O Encanto das Trovas Tomo IV – São Paulo Vol.1

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O Encanto das Trovas . . . Tomo IV – São Paulo vol. 1......... Página | 1

SUMÁRIO Izo Goldman........................................................................................3 Darly de Oliveira Barros....................................................................14 Domitilla Borges Beltrame.................................................................19 Ercy Maria Marques de Faria............................................................28 Roberto Tchepelentyky......................................................................36 Selma Patti Spinelli...........................................................................41 Marina Bruna...................................................................................49

O Encanto das Trovas . . . Tomo IV – São Paulo vol. 1......... Página | 2

1 A casa toda quebrada, e o casal diz numa "boa": - Mas que furacão, que nada, foi só uma briguinha à-toa!...

2 A grandeza imaginária que todo vaidoso tem, é uma estrela solitária brilhando sobre... ninguém... 3 A Independência eu relembro, meu Brasil, com muito orgulho: - sonho em Sete de Setembro, realidade em Dois de Julho! 4 Ao ser preso, o vigarista, explica, muito matreiro: - Sou apenas cientista, faço "clones" de... dinheiro! 5 A queimada é um jogo insano... A floresta pega fogo... E, no fim, o ser humano é o perdedor deste jogo!

O Encanto das Trovas . . . Tomo IV – São Paulo vol. 1......... Página | 3

6 A saudade me consome e as angústias são pesadas, quando eu murmuro teu nome e o vento... dá gargalhadas... 7 A saudade não me poupa, desenhando, fio a fio, o perfil da tua roupa no guarda-roupa vazio... 8 A sorte, esquiva e malvada, não dá “chance”, só trabalho... Eu a sigo pela estrada, e ela foge pelo atalho!... 9 A vida pôs, por maldade, tanta distância entre nós, que, quando eu canto, é a saudade que faz a segunda voz…

10 A violência eu detesto, porque é pelo amor que eu luto, sem amor o mundo é um “resto” eternamente de luto! 11 Bate o sino em tom profundo, lembrando a mulher que um dia entregou seu Filho ao mundo, sabendo que O perderia! 12 Cara cheia...Perna bamba, ele mesmo se conforta, olha a rua e diz: - "Caramba!" Nunca vi rua mais torta!... 13 “Cara-metade”, em verdade, é uma expressão... trapaceira... - a gente quer a metade mas tem que “engolir”... inteira…

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14 "Casamento... - alguém já disse é chegar à encruzilhada onde acaba a criancice e começa...a criançada..." 15 Castro Alves, teu valor está na contradição do eterno escravo do amor lutar contra a escravidão. 16 Coitado do Zé Maria: - a mulher quase o esfola, pois voltou da... pescaria... co'um biquíni na sacola... 17 Com seu valor aumentado, saudade é a restituição do que já nos foi cobrado pelos sonhos e a ilusão...

18 Contradição bem marcada, que teima em nos separar: - Meu amor toca a alvorada, e o teu não quer acordar.. 19 Coração não tem idade quando vive de lembrança; se a lembrança tem saudade, faz, da saudade, "esperança''! 20 Depois que tu foste embora, no meu peito, o desencanto não desabafa nem chora, não tem voz e não tem pranto... 21 Dois sentimentos moldados no mesmo barro sem cor: - é o ódio, pelos pecados, pelas virtudes, o amor!…

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22 É "Carcará" o apelido do Zé, porque... come... e cisca... Mas a mulher diz: - "Duvido! Aqui em casa nem... belisca..." 23 Ele trouxe ao seu rebanho muito amor e muita luz. Barqueiro de um barco estranho, talhado em forma de cruz! 24 É no rosto da criança que o sorriso é mais bonito: - tem a força da Esperança e o tamanho do Infinito! 25 É nos momentos tristonhos que eu peço à minha lembrança que traga de volta os sonhos, no aconchego da esperança…

26 Enquanto a guerra inundar num dilúvio, a Terra inteira, onde a pomba irá buscar outro ramo de oliveira?!… 27 Enquanto eu tirava espinhos das rosas que te ofertava, deixavas nos meus caminhos os espinhos que eu tirava... 28 "Esta peixada está quente!" reclamava o Zé Maria; e o dono do bar: - "Ó xente, 'se qué', tem pexera fria!” 29 Estás só...Mas, mesmo assim, como se fora um castigo, sinto um ciúme sem fim do "ninguém" que está contigo!

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30 És um arbusto florido... Eu sou o vento que passa, e, num delírio atrevido, te despe e depois... te abraça.. 31 Eu, na vida, sou barqueiro dos meus sonhos sem destino: - sonho bom é o passageiro, sonho mau é o clandestino. 32 Eu sou príncipe tristonho porque, na história real, não há, na escada do sonho, sapatinhos de cristal!... 33 Ficou rico o Zé Maria na seca do Juazeiro, vendendo "fotografia de chuva"...por "dois cruzeiro"...

34 Foi no Grito do Ipiranga que o povo outrora servil sacudiu do jugo a canga e fez gigante o Brasil! 35 Fui pirata, aventureiro, no Mar da Felicidade; hoje, a ferros, sou remeiro na galera da saudade. 36 Jogam “xadrez” as nações, e, no “jogo” em que se empenham, sacrificam os “peões”, para que os reis se mantenham. 37 Lá na casa da Maria é muito estranha a porteira ... Não faz barulho de dia, bate e range a noite inteira …

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38 Marcando suas fronteiras as bandeiras eram trapos, e, os trapos eram bandeiras, na Querência dos Farrapos! 39 Meu conflito e meu fracasso é que as trovas que componho têm sempre os versos que eu faço, e nunca os versos que eu sonho… 40 Na Barra o que mais encanta é o contraste bem marcado: - o Rio, passando, canta, e o sertão canta parado... 41 Na briga que o meu cabelo, e a careca estão travando lamento ter que dizê-lo, a careca está ganhando...

42 Na cidadania existem os deveres e os direitos, e os "direitos" só persistem se os "deveres" forem feitos! 43 Na imensa feira da vida, as barracas da ironia: - a das culpas - concorrida!... a dos remorsos - vazia... 44 Na jangada a vela panda parece um ouvido atento, à espera de prece branda que há no murmúrio do vento. 45 Na velhice, as incertezas, para ocupar os espaços, vão empilhando tristezas e acumulando cansaços..

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46 Nem o Sol pode entender a estrela que ele namora: - É “Vésper” no anoitecer, mas é “D’Alva” à luz da aurora… 47 Nesta "corrida" da vida, quando o Destino nos solta, só sabemos na "saída", que a "corrida"... não tem volta! 48 Neste sesquicentenário, meu Brasil, sinto presente teu passado legendário e o teu futuro ascendente! 49 No seu biquini apertado, Maria me deixa mudo, pois nunca vi "tanto nada" cobrindo, tão pouco ..."tudo"...

