O Encanto das Trovas Tomo IV - São Paulo vol. 3

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O Encanto das Trovas . . . Tomo IV – Estado de São Paulo vol. 3......... Página | 1

SUMÁRIO

Alba Christina Campos Netto ...................................................................... 3 Amilton Maciel Monteiro ............................................................................. 7 José de Ávila .............................................................................................11 Filemon Francisco Martins .........................................................................15 Olindo de Luca ...........................................................................................19 Olivaldo Gomes da Silva Júnior ..................................................................23 Osório Porto ...............................................................................................27 Sérgio Ferreira da Silva ..............................................................................31

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Alba Christina Campos Netto São Paulo

1 A dentadura escorrega, mas depois de muito estudo, agora, em vez de corega, ele passa cola-tudo.

2 A festa já estava brega quando a ilustre convidada, gingando a saia de prega, escorrega e cai sentada! 3 Ante os preços, toma um porre, e a quem lhe diz que isso é um erro, responde que só não morre por não ter grana pro enterro. 4 “A onça entrou no terreiro e sua mulher tá lá!”… Responde o peão, matreiro: “deixa onça se daná!”… 5 As mentiras bem montadas que me dizes com prazer, são algemas desgastadas que eu teimo em não desprender.

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6 Em momentos exaltados sem poder falar e agir, o silencio dá recados que poucos sabem ouvir. 7 Fui lembrar nosso namoro, e pelo jardim, os gnomos juntaram-se a mim no coro das lembranças do que fomos. 8 - Há uma loura acompanhando seu marido o dia inteiro... - Pois vai acabar cansando... O meu marido é carteiro! 9 Letras feias, mal impressas, e o descuido peculiar de quem, convidando às pressas, sabe que eu não vou faltar...

10 Meu destino é um desatento marinheiro em fantasias, baixa as velas quando há vento, e a solta nas calmarias. 11 Meu sonho é ilusão ligeira que achando a fresta perdida, faz a dança da poeira nos raios de sol da vida... 12 Meus sonhos em revoada foram-se embora, e eu me sinto andorinha desgarrada no meu verão quase extinto. 13 Não quis te assustar, de fato, nem causar esse desmaio. Vi o frango inteiro em teu prato, então gritei: - Papagaio!!!

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14 Nas armadilhas da vida às vezes, o amor mais lindo, dá seu recado, e em seguida, manda um outro, desmentindo. 15 Nas leis com que nos afagam a confusão é tamanha, que todos sabem que pagam mas ninguém sabe quem ganha. 16 No jantar, foi fim de papo quando a esnobe tão segura foi atrás do guardanapo que levou-lhe a dentadura. 17 Num sorriso, e sem aviso, eu te espero, e quem me dera desta vez o meu sorriso continuasse além da espera...

18 O jardim, feito em meandros é o teu refúgio e o lugar onde meus olhos malandros não cansam de te espreitar. 19 Para o poeta, é verdade, os temas não são problema... o amor, o sonho e a saudade cabem sempre em qualquer tema. 20 Pergunta em sã criancice quando a visita aparece: - Com que bicho o papai disse que essa mulher se parece? 21 Preciso de um tratamento, um remédio que me ajude a não sofrer com o aumento do meu plano de saúde.

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22 - Quantos anos dá pra mim?, diz vaidosa, e com desdém, o galã responde assim: - Já não chegam os que têm? 23 Quase inverno... sem escolhas eu vejo o outono passar levando as últimas folhas que teimam em me abraçar. 24 Revivendo meus espinhos fiz descoberta assombrosa, nunca vieram sozinhos, trouxeram sempre uma rosa.

25 Tua sombra é um sonho triste num grotão sem claridade onde uma fonte resiste molhando o chão de saudade. 26 Uma ficou sobre a mesa: a dos sós... nem nome tinha... E eu descobri, com tristeza, que essa medalha era a minha! 27 Vai o trambiqueiro à igreja e reza, benzendo os crentes: - Que a boa fé sempre esteja ao lado dos meus clientes...

