O ENSINO DE MÚSICA ATRAVÉS DA CONSTRUÇÃO DE UMA RADIOWEB

June 15, 2017 | Autor: Sophia Dessotti | Categoria: Educação Musical, Web Radio
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0 UERGS – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL UNIDADE UNIVERSITÁRIA EM MONTENEGRO CURSO DE GRADUAÇÃO EM MÚSICA: LICENCIATURA

SOPHIA DESSOTTI

O ensino de música através da construção de uma radioweb

Montenegro - RS 2013

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SOPHIA DESSOTTI

O ensino de música através da construção de uma radioweb

Monografia apresentada como exigência para conclusão do curso de Graduação em Música: Licenciatura, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul.

Orientadora: Profª Dra. CRISTINA ROLIM WOLFFENBÜTTEL

Montenegro - RS 2013

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DESSOTTI, Sophia O ensino de música através da construção de uma radioweb / DESSOTTI, Sophia. – Montenegro, 2013. 34 f. Trabalho de Conclusão de Graduação em Música: Licenciatura - Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Curso de Música - Montenegro, 2013. Orientadora: Profa. Dra. Cristina Rolim Wolffenbüttel. 1. O ensino de música através da construção de uma radioweb. 2. Trabalho de Conclusão de curso. I. Wolffenbüttel, Cristina Rolim. II. Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Curso de Graduação em Música: Licenciatura, Uergs – Montenegro. III. Título.

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SOPHIA DESSOTTI

O ensino de música através da construção de uma radioweb

Monografia apresentada como exigência para conclusão do curso de Graduação em Música: Licenciatura, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul.

Aprovada em: 04/12/2013

BANCA EXAMINADORA

Profª Dra. Cristina Rolim Wolffenbüttel (Orientadora) Universidade Estadual do Rio Grande do Sul

Prof. Dr. Eduardo Guedes Pacheco Universidade Estadual do Rio Grande do Sul

Profª Dra. Sílvia Nunes Ramos

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Dedico à minha mãe, mentora do projeto, meu pai e meus irmãos que tiveram toda paciência do mundo para que eu conseguisse terminar esse trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Sempre, e em primeiro lugar, a Deus por ter me mantido de pé mesmo quando parecia impossível continuar. À minha mãe que foi minha parceira de viagem todas as noites e sábados de manhã, a única colega que posso chamar de amiga (íntima). Meu pai que sempre muito paciente me ajudou com aulas particulares de teoria musical e, por diversas vezes, quando os meus neurônios já não aguentavam mais, me ajudou a encontrar as palavras certas para os artigos. Meus irmãos que toda noite nos recebiam animados e curiosos perguntando: - que professor vocês tiveram? Como foi a aula? E, finalmente, mas não menos importante, minha orientadora, sempre muito presente, pessoa que realmente sabe compartilhar seus saberes (e que saberes). Lembro meu primeiro dia na universidade quando um aluno que estava concluindo o curso me disse “essa vocês tem que ouvir sempre, eu amo essa mulher e vocês também vão amá-la”, e eu pensei que fosse exagero. Realmente, uma pessoa cativante.

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“Falar em transformação educacional não é denegrir os esforços de educadores do passado e do presente, mas é conclamar a todos, no sentido de que o trabalho da transformação deve começar já.”

Estelle Jorgensen

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RESUMO

Nesta pesquisa relato o projeto de estágio por mim realizado no componente curricular Estágio Supervisionado II com quatro turmas de Ensino Médio (dois primeiros anos e dois segundos). O projeto realizado foi a construção de uma radioweb, desde a sua concepção e criação até a postagem e divulgação dos programas gravados pelos próprios estudantes. Meu objetivo com a pesquisa é saber como se deu o aprendizado dos estudantes durante o estágio. Conhecer as diferentes opiniões e as trocas de saberes que ocorreram no decorrer das aulas de música dentro dos períodos de artes. Com uma amostragem de seis alunos, realizei entrevistas e discuti os processos de aprendizagem percebidos por eles, suas respectivas avaliações com relação ao projeto e seu desenvolvimento e demais informações que levaram consigo a respeito da experiência que tiveram durante a construção da radioweb. A novidade da proposta e a facilidade de acesso aos materiais necessários para a realização da mesma fez que com que as turmas aceitassem bem a ideia e se comprometessem com a sua concretização. Palavras-chave: Educação Musical, radioweb, aprendizado, aulas de artes.

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ABSTRACT

In the present research I report the project of practice did ate the intracurricular Supervised Practice II with four classes of High School (two eleven and two twelve grades). The project was a webradio working, since its conception and creation until the post and diffusion of the recorded programs by students. My purpose with the research is to know how happens the students’ learning during the practice. Know the different opinions and the exchange of knowledge that happened at the classes course into the Arts classes. With a sampling of six students, I did interviews and talked the learning process perceived by them, their respective assessments in respect of the project and its development and other relevant information that took along about the experience they had during the webradio building. The novelty of the purpose and the acess ease of the need materials to the achievement of radioweb did the classes accept and commit with its implementation. Keywords: Music education, webradio, learning process, arts classes.

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APÊNDICES

1. ROTEIRO DE ENTREVISTA................................................................................. 33

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11 2. METODOLOGIA ................................................................................................... 16 4.1 Abordagem ...................................................................................................... 16 4.2 Método ............................................................................................................. 18 4.3 Técnica para a Coleta dos Dados .................................................................... 19 4.4 Análise dos Dados ........................................................................................... 20 3. REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................... 21 4. CONHECENDO OS PROCESSOS DE APRENDIZADO...................................... 23 4.1 Como avalia o estágio em música feito nos períodos de artes ........................ 23 4.2 Quanto ao estímulo para novas descobertas .................................................. 24 4.3 Avaliação do processo de construção da radioweb ......................................... 26 4.4 Comentários .................................................................................................... 27 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 30 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 32 APÊNDICES ............................................................................................................. 33

