O Ensino Online em Cabo Verde: Potencialidades e Obstáculos

O ENSINO ONLINE EM CABO VERDE: POTENCIALIDADES E OBSTÁCULOS João dos Santos Instituto Universitário de Educação – Cabo Verde [email protected] Bento Silva Instituto de Educação – Universidade do Minho [email protected]

Resumo: Através deste artigo procuramos apresentar os fatores que dificultam a implementação de processos de aprendizagens mediadas pelas TIC, bem como as potencialidades que poderão tornar possível a educação e formação em ambientes virtuais, no arquipélago de Cabo Verde. Com base numa abordagem qualitativa, este estudo de natureza descritiva, procura demonstrar que, face aos obstáculos identificados, existem também potencialidades que poderá tornar a educação online uma possibilidade. Palavras-chave: Ensino a Distância, e-Learning, Educação Online Abstract: Through this article, we present the factors that hinder the implementation process of ICT-mediated learning, as well as the potential that could be possible the education and training in virtual environments, in the archipelago of Cape Verde. Based on a qualitative approach, this descriptive study seeks to demonstrate and addresses the obstacles identified, there are also some strong potential that can make online education a possibility. Keywords: Distance Education, e-learning, Online Education

Introdução A educação e a formação sempre foram vistas como prioridade pelas autoridades e pelo povo cabo-verdiano. Sendo que, Cabo Verde, país com parcos recursos naturais, a aposta nos recursos humanos revelou-se a via mais acertada para o desenvolvimento e estabilidade social do território. Daí que a criação de rede escolas públicas e privadas, de vários níveis de ensino, foi uma constante ao longo dos anos, com destaque recente para edificação de Instituições de Ensino Superior (IES). A massificação e a democratização do ensino coloca novos desafios à sociedade, em particular às entidades responsáveis pela educação. Para garantir o ritmo de crescimento e a qualidade necessária é imprescindível que o sistema educativo se modernize e adote novos paradigmas, novas práticas pedagógicas, uma vez que, os métodos tradicionais de ensino deixaram de responder positivamente as demandas das populações.

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A criação de IES pública veio trazer novos desafios, na medida em que esse nível de ensino apresenta características próprias e complexas, que faz com que seja inexequível a ideia de possuir instalações físicas ou mesmo polos em todas as ilhas do país. A deslocação dos alunos para as ilhas onde estão sediadas as instalações universitárias implica custos, muitas vezes insuportáveis para estes e seus familiares. A condição geográfica do país encarece e dificulta qualquer projeto com abrangência nacional, pois, as deslocações entre as ilhas, para além de serem dispendiosas, por vezes é limitada em termos de transportes. Daí que o recurso a EaD, na modalidade e-learning ou blended-learning, é uma opção a ser levada em conta, pelas razões já apresentadas e pela existência, hoje em dia, de alguma condição técnica e tecnológica, como teremos oportunidade de apresentar e analisar mais adiante. O e-learning, definido como uma modalidade de Ensino a Distância (EaD) com recurso às tecnologias, nomeadamente a Internet, constitui uma das modalidades de ensino/formação em grande desenvolvimento a nível mundial. Caraterizado por estar bastante associado aos avanços tecnológicos, em particular da WWW, mas não dependente exclusivamente deste, o e-learning tem sido a grande aposta de vários tipos de instituições de formação e não só, que procuram facilitar o acesso ao conhecimento, ultrapassando as barreiras impostas pelo limite espaço/tempo. Apesar de reconhecidas vantagens, a introdução da educação online numa instituição tem de ser analisada de modo particular, isto é, tendo em conta os aspetos próprios do país, da instituição e do seu público-alvo. Em Cabo Verde, falar em EaD não é novidade para uma grande maioria de indivíduos, pois, várias experiências foram e têm vindo a ser desenvolvidas, desde o ensino por correspondência com instituições de formação estrangeiras (como com Cuba e Portugal) até as de iniciativa local, basta recordar as formações organizadas e desenvolvidas pela Rádio e Novas Tecnologias Educativas, a partir da década de 1980, destinado a professores do Ensino Básico, os cursos da Direção Geral de Educação e Animação de Adultos, as formações em exercício dos professores do Ensino Básico desenvolvidos pela então Instituto Pedagógico de Cabo Verde (Inocêncio, 2006). Porém, muitas dessas experiências não se inscrevem na configuração do e-learning, pois não havia recurso à Internet, ou, se houve, ele foi bastante limitado, essencialmente para trocas pontuais de mensagens eletrónicas. Atualmente, já se conta algumas atividades de cariz educativo com recurso a web, em IES, como é caso da Universidade Pública de Cabo Verde (UNI-CV) e da Universidade Jean Piaget que dispõem de Sistema de Gestão de Aprendizagem (LMS). A utilização das TIC em educação constitui uma inegável mais-valia, particularmente quando se trata de ensino a distância com recurso a web. A possibilidade de se formar ao mesmo tempo várias pessoas e a distância, sem que estas tenham de se deslocar dos seus postos de

