O Estuário do Rio Douro – O Risco de Cheias

September 13, 2017 | Autor: Artur Dias | Categoria: Geography, Fluvial Geomorfology
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Licenciatura em Geografia

Geomorfologia Dinâmica

O Estuário do Rio Douro O risco de cheias

Aluno:

António Artur Pires Dias Lgeogr 07102

Docente:

António de Sousa Pedrosa

António Artur Pires Dias – Lgeogr07102

Licenciatura em Geografia

Geomorfologia Dinâmica

ÍNDICE Índice. .………………………………………………………………………………….1 Índice de Figuras ...……………………………………….……………………………. 2 Índice de Quadros ...…….……………………………..….………………...…………...3 Índice de Quadros. .……………………………………….…………………………….3 Índice de Gráficos ....…………………..………………….………………...…………...3 Índice de Caixas ….....……………………………………….……………...…………...3 Resumo. …...…………………………………………………………………………….4 Abstract ……….....………………………………………………………………………5 1. Introdução, Metodologia e Objectivos ...…..……….....………………………...……6 2. Estuários ….....…………………………...…………………………………………...9 2.1 – O Estuário do Douro …………………………………….…………………...12 3. A Bacia Hidrográfica do Estuário do Douro ...……………………….……………. 14 4. As Cheias do Douro ...……………………………….………………. ……………. 19 5. A Área de Estudo .....…………………………………………………….…………. 25 6. O risco de Cheias ...………………………………….... ……………. ……………. 32 6.1 – Análise de Risco ...…………...………………………………………………51 7. Conclusão …...………………………………………….…………….……………. 52

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Índice de Figuras Figura 1 - Localização do Estuário do Douro. ……………………………………...….12 Figura 2 - Bacia Hidrográfica do Estuário do Douro. …………………………………14 Figura 3 - Rede Hidrográfica da Bacia do Estuário do Douro. ………………………. 15 Figura 4 - Mapa Hipsométrico da Bacia do Estuário do Douro. ………………………16 Figura 5 - Mapa de Declives da Bacia do Estuário do Douro. ………………………...17 Figura 6 - Orientação das Vertentes da Bacia do Estuário do Douro. …………………18 Figura 7 - Área de Estudo. ……………………………………………………………. 25 Figura 8 - Rede Hidrográfica da Área de Estudo. ……………………………………. 26 Figura 9 - Altimetria na Área de Estudo. ………………………………………………27 Figura 10 - Mapa Hipsométrico da Área de Estudo. …………………………………. 28 Figura 11 - Mapa de Declives da Área de Estudo. …………………………………… 29 Figura 12 - Orientação das Vertentes na Área de Estudo. ……………………………. 30 Figura 13 - Áreas Edificadas na Área de Estudo. ……………………………………...31 Figura 14 - Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. ………………. 32 Figura 15 - Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Crestuma – Vila Nova de Gaia. ………………………………………………………33 Figura 16 - Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Zebreiros – Gondomar. ………………………………………………………………...34 Figura 17 - Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Arnelas – Vila Nova de Gaia. ……………………………………………………………. 35 Figura 18 - Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Biqueiro – Gondomar. ………………………………………………………………...36 Figura 19 - Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Areinho de Avintes – Vila Nova de Gaia. ……………………………………………. 37 Figura 20 - Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Cais do Esteiro – Vila Nova de Gaia. ………………………………………………………. 38 Figura 21 - Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Atães – Gondomar. ………………………………………………………………...39 Figura 22 - Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Gramido – Gondomar. ………………………………………………………………...40 Figura 23 - Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Freixo (fozes dos rios Torto e Tinto) – Porto. ………………………………………………. 41 2

Figura 24 - Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Areinho de Oliveira do Douro – Vila Nova de Gaia. ………………………………. 42 Figura 25 - Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Cais da Ribeira – Porto. ………………………………………………………………………43 Figura 26 - Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Cais de Gaia – Vila Nova de Gaia. ………………………………………………………. 44 Figura 27 - Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Rua Nova da Alfandega (Miragaia) – Porto. …………………………………………. ...45 Figura 28 - Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Rua Massarelos – Porto. ………………………………………………………………………46 Figura 29 - Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Afurada – Vila Nova de Gaia. ……………………………………………………………..47 Figura 30 - Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Cantareira e Foz do Douro – Porto. …………………………………………………………48 Figura 31 - Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Lavadores – Vila Nova de Gaia. ……………………………………………………………. 49

