O Ensino das Tecnologias da Informação e Comunicação aos Cidadãos Seniores em Portugal

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O ENSINO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO AOS CIDADÃOS SENIORES EM PORTUGAL RESUMO Este capítulo relata três experiências diferentes sobre o ensino das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) aos cidadãos seniores que se realizaram no norte

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de Portugal, nomeadamente, em Instituições Particulares de Segurança Social (IPSS), num curso de formação da Universidade de Aveiro e numa Universidade Sênior Portuguesa – a Universidade Sênior de Ermesinde. Os grupos foram heterogêneos

entre si e as diferenças são principalmente ao nível de escolaridade e na faixa etária. As

atividades

realizadas

com

os

três

grupos

revelaram-se

experiências

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enriquecedoras, tanto para os investigadores/formadores como para os cidadãos seniores, conforme demonstram as suas avaliações sobre as atividades. Destacam-se como pontos positivos a motivação e a predisposição para a aprendizagem, a vontade

de continuar a frequentar as aulas mesmo depois da sua conclusão, e as amizades que visivelmente se foram construindo ao longo do tempo no decorrer das atividades. Palavras-Chave: aprendizagem; cidadão sênior; ensino; TIC - tecnologias da informação e comunicação;

INTRODUÇÃO

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Em plena sociedade pós industrial, existe uma necessidade permanente de utilizar as tecnologias da informação e comunicação para realizar tarefas diárias (no trabalho, em casa, nos serviços, entre outros) quer pelas gerações mais jovens quer por outras faixas da população que, muitas vezes, estão alheadas das plataformas digitais, como os cidadãos seniores. Quando confrontados com as dificuldades, muitos seniores

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querem ativamente mudar a sua situação de info-exclusão para info-inclusão e

procuram cursos de formação na área das TIC. Estas ações de formação têm que ser muito bem planeadas, quer nos assuntos a incluir quer no modo como esses assuntos serão ensinados.

Cada ser humano aprende de diferentes maneiras e isso é influenciado por múltiplos fatores, nomeadamente, a auto-eficácia, a ansiedade inerente ao processo (Rosário; Soares, 2004) , a motivação (Unicovsky, 2004), a atitude, a postura (Valente; Kachar, 2001), entre outros. As estratégias ensino-aprendizagem a adoptar são ainda mais relevantes no que respeita ao sênior devido aos inúmeros efeitos decorrentes do processo de envelhecimento.

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1. O CIDADÃO SÊNIOR O envelhecimento da população da União Europeia (UE) resulta da interceção de quatro tendências demográficas: i) o fraco índice conjuntural de fecundidade, isto é, o número médio de filhos por mulher (1,5 filhos na UE 25) é menor do que o índice de substituição necessário para estabilizar a dimensão da população, se não houver imigração (2,1); ii) a passagem à reforma da geração do baby-boom, que representa um significativo aumento dos seniores a necessitar de apoio financeiro, e iii) a

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tendência para o aumento da esperança de vida à nascença. Prevê-se que a população sênior poderá continuar a aumentar durante 5 ou mais anos até 2050, o que levará a um acréscimo do número de pessoas com mais de oitenta e noventa

anos (CCE, 2006). Em Portugal os resultados apresentados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) (2012) revelam que o fenómeno do duplo envelhecimento da

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população se agravou na última década, devido ao aumento da população sênior e da redução da população. Os indivíduos com 70 ou mais anos representavam 11% da população em 2001 e, em 2011, passaram a representar 14% (INE, 2012).

1.1. Características fisiológicas e psicossociais do envelhecimento

O envelhecimento humano é um processo complexo com muitos domínios, uns que resistem à idade, enquanto outros declinam. Este processo envolve três componentes: i) envelhecimento fisiológico, resultado da crescente vulnerabilidade e de uma maior probabilidade de morrer, chamada de senescência;

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ii) envelhecimento social, relacionado com os papéis sociais e ajustado às expectativas que a sociedade imprime neste grupo etário;

iii) e envelhecimento psicológico, definido pela autorregulação do indivíduo e pela tomada de decisões e opções que visem a adaptação aos processos de senescência e envelhecimento (Paúl, et al., 2005).

O sistema sensorial é afetado de diferentes modos no processo de envelhecimento. O

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olfato, o paladar ou a cinestesia são pouco afetados pelo avanço da idade, mas a audição, a visão e as capacidades motoras são fortemente lesados (Cancela, 2007). O declínio cognitivo associado ao processo de envelhecimento é geralmente caracterizado por diversas alterações (Czaja; Sharit, 2013; Pak; McLaughlin, 2011; Vaz-Serra, 2006): pelo aumento da dificuldade em compreender mensagens longas e/ou complexas e em recuperar termos específicos; por uma maior dificuldade nas

atividades de raciocínio que envolvam a análise lógica e organizada de material abstrato ou não familiar; pelo discurso mais repetitivo; pela dificuldade em selecionar informação; pela diminuição da capacidade de execução das tarefas psicomotoras

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novas e rápidas; pelo prejuízo da memória, especialmente da secundária que se refere à aquisição de nova informação e em repartir a atenção em múltiplas tarefas e, finalmente, por dificuldades no raciocínio indutivo, na orientação espacial, nas aptidões numéricas e verbais e na velocidade percetiva. As alterações das capacidades motoras decorrentes do envelhecimento incluem: tempos de resposta mais lentos; diminuição da capacidade de manter os movimentos contínuos; perturbações na coordenação; perda de flexibilidade; e maior variabilidade

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dos movimentos. Em geral, os seniores são 1,5 a 2 vezes mais lentos do que os adultos mais novos. A incidência de condições crónicas, como a artrite, também

afetam os movimentos. Estas alterações nas capacidades motoras têm uma relevância direta com a utilização do computador (Czaja; Sharit, 2013).

