O ENSINO A DISTÂNCIA, AS TICS E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

July 25, 2017 | Autor: José Elias de Jesus | Categoria: Formação De Professores, Ensino a Distancia
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O ENSINO A DISTÂNCIA, AS TICS E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES José Elias de Jesus Mestrando PGET/UFSC

RESUMO O processo de ensino e aprendizagem mediado por Tecnologia de Comunicações e Informações – TICs requer tanto do educando como do docente um conjunto de competências específicas, entre as quais aquelas relacionadas com a mediação interacionista, exigindo dos atores deste ambiente educacional um conhecimento midiático mais apurado, tanto em relação aos aspectos computacionais quanto aos métodos instrucionais. Estas habilidades, inerentes ao ambiente virtual de ensino-aprendizagem, mais especificamente na utilização da internet, exigirá do docente um conhecimento mais ampliado dos fundamentos da virtualização do processo interacional midiático, haja vista as variações de aplicativos existentes e por conta das diversidades computacionais (software, hardware e peopleware), maximizado pelo chamado analfabetismo digital dos ingressos neste universo midiatizado.

Palavras-chave: Ensino-Aprendizagem. Tecnologia de Comunicação e Informação. Formação de Docentes. Ensino a Distância.

1 INTRODUÇÃO

Muito embora haja uma forte disseminação da utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs nos processos de ensino e aprendizagem, nas mais variadas áreas do conhecimento, as competências interacionais, ou falta delas, tanto dos educandos quanto dos docentes, é uma preocupação, enquanto variável imprescindível do processo, posto que muitas habilidades deixam de ser plenamente desenvolvidas, por parte dos alunos, haja vista os equívocos pedagógicos adotados pelos docentes culminando, conforme Jesus (2012), com um índice de aprendizagem aquém do esperado, notadamente quando se vislumbra uma formação educacional que permita, ou favoreça, o avanço do egresso na suas continuidades escolares, bem como o ingresso no mercado de trabalho. “Partindo do contexto empresarial e da visão conceitual de competências, percebe-se que, atualmente, não basta que o profissional adquira conhecimentos da área técnica. Passa a ser uma situação sine qua non que outras competências sejam desenvolvidas e adquiridas, permitindo ao indivíduo a possibilidade de interpretar o

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que acontece no mundo, de se adaptar às mudanças facilmente [...]”. (DA SILVA, YOSHIDA e GUERRA, 2004, p.65). Estas premissas nos levam a questionamentos acerca do fazer educacional empregado no processo de ensino que tenha como recurso pedagógico a necessidade de apropriação das ferramentas midiáticas de interação. Muito embora muitos dos docentes que atuam neste processo, notadamente nas áreas de ciências e matemática, gozam de excelente competência, enquanto profissionais, questiona-se suas respectivas habilidades educacionais no que se refere às práticas pedagógicas mediadas pelas TICs. Todavia, na visão de Kloch & Santos Junior (2010) existem docentes resilentes à utilização das TICs no ambiente educacional, seja pelo comodismo proporcionado pelos processos mais antigos, seja pelo receio das mudanças exigidas pelo novo modelo interacionista. Cremos que, no fazer educacional, a tecnicidade deva estar fortemente aliada às habilidades pedagógicas. Podemos dizer que, nos estudos das habilidades dos atores do ensino mediático, onde todos os envolvidos necessitam interagir no ambiente virtual de ensino-aprendizagem, urge a necessidade em conhecer, compreender e explicar, com precisão, as dificuldades inerentes às relações cotidianas do educando neste complexo ambiente interativo, contextualizando o fenômeno estudado com o fazer educacional relacionado com a prática didático-pedagógica. Neste contexto, Carvalho e Silva (2006, apud PACÍFICO & JESUS, 2011) afirmam que "a formação do professor em uma modalidade com inserção tecnológica embutida na própria metodologia do curso será capaz de fazer uma diferença significativa em sua atuação [...]".