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Amilton Maciel Monteiro São José dos Campos

1 A beleza da floresta é tamanha aos olhos meus que ao fitá-la, só me resta, dar muitas graças a Deus!

2 A estrada da minha vida é cheia de sobe e desce, mas na subida ou descida um sol radiante aparece! 3 Amigos também são Anjos com que Deus cuida de nós; eles sempre têm arranjos que desatam nossos nós… 4 Aprendi, vendo um faquir, algo que ninguém me disse: - é importante saber rir com a própria caduquice! 5 Céu calmo, rede macia, no peito um grande calor... Você falava, eu ouvia embriagado de amor!

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6 De bom exemplo um só grama vale muito, muito mais, que uma arenga que se inflama com mil conselhos banais. 7 Há um farol em teu olhar que ilumina a minha vida; sem ele (estou a cismar), ficarei cego, querida! 8 Juntemos as nossas mãos para elevar nossa Terra, que também é dos irmãos com maravilhas que encerra! 9 Não importa a cor da pele e nem a força dos braços; mais vale o que nos impele aos amorosos abraços!

10 Não suporto mais o gato, um xodó do meu vizinho, que ao invés de comer rato, quer caçar meu canarinho! 11 Nossa vida é mesmo assim, qual um rolo de papel... quanto mais perto do fim, mais dispara o carretel! 12 O medo é perturbador e afeta a nossa razão; faz que coisas sem valor pareçam mais do que são. 13 Onde o chão tem muita pedra é difícil cultivar; o que se planta não medra e nem adiante adubar!

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14 Pachorra não é fobia de trabalhar obrigado; penso que seja mania de se achar sempre cansado. 15 Pode pintar na fumaça... Pinte o sol onde quiser, mas duvido que ele faça brilho igual ao da mulher! 16 Procure a felicidade que sempre existe em doar-se a quem tem necessidade. Mas sem alarde. Disfarce... 17 Qual vertente transbordante sob os fortes temporais, meu peito não é bastante à enxurrada de seus ais!

18 Quanto mais vivo, mais creio, pelo que vejo na vida, que só o amor sabe o meio de curar alma ferida! 19 Quem busca a Felicidade acha mil bifurcações, mas siga a fidelidade... Não tem contra-indicações. 20 Quem vê o verde da mata e esse céu da cor de anil, cheio de araras, constata, só pode ser o Brasil! 21 Quer saber por que razão eu uso tanto “por quê”? Só tem uma explicação: porque rima com você!

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22 Sinal de maturidade de alguém em qualquer momento é manter serenidade, se lhe assalta o sofrimento. 23 Todo dia nós chegamos mais perto da eternidade e deixamos nossos ramos formando a posteridade! 24 Tomara Deus eu consiga, para melhorar meu ser, agir tal qual a formiga que do querer faz poder!

25 Um casamento feliz, sem danos ou dissabores, é feito, como se diz, de dois bons perdoadores. 26 Vate sem inspiração é igual à faca sem corte, pior que braço sem mão e riqueza após a morte! 27 Velho trem me faz lembrar os meus tempos de menino, em que eu me punha a cismar qual seria o meu destino...

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José de Ávila Alfenas/MG (1904 - ????) Barretos/SP

1 Ah! estou muito mudado. Bem diferente me vejo. Já pequei por atacado e agora, peco a varejo.

2 A mulher não é de graça. Abusa pra ver! Depois, não te queixes, que ela passa o carro à frente dos bois. 3 Ao lhe contar meu segredo, mesmo só pela metade, o nosso amor de brinquedo virou amor de verdade. 4 Bem contra a minha vontade, vento da recordação, pões o moinho da saudade a moer meu coração. 5 Botão-de-rosa vermelho que do jardim fulge a um canto! Diante de ti, eu me ajoelho embriagado de encanto.