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trabalho ou das suas casas, é vantajosa em vários aspetos. Estas vantagens são ainda mais significativas quando os intervenientes se encontram em locais fortemente distanciados, o que é uma realidade em países com uma tipologia geográfica como a que caracteriza Cabo Verde (Santos, 1998). O e-learning permite reduzir essas e outras limitações, na medida em que o eformando tem uma maior flexibilidade para cumprir horário, pode aceder a formação e aos conteúdos, interagir com o e-formador e colegas, evitando assim, custos em deslocações e em materiais impressos, entre outros. Para a organização, o e-learning permite reduzir custos com deslocações dos e-formadores, aluguer de salas, evita perda de tempo ao mesmo tempo que permite fazer chegar a formação a um número maior de pessoas. Embora menos utilizado, o conceito de blended-learning, ou simplesmente b-learning, pode ser definido como modalidade de EaD, em que o processo de ensino aprendizagem é caracterizado por momentos de contacto presencial, entre formando/alunos/alunos e momentos em que estes se encontram a distância, embora interagindo através dos meios tecnológicos, principalmente através dos Sistemas de Gestão de Aprendizagem (LMS). A utilização do b-learning, principalmente pelas IES tem vindo a aumentar consideravelmente, devidas as suas vantagens (Graham, 2006, cit. Lencastre, 2012): Riqueza pedagógica; Acesso ao conhecimento; Interação; Personalização; Custos; Facilidade de revisão. Existe uma forte crítica em relação a qualidade e o valor do EaD. Essas críticas são essencialmente formuladas em direção ao sistema de certificação, plágios e fraude. Contudo, hoje em dia existem vários mecanismos de controlo de qualidade e a questão de ser o próprio aluno que está sendo avaliado está a partida colocada de lado porque um dos momentos presenciais da modalidade b-learning é destinado à avaliação. Muitos autores aconselham o recurso ao b-learning por parte das IES que começam a dar os primeiros passos na educação online, como forma de transição para uma modalidade completamente a distância (e-learning). As IES têm de providenciar medidas com vista a implementação de cursos online, porque, de acordo com Conceição & Lehman (2011, p. 3): Institutions of higher education must embrace the idea that online teaching is a reality they must act upon if they want to compete in the world economy. With decrease in financial support, public institutions are suffering and in need of new markets. For many institutions, public or private, online educational has become a new form of revenue that does not require them to build additional physical facilities, and that has proven to be a solid source of income with increasing Ora, conhecendo as vantagens do ensino online e algumas das suas características gerais, também é importante analisar as condições locais. Será que as condições técnicas, tecnológicas e pedagógicas estão devidamente acauteladas? Essas condições estão acessível às IES e ao seu público-alvo? São essas questões que procuraremos responder ao longo deste artigo.