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1. INTRODUÇÃO

A presente pesquisa partiu da proposta para o projeto de Estágio Supervisionado II, que realizei no sétimo semestre. A Escola Estadual de Ensino Médio Monsenhor José Becker, de Bom Princípio, onde realizei meu estágio, não oferece aulas de música, porém a professora de artes procura inserir conteúdos de História da Música em suas aulas. O estágio foi realizado com dois primeiros anos e dois segundos anos; a ideia foi criar e colocar no ar uma radioweb1. A realização da rádio iniciou a partir da terceira aula (nas primeiras duas aulas tivemos conteúdo histórico sobre o surgimento da rádio e apresentação do projeto – como funcionária), onde cada turma ficou responsável por um programa (uma hora de música e trinta minutos de programação) e todos foram ao ar na mesma rádio. Inicialmente, fiquei assustada por atender quatro turmas, mas, com o tempo, fui percebendo que esse projeto funcionaria melhor com mais turmas. A ideia de trabalhar radioweb partiu da proposta de estágio de minha mãe, que acabou desistindo da radioweb porque a professora das turmas que ela observou solicitou que fosse trabalhado o tema História da Música. Desta forma, minha mãe sugeriu que eu trabalhasse, então, no meu estágio, esta proposta, porque achava interessante ver esse projeto acontecer. Ela me passou seu referencial (artigos e projetos) e eu aceitei o desafio. A princípio, meu pensamento era trabalhar a prática musical, no estágio e, mesmo não conseguindo perceber logo, a radioweb também foi uma prática musical. Afinal, todos estariam participando do processo de planejamento do programa, seleção de músicas (sempre com arquivos de áudio de boa qualidade), gravação, edição (mixagem e montagem) e publicação. Conforme íamos fazendo a rádio, expliquei para as turmas a importância de cada etapa do processo. Sendo assim, todos aprenderam passo a passo a construção de uma rádio na prática, fazendo-a. E, a cada aula, sentíamos o crescimento porque todos precisavam estar envolvidos para que os programas ficassem prontos e, principalmente, estar conscientes de que os programas só aconteciam mediante a organização das turmas.

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Radioweb ou Web Radio é um termo que define a transmissão de músicas online, ou seja, uma página na Internet desenvolvida apenas para que se acesse em busca de ouvir música gratuita e simultaneamente.

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O resultado final, para mim, foi muito além dos programas prontos. O melhor resultado foi perceber o empenho e a responsabilidade sendo construídos junto com a radioweb. A maioria dos alunos não estava acostumada a trabalhar por conta própria, estavam habituados com os professores lembrando no decorrer da semana os compromissos, contudo música era um período semanal, só nos encontrávamos uma vez e as combinações firmadas numa aula deveriam ser entregues na semana seguinte. Nas primeiras aulas foi difícil fazer com que todos entrassem neste ritmo, mas enquanto a radioweb foi acontecendo, as turmas foram se apercebendo da importância de cada um nessa construção.

1.1 Sobre a Radioweb “As novas tecnologias vêm modificando significativamente o cotidiano de crianças e adolescentes, suas formas de pensar e compreender o mundo” (RAMOS, 2002, p. 26). Quanto às radiowebs, por exemplo, considero que sejam uma nova alternativa de se ouvir música gratuitamente, afinal, os jovens que passam horas nas redes sociais ou chats acabam deixando de lado o aparelho de rádio e substituindoo por rádios online onde se podem ouvir as músicas de sua preferência ou ainda conhecer novas músicas. Segundo Primo (2005) não se pode mais vincular o rádio: [...] ao contexto analógico, à mera transmissão sonora e a um receptor de ondas eletromagnéticas. Sua transmissão pode ser digital, incluir informações textuais e ser escutado inclusive em celulares e televisões conectadas a uma antena parabólica. Este é o novo entorno multimidiático do rádio. (PRIMO, 2005, p.2).

Sobre radioweb o autor afirma que: Com a Internet, outras formas de interação através do áudio foram sendo desenvolvidas. A chamada Web Radio, através da tecnologia de streaming 2 viabilizou a escuta através do computador da programação de emissoras tradicionais de rádio ou de empresas dedicadas a essa nova forma de produção e transmissão de áudio. Além disso, diversos sites de “Rádio Web” passaram a oferecer a escuta de músicas por demanda, permitindo aos internautas selecionar que músicas ou estilos querem escutar. (PRIMO, 2005, p.2).

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O programa é transmitido ao mesmo tempo em que é escutado. Ou seja, não é preciso “baixar” o programa em sua integralidade, antes da escuta (Tradução da autora).

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O processo de por a radio no ar foi, então, por streaming. A partir desses referenciais tive a certeza de que este trabalho seria uma experiência de grande valia para os estudantes; eles poderiam vivenciar o compromisso de criar e gerenciar uma radioweb, atividade que lhes possibilitou compartilhar suas preferências musicais.

1.2 Radioweb, música e aprendizagem

Todo este trabalho realizado no estágio me instigou a saber mais a respeito do que os estudantes pensaram e como se sentiram com relação ao aprendizado durante os quatro meses de estágio. Contudo, meu projeto de pesquisa para este trabalho era outro. Havia escrito todo o projeto na disciplina de Pesquisa em Música, que era Observando a inserção da música nas aulas de artes: uma pesquisa com concepções de professores de artes para o ensino de música. Quando voltamos do recesso, em julho de 2013, conversei com a minha orientadora, apresentei meu projeto de estágio, relatei como foi e falei do meu interesse em entrevistar os alunos para saber deles como tinha sido a concretização do projeto e se sentiam ter aprendido alguma coisa. Acordamos em repensar meu Trabalho de Conclusão de Curso, sendo que já tinha material proveniente do meu relatório de estágio (não teria todo o trabalho dobrado de fazer uma coisa nova). As

“transformações globais”,

que

Souza

(2000)

menciona,

refletem

diretamente no comportamento dos jovens e eles são os estudantes que temos em sala de aula. A globalização da cultura e da informação modificam cada vez mais as linguagens e os meios técnicos de distribuição, bem como a noção de música com a instituição do som-imagem (SOUZA, 2000, p. 45). E essas mudanças devem ser um desafio para o professor levando-o a aprender como conciliar em sala de aula essas duas realidades. Para Souza (2000): Nas tendências tecnológicas atuais existe uma convergência entre as telecomunicações, os meios de comunicação de massa e a informática, que estabelece uma linguagem polissêmica. (...) Ao introduzir novos aparelhos e combinar o som com imagem e movimento, esse fenômeno, conhecido também por multimídia, torna-se um dos fenômenos mais importantes no âmbito técnico, político, cultural e econômico do século XX. (SOUZA, 2000. p. 48).

