O EMPREENDEDORISMO SOB UM ENFOQUE SISTÊMICO DA ORGANIZAÇÃO

June 13, 2017 | Autor: Roberto Kern Gomes | Categoria: Entrepreneurship, General Systems Theory
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O EMPREENDEDORISMO SOB UM ENFOQUE SISTÊMICO DA ORGANIZAÇÃO

Roberto Kern GOMES - Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
Programa de Pós-graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Campus Universitário Reitor João David Ferreira Lima – Trindade,
Florianópolis – SC, 88.040-900
E-mail: [email protected]

Waldoir Valentim GOMES Jr. - Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
Programa de Pós-graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Campus Universitário Reitor João David Ferreira Lima – Trindade,
Florianópolis – SC, 88.040-900
E-mail: [email protected]

Édis Mafra LAPOLLI - Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
Programa de Pós-graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Campus Universitário Reitor João David Ferreira Lima – Trindade,
Florianópolis – SC, 88.040-900
E-mail: [email protected]

RESUMO

A visão reducionista de que as organizações têm um funcionamento
mecanicista e previsível parece ter ficado para trás a partir da segunda
metade do século XX. A crescente necessidade de interação entre os diversos
atores de uma organização, a fim de enfrentar o ambiente complexo da
concorrência global, fez emergir uma nova visão de mundo baseada justamente
na complexidade do comportamento humano nas organizações. O que impera
neste novo ambiente parece ser a visão sistêmica de mundo, que melhor se
adéqua aos complexos problemas enfrentados pelas organizações.
Analogamente, parece ser a visão sistêmica a principal característica do
profissional empreendedor, seja aquele que abre seu negócio próprio, seja
aquele que empreende em uma organização existente. Assim, com esse pano de
fundo, o objetivo deste artigo é estudar o fenômeno do empreendedorismo sob
o enforque sistêmico da organização, tentando explicar quais os benefícios
que essa característica do empreendedor pode trazer para a organização.
Para atingir este objetivo, foi feita uma pesquisa bibliográfica, usando
como base a literatura existente, seja na forma de livros, artigos, teses
ou dissertações. Tal pesquisa descreveu um pequeno histórico sobre as
visões de mundo cartesiana e sistêmica, a teoria geral dos sistemas, sua
relação com as organizações e, finalmente, a sua íntima ligação com o
empreendedorismo. Como resultado, foi possível constatar que a visão
sistêmica, característica fundamental dos empreendedores é condição sine
quá non para enfrentar os desafios do novo milênio. Além disso, percebeu-se
que essa nova visão de mundo transcende a organização e afeta diversas
áreas do conhecimento e da própria existência humana.

Palavras-chave: Teoria Geral dos Sistemas. Visão Sistêmica.
Empreendedorismo.

ABSTRACT

The reductionist view that organizations have a mechanistic and predictable
operation seems to have been left behind from the second half of the
twentieth century. The growing need for interaction between the various
actors of an organization in order to face the complex environment of
global competition, did emerge a new world view based precisely on the
complexity of human behavior in organizations. What prevails in this new
environment seems to be a systemic worldview that best fits to the complex
problems faced by organizations. Similarly, a systemic view is the main
feature of the entrepreneurial professional, is he who opens his own
business, is that conducted for an existing organization. So with this
background, the purpose of this article is to study the phenomenon of
entrepreneurship under the systemic hang the organization, trying to
explain what benefits this characteristic of the entrepreneur can bring to
the organization. To achieve this goal, a literature search was made, using
the existing literature, whether in the form of books, articles, theses or
dissertations. Such research described a brief history about the Cartesian
and systemic worldviews, the general systems theory, their relationship
with organizations and, finally, its close connection with
entrepreneurship. As a result, it was found that the systemic view, a
fundamental characteristic of entrepreneurs is a sine qua non condition to
face the challenges of the new millennium. In addition, it was noted that
this new worldview transcends the organization and affects different areas
of knowledge and human existence.

Keywords: General Systems Theory. Systemic vision. Entrepreneurship.