2 CONSTRUÇÃO DA INFORMAÇÃO Atualmente, os Sistemas de Informação têm avançado a passos largos, contribuindo significativamente para a disseminação da informação e permitindo a formação de profissionais, nos vários níveis culturais, possibilitando a interação em tempo real com a dinâmica do mundo globalizado. O pré-requisito é saber que as ferramentas computacionais existem, saber como manuseá-los (hardware), ter acesso a rede mundial de computadores (web) e saber como utilizar esta tecnologia (software). A Tecnologia da Informação – TI, permite a automação do processo, possibilita a administração remota do ambiente virtual, oferece flexibilidade no processo de ensino aprendizagem, permite agilidade na entrega das tarefas, reduz os custos operacionais, permite

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implementar medidas de desempenho, além de suportar com agilidade conversações compartilhadas entre os atores do processo. “Neste novo contexto a escola terá como tarefa construir sentidos com base nas informações” (Mello, 1998 apud KLOCH & SANTOS JUNIOR, 2010, p. 199). A fluidez da informação é considerada um indispensável elemento para sucesso do processo, sendo uma ferramenta imprescindível para a tomada de decisão por parte dos atores. Por conta disto, temos que A informação é a base da decisão, do julgamento, da ponderação. É com ela que aprendemos e podemos questionar, levantarmos novas hipóteses e possibilidades, diminuindo conseqüentemente a margem de erro e aumentando os acertos. A informação soma, acrescenta, logo faz crescer. A informação é, na cultura democrática, a base do poder. Quanto mais e melhor informado, o indivíduo mais valorizado será, pois pode tomar decisões mais adequadas ao ser escolhido para o exercício do poder. (GAUDENER, 1991, p. 15).

Para que a informação surja, alguns procedimentos devem ser executados. Entretanto, urge necessário entender os componentes e passos que, após processados, resultam em informações. Por conta disto, entende-se que a produção da informação destina-se a possibilitar uma percepção contextualizada dos diferentes processos do ambiente virtual. Ao serem processadas estas informações, geradas por um Sistema, apresentam significados, sob a ótica do seu usuário. Neste contexto, um aluno no ambiente virtual necessita ter ao seu alcance informações acuradas, possibilitando-lhe a continuidade do aprendizado através da aquisição do conhecimento e o desenvolvimento de habilidades.

3 O ENSINO A DISTÂNCIA O surgimento de novas tecnologias computacionais tem permitido a disseminação do conhecimento e permitindo que mais pessoas, antes excluídas do processo de formação cultural e/ou profissional por conta do custo financeiro do ensino tradicional, passem a se beneficiar das vantagens oferecidas nos mais variados cursos de formação, capacitação e qualificação estruturados na modalidade EaD. A qualidade do ensino aprendizagem está disponível às classes sociais dantes inacessíveis, muito embora muito ainda há por se fazer. Contudo, “A falta de recursos e políticas de democratização do acesso as tecnologias configura-se num grande problema social para a democratização do acesso e formação profissional em diversas áreas do processo produtivo, inclusive na área educacional [...]” (SANTOS & OKADA, 2013).

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Obviamente, a qualidade no conjunto da obra neste processo é conditio sine qua non para sua eficiência, no sentido de possibilitar a aquisição do conhecimento e o desenvolvimento de habilidades, finalizando com egressos tecnicamente competentes. Neste contexto, Moran (2011) tem afirmado que “sem bons gestores e professores nenhum projeto pedagógico será interessante, inovador. Não há tecnologias avançadas que salvem maus profissionais”. E a tal educação a distância, do que exatamente se trata? O Decreto n.º 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, que regulamenta o Art. 80 da LDB (Lei n.º 9.394/96), infere que “Educação a distância é uma forma de ensino que possibilita a autoaprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação”. (BRASIL, 1998).

