O Encanto das Trovas Tomo VIII - Trovas Sem Fronteiras - Vol.4

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Descrição do Produto

O Encanto das Trovas . . . Tomo VIII – vol.4 – Trovas sem Fronteiras......... Página | 1

SUMÁRIO

Antonio Colavite Filho ................................................................................. 3 Argemiro Corrêa .......................................................................................... 7 Bastos Tigre ...............................................................................................11 Campos Sales ............................................................................................16 Élbea Priscila de Souza e Silva ...................................................................20 JB Xavier ...................................................................................................25 Luiz Hélio Friedrich ....................................................................................29 Otávio Venturelli ........................................................................................33

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Antonio Colavite Filho Santos/SP

1 Ante o relógio gigante, este casal, de mãos dadas, só quer passar adiante as horas abençoadas!

2 Ao “bebum” que choraminga, o doutor não mais engana: -“Se, por lá,cana dá pinga; por aqui, pinga dá cana!!!” 3 A régua ficando exposta e a terra tão ressequida nos dão, enfim, a resposta de que sem água...sem vida... 4 As lágrimas das meninas, Deus, não podendo contê-las, recolhe nas mãos divinas e com elas faz estrelas… 5 “Cara-de-pau!” E o grã-fino não se abala, não se afoba; e no rosto, enfim, ladino, passa um óleo de peroba…

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6 De posse de uma paleta, Deus, com um pincel na mão, no azul do céu, sem luneta, pintou nuvens de algodão ! 7 De uma folha de jornal, entre palavras e traços, nasce em mundo virtual o mais terno dos abraços! 8 Embora o céu carregado, eu vejo, às minhas maneiras, um barco só, desolado, entre as folhas das palmeiras... 9 Entre bombas, na trincheira, tremendo, o pobre rapaz abraça a branca bandeira numa súplica de paz !

10 Eu sempre narrei um fato da minha falta de fé: ” – Eu não tinha nem sapato até ver alguém sem pé…”. 11 Fim de semana eu capricho, trabalho muito e não minto: - Meu salário vem do “bicho”, sempre do primeiro ao quinto… 12 Já lutei o quanto eu pude e ainda nutro a esperança de encontrar a tal virtude que se chama temperança… 13 Nenhum governo da Terra assume aquilo que faz, pois não declara que é guerra sua guerra pela paz...

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14 Nesta ambígua caminhada há mistério e não me iludo: -“Não sinto medo de nada, mas tenho medo de tudo!!!” 15 No "Dia dos Namorados", - tão propício para amar, rapaz e moça sentados numa rede à beira-mar ! 16 Nunca supus que a saudade tivesse um tiro certeiro! Em vez de matar metade, me matou foi por inteiro. 17 O estudante de hoje em dia, salvo uma honrosa exceção, só quer saber de “alegria”, não quer saber de “lição”…

18 Olhando o início da ponte, antevejo - e bem bonito o caminho do horizonte que me leva ao infinito... 19 O Sol, que nasce brilhando, prenunciando uma alvorada, dá um beijo saudoso e brando nos lábios da madrugada… 20 Quando a tristeza malvada mareja os olhos da gente, forma-se, então, a enxurrada que desce feito vertente… 21 Quando, em idade, eu avanço, me lembro deste ditado: - “se a morte, enfim é um descanso, prefiro viver cansado!!!”

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22 Quero, por tudo e por nada, esquecer-te a qualquer preço mas a distância danada já sabe o meu endereço! 23 Se houver alguém precisando de que você faça um bem, não se importe com o “quando”, nem o “como”, nem “a quem”. 24 Se o noivo é pequeno e mudo, aqui segue uma receita: - Corrente, cadeado em tudo e tabuleta: - "Ele aceita!"... 25 Sonhando um sonho mais nobre e uma vida plena em ouro, descalço, o pé do mais pobre repousa em balão de couro...