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Procedimentos Metodológicos No campo de investigação das Ciências Sociais e Humanas (CSH) duas grandes perspetivas se destacam: a perspetiva quantitativa e a perspetiva qualitativa. Porém, uma terceira perspetiva é acrescentada, sobretudo em investigação em Ciências da Educação, Psicologia e Sociologia: a perspetiva orientada para a prática (Coutinho, 2011). Sem procurar desenvolver cada um dos paradigmas, centramos a nossa atenção na perspetiva qualitativa, pois é aquela que melhor caracteriza o tipo de investigação que desenvolvemos, cujo procedimentos, instrumentos e as principais conclusões apresentamos. Esta comunicação possui característica de uma investigação qualitativa, de natureza descritiva, uma vez que parte da análise de uma situação real, procurando compreender e explicar o fenómeno em estudo. Objetivos O conhecimento e a compreensão de qualquer fenómeno da dimensão humana pressupõem da parte do investigador certos “rituais”, já habituais no campo de investigação das CSH. Dentro deste quadro de referência, os objetivos constituem elementos orientadores de todo processo, na medida que são eles que constituem o ponto de chegada e determinam os meios e métodos mais adequados. Assim, com esta investigação pretende-se: 1. Analisar as potencialidades que poderão tornar possível o ensino online em Cabo Verde; 2. Evidenciar as condições técnicas e as infraestruturas tecnológicas e pedagógicas necessárias ao ensino online; 3. Identificar os possíveis obstáculos que podem dificultar esse processo. Instrumentos Tendo em conta a natureza dos dados que importava recolher, e o subsequente tratamento destes, optámos por utilizar a notação como procedimento, porque, de acordo com Charles, 2008 (citado Coutinho, 2012, p. 99), a notação é o processo de fazer registo ou breves descrições acerca de pessoas ou de objetos, contextos ou acontecimentos. O investigador observa um dado comportamento, fenómeno ou documento e regista ocorrências ou faz uma lista das suas características (lista de controlo, aferição ou cheklist, matrizes), em suma, trata-se de um método que parte de observação e que pode ser utilizado em qualquer tipo de pesquisa, mas que é peça fundamental na investigação descritiva. Em termos de instrumento foram utilizadas grelhas de observação e o próprio investigador, enquanto observador. As fontes de informação para elaboração da presente comunicação foram documentos, tais como relatórios, estudos e outros dados disponibilizados pelos diferentes serviços e instituições referidos no estudo, em suporte papel e digital.

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Recolha de dados Os dados foram recolhidos através de análise das fontes referidas anteriormente. Pontualmente foi realizado algumas deslocações, com vista a obter mais informações e esclarecer algumas dúvidas, em relação ao conteúdo disponibilizado nos seus websites.

Resultados As potencialidades Comecemos por abordar as potencialidades que o país apresenta que poderão tornar possível o desenvolvimento de ensino online, a partir da análise das condições a nível das telecomunicações, mais concretamente, a Internet. Faremos referência aos fornecedores do serviço, a qualidade da ligação bem como a taxa de penetração, o seu crescimento e custos. Seguidamente, focaremos a nossa atenção a outros meios indispensáveis a introdução do ensino online, nomeadamente, as questões pedagógicas, que, apesar da ordem de apresentação, não a torna menos importante. De acordo com o estado da UIT (União Internacional das Telecomunicações), Cabo Verde, em 2010, posicionava-se no 108º lugar no ranking mundial de acesso à internet. Uma posição bastante positiva, comparativamente a outros Estados da sub-região. No país, para além da empresa CVMultmédia, que fornece serviço de internet através das tecnologias Dial-up, ADSL e BLM, existem também outros provedores licenciados, como a Cabocom, CVWIFI, MB Investimentos e a Telmax. O número de utilizadores de internet tem aumentado exponencialmente nos últimos dois anos (77,3%), representando uma taxa de penetração de 19,2%, com destaque para o acesso móvel de terceira geração (3G). Como podemos observar no gráfico 1, o aumento de acesso através de banda larga teve um aumento bastante significativo, representado, assim, mais vantagens para os utilizadores, possibilitando outros serviços cuja utilização depende de uma maior largura de banda. De realçar que a entrada de novos operadores no setor das telecomunicações veio permitir não só a melhoria de serviços, aumentando do número de utilizadores e a cobertura geográfica, a nível da rede móvel.

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Gráfico 1 - Evolução de número de assinantes de internet ao longo dos anos 1

Fonte: ANAC

O acesso à internet através de dispositivos móveis ultrapassa todas as outras formas de acesso, ao mesmo tempo que verificamos o decréscimo de número de utilizadores da tecnologia Dial-up (gráfico 2), que pelas suas características (baixa velocidade na transmissão de dados) não constitui uma boa opção para o desenvolvimento de curso online. Sendo assim, tem havido maior interesse dos utilizadores pelo acesso à internet através de ADSL, tendo em conta a sua qualidade no fluxo de dados.