Índice de Quadros Quadro 1 - Quadro resumo adaptado dos quatro tipos mais comuns de classificação dos estuários. …………………………………………………………………. 11 Quadro 2 - Quadro Matriz de Classificação de Risco. ………………………………...51

Índice de Gráficos Gráfico 1 - Alturas atingidas pelas cheias referidas na tabela 1. …………. …………. 20

Índice de Tabelas Tabela 1 - Resumo das principais cheias extraordinárias no estuário do douro. ………19 Tabela 2 - Tabela de apoio de análise do da tabela 1 e gráfico 2. ……………………. 20 Tabela 3 - Tabela de apoio de análise do da tabela 1 e gráfico 2. ……………………. 21

Índice de Caixas Caixa 1 - Transcrição de exercícios de cálculo relacionados com as cheias no Porto. .24

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Licenciatura em Geografia Geomorfologia Dinâmica

O Estuário do Rio Douro O risco de cheias Resumo O presente trabalho insere-se no âmbito do plano curricular da Licenciatura de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto na disciplina de Geomorfologia Dinâmica. O estuário do rio Douro banha 20 Freguesias, numa extensão de 22 km: Na margem norte, sete pertencem ao Concelho do Porto e cinco ao Concelho de Gondomar; na margem sul, as restantes oito pertencem ao Concelho de Vila Nova de Gaia. Ao longo das suas margens existem várias áreas que são vulneráveis ao risco de cheia. O rio Douro apresenta condições hidrográficas e hidrológicas que favorecem o aparecimento de cheias. Ao longo dos anos a sua ocorrência tem sido uma realidade, havendo inclusive referências desde o século XVI. A pressão antropogénica, no que respeita ao edificado nas áreas ribeirinhas, tem vindo sempre a aumentar nestas áreas, chegando a ocupar terrenos no leito de cheia, daí que, quando as cheias aparecem, causam imensos prejuízos materiais e às vezes a perda de vidas humanas. Recorrendo ao software específico SIG – ArcGIS, Versão 9.3 pretendeu-se criar a cartografia temática que sustenta este trabalho, procurando identificar as áreas, no estuário do Douro, mais vulneráveis ao risco de cheia. Palavras-chave: Rio Douro, cheias, risco de cheias.

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The Douro River estuary The risk of flooding

Abstract This work falls within the curriculum of the Degree of Geography Faculty of Letters, University of Porto in the discipline of Dynamic Geomorphology. The estuary of the Douro River lard 20 Parishes, in to 22 km: On the north bank, seven belong to the Municipality of Porto and five to the Municipality of Gondomar, on the south bank, the remaining eight belong to the Municipality of Vila Nova de Gaia. Along its banks there are several areas that are vulnerable to the risk of flooding. The Douro River has hydrological and hydrographical conditions that favour the occurrence of floods. Over the years its occurrence has been a reality and there are even references since the sixteenth century. Anthropogenic pressure in relation to buildings in coastal areas, has continuously increased, reaching occupy floodplains of the river, so that when the floods come, cause immense damage and sometimes loss of human lives. By using specific GIS software - ArcGIS version 9.3 was intended to create the thematic mapping that supports this work, seeking to identify areas in the estuary of the Douro, the most vulnerable to the risk of flooding. Keywords: Douro River, flooding, flood risk.