26 Sufoco teve o enforcado que, em nervos, pôs-se a gritar: - Não façam laço apertado que pode faltar-me o ar... 27 Superando os meus problemas, descubro que os teus abraços são elos com que me algemas no presídio dos teus braços. 28 Vejo em clarões amarelos a liberdade presente ao romper os negros elos que vivem prendendo a gente! 29 Velhas fotos! Que saudade! Imagens bem conhecidas dos tempos da mocidade, dos fatos das nossas vidas...

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Argemiro Corrêa Caxambu/MG (1918) Cambuquira/MG (1992)

1 Ao ver passar um enterro, a minha filhinha exclama: - Olha, papai, quanta gente vai carregando uma cama!...

2 A aranha, para caçar o inseto, incauto e inocente, vive a tecer, sem cessar… Destino é a aranha da gente. 3 Com alguém que recebeu seu título de doutor, recebi também o meu diploma de trovador. 4 Eu comparo o juramento feito por uma mulher, à folha seca que o vento leva para onde ele quer. 5 Eu trago na alma a ferida de uma grande ingratidão – eu não te culpo, querida, são coisas do coração!

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6 Felicidade é não ter nada que acuse a consciência, sobrecarregue o viver, ou comprometa a existência. 7 Férias – pausa merecida nos labores escolares, com a magia refletida na intimidade dos lares. 8 Grato, meu Deus, meu Senhor, pelo sonho que sonhei, e a saudade que deixou – nunca mais o esquecerei! 9 Há muita gente que, embora da elite esteja no centro, tendo a opulência por fora, guarda a miséria por dentro.

10 Não há dor, não há ferida que possa inspirar mais dó do que a tristeza da vida daquele que vive só. 11 Não se sabe, na verdade, se é chorando, se é sorrindo, quando ela fala a verdade, quando ela fala mentindo. 12 Não vale ser bom e honesto se o teu casaco é de estopa. - Infelizmente o que vale é a qualidade da roupa... 13 Não vás, nessas excursões dos sonhos de um matrimônio, eleger, entre as visões, invés de um anjo, um demônio!

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14 Nem mesmo a saudade adoça essa mágoa que se vê numa noite aqui na roça, sem luar e sem você... 15 Nos quatro versos da trova eu ponho a minha paixão, velha história - sempre nova, e fonte de inspiração. 16 O sorriso de Maria tem um mistério estupendo, lembra o sol de um belo dia, e a paz da tarde morrendo. 17 Por muito que ele se esforce em controlar emoções, ora o mundo se contorce na fogueira das paixões.

18 Que eu fosse alguém, por um dia, quem me dera, meu Senhor, pois nenhum mal me faria um belo anel de doutor! 19 Quem ao suicídio é levado pra se ver livre da vida, desperta desapontado ante a vida preterida. 20 Quem definir poderia a vida, em seu esplendor, se, jamais, em nenhum dia, houvesse provado o amor? 21 Quem que não sente saudade dos tempos que já viveu, quando com a felicidade andou e não percebeu?

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22 Saudade é a doce presença de quem muito nós amamos, e nem sequer ela pensa estar presente onde estamos! 23 Sou pobre, não tenho nada, nada que possa te dar. - Poeta só tem a estrada e o direito de sonhar...

24 Tanto o bem como a maldade, tem linha satisfatória, e a plantação é à vontade, só a colheita é obrigatória.

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Bastos Tigre Recife/PE (1882) Rio de Janeiro/RJ (1957)

1 Aliança! algema divina, a mais doce das prisões; uma prisão pequenina que encerra dois corações.

2 Amizades são incertas. Ao fazê-las, desconfia: - esta mão que agora apertas bem pode espancar-te um dia. 3 Ao te ver fico mudo mas mesmo assim, sou feliz. Pois meu olhar te diz tudo que a minha voz não te diz. 4 Como infeliz é esta gente que pensa que ser feliz é não dizer o que sente e não sentir o que diz! 5 Da morte a sentença impressa trazemos desde o nascer: - assim que a vida começa começa a gente a morrer.