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Meu principal objetivo com essa pesquisa foi saber o quanto os estudantes se sentiram estimulados para o aprendizado de música durante os encontros do estágio. Essa indagação surgiu a partir das aulas de artes que observei semanas antes de assumir as turmas, as entregas de trabalhos, a realização das tarefas e, até mesmo, a atenção dos alunos para com o que a professora falava, apresentavam um mínimo de esforço e interesse dos mesmos. Falando sobre essa crise que acontece nas aulas de artes, Wynton Marsalis disse em uma reportagem3, pela National Commission of Music Education, que “nossa cultura está morrendo de dentro para fora”, e sugere uma campanha para revitalizar a educação musical nas escolas públicas. Com essas primeiras impressões das turmas e consciente da minha responsabilidade como educadora musical nos períodos de artes, iniciei a realização do meu projeto de radioweb com as turmas. Pude perceber, desde a primeira aula, que todos estiveram atentos e dispostos a fazer com que o trabalho desse certo, muitos assumindo a coordenação dos programas, outros cobrando ação daqueles que ainda não haviam trazido seus materiais. As turmas se apresentaram preocupadas em realizar todas as tarefas de uma semana para a outra e já diziam “é só um período por semana”, “precisamos deixar tudo pronto para a outra semana”, “não podemos perder tempo”, “o período é muito curto”, “é pouco tempo de aula”. E foi com essas turmas que pareciam ser outras na concretização da radioweb que aprendi a buscar novos estímulos para cada aula, queria fazer com que se sentissem envolvidos pelo projeto e, até mesmo, dessem continuidade no projeto após o estágio. Havia um aluno que me ajudou muito durante todo o processo de postagem (streaming) dos programas. Ele criou a conta no site, personalizou o canal e me ajudou a por os programas no ar, porque o streaming do programa era online, postar o programa levava horas e deixava o computador lento para qualquer outro trabalho. Essas dificuldades fizeram com que a radio saísse do ar meses depois do término do estágio. Desse modo, a pesquisa partiu das seguintes questões:  Como os estudantes avaliam o estágio em música feito nos períodos de artes? 3

Reportagem para o Informe da Comissão Nacional em Educação Musical (The Report of the Commission on Music Education) chamado Growing Up Complete: The Imperative For Music Education (Los Angeles, 18 de setembro de 1990).

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 As aulas realizadas durante o estágio estimularam os estudantes para novas descobertas?  Como os estudantes avaliam a construção da radioweb considerando todo o processo que esta envolve (gravação, montagem e publicação)?

O objetivo desta pesquisa foi saber como se deu o processo de aprendizagem durante as aulas de música realizadas nos períodos de artes.

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2. METODOLOGIA

Esta pesquisa teve como metodologia a abordagem qualitativa (DENZIN, LINCOLN, 2006), sendo o método o estudo com entrevistas qualitativas (DEMARRAIS, 2004). A análise dos dados foi realizada através da análise de conteúdo.

2.1 Abordagem Qualitativa

A pesquisa qualitativa, segundo Denzin e Lincoln (2006), pode se apresentar com diferentes significados, dependendo do da diversidade de cada contexto. Sendo assim, conforme os autores, a pesquisa qualitativa é uma atividade situada que localiza o observador no mundo. Consiste em um conjunto de práticas materiais e interpretativas que dão visibilidade ao mundo. Essas práticas transformam o mundo em uma série de representações, incluindo as notas de campo, as entrevistas, as conversas, as fotografias, as gravações e os lembretes. (DENZIN; LINCOLN, 2006, p.17).

Muito além dos resultados que podem ser coletados através das entrevistas, todo o campo em que se estiver pesquisando fornece informações exigindo uma postura interpretativa do pesquisador. Bogdan e Biklen (1994) apresentam cinco características da pesquisa qualitativa, podendo às vezes apresenta-las em maior ou menor grau. A primeira característica das pesquisas fundamentadas em uma abordagem qualitativa diz que, nessa abordagem, o ambiente natural é fonte direta dos dados. Assim, as informações são coletadas por contato direto, e prolongado, do investigador com o objeto da pesquisa e, o instrumento principal para esse processo é o entendimento do pesquisador para com dados coletados. Apesar de o pesquisador qualitativo poder utilizar-se de diversos equipamentos para recolher as informações, o seu contato direto com seu objeto de estudo é relevante. A segunda característica da pesquisa qualitativa é a descritividade. Para os autores, as informações coletadas

17 são em forma de palavras ou imagens e não de números. Os resultados escritos da investigação contêm citações feitas com base nos dados para ilustrar e substanciar a apresentação. Os dados incluem transcrições de entrevistas, notas de campo, fotografias, vídeos, documentos pessoais, memorandos e outros registros oficiais. Na sua busca de conhecimento, os investigadores qualitativos não reduzem as muitas páginas contendo narrativas e outros dados a símbolos numéricos. Tentam analisar os dados em toda a sua riqueza, respeitando, tanto quanto o possível, a forma em que estes foram registrados ou transcritos. (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.48).