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1. Introdução, Metodologia e Objectivos O panorama morfológico e hidrológico do estuário do rio Douro, apresenta-se com um cenário entrecortado por uma alargada rede de rios e ribeiros, de maior ou menor dimensão, que, conjugadamente com o relevo, influencia e condiciona a hidrodinâmica do rio, na sua parte estuarina, e ao mesmo tempo as actividades socioeconómicas das respectivas populações. A bacia hidrográfica do Rio Douro é uma das mais extensas e pluviosas da Península Ibérica, está compreendida na latitude, entre os paralelos 40º 20´ e 43º 10´ N e na longitude, entre e os meridianos 01º 43´ e 08º 40´ W, cortando longitudinalmente a Península Ibérica, com orientações dominantes Este-Oeste. Esta bacia tem a forma de um losango, cujas diagonais Este-Oeste e Norte-Sul têm aproximadamente 560 e 300 km, respectivamente. O rio Douro desenvolve-se paralelamente à diagonal Este-Oeste, embora ligeiramente deslocado para Sul. A área é de 97 603 km2, dos quais 18 643 km2 (19,1%) em Portugal e 78 960 km2 (80,9%) em território espanhol, ocupando o primeiro lugar em área entre as bacias dos maiores rios peninsulares; a parte portuguesa é também a de maiores dimensões de entre as bacias de rios nacionais ou internacionais que atravessam o território português. Os recursos hídricos da bacia do Douro são essencialmente renováveis, e dependentes da precipitação proveniente das massas de ar mediterrânica e atlântica. Atendendo à extensão e orientação desta bacia, a porção de precipitação que mais contribui para o escoamento é a atlântica. A influência mediterrânica, por seu turno, conduz à sazonalidade, tanto mais elevada quanto se caminha para o interior da península. Os escoamentos no curso principal do rio Douro em território Português dependem, também, do que ocorre na parte espanhola da bacia hidrográfica, que é responsável pela maior parte das afluências totais do curso principal do rio Douro em território nacional (INAG, 1999). O rio Douro nasce a cerca de 1700 m de altitude na serra de Urbion, na Cordilheira Ibérica, Espanha. Ao longo do seu curso de 927 km, atravessa o território espanhol numa extensão de 597 km, seguidamente serve de fronteira ao longo de 122 km, sendo os últimos 208 km percorridos em Portugal. Atravessa o norte do país em Barca d´Alva, passa pela Régua e desagua no Oceano Atlântico, junto às cidades do Porto e vila Nova de Gaia. 6

A maior contribuição para a formação das cheias excepcionais no rio Douro resulta do terço final da bacia e, em particular, da parte Portuguesa, apesar do Rio Douro ter em Espanha a maior parte da sua bacia hidrográfica. Para este facto contribui a diferença entre as precipitações médias nestas duas zonas da bacia do Douro, estando na origem das grandes cheias do Douro precipitações de intensidade não muito elevada mas de grande duração e sobre áreas extensas. Estas precipitações são do tipo frontal e orográfico e estão associadas à passagem de várias perturbações de superfícies frontal polar. No entanto a principal contribuição para esta formação de cheias excepcionais reside na maior capacidade da zona terminal em gerar escoamento superficial, associado a uma reduzida capacidade de retenção e elevada velocidade de propagação dos caudais, consequência da sua baixa permeabilidade, relevo acidentado, vales profundos e encaixados. No seu leito estão construídas 64 barragens, sendo 48 delas de grandes dimensões. A sua presença destina-se, basicamente, à produção de energia eléctrica e à utilização em sistemas de irrigação sendo que, na sua grande maioria, não permitem controlar significativamente as cheias, na medida em que trabalham a "fio de água", usufruindo de capacidade limitada de armazenamento (LNEC, 1994), excepto as únicas com capacidade de controlar as cheias são as espanholas de Ricobayo, no rio Esla e a de Almendra no rio Tormes). As margens do estuário são também elevadas e por isso a secção transversal é pequena. Nestas condições, o rio está sujeito a grandes cheias tendo as albufeiras nele construídas pequena capacidade de as controlar. As cidades de Porto e Vila Nova de Gaia situam-se respectivamente nas margens Norte e Sul da parte terminal do estuário. Em ambas as cidades, as zonas ribeirinhas estão sujeitas a inundações frequentes devidas às características do estuário e da bacia de drenagem do rio correspondente ao estuário, apesar do esforço consertado do controlo do caudal do rio, pelo Centro de Prevenção e Previsão de Cheias do Douro. Acontece que, por um lado, a capacidade de retenção das albufeiras é relativamente pequena e, à medida que vão atingindo o seu máximo de retenção, vão fazendo com que o efeito de “cascata” entre barragens se verifique. Por outro lado a parte da bacia hidrográfica correspondente ao estuário, que fica para jusante da barragem de Crestuma, tem uma área bastante considerável e para a qual drenam uma grande quantidade de rios e ribeiros. 7

O objectivo deste trabalho é identificar as áreas ribeirinhas do estuário do rio Douro que estão sujeitas ao risco de cheia. A área de estudo deste trabalho circunscrevese às áreas ribeirinhas do estuário do Douro, pois, como é óbvio, são elas as mais vulneráveis ao risco de cheia. Para uma melhor análise da área de estudo, limitou-se a bacia hidrográfica do rio Douro à área correspondente aos cursos de água que drenam para jusante da barragem de Crestuma, à qual se chamou “Bacia Hidrográfica do Estuário do Douro”, dentro da qual se insere a denominada “Área de Estudo”, onde se analisarão as áreas ribeirinhas mais vulneráveis. Para a elaboração deste trabalho foi feito o estado da arte sobre o assunto em estudo e recorreu-se também a literatura relacionada com o objectivo do trabalho. Recorreu-se a informação cartográfica de base da área em estudo (cartas no formato”raster”de escala 1/25.000, nºs 122, 123, 133 e 134, do IGEOE), bem como a sua utilização para a elaboração da cartografia temática que o sustenta, utilizando um software específico SIG – ArcGIS, Versão 9.3.