Em Portugal um cidadão é considerado sênior a partir da idade legal da reforma que

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está estabelecida por legislação aos 65 anos. Neste capitulo são utilizados os termos cidadão sênior, sênior ou idosos para referir os cidadãos com mais de 65 anos. De acordo com diversos autores (Czaja; Sharit, 2013; Zheng; Hill; Gardner, 2012) a população sênior não pode ser toda estudada do mesmo modo, precisamente devido aos diferentes fatores decorrentes do envelhecimento, por isso temos normalmente dois grupos, os idosos mais novos (> 65 até aos 75 anos) e os idosos mais velhos (> 75).

Além destas evidências, o techno-ageism também se desenha como um obstáculo à qualidade das atividades desempenhadas pelo cidadão idoso. Este estereótipo

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significa que os idosos são resistentes à utilização das TIC (McMellon; Schiffman, 2002) e, portanto, uma consequência da problemática do ageism (Pires, 2008). Porém, vários estudos atestam que os idosos têm interesse na utilização das TIC (HernándezEncuentra et al., 2009; Seniorwatch, 2008; McMellon; Schiffman, 2002), ainda que com as limitações próprias do processo de envelhecimento.

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1.2. A relação do cidadão sênior com as TIC

A acompanhar o rápido envelhecimento demográfico está a proliferação das novas tecnologias de informação e comunicação na sociedade. Contudo, o impacto das TIC não é semelhante em todos os setores. A nível macro social, por exemplo, essa integração depende de variáveis sociais, históricas e organizacionais, nas quais o indivíduo está contextualizado. Se equacionarmos a situação a um nível micro social, numa abordagem à família enquanto organização, verifica-se que o impacto também difere em cada um dos seus membros: pais, filhos e avós. Essas diferenças resultam das variáveis individuais traçadas pela história de cada sujeito, em constante

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transformação, e do seu contexto de desenvolvimento (Passerino; Bez; Pasqualotti, 2006). Perante uma sociedade cada vez mais tecnológica, às alterações físicas e psicossociológicas decorrentes da idade, adicionam-se a falta de oportunidades de acesso, consequência de variáveis económicas, culturais e educacionais, e a funcionalidade da tecnologia, pouco considerada no desenvolvimento de interfaces usáveis para os idosos, que acabam por excluir o idoso (Pfeil; Zaphiris; Wilson, 2009). Assim, verifica-se que integrar as TIC no quotidiano dos idosos pode revelar-se um

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desafio. O estudo coordenado por Espanha (2011) sobre o modo como a população portuguesa se relaciona com a Internet revela que os indivíduos mais velhos, reformados, sem qualquer nível de ensino, de menores rendimentos e sem contato

com a Internet constituem o perfil infoexcluídos. Ainda, o perfil dos idosos que teremos

daqui por 20 anos serão pessoas com um nível de escolaridade até ao segundo ciclo

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do ensino básico (6 anos de escolaridade) e aponta para situações em que a

existência da Internet apenas responde à necessidade de utilização por parte de outros elementos do agregado familiar, isto é, o perfil da não relação com a Internet. Porém, vários estudos têm reconhecido os benefícios que a utilização das TIC podem trazer ao nível do apoio social (White; Weatherall, 2000; Xie, 2008; Miranda; Farias, 2009; Pfeil; Zaphiris; Wilson, 2009); da melhoria geral do estado mental (Pires, 2008) e do bem-estar do idoso – tanto pelo perfil lúdico quanto informativo (Miranda e Farias, 2009); do reforço da autorrealização e da autoestima (Sales; Guarezi; Fialho, 2006); da diminuição do sentimento de solidão (White et al., 2002), do aumento da qualidade

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de vida (QV) (Leung; Lee, 2005; Kiel, 2005; Pires, 2008; Ferreira, 2010) e do reforço do autoconceito (AC) (Pires, 2008).

Também as teorias do envelhecimento bem-sucedido, que estabelecem como

alicerces do envelhecimento de sucesso um estilo de vida que mantenha o corpo e a mente saudáveis, através de bons hábitos de nutrição, envolvimento em atividades interessantes que desafiem a mente, reforçam a importância da manutenção de um

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sistema de apoio social e da manutenção do AC (Lima, 2004). Neste sentido, facilitar o acesso à interação social, cultural e de lazer é uma necessidade (Santos; Paúl, 2006). A importância do envolvimento em atividades físicas, mentais e sociais na preservação e recuperação do bom funcionamento individual da pessoa idosa é consensualmente bem assumida (Guerreiro, 2005; Vaz-Serra, 2006; Barreto, 2007). 1.3. Estratégias para o ensino das TIC ao cidadão sênior Em relação à motivação para aprender a utilizar computadores existe, no entanto, dados contraditórios que apontam para os idosos serem vistos como ansiosos na

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utilização de computadores e com pouca motivação para realizar tarefas que envolvam a tecnologia (Cutler; Hendricks; Guyer, 2003; Ellis; Allaire, 1999; Wagner; Hassanein; Head, 2010). O esforço exigido para a aprendizagem de utilização de tecnologias é superior no idoso e neste caso a motivação dos participantes é baseada na procura de resposta para a realização de tarefas concretas, mostrando-se interessados nas novas oportunidades e funcionalidades que as tecnologias oferecem e revelando assim uma atitude positiva (Rogers et al., 1998).