50 No viver o que mais cansa são estas andanças vãs, correndo atrás da esperança e perseguindo amanhãs. 51 O pai da moça, que é mau, Chega em casa e acaba o "baile"... É que o Zé, "cara de pau", tava namorando em..."braile"!!! 52 O teu gesto de ternura, na minha vida sofrida, foi um copo de água pura matando a sede da vida! ... 53 " O trabalho é que enobrece!" Dizem todos ao Raul. E ele responde: - "Acontece, que eu detesto sangue azul!"

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54 Partir é quase morrer... É deixar na despedida um pouco do próprio ser e muito da própria vida… 55 Partiste, e eu fiz o que pude, num brinde à felicidade, mas, quando eu disse -"saúde!" ela respondeu... "Saudade..." 56 Peixinho mais mascarado do que aquele eu nunca vi: - só belisca anzol marcado, "minhoca com... pedigre"… 57 Perdoa, amor, o meu jeito de te olhar quando te vejo, teu olhar me diz... “Respeito!”, meu olhar te diz... “Desejo!”...

58 Pergunta o padre ao noivinho: - "É de espontânea vontade?" e ele respondeu baixinho: - "Não senhor...necessidade!...” 59 Poeta do cativeiro, nos teus versos triunfantes, eu vejo um "Navio Negreiro", sobre "Espumas Flutuantes"! 60 Por artes do coração Castro Alves foi vencido; lutou contra a escravidão, sendo escravo de Cupido! 61 Pulando do nono andar, o otimista diz a alguém que, no quarto, o vê passar: - Até agora... tudo bem!!!

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62 Quando o silêncio é uma prece, sob a lua, em noite calma, no meu bairro até parece que as velhas ruas, têm alma... 63 Quando os "Dezoito do Forte" marcharam, cabeça erguida, não foi por desprezo à morte e sim por respeito à vida! 64 Quando pergunta o burrinho, diz a mula envergonhada: - "Tu nasceste, meu filhinho, por causa de uma...burrada!..." 65 Queimadas... Devastação... Natureza poluída... e os homens, por ambição, destroem a própria vida!

66 Quem morreu naquela Cruz, foi o Corpo e nada mais: - ninguém apaga uma Luz crucificando ideais! 67 Quem pela força conquista, não conquista de verdade; não há força que resista à força da liberdade!!! 68 Sai do museu, braço dado com sua sogra, o Sinfrônio: - e o guarda grita, alarmado: - "Tão roubando o patrimônio!" 69 Se a gente fosse dar crédito ao que diz a maioria, só de "autor de livro inédito" tinha uns mil na Academia!...

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70 Se a saudade embala a rede, meu amor, de olhar frustrado, vê, no branco da parede, teu semblante desenhado… 71 Se a tua ausência magoa, magoa mais a saudade... Muitas vezes a garoa molha mais que a tempestade… 72 Se disseres que, hoje em dia, vivo no "mundo da lua", depois de um beijo, eu diria: - "Vivo sim! E a culpa é tua!...” 73 Sem esquinas ... sem saídas ... muitas vidas são assim ... Ruas retas e compridas, e um grande portão no fim …

74 Se tu queres divulgar uma notícia qualquer, basta o fato confiar, em segredo... a uma mulher… 75 Tem mais nobreza e valor o triunfo conseguido, quando, humilde, o vencedor aperta a mão do vencido! 76 Têm uma força tamanha as nossas trovas singelas, que acendem, "Flor da Montanha", mais cento e cinquenta velas! 77 Teu "Adeus" eu não censuro, censuro é um erro fatal: - meu amor não fez "Seguro" que pague a "perda total"…

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78 Todo "barbeiro" sustenta que a "batida" foi assim: - "Veio um poste a mais de oitenta, na contra-mão, contra mim!..." 79 Uma devota a rezar é o que a rendeira parece, faz da almofada um altar, de cada renda, uma prece! 80 Velho Chico, eu te saúdo, pois vencendo o rude agreste, fazes, acima de tudo, a redenção do Nordeste! 81 "Vem aí um furacão!!!", avisa a rádio, "Cuidado!!!" e o genro por ...precaução... põe a sogra...no telhado!!!

82 Vencendo medos e mágoas foi que o sublime barqueiro que andava por sobre as águas trouxe luz ao mundo inteiro. 83 Vendo alguém varrer o chão, ele deita de comprido, e, dá logo a explicação: - "Quero ser...doido varrido..." 84 Virtude é fazer o bem pelo prazer de fazê-lo, mesmo sendo para alguém que não fez por merecê-lo. 85 Zé Pescador não sossega, mente tanto que dá gosto, só que os peixes que ele... "pega" têm carimbo do entreposto.

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Darly de Oliveira Barros

1 “Aluguel de dentadura?” “E sem custo algum, parceiro: - quer melhor infraestrutura do que um cunhado coveiro?”

2 Amizade é bênção, graça, essência que canaliza duas almas: - a que abraça e a que, do abraço, precisa… 3 A música soa e então, por um passe de magia, há só nós dois num salão onde o mundo inteiro havia.... 4 Anunciou a partida, dizendo: - “É melhor assim”! E saiu da minha vida, levando o melhor de mim... 5 A vida, que triste sina, fez comigo o que bem quis: - de uma ditosa menina, me fez mulher... e infeliz!

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6 Comparo toda emoção às cordas de um violino, onde o grau de afinação tem os dedos do destino... 7 Coração, por tuas falhas não te desculpes, eu sei que além das tuas batalhas, lutaste as que eu não lutei!!! 8 Desatado o nó da fita, renasceste do passado, no adeus de uma carta escrita, que eu jurava ter rasgado... 9 Diz que o asilo é um paraíso e, ao tom de voz convincente, o filho, ao ver seu sorriso, nem supõe que a mãe lhe mente...

10 Do que é capaz a desdita eu sou a prova inconteste: - involuntário eremita, algemado a um peito agreste... 11 Dos erros que a vida apronta, meu maior foi ter trocado por, não mais que um faz-de-conta, um verdadeiro reinado!... 12 Lamentando meus fracassos na vida, insisto em pisar nas marcas dos mesmos passos levando a nenhum lugar... 13 Luta inglória é essa nossa, minha e da enxada, dois loucos, tudo em nome de uma roça que a seca mastiga... aos poucos...

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14 - Mas, mamãe, se é gravidez, que remédio é sugerido? - Arranjar, com rapidez, algum trouxa, pra marido!... 15 Meu passo, a idade retarda e eu chego à praça, ansiosa, onde a saudade me aguarda para um dedinho de prosa... 16 Meu perdão foi em tributo a uma lágrima suspensa - um detalhe diminuto mas que fez a diferença... 17 “Minha filha, tens certeza?” “Tenho, mãe, é gravidez!” “Se vais dizer: - 'foi fraqueza', já não cola, é a quarta vez!”

18 Minha visão de futuro faz projeções que eu receio: - Não quero o mundo um monturo e eu parte desse recheio… 19 Movido a farsas e engodos... É assim que o Universo gira, um mundo onde quase todos sobrevivem da mentira... 20 Mudaste tanto, cidade, que eu só te reconheci, ouvindo a voz da saudade jurar que a praça era aqui!... 21 Muito suor foi preciso, mas minha audácia venceu: - finalmente, o chão que eu piso tem dono... e o dono sou eu!!!