1 INTRODUÇÃO

O fato de que as organizações empresariais funcionam de maneira análoga a
organismos vivos não é recente. Todavia, percebe-se que a partir de meados
do século XX há uma mudança na visão de mundo predominante acerca desses
sistemas. Enquanto o que imperava até então era uma visão positivista,
Newtoniana e Cartesiana, paradigma sob o qual os organizamos vivos e
sociais viviam sob uma lei mecanicista, o que passa a existir é uma visão
sistêmica de mundo, em que o que importa é a inter-relação entre as partes
e não mais a sua unicidade. Em lugar de uma visão reducionista e
simplificada, surge a visão holística e complexa (CAPRA, 2011; SENGE,
2004).
Essa nova visão de mundo parece mais adequada ao modelo atual de sociedade
e à complexidade de suas relações com o ambiente. Essa complexidade é
inerente aos sistemas vivos e sociais e o pensamento sistêmico é justamente
sensível à sutileza da interconectividade que dá a esses sistemas vivos o
seu caráter único e os difere dos sistemas mecanicistas (SENGE, 2004).
Nesse sentido, Senge (2004, p. 99) afirma que "hoje, o pensamento sistêmico
é mais necessário do que nunca, pois nos tornamos cada vez mais
desamparados diante de tanta complexidade".
Neste contexto, o que se pretende com esse artigo é apresentar as relações
entre essa nova visão sistêmica do mundo com o fenômeno do
empreendedorismo, tendo em vista que a visão sistêmica é uma das principais
características do empreendedor e condição para entender o mundo a sua
volta, a concorrência e seus clientes. É, pois, condição para sua
sobrevivência, já que o empreendedor é um ser social, produto do meio em
que vive (DORNELAS, 2005; DOLABELA, 2008).
Para atingir este objetivo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica com o
propósito de encontrar evidências dessa relação, além de traçar um
histórico sobre o surgimento da visão sistêmica de mundo, à luz da teoria
geral dos sistemas.
Assim, o artigo está disposto da seguinte maneira: no capítulo 1 temos a
introdução, com a contextualização da temática; no capítulo 2 apresentam-se
os procedimentos metodológicos usados na pesquisa; no capítulo 3 introduz-
se o referencial teórico, com menções às visões de mundo cartesiana e
sistêmica, à teoria geral dos sistemas, às organizações vistas como
sistemas e, finalmente, ao empreendedorismo; no capítulo 4 faz-se uma
discussão acerca do que foi encontrado na literatura pesquisada e no
capítulo 5 apresentam-se as conclusões dos autores.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A VISÃO DE MUNDO: CARTESIANA VERSUS SISTÊMICA

Durante mais de 300 anos a visão cartesiana de mundo (reducionista e
modelo para o método científico desenvolvido nos últimos séculos) foi
coroada de êxitos, especialmente na biologia. Todavia, tal visão também
limitou as direções da pesquisa científica. Isso se deveu ao fato de que os
cientistas acreditavam que os organismos vivos nada mais eram do que
simples máquinas. Sob essa visão reducionista, a adesão na medicina, da
falácia de que o "corpo humano funcionaria como o mecanismo de um relógio
impediu os médicos de compreender muitas das mais importantes enfermidades
da atualidade" (CAPRA, 2011, p. 57).
Essa visão de mundo era oriunda da ambição de Descartes que, usando seu
método do pensamento analítico, tentou apresentar uma descrição precisa de
todos os fenômenos naturais em um único sistema de princípios mecânicos,
com certeza matemática e absoluta (CAPRA, 2011).
Com a teoria da Relatividade, os conceitos de tempo e espaço, que são
fundamentais para a descrição dos fenômenos naturais, sofreram uma
modificação radical. Isso acarretou uma mudança de todos os conceitos
usados em física para descrever a natureza. Na física moderna, a massa
deixou de estar associada a uma substância material. Assim, os conceitos de
força e matéria, tão fundamentalmente diferentes na física newtoniana, são
agora unificados (CAPRA, 2011).
Neste contexto, as teorias básicas na física moderna transcenderam os
principais aspectos da visão cartesiana de mundo e da física newtoniana.
Sob este novo paradigma, segundo Capra (2011, p. 86), "a imagem do universo
como uma máquina foi substituída por uma visão dele como um todo dinâmico e
indivisível, cujas partes são essencialmente inter-relacionadas". Tal
modelo, holístico ou sistêmico, vê o todo como indissociável; o estudo das
partes não mais permite conhecer o funcionamento do organismo, sendo
necessário nascimento de um novo olhar sobre os fenômenos físicos, naturais
e sociais. Surge a visão sistêmica de mundo!