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A organização dos materiais de apoio à estratégia de ensino-aprendizagem das TIC para o sênior tem que ser cuidada e pode basear-se nos cinco princípios fundamentais de design instrucional para uma aprendizagem significativa de Merrill (2002: p. 45-51): i)

A aprendizagem acontece quando os alunos são envolvidos na resolução de

problemas do mundo real. Este princípio centra-se na apresentação do problema,

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na sua desconstrução em tarefas com vista a sua resolução, seguindo-se a operacionalização e a consequente ação de viabilização das mesmas. ii)

A aprendizagem acontece quando experiências e conhecimentos já existentes

proporcionam uma base para novos conhecimentos. O desenrolar deste princípio passa por identificar conhecimentos anteriores que possam ser valorizados na nova aprendizagem e estruturar o modo como o novo conhecimento pode ser utilizado; iii) A aprendizagem ocorre quando são apresentadas ao aluno um conjunto de instruções demonstrativas sobre aquilo que deve ser aprendido em vez de simplesmente dizer informações sobre o que deve ser aprendido. O enfoque deste

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principio é demonstrar ao aluno como se resolve o problema e como se realiza a tarefa. Devem também ser apresentados na demonstração diferentes modelos mentais e a possibilidade de generalização para novas situações;

iv) A aprendizagem é promovida quando os alunos são obrigados a utilizar o novo conhecimento ou habilidade para resolver problemas. Os alunos devem ter diversos exemplos e problemas práticos. Para além disso é fundamental que recebam

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feedback enquanto estão a resolver os problemas, de modo a que compreendam os erros, recuperem e evitem erros no futuro; v)

A aprendizagem acontece quando os alunos são incentivados a transferir e

integrar o seu novo conhecimento ou habilidade na vida quotidiana. Este principio permite passar por várias etapas, como a integração, a experimentação, a criação e a reflexão até que o novo conhecimento seja incorporado fora do ambiente de

aprendizagem e incluído nas rotinas quotidianas.

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2. CASOS DE SUCESSO DO ENSINO DAS TIC 2.1. Nas Instituições Particulares de Segurança Social A decisão relativamente à escolha das instituições participantes neste estudo está diretamente relacionada com o Projeto SEDUCE1. O primeiro contato foi realizado de formalmente, por carta, a todas as IPSS do concelho de Aveiro, indicadas pela Segurança Social. Cinco instituições demonstraram interesse em integrar o estudo. A convite das IPSS, realizou-se uma visita guiada pelas instituições a fim de conhecer as

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instalações, fazer o levantamento dos equipamentos informáticos disponíveis e perceber quantos idosos estariam interessados em participar. Destas, selecionaram-se

quatro: o Centro Paroquial de São Bernardo, o Centro Social de Santa Joana Princesa, o Centro Social do Distrito de Aveiro e o Patronato de Nossa Senhora de

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Fátima de Vilar. Estas instituições mostraram uma grande sensibilidade e abertura

para as necessidades da investigação e para a integração das TIC no quotidiano dos idosos. Os critérios de integração dos participantes foram: i) idade igual ou superior a 65 anos; ii) estado cognitivo sem demência; iii) participação voluntária no estudo; iv) e saber ler e escrever.

2.1.1. Característica da amostra

A amostra do grupo de participantes das quatro IPSS era constituída por 22 idosos, 14

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do gênero feminino e 8 do masculino, com idades entre os 66 e os 90 anos, com uma média de idades de 81 anos (M= 81,1; SD=6,5). Quanto ao estado civil, 15 dos participantes são viúvos, 3 são solteiros, 3 são casados e um dos idosos é separado/divorciado. A escolaridade desta amostra é de 4 anos. Profissionalmente e de acordo com a Classificação Portuguesa de Profissões do Instituto Português de Estatística, grande parte dos participantes, 10 idosos, desempenharam funções

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integradas no Grande Grupo 9, isto é, trabalhadores não qualificados. Institucionalmente, 11 dos participantes estão nas IPSS em regime de centro de dia, 10 estão em lar e 1 em serviço de apoio domiciliário. A maioria dos idosos está nas IPSS há pelo menos 4 anos, entre os quais 11 foram orientados para integrar a IPSS

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Projeto SEDUCE – Utilização da comunicação e da informação mediada tecnologicamente em ecologias web (http://www.seduce.pt/ ) – desenvolvido no CETAC.MEDIA - Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e pelo Programa Compete, sob a referência Nº PTDC/CCI-COM/111711/2009.

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por familiares, 7 tomaram a iniciativa, 3 seguiram a indicação de amigos e 1 dos participantes foi orientado pela Segurança Social. Considerando o contexto de utilização das TIC, o inquérito por questionário inicial revela que 14 dos 22 participantes nunca tinham utilizado o computador. Dos 8 que utilizaram o computador, 7 fizeram-no sempre de forma acompanhada, isto é, com ajuda, na própria IPSS ou nas sessões de informáticas promovidas pela sua Junta de Freguesia, desenvolvendo atividades relacionadas com a transcrição de textos ou a

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pesquisa de informação na Internet. 2.1.2. Atividades desenvolvidas e observações durante as sessões

As sessões de utilização das TIC, agendadas com as IPSS, decorreram duas vezes por semana, com uma duração média de 90 minutos cada, desde agosto de 2011. O grupo de participantes por IPSS foi em média de cinco participantes.