Gráfico 2- Distribuição dos utilizadores por tipo de acesso Fonte: ANAC

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ANAC- Agência Nacional de Comunicações

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É de notar que o acesso à web por via de dispositivos móveis (BLM- Banda Larga Móvel), como telemóveis, tablets, PDA e mesmo computadores portáteis, ocupa ¾ do total de meios de acesso, facto que deverá ser merecedor de atenção, tendo em conta o interesse atual e os avanços verificados no campo da mobile-learning. O recente lançamento do cabo de fibra ótica ligando Africa do Sul à Inglaterra passando por vários outros países, entre os quais Cabo Verde, constitui uma grande conquista que vai permitir aumentar as velocidades de comunicações, em particular da Internet com impacto na redução dos preços ao consumidor. Este não é indicador único do desenvolvimento tecnológico do país. Na verdade, esse desenvolvimento tem sido acompanhado por políticas públicas de facilitação de acesso à informação, reduzindo, por um lado, a exclusão digital, abrindo, por outro lado, possibilidades a outras modalidades de ensino e de formação, para além do tradicional. Todavia, o desenvolvimento da tecnologia acaba sempre por criar os seus excluídos. De acordo com Lévy (2000, p. 237) “qualquer avanço nos sistemas de comunicação acarreta necessariamente alguma exclusão. Não havia iletrados antes da invenção da escrita”, mas essa exclusão não é uma inevitabilidade, sendo necessário um amplo conjunto de esforços (públicos e pessoais) para se efetuar uma verdadeira inclusão digital. Numa fase de transição societária, são fundamentais os esforços públicos para se combater a info-exclusão. Neste processo, o papel da escola, em muitos países, tem sido basilar (Silva & Pereira, 2011). A nível político é notória a convicção da importância que as TIC possuem, quer como motor de desenvolvimento económico, tornando a economia mais moderna e competitiva, quer como forma de combate a desigualdades sociais no acesso à informação e ao conhecimento. Essas pretensões levaram com que em 2003 fosse criada a NOSI (Núcleo Operacional para a Sociedade de Informação), com objetivo de modernizar a administração pública, rumo a governação eletrónica, a promoção e a implementação de medidas que garantam o desenvolvimento de uma sociedade de informação e de conhecimento. As Praças Digitais, da responsabilidade da NOSI, existentes um pouco por todo país, constituem verdadeiros pontos de acesso ao mundo virtual. Nestes locais (geralmente uma praça, parque, jardim público), todos podem ter acesso à Internet sem fio, de banda larga e grátis, desde de que se possua dispositivo próprio (computador portátil, tablete ou telemóvel). Todas essas iniciativas e políticas estão profundamente ligadas à estratégia do governo para o desenvolvimento do país, tal como elucida o programa PESI (Programa Estratégico para a Sociedade de Informação). O PESI foi desenvolvido pelas autoridades governamentais em 2005. Assenta nos seguintes pilares de intervenção: Acessibilidade para todos; Governação mais próxima dos cidadãos; Novas oportunidades económicas; Incremento da qualidade de vida; Capacitar para inovar; Um contexto estimulante; Liderança na ação; Investigar para crescer; Medir para desenvolver. Um outro programa desenvolvido pelas autoridades, também ele merecedor da nossa atenção é o programa Mundu Novu. Esse programa é desenvolvido e implementado pelo Ministério da

