O ESPAÇO É PROBLEMA DA GEOGRAFIA: POSSIBILIDADES PARA A COMPREENSÃO DO CONCEITO DE ESPAÇO

June 3, 2017 | Autor: Tiago Karas | Categoria: Produção Do Espaço
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O ESPAÇO É PROBLEMA DA GEOGRAFIA: POSSIBILIDADES PARA A COMPREENSÃO DO CONCEITO DE ESPAÇO.

INTRODUÇÃO Existe uma variedade de concepções do espaço que segundo Santos (2002) “transita pelos diversos ramos do conhecimento” como na física, na biologia e também, propriamente dentro da geografia existem formas diferenciadas de conceber o espaço, assim “... a discussão em torno da necessidade de se apurar, da forma mais criteriosa possível, o significado da categoria tornou-se uma tarefa premente”. De outra forma, podemos dizer que essa falta de objetividade, pressupõe a urgência de entender esse espaço que sirva ao estudo da geografia, bem como também saber o que se quer de espaço com os mais diversos ramos de conhecimento dentro da geografia. O que tem prevalecido, na constituição das ciências modernas, não apenas na geografia, bem como também em diversas outras áreas são os recortes do objeto, que segundo Santos (2002) cria um problema em querer com o “corte do objeto” justificar o “corte da razão”. Esses são os problemas causados pelas grandes áreas de especialização, assim, “... enquanto o relevo é um problema da geografia, a sociedade o é da sociologia, a cultura da antropologia, a rocha da geologia e o planeta como um todo ou em suas microparticulas é assunto da física”. (p. 21). Todos esses recortes, presentes nas ciências modernas, demonstram que “qualquer corte no real é, no mínimo, arbitrário” e que o pensamento geográfico “obriga-nos a romper com todos os limites de especialização que a mais sagrada tradição acadêmica tem imposto” (Ibidem, p. 2122). Essas divisões, representadas pelas especializações das ciências propõem “construir todo um discurso sobre um conjunto de objetos” que na maioria das vezes por conta das especializações são estudados separadamente, mas “na verdade, não existem enquanto tais: o relevo, o clima, enfim, o mundo físico ou, visto por outra sociedade, a economia e os mais diferentes temas geográficos”. Esses elementos só existem em relação um com o outro e também com o todo, e separá-los na sua compreensão, torna-os ineficazes para compreendê-los na ciência geográfica e principalmente compreender a relação entre os elementos que formam o espaço, do físico, do humano, do político, do econômico, do social, etc. Podemos imaginar, que toda forma de conhecimento e aprendizagem é carregada de intencionalidade, ou seja, conhecimento do que? Aprendizagem para que? Muitas vezes o que se pretende com o estudo não demonstra claramente o que se quer desvendar, ou muitas vezes nem demonstra se quer haver algo obscuro aos nossos olhos, assim Harvey (2005, p. 12) propõe a “necessidade premente de definir uma geografia crítica, que pudesse “desconstruir” o modo como determinados tipos de conhecimento, aparentemente “neutros”, “naturais” ou até “óbvio”” possam

ao invés de esclarecer, se tornar “meios instrumentais de preservação do poder político”, como a especialização em segmentos parcelares das áreas das “geografias”. Para avançar nessa discussão de compreender o espaço, serão analisadas na sequência as três concepções propostas para este trabalho, acreditando contribuir, assim, para uma compreensão enquanto várias possibilidades de pensar sobre o espaço, iniciada pela “reinvenção do espaço” como uma das categorias de análises.

