O ensino de Física e as perspectivas de futuro dos alunos de uma escola pública da cidade de Amargosa - Bahia - Brasil

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XXI Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2015

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O ENSINO DE FÍSICA E AS PERSPECTIVAS DE FUTURO DOS ALUNOS DE UMA ESCOLA PÚBLICA DA CIDADE DE AMARGOSA – BAHIA – BRASIL Lucas Guimarães Barros1, Glênon Dutra², Jadson N. de Jesus³ 1

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia/Centro de Formação de Professores/[email protected]

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Universidade Federal do Recôncavo da Bahia/Centro de Formação de Professores/[email protected]

Resumo Este trabalho é resultado de uma pesquisa desenvolvida dentro do contexto do PIBID – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – em um colégio público na cidade de Amargosa – BA, cujo objetivo foi o de identificar e analisar as perspectivas sobre o futuro do alunado do Ensino Médio do mesmo colégio, e, ao mesmo tempo, comparar os resultados obtidos com as crenças do professor de física sobre a sua prática de ensino. Os resultados mostram que tais perspectivas, tidas pelos alunos, apontam para o papel social da escola como instituição formadora de cidadãos e indivíduos aptos a enfrentar o mercado de trabalho, após a conclusão do Ensino Médio. Concepção esta paralela à de preparar o aluno para seguir a carreira de estudos no Ensino Superior. Tais resultados vão de encontro com as crenças e concepções do professor de física da escola sobre como deve ser o ensino de física no ensino médio, sendo necessária a reflexão sobre a prática desenvolvida pelo professor em sala de aula. Palavras-chave: Educação Básica; Universidade; Ensino de Física. Introdução Esta pesquisa é oriunda das atividades realizadas no contexto do PIBID – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – no ano de 2012, numa das escolas atendidas pelo Programa. Foi nos solicitada, por um dos professores de física da escola, uma lista de exercícios que envolvesse a aplicação de fórmulas matemáticas para resolução de problemas de vestibular, sob a justificativa de que os seus alunos estavam se preparando para os exames vestibulares no final daquele ano, para as universidades estaduais do Estado da Bahia1. Vestibulares estes que, na época, caracterizavam-se por questões de teste tradicionais, exigindo um ferramental matemático profundo, com pouca contextualização e mera aplicação de fórmulas. Entendendo que as concepções de ensino e aprendizagem do professor orientam a sua prática, acreditamos que sua solicitação seria reflexo da visão de Ensino Médio como mera etapa preparatória para a realização de certo tipo de 1

Até o ano de 2012, as universidades estaduais do Estado da Bahia adotavam os exames vestibulares como forma de ingresso nos cursos de graduação. ____________________________________________________________________________________________________ 26 a 30 de janeiro de 2015

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exame vestibular. Em se tratando do ensino de física, tal visão concretizar-se-ia em aulas tradicionais, caracterizadas pela resolução de problemas descontextualizados e uso exaustivo de técnicas de memorização. Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2007) caracterizam essa visão como uma espécie de “senso comum”, marcada por atividades que priorizam regrinhas e receituários; (...) questões pobres para prontas respostas igualmente empobrecidas; uso indiscriminado e acrítico de fórmulas e contas em exercícios reiterados; tabelas e gráficos desarticulados ou pouco contextualizados relativamente aos fenômenos contemplados; experiências cujo único objetivo é a “verificação da teoria”. (DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2007, p. 32).