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6 Ela voltou. Da saudade cessou a dor que eu sentia. Chorei de felicidade, quase morri de alegria! 7 É pelo amor que me atrevo a tudo. Sem covardia faço mesmo o que não devo e até mais do que devia. 8 Esperança: meu encanto! Neste nosso mundo louco, por que me prometes tanto, e, depois, me dás tão pouco?... 9 Esta manhã deslumbrante é doce beijo de amor que Deus dá, do céu distante, na face da terra em flor.

10 Eu conheço como poucos, este mundo também, meu. é mesmo, mais dos loucos, se não for, louco sou eu. 11 Feito cego sem ter guia, sem que soubesse meu santo, perdi-me na pradaria florida de teu encanto. 12 Juro, amor, que não me iludo ao dizer que tu és, sim, o sal e o doce de tudo neste mundo, para mim. 13 Na casa de um capixaba se a gente chega sem pressa, a pressa logo se acaba quando a conversa começa.

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14 Não me consolem. Que o pranto cristalino e superior cumpra seu trabalho santo de aliviar a minha dor. 15 Ouvir-te, que coisa grata! Falas e a gente se encanta. Terás um sino de prata na catedral da garganta? 16 Por te querer, com certeza, culpa não tenho, menina. Culpa tem tua beleza que me escraviza e fascina. 17 Prezo, estimo, considero o amor a mais não poder, mas amor sem ser sincero é bem melhor não se ter.

18 Quando viro pensador e me perco descuidado, no universo de uma flor, me sinto maravilhado. 19 Que manhã! Das mais formosas… O céu na infância do dia, parece que chove rosas, chovendo luz e harmonia. 20 Quem diz adeus e ao partir fica em saudade e lembrança, devia mesmo não ir sem nos levar na mudança. 21 Santo remédio é o pranto. Tem o divino condão de abrandar o desencanto e as dores do coração.

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22 Se meu coração te apoia em tudo mesmo, querida, é porque tu és a joia que melhor me enfeita a vida. 23 Tudo passa tão depressa: sonho, amor, felicidade e mal se acaba, começa o tempo em flor da saudade. 24 Vai silencioso, em segredo, o tempo, sem descansar, cuidando do seu brinquedo de fazer e desmanchar...

25 Vivo a vida em sonho imerso. Tenho amor à fantasia. Sou operário do verso e lavrador da poesia. 26 Vivo vivendo de sonho, quando te vejo sorrindo. Sonho acordado e suponho que estou sonhando – dormindo. 27 Vou te vigiar, não sou bobo, o bom-senso me aconselha. Quem melhor guarda do lobo se não eu a minha ovelha?

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Filemon Francisco Martins Itanhaém

1 A distância é que nos mata pois logo vem a saudade; saudade – presença ingrata da antiga felicidade.

2 A felicidade é um sonho, - por que deixar pra depois? O amor é sempre risonho na vida vivida a dois. 3 Cai a chuva na vidraça e eu fico triste, porque não há beleza nem graça nesta casa sem você. 4 Céu azul, todo estrelado, sorrindo, ao clarão da lua, e o meu peito, apaixonado, a chorar a ausência tua. 5 Ciúme é cuidado e zelo que temos do nosso bem, pois não queremos perdê-lo para os olhos de outro alguém.

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6 Como é bom viver à toa e sempre fazer o bem, que a Natureza abençoa quem vive em Itanhaém. 7 Criança és flor, és bonança espargindo luz e amor, porque trazes a esperança de um futuro promissor. 8 Criança, teu riso é tudo, traz um brilhante porvir, se amparada com estudo, o mundo volta a sorrir. 9 “Das coisas belas da vida” que colhi, em profusão, eis a mais nobre e querida: - em cada trova um irmão!

10 De manhã, sinto o perfume das flores no meu jardim, e um beija-flor – que ciúme, chegou bem antes de mim. 11 Do fruto vem a esperança, depois da bonita flor. Assim também a criança, depois de um florido amor. 12 Eu sinto nos braços teus, um carinho, um aconchego, e me torno um semideus vivendo em paz, no sossego. 13 Falando de amor, Maria, que saudades sinto agora daquela doce alegria que em teus olhos vi outrora.