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22 “Não cedas!”, meu sonho manda, “luta mais, redobra o empenho, para a casa com varanda deixar de ser só desenho!”... 23 Não tens culpa, velha enxada, desbeiçada, cabo torto, por só colheres o nada do ventre de um solo morto... 24 No meu "barco" eu não blasfemo, nem quando o mar se encapela: - se a procela quebra o remo, a esperança empresta o dela... 25 O ocaso...o alcance da lente... o clique...a fotografia: - a imagem do sol poente, nos braços do fim do dia..

26 O reencontro... a caminhada... a lua seguindo os dois... a chama reavivada, e o resto... eu conto depois... 27 Porteira de tábua grossa, pregos velhos, sem rebites, limitas a minha roça, não meu sonho sem limites!... 28 Quando um sonho vai morrendo, põe-se o meu peito em ação, costurando outro remendo no esgarçado da ilusão. 29 Quantas viagens frustrantes meu desejo não tem feito nesse leito que, "alguém", antes, chamava de "nosso" leito...

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30 Que cena mais comovente! Correndo para os meus braços, esse pinguinho de gente que ensaia os primeiros passos... 31 Quem desprezei nessa vida, hoje, por justo direito, paga na mesma medida e o coração diz: - “Bem-feito!” 32 Quis rejuntá-los, tolice! Por efeito dominó, a ferrugem da mesmice fez dos nossos elos...pó…

33 Sem mais o amor por escora, sem outra sustentação, da ponte que havia outrora, entre nós, só resta um vão... 34 Sem vitupérios e afrontas, cerra às ofensas teus lábios, que, em muito acerto de contas, vence o silêncio dos sábios! 35 Um fio de água barrenta, à ponte, num balbucio: - Velha ponte, vê se aguenta, até que eu volte a ser rio!...

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Domitilla Borges Beltrame

1 A exemplo de um bom peão, eu já não tenho altivez; se um amor me joga ao chão tiro o pó...tento outra vez!

2 A favela à luz da lua é um presépio em miniatura. Mas, ante o sol, triste e nua tem de um calvário a estatura. 3 Agora que tu partiste, sinto a força da verdade, do grito de dor que existe no silêncio da saudade. 4 Além, no horizonte, à borda de um infinito sem véu o lindo arco-íris é a corda, que os anjos pulam, no céu! 5 A mamãe cura o dodói, afaga, põe atadura… e o rosto do seu herói se lambuza de ternura!

O Encanto das Trovas . . . Tomo IV – São Paulo vol. 1......... Página | 19

6 A nossa fé é a virtude que nos dá tanto otimismo, que deixa ver, da altitude, a flor nas trevas do abismo! 7 Assim banhada de lua, em um silêncio encantado, a velha matriz da rua guarda o perfil do passado!... 8 A Trova, bem trabalhada e que é feita com ternura, é como joia engastada em nossa literatura! 9 A tua volta eu aguardo sem censuras, satisfeita, como quem carrega o fardo na fartura da colheita.

10 A vovó não tem memória: - perde os óculos… na testa! Mas jamais esquece a história da varanda… e uma seresta!… 11 Brigamos, mas a tormenta em instantes se desfaz... um grande amor sempre inventa um arco-íris de paz! 12 Brigamos...o amor se cala... mas o orgulho não se importa, pois a saudade se instala, qual mendiga, à minha porta!... 13 Briguei contigo, é verdade, peço perdão, volto atrás e faço desta saudade bandeira branca de paz!

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14 Cavaquinho, violão, o bandolim e o pandeiro. Acrescente o coração e eis o "choro" brasileiro! 15 Colorindo o alvorecer, a claridade dourada qual um gari, vem varrer segredos da madrugada!… 16 Com altivez, disse um dia: - “Ir procurar-te? Jamais!” Mas a saudade vadia não respeita o “nunca mais”… 17 Com as "notas" da alegria, ou "dissonância" sofrida, Deus compõe a melodia da partitura da vida!

18 Cuidado se ao inocente mostras um caminho escuro; és passado, no presente, comprometendo o futuro. 19 Das ofensas de um irmão não guardes nenhum rancor, que um minuto de perdão vale uma vida de amor! 20 Depois do agrado, é verdade, apressado ele partia... Mas hoje tenho saudade da saudade que eu sentia… 21 Diz a garota sapeca ao seu flerte deputado: - O que guardas na cueca é o que tem me conquistado...

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22 Em minha terra morena - meu Brasil de tanta luz – velando a noite serena, estrelas brilham em cruz! 23 Em minha varanda, a sós, vendo os ganchos na parede, eu choro a falta dos nós que amarravam nossa rede! 24 Eu ergo a taça a brindar a noite que o quarto invade e no cristal do luar bebo o vinho da saudade! 25 Eu não entendo porque fica assanhado o meu gato todas as vezes que vê o buraquinho do rato...

26 Eu não te esqueço e confesso: - No calvário da lembrança, teu corpo ficou impresso no sudário da esperança!... 27 Foste embora e, na saudade, a ofensa se fez lição: -descobri que o amor-verdade se alicerça no perdão! 28 Guardando o Sol na algibeira, o céu, de estrelas brilhantes, mostra a Lua, alcoviteira dos segredos dos amantes… 29 Lembro a garoa...a seresta... minha feliz mocidade e o que restou desta festa embala minha saudade!

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30 Li teu bilhete: - "Lembranças!". E, na emoção que me invade um carrilhão de esperanças desperta minha saudade ! 31 Minha mágoa se retrata neste porto... Junto ao cais, pois, na espera, me maltrata o medo do “nunca mais”... 32 Na calmaria aparente, num silêncio enganador, saudade dentro da gente, grita mais alto que a dor... 33 Na alegria de ser mar o rio atravessa as matas e na pressa de chegar se precipita em cascatas!

34 Na tarde macia e doce, teu retrato à luz dourada, me sorri como se fosse a saudade emoldurada! 35 Nesta vida rotineira, tua saudade em minha alma é cantiga de goteira em noite de chuva calma! 36 No alento para viver mergulhando em teu olhar, sou como um rio a correr na eterna busca do mar... 37 No jardim ali da praça, por entre as flores de lis, a minha saudade passa brincando de ser feliz.

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38 Nossa união, em verdade, é assim perfeita, eu suponho: - tu és sol da realidade. Sou lua, carrego o sonho ! 39 Oh! minha mãe, quando eu falho, tua lágrima rolada, é qual pérola de orvalho sobre a rosa machucada!... 40 "Olvidarei !"...E, orgulhosa, nem chorei na despedida, mas, a saudade,teimosa, foi no meu lenço, escondida! 41 O marido agonizante, insistindo quer saber: - Fui traído?...E ela hesitante: - E, se você não morrer?!