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A estratégia ensino-aprendizagem foi planeada de acordo com os princípios referidos (Merrill, 2002), com um conjunto de atividades baseadas em manuais de introdução às TIC (Ribeiro; Barata, 2006; Ribeiro, 2008) e com orientações adicionais de formação e ensino para idosos (Czaja; Sharit, 2013; Gico; Mariz 2009). No entanto, o desenrolar das sessões estiveram sempre dependentes do ritmo de aprendizagem que os idosos

se sentiam confortáveis (Czaja; Sharit, 2013; Pak; McLaughlin, 2011; Marta, 2008; Cancela, 2007; Vaz-Serra, 2006).

As atividades desenvolvidas podem ser divididas em quatro módulos: i) introdução ao computador; ii) texto: escrita e formatação; iii) Internet: navegação e pesquisa; iv) e

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serviços de comunicação: email e Instant Messenger (IM).

No primeiro módulo de formação pretendia-se ensinar a estrutura e funcionamento básico do computador, realizar operações básicas no computador, como ligar, desligar, conhecer e utilizar o teclado, reconhecer a principal terminologia do ambiente Windows e saber utilizar o ambiente de trabalho, os ícones e as janelas. Este módulo

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teve a duração de 6 sessões, entre agosto e setembro de 2011. O segundo módulo compreendia a utilização de um processador de texto,

nomeadamente, o Microsoft Office Word (MOW). Pretendia-se que os utilizadores

conseguissem abrir o programa, abrir um documento já existente, alterá-lo e guardá-lo,

criar novos documentos, inserir texto e formatá-lo. Este módulo pretendia-se ajudar o

utilizador a aumentar as suas competências na utilização do teclado e do rato. Este módulo teve a duração de 12 sessões, entre outubro 2011 e fevereiro de 2012. Durante as sessões, as dificuldades demonstradas pelos idosos foram:

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Manipulação do rato e perceção da sua ação no monitor (Czaja; Sharit, 2013; Sales; Cybis, 2003). A coordenação da motricidade fina; quando não foi conseguida provocou frustração em alguns participantes;



Distinção entre as teclas enter, de espaço e de apagar;



Dificuldade contínua na utilização da tecla Caps Lock e na utilização de duplas teclas para a colocação da pontuação e de acentos;



Confusão na utilização das teclas das letras W e M, e da letra O e do número



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zero “0”; Iniciar a atividade no MOW, em abrir um documento já existente e guardar. Estas

dificuldades

estão

associadas

às

alterações

decorrentes

do

envelhecimento relacionadas com a memória e a aprendizagem (Czaja; Sharit, 2013; Preece et al., 2005; Sales; Cybis, 2003).

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Com o terceiro módulo pretendia-se que os idosos conseguissem iniciar um

programa de navegação, browser, na Web, utilizar um endereço e aceder à informação, identificar e interpretar o vocabulário básico usado (por exemplo página, link, browser, endereço). Os participantes começaram por utilizar alguns motores de procura. Este módulo decorreu de março a maio de 2012 durante 10 sessões. Durante as sessões observou-se que: •

Os idosos mostraram-se surpreendidos, em todas as sessões, pela quantidade e variedade de informação disponibilizada. Como resultado, os participantes sentiram alguma dificuldade na seleção da informação. Uma das

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alterações decorrentes do envelhecimento incide sobre a atenção dividida, interferindo na interação com o computador quando os idosos precisam de ativar a atenção seletiva entre outras opções ou quando são expostos diversos elementos aos quais não conseguem tomar atenção a todos. Além disso, existe um prejuízo na capacidade de perceção, nomeadamente, afetando a capacidade de reconhecerem elementos desorganizados (Sales e

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Cybis, 2003);



Os participantes expressaram desagrado pela forma com a informação aparece listada, referindo que se apresenta desorganizada;



Sentiram dificuldade em perceber quais são as zonas clicáveis e falta de confiança em efetivar a ação de clicar (Czaja; Sharit, 2013);



Na procura livre de informação, as temáticas são as mais diversas. Procuraram informação a religião, viagens, trabalhos manuais, sobre a localidade onde nasceram, temas da atualidade.

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O quarto módulo foi orientado para a utilização de ferramentas de comunicação assíncrona e síncrona, o gmail e o gtalk, respetivamente. Os objetivos eram que os participantes conseguissem criar uma conta de email, ler novas mensagens, responder, apagar, criar novas mensagens e adicionar contatos de forma autónoma. Na utilização de um serviço de comunicação síncrona, o gtalk, pretendia-se que os idosos conseguissem realizar as funcionalidades básicas do serviço como iniciar sessão e estabelecer a comunicação. Era também importante perceber que os

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participantes conseguiam identificar quem e interpretar em o vocabulário utilizado nos diferentes serviços de comunicação. Na utilização do email, foi visível a motivação

expressada pelos idosos, demonstrada pelas palavras que proferiam e pela partilha

emotiva do conteúdo das mensagens recebidas por parte da família, nomeadamente filhos e netos, e de amigos. Este módulo teve a duração de 18 sessões, em junho de

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2012 e de setembro a janeiro de 2013.

As principais observações feitas durante a utilização das ferramentas de comunicação foram: •

Demonstram

receio

em

iniciarem

novas

atividades,

pela

falta

de

conhecimento e medo de errar (Czaja; Sharit, 2013);



Revelam enorme felicidade por receberem mensagens da família e de amigos;



Nunca deixam uma mensagem sem resposta. Respondem sempre, mesmo que com um simples agradecimento;

Dificuldades em memorizar o endereço de email e a palavra-passe. Esta

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dificuldade está relacionada com as alterações na memória e aprendizagem decorrentes do envelhecimento (Czaja; Sharit, 2013; Preece, et al., 2005; Sales; Cybis, 2003);



Dificuldade em dar continuidade às tarefas. A título de exemplo, depois de escreverem uma mensagem, quer no gmail quer no gtalk, os participantes

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raramente clicam em enviar;



Raramente preenchem o campo assunto nos emails enviados, justificando que não percebem o que têm de escrever. Outras vezes iniciam a escrita da mensagem nesta área;



Não se apercebem da existência de anexos na mensagem;



Consideram importante receber feedback quando a mensagem é enviada;



Identificam como abrir e responder a um email, mas raramente o fazem sem receber feedback de confirmação de que estão a fazê-lo corretamente;

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Identificam a finalidade do serviço de comunicação síncrona mas expressam que só é útil se os familiares ou amigos tiverem disponibilidade para comunicar em simultâneo, o que na maioria das vezes não acontece.