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2. Estuários Cerca de dois terços das maiores áreas metropolitanas mundiais situam-se nas proximidades dos estuários. Assim são regiões vulgarmente sujeitas às situações de risco impostas pela pressão populacional, instalações portuárias, efluentes diversos, entre outros. O uso indevido das suas margens engloba vários riscos, entre eles, o risco de cheia. A questão de definir um estuário e de delimitar a respectiva área tem sido abordada por diversos autores, variando os conceitos que estão subjacentes às respectivas definições. O conceito mais difundido é a clássica definição de Cameron & Pritchard de 1963: “Estuários são corpos de água costeiros semi-fechados que têm uma ligação livre com o mar e nos quais a água do mar se dilui, de forma mensurável, com água doce proveniente da drenagem terrestre” (MIRANDA et al 2002). Esta definição exclui diversos tipos de estuários, nomeadamente os que ficam temporariamente isolados do mar durante a estação seca e os estuários hipersalinos, entre outros. Mais recentemente Day em 1981 define um estuário como: “Um corpo de água que se encontra permanentemente ou periodicamente aberto ao mar e no seio do qual existe uma variação mensurável da salinidade devido à mistura de água salgada com água doce proveniente da drenagem terrestre” (MIRANDA et al 2002). Em termos genéricos um estuário é portanto uma região de interface entre um rio e oceano. Este conceito implica o estabelecimento e a realização de importantes e complexas interacções entre os dois meios postos em contacto. Dentro do tema Estuários, também vários autores se têm dedicado à sua classificação, aparecendo assim vários tipos de estuários (Quadro 1)1. As várias tipologias de estuários abordam critérios dentro de vários parâmetros com características distintas. As mais comuns baseiam-se em critérios morfológicos, de salinidade, de padrões de circulação e com base na amplitude de maré, havendo outras baseadas em factores, fisiológicos, de sedimentação, de qualidade da água, biológicos e biofísicos, entre outros. Os estuários também se podem dividir em três sectores baseados no teor de salinidade da água e nos efeitos da maré: o estuário superior inclui a secção de água 1 Adaptado de MIRANDA et al, 2002

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mais doce, com baixo teor de salinidade, e os efeitos da maré são ténues; o estuário médio corresponde a uma área de transição em termos de salinidade, onde a água é salobra e os efeitos da maré são visivelmente sentidos; o estuário inferior é, por sua vez, caracterizado pela forte influência marinha, com valores de salinidade altos e os efeitos da maré são bastante sentidos. QUADRO RESUMO DOS QUATRO TIPOS MAIS COMUNS DE CLASSIFICAÇÃO DOS ESTUÁRIOS.

Critério

Tipos

Fiorde

Características

Estuários de secção em U, em geral originados Alto-relevo por glaciares, caracterizados por grandes profundidades e estratificação. Rias ou de Estuários com secção em V em que a parte Relevo médio Vale terminal do vale tem uma cota abaixo do nível inundado do mar. Planície De configuração em funil, com ou sem barra na Morfologia costeira ligação com o mar. (adaptado de De restinga Estuários gerados quando uma cadeia de ilhas Pritchard, 1967 Baixo-relevo ou Barbuilt barreira delimita uma zona de costa onde e Fairbridge, desaguam cursos de água doce, com restinga 1980) paralela à costa Cego Com ligação temporária ao mar. Delta estuarino Com braços efémeros fora do canal principal. De origem Originados por movimentos tectónicos como Composto tectónica falhas ou subsidência local. Com canal de ligação ao mar e estuário de planície costeira no interior Onde o escorrimento superficial e a precipitação Positivos excedem a evaporação, sendo a salinidade inferior à da água do mar. Salinidade Quando a evaporação excede a precipitação e o (Pritchard, Inversos escorrimento superficial de água doce, tornando1967) se hipersalinos. Neutros Quando há equilíbrio entre as afluências de água doce e a evaporação. Quando há haloclina separando a camada superficial de água doce da profunda de água Estratificados com cunha salina salgada; ocorre quando a razão entre o caudal de água doce afluente e o prisma de maré é grande e a razão entre a largura e a profundidade é Padrões de pequena. RT /P > 1 * circulação Quando se observa um gradiente crescente de (adaptado de salinidade na vertical e para jusante. A Hansen and Semi-estratificado ou distribuição de salinidade é governada Ratray, 1966 e parcialmente estratificado cinematicamente pela advecção horizontal e de Bowden, vertical e pelo fluxo vertical não advectivo. 1980) RT /P ≡ 0,25 * Bem misturado ou Quando o gradiente de salinidade é apenas verticalmente homogéneo longitudinal; ocorre quando há maré muito intensa. RT /P < 0,1 *