ESPAÇO COMO (RE)INVENÇÃO Iniciar a discussão de espaço, pela de Santos (2002) em “A Reinvenção do Espaço” não é (des)intencional, pois, entendemos que esta concepção de espaço elenca elementos históricos, que facilitará a compreensão dos objetivos que este trabalho se propõe. O elemento histórico na “reinvenção do espaço” é traduzido na forma de como que a sociedade, nas diversas fases de sua evolução histórica, caracteriza o espaço em forma de mapas, assim, segundo Santos (2002, p. 26) “... todos os mapas conhecidos, em todos os momentos da história, representam de uma maneira ou de outra, a leitura de mundo da sociedade que os construiu...”. Em primeiro lugar, o fato de cartografar não é característica apenas da sociedade moderna, e em segundo, os mapas das sociedades antigas não eram produzidos com todo o rigor matemático dos mapas atuais, porém isso não importa, o mapa se traduz numa forma de linguagem do espaço e o que estas sociedades buscavam era entender o próprio espaço, com as ferramentas que havia à disposição. Porém, diante de toda a “diferencialidade territorial inerente ao planeta” como, clima, solo, vegetação, disponibilidade de água... “ao se confrontar com as múltiplas necessidades humanas”, para a sobrevivência, como a disponibilidade de alimentos, trabalhos... “pressupõe o deslocamentos territorial enquanto condição de acesso à possibilidade do ato...” (Ibidem, p. 28). A medida que as populações vão se deslocando para aumentar o acesso a certos recursos naturais, para suprir suas necessidades por esses produtos, essa expansão ou deslocamento territorial impõem a necessidade de expandir a representação que se tem do espaço, o que segundo Douglas Santos manifesta a ideia de espaço que foi (re)inventada ao longo da história. Os mapas chamados T-O produzidos na Europa durante o Feudalismo afirmava “com todas as letras, a hegemonia cultural do cristianismo/catolicismo romano (para)... apontar... um dos elementos fundamentais que dá substrato ao discurso feudal. (Ibidem, p. 36). Assim o que se pretendia era “mostrar o mundo das relações feudais [...] (que) garanta sua reprodução na manutenção das relações – de trabalho, técnica, culturais...” (Ibidem, p. 38). Esses, faziam a representação claramente de mundo que se tinham em vista de dentro do Feudalismo, ou seja vista de dentro do próprio espaço, que caracterizou a ideia de espaço vigente no período.

Já com as chamadas castas-portulanos houve a possibilidade de um horizonte de espaço maior, pois “... expressam os primeiros momentos da sociedade mercantil em detrimento das relações de subsistência do feudalismo...”, a sociedade mercantil em gestação é o princípio da expansão de novas rotas e consequentemente novas cartas, que desse conta de compreensão desse espaço “aporta-nos um caminho seguro para o próximo porto, para um deslocamento eficaz das mercadorias, para a realização efetiva do processo de acumulação”, essas cartas-portulanos, segundo Douglas Santos, constituíram basicamente como ligação de proximidade de um porto à outro porto, como forma de orientação das rota de comércio para as trocas mercantis. (Ibidem, p. 54). Mas, é “o mapa de Mercator (que) nos mostra: o mundo do mercantilismo se define por uma ampliação territorial sem precedentes... (Ibidem, p. 79). Mercator irá demonstrar as grandes mudanças em gestação na sociedade, iniciadas com o capitalismo mercantil, mas aprimoradas com a expansão territorial do processo de colonização, onde a Europa, no centro, toma ciência do mundo e amplia a noção de espaço como também expande e domina novos territórios por meio da colonização. Segundo Santos (2002, p, 105-6) “A novidade do mapa de Mercator,... que expressa a necessidade

de

uma

época...

a

redefinição

dos

paradigmas

científicos

de

consolidação/hegemonização burguês”. Portanto, o inicio do processo de expansão e consolidação de uma nova dinâmica territorial pautada na expropriação territorial, do espaçotempo desencontrados, dos povos nativos por uma classe dominante burguesa. Ao expandirem esses limites territoriais, houve a necessidade de obter cartas que fizessem uma leitura maior do espaço, sem o qual não poderiam se projetar ao mundo, sem o conhecimento desse mundo minimamente possível que as catas são capaz de atender. Assim:

... os portulanos, ao definirem ponto a ponto as relações dadas pela distancia, perdem seu sentido prático na medida em que se reduz a escala, o que não seria um problema grave se as navegações tivessem permanecido nos limites do Mediterrâneo, mas transforma-se num entrave uma vez que a territorialidade européia passar a ter dimensões do próprio planeta. (SANTOS, 2002, p. 108).

