O espetáculo do terrorismo de grandes proporções

June 2, 2017 | Autor: Graziela Forte | Categoria: Terrorismo de Estado, Terrorismo Y Antiterrorismo, Terrorismo
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O espetáculo do terrorismo de grandes proporções Por Roberto Massari*

Não é somente pela sua hegemonia econômica que a sociedade portadora do espetáculo domina as regiões subdesenvolvidas. Domina-as enquanto sociedade do espetáculo ao nível do funcionamento global do sistema, numa divisão mundial das tarefas espetaculares. Guy Debord, La societá dello spettacolo, 1967

Terça-feira, 11 de setembro de 2001, 8h45: as Torres Gêmeas em Manhattan explodem e caem no chão após o impacto de duas aeronaves guiadas por pilotos suicidas da rede al-Qaeda. O mundo não vai esquecer facilmente essa data, porque, desde então, inúmeras fotos que retratam as torres envoltas pelo fogo transformaram-se em "imagens-símbolo" da nossa época. Como tal, elas são utilizadas de forma contínua - e serão cada vez mais no futuro - em escala industrial e de massa. Continuar a ser submetido a uma série infindável de reproduções, em variações gráficas de todo o tipo que não podemos imaginar, mesmo remotamente. Tais manipulações gráficas dependem das inovações no *

Tradução de Graziela Naclério Forte e revisão da tradução de Anna Bonizzi. (N. E.) Publicado no Dossiê Terrorismo da Revista Margem Esquerda, Boitempo Editorial, São Paulo, junho de 2016, número 26, pp. 27-33 e no blog: http://utopiarossa.blogspot.com.br/2016/06/o-espetaculo-do-terrorismo-de-grandes.html?, da Itália.

campo da tecnologia e informática pós era da computação, com suas repercussões ao navegar pela Internet. É um fenômeno que há muito se verifica com o progresso tão reconfortante dos trabalhadores no âmbito do Quarto Estado de Pellizza da Volpedo (1901), com a bomba atômica de Hiroshima, com a maliciosa foto de Marilyn com a saia do vestido voando ou com as inesquecíveis fotos de Guevara tiradas por Korda. Estamos falando de "imagenssímbolo de nossa época" e não apenas de imagens famosas: ou seja, fotos que têm um tremendo poder evocador; que se comunicam diretamente com a imaginação dos indivíduos e da coletividade; que em uma fração de segundos sintetizam os parâmetros culturais e coordenam o espaço-tempo, por mais remotas e irreconhecíveis (na verdade supérfluas); que aludimos "antes" e "depois" totalmente separados da imagem ocasional do objeto (que permanece arbitrária e, portanto, disponível para qualquer tipo de manipulação). Na verdade, é a sequência - ou seja, a possibilidade de reprodução técnica de variações gráficas infinitas (na presença de condições de compreensão universal e generalizada) - que em última análise fazem dessas imagens símbolo da nossa época. E que símbolo é a queda das Torres Gêmeas! Como se estivesse à procura de uma marca que retratasse os olhos das gerações futuras para a transição do "século breve", o último do segundo milênio - o século XX dos grandes pecados históricos e sociais (nazifascismo, stalinismo, colonialismo, guerras mundiais) - as ansiedades coletivas para as dúvidas do terceiro milênio, não poderão ser respondidas. A mais bela evocação cinematográfica de Armageddon poderá parecer apenas algo banal para aqueles que filmaram tais imagens. Depois da tragédia, os jornais competiram para determinar quais recordes foram batidos: o maior número de vítimas em um único dia (guerra e desastres naturais excluídos); o primeiro ataque contra os EUA, no seu próprio território, desde 1812; o evento mais sangrento e intensamente coberto pela mídia; o maior dano econômico em uma única ação (perda de 40 bilhões de dólares aproximadamente); a extrema representatividade arquitetônica-urbanística do alvo; mas também o ataque mais interétnico, com as vítimas originárias de 87 diferentes países (e o mais interclassista em relação ao número de vítimas – estamos nos incluindo nesta relação macabra). Mas, em seguida, obedecendo a lógica frenética das notícias, até mesmo o atentado parou de ser noticiado pela mídia, perdendo o interesse em poucas semanas. A guerra no Afeganistão também passou por isso... Por que estamos nos lembrando de um episódio tão conhecido e trágico da "história moderna"? Em primeiro lugar, porque o episódio não é mais tão "moderno". O tempo voa, as impressões espontâneas caem no esquecimento, a dor dos sobreviventes se atenua, as recordações se apagam da memória e os eventos tornam-se temas de estudos, historiografia e teses universitárias. Tudo isso é uma forte evidência da nossa capacidade de absorver a notícia, por mais trágica, dolorosa e desumana. Agora nos referimos às 33 facadas que mataram Júlio César e que ainda nos lembramos...