Embora se consiga delimitar o período de ensino-aprendizagem de cada um dos módulos no tempo, as atividades não foram desenvolvidas de forma linear. Por exemplo, após cada período de pausa (época natalícia, Carnaval ou Páscoa) e a pedido dos participantes, eram realizadas sessões integradas nos módulos 1 e 2.

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2.1.3. Balanço das atividades desenvolvidas

Analisando globalmente as observações ao longo do processo de investigação, conclui-se que é possível integrar as TIC no quotidiano de idosos que estão

institucionalizados e contribuir para a sua realização pessoal. Durante as sessões foi visível a motivação dos idosos para a utilização das TIC e o seu interesse e esforço

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para a inclusão de mais um saber nas suas vidas. Acredita-se que estes participantes,

desde cedo, se aperceberam das vantagens associadas à utilização das TIC, mesmo que com conhecimento básico sobre as mesmas. O facto de permitirem a troca de mensagens escritas com familiares a morarem em locais distantes despertou nos participantes uma motivação mais visível e uma abertura maior para experimentarem outros serviços, com fins comunicativos ou de entretenimento.

Com a aplicação de um inquérito por questionário no final dos módulos verificou-se que os idosos manifestaram que a participação nas sessões de utilização das TIC fomentou a sua participação para novas atividades que lhes eram propostas dentro da

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IPSS, permitiu a concretização de uma nova aprendizagem, comunicar com membros

da família e amigos que se encontram geograficamente distantes e aumentar a destreza dos movimentos das mãos.

2.2. No curso de formação da Universidade de Aveiro (UA)

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No âmbito do programa “Encontros com a ciência”, teve lugar na Universidade de Aveiro, a primeira formação dirigida ao público com mais de 50 anos. A primeira edição da formação “Introdução ao Multimédia” decorreu durante os meses de

Dezembro, Janeiro e Fevereiro de 2012/2013, com um total de 10 sessões com a duração de 90 minutos cada. Com o propósito de promover a aprendizagem contínua permanente ao longo da vida (Czaja; Sharit, 2013, Comissão das Comunidades

Europeias, 2000) e consolidar o domínio e confiança pessoal na utilização das TIC por parte dos público sênior (Leung; Lee, 2005; Kiel, 2005; Pires, 2008; Ferreira, 2010), a formação teve como missão dotar os participantes de competências básicas sobre o

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funcionamento do computador, questões de processamento de texto e imagem, Internet e ferramentas de comunicação e informação.

2.2.1. Característica da amostra A formação contou com a participação de 14 participantes (50%, N=7 do gênero masculino e 50%, N=7 do género feminino) com idades compreendidas entre os 54 e

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78 anos, com uma média de 64 anos (M=64.9, SD=7.97). A maior parte da amostra

tem 12 ou mais anos de escolaridade, através de uma licenciatura (42.9%, N=6) ou do

ensino secundário (28.6%, N=4), é natural de Aveiro (64.3%, N=9), casado(a) (71.4%, N=10), com 2 filhos (50%, N=7), sem (42.9%, N=6) ou com um neto (28.6%, N=4).

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De modo a conhecer os dados demográficos e corresponder as atividades desenvolvidas às motivações e contexto dos participantes, aplicou-se um questionário inicial e entrevista não estruturada sobre (a) A utilização das Tecnologias da

Informação e Comunicação e; (b) Motivação para a formação “Introdução ao Multimédia”.

a. Utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação

Relativamente à posse do equipamento tecnológico, 78.6% (N=11) dos formandos possui computador em casa, 57.1% (N=8) têm portátil, 92.9% (N=13) têm ligação à Internet e impressora, 85.7% (N=12) têm scanner e máquina fotográfica, 64.3% (N=9)

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têm pen drive enquanto que 21.4% (N=3) têm câmara de vídeo e webcam. Apenas 14.3% (N=2) têm videojogos e tablet. Todos os participantes (100%, N=14) afirmam ter

telemóvel.

A maior parte dos formandos utiliza o computador sozinho e acompanhado, diariamente (64.3%, N=9). No que respeita a utilização de serviços de comunicação,

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aproximadamente 72% (N=10) dos formandos comunica através do computador, sendo que as ferramentas mais utilizadas são o chat do Facebook (35.7%, N=5) e o

Skype (28.6%, N=4). b. Motivação para frequentar a formação ‘Introdução ao Multimédia’

As atividades que os formandos mais gostam de fazer no computador são: procurar informação (85.7%, N=12) e enviar e-mails (57.1%, N=8). A sua motivação para utilizar o computador é mediana (35.7%, N=5) ou elevada (28.6%, N=4). Estes são movidos pela possibilidade de: (a) partilhar pensamentos, comentários ou fotografias (85.7%,

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N=12); (b) manter contato com pessoas que estão longe (85.7%, N=12) e (c) receber informação na área das TIC (71.4%, N= 10). Na formação “Introdução ao Multimédia”, as atividades que gostariam de concretizar passam por: (a) Organizar fotografias/vídeos (71.4%, N=10); (b) Conversar por mensagem escrita/áudio/vídeo (64.3%, N=9); e (c) Ver imagens de lugares (países, cidades, monumentos, entre outros) (64.3%, N=9). A Tabela 1 reúne as suas motivações em participar na formação.