A ênfase no processo, ao invés do produto, é a terceira característica apontada. Essa particularidade, conforme os autores, tem sido útil nas investigações em educação, pois aprofunda questões relativas ao desempenho de alunos, expectativas

dos professores,

entre

outros

assuntos possíveis de

serem

aprofundados. A quarta característica indicada é a forma indutiva utilizada pelos pesquisadores qualitativos. De acordo com os autores, a coleta dos dados não pretende confirmar ou refutar hipóteses ou teorias estabelecidas previamente, mas desenvolver o trabalho na perspectiva de construir abstrações, à medida que os dados são recolhidos e agrupados. Na investigação qualitativa, portanto, não se trata de “montar um quebra-cabeças cuja forma final conhecemos de antemão”, mas de “construir um quadro que vai ganhando forma à medida que se recolhem e examinam as partes” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.50). A última característica da abordagem qualitativa é a atenção especial destinada ao significado. Nessa abordagem o que interessa é aprender as perspectivas dos próprios participantes, tendo em vista o sentido que as pessoas pesquisadas atribuem às suas experiências e ações. Segundo os autores, “os investigadores que fazem uso deste tipo de abordagem estão interessados no modo como diferentes pessoas dão sentido às suas vidas” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.50). Sobre a análise acerca da abordagem qualitativa, os autores explicam que o “processo de condução de investigações qualitativas reflete uma espécie de diálogo entre investigadores e os respectivos sujeitos, dado estes não serem abordados por aqueles de uma forma neutra” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.51). Optei por adotar a abordagem qualitativa em minha investigação porque quero saber dos estudantes o que pensaram sobre o estágio e se consideraram o projeto da radioweb uma boa forma de aprendizado.

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Nesse sentido, considero adequado coletar as informações sobre as opiniões dos estudantes e do quanto se sentiram estimulados para aprender e conhecer mais, desvendando o que foi que os motivou a concretizar esse projeto, que sozinha eu não conseguiria realizar. Todas as informações partiram das opiniões dos estudantes com relação ao estágio realizado. Justifica-se, assim, a utilização da abordagem qualitativa. Para o desenvolvimento desta pesquisa utilizei, como dito, o estudo com entrevistas qualitativas como método de investigação (DEMARRAIS, 2004). Passo, portanto, a explicar no que consiste este método.

2.2 O Estudo com Entrevistas Qualitativas

DeMarrais (2004) utiliza o termo entrevista qualitativa como um conceito “guarda-chuva” para os métodos nos quais os pesquisadores obtêm informações com os participantes, através de conversas longas e focadas. De acordo com a autora, as entrevistas qualitativas são utilizadas quando se pretende empreender pesquisas com o objetivo de aprofundar conhecimentos sobre os participantes, relacionados a fenômenos particulares, experiências, ou conjuntos de experiências. Esse conjunto de experiências inclui três semanas observações realizadas com cada turma, antes do início à prática do projeto, e as entrevistas. Assim, pude ter uma melhor visualização das informações e experiências vividas pelos estudantes durante o período de estágio em música nas aulas de artes. Quando falo informações e experiências refiro-me ao despertamento para o aprendizado e todo o envolvimento dos estudantes a partir da construção da radioweb. Portanto, utilizo o método de entrevista qualitativa justamente por não basearme somente nos resultados obtidos por entrevistas, mas utilizo-me também dos resultados e informações que retive durante três semanas de observações com as turmas. A partir das observações consegui ver como se dava o desempenho dos alunos durante as aulas de artes e o processo de ensino-aprendizagem nessas aulas, ou seja, estímulos para o aprendizado e utilização dos conhecimentos prévios dos estudantes acerca dos conteúdos estudados. E com as entrevistas descobri como se sentiram durante as aulas de música ministradas nos períodos de artes e os estímulos recebidos para o aprendizado.

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2.3 Entrevista como Técnica de Pesquisa

Para DeMarrais (2004), a entrevista consiste em um processo no qual o investigador e o participante envolvem-se em uma conversa focada nas questões relacionadas ao objeto de estudo. Normalmente essas questões solicitam ao participante que o mesmo explicite suas opiniões, seus pensamentos, perspectivas ou descrições em relação a experiências específicas relacionadas ao assunto em estudo. Bogdan e Biklen (1994) argumentam que a entrevista tem como objetivo coletar informações na linguagem da própria pessoa entrevistada, permitindo ao pesquisador a construção de hipóteses que, confrontadas com o referencial teórico selecionado, permitir-lhe-ão interpretação, análise e síntese pretendidas. Cohen e Manion (1994) identificam quatro tipos de entrevistas em sua análise, as quais podem ser utilizadas como ferramentas na investigação. De acordo com os autores, esses tipos de entrevista dividem-se em entrevista estruturada, entrevista semiestruturada, entrevista não-diretiva e entrevista focada. Após a análise dos tipos de entrevista, em confronto com os objetivos aos quais me proponho nesta investigação, utilizarei a entrevista semiestruturada (COHEN; MANION, 1994), pois a mesma se apresenta a mais adequada aos propósitos de meu trabalho. Para Laville e Dione (1999), as entrevistas “permitem, muitas vezes, explicitar algumas questões no curso da entrevista, reformulá-las para atender às necessidades do entrevistado” (p.187-188). A entrevista semiestruturada é realizada com base em um roteiro prévio, básico e flexível, que pode ser adaptado de acordo com o desenvolvimento dos questionamentos, e permitindo que o entrevistado tenha liberdade para expressar suas ideias e opiniões. Bogdan e Biklen (1994, p.135) afirmam que assim é possível ter uma maior certeza de se obter dados “comparáveis entre os vários sujeitos”. Realizei meu roteiro a fim de saber como avaliam o estágio em música feito nos períodos de artes; se se sentiram estimulados com as aulas para novas descobertas; como avaliam o processo de construção da radioweb considerando programas, gravações e montagem e, por fim, o que mais gostariam de falar sobre esta proposta realizada estágio. Esse roteiro foi construído tendo como base a busca pela avaliação dos estudantes para com o estágio. As

entrevistas

foram

realizadas

online,

via

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Facebook, com quatro questões-base: 1) Como você avalia o estágio em música feito nos períodos de artes?; 2) Você se sentiu estimulado com as aulas para novas descobertas?; 3) Como avalia o processo de construção da radioweb considerando programas, gravações e montagem?; 4) O que mais você gostaria de falar sobre esta proposta realizada estágio?. O presente roteiro encontra-se no final do trabalho como apêndice da pesquisa. Esse roteiro que norteou a pesquisa, as entrevistas foram salvas, transcritas, constituindo os cadernos de entrevistas: primeira versão, textualizadas e categorizadas trazendo as avaliações dos estudantes com relação ao aprendizado ocorrido durante o estágio.