Em segundo lugar, porque é a data de nascimento da espetacularização visual do terrorismo. O mundo acompanhou a queda da segunda torre praticamente ao vivo, as cenas de terror, os corpos humanos voando pelos ares para escapar da morte causada pelo fogo, a escolha de morrer no impacto com o solo. Certamente estamos esquecendo de algumas imagens dos ataques feitas aleatoriamente por câmeras escondidas (sem contar com as inesquecíveis e super inovadoras fotografias que Zapruder conseguiu tirar de John Kennedy sendo assassinado, em 1963); mas no caso das Torres Gêmeas estamos falando de filmagem (amadora) transferidas intencionalmente e de forma imediata para os canais de televisão. Assim, permitiram que o mundo inteiro as assistissem ao vivo a um dos massacres mais espetaculares e conhecidos do nosso tempo. Muitos fatores contribuíram para tornar a carnificina em espetáculo (e aqui não vamos recordá-los, porque muito se tem escrito sobre isso), mas pela primeira vez foi organizado o espetáculo de um evento terrorista maciço para fins comerciais (massa) e com abrangência mundial (mais massa: lembre-se da palavra "globalização", tão em voga na época, hoje quase obsoleta como a memória das Torres Gêmeas!). Não estou bem certo, mas acho que foi também a primeira vez que um grande evento terrorista foi noticiado usando a tecnologia por satélite. Em terceiro lugar, porque é a primeira aparição em que vimos terroristas kamikazes de forma organizada e em grupo. Atenção: Não estamos dizendo apenas "kamikazes" - cuja história do século XX tem exemplos frequentes e abundantes - mas "kamikazes de forma organizada", aliás, organizadíssima: um grupo formado por 19 pessoas dispostas a morrer, todos com bom nível educacional ou acadêmico, todos se prepararam durante anos de sacrifício (alguns eram pilotos patenteados), todos incluídos na sociedade de consumo de número um – os Estados Unidos que poderiam os ter dissuadidos dessa ação coletiva. O atentado às Torres Gêmeas não foi produto do desespero individual e da miséria, mas o resultado de um plano coletivo de autosacrifício, meticulosamente planejado e muito aguardado por eles. Em quarto lugar, porque a motivação religiosa estava na base de tudo: a preparação, a determinação de se sacrificar, a falta de compaixão para com as vítimas, todos, homens e mulheres inocentes na sua maioria de trabalhadores, alguns deles muçulmanos. O terrorismo organizado que tínhamos conhecido no passado era o da propaganda, os "bandidos trágicos", os anarquistas de Ravachol ou Bresci, mas também os pilotos kamikazes japoneses e as bombas argelinas. Em suma, estávamos habituados a uma rede terrorista de desespero humano e projeto político: em setembro de 2011, a religião (desesperada e fanática como você quiser, mas sempre baseada na crença de que Deus iria aceitar seus mártires em vida após a morte) apareceu como estrutura ideológica combinada aos planos de grupos terroristas, que visam atingir as massas de civis indiferentemente. Este aspecto religioso (também chamado fundamentalismo) é aquele que agora mais vem crescendo, como mostram as crônicas diárias destes últimos anos, dos últimos meses e dos últimos dias. Quinto, porque o ataque não foi destinado para abater um inimigo individual, não visava enfraquecer o inimigo estrategicamente, nem taticamente (podemos crer realmente que os terroristas que destruíram as Torres Gêmeas, nos Estados Unidos provocaram um colapso econômico ou militar?). Com esse ataque queriam atrair a atenção do mundo,

