O Enigma de Wittgenstein: estética e estatística

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O ENIGMA DE WITTGENSTEIN: ESTÉTICA E ESTATÍSTICA Christian Benvenuti [email protected] Palavras-chave: expectativa, teoria da informação, estética, cognição musical

A teoria da informação trata da previsibilidade de uma mensagem constituída por símbolos sucessivos. Com base principalmente no conceito de entropia (ou a quantidade de desordem), a teoria da informação busca medir a informação de uma mensagem. A teoria da informação, partindo da premissa básica de que a informação transmitida por uma mensagem é maior ou menor dependendo do potencial de surpresa que ela contém, encontra no fenômeno da expectativa um elemento essencial do binômio música e emoção. Como apontado por diversos autores, a capacidade humana de se formar expectativas é largamente considerada uma vantagem evolucionária. Isso se daria pela capacidade de utilizar a memória de forma prospectiva, e não apenas retrospectiva. Em outras palavras, mecanismos de predição só seriam possíveis graças à propriedade da memória em proporcionar a simulação de cenários futuros. Esta noção sugere que as várias formas de memória são melhor entendidas como diferentes formas de expectativa. A expectativa também atua no mecanismo fisiológico de recompensa e parece disparar a produção de dopamina (hormônio e neurotransmissor). A dopamina estaria presente na recompensa a desejos ou expectativas, mas não à saciedade. Estudos em musicologia cognitiva estabelecem uma diferença entre expectativa esquemática, associada à memória de longo prazo, e expectativa verídica, associada à memória episódica. O autor apresenta razões para se considerar a expectativa esquemática como tendo natureza estatística e a expectativa verídica como tendo natureza estética, sugerindo uma discrepância entre o conhecimento de uma determinada peça musical e o conhecimento de música em geral (repertório). Esta discrepância remete ao famoso “enigma de Wittgenstein”: como pode uma cadência deceptiva continuar soando deceptiva quando a familiaridade com a peça torna a progressão completamente esperada? A fim de se estabelecer modelos para a expectativa esquemática (a que espera que a dominante seja seguida pela tônica) e a expectativa verídica (a que prevê uma cadência deceptiva), este artigo trata do “enigma” sob o ponto de vista da teoria da informação e aponta para a natureza estatística da estética. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARNHEIM, Rudolf. Entropy and Art: An Essay on Disorder and Order. Berkeley: University of California Press, 1974.

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