3.4 Análise dos dados

A análise dos dados ocorreu em três partes: a transcrição e textualização das entrevistas; categorizei os dados obtidos segundo as questões do roteiro de entrevistas e, por fim, a análise dos dados que gerou, a partir da última questão que era um espaço para demais informações que considerassem importantes, mais três subcategorias, assim denominadas por mim. A técnica de análise de dados, por mim utilizada na presente pesquisa, foi a análise de conteúdo que segundo Bardin (1977): a análise de conteúdo aparece como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens (...) a intenção da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente, de recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não). (BARDIN, 1977. p.38).

Sendo assim, minha coleta dos dados para a análise iniciou-se antes mesmo das aulas de música começarem, nas observações já pude obter inferências que me foram necessárias para a análise dos resultados.

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3. REFERENCIAL TEÓRICO Como base para meu trabalho utilizo a teoria do “sotaque” cultural, de Keith Swanwick (2003) e a Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire (1996). Busco dialogar o bom-senso do professor que deve considerar as vivências do educando com a tolerância e respeito que os grupos aprenderam a ter entre si para conseguirem realizar o projeto. Em todo o estágio foi trabalhada a vivência musical dos estudantes, preferências e conhecimento prévio que tinham para que se começasse a pensar em possíveis assuntos a serem abordados nos programas, temas que agradariam os ouvintes. Swanwick (2003) fala da música como uma bagagem que trazemos conosco, cada um tem o seu diferencial, o autor refere-se à música, explicando: A música é uma forma de pensamento, de conhecimento. Como uma forma simbólica, ela cria um espaço onde novos insights tornam-se possíveis. (...) isso se dá, em última instância, porque a música é significativa e válida. Ela é um valor compartilhado com todas as formas de discurso, porque estas articulam e preenchem os espaços entre diferentes indivíduos e culturas distintas. (SWANWICK, 2003. p. 38).

Ainda sobre as particularidades das vivências musicais de cada pessoa ou, nesse caso, de cada estudante Swanwick (2003) ressalta: “Sotaques” diferentes são percebidos como igualmente válidos, e nenhum é, essencialmente, bom. Em vez disso, pergunta-se o que é bom para um contexto social específico. O significado e o valor da música nunca podem ser intrínsecos e universais, mas estão ligados ao que é socialmente situado e culturalmente mediado. Sob esse ponto de vista, o valor musical reside em seus usos culturais específicos, no que é “bom para” na vida das pessoas. A música é “boa”, “certa” ou “oportuna” dependendo de quão bem ela funciona em ação, como práxis. (SWANWICK, 2003. p. 39).

Como educadora, meu papel foi conciliar as diversas experiências musicais presentes em sala de aula e auxiliar as turmas a terem respeito, também entre si, para conhecer e trabalhar com as diferenças musicais dentro dos grupos. Freire (1996) diz não ser possível respeito aos educandos, à sua dignidade, a seu ser formando-se, à sua identidade fazendo-se, se não se levam em consideração as condições em que eles vêm existindo, se não se reconhece a importância dos “conhecimentos de experiência feitos” com que chegam à escola. (FREIRE, 1996, p. 62).

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Em sala de aula os estudantes tiveram que encontrar uma forma de abranger, pelo menos, a maioria das preferências musicais para que o trabalho acontecesse, contudo em nosso dia-a-dia notamos o quão intolerantes somos com as preferências do outro somente por se tratar de um tipo de música que não pertence ao meu repertório de preferências musicais. E assim, acabe acontecendo em sala de aula o conflito entre saberes do educador e do educando, para Freire (1996): O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros. Precisamente porque éticos podemos desrespeitar a rigorosidade da ética e resvalar para a sua negação, por isso é imprescindível deixar claro que a possibilidade do desvio ético não pode receber outra designação senão a de transgressão. (FREIRE, 1996. p. 58).

Para Swanwick (2003), o sentido de “finalidade desconhecida”, o espaço aberto pelo potencial de troca, é vital para cada indivíduo e para todas as culturas (p.41). De fato, algum espaço para novas atitudes existe até mesmo para a mais simples forma de vida. Por fim, o autor nos traz um conselho: Em resumo, habitamos um mundo no qual nós, como qualquer outro organismo, temos repertórios de interpretação de comportamento. Diferentemente de outras espécies, temos sistemas representacionais altamente desenvolvidos, repertórios simbólicos, formas de discurso. (SWANWICK, 2003. p. 41).

Então, um bom trabalho se dá levando em conta o respeito necessário com a bagagem cultural que o estudante traz consigo para sala de aula.

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4. CONHECENDO OS PROCESSOS DE APRENDIZADO

A partir das entrevistas realizadas pude saber como os estudantes se sentiram durante esse processo de construção da radioweb e o quanto essas aulas os estimularam para aprender música. Este capítulo, portanto, apresenta os dados oriundos desta pesquisa, bem como sua análise. Segundo relato dos estudantes o momento de maior trabalho e conversa entre os grupos se dava devido à necessidade de conciliar opiniões e gostos musicais: As aulas me estimularam pelo fato de podermos expor nossas preferências musicais, podendo ver que em um pequeno grupo de pessoas a variedade musical é grande. Isso fez com que nos aprofundássemos em pesquisas para chegarmos a um consenso onde todos saíssem satisfeitos. Desse modo descobrimos muita coisa nova. Senti-me estimulada pela diversidade musical existente na nossa turma. (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013, p. 3.).