2.2 A TEORIA GERAL DOS SISTEMAS

A teoria geral dos sistemas é entendida como uma nova maneira de se
pesquisar, estudar e compreender o mundo, suas especificidades e suas
relações – enfim, uma nova visão de mundo.
Para perceber essa nova visão, é importante entender que a transição se deu
a partir da "especialização", que também deu sua colaboração às ciências,
possibilitando entrar no âmago de cada uma delas ou de suas disciplinas.
Dessa visão reducionista da realidade, do isolamento, da análise como fim
em si mesma e cada vez mais atomística, chegou-se à era da síntese, do
global, do macro, da agregação, da busca do comum, das interfaces, da
complementaridade nas várias áreas do conhecimento, enfim, dos sistemas
(BORGES, 2000).
Um sistema é, assim, tudo aquilo que possui mais de uma parte, desde que
elas sejam interdependentes e que essa interdependência conduza a algum
resultado preestabelecido. Tal definição é abrangente a ponto de
identificar como sistema uma máquina, um ser humano ou uma organização, o
que nos conduz imediatamente a um mundo de sistemas, ou, segundo a
afirmação de Bertalanffy, à conclusão de que os sistemas estão em toda
parte (PIZZA JÚNIOR, 1986).
Neste contexto, é importante destacar que a Teoria Geral dos Sistemas teve
origem justamente nos estudos desenvolvidos pelo austríaco Ludwig Von
Bertalanffy (1901-1972), biólogo, radicado no Canadá, professor da
Universidade de Alberta, em Edmonton. Seus estudos representavam a mudança
do paradigma mecanicista, baseado na visão newtoniana/cartesiana para o
paradigma sistêmico, que se importava mais com o relacionamento complexo
entre as partes do que com as unidades específicas. Tal visão rapidamente
se espalhou para diversas áreas das ciências, influenciando, inclusive, as
organizações (VALE, 2012).
A partir daí a Teoria Geral dos Sistemas tem sido associada a vários
estudos, que vão desde sua ligação com os arranjos produtivos locais,
estratégia e produção (AQUINO; BRESCIANI, 2005), com a geografia (VALE,
2012) até estudos relacionados às organizações (MOTTA, 1971; KATZ & KAHN,
1974), o empreendedorismo (DIAS, 2006) e o Turismo (BARROS et al., 2008),
dentre outros.
Acerca das organizações, enquanto sistemas sociais, Motta (1971) afirma que
todo o sistema social deve ser estudado em termos do que chama de
imperativos funcionais. Para o autor, "todo e qualquer sistema deve ser
estudado em termos de manutenção, atingimento de metas, adaptabilidade e
integração" (MOTTA,1971, p. 20).
Como vimos, a Teoria Geral dos Sistemas tem uma forte relação com diversas
áreas. Todavia, como o foco desse artigo é o empreendedorismo, o foco será
nesta relação, começando com a visão da organização como um sistema.