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6 Depois de uma vida airada, ao céu quis ir sem licença. São Pedro pede-lhe a entrada e o morto, arrogante: – Imprensa! 7 Dos versos os mais diversos já fiz: muita gente os lê… Mas “poesia” há nos versos que eu fiz pensando em você. 8 Eu, neste assunto de esmola sem ambições me suponho: - estendo a minha sacola peço um bocado de sonho… 9 Foi-me o amor, na mocidade, um passatempo, comum: tantas amei que, em verdade, nunca tive amor nenhum.

10 Jurar é falar a esmo, é prometer sem pensar. Juras não faças; nem mesmo a jura de não jurar. 11 Maldigo quem te ache feia, quem te ache bela também. Quero mal a quem te odeia e odeio a quem te quer bem. 12 Mente o peito que suspira? O beijo é só falsidade? Bendigamos a mentira se ela é melhor que a verdade. 13 Na minha face estás lendo que a minha mágoa é sem fim; mas sinto alívio, sabendo que não sofres… nem por mim!

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14 Não te queixes! Sofrem quantos vivem, na vida, a lutar; se não secassem os prantos, o mundo era todo um mar. 15 Neste mundo organizado de encontro à lei natural, tudo que é bom é pecado e o que é gostoso faz mal. 16 No amor não há diferença: - nós mentimos, vós mentis... E, se um diz o que não pensa, outro o que pensa não diz. 17 “O cão que ladra não morde”. Permitam que nesta quadra eu do provérbio discorde: sim, não morde… enquanto ladra.

18 Olhos tristes ou risonhos vejo entre a gente do povo dos restos dos velhos sonhos fabricando um sonho novo… 19 O meu coração é o cofre que as minhas dores contém e as dores que você sofre eu nele guardo-as também. 20 Quando em meus braços te aperto, satisfaço o meu desejo: de mim te sinto tão perto, tão perto que não te vejo. 21 Quando nós, discretamente ficamos conosco a sós, é que ouvimos quanta gente chora e ri dentro de nós.

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22 Quem canta seu mal espanta, diz o provérbio ilusório. Você, rapaz, quando canta espanta, sim… o auditório. 23 Quem só a verdade aspira com certeza inda não viu que a verdade é uma mentira que inda não se desmentiu. 24 Saudade, meiga Saudade filha do amor e da ausência, és a nossa mocidade durante toda a existência. 25 Saudade é um mal que consiste em se sofrer por vontade mas na vida o quanto é triste não ter de quem ter saudade!

26 Saudade – um suspiro, uma ânsia, uma vontade de ver a quem nos vê à distância com os olhos do bem-querer. 27 Se a mulher que está contigo vive do “outro” a dizer mal, tem cuidado, meu amigo, ela inda ama o teu rival. 28 Seguro porto, esperança, dos que andam pelo alto mar! É nas procelas – bonança, farol… estrela polar… 29 Se te olho de quando em quando, Por Deus, não é por mau fim; é que estou verificando se tu olhas para mim.

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30 Trocar ideias contigo? É possível, mas escuta: - quero ver, primeiro, o artigo que ofereces à permuta. 31 Tu com todo o teu ardor não estarás enganada? Talvez confundas amor com o prazer de ser amada. 32 Um filósofo de peso é desta sentença o autor: - o beijo é fósforo aceso na palha seca do amor.

33 Um longo olhar que se lança numa carta ou numa flor; Saudade – irmã da Esperança, Saudade – filha do Amor. 34 Vacinei-me contra o amor mas não tive resultado… Nas farmácias – é um horror!tudo é falsificado. 35 Você diz que é cego o amor… Como se engana você! Fecha os olhos o impostor para fingir que não vê.