Participantes P1 P2

Motivação

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Tabela 1. Motivação dos formandos para a formação “Introdução ao Multimédia”

Na sua atividade profissional, usava o Autocad. Agora quer utilizar outras ferramentas. Fazer algo diferente. Gostava de se ambientar com a utilização da Internet e ferramentas de pesquisa. Gostaria de fazer edição de vídeo e organizar/manipular fotografias.

P4

Sabe utilizar o Word e Excel. Gostaria de conhecer gente nova e ser independente na utilização das TIC (sem estar dependente da ajuda da neta).

P5

Gostaria de organizar fotografias das suas viagens.

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Quer consolidar conhecimentos.

P7

Gostava de aprender a utilizar as tecnologias e a proteger-se de vírus.

P8

Sentir-se confiante com a utilização das tecnologias de informação e comunicação.

P9

Guardar texto, imagens e som. Organizar ficheiros.

P 10

Aprofundar conhecimentos – tratamento de imagens, guardar emails.

P 11

Aprender a utilizar as tecnologias da informação e comunicação para comunicar com as netas e a família que está no estrangeiro.

P 12

Saber o que é um computador e o que envolve.

P 13

Aprofundar conhecimentos na utilização do software e pesquisa na Internet. Utilizar a Internet, os serviços de comunicação mediada por computador e processamento de texto.

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P3

P 14

Pelo que se pode constatar na Tabela 1, há uma grande variedade nas motivações

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que os formandos tinham em relação à formação bem como diferentes níveis de conhecimento no uso das Tecnologias de Informação e Comunicação. 2.2.2. Atividades desenvolvidas

A formação “Introdução ao Multimédia” compreendeu os seguintes módulos:



Módulo 1. Introdução ao computador e suas funcionalidades em que foi feita uma introdução ao computador e as suas funcionalidades, a organização de informação, o sistema operativo e periféricos.

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Módulo 2. Introdução ao multimédia: processamento de texto e imagem. Neste módulo procedeu-se à apresentação do conceito multimédia, processamento

e

edição de texto e imagens. •

Módulo 3. Internet: Pesquisa e tratamento de informação em que conceitos como a Internet, vantagens da utilização, a navegação e pesquisa em páginas Web, tipo de ligação, favoritos e histórico, número de ocorrências e utilização do Google maps foram abordados. Módulo 4. As redes sociais e as ferramentas de comunicação aborda o

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conceito de rede social, os riscos, que cuidados se deve ter e como funcionam.

Os módulos tiveram uma duração entre 2 a 3 sessões conforme o ritmo de aprendizagem dos participantes. Para cada um dos módulos, procedeu-se à exposição dos conceitos com recurso a apresentações Power point e debates estimulados no

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Módulo 3 e 4 (utilização da Internet e das redes sociais). Para além disso, a consolidação e retenção do conhecimento foram fomentados através da concretização de exercícios de aplicação e mini - desafios para os que estavam mais avançados ou

que queriam aprofundar determinado assunto e esclarecer as dúvidas na sessão seguinte. É de referir que inerente às apresentações e fichas de trabalho que continham os exercícios e desafios, foi entregue aos participantes um roteiro explicativo em texto e com print screens do que foi abordado na aula e era necessário saber para completar os exercícios e desafio.

2.2.3. Balanço das atividades desenvolvidas

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Apesar das diferenças de alguns conteúdos, de idades e do nível de escolaridade em relação ao caso anterior, de ensino das TIC nas Instituições Particulares de Segurança Social, os problemas identificados pelos seniores no uso das TIC nesta ação de formação são semelhantes, reforçando os problemas detalhadamente listados na secção 2.1.2.

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Após a concretização das atividades, os participantes avaliaram a formação relativamente (i) ao seu nível de satisfação, (ii) influência das sessões de formação na sua vida, (iii) aspectos positivos e (iv) negativos. É de constatar que no curso das atividades desenvolvidas houve quatro desistências por motivos de saúde. Deste modo, dez (71.4%, N=10) participantes preencheram o questionário de avaliação, com o objetivo de recolher a sua opinião sobre a formação. Relativamente ao nível de satisfação por frequentar as sessões de formação, os participantes revelam estar satisfeitos (42.9%, N=6) ou muito satisfeitos (28.6%, N=4). Do mesmo modo, os participantes referem que as sessões de formação influenciaram

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(42.9%, N=6) ou influenciaram muito (28.6%, N=4) a sua vida, contribuindo com maior conhecimento informático, familiaridade e habilidade com o computador. Estes níveis de satisfação e influência foram classificados utilizando uma escala likert (de 1 a 5). Os aspetos positivos da formação mais citados foram a capacidade pedagógica, abordagem diversificada e o apoio, contato e supervisão de professores e colaboradores. No que concerne os aspetos negativos, os participantes referem a falta

2.3. Numa Universidade Sênior

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de tempo e o número reduzido de sessões.