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14 Gosto da vida pacata, homens simples dos sertões, pois vejo usando gravata por aqui muitos ladrões. 15 Meu peito canta, sorrindo, ao ver o clarão do dia, enquanto a noite fugindo deixa rastros de alegria. 16 Não julgue pela aparência, não condene sem saber; às vezes com paciência algo bom temos de ver. 17 Nenhum poema é mais belo e inspira tanta esperança do que um sorriso singelo no rosto de uma criança.

18 No livro da natureza as lições são sem iguais. Tenho, por isto, certeza que é onde se aprende mais. 19 No meu balaio carrego sonhos de amor e venturas, mas muitos sonhos, não nego, se tornaram desventuras. 20 Quantas noites, meu amor, olhando, no céu, a lua, eu me sinto um trovador pensando na imagem tua. 21 Quem conversa sem saber, querendo ser sabichão, cuide, que vai receber severa repreensão.

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22 Que o teu futuro, criança, seja de luz e esplendor, vislumbre de confiança no mundo do desamor. 23 Segue uma estrada florida quem, na verdade, tiver a glória de ter, na vida, um coração de mulher! 24 Sinto um perfume na rua fazendo a gente feliz, enquanto a noite flutua nas flores de bogaris.

25 “Sorriria de feliz” e o mundo teria paz, se o coração que maldiz soubesse perdoar mais. 26 Tenho certeza que a trova – poema feito de amor é um sonho que se renova na vida de um trovador. 27 Velhos tempos – que saudade da infância que tive outrora! Meus sonhos – fatalidade, um por um foram embora.

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Olindo de Luca Limeira (1915 – 1997)

1 A cicatriz nesta idade, que trago dentro do peito, foi feita pela saudade de um bem-querer já desfeito.

2 Bem sei que me correspondes, e vives dentro de mim... Se te procuro te escondes, não entendo coisa assim! 3 Como é bom ter amizades, e por tantos ser amado, e ter de muitos saudades... Querer bem não é pecado! 4 Ela diz que vem me ver, não creio nisso, jamais! Meu coração a bater já me disse “NUNCA MAIS!” 5 Esta saudade sem par, que maltrata mas faz bem, é por causa de um olhar, e muitos beijos também.

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6 Fim de amor. Na despedida pisaste em meu coração, não estendendo, querida, tua mão à minha mão. 7 Há na vida, quem diria, gente de mãos sem calor! A esquerda, sempre vazia, a direita, sem amor. 8 Longe estás, quanta saudade de teu sorriso, teu rosto; sinto que nossa amizade morre aos poucos, qual sol posto. 9 Minha antiga mocidade roxas saudades revive... Como dói tanta saudade da saudade que já tive!

10 Na guerra dos meus desejos fiz a Deus esta oração: Num para-queda de beijos tomar o teu coração. 11 – “Não te despeças de mim…” Pedi-te em tua partida, não fui ver-te e foi o fim… - Era mentira, querida. 12 O hipócrita nunca se cala, seu elogio sempre mente, pois nunca sente o que fala, e nunca fala o que sente. 13 O pranto que mais requer lágrimas, melancolia, é saudade de mulher, seja de noite ou de dia.

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14 O teu amor não existe? É simplesmente amizade? Mas por que ficas tão triste quando de mim tens saudade? 15 Penso em ti constantemente, o dia todo, meu bem, isso não é suficiente, penso de noite também. 16 Quando lembro que partiste sem ao menos um adeus, meu coração não resiste, cai pranto dos olhos meus. 17 Saudade de ti, querida, enche minha alma de dor... Saudade assim tão sentida não é saudade, é amor!