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Sujeitos a pequenas amplitudes de maré (0 a 2 metros), contendo sedimentos arenosos na zona de marés e deltas do rio, leques de "washover” e estruturas construídas por ondas (praias alinhadas, espigões arenosos e barras de Microtidal desembocaduras). Siltes e argilas são acumuladas no fundo da área central do estuário. Os ventos, ondas de tempestade e correntes são as forças dominantes no transporte de sedimentos e influenciam na morfologia dos depósitos arenosos. Correntes de maré tornam-se importantes somente na desembocadura da barra. Com amplitude de maré intermediária (2 a 4 metros), são caracterizados por sedimentos depositados primariamente por correntes de Amplitude de marés. Consequentemente, deltas de marés e maré (Davies, Mesotidal canais de marés tornam-se conspícuos, com o 1964 e Hayes, principal depósito de areia localizado em deltas 1975) de maré. Sedimentos de silte e argila encontramse na planície de maré e em pântanos salgados (salt marshes), Com amplitude de maré superior a 4 metros, são completamente dominados por correntes de maré. Normalmente aparecem em foz alargada em forma de funil, com sedimentos arenosos Macrotidal concentrados na porção central do estuário, frequentemente como corpos arenosos alongados, lineares e paralelos à corrente de maré. Siltes de granulação fina e argilas acumulam-se ao largo nas planícies de marés ou em pântanos salgados. * RT = o volume de água doce afluente ao estuário durante um ciclo de maré P = Prisma de maré = volume total de água que passa através de uma secção transversal de

um canal durante um período de enchente

Quadro 1: Quadro resumo adaptado dos quatro tipos mais comuns de classificação dos estuários.

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2. 1 O Estuário do Douro O estuário do rio Douro localiza-se entre os paralelos 41º 08’ 50’’ e 41º 04’ 27’’ de latitude Norte e entre e os meridianos 08º 40’ 20’’ e 08º 29’ 10’’ de longitude Oeste (Figura 1). Desenvolve-se num vale longo e estreito, com uma extensão de cerca de 22 km de comprimento e somente a 2,9 km da barra ocorre o alargamento das margens. A propagação da maré é limitada a montante pela barragem de Crestuma. A sua largura mínima é de 135 m na ponte Luís I, a 6 km da foz. A jusante da ponte da Arrábida, alarga, atingindo a largura máxima de 1300 m. Na foz, a partir da margem sul, existe um banco de areia disposto perpendicularmente ao eixo do estuário, que é controlado pelo rio e pela maré e que confina o escoamento ao canal estreito junto à margem norte, é uma restinga conhecida por Cabedelo cuja morfologia é variável, modelada pelo regime de agitação marítima e pelo escoamento devido ao rio e à maré. Em situações de cheia, para caudais da ordem dos 10 000 m3/s o banco é transposto e destruído pelo escoamento, sendo reconstruído progressivamente pelo escoamento depois de terminada a cheia. A cota da parte central do Cabedelo é da ordem dos 5 m acima do nível médio do mar.

Figura 1: Localização do Estuário do Douro.