2.3 A ORGANIZAÇÃO COMO UM SISTEMA

Segundo Motta (1971), os pioneiros no esforço de desenvolver uma análise
organizacional sistêmica foram E.L. Trist, e A.K. Rice, do Instituto de
Relações Humanas de Tavistock, na Inglaterra. O Autor relata que os
estudiosos concentraram suas pesquisas nas minas de carvão do seu país e na
indústria têxtil da Índia.
Motta (1971) afirma ainda que os estudos de Trist apontam para a existência
de dois subsistemas em uma organização, quais sejam, o técnico e o social.
O primeiro é responsável pela eficiência potencial da organização e o
segundo pelas relações sociais daqueles encarregados pela execução da
tarefa, que transformam eficiência potencial em eficiência real.
Por outro lado, Motta (1971) lembra que Rice tinha uma visão relacionada às
transações da organização com seu ambiente. Assim, para Rice "qualquer
empresa, considerada como um sistema aberto, pode ser definida por suas
importações e exportações, isto é, pela manifestação de suas relações com o
meio ambiente" (MOTTA, 1971, p. 21).
Acerca da organização como sistema, também é importante frisar a posição de
Rezende (2003, p. 36), para quem a empresa é:

um sistema, tendo em vista sua complexidade de atividades, funcionamento de
processos, envolvimento de pessoas, entidades externas e a grandiosidade de
manipulação de diversas informações. A empresa e suas relações formam o
maior de todos os Sistemas de Informação, juntamente a suas funções
empresariais, meio ambiente interno e externo.

Esta visão de que as empresas são sistemas é compartilhada por Pizza Junior
(1986), para quem as organizações são um sistema social tão complexo que o
seu funcionamento implica identificar "partes" de interdependência que são
outras organizações, instituições, máquinas e seres humanos. Além disso,
para o autor, a organização não é vista apenas como um grupamento de
departamentos em que técnicas especializadas resolvem problemas específicos
sem aparente ou real compatibilização com os objetivos finais do sistema,
mas sim como um organismo complexo com total interação com a razão de sua
existência, qual seja a sua missão.
Falando também da organização como um sistema aberto, Peter Senge afirma
que "o pensamento sistêmico é uma disciplina para ver o todo. É um quadro
referencial para ver inter-relacionamentos, em vez de eventos; para ver
padrões de mudança em vez de fotos instantâneas" (SENGE, 2004, p. 99).
Neste contexto, percebe-se uma sintonia entre a visão dos dois autores,
pois esta é justamente a opinião de Motta (1971, p. 24), para quem, de
acordo com abordagem sistêmica,
a organização é vista em termos de comportamentos inter-relacionados. Há
uma tendência muito grande a enfatizar mais os papéis que as pessoas
desempenham do que as próprias pessoas, entendendo papel como um conjunto
de atividades associadas a um ponto específico do espaço organizacional, a
que se pode chamar de cargo.

Todavia, vale destacar o modelo que apresenta a organização como um sistema
aberto, demonstrado por Katz & Kahn (1974), em sua obra intitulada
Psicologia Social das Organizações. Para os autores, as organizações
sociais caracterizam-se como sistemas abertos, pois elas realizam
transações com o meio ao qual estão inseridas.
Ainda segundo os mesmos autores, os sistemas abertos se caracterizam pela
importação e exportação de energia, processamento, ciclos de eventos,
entropia negativa, feedback, homeostase, diferenciação e equifinalidade.
Tais características são descritas a seguir:
Importação e Exportação: é fluxo de entrada e saída de materiais, como
matéria prima e informações;
Transformação: é processamento dos insumos em produtos finais;
Entropia negativa: os sistemas abertos necessitam da aquisição de entropia
negativa para sobreviver; inputs são maiores que outputs no processo de
transformação;
Feedback: é a informação produzida pelo próprio sistema e que retorna a ele
como um novo input;
Homeostase: é um estado de equilíbrio caracterizado mais pela dinamicidade
do que pela estaticidade, pois os inputs de energia, para deter a entropia,
agem para manter um equilíbrio no intercâmbio de energia, para que os
sistemas sobrevivam.
Diferenciação: em vez de aspectos difusos e globais, com certa
padronização, há a substituição por funções mais especializadas,
hierarquizadas e altamente diferenciadas.
Princípio da equifinalidade: diz que um sistema pode atingir um estado
final igual com origem em condições inicias distintas e por meio de
diversas formas e meios de desenvolvimento (KATZ & KAHN, 1974);
2.4 A VISÃO SISTÊMICA E O EMPREENDEDORISMO