Objetivando melhor entendimento, nos socorremos aos ensinamentos de especialista, os quais afirmam que: “A EaD é uma modalidade educacional cujo desenvolvimento relaciona-se com a administração do tempo pelo aluno, o desenvolvimento da autonomia para realizar as atividades indicadas no momento em que considere adequado, desde que respeitadas as limitações de tempo impostas pelo andamento das atividades do curso, o diálogo com os pares para a troca de informações e o desenvolvimento de produções em colaboração.” (ALMEIDA, 2003, p. 331).

Aprimorando este entendimento temos que, no entender de Lapa (2011), neste modelo do fazer pedagógico mediado por computadores a distância entre os atores do processo não significa, necessariamente, ausência dos interacionistas, pois para KLOCH & SANTOS JUNIOR (2010, p. 206) “a educação (presencial ou a distância) é uma atividade que envolve três componentes: aquele que ensina (o ensinante), aquele a quem se ensina (o aprendente), e aquilo que o primeiro ensina ao segundo (um conteúdo)”.

4 A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE DOCENTES Com a crescente necessidade de qualificação mais aprimorada dos docentes, o mercado de trabalho está a exigir mais competências daqueles que se apresentam para ocupar estes postos de trabalho. Entende-se por competências profissionais o conjunto de atributos relacionados ao conhecimento, habilidades e atitudes. Considera-se que estes atributos devam ser aprimorados, senão construídos, nos cursos de formação profissional, seja em nível de ensino médio, seja na graduação e especialização.

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“A Educação para o trabalho não tem sido tradicionalmente discutida no Brasil. Segundo Educação Profissional - Legislação Básica (MEC 2001), o não entendimento da abrangência da educação profissional na ótica do direito à educação e ao trabalho, associando-o unicamente à "formação de mão-de-obra", tem reproduzido o dualismo existente na sociedade brasileira entre as "elites condutoras" e a maioria da população, levando inclusive, a se considerar o ensino normal e a educação superior como não tendo nenhuma relação com educação profissional” (GIRARDELLO, 2007).

Observa-se que a fundamentação pedagógica para o ensino profissionalizante deva ser baseada na ideia de ensino por competências profissionais. Essa abordagem pedagógica é necessária em função do caráter eminentemente prático do ensino a distância através de tecnologias que permitam a construção de ambientes virtuais de ensino aprendizagem e a forte vinculação com o desempenho do futuro professor na formação (construção) do conhecimento e desenvolvimento de habilidades dos seus futuros alunos. Algumas discussões, acerca dos princípios considerados fundamentais na formulação e criação de cursos desenvolvidos na plataforma Ead, devem estar relacionadas com as necessidades e expectativas individuais dos educandos. Aspectos relacionados com a organização e estrutura pedagógica devem possibilitar a permanência do aluno no curso, através da apresentação do planejamento para a execução do projeto. Quanto ao aprendizado (aquisição do conhecimento e desenvolvimento de habilidades), percebe-se que parte significativa das dificuldades apresentadas pelo educando, do ambiente virtual, na apresentação de estratégias para a resolução de problemas, não são satisfatoriamente superadas pelos textos compilados e postados no ambiente. O docente, por seu distanciamento com o educando, deixou de ser a fonte mais óbvia para fornecer os elementos necessários à solução de tal problemática. Infelizmente, via de regra, esquecemos, enquanto docentes “moderninhos”, de fomentarmos discussões acerca dos procedimentos adequados à busca da origem destas dificuldades. Pozo (1998) e Villani (1991) abordam questões relevantes desta problemática, alertando acerca destas dificuldades entre os docentes.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Atualmente o desenvolvimento de pesquisas acerca das competências midiáticas entre os alunos e professores dos Cursos em ambiente EaD, atores no ensino básico, técnico profissionalizante, Graduação e na Pós-Graduação, seja no ensino público ou privado, vêm observando as deficiências apresentadas pelos educandos no que se refere ao aprendizado e a