18 Saudade, grande tormento! Minha vida é qual deserto! Não sais do meu pensamento, quer estejas longe ou perto. 19 Se os suspiros que te mando morressem junto daí, não vivias suspirando, eu suspirava por ti. 20 Se separados andamos entre gente, num deserto, porque nós dois sempre estamos nunca juntos, mas tão perto? 21 Tarde que morre exaurida, de uma beleza infinita, lembra de baile vestida uma cabocla bonita.

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22 Todos os dias te quero, todas as horas, meu bem, e por querer-te é que espero que hás de querer-me também. 23 Usando vestido branco de renda e muito bordado finge a noiva não ter tido na vida nenhum pecado!

24 Vive em mim a permanência daquele tão triste adeus... E à sombra da tua ausência marejam os olhos meus! 25 Vou soltar-te, passarinho, o teu canto só tem dor, pois ninguém vive sozinho sem carinho e sem amor.

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Olivaldo Gomes da Silva Júnior Mogi-Guaçú

1 Ao clarão da tarde quente, te abandono e tenho medo: - quando chove só na gente, nasce a lágrima em segredo.

2 Ao tomar de um violão, tomo o bonde da esperança; no abandono da estação, estaciono em mim criança. 3 As palavras caem frouxas no terreno dos ouvidos; as imagens são as trouxas nestes ombros doloridos. 4 Cada lágrima guardada guarda, sim, o coração: - fica sempre represada, entre a voz e um violão. 5 Calendário da mentira tem seu próprio movimento, mas o povo que se vira vira o jogo e muda o vento.

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6 Canto triste, na ribeira, denuncia o poetinha que se dera à cordilheira, poesia que ele tinha. 7 “Devagar, se vai ao longe”, diz o povo em seu adágio; seu adeus me fez o monge da “saudade sem pedágio”. 8 Entre campos e cidades, esta máxima conduz: - as mentiras são verdades que queriam vir à luz. 9 Entre velhos pergaminhos, chilreando feito gralhas, namorados são pombinhos que dividem as migalhas.

10 Folhas secas são histórias de um verão inesquecível; entretanto, até memórias têm seu tempo previsível. 11 Hoje, quando sou sincero e lhe escrevo minha alma, muito mais me desespero, dando adeus a toda calma. 12 Inda espero, distraído, por teu carro à minha porta: - canto triste, dolorido, esperando quem me importa. 13 Já perdi seu telefone, só me vale seu e-mail: hoje vivo só, “alone”, sem a hora do recreio.

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14 Ladrilhada de brilhante, ou “sujinha” de poeira, Poesia é todo instante que se pega na “peneira”. 15 Meu amigo mais querido, com histórias de aventura, fez-se logo o preferido da saudade que perdura. 16 Meu poeta preferido não escreve, nem recita, mas dedilha, comovido, cada nota que visita. 17 No divã da inconsciência, entre Freud e o próprio eu, peço a Deus a paciência que o abandono já comeu.

18 No sertão de minha vida, vivo feito o Riobaldo: só "veredas" dão guarida para o rio do Olivaldo. 19 O barquinho, Poesia, de mil versos carregado, desemboca n’alegria do oceano desdobrado. 20 Para honrar o meu ofício e “animar” a biografia, vou pular no precipício dos amantes da poesia. 21 Quando eu era só abismo no silêncio de meus ais, tu me deste o “catecismo” da amizade, luz no cais.

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22 "Romaria" de canções arrastando a "Madalena", travessia e comoções: era Elis roubando a cena. 23 Solidão e violão são irmãos e não se largam: uma amarga o coração, outro adoça os que se amargam. 24 Todo adeus tem duas beiras, duas margens de amizade; numa beira, estão trincheiras, noutra beira, só saudade.

25 Uma casa de escritores junto ao "rio guaçuano" foi a causa dos amores que cobri de desengano. 26 Um adeus só quer dizer o que nunca se diria: - diz-se adeus para esquecer quem jamais esqueceria. 27 Violão que vive mudo, sempre à espera de seu bem, sonha dedos de veludo que o dedilhem para alguém.