Como já foi mencionado, as organizações são atualmente vistas como sistemas
abertos, interagindo e trocando informações com o ambiente. Esta afirmação
é corroborada por Oliveira (2004), para quem existe a necessidade de que a
empresa seja vista como um sistema, com unidades centrais e unidades
periféricas (subsistemas) que fazem a ligação entre a administração e as
áreas de execução.
Neste sentido, o empreendedor também deve ter consciência de que as
organizações não vivem de maneira isolada, de modo que, para entendê-las,
precisa ter o que se chama de visão sistêmica.
Essa relação de integração das partes para interagir com o todo tem início,
na perspectiva do empreendedorismo, com os estudos de Schumpeter na
primeira metade do século XX, para entender o papel do empreendedor e o seu
desempenho como protagonista econômico. Assim os estudos sob o tema
empreendedorismo trazem em sua essência a ação utilizada pelos
empreendedores para descobrir, ou mesmo projetar, possíveis cenários que
possam potencializar a concretização de seus objetivos.
Ainda acerca da integração entre as partes, Panosso Neto (2005) destaca que
um sistema é mais do que a simples soma de suas partes e que, caso um dos
elementos da cadeia seja deficiente, isso causa a incapacidade de interação
com os outros, impossibilitando sua função específica, resultando em um
sistema totalmente deficiente.
Assim, Steward (1998) faz referência à mudança de mentalidade do
empreendedor para entender e, ao mesmo tempo, agir diante da transformação
de contexto provocado pela concorrência empresarial. Ele apresenta dois
elementos fundamentais para manter a competitividade, quais sejam a
informação e o conhecimento. Esta nova postura retrata a necessidade do
pensamento complexo e sistêmico para lidar com causas e efeitos decorrentes
dos desequilíbrios no âmbito da organização, independente de serem de
natureza interna ou externa.
O Pensamento Sistêmico, assim, propicia ao empreendedor alcançar
competências para atingir competitividade. No estudo apresentado por Gomes
Jr. (2013), a respeito das competências como gerador de valor intangível,
fica evidenciado que tal elemento nasce nas pessoas para então, se bem
aproveitado, atingir a organização como um todo.
Ainda acerca da visão sistêmica como uma competência empreendedora, Lapolli
(2010) aborda, entre outros aspectos, a capacidade de perceber falhas de
competências no ambiente organizacional a partir das percepções dos pares
(indivíduos) e dos seus relacionamentos. Uma ferramenta de gestão para o
posicionamento estratégico da empresa que, sob a ótica do saber perceber e
agir, desenvolve novas competências para manter o posicionamento no mercado
segundo os interesses do planejamento estratégico.
Neste sentido, o empreendedorismo se apropria das competências do indivíduo
para formar a Competência Empreendedora a ser utilizada nas organizações.
Outro fator que deve ser foco do empreendedor é a relação entre a
organização e o ambiente ao qual está inserida. Neste sentido, as
organizações aprendem com a interação com o ambiente externo e com os
relacionamentos internos, sejam estes entre indivíduos ou equipes,
favorecendo a construção de uma cultura empreendedora.
Essas relações estabelecem uma nova forma de relacionamento, em que as
relações entre os indivíduos e a empresa terão maior liberdade para
promoverem uma nova ordem em um mercado complexo e dinâmico (MELO; COSTA;
CERICATO, 2005)..
Percebe-se também a visão sistêmica no empreendedorismo quando [23], em
seus estudos, abordam o tema Gestão Empreendedora da Inovação, mais
precisamente a importância da cultura para inovação, termos estes que
cooperam em simbiose com o empreendedorismo no âmbito organizacional.
Destacam que "na perspectiva do empreendedorismo, a inovação se consolida
como resultado de um processo, onde a inquietude para compreender
juntamente com a criatividade e a percepção de valor constituem uma cadeia"
(CHAGAS ET AL, 2015, p. 168). Não é, portanto, possível ser criativo sem
ter visão sistêmica.
Assim, a inovação é fundamental nessa nova ordem, que é fruto das
observações apresentadas por Schumpeter em 1942, quando aborda que o
processo de "destruição criativa" promove as empresas inovadoras tendo em
vista sua capacidade de responder às novas demandas do mercado e à
perspectiva de fechamento das empresas sem capacidade para acompanhar as
essas mudanças.
Beveridge (1981), por sua vez, destaca que a principal característica de um
sistema é a interação harmônica entre os componentes que o constituem,
avançando para formação de uma rede de elementos interdependentes para
construção de um todo. Apesar do pensamento de Schumpeter apresentar uma
ruptura, encontra amparo em Beveridge (1981) quando se percebe que atender
novas demandas é colocar-se em harmonia com um novo contexto do ambiente,
um novo sistema.
Esta nova ordem de equilíbrio se manifesta através de um fenômeno conhecido
por auto-organização. Oliveira e Minayo (2001, p. 142) esclarecem melhor o
termo, pois, para os autores:
A ruptura com o determinismo é o primeiro e mais importante diferencial que
uma nova teoria da vida vem inaugurar, através do conceito de auto-
organização. Este supõe que a ordenação presente nos processos vitais
emerge espontaneamente de uma desordem inicial.