4.1 Como avalia o estágio em música feito nos períodos de artes

Com essa pergunta quis saber dos estudantes quais foram suas concepções a respeito das aulas em um todo, incluindo organização, proposta, desenvolvimento e resultados. Falando sobre a proposta um estudante avaliou: Avalio o estágio da professora como muito bem feito, pois a proposta realizada foi bem diferente do que estávamos acostumados a fazer em nosso dia-a-dia escolar, e foi legal porque despertou o interesse e a curiosidade de todos os alunos. Além de trabalhar com um pouco de tecnologia o trabalho obviamente trabalhou com música que são duas coisas que todos os jovens adoram. (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013, p.6).

A respeito do desenvolvimento das aulas outro estudante comentou: O estágio feito foi de bom proveito e de grande aprendizagem, trazendo consigo o verdadeiro sentido da música para nós. Não tivemos música apenas como algo que faz parte do dia a dia, mas as aulas fizeram a música mexer conosco, apresentando semelhanças e dificuldades existentes dentro do grupo, e acabamos vendo a música nos descrever em suas letras. Mostrando, assim, o nosso interior de uma forma simples. (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013, p. 3).

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E, para além dos meus questionamentos, pude ver que a aula de música funcionou como “atração”, ferramenta que “aproxima os alunos”, “amplia a cultura” dos mesmos e como um momento de bem-estar em sala de aula “eu me sentia bem a cada aula”. Com esses resultados observei o quanto os estudantes carecem de atividades e propostas que os instiguem, eles querem trabalhar e sabem que precisam estar na escola, mas não se sentem inseridos no contexto escolar justamente em função desse senso comum que se legitimou e ficou estático como fórmula fechada de ensino. Os estudantes consideram diferentes as aulas que os fazem sentir bem e isso está invertido, eles têm a visão de aula normal aquela em que o professor passa o conteúdo em uma aula, trabalha (através de atividades em sala de aula) o conteúdo ensinado e avalia o conhecimento dos estudantes através de um teste ou prova. Assim funciona o ciclo de ensino e aprendizagem considerado normal pelos estudantes. Nem mesmo as aulas de artes estavam sendo “diferentes” para as turmas, por isso consideraram o estágio um momento diferente do “dia-a-dia escolar”. Para Freire (1996): Os sistemas de avaliação pedagógica de alunos e de professores vêm se assumindo cada vez mais como discursos verticais, de cima para baixo, mas insistindo em passar por democráticos. A questão que se coloca a nós, enquanto professores e alunos críticos e amorosos da liberdade, não é, naturalmente, ficar contra a avaliação, de resto necessária, mas resistir aos métodos silenciadores com que ela vem sendo às vezes realizada. (FREIRE, 1996.p. 114).

Swanwick (1996) propõe uma avaliação ratificando que: Qualquer modelo de avaliação válido e confiável precisa levar em conta duas dimensões: o que os alunos estão fazendo e o que eles estão aprendendo, as atividades do currículo de um lado e os resultados educacionais de outro. Aprendizagem é o resíduo da experiência. (SWANWICK, 1996.p.94).

4.2 Quanto ao estímulo para novas descobertas

Com essa categoria quis saber se as aulas de música ministradas durante o estágio dentro dos períodos de artes proporcionaram novas descobertas e se funcionaram como estímulo para os estudantes buscarem novas informações. Quanto ao aprendizado durante as aulas um dos estudantes respondeu que “o estágio foi bom porque conheci um pouco da história da rádio no Brasil e no

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mundo, como foram criadas as primeiras [rádios] do nosso país” (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013, p. 5). A troca de informações realizada em sala de aula também serviu de estímulo. Sempre gostei de trabalhos que envolvam pesquisar, mas poder pesquisar sobre algo que me interessa de verdade foi bem mais motivador. Pude conhecer melhor as bandas e cantores que gosto de ouvir, entendi algumas origens como as razões porque seguiram determinado estilo musical entre outras curiosidades. Foi interessante porque quanto mais eu descobria mais eu queria saber, poder pesquisar sobre música e estudar biografias, histórias de estilos musicais, a história do rádio... foi muito proveitoso. (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013, p. 8).

Ainda sobre a troca de aprendizados em sala de aula “aprendi a apreciar novos estilos de música. Nunca dei muita atenção às letras (...). Neste estágio, busquei entender o significado das músicas e isso me estimulou ainda mais.” (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013, p. 4). O estímulo à pesquisa refletindo no interesse de seguir profissão na música: Toda turma que trabalhou no projeto da rádio se sentiu disposto a pesquisar para a construção dos programas, como surgiram alguns estilos musicais e a história de bandas. A partir dessa proposta passei a procurar cada vez mais sobre o assunto, especialmente, como começaram as bandas famosas, acho importante, se eu quiser seguir carreira de músico. A atividade realizada em aula foi de extrema importância para que nos sentíssemos estimulados a pesquisar para aprender mais sobre música. (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013, p. 6).

O compromisso, anteriormente citado, que as turmas sentiram ao receber a proposta para as aulas também serviu de estímulo para que buscassem aprender mais do que fazíamos em sala de aula: No momento que assumimos a responsabilidade de fazer parte de uma equipe, montando uma rádio, sabíamos que seria de máxima importância dominar o conteúdo que iríamos apresentar, por isso as leituras e pesquisas foram fundamentais. Aumentamos nossos conhecimentos sobre música, evoluímos e descobrimos coisas que ainda não conhecíamos. (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013, p. 3).

Instigar a curiosidade dos estudantes é um objetivo que trago comigo independente da faixa etária com que trabalho, é uma característica que adotei para trabalhar em sala de aula. E Swanwick (2003) diz que:

26 A curiosidade não é despertada ditando-se informações sobre a vida dos músicos ou sobre história social, nem dizendo sempre aos alunos o que eles precisam ouvir, nem tratando um grupo musical como se ele fosse uma espécie de máquina. É preciso que haja espaço para a escolha, para a tomada de decisões, para a exploração pessoal. (SWANWICK, 2003.p. 67).