Alterou, substancialmente, o conceito de espaço e tempo, pois, as mudanças até então causadas localmente ou regionalmente, como apenas no continente europeu, passam a tomar proporção planetária, cujo primeiro momento desse processo é o da colonização, assim temos “... nos séculos XV e XVI... a mais radical revolução geográfica da história da humanidade...” (Ibidem, p. 117) Posteriormente, novas formas de pensar o espaço e o tempo foram introduzidas por Galileu, no séc. XVII, porém, “se as idéias de tempo e espaço que possuímos são inauguradas por Galileu, ele também inaugura a idéia que temos de ciência e de verdade” (Ibidem, p. 133). Pois suas analises estão pautadas na “busca incansável da leitura efetiva dos fenômenos”

(Ibidem, p. 127) que demonstram que “o que deve nos chamar a atenção é, justamente, o fato de que há uma grande diferença entre o que vemos e o que realmente acontece”. (Ibidem, p. 137). Porém, Newton aprimorou as ideias de Galileu e possibilitou forma as concepções de tempo e espaço do que seria mais próximo em vigência nos dias atuais, assim: ... a diferença entre o movimento absoluto e o relativo: o primeiro é, na verdade, a soma total dos movimentos, enquanto o segundo é somente uma das variáveis em jogo. (...) o raciocínio permite-nos compreender melhor as idéias de lugar e espaço, em que absoluto e relativo formam o jogo conceitual determinado pela parte e pelo todo. (SANTOS, 2002, p. 167).

Newton pensou os fenômenos da física introduzindo as variáveis matemáticas, mas para a geografia, por exemplo, é necessário entender essas variáveis como numa região que possui certas características que estabelecem relação no lugar, mas que variam, de um lugar para outro, assim seria a ideia de lugar relativo, por caracterizar o lugar como aquele que dá identidade à pessoa, aos povos, que reconhece como seu, como pertencente ao lugar, assim temos a ideia de relativo, pois o lugar que lhe dá identidade não é o mesmo a dar identidade para outras pessoas, e assim sucessivamente. Por fim, é em Kant, que segundo Douglas Santos entende que o espaço “... existe enquanto realidade externa, pois, no final das contas, o que identificamos é a disposição das coisas no espaço”. (Ibidem, p. 181). O Espaço não é a matéria, não existe como coisa em sí, na verdade, para Emanuel Kant, o espaço compreende a forma, ou a “disposição” como os objetos estão organizados em determinados lugares. Portanto, “... a noção de espaço é aquela que nos permite dar ordem à externalidade, identificando cada coisa em seu lugar. (idem, p. 185). Veremos a seguir, que a concepção de expansão colonial, não apenas, possibilitou uma ideia de espaço gestada na expansão e consequentemente o que se sabia de espaço, como também indica ter sido responsável pelo projeto de modernidade amparadas na concepção de desenvolvimento europeu, para contrapor a isso, é que Dorren Massey propõe pensam o espaço diferentemente da concepção histórico-linear.

O ESPAÇO COMO CONSTRUÇÃO DE MULTIPLAS TRAJETÓRIAS Segundo Massey (2008), a modernidade redefiniu a forma de pensamento da geografia ao estabelecer “uma relação particular de conhecimento/poder”, o conhecimento do espaço apropriado ou colonizado por tudo aquilo que a expansão colonial pode proporcionar sobre terras desconhecidas, que gerou um poder, o poder do colonizador sobre os espaços coloniais. (p. 103). A compreensão do espaço e da sociedade decorrente da modernidade baseava-se numa concepção de culturas, sociedades e nações separadas entre si pela “suposição de isomorfismo

entre espaço e lugar, por um lado e sociedade e cultura por outro”, como se houvesse a possibilidade de dissociar a sociedade do seu lugar, do fazer-se, do conjunto dos valores sociais de determinados espaço. Esta concepção esta baseada em “uma forma particular de ordenar e organizar o espaço que se recusava (e ainda se recusa) a reconhecer suas multiplicidades, suas fraturas e seu dinamismo”. (MASSEY, 2008, p. 102-3). Segundo Massey (2008, p. 103)

O que se desenvolveu dentro do projeto da modernidade, em outras palavras, foi o estabelecimento e a (tentativa de) universalização de uma maneira de imaginar o espaço (e a relação sociedade/espaço) que afirmou o constrangimento material de certas-formas de organizar o espaço e a relação entre sociedade e espaço.