Deste modo, podemos entender o empreendedor como um agente social que
percebe o sistema onde está inserido com uma visão que lhe é particular e,
definitivamente, não determinística e sim sistêmica. Suas ações são
diferenciadas frente a outros indivíduos por conta de características
intrínsecas. Bueno e Lapolli (2001, p. 35) percebem estas características,
apresentando o empreendedor como:

O inovador, o estrategista, o criador de novos métodos para penetrar ou
criar novas possibilidades. Ele tem a personalidade criativa e de fácil
adaptação com o desconhecido e tem a capacidade de transformar
probabilidade em possibilidade e discórdia em concórdia, perdas em ganhos,
caos em harmonia.

Neste sentido, autores como Fayolle e Basso (2010, p. 320) também destacam
aspectos relevantes sobre o empreendedorismo que, como um sistema, possui
inter-relações de várias partes:
A fim de implementar com sucesso a sua orientação empreendedora,
acreditamos que as empresas devem entender o que o empreendedorismo
implica. Neste sentido, o empreendedorismo pode ser individual ou coletivo,
e dizem respeito a três áreas simultaneamente ou em sequência: estado de
espírito, comportamento e situações.

O espírito empreendedor faz referência à cultura empreendedora; o
comportamento aponta na direção de assumir riscos, buscar oportunidades,
iniciativa e responsabilidade; por último, as situações, fazem alusão ao
meio em que se está inserido, levando em conta incertezas, riscos e criação
de valor. Assim, percebe-se que a visão sistêmica é fundamental para
entender o empreendedor e o fenômeno do empreendedorismo (FAYOLLE; BASSO,
2010).
Autores como Schumpeter (1982); Pinchot (1989); Bueno e Lapolli (2001);
Dornelas (2005) têm contribuído sistematicamente, cada um com sua
perspectiva, com estudos sobre o empreendedorismo. Corroboram na
perspectiva de que o empreendedor é um estrategista, alguém que, de certa
forma, prospecta cenários e procura alternativas para atender seus anseios.
A capacidade de sistematizar está relacionada às vivências e às percepções
do individuo no contexto onde atua, seja do ponto de vista individual, para
atingir seus propósitos, ou mesmo em grupo, para atender os anseios de um
coletivo. Cabe às organizações saberem identificar suas limitações e
potencialidades do ponto de vista organizacional e individual para manterem-
se competitivas.
Identificar potencialidades na organização é uma forma de sistematizar
competências frente a novos desafios. Nesta perspectiva o perfil
empreendedor pode ser usado como uma ferramenta de gestão da organização
para identificar suas capacidades de realização diante dos contextos que se
apresentem. Assim, Bueno e Lapolli (2001) contribuem com os sinais
distintivos dos empreendedores, quais sejam: velocidade, polivalência,
visão, capacidade de realização e capacidade de relacionamento
interpessoal, que aqui estão destacados.
Velocidade: se caracteriza pela prontidão, a atenção, o planejamento, o
espírito de liderança e a capacidade de tomar decisões urgentes em