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construção de competências mediáticas no processo de ensino-aprendizagem em que as Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs são utilizadas como ferramentas interacionistas e mediadoras. A nossa realidade educacional, notadamente em relação ao perfil do egresso, demonstra a pertinência de uma análise criteriosa e uma reestruturação do fazer educacional, notadamente quanto ao ensino em ambiente virtual, na modalidade Educação a Distância EaD, bem como repensar as habilidades midiáticas dos docentes no contexto interacional neste modelo de ensino e aprendizagem. Um segundo momento destas reflexões poderá ser direcionado no sentido de se apresentar uma proposta de pesquisa objetivando encontrar as deficiências didáticopedagógicas neste modelo de fazer educacional, no intuito de apontar possíveis ajustes no processo de ensino-aprendizagem, além de adequações nas práticas educacionais direcionadas aos docentes e estudantes que optam por esta modalidade de ensino, notadamente quando do aprendizado de modelagens direcionadas à resolução de problemas e contextualização em cenário hipotético representativo da realidade local/regional do aprendiz.

REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. E. B. Educação a distância na Internet. Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.2, p. 327-340, jul./dez. 2003. BRASIL. Decreto n. 2.494, de 10 de fevereiro de 1998. Disponível em: . Acesso em: 17 abr. 2011. CARVALHO, Ana Beatriz e SILVA, Eliane Moura. Políticas Públicas em Educação a Distância e a Formação de Professores no Estado da Paraíba. In: IV SEMINÁRIO REGIONAL DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO DA EDUCAÇÃO NO NORDESTE, 2006. DA SILVA, N. B.; YOSHIDA, R. R. e GUERRA, R. G. Formação Profissional Baseada em Competências: Um Estudo De Caso Brasileiro. VII Seminário em Administração. Revista de Gestão da USP, 2004. FACHINETTO, Eliane Arbusti. O hipertexto e as práticas de leitura. Revista Letra Magna, Ano 02 - n.03. UNISC, 2005. GAUDERER, E. Christian. Os Direitos do Paciente: um manual de sobrevivência. in Hospital – Administração e Saúde, vol. 17, nº 6. nov/dez, 1993. GIRARDELLO, C. B. S. Nova Educação Profissional no Brasil - Ensino Baseado em Competências. Disponível em . Acesso em: 24 set 2007.

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JESUS, José Elias de. A gestão pública e o Ensino Profissionalizante. Publicação eletrônica. Disponível em < http://professor-joseelias.blogspot.com.br/2012/03/gestaopublica-e-o-ensino.html>. Acesso: 02 jun 2013. KLOCH, Hermínio; SANTOS JUNIOR, Vital Pereira dos. Informática Básica e Tecnologia da Informação. Indaial: Ed. Grupo UNIASSELVI, 2010. LAPA, Andrea Brandão. Introdução à educação a distância. Apostila do Curso de Licenciatura em Letras-Espanhol na modalidade à distância. UFSC, 2011. MORAN, José Manuel. A escola que desejamos e seus desafios. Disponível em: < www.eca.usp.br/prof/moran/escola.htm>. Acesso em: 17 abr. 2011. MORAN, José Manuel. O que é educação a distância. Publicação online. Disponível em: http://www.eca.usp.br/prof/moran/dist.htm. Acesso: 15 mai 2011. PACIFICO, Rosangela Hermani Alves; JESUS, José Elias de. A Formação de Professores Através da Educação a Distância – EaD. Publicação online. Disponível em . Acesso: 02 jun 2013. POZO, Juan Ignácio. A Solução de Problemas: Aprender a resolver, resolver para aprender. Porto Alegre: Artmed, 1998. SANTOS, Edméa Oliveira; OKADA, Alexandra L. Pereira. A construção de ambientes virtuais de aprendizagem: por autorias plurais e gratuitas no ciberespaço. GT: Educação e Comunicação, n.16. Publicação digital. Disponível em . Acesso em: 25 mai 2013. VILLANI, A. Reflexões Sobre as Dificuldades Cognitivas dos Professores de Física. Caderno Catarinense de Ensino de Física, Florianópolis, v. 8, n. 1, p. 7-13, 1991.

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