A maneira “universal” de pensar o espaço predomina fortemente nos dias atuais, são incapazes de perceber que as pessoas e os grupos sociais estão ligados a determinados lugares, não apenas por fatores econômicos e políticos, mas é a base material de formação que determina a condição do grupo social, a compreensão desse espaço não pode ser feita de outra forma que não seja, englobando os lugares e os grupos sociais que o ocupam, para compreender que o espaço interfere tanto na organização social, como este, também, molda o seu lugar de acordo com as suas necessidades. A modernidade concebeu os lugares como “estágios diferentes em um único desenvolvimento temporal”, os lugares estariam assim, sequencialmente organizados como se numa linha de tempo, do mais antigo ao mais recente, tomando toda a heterogeneidade espacial, numa “única série temporal”. Essa interpretação mecânica de espaço como um fim em si mesmo nega-o como “um constante processo de fazer-se” ou “impõe a repressão da possibilidade de outras trajetórias”. (Ibidem, p. 107 e 109). Segundo a autora, o modo hegemônico de concepção colonial (europeu) de progresso e modernização, demonstra que o que sempre esteve “em jogo era a estabelecimento de uma geografia do conhecimento/poder” com a tentativa de erradicação espaço-temporal da distância, negar a “possibilidade de trajetórias múltiplas” e a “real diferença de outros” (Ibidem, p. 109-10). Como o espaço esta inserido num processo de “fazer-se” e não invés de acabadoconsolidado, que existem diversa possibilidades para a sua trajetória, segundo Massey (2008, p. 111), Lugares, em vez de serem localizações de coerência, tornam-se os focos do encontro e do não-encontro do previamente não-relacionado e assim essencial para a geração do novo. O espacial, em seu papel de trazer distintas temporalidades para novas configurações, desencadeia novos processos sociais.

Muitas vezes a concepção moderna tem tomado a globalização como processo homogêneo, como também de “imaginação da instantaneidade”, no entanto, de fato, demonstra não contemplar as reais dimensões desse processo. “Não há naturalmente, nenhum momento

único global integrado”, a espacialidade desigual da natureza, favorece a desigualdade de sua construção, na verdade, o que ocorre é uma multiplicidade de formas integradas em espaço e tempo diferenciados. (MASSEY, 2008, p. 118-9). Para compreender o espaço é importante reconhecer o processo que implica na multiplicidade, mesmo quando se fala na instantaneidade de processos de comunicação como a internet. Na verdade, segundo a autora não há como aniquilar a multiplicidade por mais intensa que seja a comunicação e o transporte, pois, “O próprio conceito de multiplicidade requer, necessariamente, espacialidade” (Ibidem, p. 138). O espaço resulta de “configurações imprevisíveis, dentro de multiplicidade” e não importa a velocidade das transformações, jamais o tempo conseguirá aniquilar o espaço, contrapondo ao que assevera Harvey (2005), na verdade novos tipos de configuração espacial serão “coconstruidos” por uma série de fatores e tipos de multiplicidade. (Ibidem, p. 139). O espaço não pode ser concebido como externo à sociedade, pelo contrário, é a própria sociedade que fazendo uso de determinados lugares, (re)configura e (re)constroi espaço, assim, “... a forma espacial abstrata em si não pode garantir nada sobre o conteúdo social, político ou ético das relações que constroem aquela forma. O que está sempre em questão é o conteúdo, não a forma espacial, das relações das quais o espaço é construído”. (MASEEY, 2008, p. 151). Portanto, “conceituar o espaço em termos de práticas e relações” tanto locais como globais, significa reconhecer o processo implicado de relações, múltiplas e indefinidas nas diversas escalas do espaço, independente da velocidade das transformações que mesmo facilitando a comunicação e o transporte, não aniquila o espaço. O grande problema dos mapas atuais, segundo Massey (2008) é conceber o “espaço como produto acabado”, os mapas definem perfeitamente “a forma espacial abstrata”, mas espaço não é a forma, é o conteúdo, e este conteúdo é o resultado de uma multiplicidade de relações que faz e se (re)faz constantemente, e que “portanto, com toda a certeza, o espaço não é um mapa e um mapa não é o espaço, mas mesmo mapas não devem pretender impor sincronias coerentes”. (p. 163). Forma e conteúdo são coisas distintas, a representação abstrata do espaço como a dos mapas, é incapaz de dar conteúdo à forma. O espaço tomado pelo conteúdo nos coloca diante de “trajetórias múltiplas”, pois, “... a medida em que o espaço é produto de relações sociais, você também está ajudando... a alterar o espaço. Você é parte do processo constante de estabelecer e quebrar elos, que é um elemento na constituição de você mesmo...” (MASSEY, 2008, p. 175). O que redefine como pensar e representar o espaço, segundo Massey (2008) é pela maneira que contemple as “trajetórias múltiplas” ao invés de um todo abstrato e acabado. Sem duvida, as maiores transformações no espaço são em decorrência dos atuais níveis de desenvolvimento do sistema capitalista, onde veremos segundo David Harvey ser um sistema