situações emergenciais. Ainda exige um raciocínio rápido sobre o
enfrentamento de problemas e uma consequente capacidade de expressar bem as
ideias de forma oral ou escrita;
Polivalência: apresenta aptidões internas tais como a fácil adaptação a
grupos e ambientes, flexibilidade nas ideias e ações e competência de
realizar várias tarefas em diversos contextos ao mesmo tempo.
Visão: estabelece sob a formação e a experiência em situações reais e em
teorias que proporcionam, geralmente, capacidade de compreensão, análise,
avaliação e ação sobre as situações da vida e do trabalho, culminando em
cenários e o caminho para atingi-los.
Capacidade de Realização:: geralmente é percebida como consequência do
planejamento preciso dos empreendimentos a partir de conhecimentos,
análises, estudos de erros e avaliações acerca dos caminhos tortuosos a
serem seguidos por eventualidades e possibilidades de retomada das rotas
adequadas. É marcante neste sinal distintivo, a condição de sempre superar
obstáculos para nunca deixar de realizar as atividades necessárias;
Capacidade de Relacionamento Interpessoal: define-se como a aptidão de
equilíbrio emocional próprio e de interferência no equilíbrio emocional dos
outros e das organizações. Capacidade de harmonizar grupos e de persuadir.
Compreensão acerca das ações e reações pessoais e dos outros diante de
situações difíceis, concorrências ou rivalidades.
Finalmente, à luz do que se apresentou até aqui, pode-se inferir que a
visão sistêmica e o empreendedorismo se complementam para a organização
alcançar posição de destaque. Isso ocorre, pois a visão sistêmica trata da
maneira de enxergar a organização e o que tem ao seu redor. Já o
empreendedorismo busca as ações relativas ao perfil empreendedor no
exercício de práticas no ambiente de trabalho e na construção de recursos
estratégicos, a fim de constituir metas e traçar estratégias para alcançar
os resultados desejáveis.


3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Com relação aos objetivos, esta pesquisa é exploratória e descritiva, pois
tal estudo necessitou um conhecimento prévio sobre a realidade do assunto,
mas não utilizou procedimentos e técnicas estatísticas rígidas no
desenvolvimento do estudo (GIL, 1999; SEVERINO, 2000).
Pode ser ainda considerada uma pesquisa qualitativa, pois é a mais adequada
em estudos da natureza do presente artigo, devido ao que Creswell (2010)
chama de viés interpretativo, o que significa que os pesquisadores fazem
uma interpretação do que enxergam, ouvem ou entendem. Ainda de acordo com
Creswell (2010), para a análise de fenômenos das ciências sociais, a
pesquisa qualitativa mostra-se mais adequada enquanto método, uma vez que
aborda uma visão sistêmica do fenômeno que se está estudando.
Finalmente, acerca dos procedimentos técnicos do estudo, foi desenvolvida
uma revisão bibliográfica, pois se procura explicar um problema a partir de
referências teóricas publicadas em documentos, buscando conhecer e analisar
as contribuições culturais ou científicas existentes sobre um determinado
assunto, tema ou problema (SEVERINO, 2000).