A disciplina de Informática é uma das ofertas formativas que a Universidade Sênior de Ermesinde (USE) destaca e proporciona aos seus participantes devido ao papel de relevo que as tecnologias de informação e comunicação têm na atual sociedade

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tecnológica. A USE surgiu da vontade dos membros da direção da AGORARTE, como fruto da necessidade de criar condições para que os idosos dos centros de dia voltassem a sentir-se úteis à sociedade, ativos, dinâmicos e confiantes nas suas potencialidades e capacidades. Da mesma forma que Goodman, Syme e Eisma

(2003), num estudo com mais de 350 seniores verificaram que, a forma mais comum de aprender a utilizar um computador é pelo recurso a formação, também a USE privilegia esta forma de contato com a população sênior. 2.3.1. Característica da amostra

Embora o número de utilizadores de Internet com idade superior a 65 anos esteja a

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aumentar, ainda não é possível explicar as razões pelas quais a utilização dos computadores por parte dessa população é inferior à utilização dos computadores pelas gerações mais novas (UMIC, 2010). Associado à idade surge também o conceito de ansiedade informática (Wagner et al., 2010) quer seja porque não existem

competências técnicas que possibilitem o uso rápido da tecnologia quer seja por

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questões físicas limitadoras. O acesso à tecnologia pode ser limitador para os seniores, uma vez que têm diferentes necessidades quando comparados com utilizadores mais novos que resultam essencialmente de aspetos físicos e cognitivos naturais que se vão alterando com a idade e que e começam a notar-se a partir dos 45 anos (Hawthorn, 2000). Esta diferença é também explicável pelo facto de as gerações mais novas estarem sujeitas a uma exposição permanente praticamente desde o início do seu percurso de vida, em que os computadores e as TIC quase fazem parte do seu dia-a-dia, e não precisando praticamente de adaptação já que acabam por ser

processos quase naturais, ao contrário dos mais velhos que só numa fase adiantada da sua vida são confrontados com as novas formas de comunicar.

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O recurso à tecnologia está relacionado com as variáveis demográficas, acesso à tecnologia e baixa ansiedade informática (Morrell; Mayhorn; Bennett, 2000; Selwyn et al., 2003). Contudo, a falta de conhecimentos e a dificuldade em aceder a formação também impede o acesso à tecnologia. As experiências realizadas com recurso a formação direcionada a idosos mostram que a atitude perante a tecnologia é positiva. Morris (1992) observou que a postura muda num curso de introdução à informática, Segrist (2004) indica também que depois de um curto período de formação e de acontecia no início da experiência.

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utilização da internet, a atitude dos participantes é claramente mais positiva do que A formação na USE realizou-se entre outubro de 2012 e junho de 2013 e foi preparada para um grupo heterogéneo que constituiu uma amostra composta por 12 idosos

alunos da aula de informática, com idades compreendidas entre os 60 e os 83 anos,

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uma média de 67 anos (M=67,33, SD= 7,33), do género masculino (41,7%, N=5) e do género feminino (58,3%, N=7). A maior parte da amostra tem mais de 12 anos de

escolaridade (66,7%, N=8) e os restantes elementos da amostra têm menos de 9 anos de escolaridade (33,3%, N=4) .

2.3.2. Atividades desenvolvidas

O projeto formativo desenvolvido na USE pretendeu preparar os alunos para a utilização das TIC num contexto de partilha de informação dando principal relevância à utilização das redes sociais. Durante um período de 9 meses foram desenvolvidas

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sessões de trabalho com os participantes, com uma periodicidade semanal e com a duração de uma hora.

No primeiro módulo - Segurança na internet e proteção de dados pessoais, com duração de 6 sessões (outubro de 2012 a novembro de 2012), pretendia-se

desmistificar as dúvidas existentes em relação à segurança do correio eletrónico, ao

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conceito de palavra-chave, sítios seguros, mensagens de phishing, antivirus e Mallware. Durante as sessões as principais dificuldades demonstradas pelos idosos estavam diretamente relacionadas com o controlo da informação pessoal que pode ser disponibilizada na internet e paralelamente com: •

A memorização das palavras-chave;



A identificação do remetente de correio eletrónico como sendo fidedigno;



A identificação de sítios seguros através do endereço.

O segundo módulo – As redes sociais –Facebook, realizado em 10 sessões (novembro de 2012 a janeiro de 2013), pretendia dar resposta a uma das principais solicitações dos alunos e visava sobretudo aprender a criar o perfil de utilizador,

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ajustar as políticas de privacidade no perfil, encontrar amigos, publicar na cronologia e escrever comentários nos murais dos amigos, criar e participar em grupos, enviar mensagens privadas, partilhar fotografias e criar álbuns, partilhar vídeos e jogar. Aqui as dificuldades encontradas foram: •

O receio de experimentarem novas funcionalidades ou iniciarem novas atividades (Czaja; Sharit, 2012), sem recorrerem à validação de alguém mais experiente, por manifesta insegurança; Impossibilidade de se concentrarem numa atividade em concreto, pela

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constante atualização da informação e pela existência de diferentes áreas com diferentes possibilidades de interação (Czaja; Lee, 2007).

No terceiro módulo - Ferramentas de manipulação de imagem – Picasa, a decorrer em

4 sessões (durante o mês de fevereiro de 2013), pretendia-se ensinar a resolver

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pequenos problemas recorrendo a efeitos de imagens, organizar as imagens no computador, partilhar as imagens e distinguir os formatos das imagens. Em concreto os alunos sentiram dificuldades em: •

Alternar entre aplicações, nomeadamente quando a aplicação em que estão a trabalhar os obriga a interagir com o sistema operativo;



A manipulação do rato e perceção da sua ação para realizar atividades em que a precisão é obrigatória provocou alguma frustração nos alunos que apresentam mais limitações físicas (Sales; Cybis, 2003; Czaja; Lee, 2007;

Czaja; Sharit, 2012).

