora já funcionam, curiosamente, não só através do “clicar” - click - mas sim do toque directo - touch -, quase numa espécie de “fazer festinhas” ou “massagens” ao ecrã]): onde o observador actua directamente no ecrã, e participa indirectamente na sua auto-vigilância, partindo do pressuposto que essa sua relação é de alguma forma mais íntima, mais pessoal ou individual, visto ser uma interacção de um para um. Este ecrã diz respeito, principalmente, ao controlo do indivíduo. Poderia discutir-se que o ecrã passivo tem o principal papel de projectar códigos, e o ecrã activo o de recolha de informação, mas com a constante inovação tecnológica ambos começam a assumir as duas funções. Como exemplo: a rede televisiva tem a capacidade para recolher dados sobre os minutos de visionamento de

um determinado canal ou programa num determinado dia ou hora por parte de uma audiência previamente seleccionada, tendo assim, por conseguinte, a informação necessária para reorganizar e reestruturar a programação da hora, dia, mês ou ano seguinte de forma a que o consumo de minutos por parte dessa mesma audiência, em simultâneo com o lucro do canal correspondente, aumentem. Por outro lado, o ecrã activo começa cada vez mais a impôr-se como o mais imediato e eficaz, visto fazer parte de uma rede global - a internet - que o interliga a todo o mundo, a qualquer momento (espaço e tempo tornam-se quase um só), e devido a funcionar quase como uma extensão corporal do indivíduo, tanto externa - no sentido da miniaturizaçao e da portabilidade, o que faz com que acompanhe sempre o observador - e interna - no sentido em que o indivíduo se insere dentro do ecrã, duplicando o seu corpo num outro sem peso, codificado, espectral. Neste sentido, este corpo outro, imaterial, que anda por aí, em todo o lado, em lugar nenhum, visível ao olhar e invisível ao toque, enquanto o corpo real se esconde por detrás do ecrã de luz no qual esse estranho outro habita, tem a capacidade para interagir e para comunicar através de sistemas-máquinas com outros semelhantes a si, mas completamente distintos. Estas presenças ausentes habitam a dimensão do simulacrum, o universo visual, onde não há sono, não há inércia, mas sim uma constante actualização de informação, de transferência de códigos, de comunicação, de interacção entre substitutos, corpos de luz criados à semelhança da projecção da imagem do mundo real. Estes ecrãs em rede têm vindo a infiltrar toda a esfera social humana. Com o desenvolvimento tecnológico o próprio formato da moeda, do dinheiro, essa coisa estranha, tem vindo a transferir-se e a transformar-se também para o paradigma digital e virtual. Os cartões e os ecrãs de multibanco (e os próprios computadores) afirmam-se agora indispensáveis ao sistema económico de compra, de consumo. Através deles há uma troca de números e códigos - estas coisas imateriais, ausentes que permitem a compra, o reclamar (o “isto é meu”) do objecto - do material, do espaço físico, da propriedade, do real. Muitas instituições de ensino já têm vindo a implementar a ideia do cartão escolar, que, geralmente, tem duas funcionalidades principais. Por um lado, actua como um gestor de confirmação de entrada e saída, ou seja, revela a presença ou ausência de um corpo num espaço (o curioso aqui é que é o digital - o invisível, ausente e imaterial - que afirma e comprova a realidade - o visível, presente e

material). Por outro, opera como um modo de pagamento para refeições e para material escolar (no fundo, é quase como uma implementação de uma operação matemática, um conjunto de números e códigos, que devolve uma quantidade de combustível necessário para a continuação do bom funcionamento do organismo humano). Num futuro próximo da humanidade, na troca e compra de produtos, de coisas, talvez o dinheiro, no seu estado físico de ferro e papel, desapareça totalmente, dando lugar apenas aos códigos, aos números - à data. Não será esse o culminar de uma época de total fragmentação do sujeito, de total estranheza do Ser, onde o indíviduo se coloca como uma ferramenta de produção que opera, como um aparelho digital evoluído, com base num mecanismo de dados? Seria o período da completa alienação e destruição do ser humano, quando o operário exercesse a sua função ao receber em troca uma coisa que não existe. Mas é esse o desejo do capitalismo industrial. E ele já existe... O dinheiro não funciona nada mais como que um código matemático que permite que toda uma equação circular opere eternamente. É uma equação que não procura resolução, pois o resultado já está infiltrado, mascarado na própria fórmula que é apresentada; ou então, se há resolução, ela torna-se numa repetição de si mesma. O que há é uma produção simultânea de dois items: um produto e um código. Este último é limitado e criado com um único propósito: o de implementar uma necessidade para que o produto seja eficaz, i.e. consumido. Essa necessidade não existe fora do código, nasce já dentro dele mesmo. E como é inserido esse código? Argumenta-se que, actualmente, será maioritariamente através do ecrã. O factor humano é apropriado aqui pois é colocado como operador desses 3 níveis simultaneamente: como trabalhador, como receptor, e como consumidor. Este é o sistema ideal para a sociedade industrial: a comercialização do real a partir da atribuição de valor ao não-real, à aparência, à ilusão. Conclusão A finalidade deste texto é então discutir a principal função que o ecrã tem vindo a desempenhar no paradigma político ocidental actual. Argumenta-se que estes ecrãs, estes projectores de luz, de imagens, servem como a ferramenta fundamental para aproximar a esfera consumista ao indívudo, de tal forma, que o incite a instituí-la,

inconscientemente, como uma prática diária infiltrada no (e, ao mesmo tempo, desencadeada a partir do) seu próprio espaço privado e íntimo. Esclarece-se que, como aponta Crary, o sono tem sido a principal barreira ao consumo constante implementado pelo capitalismo. Deste modo, têm sido procuradas várias formas de o manipular. O ecrã em rede tem sido o agente essencial adequado para o funcionamento deste sistema visto que, através dessa sua capacidade de duplicação do corpo do indivíduo e da inserção deste mesmo no atlas virtual (e fundamentalmente visual), se tem vindo a afirmar como a única alternativa para a ligação contínua, permanente e aditiva ao círculo de produção-consumo. Já até várias pessoas deixam de desligar o seu computador quando vão dormir e colocam-no em “sleep mode”. Crary faz referência a esta característica no seu livro, é um estado de dormir da máquina que já não aponta para uma lógica de on/off mas sim para um estado reduzido de operacionalidade onde nunca há um completo repouso. Este “sleep mode” parece agora começar a instalar-se no próprio ser humano... O nosso corpo físico e real desliga-se, mas o seu outro permanece virtualmente e visualmente acessível para receber informação. É fundamentalmente através do ecrã e, portanto, do visual que se tem vindo a instalar a vigilância, o controlo e a manipulação das massas contribuindo para a degradação da experiência do ser humano do mundo que o rodeia... Referências Crary, Jonathan (2013) 24/7: Late Capitalism and the Ends of Sleep. Londres: Verso Books. ISBN-13: 978-1- 78168-311-8 Sontag, Susan (2005) On Photography. Nova Iorque: RosettaBooksLLC. ISBN: 0-7953-2699-8

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