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


Este capítulo tem o objetivo de tentar sintetizar o que foi encontrado da
literatura acerca do tema proposto, qual seja, o entendimento sobre o
enfoque sistêmico, o fenômeno do empreendedorismo e os benefícios da visão
sistêmica para o empreendedor.
O que se percebe ao estudar os textos de Capra (2011), Senge (2004), Borges
(2000), dentre outros, é que de fato a visão sistêmica de mundo tomou o
lugar da antiga visão cartesiana e mecanicista, representando uma quebra de
paradigma. Tal visão de mundo se alastrou por diversas áreas do
conhecimento, modificando a maneira como as pessoas veem os vários
problemas da existência humana e, principalmente, suas soluções para esses
problemas. Essa supremacia se deve ao fato de que a visão do mundo e das
coisas como partes interligadas, ou seja, como um sistema, parece a mais
adequada para se lidar com a complexidade do atual contexto da sociedade e
das relações entre as empresas, pessoas e, por que não, dos próprios
sistemas.
Nesse contexto, no ambiente competitivo em que emerge o empreendedorismo,
parece ser também a visão sistêmica a forma mais adequada de se analisar e
avaliar o novo contexto organizacional. Tal característica é tida como
fundamental ao empreendedor, segundo os diversos autores que escrevem
acerca do tema DORNELAS, 2005; DOLABELA, 2008; DIAS, 2006).
Percebeu-se também que a Teoria Geral dos Sistemas ainda explica, em grande
parte, o fenômeno do empreendedorismo na medida em que, como dito
anteriormente e segundo [Rezende (2003, p. 36), "uma empresa e suas
relações formam o maior de todos os Sistemas de Informação, juntamente a
suas funções empresariais, meio ambiente interno e externo".
Devido a essas trocas com o ambiente, há uma enorme complexidade em uma
empresa, pois ela é um organismo propriamente complexo com total interação
com a razão de sua existência (PIZZA JUNIOR, 1986).
Neste sentido, também foi verificado que o empreendedor deve entender que
as organizações não vivem isoladas do contexto em que estão inseridas e da
sociedade a que pertencem. Assim, para entendê-las, ele precisa ter o que
se chama de visão sistêmica
Finalmente, os autores estudados concluem que a visão sistêmica e o
empreendedorismo se complementam para que a empresa resultante da ação do
empreendedor alcance seus objetivos e metas, além de desenvolver as
estratégias para alcançar os resultados desejáveis.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste artigo foi estudar o fenômeno do empreendedorismo sob o
enforque sistêmico da organização, tentando explicar quais os benefícios
que essa característica do empreendedor pode trazer para a organização.
Como principal resultado, foi possível constatar que a visão sistêmica,
característica fundamental dos empreendedores é condição sine quá non para
enfrentar os desafios do novo milênio. Além disso, percebeu-se que essa
nova visão de mundo transcende a organização e afeta diversas áreas do
conhecimento e da própria existência humana.
Assim, torna-se inviável querer entender o fenômeno do empreendedorismo sob
o paradigma mecanicista. A visão de que o universo "funciona como um
relógio" sob as leis da física newtoniana não é suficiente para entender a
complexidade do mundo. O empreendedor tem que enxergar sempre a frente do
seu tempo e tentar antecipar-se aos acontecimentos. Para isso, precisa ter
o que se chama de visão holística da sua empresa e de todos os stakholders
que atuam com ela. Isto nada mais é do que a visão sistêmica, ou seja,
enxergar o ambiente como um todo interligado e com relação de
interdependência.
Neste contexto, como benefícios dessa fundamental característica dos
empreendedores, que é a visão sistêmica, pode-se citar a facilidade de se
adaptar às constantes mudanças para se adequar às rápidas transformações de
cenários, face ao ambiente cada vez mais inconstante.
A visão sistêmica pode ser vista também sob o aspecto do indivíduo
empreendedor e da organização empreendedora. Acerca do empreendedor, pode-
se afirmar que a visão sistêmica sobre o próprio indivíduo resulta no
conhecimento de todas as oportunidades que estão disponíveis e em como
fazer para alcançá-las de maneira inteligente e estratégica. Além disso, no
ambiente organizacional em que estiver inserido, enquanto
intraempreendedor, poderá se utilizar da sua visão sistêmica melhor
entender e se adaptar aos processos de trabalho e metas organizacionais, o
que o auxiliará para agir na direção dos anseios e necessidades dos seus
clientes internos e externos.
Finalmente, acerca das organizações empreendedoras que possuem a visão
sistêmica, é consistente afirmar que elas podem se fazer valer tal visão de
mundo na busca de colaboradores ideais para as suas necessidades. Essa
visão, por exemplo, pode alertar os futuros líderes e executivos dos
imprevistos que possam acarretar resultados negativos para a empresa.

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