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Campos Sales São Paulo/SP

1 Ah! se Deus juntasse um dia, as águas dos desenganos, só de lágrimas, teria outros tantos oceanos…

2 A lama seca rachada lembra as malhas de uma rede, na paisagem desolada de um rio morto de sede! 3 A minha lembrança insiste, de uma maneira indiscreta, em ser uma rima triste. nos versos deste poeta! 4 Ao cantinho que era nosso, que, em nosso adeus se desfez, eu volto sempre que posso, e choro tudo outra vez… 5 Ao poeta, não quiseste, e, acredite, vida minha, que o mundo que tu lhe deste era o tudo que ele tinha…

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6 A receita é de colírio mas, o bebum se apavora e diz, cheio de delírio: “pinga, só uma vez por hora?!” 7 A mágoa que a um pai consome, e do olhar rouba-lhe o brilho, é ver a cara da fome na cara do próprio filho! 8 Boteco é a maior desgraça, grita o padre em tom agudo; acabem com a cachaça, grita o bebum - eu ajudo! 9 Chego de cabeça erguida, à vida, devo o que sou, tudo o que aprendi na vida, foi a vida que ensinou…

10 - Custa essa grana o motel? – É cinco estrelas, meu bem. - Então vamos pro “moitel”, lá estrela é o que mais tem. 11 Detalhe triste e sombrio é o rastro que alguém deixou na lama seca do rio que a seca também matou! 12 Fantasmas de dois defuntos, namorando à luz da lua: – Meu bem, vamos dormir juntos? – Na minha tumba, ou na tua?! 13 Foi juntando os pedacinhos de um velho sonho desfeito que as mágoas fizeram ninhos na varanda do meu peito...

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14 Lembro o sertão, seu encanto, a lua cheia, tão minha, sem nada eu ter, tinha tanto, naquele nada que eu tinha… 15 Meu mundo foi devastado, não por um vento qualquer; foi passagem de um tornado, que tem nome de mulher. 16 Na solidão da moldura, ainda vejo em teu olhar, o momento em que a ternura se deixou fotografar… 17 Nem a esperança conforta o pai que vê, com tristeza, a fome rondando a porta, querendo sentar-se à mesa!

18 No silêncio da moldura, ainda vejo em seu olhar, o momento em que a ternura se deixou fotografar. 19 Nossas culpas divididas, por castigo ou por maldade, dividiram nossas vidas, sem dividir a saudade! 20 Nos telhados da cidade a garoa não cai mais, somente a minha saudade ainda escorre dos beirais! 21 Pelos caminhos do bem, quem faz o bem nem percebe quão nobre é o vício que tem quem dá mais do que recebe…

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22 Pode parecer bravata, mas, no fundo, não é não eu sou, sim, autodidata, quer na escrita, ou na canção… 23 Quando o tempo bate à porta e a saudade invade o peito, cansaço a gente suporta, mas, solidão não tem jeito! 24 Queixando-se do calor, no consultório, a gatinha: – Ponho onde a roupa, doutor? – Deixa ali, perto da minha… 25 Sei que esquecê-la é preciso, mas a esperança perdida vai apagando o sorriso no rosto de minha vida!

26 Sem precisar das imagens ou linguagens que os ensinem, os olhos trocam mensagens que as palavras não definem. 27 Silente, o mendigo reza, e a indiferença que o espia, não sabe o quanto lhe pesa a mão que estende, vazia… 28 Só Deus conhece a tristeza, de um pai que lutando em vão, vê a fome rondando a mesa, e a mesa faltando o pão! 29 Teu retrato desbotado que há tanto tempo perdura, é um perfil do meu passado na solidão da moldura!

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Élbea Priscila de Souza e Silva Caçapava/SP

1 A banda toca um dobrado e a multidão se eletriza, mas mantém o olhar colado no “shortinho” da baliza !

2 A distância bem que tenta retardar minha chegada, e parece que acrescenta mais quilômetros na estrada... 3 A Humanidade atracada ao seu orgulho e avareza agride o meio e degrada sua própria natureza... 4 Ao redor deles se agrupam o mundo, risos e achaques, porém... relógios se ocupam apenas de tique-taques... 5 Aquela amiga, a saudade, ah, quantas vezes descarto, pois, cheia de intimidade, só quer dormir no meu quarto...