enviando uma mensagem para milhares de potenciais seguidores, porque eles também entraram na lista dos suicidas de Alá; queriam dar uma forma espetacular a sua estrutura de filiação - particularmente à ala do jihadismo, aquele setor particular do mundo muçulmano: intento certamente realizado, talvez o único verdadeiramente realizado. Um triunfo do terrorismo da sociedade do espetáculo de grandes proporções. E ainda se ignorava ou preferia fingir-se de ignorante sobre o efeito do tempo que teria dispersado no ar até mesmo as consequências da ação espetacular do terrorismo em massa. Hoje em dia, no entanto, o processo de esquecimento é claro e considera culpado o terrorismo de massa contemporânea. Por esta razão, este tipo de atentado (mártires suicidas previamente treinados e organizados, matança indiscriminada de civis "inocentes" e espetáculo das ações) tem vindo a aumentar de frequência, aparecendo quase que diariamente em todo o mundo (A escala mundial agora é a única aceitável para aqueles que planejam estes espetáculos do terror em grande escala). Precisamos realizar ataques cada vez mais duros, mais ferozes e em menos espaço de tempos para conseguir um efeito comparável àquele de Setembro de 2001. No longo prazo, a frequência vai se tornar intensa e perderá eficácia: é o contraefeito da grandiosa sociedade do espetáculo que enquanto atrai de maneira totalitária a atenção das pessoas, cria neles um processo de formação de hábitos. Como joga "com as palavras”, podemos dizer que é um processo contínuo de “conduta tendenciosa do espetáculo do terror em grande escala", por causa dos processos de saturação visuais e de dependência psicológica. Além disso, o terrorismo não pode ir além de um certo grau de frequência e o cidadão médio a longo prazo, se acostumará com isso: afinal ele já não vive com a poluição, com alimentos cancerígenos, guerras e o comércio crescente de todas as manifestações espirituais? A sociedade do espetáculo e do terrorismo já chegou a se fundir. Jogando mais uma vez com as palavras, podemos dizer que nos países atrasados (em alguns onde o fanatismo religioso é muito forte) a sociedade do espetáculo tem experimentado um processo de "revolução permanente", uma espécie de desenvolvimento desigual e combinado, passando de meros instrumentos de massa (mídia moderna) voltados para o espetáculo mundial do terrorismo, que o emprego - totalitário, mas temporário - dos mais modernos meios de comunicação. Isso nos permite algumas reflexões acerca da teoria da sociedade espetacular de massa transformada totalmente em terrorista, embora com intervalos de tempo muito curtos. Ao reler o início da citação do capítulo de A Sociedade do Espetáculo, de Debord e ao substituir a palavra "terrorismo, terrorista" para a palavra "show, espetáculo". Na verdade, é possível verificar que em todo o livro há um discurso que se processa de forma igual, de acordo com a precisa lógica de fundo, onde a sociedade do espetáculo se modificará por um curto espaço de tempo e não sabemos quanto irá durar a filiação com o terrorismo: o terrorismo espetáculo de massa é a forma suprema do espetáculo. Ou seja, a forma suprema de alienação da sociedade capitalista para todos aqueles que, incapaz de encontrar razões na vida real, na irrealidade quotidiana da sociedade a imagem (o "virtual", como você diz hoje em dia), acredita que pode quebrar o domínio do espetáculo elevando-a a sua máxima potência.

Nada é mais espetacular do que o ato terrorista, dito de outra maneira, o terrorismo é uma das maiores formas de entretenimento e não poderia deixar de ser. É objetivamente, pela forma em que ocorre e se manifesta e pela maneira que a mídia se apropria. E é subjetivamente, pelas expectativas de exagero de publicidade (propaganda) presentes no próprio terrorista. Veja como Umberto Eco atribuía essas expectativas ao homem considerado o maior terrorista dos últimos tempos, Osama bin Laden (atualmente esquecido pela ira que aflora dos modernos kamikazes de Alá):

Qual foi o propósito de Bin Laden em abater as duas torres? Criar "o maior espetáculo da Terra", ele nunca sequer imaginou um filme tão catastrófico; onde o próprio símbolo do poder ocidental foi derrubado por ele, coisa que ninguém poderia crer que fosse possível violar esse grande santuário símbolo do poder. Ele não estava fazendo uma guerra, em que conta o número de inimigos eliminados, estava apenas lançando uma mensagem terrorista e o que importava era a imagem1.