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Osório Porto Resende/RJ (1912 - ????) Caçapava

1 A fonte, assim cristalina, nascente à margem da estrada, é obra de mão divina ao sedento em caminhada.

2 Deus fez tudo tão correto, tão medido, tão certinho… Que é feliz o humilde teto do mais humilde ranchinho. 3 Dormindo sonho contigo. Acordado penso em ti. E por isso eu não consigo esquecer quem já perdi. 4 Essa quadrinha que eu faço, tão simples, tão inocente, leva da alma um pedaço, leva um pedaço da mente. 5 Esse mal que me tortura, que me aflige e me consome; esse mal, assim, sem cura, só eu sei… Tem o teu nome.

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6 Eu andei sempre correndo por este mundo sem fim; acabei envelhecendo sem sequer lembrar de mim. 7 Foi-me dado um dia, em sonho, minha infância reviver: Brinquei, corri, fui risonho e fui feliz a valer. 8 Já vi rio em chama ardente, já senti calor da lua, mas não vi, até o presente, falsidade como a tua. 9 Maior que essa deficiência que limita o que produz, é o amor, na sua essência, que compreende e que conduz

10 Meu coração, esse tolo, que hoje inda espera por ti, tem tão só, como consolo, a esperança que eu perdi. 11 Meu coração silenciou ao estetoscópio, com medo, e ao doutor não revelou um nada do seu segredo. 12 Meu pensamento se expande e o trovador põe à prova: - Criança... Um tema tão grande nos quatro versos da trova... 13 Minhas trovas têm um quê que as outras trovas não têm: - Falam sempre de você, e falam de mim também.

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14 Miscigenação bendita, és a grande responsável pela beleza infinita dessa mulata adorável!… 15 Na exiguidade do espaço que me resta a percorrer, cada trova é como um passo no caminho do viver. 16 Nas entrelinhas da trova, às vezes, paira um lamento que facilmente comprova uma dor, um sofrimento. 17 Nas noites de lua-cheia, contemplo ao longe a cascata; parece que ela se enleia num manto feito de prata.

18 Nos rodopios da valsa, fazendo juras de amor, não supus que fosse falsa quem me causa tanta dor. 19 Numa trova eu digo tudo, tudo, tudo o que eu quiser; desde que tudo que eu diga seja tudo da mulher. 20 Percorri árduos caminhos pra chegar onde cheguei; guarda marcas, lembro espinhos das trilhas por onde errei. 21 Pra manter minha alegria um quase nada é o bastante; fazer trovas cada dia e abraçar-te a cada instante.

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22 Quando criança eu queria ser homem, sábio, talvez… Hoje bem que gostaria de ser criança outra vez!… 23 Quando eu era pequenino contava o tempo a cantar… Hoje lembro do menino e conto o tempo a chorar. 24 Quem sofre do mal de amor, sofre, sofre até morrer!… Não há remédio ou doutor que possa o mal desfazer.

25 Se à noite a lua opalina envolve em luz a palhoça; transforma em tela divina um quadro humilde da roça. 26 Se você não vai cumprir o quanto me prometeu; proponho lhe devolver os beijos que já me deu. 27 Só transportando criança, velha kombi ao trafegar, guarda um mundo de esperança, rotulada de ESCOLAR.

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Sérgio Ferreira da Silva São Paulo

1 Alguns homens, imprudentes, fazem lembrar certos rios: - nascem em boas vertentes, mas se perdem... nos desvios!

2 Ao chegar no beleléu, mostra, o bebum, seu espanto: - Não tem boteco no céu? E as pingas que eu dei pro santo ?!? 3 A sogra entrega o genrinho ao faminto canibal: - Cuida dele com carinho... mas... vê se tá bom de sal! 4 Caloteiro e bem sacana! - , não tem vergonha na cara e, até quando paga em grana, cola um papel de "BOM PARA..." 5 Com vontade, o velho espia os contornos da beldade... mas a vontade, hoje em dia, já não passa de... vontade!