42 O meu pranto é só carinho quando lembro a mocidade... é garoa, de mansinho na seresta da saudade!... 43 O nosso amor escondido, sem promessa de aliança, tem o sabor proibido da fruta da vizinhança!... 44 Para o encontro dos amantes, o dia cerrou o olhar, mas, indiscreta, em instantes, a lua veio espiar! 45 Perco todos os cansaços e minha angústia tem fim, ao doce som dos teus passos no cascalho do jardim…

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46 Preciso, mesmo a chorar, de coragem ser vestida, pois já vejo em teu olhar a sombra da despedida... 47 Procure espalhar, na vida, alegria em sua estrada, que a alegria dividida é sempre multiplicada! 48 Quando a lágrima apagou o meu verso apaixonado, a despedida ficou num bilhete inacabado!… 49 Quando a lembrança me invade no porto da vida – e quanto! - brilha o farol da saudade sob a neblina do pranto!

50 Quando a vida, num desmando, fecha a porta da esperança, vem a saudade, arrombando, as janelas da lembrança !… 51 Quando entre estrelas flutua, qual um brilhante e tão bela, parece-me um broche, a lua, que a noite põe na lapela... 52 Que murmurem, não me importa ... Pecado, nossos abraços?! Deixo o mundo além da porta , faço meu céu em teus braços ! 53 Rasgando o ventre da serra, num parto de luz e cor, o sol vem brindar a terra numa oferenda de amor!

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54 Revejo o passado e penso, sem surpresa e sem espanto, que o tempo, às vezes, é o lenço com que Deus me enxuga o pranto… 55 São flores, eu penso vê-las uma azul...outra dourada... quando o Sol colhe as estrelas dos canteiros da alvorada!... 56 Sobre a praia, com amor, em noites de lua cheia, o mar se faz trovador e espalha versos na areia!… 57 Sou um pecador confesso. Do teu castigo a alguns passos, um só favor eu te peço: – Crucifica-me em teus braços!...

58 Teu adeus fez dos meus dias um contraste que tortura, são tão poucas alegrias e saudades com fartura… 59 Toma o chá "Mate Leão" como remédio, o vizinho: - Se mata bicho grandão, vai matar meu "vermezinho"... 60 Tricotando o sapatinho, a mamãe para um momento e acaricia o pezinho no seu ventre, em movimento. 61 Tua face envelhecida oh! Mãe, de tanto lutar… Diz cada ruga, querida, quanto sofreu por amar!

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62 Um aceno...a despedida... Vou soluçando os meus ais... E, mais triste que a partida é prever o"nunca mais"!... 63 Vem a noite e, sem tardança, esta saudade se espalma e acorda tua lembrança adormecida em minha alma ! 64 Vendo a descrença ao meu lado e a esperança por um triz, eu chego a achar que é pecado crer na vida e ser feliz!

65 "Voltarei"! Dizes depressa num agrado à despedida: - fica comigo a promessa e em tuas mãos, minha vida. 66 Vou carregar vida afora esta dor que mortifica, por eu não ter tido agora coragem de gritar: - Fica!

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Ercy Maria Marques de Faria

1 A apatia que hoje vês neste semblante cansado, é vestígio dos “porquês” sem respostas do passado!!!

2 Agora o peso da idade me obriga a encurtar meus passos e acelera os da saudade para acolher-me em seus braços... 3 A insônia que vai além das horas da madrugada, por teimosia mantém minha saudade acordada... 4 Amo tanto este meu povo e esta terra onde nasci... Se acaso eu nascer de novo, peço a Deus que seja aqui! 5 A onda toda vez quando na praia vem deslizar, parece o pranto rolando dos olhos tristes do mar…

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6 Apesar desta certeza de que somos tão iguais, alma gêmea, que tristeza, chegaste tarde demais!... 7 Aplausos a quem merece!… Um brinde à velha esperança que no peito permanece mesmo enquanto a idade avança! 8 A saudade vem e liga o velho rádio do peito e ao som de uma valsa antiga chora o meu sonho desfeito... 9 As dúvidas elimina e repara os erros seus, quem crê na ajuda Divina e ouve o conselho de Deus!

10 A varanda hoje vazia da algazarra das crianças, se transforma, dia a dia, num castelo de lembranças! 11 Barrei a tua saída após ouvir-te afirmar que entraste na minha vida na certeza de ficar! 12 Bendito é aquele que crê e com fé, sempre maior, dobra os joelhos e vê adiante um mundo melhor!!! 13 Bilhetes... esta quadrinha... te escrevi, andando ao léu... - Como enviar-te, mãezinha? Não há Correios no Céu!...

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14 Busquei tanto a liberdade e ao transpor milhões de abrolhos, encerrei minha ansiedade na prisão desses teus olhos 15 Cada manhã que desponta encantando a mocidade, por certo é mais uma conta no rosário da saudade… 16 Cigano, da tua andança por esse mundo sem fim, traz-me um pouco da esperança que a sorte roubou de mim… 17 Com muito humor, o gabola insiste numa cantada, mas hoje tanto se enrola, que apenas canta... e mais nada!!!

18 Da varanda eu olho a rua que eu dizia que era “minha”... E a saudade continua a brincar de “amarelinha”… 19 Desta emoção incontida não faço nenhum alarde... E culpo demais a vida, por te encontrar muito tarde. 20 Diria a bruxa atual: - Espelho, vê se não manca e me responda, afinal, quem tem a pior carranca? 21 Dizendo "adeus", foste embora, levando em tua bagagem meu coração, que até agora não regressou da viagem!

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22 Diz o caipira ao chegar “de fogo”, à mulher que o xinga: -“Houve engano lá no bar... eu disse “Mé”... deram “pinga”!!! 23 Dois olhares se cruzaram... Duas almas se entenderam... Mas, em silêncio ocultaram o sonho que não viveram... 24 Dosando amor e energia ele cumpriu seu destino; Oh meu pai! como eu queria ser novamente um menino! 25 Em ligeiras pinceladas eis um retrato da vida: – Às vezes, certas chegadas têm sabor de despedida…

26 É na sua deficiência, que o cego, na escuridão, acende a luz da paciência no altar do seu coração… 27 É nos instantes de dor, ante o Teu porte sereno, que um homem "Grande", Senhor, se torna um homem "pequeno"!... 28 Essa lágrima sentida que nos teus olhos aflora, é uma prova enternecida de que um homem também chora! 29 Esse teu jeito tão mudo... esse modo de encarar... A gente, às vezes, diz tudo na carícia de um olhar!