Destarte, este trabalho objetiva analisar se tal prática, parametrizada pelas crenças do professor sobre o ensino de física, condiz com as expectativas dos alunos no que diz respeito aos objetivos do Ensino Médio e às suas perspectivas de futuro. Metodologia A pesquisa desenvolvida para este trabalho é de natureza qualitativa, sendo esta uma “atividade sistemática orientada à compreensão em profundidade de fenômenos educativos e sociais” (ESTEBAN, 2010, p. 127). A técnica empregada para análise dos dados desse tipo de pesquisa é a análise de conteúdo (BARDIN, 2009). Como instrumento de coleta de dados, elaboramos um questionário contendo 25 questões (11 questões abertas e 14 fechadas). Dentre algumas vantagens do uso desse instrumento para coletar os dados, encontram-se: i) a inclusão do maior número de sujeitos participantes da pesquisa; ii) a economia de pessoal necessário à aplicação do questionário; iii) a liberdade do sujeito da pesquisa para responder às questões, usando a linguagem própria ao emitir suas opiniões (LAKATOS, MARCONI, 2003, p. 202-204). Após a elaboração, o questionário passou pelo processo de validação de conteúdo ao ser aplicado para uma turma de outra escola da cidade. Após as devidas correções, o questionário foi finalmente aplicado na escola pesquisada. Para isso, a escolha dos estudantes foi realizada com base em uma amostra não probabilística. Nesse tipo de amostra, a escolha dos elementos é estabelecida de acordo com alguns critérios definidos pelo pesquisador (FILHO, 2013, p. 7). Embora se comporte como um processo aleatório – na escolha dos indivíduos da população – esse tipo de amostra se caracteriza pela escolha de critérios característicos da população, que serão utilizados para a escolha dos indivíduos da pesquisa. Na referida pesquisa buscou-se delimitar critérios, para escolha dos estudantes, como: i) alunos dos três turnos do ensino médio, e; ii) quantidade de turmas por série a ser pesquisada. Devido ao processo de escolha não ser probabilístico, não é possível calcular o erro desse tipo de amostra. Vale-se, aqui, do bom senso do pesquisador na coleta e análise dos dados. Como parte da aplicação do instrumento de coleta de dados, os alunos da amostra receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, cujo objetivo é formalizar a participação do aluno na pesquisa, caso este aceite participar voluntariamente. Sendo assinado pelos pais ou responsáveis, no caso do aluno ser menor de idade, ou pelo próprio aluno, sendo este maior de idade.

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Discussão dos resultados Para esta pesquisa, participaram 37 alunos do ensino médio (modalidade regular), dos três turnos. Inicialmente, a expectativa era de uma participação muito maior dos alunos na pesquisa. Todavia, alguns fatores contribuíram seriamente na redução da quantidade de participantes, tais como: não comparecimento dos alunos no dia e horários marcados; esquecimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (vários alunos que levaram o documento para casa acabaram não trazendo de volta, lido e assinado pelos pais ou responsáveis; houve inúmeras reincidências); além disso, a aplicação do questionário ocorreu em um momento em que escola estava retornando às atividades após a greve dos professores da rede estadual de Ensino na Bahia, no ano de 2012. Os dados foram organizados em dois temas2, a saber: 1) Perfil dos alunos, e; 2) A escola e as perspectivas dos alunos. Sendo que, no segundo tema, foram agrupadas as seguintes categorias: i) Importância da escola atribuída pelos alunos; ii) Perspectivas futuras tidas pelos alunos; iii) Local (instituição de ensino) que os alunos, que pretendem ingressar no ensino superior, desejam ingressar, e; iv) Formação recebida pelos alunos na escola em que estudam. Com o objetivo de preservar a identidade dos sujeitos da pesquisa, os nomes foram substituídos por “Aluno”, seguido da numeração. 1) Perfil dos alunos Do total de alunos pesquisados, 57% têm idades entre 16 e 18 anos. O percentual de alunos menores de 16 anos é de 19%, o mesmo percentual dos alunos com idade entre 19 e 20 anos. Já os alunos com mais de 20 anos somam 5% dos alunos da pesquisa. O colégio possui uma população majoritariamente jovem nos três turnos (76%). Apenas no turno noturno, o percentual de alunos com idade superior a 20 anos é maior. No que se refere à escolaridade dos pais dos alunos, 11% destes não frequentaram a escola, 49% possuem apenas o ensino fundamental, 22% possuem o ensino médio, 10% possuem ensino superior e 8% não responderam à pergunta. Este resultado nos chama a atenção para o suporte dado pelos pais dos alunos, durante o tempo em que permanecem na escola. Em se tratando da renda salarial familiar mensal, 51% das famílias dos alunos possuem renda salarial mensal de até 01 salário mínimo; 30% ganham entre 1,5 e 2 salários mínimos; 8% das famílias ganham de 2 a 4 salários mínimos por mês; 3% das famílias possuem renda salarial mensal maior que 4 salários mínimos e 8% dos alunos não responderam à questão . 2) O contexto da escola Nesta categoria, buscamos saber dos alunos qual a importância de passar pela escola, as perspectivas futuras ao deixarem o ensino médio, e, finalmente, o cenário atual da formação recebida por eles na mesma escola. Para a categoria i) – Importância da escola atribuída pelos alunos – as respostas foram agrupadas na tabela 1, que apresenta a frequência para as respostas mais comuns, encontradas 2

Os temas foram definidos a posteriori, quando finalizamos a análise dos dados.