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6 Aquele tomate ousado diz à alface bem amada: - Nosso encontro está marcado às seis... na mesma salada! 7 Às suas falas dispense o respeito mais profundo, que o silêncio nos pertence mas a palavra é do mundo. 8 Bem aqui na banda esquerda do meu peito há uma inscrição: "Cansado de tanta perda foi-se embora um coração". 9 Com extrema sutileza, vertendo mel nas amarras, a sedução faz a presa se aprazer em suas garras.

10 De assombração tenho medo, da morte, então, quem não tem? Vou te contar um segredo: quando era vivo... eu, também! 11 Do peito tranco o portão por sofrer e em desagravo penduro nele a inscrição: - Cuidado! Coração bravo!!! 12 Ela passa se sorrio, se choro vai, nem me vê: desconfio que este rio tem muito a ver com você! 13 Embora dela me esquive, a saudade, tão ladina, tem manhas de detetive e me espreita em cada esquina...

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14 - Esta pimenta é de cheiro? Pergunta com azedume, e o garçom fala ligeiro: - Se não é... boto perfume!!! 15 – Eu era um burro, doutor, que pesadelo medonho! E o médico, gozador: - Tens certeza que era um sonho?... 16 Frio, cruel e arrogante, O mal na discórdia aposta e o mundo beligerante Está "como o diabo gosta". 17 Gostosa! – diz, leviano. - Ela é minha filha Ester… - Perdão, é a outra, que engano! - A outra é minha mulher.

18 - Homem que é homem dá duro, procure um trabalho, diacho! - Procurar até procuro, mas, graças a Deus… não acho! 19 – Meu genro prêmios conquista em nossa Feira Anual. - Ele é grande pecuarista? Não... um perfeito animal! 20 Moleque feliz, sadio, nadando em tua água fria, acreditei, velho rio, que eu nunca envelheceria... 21 Na mais franca intimidade, desta volúpia à mercê, perdemos a identidade: quem sou eu, quem é você?

O Encanto das Trovas . . . Tomo VIII – vol.4 – Trovas sem Fronteiras......... Página | 22

22 Numa visita diária a um coração em carência, a saudade solidária tenta suprir tua ausência... 23 Num desabafo insincero, chorando em teu ombro amigo, digo coisas que não quero, quero coisas que não digo… 24 Num minúsculo vestido, samba e a galera faz festa e Cornélio, seu marido “dança” enquanto coça a testa! 25 O beijo da chuva fria no chão, ressequido e ardente, num milagre, propicia o germinar da semente.

26 Prantos, lamentos, gemidos... ecos que vêm até nós... são gritos dos excluídos de que a dor é porta-voz! 27 Quando a saudade aguilhoa meu peito, a voz da razão diz, baixinho: - Vai... perdoa... Mas a altivez grita: - Não! 28 Quero agarrar o presente, mantê-lo à força, ao meu lado... E ele se esvai... De repente, presente já é passado! 29 Se a guerra foi declarada e é poderoso o oponente, faze da astúcia aliada, que astúcia é força da mente!

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30 Só tu, penumbra que invades meu quarto, sem cerimônia, sabes de quantas saudades se compõe a minha insônia! 31 Tão comuns em nossa esfera que aos tropeços se conduz, trevas são salas de espera onde aguardamos a LUZ! 32 Teu prato esfria na mesa, olho o relógio, me apresso; na varanda a luz acesa espera, em vão, teu regresso...

33 Uma caixa de surpresas, baú de contradições, meu coração tem certezas cercadas de indecisões 34 Vencido... todo humilhado, meu coração se destranca e entregando-se à saudade, desfralda a bandeira branca! 35 Xeque-mate, sem saída, me entrego, todo humildade, se o tabuleiro é o da vida, se o contendor é a saudade...