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30 Eu e você ... que tristeza! Duas perdidas metades... Dois corações com certeza, chorando as mesmas saudades!… 31 Lembrança... retorno ousado que se faz às escondidas, pelos porões do passado, buscando ilusões perdidas! 32 Lembrando o que tu dizias do amor que tinhas por mim, eu vi, enquanto partias, quanto o infinito... tem fim! 33 Minhas velhas esperanças... Os sonhos da mocidade... Que imensidão de lembranças no meu baú de saudade…

34 Na conquista deste amor me empenhei... não fui covarde!... E só não fui vencedor porque cheguei muito tarde! 35 Na Medicina e Poesia foste um Mestre!!! As nossas palmas pelo trato, a cada dia, do ser humano... e das almas!!! (Homenagem a Miguel Russowsky) 36 Não há luxo... desde a porta... o amor lá dentro é tão belo!... Nele sou rei... pouco importa... O meu lar... é o meu castelo!!! 37 Não te desvies da estrada, buscando atalhos bisonhos. A vida não vale nada, se sufocares teus sonhos…

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38 Na pressa descontrolada da multidão,há, contudo, rostos que não dizem nada... e rostos que dizem tudo!!! 39 Nesta troca de homenagem com outro País amigo, meu Samba segue viagem e o Tango...fica comigo!!! 40 No jogo da vida é assim: - tem encrenca e desacato, e, quando ele chega ao fim, a mãe de alguém paga o pato… 41 Ó estrela-do-mar, faz presa, e sepulta em mar profundo, por favor, toda tristeza e desamor que há no mundo!...

42 Olho a tapera habitada e em minha fé me concentro: – Feita de restos de “nada”!... e quanta paz tem por dentro!!! 43 O meu coração se agita, Toda a alegria extravasa, quando ao chegar, o amor grita, querendo entrar:-“Ó de casa???” 44 O meu mundo é mais bonito! Tem dois sóis com muito brilho: – Um, no seio do infinito… – Outro, em meu seio: - Meu filho!… 45 O mundo será melhor e atingirá rumos novos, quando se fizer maior o entendimento entre os povos…

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46 Por ser "soft" e "pra frente", o Carneiro, aborrecido, por um nome diferente ficou muito conhecido!… 47 Por teu feitiço ou magia, mesmo sabendo quem és, troquei a minha alforria e fui escravo a teus pés… 48 Qualquer onda eu desafio, sou surfista destemida neste imenso mar bravio que nós chamamos de Vida! 49 Quando a ilusão o convida, não apresse a caminhada... certos atalhos na vida não nos conduzem a nada…

50 Quando a luz se faz escassa, não renego os sonhos meus; abraço a treva que passa e pego na mão de Deus… 51 Quase um dilúvio parece, a forte chuva lá fora, unida ao pranto que desce nesta saudade que chora! 52 Que as chaves da educação possam abrir com sucesso, as portas desta nação para a cultura e o progresso! 53 Que o dom da Sabedoria, dádiva do Criador, seja usado a cada dia, cobrindo o Mundo de amor!

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54 Quis vingar “olho por olho” e também “dente por dente”... Mas como, se era caolho e a sogra só tinha um dente?! 55 Renúncia – uma ponte estreita, onde, das extremidades, pode-se ouvir, sempre à espreita, chorando duas saudades!... 56 Saudade é um velho barquinho que vence o tempo e a distância e recolhe, no caminho, os pedacinhos da infância … 57 Se é mentira ou se é verdade, pouco importa, não reclamo… A maior felicidade é ouvir-te dizer: – “Eu te amo!”

58 Sempre que a lágrima desce e insiste em molhar-me a face, eu uso o lenço da prece... E é como se eu não chorasse… 59 Toda união é perfeita, se, congregando emoções, além das mãos que ela estreita, une também corações... 60 Velha ponte do caminho nossa história é parecida: - Suportamos de mansinho tantas pisadas na vida!!! 61 Velho mar, o seu bailado das ondas nos vem provar, que nada existe de errado às vezes em recuar…

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Roberto Tchepelentyky

1 A caminho do infinito, prossigo a minha viagem... Levo o que é de mais bonito: - O nosso amor na bagagem!

2 A chama já consumia a casa do seu Arlindo, quando psiu... ele dizia: - " Minha sogra está dormindo"!... 3 A minha sogra eu veria, não importa em que planeta, se pudesse, todo dia... Claro, por uma luneta!!! 4 Amor, estranha magia, do coração e da mente. Com toda sua alquimia, nos faz um adolescente. 5 À noite, em frente á TV, a vovó e o manto dela... Ela dorme e nada vê, o manto assiste à novela...

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6 A paz que tanto nos falta, deixando a vida feroz, é uma criança peralta, oculta dentro de nós! 7 A vida é um fogo de palha e o tempo se mostra algoz, mais parece uma fornalha onde a palha... somos nós! … 8 "Bate" a inspiração na gente... Verso nenhum se aquieta, quando Deus, onipotente, nos permite ser poeta! 9 Deixa o que passou "de lado", a vida é um ensinamento... Pois lamentar o passado é correr atrás do vento!...

10 Dentre as forças deste mundo, procurando paz, eu vim, encontrá-la aqui no fundo, de onde crio a força em mim. 11 De político do “avesso”, a gente já tem calombo... pois, quando ele dá tropeço, é o povo que leva o tombo!!! 12 E o velhinho gritou: “Opa!...” Depois de tanta procura... no prato de sua sopa, encontrou a dentadura. 13 Na despedida, o teu lenço deixou o meu com “revolta”! Nem viu, num adeus intenso... que o meu...acenava: - Volta!!!

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14 Nossos olhares ousados, já perceberam que são dois desejos conjugados num “ jogo de sedução”!… 15 O amargor da despedida de alguém que amamos demais, é ter o sabor na vida do “gosto de nunca mais”!… 16 O "bebum" vai ao velório e abraça a "booooa” comadre, dando um pesar vexatório: - "Me solta, que eu sou o Padre!!!” 17 O chão do quarto molhado... A sogra pagou o mico após seu grito abafado: - " Meu Deus! Errei o penico"!!!

18 O destino escreve a escolha do amor de nós dois assim: - Páginas da mesma folha... Tu... de costas para mim!… 19 O silêncio traz a paz do universo e se engrandece, com amor que o homem faz do silêncio sua prece! 20 O teatro é fantasia, mas, às vezes, como tal, ninguém o diferencia da nossa vida real... 21 O vento faz serenata e o mar se põe a cantar versos, em ondas de prata, de uma poesia... ao luar…

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22 Partiste... E a nossa amizade no infinito se enternece... Tu me mandas a saudade, eu te mando a minha prece!… 23 Político que faz "rolo", bem ou mal ele se arranja, pois no meio do seu "bolo", tem recheio de "laranja"!!! 24 Pra aquela visita chata, o que me deixa mais louco, é ouvir a frase insensata: - "Já vai? Fica mais um pouco"!... 25 Pra que a filha não se “perca”, meu vizinho fica alerta... De que vale “fazer cerca” pra quem tem porteira aberta?!

26 Sobre a parreira, o luar no sereno te retrata… E os teus olhos a brilhar: - “Duas uvas”… cor de prata… 27 Ter “gandula bonitinha”, rebolando, só piora... O jogo quase não tinha: - por tantas bolas pra fora! ... 28 Teu abraço me agasalha com carinho tão profundo... sinto em volta uma muralha, separando-nos do mundo!… 29 Teu “jogo de amor” peralta, por ciúme, nos devora: - tu cobraste a minha falta, batendo o “pênalti” fora! …

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30 Um amor que já floresce, escondido, não se assume. É uma flor que nem parece... Mas que exala seu perfume! 31 Um casal tão agitado no sofá de namorico, parecia ter tomado um banho de pó-de-mico!...

