\"O Espaço Urbano\"

July 14, 2017 | Autor: Rogerio Akiti Dezem | Categoria: Urbanism, Photography Theory, Street Photography, Henri Cartier-Bresson, Flânerie
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Coluna PROVOKE® O espaço urbano (Janeiro/ Fevereiro2015) – Revista EVF #3 De forma mais popular ou romantizada, a prática da fotografia de rua pode ser considerada como uma “dança”, cujo dançarino (e.g. fotógrafo) baila de forma imaginária – incessantemente ou metodicamente - com estranhos pela cidade. Ou como uma “caçada”, cujo alvo dos disparos – alucinados ou calculados – do caçador-fotógrafo, se dirigem aos elementos presentes na urbs. Cada vez que me deparava com metáforas como estas, relacionadas ao ato de fotografar estranhos na rua, tentava me encaixar em um dos dois “modelos”. Com o passar do tempo, percebi pela práxis que o ato de fotografar não só estranhos, mas elementos pertencentes a cidade, este enorme salão de dança ou floresta, vai além das definições citadas acima. Gosto muito da definição do fotógrafo de rua como um flâneur, expressão oriunda do universo literário francês em meados do século XIX, representativa do indivíduo que transita sozinho pela cidade, imerso na multidão, verdadeira “reserva de energia elétrica” segundo Charles Baudelaire. O flâneur é antes de tudo um observador, um apaixonado expectador do drama humano, daquilo que é transitório, efêmero. No universo literário, o produto dessas flaneries pelo espaço urbano, podem ser lidos nas obras de Gustave Flaubert e Honoré Balzac entre outros escritores. Na fotografia da primeira metade do século XX, outros franceses se destacaram como grandes flâneurs, o pioneiro Eugene Atget, o poético Robert Doisneau e o mestre Henri Cartier-Bresson. Além da inspiradora e sedutora cidade luz, Paris, o que aproximava esses escritores e fotógrafos? A maneira de olhar o espaço urbano (i.e. cidade) e traduzí-lo em palavras ou imagens. Essa arte do olhar, muito mais intuitiva do que técnica/mecânica e a capacidade de traduzir o espaço urbano em palavras e imagens que serão eternizadas, infelizmente é para pouquíssimos... A fotografia de rua é muito mais uma provocação do que apenas uma simples representação de fatos, situações ou banalidades cotidianas captadas pelas lentes de uma câmera (não importa qual). Provocar o olhar do outro através do seu olhar, registrado em um frame é uma verdadeira arte. E na minha opinião, após um longo caminho percorrido historicamente, este é um dos principais objetivos da fotografia de rua e “candid”. Após essa breve introdução, vamos ao tema desta nossa primeira coluna: o espaço urbano. Palco dos acontencimentos registrados pelo flâneur com sua máquina (i.e. fotógrafo de rua), a cidade é par excellence o espaço de criação, percepção e tensão entre o fotógrafo e os elementos que o cercam. Esquadrinhar esta “ paisagem com extremos voluptosos” como definiu a escritora Susan Sontag, é um exercício que deve ser feito, primeiro apenas com o olhar e depois com a câmera. Desse modo conhecer a cidade onde fotografamos é um elemento importante para que se possa cada vez mais aprimorar o olhar de fotógrafo de rua, seja ele despretensioso ou na busca de algum tema ou elemento. É claro que pode-se conseguir imagens de rua interessantes e até mesmo “instantes decisivos” em qualquer lugar, como em um simples passeio pela feira-livre ao lado de sua casa ou passando algumas horas flanando em um lugar que você nunca esteve. No

entanto, pela minha experiência, conhecer bem o espaço onde você prática sua fotografia de rua torna o ato de fotografar pelas ruas um ato menos complexo, mais poético e objetivo. Dentre as várias questões que surgem ao praticarmos a fotografia de rua, algumas delas seriam: Como a fotografia representa a experiência de viver na cidade? Todas as cidades são iguais para se praticar fotografia de rua? Fotografar pelas ruas de megalópoles como São Paulo seria o mesmo que fotografar em Nova Iorque, Tóquio ou em Osasco? A cidade surgiu como uma das metáforas da modernidade em fins do século XIX, e hoje representa toda a banalidade pós- moderna do início do século XXI. Como retratá-la? Da mesma forma que Bresson, Brassai, Doisneau entre outras referências clássicas das décadas de 19301950? Ou as metrópoles pós-modernas nos possibilitam outros olhares, sensações, dimensões? Muitas perguntas. Respostas? Deixo para você, caro leitor, refletir. O historiador Michel De Certeau trabalha com o conceito de “cidade metafórica”, definindo o espaço urbano muito mais do que uma coleção de edifícios belamente fotografados, indo além, para ele a cidade se configura como uma rede de relações, sistemas e poder. É a partir desta perspectiva que gostaria de guiá-los (provocá-los) pelas linhas e imagens desta minha coluna, cuja a alcunha é Provoke®. Meu foco nas próximas colunas será falar um pouco da fotografia de rua praticada na Ásia, mais especificamente no Japão. Uma das “Mecas” da Fotografia, com sua tecnologia de ponta em câmeras - o país vai muito além de “Canons” e “Nikons” - sua tradição na publicação de livros fotográficos belíssimos e last but not least, seus grandes fotógrafos do passado como Eiko Hosoe, Shomei Tomatsu, Ken Domon, Yoshiuke Iwase, Takuma Nakahira, o mestre Daido Moriyama e também contemporâneos como Junku Nishimura, Shin Noguchi, Tatsuo Suzuki, Hirokazu Toda, Kaori Nohara entre outros nomes. AUTOR: Meu nome é Rogerio Akiti Dezem, sou natural de Osasco (SP). Sou professor universitário, historiador e fotógrafo de rua diletante. Vivo no Japão desde 2010, onde comecei a fotografar “estranhos” nas ruas por hobby. No início, era muito mais “uma atividade física e uma distração”, mas nos últimos três anos, tornou-se um vício, uma necessidade quase diária de exercitar meu olhar através do viewfinder, registrando e desafiando o mundo ao meu redor. A ideia desta coluna Provoke® é uma homenagem a um pequeno grupo de fotógrafos e intelectuais japoneses que lançaram um curto, mas inovador movimento/manifesto fotográfico denominado Provoke no final dos anos 1960. A partir de um viés provocador, meu objetivo aqui é guiá-los em cada coluna pelos meandros da fotografia de rua feita na Ásia, principalmente no Japão. Apresentando fotógrafos (famosos ou não), imagens de rua e “candid” de minha autoria e de outros e, principalmente, analisar o palco onde a fotografia é produzida por aqui: as ruas japonesas. Meu site é http://akitidezemphotowalker.zenfolio.com/

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