O fato é que agora a humanidade vive o espetáculo em uma dimensão planetária, no verdadeiro sentido do termo: a TV por satélite e da velocidade da circulação na Web preenchendo, em tempo real, os espaços de comunicação em todas as partes do globo. Ao fazê-lo nesta dimensão planetária, o processo de espetacularização deve ganhar conotações sociais em grande escala com o novo tamanho dos processos de produção e distribuição. Bem fez Debord, nos anos 1960, para identificar como era constituída a essência real do espetáculo agora e sempre. Hoje não haveria dificuldade para atualizar o seu trabalho, elevando-o para a escala onde se coloca normalmente nos centros de decisões fundamentais no processo de produção e reprodução do capital, ou seja, na escala supranacional, ou, dependendo da indústria, multinacional. Bem, esta é a escala em que há o processo de produção e reprodução do espetáculo social e, em seguida, do terrorismo. Não é que o terrorismo irá se submeter ao contexto da globalização - ou seja, o estabelecimento de uma continuidade, se não uma verdadeira integração entre o processo de produção e o processo de comunicação em escala global , mas é o próprio terrorismo que promove o estabelecimento deste quadro, fazendo com que o espetáculo seja o máximo possível. Nas palavras de Eric Hobsbawm, em entrevista ao L'Humanité: “Vivemos em um mundo globalizado, onde o tempo e o espaço são praticamente abolidos, um mundo com fluxos livres, de modo a fazer eventos muito mais fáceis como o americano2. Ou, para citar a franqueza de Baudrillard:

1

Umberto Eco, “Gli alleati nolenti di Bin Laden” [Os aliados relutantes de Bin Laden], L’Espresso, 1º nov.

2001. Aqui em tradução livre. 2

Eric Hobsbawm, entrevista ao L’Humanité, 28 set. 2001.

A condenação moral, a união sagrada contra o terrorismo, deve ser proporcional ao júbilo prodigioso que vem destruir a superpotência mundial, melhor ainda, vê-lo como autodestruição, o suicídio igual a beleza. Por que ela está com o seu poder insuportável, por fomentar a violência infundido em todas as partes do mundo, e por isso também que a imaginação do terrorismo (inconscientemente) que nos habita 3.

Estas palavras nos levam a uma dimensão espetacular, maior do que o do próprio terrorismo, é a dimensão do desejo, onde tudo é possível. Mas esta dimensão não pode ser totalmente irreal, totalmente separada da visão de uma nova legislação societária superior. Bem, nesta dimensão, a distinção entre legal e ilegal não tem razão de existir e, portanto, o homem da rua, além do terrorista em potencial, é livre para sonhar que, na era da globalização, podemos finalmente apertar o botão decisivo: o que vai explodir todas as torres do sistema capitalista, a partir de dentro, sem que outras vidas tenham que pagar os custos. Ao despertar, você vai encontrar um planeta um pouco “pior do que tínhamos imaginado e os detentores do poder sistêmico um pouco 'mais fortes como os tinha deixado antes de cometer a ação terrorista ou sonhar com ela”.

TERRORISMO SPETTACOLARE DI MASSA, di Roberto Massari

IN DUE LINGUE (Italiano, Portoghese) La società portatrice di spettacolo non domina solo mediante l'egemonia economica le regioni sottosviluppate. Le domina in quanto società dello spettacolo… parte dello spettacolo totale… del funzionamento globale del sistema, in una divisione mondiale di compiti spettacolari… (Guy Debord, La società dello spettacolo, 1967)

3

Jean Baudrillard, Lo spirito del terrorismo (Milão, Cortina, 2002) [ed. port.: O espírito do terrorismo, Porto, Campo das Letras, 2007]. Aqui em tradução livre.