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O quarto módulo – A construção de um blogue – Blogger vs Tumblr, com duração de 8 sessões (março de 2013 a abril de 2013), pretendia ensinar como proceder à criação de um blogue recorrendo a duas opções existentes no mercado, definir o tema, formatar o texto (inserir hiperligações, imagens e vídeos) e escrever mensagens. Explorou-se ainda o conceito de seguidor e a definição de políticas de privacidade. Os

alunos começaram por utilizar o Blogger passando depois para o Tumblr. Durante as

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sessões observou-se que: •

Os idosos sentiram alguma dificuldade na seleção da informação provocada pela diminuição da capacidade de reconhecer elementos desorganizados e com uma hierarquia desconhecida (Sales; Cybis, 2003);



Existe dificuldade em dar continuidade às tarefas, por exemplo escrevem o comentário mas não publicam (Barnard et al., 2013).



Com a utilização do Tumblr as dificuldades diminuíram, uma vez que a oferta de opções de configuração é manifestamente inferior reduzindo a quantidade de informação apresentada.

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No quinto módulo – Ferramentas de edição de vídeo – Windows Movie Maker, realizado em 7 sessões (abril de 2013 a junho de 2013), apresentava como objetivo final a produção de vídeos para colocação no youtube. Neste sentido a formação incidiu sobre o conceito de frame, a legendagem do vídeo, os efeitos de transição, os diferentes formatos de vídeo e a utilização do youtube para partilha de vídeos com recurso a criação de um canal. Neste módulo destacam-se como principais dificuldades: O elevado número de interações necessárias para colocar um vídeo no youtube (Barnard et al., 2013); •

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A alternância entre aplicações, nomeadamente quando inserem imagens ou ficheiros áudio.

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2.3.3. Balanço das atividades desenvolvidas

No final das sessões de trabalho os alunos da USE foram convidados a

responder a um inquérito que permitiu perceber o nível de satisfação com a formação destacando os aspetos positivos e negativos nas sessões. Salienta-se ainda que constrangimentos logísticos, nomeadamente no que concerne às limitações do espaço físico onde as sessões eram ministradas, impossibilitaram aceitar novos alunos que manifestaram interesse em participar na formação.

Não existiu qualquer desistência e destaca-se o baixo grau de absentismo sendo a média de presenças nas sessões superior a 11 (N=11,4). A satisfação dos alunos,

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medida com recurso a uma escala de likert, que compreende valores entre 1 e 5 indica que os alunos ficaram muito satisfeitos (50%, N=6) ou satisfeitos (33,3%, N=4) destaca-se ainda que (83,3%, N=10) revelam que se sentem mais confiantes na

utilização das TIC.

Do ponto de vista positivo os alunos destacaram a disponibilidade do professor

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e a abordagem flexível do programa que permitiu explorar as TIC de uma forma mais descontraída e casual, inibindo assim alguma pressão associada à exploração de novas ferramentas. Finalmente do ponto de vista negativo foi salientada a falta de tempo para abordar outros temas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo revela que os diferentes contextos de utilização das TIC e a escolaridade dos participantes orientam as estratégias de ensino, aprendizagem e motivação para saber mais sobre como usar as TIC. Nos casos apresentados neste capítulo sobre o ensino das TIC (nas IPSS, no curso de formação da UA e na Universidade Sênior de Ermesinde), apesar da sua heterogeneidade em termos das capacidades dos participantes, resultantes de um

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envelhecimento fisiológico, social e psicológico, identifica-se um denominador comum – o planeamento adequado das atividades e realizar para o público-alvo em questão.

Existem algumas estratégias de preparação das atividades que ajudam a construir bons exemplos que são fundamentais para um programa de sucesso:

o discurso do professor/formador deve ser cuidado baseado em mensagens

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curtas, com termos simplificados, pouca linguagem técnica;



apresentar

os

problemas

subdivididos

em

tarefas

simples

de

fácil

compreensão, uma vez que a consolidação e a retenção de conhecimento podem ser fomentados pela concretização de exercícios práticos;



dar importância ao sênior no decurso das atividades, valorizando o que é por si aprendido em detrimento do ritmo da sua aprendizagem;



fornecer sempre feedback durante as atividades, de um modo geral, os seniores têm medo de errar pelo que torna-se essencial providenciar feedback contínuo e positivo;

fornecer materiais de apoio, preferencialmente em papel, para orientar

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atividades posteriores fora do contexto da formação, pois as dificuldades com a memória a curto prazo podem ser ultrapassadas com a recapitulação de conhecimentos, roteiros explicativos, print screens e demonstrações;



manter e estimular o interesse e a motivação dos participantes apresentando

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tarefas adequadas ao ritmo de aprendizagem.

Para além disso é importante fomentar atividades que encorajam as interações sociais, a info-inclusão, o incremento da sua autonomia e a participação na sociedade, motivadoras também para adesão à aprendizagem ao longo da vida. Os cidadão seniores no futuro têm com certeza os mesmos problemas decorrentes do

processo de envelhecimento, mas podem também vir a ter diferentes níveis educacionais. Como desenvolvimentos futuros, falta compreender como é que estes desafios e motivações são respondidos através de estratégias de ensino como o e-

learning ou b-learning.

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AGRADECIMENTOS O nosso agradecimento é dirigido aos participantes das quatro IPSS referidas no estudo, da Formação “Introdução ao Multimédia” na Universidade de Aveiro e da Universidade Sênior de Ermesinde. O estudo é suportado pelo projeto SEDUCE

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(PTDC/CCI-COM/111711/2009) COMPETE, FEDER, FCT de Lisboa, Portugal

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