32 Vive a "página da vida" nem que seja a "solavanco"!... Pior é quem na "partida", carimba a página: - "Em branco"!

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Selma Patti Spinelli

1 A crise nos invadiu… pindaíba nacional: - não sei se o real caiu ou se eu “caí na real”…

2 Amor de perdas e danos, triste contabilidade: - resgate dos desenganos, sobras de caixa-saudade! 3 Ao pecador, decaído, se não podes fazer nada, estende a mão, decidido, e ajuda na caminhada! 4 Ao ver a filha enjeitada, o “coronel manda-chuva” diz:” – Não quero desquitada: - filha minha... só viúva!” 5 A platéia se espantou: - o ator saiu do roteiro, desesperado, e gritou: - “Meu reino por um banheiro!”

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6 A Professora parece um lavrador a colher ouro puro em sua messe no garimpo do Saber! 7 Aqueles a quem indago, - e a resposta não me vem – Será que apito de gago a-pi-pi-ta assim tam-bém? 8 A ratazana e o ratinho brigaram feio, de fato: - foi ciúme do vizinho, que, na verdade, era um “gato”! 9 A saudade é, certamente, sentimento eternizado, um recado que o presente manda de volta ao passado!

10 A semente, pequenina, sob a terra protegida, é assinatura divina no grande livro da vida. 11 Até no “terreiro” em prece, é preguiçoso, o farsante: - quando o “santo” dele desce, só vem… de escada rolante! 12 Brindemos à despedida, que em nosso gesto imaturo, ela é a única saída para um amor sem futuro! 13 Carinhos de filhos, quero! Fazem bem ao coração: - São frutos do amor sincero; São frutos da gratidão!

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14 Com a bagunça rolando, sem ter mais o que falar, chilique, de vez em quando, bota tudo no lugar! 15 Com tanta delicadeza, um regato a serra desce… E eu tenho quase certeza que a própria serra agradece! 16 Com todo dinheiro em jogo, seguro não cobre a casa: - marido sempre “de fogo”, e a mulher... “mandando brasa”! 17 Das estrelas não esperes mais que palavras ao vento; as estrelas são mulheres que piscam sem sentimento.

18 Deixa a lágrima rolar… Deixa teu pranto fluir… Quem nunca sabe chorar não é capaz de sorrir. 19 De manhã sou funcionária, à tarde mãe e chofer, cozinheira, secretária… À noite, enfim, sou mulher! 20 Desavenças de rotina; palavras duras ao leito o casamento termina quando termina o respeito! 21 Disfarço meu sonho triste nas cordas do bandolim, porém o chorinho insiste, sem querer, fala por mim!

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22 Ela tarda mas não falha; enfrentá-la é meu fadário... A noite é como navalha na carne do solitário! 23 Estou só… Mas sou feliz; vou vivendo mesmo assim: - por escolhas que não fiz, mas a vida fez por mim! 24 É tão esnobe, tão tolo, o doutor, entre os decanos, que até na vela do bolo põe algarismos romanos! 25 Imagino a cena inteira: - um piano, um vinho quente, nós dois ao pé da lareira, e tudo que o amor consente!

26 Marinheiro! Escolhe o rumo! Porque a vida é um mar errante... Somente com o barco a prumo é que se pode ir adiante! 27 Meu destino foi traçado quando a onda, no convés, veio forte, e de bom grado, me fez cair aos teus pés! 28 Morena, que te amo tanto, e desprezas meus desvelos: - deixa afogar o meu pranto nas ondas dos teus cabelos… 29 Na dança, que pantomima. Deu-se o maior esculacho: - a moça era “tudo em cima”, mas não tinha nada embaixo!

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30 Não atires ao desterro o teu irmão que pecou… É bom combater o erro, mas não aquele que errou! 31 Nas cartas, sê verdadeiro! Cuida bem tudo o que dizes: - pois cartas são travesseiro nas noites dos infelizes. 32 Nas fendas que o sol calcina, da seca em rude aspereza, os pingos da chuva fina são beijos da natureza! 33 Nela é bonito, elegante… Nele… esquisito, incomum: - gingada é interessante, Mas não é pra qualquer um !!!

34 No embalo da serenata, quisera ser como a lua vestindo com tons de prata os homens tristes da rua! 35 No lar do pobre indefeso, relegado em agonia, esperança é o fogo aceso na panela ao fim do dia! 36 No refúgio desmanchamos, quando ficamos a sós, esses nós que carregamos no fundo de todos nós! 37 Num concurso de comida, quem concorreu foi otário, porque o prêmio, ao fim da lida, era um vaso... sanitário!

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38 Num concurso de embolada, capricharam tanto, os dois, que a dupla foi premiada aos nove meses depois! 39 O dentista dedicado, capricha na dentadura... Mas não se dá por achado: - capricha mais na fatura! 40 O Poder, às vezes, cega... e uma injustiça acontece; mas a vida se encarrega do castigo a quem merece! 41 O vento leve do estio espalha as folhas sem dono; e a terra, fofa, no cio, se entrega aos braços do outono.

42 O vento, zéfiro alado, cavalga a onda e ponteia: - e a onda, num rendilhado, vem descansar sobre a areia. 43 Paixão, por quem não esqueço; (lembrança boa e ruim) por quem me viro do avesso e nem se lembra de mim! 44 Qual rio que em seu começo procura um curso, um regaço, no teu braço eu adormeço e me esqueço do cansaço… 45 Quando a inspiração vagueia à procura de um motivo, o meu passado passeia em cada verso que eu vivo.

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46 Quando me pego tristonho, de pensamento disperso, tiro um sonho de outro sonho, vou passear no universo! 47 Quando o pecado acontece por algum amor insano, o ser humano parece que se torna mais humano! 48 - Que dança é essa, Maria, que você se espatifou?! - Nós treinamos todo dia; desta vez o Rock errou. 49 Quem dera se a vida fosse mais simples de ser vivida: - nem todo regresso é doce, nem sempre é amarga a partida…

50 Quem, no rumo desta vida, se distrai na caminhada pode acertar na partida, mas pode errar na chegada. 51 Que tu sejas, nos teus brios, quando buscares a glória, altivo nos desafios mas humilde na vitória! 52 Se é verdadeiro que é o cão maior amigo da gente, amigo de comilão deve ser “cachorro quente”! 53 Segredos… quem não os tem? Os meus segredos bendigo: - os maus – não conto a ninguém; os bons – eu guardo comigo!

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54 Ser dotado de Razão, Um homem adulto sabe: -não há virtude em vão; -nem vício que não se acabe! 55 Serras íngremes, carpadas, tão difíceis na subida, são metáforas caladas dos infortúnios da vida! 56 Sou fiel e não te nego este dever que é uma lei: - Não pelo amor que foi cego, mas pelo “sim” que te dei! 57 Sozinha em meu devaneio, saudosa no meu queixume, eu brindo ao vento que veio devolver-me o teu perfume!