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6 Confusão na madrugada, que o bebum transforma em drama: atira... na namorada e leva a sogra pra cama ! 7 Confuso, o dono do empório, não anda bem da veneta: - na orelha, um supositório, mas nem sinal da caneta ! 8 Diz o dentista: - Está pronta... a dentadura escolhida! E a velhinha, ao ver a conta: - Nossa, doutor, que “mordida”! 9 Dois bêbados, num boteco: - Esse "treco" me fez mal... - Qual o nome desse "treco"? - Não-sei-o-quê... mineral!

10 Domingão tradicional... e eu num canto, desolado, lembro que Adão foi o “tal”, sem sogro, sogra, ou cunhado ! 11 Em minha infância, eu fazia ser, meu sonho, tão real, que uma fazenda cabia no fundo do meu quintal! 12 É pescador de primeira… mas, antes que alguém se queixe, leva no bolso a carteira e o fone do disque-peixe! 13 É tanta fome que eu sinto (parece coisa de louco!), que eu só vou ficar faminto depois de comer um pouco!

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14 Faminto, não vi, querida, talvez, por eu ser tão moço, que eras fruta proibida e a tua mãe… o caroço! 15 Houve um tremendo Banzé, na sala de cirurgia... e, hoje, o velho e bom José é a velha e boa... Maria. 16 - Me diga, velha cigana (que sabe a sorte do mundo), o que eu faço pra ter grana??? - Vai trabalhar... vagabundo!!! 17 Na gravidez, minha tia queria (tanto)uma filha, que o meu priminho, hoje em dia, adoooora... usar sapatilha!

18 “Não tenha pressa, querido,... meu marido ainda demora !” E apanhou : .. era o marido que estava com ela, agora... 19 Naqueles tempos de outrora, eu tinha grana à vontade... mas, se o tema é grana, agora, faço trovas... de saudade! 20 Nas noites frias, um drama que a miséria perpetua: - alguns chamarem de cama, o que outros chamam de... rua ! 21 No velório, a confusão quando o genro, num rompante, chegou com pinga, limão, cerveja e refrigerante.

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22 O coveiro disse, enfim: - Não quero ser encrenqueiro... Eu enterro a sogra, sim,... Mas... tem que morrer primeiro! 23 O especialista em micróbio explica, todo pomposo: - Dá-se o nome de macróbio, ao micróbio mais idoso ! 24 Pergunta o Demo,descrente: - Tanto calor, não te arrasa? E o pecador diz : - Óxente, eu tô me sentindo em casa !

25 Quando a Morte, então, chegou trazendo o eterno conforto, o preguiçoso exclamou : "Passa amanhã, que eu tô morto !" 26 - Que fome, mãe! Tem comida? - Temos sopa de letrinhas... Grita a filha mais sabida: - As maiúsculas são minhas! 27 Tô faminto... e não tem bóia! Eu num guento esse jejum!!! Fome Zero??? Uma pinóia: minha fome... é MENOS UM!

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NOTA As trovas foram obtidas em livros, boletins de trovas, jornais, trovas enviadas pelos trovadores e em alguns sites, como www.falandodetrova.com , www.poesiasemtrovas.blogspot.com.br, www.singrandohorizontes.blogspot.com.br Biblioteca J. G. de Araújo Jorge, as Mensagens Poéticas enviadas pelo falecido trovador potiguar Ademar Macedo, etc. Montagem da Capa da Revista sobre imagem obtida na internet, não foi encontrada a autoria. O download (gratuito) dos números anteriores em formato e-book pode ser obtido em http://independent.academia.edu/JoseFeldman

Esta revista não pode ser comercializada em hipótese alguma, sem autorização de seus autores ou representantes legais. Pode ser copiado, desde que se coloque o autor das trovas, caso contrário pode ser caracterizado como crime e ser enquadrado n as sanções legais. Respeite os direitos do autor.

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