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Educação e Desporto. Tem como principais objetivos a promoção e modernização do processo de ensino através das TIC, contribuir para o aumento do nível de conhecimento dos cidadãos, tornar o país mais competitivo na economia global, contribuir para redução das assimetrias e sociais e combater a infoexclusão. Em termos de parceiros, o programa conta com a colaboração da Microsoft e da Intel. Em termos práticos, esses objetivos são materializados através de apetrechamento de escolas com computadores, acesso a internet e outros equipamentos informáticos, bem como formação em TIC dos docentes, de modo a ser tirado mais e melhor proveito dessas ferramentas. As atividades formativas no domínio do EaD, com utilização da MOODLE, desenvolvidas pela Universidade Pública de Cabo Verde, através do Núcleo de Ensino a Distância e a assinatura de acordos de cooperação com instituições internacionais, constituem elementos de particular relevância. A reconfiguração do Instituto Pedagógico em Instituto Universitário de Educação (Decreto-lei nº 17/12 de 21 de junho), atribuindo-o novas competências e novas missões no domínio da formação de agentes educativos, mais adequados com políticas educativas nacionais e de modo a atender os desafios no mundo atual e, o mais importante, o manifesto interesse por parte das autoridades nacionais em capacitar essa instituição com meios técnicos e pedagógicos, de modo a que essa possa desenvolver atividades formativas através da EaD, com recurso as TIC, é facto decisivo no desenvolvimento da educação online no país A assinatura do programa CVE/077 constituiu um importante contributo no desenvolvimento do EaD em Cabo Verde. O projeto CVE/077 - Política Integrada Educação/Formação e Emprego em Cabo Verde foi desenvolvido por uma equipa interministerial englobando o Ministério da Juventude, Emprego e Desenvolvimento dos Recursos Humanos, Ministério do Ensino Superior Ciência e Inovação e Ministério da Educação e Desporto. Constitui um contributo na medida em que o programa prevê, de entre outros objetivos, implementar e dinamizar uma plataforma MOODLE a fim de desenvolver ações próprias de formação e de capacitação, domínio da educação (ensino técnico) e formação profissional. Um outro fator, que poderá permitir a melhoria no acesso e na qualidade de ligação de Internet através de aumento da largura de banda, é a introdução da tecnologia WiMAX anunciada pela NOSI. Essa instituição tenciona implementar a curto prazo essa recente tecnologia nas instituições públicas, incluindo escolas e locais público de acesso à Internet, como as Praças Digitais. Como se sabe, a tecnologia WiMAX representa uma grande evolução em termos de velocidade transferência de dados, uma vez que a sua velocidade chega a ultrapassar 1 Gb/s. Em termos legais, a Educação a Distância encontra-se regulada através da Lei de Bases do Sistema Educativo (Decreto-lei, nº 2/10, de 7 de Maio). No seu artigo 51º, a referida lei reconhece que as autoridades educativas poderão recorrer às TIC para garantir a formação, no ensino superior e na formação de professores.

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Os obstáculos Os meios informáticos, a nível de software e hardware possuem seus custos, não só no processo de aquisição, como também na manutenção. Cursos EaD com recurso à web pressupõem haver uma plataforma de e-learning, (LMS), entre outros recursos. Apesar de haver soluções open source, é sempre indispensável haver servidores e outros equipamentos informáticos, pessoal para instalação e manutenção. Tudo isso representa custos estimados em alguns milhares de escudos cabo-verdianos. As 36 Praças Digitais do projeto Konekta espalhadas pelas ilhas, já anteriormente referido, para além de estabelecerem a ligação entre as instituições públicas, na lógica da política de governação eletrónica, garantem o acesso gratuito a Internet através de sistema wireless, porém, apenas 14 Mega bites são disponibilizados diariamente. Ora, essa velocidade de transferência de dados é extremamente limitada, tornando a navegação lenta e causando frequente crashs, dificultando a navegação e o carregamento/descarregamento de dados (upload e download), facto que leva a desmotivação dos utilizadores. Apesar de nos últimos tempos ter havido aumento considerável da taxa de utilizadores de internet de banda larga ADSL (cf. Gráfico 1), o preço elevado praticado pelas operadoras (tabela 1), aliado a limitação a nível do download/upload, sob pena de pagamentos adicionais, também tem sido como um obstáculo. Tipo de ligação Netfacil ADSL 256 kb/s Netfacil ADSL 512 kb/s Netfacil ADSL 1024 kb/s Netfacil ADSL 2048 kb/s Netfacil ADSL Pro 8192/512 Netfacil ADSL Pro 8192/1024

Assinatura base mensal 989$00 1.955$00 2.645$00 3.680$00 9.775$00 12.075$00

Trafico incluído 1 GB 3 GB 5 GB 10 GB 15 GB 15 GB

Custo por cada MB adicional 2,30$ 2,30$ 2,30$ 1.15$ 1.15$ 1.15$

Tabela 1 - Tarifário de internet para clientes normais (2011) Fonte: cvmultimedia

Sabendo que hoje em dia as plataformas de e-learning e sites na internet agregam bastantes conteúdos multimédia (áudio, vídeo, imagens, texto), facilmente se poderá ultrapassar o limite do tráfico normal incluído no pacote, incorrendo, desta forma, a pagamentos adicionais por cada Mega bite consumido. Ultimamente surgiu, na CV Telecom, uma opção nova em termos de tarifário e de serviços prestados. Essa opção é a disponibilização de download sem limites. Mas, para isso o cliente tem de subescrever o serviço de televisão por cabo (ver os preços na tabela 2).