58 Tu chegas de madrugada, cabisbaixo e sempre mudo… E o silêncio da chegada, sem palavras, já diz tudo! 59 Tu choravas... eu partia... Os sonhos despedaçados; e a garoa que insistia em ter meus olhos molhados! 60 - Vai um chopinho? É do bom! - Eu só bebo destilado. E o otário do garçom pôs o copo do outro lado. 61 Vejo em frente, ali na praça, só lixo, trapos e panos; e, para a minha desgraça, no meio – seres humanos!

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1 A ciranda traz lembranças, que a saudade perpetua, de um tempo em que nós, crianças, éramos todas de rua...

2 Afeto infinito eu leio nos olhos, cheios de brilho, da mãe que desnuda o seio e oferta seu leite ao filho! 3 Amena e doce ebriedade, que a adega do tempo apura, o amor, na terceira idade, é um vinho de uva madura! 4 À noite, a areia da praia, com rendas à beira-mar, lembra um lençol de cambraia onde se deita o luar... 5 A noite desfez, em contas, o seu colar de cristal e fez agrados nas pontas da grama do meu quintal!...

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6 Ante um berço, comovida, e no adeus dos cemitérios, fui aprendendo que a vida é ponte entre dois mistérios. 7 A Primavera passou... mas passou tão distraída, que nem sequer se lembrou de reflorir minha vida… 8 Aqueles grãos sem valor - e eu fico pensando agora eram sementes de amor e eu, sem querer, joguei fora... 9 A seca fora um martírio mas, sob a chuva esperada, vi o meu roçado em delírio beijando a terra molhada!

10 A teu lado, mas... sozinho... quantas noites, quantos dias eu transbordei de carinho mas te achei de mãos vazias. 11 A tua mão deslizando no meu corpo, em leve afago, é como a brisa encrespando a superfície de um lago. 12 A tua ofensa me assusta e, desta vez, digo “não”! Quem ama sabe o que custa ter que negar o perdão! 13 A vida insiste em manter em dois tons sua canção: - o mais agudo é o poder; o mais grave, a servidão!

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14 Blasfemar... sei que é errado mas, Te pergunto, Senhor: - se o amor que eu sinto é pecado, por que me deste este amor?... 15 Bondes... quintais... lampiões... Nesta saudade eu me abrigo aconchegando ilusões que envelheceram comigo… 16 Brinquedos velhos, em trapos, sem importância parecem, mas guardam, nos seus farrapos, lembranças que não se esquecem. 17 Canta, Poeta! O teu canto, de um sentimento profundo, é o turíbulo de encanto que vai incensar o mundo!

18 Colombo aos mares se fez sem que o perigo o assustasse... e, graças ao genovês, ganhou, o mundo, outra face! 19 Combater... morrer herói... não faz a luta perdida se o ideal que se constrói foi além da própria vida... 20 Como é grande a solidão de um ator, que em sua estréia, põe em cena o coração e está vazia a plateia... 21 Crepita a floresta... e os ninhos vão de roldão na queimada. Que vai ser dos passarinhos que não têm culpa de nada?

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22 Da cruz, do açoite, do espinho, de um sofrimento profundo veio o sangue que, sozinho, lavou as culpas do mundo! 23 Descalços, pelo gramado, teus pés mansamente vão... Pões, no pisar, tanto agrado que eu tenho inveja do chão!... 24 Deus modela a nossa estrada porém nós, em atos falhos, modificando a jornada, nos perdemos nos atalhos... 25 Ele partia e, na pressa, prometeu que voltaria. Hoje eu sei, não foi promessa. Na verdade... ele mentia...

26 Em fortuna, eu tenho sido qual uma agulha modesta que borda um belo vestido e a linha é quem vai à festa! 27 Em meu olhar recatado, teu olhar viu, mas não leu, a ternura de um recado que o meu amor escreveu. 28 Enfim voltaste... mas peço que este clima de alegria envolvendo o teu regresso não dure só por um dia... 29 Esta fé que me incentiva, e em minha vida se espalma, é uma luzinha votiva na capela de minha alma!

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30 Esta flor que me restou num livro da mocidade é um sonho que se tornou medalha de uma saudade! 31 Eu faço um apelo mudo na velhice que me alcança: - Destino, tire-me tudo mas não me roube a esperança! 32 Eu não cobro desta vida as respostas que ela esconde. Se a minha razão duvida, a minha fé me responde. 33 Eu nunca amarei um poeta mesmo que ele me seduza pois seu verso, de alma inquieta, vagueia, de Musa em Musa!...

34 Eu te espero... Tu demoras... Pela noite, o tempo avança e, no cansaço das horas, vai se apagando a esperança. 35 Falo de tuas ausências à garoa, que não passa e ela deixa reticências sobre o frio da vidraça. 36 Fim do amor... mas nosso enredo restou em minha lembrança, como ficou em meu dedo a marca de uma aliança... 37 Finges dormir... e eu, sozinho, sofro o que a briga nos fez: - pôs no espaço de um carinho a muralha da altivez!

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38 Foi num mar encapelado que o meu barco de ideais naufragou de tão pesado: - tinha esperanças demais! 39 Grande humildade é a do mar que, de um reino onde se alteia, vem à praia rendilhar as saias brancas da areia! 40 Homem bom de rosto feio! Tua aparência enganosa lembra a pedra cujo seio guarda uma gema preciosa! 41 Impiedoso, o fogo avança e a floresta, calcinada, perde o verde da esperança; ganha o cinza do mais nada!

42 Meu viver lembra uma estrada com mistérios para mim: - do começo não sei nada... não sei nada do seu fim... 43 Minha fortuna eu desdenho quando vejo, em solidão, que o carinho que eu não tenho sobra em muito barracão! 44 Morrem florestas, açudes, e o mundo, pobre de afeto, perde os versos e as virtudes: - vira selva de concreto! 45 Na história de tua vida sou apenas, sem escolha, uma sentença esquecida no rodapé de uma folha…

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46 Na insônia da solidão, eu só sei que o tempo passa porque escuto um carrilhão dando as horas, lá na praça! 47 Nas águas turvas dos rios, os venenos poluidores nos darão dias sombrios de primaveras sem flores... 48 Nas letras quase sem cor de um diário escrito a medo, guardo as mensagens do amor que sempre foi meu segredo... 49 Na tarde cálida e mansa, o tempo quase não passa e até o silêncio descansa nos velhos bancos da praça.

50 Neste ano novo eu pretendo rasgar meus dias tristonhos e, de remendo em remendo, reconstruir os meus sonhos... 51 Nosso amor, hoje em desgaste, fez do convívio um açoite... Tempo! Por que não paraste naquela primeira noite? 52 Nosso amor hoje é passado e, apesar de breve história, persiste, ainda, ancorado no cais de minha memória. 53 Num foguetório cerrado, o céu junino reluz qual um chuveiro dourado pingando gotas de luz!