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O estuário do Douro pode ser classificado, segundo os critérios apresentados no quadro 1 da seguinte forma:  Morfologia – Baixo-relevo, de restinga ou Barbuilt  Salinidade – Positivo  Padrão de circulação – Estratificado com cunha salina2  Amplitude de maré - Mesotidal O estuário tem uma profundidade média de 8,2 m, possui um canal de navegação com 6 m de profundidade e 60 m de largura, mantido à custa de sucessivas dragagens. As marés são semi-diurnas espaçadas sensivelmente de 6 horas, com uma amplitude de 2 a 4 m. O caudal de água doce é, actualmente, de 505 m3/s. O caudal anual médio em Crestuma está estimado em aproximadamente 450 m3/s; pode, no entanto, atingir os 700 m3/s, em anos com pluviosidade média intensa e os 200 m3/s, em anos secos. Existe elevada variabilidade sazonal no seu comportamento que pode, em situações de cheia, atingir os 10 000 m3/s (INAG, 2000). O estuário inferior estende-se por 3 km a partir da embocadura correspondendo à zona de expansão máxima da cunha salina durante o Inverno; o estuário médio é limitado, a montante, pela intrusão salina durante o Verão (cerca 8 km), o estuário superior compreende o restante percurso até à barragem (Vieira e Bordalo, 2000). As marés são semi-diurnas espaçadas sensivelmente de 6 horas, com uma amplitude de 2 a 4 m. Nas margens do estuário desenvolveram-se três concelhos ribeirinhos (Porto, Vila Nova de Gaia e Gondomar), nas quais, exercem uma grande pressão antropogénica. O estuário é também utilizado para actividades de lazer (banhos, pesca desportiva, desportos náuticos, etc.) e fins comerciais (pesca profissional, navegação fluvial de turismo, extracção de inertes e navegação entre rio e mar de granéis).

2 - Um estudo realizado por Vieira e Bordalo revela que o estuário do Douro se insere na classificação de altamente estratificado. “Uma análise dos registos de salinidade medidos uma vez por mês durante o ano de 1994 e a obtenção de registos de correntes no Outono desse ano revelaram um estuário altamente estratificado dependente das descargas da barragem: forte estratificação vertical de salinidade sob condições de baixo escoamento, ao passo que durante elevado escoamento todo o estuário se transforma num rio.” (Vieira e Bordalo, 2000).

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3. A “Bacia Hidrográfica do Estuário do Douro” Para uma melhor análise da área de estudo, limitou-se a bacia hidrográfica do rio Douro à área correspondente aos cursos de água que drenam para jusante da barragem de Crestuma, à qual se chamou “Bacia Hidrográfica do Estuário do Douro” (Figura 2). Esta limitação tem a sua importância, na medida em que esta área é drenada por cursos de água, cujos escoamentos para o rio Douro, se fazem para jusante da barragem de Crestuma e, por tal motivo, não há interferência no controlo de cheias.

Figura 2: Bacia Hidrográfica do Estuário do Douro.

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Numa caracterização simples, a “Bacia Hidrográfica do Estuário do Douro” é de drenagem exorreica com padrão dendídrico, a sua morfometria apresenta um perímetro de 232,7 km e ocupa uma área de 796 km2, tem um comprimento de 17,5 km e uma largura de 58,6 km. A rede hidrográfica que compõe a bacia tem uma densidade de cursos de água elevada, na sua maioria com caudal perene (Figura 3). Desaguam no estuário do Douro vários rios e ribeiros, sendo os principais afluentes os seguintes: Na margem direita, de montante para jusante, o Rio Sousa, Rio Torto, Rio Tinto, Rio da Vila, Ribeira de Massarelos e Ribeira da Granja: na margem esquerda, de montante para jusante, Rio Uíma, Rio Febros, Ribeira de Quebrantões, Ribeira das Azenhas ou Santo Antão e Rio de Baixo. O seu principal afluente é o rio Sousa, cuja bacia ocupa mais de 75% da área da bacia do estuário do Douro.

Figura 3: Rede Hidrográfica da Bacia do Estuário do Douro.

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A bacia do estuário do Douro apresenta uma hipsometria que varia entre as altitudes de 0 a 578 metros. O ponto mais alto situa-se no Monte do Telégrafo, na Freguesia de Santa Margarida, Concelho de Lousada. O relevo é um dos factores que influência largamente o processo hidrológico, pois com a altitude, a temperatura diminui e consequentemente arrefece as massas de ar, favorecendo a precipitação. O relevo pode ser traduzido pelas curvas de nível, de onde se pode elaborar um mapa hipsométrico (Figura 4).

Figura 4: Mapa Hipsométrico da Bacia do Estuário do Douro.

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A velocidade do escoamento superficial é também determinada pela declividade do terreno, pois é directamente proporcional, e por isso o declive tem grande influência sobre os factores hidrológicos (Figura 5)3.