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JB Xavier São Paulo/SP

1 A beleza da poesia - Eu vou contar p'rá você não vem da mente que a cria, e sim, d'alma de quem lê!

2 Acalanto, graça plena, de um amor que não esqueço tempestade na serena bonança que não mereço 3 A falsa humildade é feia, raramente é uma façanha; geralmente é um grão de areia se dizendo uma montanha. 4 Agradece todo dia por teu riso e por teu pranto, porque Deus não te daria senão um doce acalanto... 5 A mais formosa das flores não emite um só queixume e mesmo por entre dores não se extingue o seu perfume

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6 Ao conforto acorrentado, quem se prende corta acesso, ao caminho acidentado que levaria ao sucesso! 7 Arrefece esse teu passo. Sê feliz na sozinhez, e caminha no compasso de um passo de cada vez… 8 Bem que tentei. Tentei tanto te esquecer, sem conseguir. E em mim, por este meu pranto continuas a existir 9 Bendito aquele que aprende ao receber uma ofensa, sem repreender quem ofende nem julgar o que ele pensa!

10 Chovia na despedida, e, na chuva que caía, eu vi minha própria vida que com ela se esvaía… 11 De tudo, apenas a dor e um acalanto restou do que foi um grande amor que existiu e que acabou. 12 Heresia é não amar, é deixar, no coração, lentamente, se apagar, o fogo d’uma paixão! 13 Hoje trago na lembrança uma dor que sobrevive num fiapo de esperança pelo amor que nunca tive

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14 Mesmo na rua, o mendigo que moureja, e cujo pranto grita pedindo um amigo, é o mais sublime acalanto! 15 Na clausura da existência, das prisões que nos impomos, um devaneio é a essência do que pensamos que somos! 16 Não dou conselhos na luta que cada um realiza, pois nem o tolo os escuta e nem o sábio precisa. 17 Não há dor mais dolorida do que a tristonha aparência de quem matou pela vida a sua própria inocência

18 Não haverá sociedade que possa ser construída sem a fé na humanidade e o respeito pela vida! 19 Não importa a circunstância, cuidado ao dar o teu passo. É muito curta a distância entre sucesso e fracasso! 20 Nesta luz que escurecia meu passado futurista a plenitude vazia dava a derrota à conquista. 21 No volteio dos ponteiros num sublime amanhecer os minutos sorrateiros não me deixam te esquecer...

O Encanto das Trovas . . . Tomo VIII – vol.4 – Trovas sem Fronteiras......... Página | 27

22 Numa discussão atroz pense só por um momento: Não levante o tom de voz, melhore o seu argumento! 23 Pensemos bem, porque a vida se feliz, com graça e canto, se infeliz ou se sofrida é o mais sublime acalanto! 24 Quem compõe versos amenos Que os acalantos coleta, Parece que morre menos como nos disse o Poeta... 25 Se for teste, meu Senhor, o viver nesta fornalha, tu verás que a fé e o amor de um nordestino não falha!

26 Segue a vida o seu encanto, às vezes nem merecido, cantando o seu acalanto para o mundo sem ouvido... 27 Sem ti minha vida passa sem o riso e sem o canto qual brilhante, que sem jaça é meu eterno acalanto... 28 Solta o amor que tanto amaste e que preso mantiveste. Se voltar o conquistaste, se se for, nunca o tiveste... 29 Sublime, a rosa sem jaça lança ao lírio seu perfume e o vento brando que passa aspira, pleno de ciúme...

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Luiz Hélio Friedrich Curitiba/PR

1 A cada dia que passa, muda minha realidade, meus sonhos viram fumaça, amores viram saudade.

2 Acordes de uma seresta ouvidos na escuridão destilam o som que empresta ouvidos ao coração. 3 A eternidade me alcança em quimeras descobertas nos minutos de uma dança, se num abraço me apertas. 4 Contra-senso é eu ter na vida, Por meu sol os olhos teus, E ao te olhar, minha querida, Bem ceguinhos deixo os meus. 5 Curitibano adotivo, eu vim cá, para estudar. Apaixonado aqui vivo; fiz da cidade meu lar.