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nos questionários. 2.1) Importância da escola atribuída pelos alunos Tabela 1 – Respostas da questão: “Qual a importância de se passar pela escola?”

Respostas Obtenção de conhecimento Preparação para o mercado de trabalho Exercício da cidadania Entrada na universidade Conclusão do ensino médio Não respondeu

Frequência 23 12 07 06 01 04

Fonte: Autores

a) Obtenção de conhecimento Muitos alunos (62%) atribuíram à escola o papel de “fonte” de conhecimento. A expressão “obtenção do conhecimento”, apresentada na tabela 1, foi cunhada pelos próprios respondentes da pesquisa, e vai de encontro às concepções sobre construção do conhecimento apresentadas na literatura. Na visão desses alunos, a escola deve lhes assegurar uma formação voltada para o futuro, através da experiência vivida em seu ambiente, proporcionando a aquisição de conhecimentos e habilidades necessárias à manutenção desse aprendizado. Oliveira (2010), entretanto, questiona o cenário da formação recebida pelo aluno na escola, e considera ineficiente tal processo. (...) A velocidade das mudanças tecnológicas no trabalho [resultam] na impossibilidade das escolas renovarem seus equipamentos na mesma velocidade que as empresas. (...) Oferece-se aos jovens uma formação aligeirada por meio de cursos inconsistentes do ponto de vista profissional e tecnológico, pois não fundamentam as operações práticas em uma visão social e nem em uma base científica adequada. (OLIVEIRA, 2010, p. 273).

Um processo formativo eficiente constitui-se como desafio e com a ressalva de que este, necessariamente, não deve ser objetivo do ponto de vista unicamente voltado para o mercado de trabalho, mas muito mais amplo e profundo do que o que é demandado por este (ZIBAS, 2005, p. 26). b) Preparação para o mercado de trabalho Já 32% dos estudantes associaram a importância da passagem pela escola ao requisito para ingresso no mercado de trabalho. Para ter conhecimento e instruções ou conhecimento para futuramente uzarmos [sic] na faculdade ou no trabalho. (Aluno 05).

Em se tratando do cenário atual, marcado pela rápida evolução tecnológica e pelas desigualdades sociais, uma das maiores preocupações dos jovens da escola é com relação ao seu futuro. As obrigações e responsabilidades que os aguardam, e as que já são assumidas no presente, constituem-se fonte de preocupação primária (ARIOTTI, 2007, p. 271). Desta forma, esses alunos consideram a escola como instituição preparatória para o mercado de trabalho. No entanto, tendo como pano de fundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996, esta ____________________________________________________________________________________________________ 26 a 30 de janeiro de 2015

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concebe o Ensino Médio como etapa de formação ampla, cujo objetivo primordial é o desenvolvimento do sujeito para “o exercício da cidadania” (BRASIL, Lei 9.394/96, de Dezembro de 1996). Bem como deverá ser capaz de “fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (Idem). O Ensino Médio tem, portanto, o duplo papel de formar o cidadão capaz de avaliar situações e tomar decisões de interesse público e particular e prepará-lo para o ingresso, permanência e desenvolvimento de sua vida profissional, permitindo o prosseguimento para novas etapas de formação. c) Exercício da cidadania Já 19% dos alunos atribuíram à passagem pela escola ao aprendizado em cuja ética e a cidadania são fatores valorizados e trabalhados no ambiente escolar, onde o aluno conclui o Ensino Médio com uma “base” moral. Para aprender o que é certo e é errado... (Aluna 04)