Figura 5: Mapa de Declives da Bacia do Estuário do Douro.

3 - Os declives são em %

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Por outro lado a orientação das vertentes também influenciam a precipitação, proveniente, principalmente, das massas de ar atlânticas do tipo frontal e orográfico. A orientação das vertentes da bacia hidrográfica do estuário do Douro é, nas regiões mais altas orientada para o quadrante oeste (Figura 6).

Figura 6: Orientação das Vertentes da Bacia do Estuário do Douro.

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4. As Cheias no Douro Ao longo dos anos a ocorrência de cheias no Douro são uma realidade, havendo inclusive referências a este fenómeno natural desde o século XVI, sendo os anos mais recentes, memoráveis pelo impacto negativo que provocam na vida das pessoas, principalmente as que habitam ou têm actividades económicas nas áreas ribeirinhas. O registo histórico das cheias refere-se essencialmente às cheias de carácter extraordinário, não se registando na memória, aquelas com maior caudal registado de carácter anual, por não provocarem grandes prejuízos. O critério para a classificação das cheias do Douro em "extraordinárias" ou "normais" é definido pela altura que as águas atingem, medidas junto à ponte Luís I, na margem direita. Designam-se cheias extraordinárias as cheias que ultrapassam a cota dos 6 metros (a partir do Zero Hidrográfico), por serem aquelas que inundam o cais da Ribeira, à cota de 5,90 m, apesar de Miragaia ficar inundada quando as águas atingem a cota de 4,20 m. Analise-se as cheias desde 1739 (Tabela 1 e Gráfico 1):

TABELA RESUMO E GRÁFICO DAS PRINCIPAIS CHEIAS EXTRAORDINÁRIAS NO ESTUÁRIO DO DOURO DESDE 1739

Ano

Cota

Ano

Cota

Ano

Cota

Ano

Cota

1739 1772 1779 1788 1821 1823 1825 1853

10,59 8,49 9,54 8,74 7,14 8,34 8,6 7,68

1855 1860 1865 1869 1876 1878 1880 1881

6,99 9,1 6,19 5,09 6,84 7,24 5,19 7,99

1900 1904 1909 1910 1936 1962 1966 1978

5,6 6,04 10,08 6,84 5,6 9,38 8,46 7,03

1979 1989 1996 2001 2002 2003 2006

6,34 7,32 6,34 6,07 5,34 5,34 6,66

Tabela 1: Resumo das principais cheias extraordinárias no estuário do douro (Fonte: Capitania do Porto do douro).

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Gráfico 1: Alturas atingidas pelas cheias referidas na tabela 1. Ano Cota

Cota > 5 m

Cota > 6 m

Cota >7 m

Cota > 8 m

Cota > 9 m

Cota >10 m

1739

10,59

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

1772

8,49

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

1779

9,54

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

1788

8,74

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

1821

7,14

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

1823

8,34

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

1825

8,6

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

1853

7,68

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

1855

6,99

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1860

9,1

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

1865

6,19

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1869

5,09

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1876

6,84

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1878

7,24

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

1880

5,19

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1881

7,99

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

1900

5,6

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1904

6,04

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1909

10,08

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

1910

6,84

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1936

5,6

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1962

9,38

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

1966

8,46

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

1978

7,03

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

1979

6,34

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1989

7,32

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

1996

6,34

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

2001

6,07

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

2002

5,34

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

2003

5,34

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

2006

6,66

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

Tabela 2: Tabela de apoio de análise do da tabela 1 e gráfico 2.

20

Ano Cota

Cota > 5 m

Cota > 6 m

Cota >7 m

Cota > 8 m

Cota > 9 m

Cota >10 m

Anos

Intervalos

1739

10,59

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

1739

1909

10,08

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

1772

33

1779

9,54

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

1779

7

1962

9,38

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

1788

9

1860

9,1

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

1821

33

1788

8,74

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

1823

2

1825

8,6

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

1825

2

1772

8,49

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

1853

28

1966

8,46

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

1855

2

1823

8,34

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

1860

5

1881

7,99

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

1865

5

1853

7,68

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

1869

4

1989

7,32

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

1876

7

1878

7,24

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

1878

2

1821

7,14

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

1880

2

1978

7,03

VERDADEIRO

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

1881

1

1855

6,99

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1900

19

1910

6,84

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1904

4

1876

6,84

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1909

5

2006

6,66

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1910

1

1996

6,34

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1936

26

1979

6,34

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1962

26

1865

6,19

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1966

4

2001

6,07

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1978

12

1904

6,04

VERDADEIRO

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1979

1

1936

5,6

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1989

10

1900

5,6

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

1996

7

2003

5,34

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

2001

5

2002

5,34

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

2002

1

1880

5,19

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

2003

1

1869

5,09

VERDADEIRO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

FALSO

2006

3

Tabela 3: Tabela de apoio de análise do da tabela 1 e gráfico 2.