de desenvolvimento que em nada condiz com o modelo centro-europeu, como já dito anteriormente histórico linear e livre de contradições.

O ESPAÇO COMO PRODUTO DAS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO CAPITALISTA

Harvey (2005) demonstra que o estudo da teoria marxista é imprescindível para apreensão das transformações geográficas, pois, ela nos “ensina como relacionar, teoricamente, a acumulação e a transformação das estruturas espaciais”. Assim como diversas contradições, são observáveis no processo de acumulação capitalista, onde não existe o “crescimento harmonioso e equilibrado”, também não é de fato livre de contradição “a paisagem criada pelo capitalismo”. (p. 53). O que importa para o sistema capitalista, na tentativa de superar as crises, é “criar uma nova oportunidade de acumulação” pondo no centro de sua superação “a questão da organização espacial e da expansão geográfica como produto necessário para o processo de acumulação”. Como quando o autor salienta “a transformação da agricultura de subsistência do camponês em agricultura empresarial”, a cooptação de programas de moradias, do governo, “para aumentar a demanda por materiais de construção” ou ainda a “expansão geográfica para novas regiões”, para suprir a demanda capitalista por acumulação, a fim de superar ou ao menos amenizar as suas próprias contradições e continuar sendo capitalista. (Ibidem, p. 46). Uma das características mais avançadas do sistema, para criar “oportunidade de acumulação” é aquilo que o autor denomina como “anulação do espaço pelo tempo”, como, por exemplo, com o desenvolvimento dos modernos meios de comunicação e transporte para aumentar a eficiência seja na comunicação ou como no transporte de mercadorias por longas distancias em cada vez menos tempo. Diversas outras situações podem ser verificadas quanto ao sentido do sistema de obter vantagens acumulativas, como é o caso da concentração urbana e industrial, também quanto a localização de determinadas fontes de matérias-primas, ou ainda: O sistema de crédito possibilita a expansão geográfica do mercado por meio do estabelecimento da continuidade onde antes não existia continuidade alguma. A necessidade de anular o espaço pelo tempo pode, em parte, ser compensada pelo surgimento de um sistema de crédito. (HARVEY, 2005, p. 49).

Não há alternativa para a acumulação capitalista, que não seja pelo viés da “intensificação” e “expansão geográfica”, sendo assim o comércio exterior, segundo o autor ao analisar as teorias marxistas, desempenham fator determinante, pois possibilita intensificar as relações de produção, como também expandir o espaço de domínio da exploração capitalista, em proporções cada vez maiores ou globais. (Ibidem, p. 62).