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6 Debruçada sobre o berço do seu querido filhinho busca a mãe, rezando o terço, indicar-lhe um bom caminho. 7 Em água límpida, pura, penetram raios de lua como se fosse a mistura da minha alma com a sua. 8 Falhei nesta vida minha, ao querer ser o teu rei pois tu já eras rainha, e escravo teu me tornei. 9 Mãe é palavra sublime, e foi sábio o português não criou outra que rime com ela nem uma vez.

10 Meu pai, sisudo e calado, não me deu muito conselho. Porém, seu exemplo, honrado, segue sendo o meu espelho. 11 Na mulher – delicadeza é fraqueza que me intriga; sendo mãe, é fortaleza que os filhos pra sempre abriga. 12 Não maldiga a sua sorte, busque sempre o bem-querer, ache um rumo, ache um norte, dê sentido ao seu viver. 13 Não sei das coisas da terra nem sei das coisas do mar. Mas sei daquilo que encerra coisas felizes de um lar.

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14 Na renúncia à própria vida pra gerar os filhos seus, uma mãe tem, garantida, outra vida junto a Deus. 15 O poeta quando canta a sua dor que é infinda até a Deus ele encanta: - Ganha mais dores, ainda! 16 Para mãe, não há uma rima, no idioma português, pois ser mãe é obra prima, - foi assim que Deus a fez. 17 Para vestir de ilusão a minha vida vazia, cubro-me com a visão da tua fotografia.

18 Por mais que eu sofra, querida, com meus sonhos sigo adiante: - A iluminar minha vida levo a luz do teu semblante. 19 Por seguir a vida afora sem haver nenhum tropeço, agradece à mãe, agora, o filho por seu começo. 20 Qual o filho mais querido aquele que a mãe mais gosta? Se existe algum preferido? Nem ela sabe a resposta! 21 Quem não se importa onde pisa, na escalada desta vida, sobe muito mas desliza e escorrega na descida.

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22 Quem tiver filhos pequenos por força há de cantar: quantas vezes as mães cantam com vontade de chorar. 23 Quisera que o mundo visse meu ar de felicidade assim que você me disse: “Namoro” – e não: “Amizade”. 24 São paradoxos da guerra: - Quem a declara, não faz! - E um triste lema ela encerra, matar em nome da paz!

25 Saudade, não o ciúme, é a maior prova de amor. É como sentir perfume mesmo distante da flor. 26 Saudade, nem sempre triste, traz lembrança de um ausente que de longe ainda insiste, em se dar como presente.

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Otávio Venturelli Nova Friburgo/RJ

1 Às vezes, na velha idade, minha infância sobressai, e eu peço colo à saudade, fingindo que é o teu, meu pai!

2 Contraste dos mais tristonhos a noite sempre me traz: vou procurar-te em meus sonhos, e é na saudade que estás... 3 Coreto da mocidade que ainda tem a mesma graça, pões o amargo da saudade no algodão-doce da Praça. 4 Criança carente, andante, mensagem viva que diz que seu brinquedo constante é brincar de que é feliz!... 5 Da saudade às vezes farto, e se a tristeza me invade, acendo as luzes do quarto para não ver a saudade.

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6 Dentre as flores cultivadas nos quintais do coração, só me restaram plantadas as flores da solidão... 7 De que vale o meu protesto se manténs em tuas mãos o poder de, a um simples gesto, cortar o "til" dos meus nãos... 8 Em nosso adeus, quando eu disse: "não há dor que não se abrande", nem pensava que existisse uma saudade tão grande... 9 Estou velho... mas não minto quando digo com empenho: - se tenho a idade que eu sinto, nem sinto a idade que eu tenho!