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Tabela 2 – Preços de Zap (e internet) sem limites Fonte: CVmulimédia

Analisando os preços (14.000$ CV=113,33 USD), claramente se percebe que estes são insuportáveis para a maioria dos orçamentos familiares, tendo em conta o rendimento per capita da população cabo-verdiana que varia entre 1,026 a 4,035 USD. A energia elétrica consumida no país é quase toda ela produzida a partir de centrais termoelétricas que utilizam o fuel como combustível, o que encarece o preço do mesmo junto dos consumidores e provoca instabilidade no fornecimento, com frequentes apagões. A falta de formação pedagógica para docentes de cursos online é uma outra variável a ser levada em conta. Uma vez que não basta transpor os cursos dos moldes tradicionais para ambientes digitais, a formação dos docentes em matéria de conceção de conteúdos, gestão de cursos e dos alunos nos LMS, é um aspeto de extrema importância e diretamente ligado ao sucesso dos cursos. De acordo com Silva & Pereira (2012, pp. 46-47), uma das dificuldades apontadas como entrave à educação online e à alteração de modelos pedagógicos numa sociedade cibercultural é a imersão cibertultural, sobretudo da geração dos docentes. Estes já se apropriaram das TIC para as suas tarefas de pesquisa, comunicação e lazer, mas não para a docência, nem para a sala de aula. Neste sentido, foi salientado que os professores precisam adquirir saberes e competências que lhes permitam mediar pedagogicamente atividades no ciberespaço, e não simplesmente transpor para online a pedagogia utilizada em contextos presenciais. Muitas das iniciativas de implementação e de desenvolvimento de cursos online são logo deixados em papel devido a falta de formação dos intervenientes (como os formadores e funcionários de apoio), de competentes estudos de acompanhamento do processo e dos elevados custos.

Reflexões finais Hoje em dia, é comum encontrar ofertas formativas de cursos, principalmente nos níveis de graduação e de pós-graduação, em modalidades a distância e semi-presencial, graças a evolução das TIC e das contribuições provenientes das teorias de aprendizagem, com destaque para o construtivismo e socio-construtivismo. Essa possibilidade veio permitir não só formar a distância, como também reforçar as formações realizadas em moldes completamente presenciais. Mas, a maior vantagem está, sem dúvida, em levar a formação àqueles que estão impossibilitados de se deslocar às instituições de ensino. A dispersão geográfica das ilhas, aliadas às dificuldades de transporte entre elas, acarreta enormes custos às várias organizações, públicas e privadas, que dedicam a formação e não só. É sabido que para se obter bom desempenho profissional os conhecimentos têm que se manter atualizados, pois o mundo atual, caracterizado pela globalização e pelo fluxo enorme de informações, imprime maior competitividade e complexidade ao mercado de trabalho. As