d) Entrada na universidade Um número menor de estudantes (16%) atribuiu à escola a função de preparar para o vestibular. Isto é, há uma compreensão do processo formativo vivenciado por eles na escola com o objetivo de priorizar a aprovação no vestibular. Essa visão é, inclusive, corroborada pela crença do professor que auxiliamos. Apenas um aluno assinalou a importância da escola para conclusão do ensino médio, sem justificar, porém, como esse processo se relaciona com o próprio sujeito. Os demais alunos (11%), não responderam à pergunta. 2.2) Perspectivas futuras Nesta categoria, os alunos responderam à seguinte questão: O que você pretende fazer depois que concluir o ensino médio? Em resposta, 32% dos alunos afirmaram que pretendem trabalhar e prestar vestibular; 30% disseram que pretendem trabalhar, fazer cursinho e prestar vestibular. Já 13% dos alunos disseram que pretendem apenas trabalhar. Os 25% restantes afirmaram que pretendem fazer cursinho e prestar vestibular. Os resultados do perfil socioeconômico dos alunos apontam que a grande maioria destes são oriundos de famílias humildes, cuja renda salarial oscila entre menos de 1 salário mínimo até 1,5 salários mínimos por mês. Desta forma, muitos deles não têm condições de pagar cursinhos preparatórios, e necessitam trabalhar para pagar o curso preparatório. Além disso, muitos desses alunos também acabam trabalhando, para poder contribuir com a renda salarial das suas famílias. 2.3) Para onde os alunos que querem ingressar no ensino superior desejam ir Dos 32 alunos que afirmaram desejar ingressar no ensino superior, 22 destes (69%) disseram que pretendem entrar na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB –, além de 12 alunos (38%) assinalarem que pretendem ingressar na Universidade Federal da Bahia – UFBA. Contrariando a crença do professor sobre o interesse dos seus alunos nos vestibulares das ____________________________________________________________________________________________________ 26 a 30 de janeiro de 2015

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universidades estaduais, a maioria destes assinalou desejar ir para as universidades federais. Este resultado nos chama a atenção para o fato de que essas instituições (UFBA e UFRB) utilizam o ENEM para o ingresso em seus cursos de graduação3. Uma vez que o ENEM objetiva diagnosticar a proficiência do aluno do Ensino Médio, norteado por uma matriz de competências e habilidades, este se diferencia dos vestibulares tradicionais, cujas provas, muitas vezes, supervalorizam a memorização de fórmulas e conceitos, atribuindo uma nota baseada na quantidade de acertos que o aluno obteve na prova. 2.4) Formação recebida na escola Para esta categoria, fizemos a seguinte pergunta aos alunos: “Você acredita que a formação que vem recebendo no ensino médio é suficiente para entrar na universidade? Justifique”. As respostas obtidas encontram-se na tabela abaixo. Tabela 2 – Respostas obtidas dos alunos

Sim (12)

Não (17)

Justificativa

Frequência

Justificativa

Frequência

Qualidade do ensino é boa Não justificou

11

Qualidade do ensino é ruim Problemas na escola Não justificou

12

01

01 04

Não respondeu à pergunta (08) Fonte: Autores

Aproximadamente 46% dos alunos mostraram-se insatisfeitos com a formação recebida na escola. Na opinião destes, as condições precárias da escola pública, as interrupções das aulas por motivos de greves e paralisações, além da falta de cobrança no ensino foram os principais motivos que contribuíram para a insatisfação do processo formativo vivenciado por eles. Dos estudantes que pretendem entrar na universidade, vários deles afirmaram a necessidade de recorrer a cursinhos para complementar a formação, obtendo desempenho suficiente para entrar na universidade. Outros estudantes relacionam a precariedade da formação recebida com o baixo desempenho nos processos seletivos das universidades, eliminando o estudante da concorrência por uma vaga na universidade. A maioria dos alunos do ensino médio não consegue nem alcançar uma nota variável no Enem [sic]. A educação pública não prepara os alunos para nenhuma prova para universidades, concursos e etc. (Aluna 09).