Martedì 11 settembre 2001, ore 8,45: le Torri Gemelle di Manhattan esplodono e crollano al suolo colpite da due aerei di linea guidati da piloti suicidi della rete di alQaeda. Il mondo non dimenticherà facilmente quella data, anche perché da allora le numerose foto che ritraggono le Torri avvolte dal fuoco si sono irreversibilmente trasformate in «foto-simbolo» della nostra epoca. In quanto tali vengono utilizzate in continuazione - e sempre di più lo saranno nel futuro - su una scala industriale e di massa. Continueranno ad essere sottoposte a serie infinite di riproduzioni, a variazioni grafiche d'ogni genere che non possiamo nemmeno lontanamente immaginare. Tali manipolazioni grafiche dipendono infatti dall'innovazione nel campo della tecnologia informatica e postcomputeristica, con le sue ricadute nel campo dell'internautica (la navigazione in Internet). È un fenomeno che già da tempo si verificava col procedere così rassicurante dei lavoratori nel quadro del Quarto Stato di Pellizza da Volpedo (1901), con il fungo atomico di Hiroshima, con la maliziosa foto di Marilyn a gonne levate o con l'indimenticabile foto di Guevara ripresa da Korda. Stiamo parlando di «foto simbolo della nostra epoca» e non di foto soltanto celebri: vale a dire, foto che hanno uno straordinario potere evocativo; che comunicano direttamente con l'immaginario individuale e di massa; che sintetizzano nella frazione di un istante ottico-percettivo miriadi di parametri culturali e di coordinate spazio-temporali, per lo più remote e irriconoscibili (di fatto superflue); che alludono a «un prima» e a «un dopo» totalmente distaccati dall'oggetto occasionale dell'immagine (che rimane quindi arbitrario e disponibile per ogni possibile manipolazione).

È infatti la serialità - vale a dire la possibilità di riproduzione tecnica e di variazione grafica

infinite (in

presenza

di

condizioni

di

comprensibilità

universale

e

generalizzata) - che in ultima analisi rende tali immagini foto-simbolo della nostra epoca. E che simbolo, nel crollo delle Torri Gemelle! Chi fosse stato in cerca di un logo con cui raffigurare agli occhi delle future generazioni il passaggio dal «secolo breve», ultimo del secondo millennio - il Novecento delle grandi colpe storico-sociali (nazifascismo, stalinismo, colonialismo, guerre mondiali) - alle angosce collettive per le incognite del terzo millennio, non potrà che dirsi soddisfatto. La più scatenata evocazione filmica di Armageddon potrà apparire solo acqua fresca in rapporto a quei filmati, a quelle immagini. Dopo la tragedia, i giornali fecero a gara nello stabilire quali record fossero stati battuti: il record del maggior numero di vittime in un solo giorno (guerre e calamità naturali escluse); il primo attacco agli Usa, sul loro territorio, dal 1812; l'evento sanguinoso più intensamente coperto dai mass media, in rapporto alla sua breve durata; il maggior danno economico con una sola azione (perdite per 40 miliardi di dollari circa); l'estrema rappresentatività architettonico-urbanistica degli obiettivi prescelti; ma anche l'attentato più interetnico, con vittime di 87 paesi diversi (e più interclassista in rapporto al numero delle vittime - aggiungiamo noi, ponendoci in coda

a

questa

macabra

hit

parade)

e

così

via.

Ma poi, obbedendo alla logica frenetica del ritmo delle news, anche l'attentato smise di fare notizia e i principali media finirono col disinteressarsene nel giro di poche settimane. La guerra in Afghanistan doveva servire anche a questo… Perché ricordiamo un episodio così noto e tragico della storia «moderna»? In primo luogo perché l'episodio ormai non è più tanto «moderno». Il tempo scorre, le impressioni spontanee svaniscono nell'oblio, il dolore dei sopravvissuti si attenua, i ricordi sfumano nella memoria e gli eventi diventano mano a mano oggetto di studi, di elaborazioni storiografiche, di tesi di laurea nelle università. Tutto ciò è una prova evidente della nostra capacità di assorbimento delle notizie, anche delle più tragiche, delle più dolorose, delle più disumane. Delle 33 coltellate che uccisero Giulio Cesare, invece, parliamo ancora… In secondo luogo perché è la data di nascita della spettacolarizzazione visiva del terrorismo. Il mondo ha praticamente seguito in diretta il crollo della seconda Torre, le scene di terrore, i corpi umani che volavano nel vuoto per sfuggire alla morte per fuoco,

scegliendo

di

morire

nell'impatto

col

suolo.