É necessário segundo o autor, ter sempre em mente que a real condição da expansão capitalista “é a tendência necessária para superar barreiras espaciais e anular o espaço pelo tempo” e que muito embora Marx não tenha proposto uma teoria sobre o imperialismo, Harvey (2005, p. 62-8) destaca que o pensamento sobre tal teoria está implícito no desenvolvimento teórico marxista, pois a sua própria sobrevivência “é atribuída à capacidade constante de acumulação pelos meios mais fáceis.” e “por onde a resistência for mais fraca”, cabendo à geografia crítica, conforme evidenciamos no início, o papel de estudar os lugares de maior resistência ou os lugares que possuem maiores fragilidade. Segundo Harvey (2005) é possível, para a compreensão do espaço, o estudo marxista da acumulação capitalista, com a finalidade de “elaborar uma teoria da acumulação numa escala geográfica expansível”. Pois é visível as transformações e mudanças causada nas paisagens, pelo sistema, com intuito de “facilitar a produção e circulação”, para suprir a necessidade da acumulação como condição primária da realização enquanto sistema capitalista. Isto posto, é evidente, que para tal realização, organiza, re-organiza e transforma o espaço. As premissas de que, não há produção des-localizada, assim como, não há também, a circulação e o consumo que não esteja pautada por uma configuração espacial e geográfica. O estudo dessas categorias, nesse sentido, “é elaborar uma teoria das relações espaciais e do desenvolvimento geográfico sob o capitalismo” para podemos compreender, quão próximo, as relações capitalista, estão na forma de “desenvolvimento geográfico desigual, das desigualdades inter-regionais, do imperialismo, do progresso e das formas de urbanização etc” (Ibidem, p. 142). Não há como dissociar as transformações econômicas das transformações resultantes no espaço, que “moldam a geografia da produção em configurações espaciais distintas”. Como as relações capitalistas atualmente prevalecem pela capacidade cada vez mais rápida, como nos transportes e comunicação, para aumentar a eficiência e assim aumentar o poder de acumulação, essas relações só podem ser concretizadas mediante a criação de “infra-estruturas espaciais fixas e seguras para funcionar efetivamente”. Sem se esquecer de levar em consideração, a capacidade e o poder do Estado para viabilizar as condições para que se efetivem as transformações no espaço. (Ibidem, p. 144 e 146). Portanto, Harvey (2005) preconiza que “a capacidade de dominar o espaço implica na produção do espaço”, relacionando ao que o autor propôs anteriormente, uma forma de pensar a geografia que não sejam separadas da maneira que o capital reproduz a acumulação com as formas espaciais criadas pelo sistema para viabilizar tal processo, as “infra-estruturas”, por poderosas forças que “solapam” e produzem “as contradições internas do capitalismo” e “expressam mediante a formação e reformação incessante das paisagens geográficas”. (p. 147-8). Outra forma, tipicamente capitalista, para garantir o crescimento incessante da acumulação é devido ao “poder monopolista dos proprietários privados de terminada porções do planeta” para garantir a renda ao garantir o monopólio “em virtude do controle exclusivo sobre algum item”.

Segundo Harvey (2005, p. 222) “... a competição como Marx notou há muito tempo, sempre tende para o monopólio (ou oligopólio), pois a sobrevivência do mais apto, na guerra de todos contra todo, elimina as empresas mais fracas”. Harvey verifica que a globalização “diminui significativamente a proteção monopolista”, porém o próprio autor salienta que, “o capitalismo não pode existir sem poderes monopolistas”, a resposta a essa divergência está, atualmente, na capacidade de concentração das grandes empresas, para aumentar o poder das alianças numa escala cada vez mais ampla e dominar mercados cada vez maiores. Ou seja, vemos novamente como a “expansão geográfica” é crucial para expandir a intensidade da acumulação capitalista. (p. 224).