Ainda sobre a curiosidade Freire (1996) considera que “a curiosidade que silencia a outra se nega a si mesma” (p.82). Sabemos que são poucas as informações realmente novas para nossos jovens, atualmente. Eles têm múltiplo acesso à informação e não podemos nos alienar a isso continuando a pensar que somos professores e dominamos o saber. A cada aula me senti renovada vendo o quanto as turmas conheciam de música e o quanto pesquisavam a respeito. As aulas apenas os motivaram a fazê-lo com seriedade para trazer à sala e compartilhar com os colegas, mas essa prática (de pesquisar sobre grupos, tipos e história da música) já era comum para a maioria.

4.3 Avaliação do processo de construção da radioweb

Esse tópico visa saber o que os estudantes pensaram sobre todo o processo que envolve a construção da radioweb (criação, gravação, edição, revisão e postagem). Quanto ao funcionamento da rádio para unir a turma: O projeto da radioweb foi uma excelente forma de envolver o grupo em prol de algo que agradasse a todos, ou no caso, a maioria, pois tem sempre exceções que não aceitam coisas novas. Eu gostaria que o projeto tivesse ido além, tivesse continuado no ar, com a participação de todos, com a aprovação de todos meus colegas. (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013, p. 8).

A falta de tempo para firmar o projeto e engajar as turmas a fim de continuarem com o trabalho após o estágio foram fatores preponderantes: “tivemos um curto tempo com a professora, a rádio não continuou no ar, mas se tivéssemos tido mais tempo acredito que seria um trabalho e tanto realizado” (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013, p. 9). A divisão de responsabilidades foi uma forma de fazer com que o trabalho não dependesse somente dos encontros de 45 minutos semanais: O processo de construção foi muito elaborado, onde todos os alunos participaram de alguma forma do processo de formação da rádio. Os programas foram pensados e gravados buscando ser o mais fiel ao

27 funcionamento real de uma rádio com noticias do dia-a-dia, receitas, piadas e história das bandas. O momento das gravações foi o mais divertido, nós gravávamos e ouvíamos então regravávamos algumas coisas que não tínhamos gostado e assim funcionava até que ficasse bom. A montagem das gravações foi realizada pela nossa querida professora e um colega nosso, porque eram os únicos que sabiam mexer com os programas de edição de áudio (com isso, depois, também busquei saber como se faz essas montagens). O processo de construção foi completo, cada grupo cuidava de uma parte específica do programa num todo e essa ordem mudava de programa para programa. (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013, p. 7).

Desde o início, soube que o projeto exigiria muito mais tempo do que, de fato, eu teria com as turmas. Foi necessário muito comprometimento por parte deles e muita agilidade de minha parte para que estivéssemos sempre com as gravações já editadas e os materiais em dia para as próximas gravações. A experiência que adquirimos juntos durante o desenvolvimento desse projeto é incalculável, houve um maior conhecimento das turmas entre si e todos estiveram envolvidos no mesmo objetivo, o que, inevitavelmente, fez com que trabalhassem juntos.

4.4 Comentários

Abri esse espaço para que falassem o que mais considerariam importante relatar sobre o estágio. A finalidade desse tópico é possibilitar uma abertura para que expressassem, sem indicações da minha parte, o que o estágio proporcionou para eles. Considerando a proposta como uma novidade e expressando o desejo de que dar continuidade, “achei muito interessante, acho que deveria continuar. Foi uma ideia inovadora que muitos sonhavam em realizar” (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013, p. 5). “Eu vi o quanto a professora se esforçou para realizar a edição da rádio (...). Eu gostei muito e queria mais aulas assim” (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013, p. 6). A proposta realizada foi muito interessante pelo fato de mexer com a tecnologia, o mundo atual dos jovens, de maneira educativa e muito útil. A proposta de trabalho foi bem aceita, sendo algo novo e proveitoso para o grande grupo. Foi um trabalho muito diferente do que temos normalmente em sala de aula, essas aulas nos trouxeram de volta a empolgação. (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013, p. 4).

Como auxílio na convivência em grupo:

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Quando a professora entrou na sala com o projeto de música fiquei muito feliz, pois é algo que torna tudo mais leve, ninguém vive sem música. A proposta da rádio foi ótima, pudemos primeiramente conhecer o surgimento da rádio, suas primeiras funções e como chegou ao Brasil. Depois iniciamos a construção da nossa radioweb, com um espírito adolescente e música do gosto da nossa turma. Creio que música, assim como as outras artes, deveria, sim, ser matéria do currículo escolar, pois nos ajuda a desenvolver a criatividade, o trabalho em equipe, os reflexos, diminui a timidez e é também um ótimo jeito de unir a turma, senti que nessas aulas se quebrou, um pouco, a relação hierárquica existente em sala de aula e trouxe uma convivência mais amigável e saudável para nossa turma. (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013, p. 8).

Primeira oportunidade de ter um educador musical ministrando as aulas: Gostaria de falar que foi muito gratificante participar dessa proposta, pois, pela primeira vez, tive aula sobre música com alguém que realmente entendesse do assunto. Não escutei nenhuma reclamação, apenas elogios. (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013, p. 7).

Oportunidade de exporem suas opiniões e abrirem rodas de conversa sobre determinados assuntos: Eu gostaria de falar que não queria que a professora tivesse ido embora (...) a verdade é que foi a primeira professora de Artes que tivemos que nos proporcionou aulas diferentes, criativas e muito interessantes. Outra coisa, a montagem das gravações [programação] permitia que os alunos dessem suas opiniões a respeito de assuntos como álcool, prisão para menores, gravidez ou aborto, entre outros. Isso proporcionou aos alunos e as pessoas que ouviram as gravações um momento para pensar e refletir sobre esses assuntos. (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013, p. 10).