10 Farol velho, não entendes o contraste que eu te trago: tu de esperanças te acendes, eu, de saudades me apago… 11 Fazendo em barro a montagem da estátua do meu desgosto, eu vi que o rosto da imagem era a imagem do teu rosto... 12 Jangadeiro de Iracema, meu pescador de alvoradas, o teu Nordeste é um poema escrito pelas jangadas! 13 Minha alma vagueia pelas calçadas da meninice buscando antigas estrelas para o meu céu da velhice.

O Encanto das Trovas . . . Tomo VIII – vol.4 – Trovas sem Fronteiras......... Página | 34

14 Na cama desarrumada, que impulsos do amor viveu, há uma saudade deitada no lugar que era só teu.... 15 Não diga adeus nem brincando, o adeus é irmão da saudade e alguma ausência, escutando, pode pensar que é verdade... 16 Não me gabo das conquistas, nem dos troféus que são meus, porque nas mãos dos artistas há sempre o dedo de Deus… 17 Na velha Estação de Trem, que a solidão dominava, eu acenei a ninguém fingindo que alguém chegava...

18 No conflito de um desgosto, por saber que não me queres, vivo em busca do teu rosto no rosto de outras mulheres… 19 Nossa casa, nossa vida, nossa esteira em nosso chão, e, na esteira da partida a saudade e a solidão. 20 O beijo, roubado a medo no portão do teu sobrado, teve um tanto de segredo, teve um tanto de sagrado... 21 Para ficar ao meu lado, durante a noite ela vem. A saudade do passado sofre de insônia também...

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22 Paredes em desabrigo, janelas que se quebraram... mensagem de um tempo antigo que o tempo e a vida rasgaram! 23 Por entre os vãos dos meus dedos fugiram meus sonhos vãos, que foram simples brinquedos nos dedos das tuas mãos… 24 Por qualquer doença se abala com o fantasma dos infartos; passa os seus dias na sala gemendo de dor nos quartos... 25 Prefira sempre a certeza de ver que a alegria existe; quem faz pergunta à tristeza merece resposta triste.

26 Presente numa saudade que ficou em seu lugar, o passado é uma verdade que nem Deus pode mudar... 27 Quando à noite eu penso nela, e o sono teima em fugir, ninando a saudade dela eu quase chego a dormir... 28 São flores - Rosa e Saudade com mensagens desiguais; uma diz: "felicidade!" e a outra diz: "nunca mais". 29 Saudade, imagem sem vida da presença que eu reclamo; essa vontade incontida de voltar dizendo: "Eu te amo!"

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30 Saudade, saudade minha, quanta saudade restou... - Saudade é tudo que eu tinha, saudade é tudo que eu sou. 31 Se foi presságio, não sei; mas eu senti, na partida, que aquele adeus que eu te dei dava adeus à nossa vida… 32 Sempre existe algum pecado escondido em nosso enredo, que a mente finge acabado mas que a alma guarda em segredo.

33 Soltando as cordas da amarra da barca do meu destino, cruzei o farol da barra dos meus sonhos de menino… 34 Tuas lembranças, afago-as como se afaga uma flor; as saudades não são mágoas, são flores feitas de amor! 35 Voltei. Meu Deus, que distância entre a saudade e o passado: o meu coreto da infância ainda "me toca dobrado"!

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NOTA As trovas foram obtidas em livros, b oletins de trovas, jornais, trovas enviadas pelos trovadores e em alguns sites, como www.falandodetrova.com , www.poesiasemtrovas.blogspot.com.br , www.singrandohorizontes.blogspot.com.br Biblioteca J. G. de Araújo Jorge, as Mensagens Poéticas enviadas pelo falecido trovador potiguar Ademar Macedo, etc. Montagem da Capa da Revista sobre imagem obti da na internet, não foi encontrada a autoria. Esta revista não pode ser comercializada em hipótese alguma, sem autorização de seus autores ou representantes legais. Pode ser copiado, desde que se coloque o autor das trovas, caso contrário pode ser caracterizado como crime e ser enquadrado nas sanções legais. Respeite os direitos do autor.

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