Sicuramente

ci

stiamo

dimenticando di qualche immagine di attentati ripresi casualmente da telecamere nascoste (a parte gli indimenticabili e ultrapionieristici fotogrammi di Zapruder nell'uccisione di John Kennedy nel 1963); ma per le Torri Gemelle si parla di riprese

(amatoriali) vere e proprie, di filmati fatti intenzionalmente e immediatamente trasferiti sui media. Essi consentirono al mondo intero di assistere in diretta televisiva ad una delle stragi più celebri e più spettacolari del nostro tempo. Tanti fattori contribuivano a rendere quella strage spettacolare (e qui non staremo a ricordarli perché molto si è scritto al riguardo), ma per la prima volta la spettacolarizzazione di un evento terroristico di massa era organizzata a fini commerciali (di massa) e su scala mondiale (sempre di massa: ricordate la parola «globalizzazione» all'epoca tanto di moda e oggi ormai obsoleta quasi come il ricordo delle Torri Gemelle?). Non vorrei sbagliare, ma credo che fosse anche la prima volta che un evento terroristico di massa godeva della tecnologia satellitare. In terzo luogo perché è la prima comparsa del terrorismo da kamikaze in forma organizzata e di gruppo. Attenzione: non diciamo solo «kamikaze» - di cui la storia del Novecento presenta frequenti e abbondanti esempi - ma «kamikaze in forma organizzata», anzi organizzatissima: un intero gruppo di 19 persone disposte a morire, tutte di buon livello scolastico o accademico, tutte preparatesi per anni al sacrificio (alcuni addirittura piloti brevettati), tutte inserite nel benessere della società dei consumi numero uno - quella degli Usa che più facilmente avrebbe potuto dissuaderli dal compiere il gesto collettivo. L'attentato alle Torri Gemelle non fu il prodotto della disperazione individuale e della miseria, ma il risultato di un piano di autosacrificio di gruppo, minuziosamente programmato e lungamente atteso. In quarto luogo, perché la motivazione religiosa era alla base di tutto: della preparazione, della determinazione a sacrificarsi, della mancanza di pietà verso le vittime, tutte innocenti, per lo più lavoratori e lavoratrici, alcuni anche musulmani. Il terrorismo organizzato che avevamo conosciuto nel passato era quello della propaganda del fatto, i «banditi tragici», gli anarchici alla Ravachol o Bresci, ma anche i kamikaze piloti giapponesi, i dinamitardi algerini. Insomma, eravamo abituati a un intreccio terroristico di disperazione umana e progetto politico: a settembre 2001 la religione (esasperata e fanatica quanto si vuole, ma pur sempre fondata nella tradizionalissima credenza che Dio avrebbe accolto i martiri nell'aldilà) è apparsa come struttura ideologica connettiva di progetti terroristici di gruppo, volti a colpire masse

di

civili

indifferenziate.

Questo

aspetto

religioso

(detto

anche

fondamentalismo) è quello che da allora è maggiormente cresciuto, come dimostra la cronaca quotidiana di questi anni, di questi mesi, di questi giorni. In quinto luogo perché in quell'attentato non si mirava a colpire un nemico ben individuato, non si mirava a indebolire strategicamente e nemmeno tatticamente l'avversario (potevano credere veramente i terroristi che distruggendo le Torri Gemelle

gli

Usa

avrebbero

avuto

un

tracollo

economico

o

militare?). Con

quell'attentato si voleva attirare l'attenzione del mondo, si voleva lanciare un messaggio alle migliaia di potenziali seguaci perché entrassero anche loro nelle liste degli aspiranti suicidi per Allah; si voleva dare una forma spettacolare alla propria