Cada programa era composto de uma hora de música e trinta minutos de programação, as turmas administravam esses minutos de programação com conteúdos pertinentes ao tema escolhido para o programa. Os grupos organizaram o tempo de programação com piadas, charadas, curiosidades, conteúdo histórico e rodas de conversa todos sempre ligados ao assunto que o programa abordava. A leitura e análise das entrevistas vêm confirmar o que Freire (2001) diz sobre o processo de ensino e aprendizagem com bom-senso: Saber que devo respeito à autonomia, à dignidade e à identidade do educando e, na prática, procurar a coerência com este saber, me leva inapelavelmente à criação de algumas virtudes ou qualidades sem as quais aquele sabe vira inautêntico, palavreado vazio e inoperante. (FREIRE, 2001, p. 61).

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A partir do momento que sei que devo tornar o mais acessível e interessante possível o conteúdo a ser estudado não tenho motivos para não o fazer. E, não o fazendo estou ignorando por completo o saber que tenho a respeito de minha obrigação. Sabendo a opinião de meus estudantes e tendo em mãos essa referência de Freire posso dizer que desempenhei o papel que pretendia desde meus primeiros encontros como observadora das turmas. Pude proporcionar a eles o momento de estarem de bem com o estudo, sentirem vontade de realizar tarefas.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa teve como objetivo saber como se deu o processo de aprendizado dos estudantes durante o estágio em música nos períodos de artes. Esse objetivo gerou três questões de pesquisa as quais são: Como os estudantes avaliam o estágio em música feito nos períodos de artes? As aulas realizadas durante o estágio estimularam os estudantes para novas descobertas? Como os estudantes avaliam a construção da radioweb considerando todo o processo que esta envolve (gravação, montagem e publicação)? Para responder a essas questões utilizei-me do método de entrevistas qualitativas o qual realizei coletando dados através de observações e entrevistas semiestrutradas com uma amostragem de seis estudantes com os quais trabalhei do decorrer do estágio. Segundo os estudantes “o projeto da radioweb foi uma excelente forma de envolver o grupo em prol de algo que agradasse a todos” (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013. p. 8). E com relação aos estímulos para novas descobertas: Toda turma que trabalhou no projeto da rádio se sentiu disposto a pesquisar para a construção dos programas, como surgiram alguns estilos musicais e a história de bandas. A partir dessa proposta passei a procurar cada vez mais sobre o assunto. (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013. p. 6).

As avaliações quanto à construção da radioweb todos apontam que foi necessário o trabalho em grupo para que o programa ficasse pronto para ir ao ar: O processo de construção foi muito elaborado, onde todos os alunos participaram de alguma forma do processo de formação da rádio. Os programas foram pensados e gravados buscando ser o mais fiel ao funcionamento real de uma rádio com noticias do dia-a-dia, receitas, piadas e história das bandas. (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013, p.7).

Todas as etapas que faziam parte do todo no processo de construção da rádio foi muito necessária a colaboração de todos os estudantes de todas as turmas, tanto com relação à concentração em aula quanto ao trabalho exigido deles fora do período em sala para que pudéssemos nos poucos minutos semanais avançar com o trabalho. Para tanto foi de extrema importância a liberdade por mim ofertada a eles de buscarem e realizarem a montagem dos programas, fazendo deles dependentes de mim somente para as gravações e edições.

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Tenho certeza de que o trabalho funcionou devido ao grande acesso à informação que todos tiveram por intermédio das mídias e da Internet, por isso reafirmo que o avanço da tecnologia faz da música um material facilmente inteligível sendo “oferecida às pessoas de múltiplas maneiras, tornando-a interativa, disponível e acessível” (SCHMELING, 2005. p. 32). Nossos jovens sabem muito bem usar as ferramentas que lhes abre o universo da música através da Internet. Quando quiserem conhecer novas bandas é no YouTube que vão procurar. Se ouvirem uma música que lhes despertou o interesse é no 4shared que farão seu download. Se quiserem saber mais sobre alguma banda ou artista é só procurarem no Wikipedia. A mídia tem tornado a música e todo universo de informações muito mais aberto. Sendo assim, não podemos desvincular a música da mídia e das novas tecnologias, trocas de gostos musicais se dão através do pareamento entre aparelhos de celular. Essas mídias estão transbordando à nossa frente e devemos encará-las como um novo componente cultural. Não para uma geração que está por vir e sim para a geração que já está aí.

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REFERÊNCIAS BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Tradução de Maria João Alvarez, Sara Bahia dos Santos e Temo Mourinho Baptista. Porto: Porto Editora Lda., 1994. COHEN, L., MANION, L. Research methods in education. London: Routledge, 4ª ed., 1994. DEMARRAIS, K. Qualitative interview studies: learning through experience. In: DEMARRAIS, K.; LAPAN, S. D. (ed.). Foundations for research methods of inquiry in education and the social sciences. London, Mahwah, New Jersey: Lawrece Erlbaum Associates, 2004, p.51-68. DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. Introdução: a disciplina e a prática da pesquisa qualitativa. In: DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. et al. O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. Porto Alegre: Artmed, 2006, p.15-41. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra S/A, 1996. JORGENSEN, E. R. Transforming music education. Bloomington, Indiana: Indiana University Press, 2003. PRIMO, Alex. Para além da emissão sonora: as interações no podcasting. Intexto, Porto Alegre, 2005. SCHMELING, Agnes. Cantar com as mídias eletrônicas: um estudo de caso com jovens. Porto Alegre, 2005. SOUZA, Jusamara. Cotidiano e mídia: desafios para uma Educação Musical contemporânea. In: SOUZA, Jusamara. Música, cotidiano e educação. Porto Alegre: Programa de Pós-Graduação em Música do Instituto de Artes da UFRGS, 2000. SWANWICK, Keith. Ensinando música musicalmente. São Paulo: Moderna, 2003.

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APÊNDICE 1 – ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

1.

Como você avalia o estágio em música feito nos períodos de artes?

2.

Você se sentiu estimulado com as aulas para novas descobertas? As aulas o

estimularam a descobrir coisas novas? 3.

Como avalia o processo de construção da radioweb considerando programas,

gravações e montagem? 4.

O que mais você gostaria de falar sobre esta proposta realizada no estágio?

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