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Podemos ver analisando Santos (2002) que ao longo da história, a sociedade buscou de diversas formas compreender o espaço e o tempo, porém as formas de compreensão estiveram relacionada a forma de organização da sociedade, (como nos feudos ou na expansão colonial) assim também, ao mudar as bases da estrutura da sociedade, foram sendo aprimoradas a leitura que se fazia do espaço com os mapas, assim, os conceitos de espaço e tempo foram se aprimorando, e mais recentemente as bases que deram sustentação a forma de pensar o espaço e o tempo na atualidade, é de origem do espaço-tempo relativo-absoluto de Newton e a idéia de espaço infinito como condição para a disposição dos Objetos de Kant. Ou seja, segundo Santos (2002, p. 23) o “espaço e tempo, considerados aqui como categorias básicas da ciência moderna, são, na verdade, redimensionados na medida em que as sociedades se redimensionam”, o que implica pensar o desenvolvimento espaço-temporal completamente diferente do histórico-linear. Podemos perceber alguma relação das concepções de Santos (2002) e Massey (2008). Assim, segundo Massey (2008) não podemos pensar o espaço como algo abstrato ou algo acabado. Se as relações históricas influenciaram na forma de representar o espaço como vimos anteriormente, não podemos de forma alguma, imaginar o fim da história do espaço. Este, possui sim uma história e precisa ser estudada, mas também é uma história que está por se fazer, pois, constitui-se como resultado das relações sociais juntamente com a forma criada por essas sociedades para se organizarem, e que as características de construção do espaço vão além das concepções de fatores econômicos e políticos. A maneira mais utilizada, mas não única, como forma de linguagem do espaço são os mapas, porém, esses mapas, foram instrumentos eficazes para compreender o espaço quando a sociedade demorava para sofrer alguma alteração, segundo Santos (2002, p. 26) a “... produção cartográfica, mesmo que recorrente em vários momentos históricos, não tem se mostrado

suficiente para a sustentação de respostas quanto à distribuição territorial dos fenômenos” na atualidade. As principais mudanças atualmente em curso na sociedade podem ser determinada na sua origem, a partir da consolidação das relações de produção capitalista da sociedade que se diz moderna, porém são relações orientadas ao progresso e permanência das relações de exploração numa espécie de desenvolvimento em etapas. Segundo o que estudamos, não podemos nos iludir com a existência de harmonia espacial, fruto das contradições perpetradas pelo sistema capitalista, cuja acumulação é o seu objetivo, e sem o qual não se realiza de outra forma, a não ser, apropriando, transformando e controlando o espaço. Independente das posições teóricas apresentadas neste trabalho quanto ao espaço, não há fundamento que possa fazer que acreditemos na formação de um pensamento geográfico único, e que entenda essas contradições, que não seja pela contextualização critica dos fatos. Harvey (2005) demonstrou que para entender a atual geografia, uma grande contribuição, é dada pelo estudo das teorias marxista, sem o qual, no entanto, não poderia compreender o espaço de forma crítica. Podemos ver em Massey (2008) que a concepção de espaço da modernidade implica nos processos de conhecimento. Conceber o espaço enquanto “sequências temporais” determina a forma de se pensar essa realidade negando as diferenças, assim ao tornar-se um produtor de conhecimento do espaço na modernidade, a “geografia social de produção do conhecimento” distancia o estudo do objeto de estudo ou “assumem um distanciamento radial entre o conhecedor e o conhecido” ao “colocar-se a distancia em relação às coisas que se está estudando”. Ainda em Massey (2008), vimos que, produzir conhecimento na geografia requer a “liberação do „espaço‟ de suas antigas associações” isto, consequentemente, implica discutir o que “é definido como conhecimento legítimo” com o qual ainda determina grande parte da produção científica da geografia. Por fim, este trabalho não se pretendeu esgotar o assunto, por outro lado estas análises demonstram uma das grandes dificuldades do estudo da categoria espaço para as analises na geografia, na verdade, acreditamos que as discussões dessas três bases teóricas analisadas aqui, possam contribuir para provocar a pensar o espaço na geografia, em todas as suas possibilidades, e de fato há de perceber ao longo do texto que não são poucas essas possibilidades, seja este espaço como (re)invenção, como resultado de “trajetórias múltiplas” ou como (re)produção das relações de produção capitalista.

Referências Bibliográficas HARVEY, D. A Produção Capitalista do Espaço. 2. ed. São Paulo: Annablume, 2005.

MASSEY, D. Pelo Espaço: uma nova política da espacialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. SANTOS, D. A Reivenção do Espaço: Diálogos em torno da construção do significado de uma categoria. São Paulo: Editora UNESP, 2002.

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