struttura di appartenenza - a quell'ala particolare del jihadismo, a quel settore particolare del mondo musulmano: intento certamente realizzato, forse l'unico realmente realizzato. Un trionfo del terrorismo della società spettacolare di massa. Eppure, eppure… si ignorava ancora o si preferiva far finta di ignorare che il fattore tempo avrebbe disperso nel nulla anche gli effetti di quell'azione terroristica spettacolare di massa. Oggigiorno, invece, il processo della dimenticanza è chiaro ed è messo nel conto da parte del terrorismo spettacolare di massa contemporaneo. Per tale ragione, da allora questo tipo di attentati (martiri suicidi preventivamente addestrati e organizzati, uccisione indiscriminata di civili «innocenti», spettacolarità delle azioni) è andata crescendo di frequenza, diventando ormai quasi quotidiana su scala mondiale. (La scala mondiale è ormai l'unica accettabile per chi pianifica questo terrore spettacolare di massa.) Occorre compiere attentati sempre più spesso, sempre più feroci e sempre più ravvicinati nel tempo, per ottenere un effetto paragonabile a quello di settembre 2001. A lungo andare la frequenza diventerà parossistica e perderà mano a mano d'efficacia:

è

il

controeffetto

della

società

spettacolare

che

mentre

colpisce totalitariamente l'attenzione delle persone, crea in loro anche un processo di assuefazione. Tanto per giocare un po' con le parole, potremmo dire che è in atto un processo di «caduta tendenziale del saggio di terrore spettacolare di massa» a causa dei sottostanti processi di saturazione visiva e di assuefazione psicologica. Oltre un certo grado di frequenza il terrorismo non potrà andare e anche il cittadino medio alla lunga si abituerà a conviverci: non convive già egli con l'inquinamento, i cibi cancerogeni, le guerre e la commercializzazione crescente di ogni sua manifestazione spirituale? Società dello spettacolo e terrorismo sono ormai arrivati a fondersi. Volendo giocare una seconda volta con le parole, potremmo dire che nei paesi arretrati (in alcuni paesi arretrati, quelli in cui il fanatismo religioso è più forte) la società dello spettacolo ha vissuto un processo di «rivoluzione permanente», una specie di sviluppo ineguale e combinato, passando dalla quasi assenza di strumenti spettacolari di massa (intendiamo i moderni mass media) alla spettacolarizzazione globale e terroristica, cioè all'occupazione - totalitaria, ma temporanea - dei più moderni mezzi di comunicazione. E questo ci consente qualche riflessione aggiornata sulla teoria della società spettacolare di massa nelle sua trasformazione totalitariamente terroristica, anche se per intervalli di tempo sempre più brevi.

Si rilegga all'inizio del capitolo la citazione da La società dello spettacolo di Debord e si sostituisca la parola «terrorismo, terroristico» alla parola «spettacolo, spettacolare». Anzi, lo si faccia per l'intero libro di Debord e si verificherà che il discorso procede ugualmente, secondo una precisa logica di fondo, avendo la società dello spettacolo trovato per un periodo di tempo che non sappiamo quanto durerà,

una propria filiazione genetica nel terrorismo: il terrorismo spettacolare di massa, forma suprema della spettacolarizzazione. Vale a dire forma suprema dell'alienazione nella società del capitale per tutti coloro che, non trovando ragioni di vita reale nell'irrealtà quotidiana della società dell'immagine (del «virtuale», come si dice oggigiorno), ritengono possibile spezzare il dominio della spettacolarità elevando quest'ultima alla sua massima potenza. Nulla è più spettacolare dell'atto terroristico o, detta altrimenti, il terrorismo è una delle forme più alte di spettacolo e non potrebbe non esserlo. Lo è oggettivamente, per il modo in cui si manifesta e per il modo in cui i media se ne appropriano. E lo è soggettivamente, per le aspettative di clamore pubblicitario (propagandistico) presenti nel terrorista stesso. Si veda come Umberto Eco assegnava tali aspettative all'uomo considerato un tempo il terrorista per eccellenza, a Osama bin Laden (oggi via via dimenticato per la nuova ferocia che affiora nei moderni kamikaze votati ad Allah): «Quale era il proposito di Bin Laden nel colpire le due torri? Creare "il più grande spettacolo del mondo", mai immaginato neppure dai film catastrofici; dare l'impressione visiva dell'assalto ai simboli stessi del potere occidentale e mostrare che di questo potere potevano essere violati i maggiori santuari… Non stava facendo una guerra, in cui conta il numero dei nemici eliminati: stava appunto lanciando un messaggio terroristico, e quello che contava era l'immagine». («Gli alleati nolenti di Bin Laden», l'Espresso, 1 novembre 2001) Il