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54 O coração nunca esquece as mágoas de uma traição... Quem trai, no amor, não merece a largueza do perdão! 55 O cheiro de flor que invade a varanda, onde eu me abrigo, engana a minha saudade e eu penso que estás comigo. 56 O destino rege as vidas num balé, cujo andamento lembra o das folhas caídas dançando ao sabor do vento... 57 O flerte, as voltas na praça, o tempo levou embora e o amor foi perdendo a graça sem o respeito de outrora...

58 O que mais feriu minha alma, relendo os bilhetes teus, foi ver a grafia calma com que me escreveste “Adeus”! 59 Ó Senhor, eu te agradeço pois vejo, em teus filhos sãos, uma fortuna sem preço que puseste em minhas mãos! 60 Ousei te amar sem medida, sem cautela, sem pudor... e hoje pago, arrependida, por esse instante de amor... 61 Partias... mas, era tarde para eu tentar te deter... E nessa omissão covarde te perdi... sem combater...

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62 Parto... não levo saudade... as desavenças são tais, que a minha e a tua verdade já são mentiras iguais. 63 Passei a viver tristonho depois que encontrei, surpreso, o limite do meu sonho no muro do teu desprezo! 64 Pela noite, atormentado, eu vou desfeito em pedaços, invejando o afortunado que dorme envolto em teus braços!... 65 Pessoas que, na ilusão, cantam virtudes sem tê-las, são como as poças do chão que pensam conter estrelas.

66 Primeiro amor... é a ternura que a nossa memória enfeita. É como a fruta madura de uma primeira colheita... 67 Prostrado... na dor infinda de um desprezo que o consome, meu coração bate ainda, porque murmura o teu nome... 68 Quando ao teu corpo eu me rendo, tuas mãos, com muito ardor, em silêncio vão dizendo loucas palavras de amor! 69 Quando a vida aperta o cerco nos ideais que eu persigo, quanto mais combate eu perco, tanto mais lutando eu sigo!

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70 Quanto sonho se vislumbra numa esteira, à luz da vela, quando um amor e a penumbra se encontram numa favela! 71 Quebra o trenzinho... eu conserto e sinto, ao vê-lo nos trilhos, a minha infância mais perto quando eu brinco com meus filhos. 72 Que eu te esqueça... não me peças... Não me obrigues a fingir e a fazer falsas promessas que jamais irei cumprir. 73 Que o amor faz sofrer... sabia... mas, mesmo assim, eu te amei e, agora, a sabedoria vive a dizer: - Não falei?...

74 Quis te falar... mas não pude... Então te dei uma flor. As flores têm a virtude de saber falar de amor... 75 Revendo o resto da história do nosso amor, eu senti que apagaste da memória o que eu jamais esqueci… 76 Sabiá, guarda teu canto! Eu sei que o dia é bem vindo mas não despertes o encanto que em meu leito está dormindo! 77 Se alegres, vão repicando; se tristes, plangem com calma... E eu fico, às vezes, pensando que os sinos também têm alma!

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78 Sem aliança no dedo, sem altar, sem certidão, quanto amor vive em segredo com laços no coração! 79 Sem muros, as casas pobres trocam favores, carinhos... enquanto que em ruas nobres ninguém conhece os vizinhos. 80 Se um dia o céu censurar o nosso amor, não aceito... e a teu lado hei de encontrar um outro céu... mais perfeito! 81 Sigo em frente em meus trabalhos, porém não sigo sozinho. Com Deus, que aponta os atalhos, encurto muito caminho.

82 Sobre seda ou algodão, na trama dos figurinos, o Supremo Tecelão faz desiguais os destinos. 83 Sobre os espelhos fanados, o tempo, em seu transcorrer, passa escrevendo recados que não gostamos de ler... 84 Tão suave é o teu carinho que eu penso, quando te enlaço, que o meu corpo é um passarinho que fez ninho em teu regaço... 85 Tem pena de minha dor! Por favor, usa a franqueza! Pois as dúvidas, no amor, maltratam mais que a certeza!

O Encanto das Trovas . . . Tomo IV – São Paulo vol. 1......... Página | 59

86 “Terra à vista”! e, em praias calmas, foi ancorando Cabral. E o destino bateu palmas nos unindo a Portugal! 87 Teu adeus me machucou mas eu creio, sem revolta, que a rua que te levou trará teus passos de volta! 88 Teu amor... quase acabado... Mas, tentando me iludir, sigo sofrendo a teu lado sem coragem de partir... 89 Teu desprezo me magoa. Não me queres, não te forço. Mas, o que mais me atordoa é não sentires remorso...

90 Teu olhar não me diz nada mas, sem querer, eu me iludo e em delírio, apaixonada, transformo o teu nada... em tudo! 91 Tímida, não disse nada, mas o sorriso que deu foi a mensagem cifrada que o meu amor entendeu... 92 Traz de longe, a brisa branda, o jasmim da tua essência e inebriada a varanda nem percebe a tua ausência. 93 Tua carícia atrevida, num suave dedilhado, musicou a minha vida com acordes de pecado.

O Encanto das Trovas . . . Tomo IV – São Paulo vol. 1......... Página | 60

94 Tu chegavas... e eu ouvia o trem, em tons comoventes, tocar canções de alegria no teclado dos dormentes... 95 Tu fizeste um leve aceno e a esperança que me deste teve o alento de um sereno caindo num solo agreste! 96 Um pintor, em seu delírio, ante a jangada a vogar, pensou ver um branco lírio na tela imensa do mar. 97 Vão ficando tão distantes os carinhos do passado, que nem sei se o que era antes foi vivido... ou foi sonhado…

98 Vêm mais tarde os desarranjos e nos transformam de vez mas, na infância somos anjos do jeito que Deus nos fez! 99 Vem setembro... e algumas flores, nos galhos desabrochando, trazem notícias em cores da primavera chegando... 100 Vou, na insônia de meus passos, esquecer, na boemia, que um felizardo, em teus braços, dorme o sono que eu queria... 101 Vou te escrever... prometias... e desta jura refém, espero dias e dias, mas a mensagem não vem...

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NOTA As trovas foram obtidas em livros, boletins de trovas, jornais, trovas enviadas pelos trovadores e em alguns sites, como www.falandodetrova.com, www.poesiasemtrovas.blogspot.com.br, www.singrandohorizontes.blogspot.com.br Biblioteca J. G. de Araújo Jorge, as Mensagens Poéticas enviadas pelo falecido trovador potiguar Ademar Macedo, etc. Montagem da Capa da Revista sobre imagem obtida na internet, não foi encontrada a autoria. Esta revista não pode ser comercializada em hipótese alguma, sem autorização de seus autores ou representantes legais. Pode ser copiado, desde que se coloque o autor das trovas, caso contrário pode ser caracterizado como crime e ser enquadrado nas sanções legais. Respeite os direitos do autor. O Encanto das Trovas . . . Tomo IV – São Paulo vol. 1......... Página | 62

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