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empresas e as instituições de ensino necessitam de formar os seus públicos, atualmente, com maior atenção e cuidado redobrado em relação aos custos. A evolução das TIC veio permitir ultrapassar a barreira física que existe entre as partes em processo de ensino e de aprendizagem. A interação entre professor/formador e aluno/formando passou a ser mais intensa, na medida em que se pode estender para além das paredes da escola, através dos sistemas de gestão de aprendizagem e de outros meios, entre as quais, as redes sociais potenciados pela web 2.0. Porém, é necessário envidar esforços de várias ordens para que os objetivos almejados sejam alcançados. Os principais constrangimentos para a implementação deste processo em Cabo Verde são, neste caso concreto, a largura de banda e qualidade da ligação que poderá condicionar o normal funcionamento da plataforma LMS, provocando retardamentos, uma vez que as LMS de hoje em dia suportam conteúdos multimédia (vídeo, áudio, objetos de aprendizagem) que poderá tornar a navegação algo lento. Os preços praticados pelos operadores poderão constituir uma barreira no acesso à Internet, logo, poderá constituir-se num obstáculo ao ensino online, pois que muitos dos potenciais formandos não poderão custear os serviços. Assim, dado a falta de meios por parte maioria da população, o recurso a locais de livre acesso a Internet como as Praças Digitais e as instituições educativas revela-se excelente alternativa. A tecnologia e os computadores de nada servem se não houver um forte investimento humano a nível pedagógico. Pois, como se sabe, desenvolver custos em modalidade EaD/e-learning não significa transportar os conteúdos e outros materiais pedagógicos para plataforma. É necessário desenvolver competências em matéria de e-formação e de e-tutores. As deficiências na produção e na distribuição da energia elétrica representam um grande obstáculo que, de forma transversal, afeta vários setores. São poucos os serviços que permanecem operacionais sem eletricidade. Porém, prevê-se melhoria a curto prazo. O recurso a práticas de ensino e de formação com recurso a web deverá ser uma estratégia a ser adotada pelas instituições de ensino, principalmente as do ensino superior, pois construir polos universitários em cada uma das ilhas é uma política contraproducente em termos económicos, de entre outros inconvenientes. Apesar do investimento que poderá representar a adoção de práticas de ensino online, estudos comprovam que o futuro do e-learning é promissor (Media sessions, 2004). Hoje em dia existem soluções mais económicas, nomeadamente plataformas open source, como é caso da MOODLE, que, pela razão apresentada e pelo seu desenvolvimento continuo, fiabilidade e facilidade é a LMS mais utilizada no universo das plataformas de e-learning livres. Num momento em que vários países atravessam crises económico-financeira, sem precedentes, onde se assiste ao colapso da economia de vários países antes considerados

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“fortalezas” económicas, é urgente adotar práticas mais racionais e que se traduzam em investimentos mais sustentáveis. Existe algum ceticismo relativamente a qualidade dos conhecimentos adquiridos através dessa modalidade de ensino. Tal descrença é, muitas vezes, motivada pelas limitações a nível da qualidade na organização, desenvolvimento e avaliação de algumas formações online. Contudo, existem vários estudos que apontam elevada taxa de sucesso em cursos desenvolvidos com componente a distância, na modalidade mista (blended-learning), em relação a cursos realizados totalmente em regime presencial (Keagan, 2002). Este autor faz referência a um estudo elaborado pelo Professor Jerald Shuttle, da Universidade Estadual da Califórnia, destacando que os estudantes dos cursos na web possuem desempenho superior ao dos estudantes das universidades tradicionais, em cerca de 20%. Em jeito de conclusão, podemos afirmar que as condições existentes em Cabo Verde, quer em termos tecnológicos, quer em termos pedagógicos, a nível de Instituições de Ensino Superior, são suficientes para implementação de práticas de ensino com recurso a web, inicialmente na modalidade b-learning. Porém, é necessário desenvolver políticas que levem a redução dos preços praticados pelas operadoras e desenvolver formações com vista a capacitação dos docentes em matéria de ensino online. Em termos de perspetivas de investigação futura, salientamos o estudo curso que pretende fazer o levantamento sobre as eventuais práticas de EaD/e-learning que se encontram em curso nas IES do país, no que tange a utilização de LMS por parte das instituições. Este artigo faz parte de investigação que tem como principal objetivo o desenvolvimento de estratégias com vista a implementação o ensino online no Instituto Universitário de Educação (IUE) de Cabo Verde, através da capacitação dos docentes da Escola de Formação de Professores Hermínia Cardoso (Praia), no primeiro semestre do ano letivo 2013/2014. Essa capacitação em matéria de e-formação pretende incrementar o uso das TIC, de modo a permitir que os docentes implementem práticas de ensino, na modalidade b-learning nas suas unidades curriculares. Assim, consideramos que é através de investigação, que se poderá inovar e introduzir qualidade no ensino, ao mesmo tempo que a educação se torna mais democrática e acessível aos cidadãos, independentemente da localização geográfica destes, uma vez que o desenvolvimento das TIC e adoção de novos modelos de ensino está a fazer mudar o paradigma da educação, tornando cada vez mais possível aprender em qualquer hora e em qualquer lugar.

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