fatto

è

che

ormai

l'umanità

vive

una

dimensione

planetaria

della

spettacolarizzazione, nel senso più vero del termine: le TV satellitari e la velocità di circolazione del Web riempiono in tempo reale gli spazi di comunicazione in ogni parte del globo. Nel far questo, nell'operare in questa dimensione planetaria, il processo della spettacolarizzazione deve acquisire connotati sociali in scala con la nuova dimensione dei processi produttivi e distributivi. Bene faceva Debord, negli anni '60, a individuare come sostanza reale costitutiva dello spettacolo ancora e sempre la struttura di merce. Oggi non avrebbe difficoltà ad aggiornare il suo lavoro, sollevandolo alla scala in cui si collocano normalmente i centri decisionali fondamentali nel processo di produzione e riproduzione del capitale, vale a dire su scala sovranazionale o, a seconda del settore, multinazionale. Ebbene, è questa la scala alla quale si pone il processo di produzione e riproduzione della spettacolarizzazione sociale e quindi del terrorismo. Non è il terrorismo a subire il contesto della globalizzazione - vale a dire l'instaurazione di un continuum, se non una vera e propria integrazione tra processo produttivo e processo comunicativo su scala planetaria - ma è il terrorismo stesso che favorisce la costituzione di tale contesto, mettendo in campo per l'appunto il massimo di spettacolarità possibile. Per dirla con Eric Hobsbawm, in un'intervista a l'Humanité:

«Viviamo in un mondo globalizzato, dove il tempo e lo spazio sono praticamente aboliti, un mondo con flussi così liberi da rendere molto più facili eventi come quello americano». (28 sett. 2001) Oppure, per dirla con la franchezza di Baudrillard: «La condanna morale, l'unione sacra contro il terrorismo, sono commisurate al giubilo prodigioso che nasce dal veder distruggere la superpotenza mondiale, meglio ancora, dal vederla autodistruggersi, suicidarsi in bellezza. Perché è lei, con la sua potenza insopportabile, ad aver fomentato questa violenza infusa in tutte le parti del mondo, e quindi anche quell'immaginazione terroristica (senza saperlo) che ci abita tutti». (Lo spirito del terrorismo, Milano 2002) Sono parole che ci introducono in una dimensione spettacolare superiore a quella dello stesso terrorismo: è la dimensione deldesiderio, dove tutto è possibile. Ma tale dimensione non può essere totalmente irreale, totalmente staccata dalla visione di un nuovo superiore ordinamento societario. Ebbene, in tale dimensione, la distinzione tra lecito e illecito non ha ragione di esistere e quindi anche l'uomo della strada, oltre al potenziale terrorista, è libero di sognare che nell'era della globalizzazione si possa finalmente premere il pulsante decisivo: quello che farà esplodere tutte le torri del sistema capitalistico, dall'interno, senza che altre vite umane ne debbano pagare i costi. Al risveglio si troverà un pianeta un po' peggiore di come lo si era immaginato e i detentori del potere sistemico un po' più forti di come li si era lasciati prima di compiere il gesto terroristico o di sognare di farlo.

L'articolo di Massari è incluso nel «Dossiê: imigração e xenofobia» (a cura di Luiz Bernardo Pericás), Revista Margem Esquerda nº 26/2016, pp. 27-33. La rivista è pubblicata a São Paulo, Brasile.

Nella diffusione e/o ripubblicazione di questo articolo si prega di citare la fonte: www.utopiarossa.blogspot.com

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