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No caso da UFBA, a adesão ao ENEM ocorreu de maneira progressiva, sendo a nota do Exame utilizada na primeira fase do processo seletivo, até o ano de 2012 (com ingresso em 2013). A partir do ano de 2013, ocorreu a adesão ao ENEM como requisito único para ingresso nos cursos de graduação. Apenas os cursos de Artes Plásticas, Design, Licenciatura em Desenho e plástica, Superior em Decoração; Direção Teatral, Interpretação Teatral, Licenciatura em Teatro; Canto, Composição e Regência, Instrumento, Licenciatura em Música e Música Popular a seleção é realizada mediante provas de habilidades específicas. Já a UFRB aderiu ao ENEM como fase única de seleção no ano de 2009, para ingresso a partir de 2010. ____________________________________________________________________________________________________ 26 a 30 de janeiro de 2015

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Constata-se através do depoimento da Aluna 09 a grave situação pela qual vive o ensino na escola pública. Em se tratando do ensino de física, inferimos que essa ausência de preparação dos alunos seja reflexo de um ensino meramente conteudista, que valoriza muito mais a memorização de fórmulas e conceitos do que o saber e o pensar, cujos exemplos e aplicações raramente possuem alguma relação com o cotidiano dos alunos. Soma-se a essa estrutura o desinteresse de muitos alunos em física, dado o padrão de formação recebido por eles. Considerações finais Os resultados apresentados mostram que as expectativas de futuro dos alunos vão de encontro às crenças do professor sobre como deve ser o ensino de física no ensino médio, visto que o professor busca preparar os seus alunos para um tipo de prova que a maioria não pretende fazer. É importante salientar também a discrepância entre a variedade de objetivos da escola, apontada pelos alunos e a limitada concepção de que a finalidade da escola é apenas a de preparar o aluno para um tipo de vestibular, apontada pelo professor. Outrossim, levando-se em consideração o interesse dos alunos em seguir os estudos em instituições que utilizam-se do ENEM como exame de seleção, o próprio modelo de formação desses alunos pode ser um empecilho a obtenção de um bom desempenho nessa seleção. Assim, em busca de promover um ensino de “melhor qualidade” e “mais difícil” acaba-se por promover a exclusão desses alunos da concorrência à entrada na universidade. Acreditamos que o problema da visão de ensino do referido professor não seja exclusivo de nosso contexto, podendo ser a visão de muitos outros professores Brasil afora. Tais professores, além da crença no Ensino Médio como etapa de preparação para o vestibular, associam essa crença a um modelo de ensino baseado na memorização e uso de conteúdos e fórmulas matemáticas, descontextualizadas e sem sentido para o aluno. Em muitos momentos, tendo boas intenções, o professor opta por esse modelo acreditando em sua eficiência do ponto de vista da aprendizagem e da preparação dos alunos. Tal opção demonstra certo desconhecimento dos procedimentos e objetivos de exames como os do ENEM. A partir das considerações feitas, algumas questões podem ser levantadas para uma futura reflexão: qual seria a física a ser ensinada, pensando-se nesse tipo de exame? Até que ponto deveria se pensar no tipo de exame que o aluno fará, para possam ser planejadas estratégias de ensino? E, finalmente, em quais aspectos esse “modelo” de ensino seria diferenciado do que é encontrado no contexto atual? Referências ARIOTTI, N.A.F.; SOPELSA, O. A significação do ensino médio para os jovens alunos. Revista Roteiro, Joaçaba, v.32, n.2, p.265-290, jul./dez. 2007. BRASIL, Presidência da República. Lei nº 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Título V. Capítulo I, Arts. 21 e 22. Disponível em:, acesso em 28, mar. 2013. BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009.

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DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J.A.; PERNAMBUCO, M.M. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2007. ESTEBAN, M.P.S Pesquisa Qualitativa em Educação. Porto Alegre: AMGH, 2010. FILHO, L.M.A.L. Amostragem. Notas de aula: Estatística Aplicada à Administração. Departamento de Estatística da Universidade Federal da Paraíba. Disponível em: , acesso em 18 nov. 2013. LAKATOS, E.M.; MARCONI, M.A. Fundamentos de Metodologia Científica. 6ª edição. São Paulo: Atlas, 2007. OLIVEIRA, D.A. O ensino médio diante da obrigatoriedade ampliada. Que lições podemos tirar de experiências observadas? Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Brasília, v.91, n.228, p. 269-290, maio/ago. 2010. ZIBAS, D.M.L. A reforma do ensino médio nos anos de 1990: O parto da montanha e as novas perspectivas. Revista Brasileira de Educação. n.28, p.24-36, jan-abr. 2005.

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