Analisando a tabela 1 e o gráfico 1 e as tabelas de apoio 2 e 3, referentes a cheias desde 1739, verifica-se que a maior ocorreu em 1739, atingindo uma cota de 10, 59 m e a menor ocorreu em 1869, com uma cota de 5, 09 m. As duas maiores cheias aconteceram com um intervalo de tempo de 180 anos – entre 1739 e 1909. Os maiores períodos de tempo entre duas cheias consecutivas aconteceram entre as cheias de 1772 e 1739 e entre 1788 e 1821 com 33 anos de intervalo; seguindo-se o período entre 1825 e 1853 com 28 anos; depois os intervalos entre 1910 e 1936 e entre 1936 e 1962 com 26 anos; entre 1881 e 1900 e entre 1966 e 1978, os intervalos são de 21

19 e 12 anos respectivamente; dos restantes, 5 períodos têm um intervalo de tempo entre 7 e 10 anos e 18 apresentam um intervalo menor ou igual a 5 anos. Facto curioso é o de que desde a entrada em funcionamento da barragem de Crestuma, em 1986, as cotas de cheia não têm ultrapassado os 6,66 m, exceptuando a de 1989. Considerando que neste ano a barragem estava em início de actividade e que esta foi também a primeira cheia que enfrentou, leva a pensar que a barragem tem tido um papel importante no controlo das cheias. A causa das cheias extraordinárias do Rio Douro não resulta apenas da intensidade das precipitações, resulta também da forma e características da sua bacia. As suas margens, em Portugal, são muito íngremes e a bacia pouco alongada em relação à dos seus afluentes, com um escasso coberto vegetal. Por outro lado o facto de no sector Português a bacia ser formada por uma malha de afluentes sensivelmente paralelos, de grande comprimento relativamente aos troços do curso principal e as barragens portuguesas serem de fio de água, com pouca capacidade de armazenamento. Deste modo, uma precipitação intensa e repentina, aliada a uma saturação dos solos, provocada por chuvas anteriores, é factor e origem de cheias. Estes tipos de precipitação acompanham as perturbações de superfície frontal polar associadas a depressões secundárias que se deslocam rapidamente para Leste e Nordeste. Para a formação de cheias no rio Douro, conforme o anteriormente referido, não são necessárias, em geral, grandes precipitações, desde que o escoamento na Régua atinja os 2000 m3/s - valor muito frequente - basta que durante 4 dias se atinjam precipitações de 80 mm, em grande parte da bacia portuguesa do rio Douro e do rio Esla, para que a ocorrência duma cheia dependa da precipitação do 5º dia. Então uma precipitação, da ordem dos 50 mm é suficiente para provocar uma cheia do Douro, que poderá ser uma das maiores que se conheça. O valor das cheias depende da intensidade da precipitação acumulada e da sua distribuição geográfica, já que de uma maneira geral, a formação das cheias nos afluentes é rápida e a ponta de cheia ocorre poucas horas depois da precipitação, de grande intensidade, ter acabado. Este tipo de precipitação (intensa e de grande duração) é característico da perturbação frontal polar que, ao deslocar-se para Nordeste, atravessa a bacia do Douro. Considerando a que a pluviosidade se desenvolve de jusante para montante, os caudais dos afluentes mais próximos da costa, chegam ao Douro antes da cheia no curso 22

principal. Isto é importante uma vez que o aumento de caudais vindos de Espanha poderá agravar bruscamente a amplitude das cheias. A consistente regularização do caudal do Douro nas albufeiras de Ricobayo e Aldeadávilla, os factores determinante da precipitação e da meteorologia associada na bacia hidrográfica do Douro (cujo indicador mais rigoroso se localiza em Vila Real) que faz engrossar os afluentes principais martirizando sistematicamente a cidade da Régua, com reflexos no Carrapatelo, Torrão, e Crestuma, são os indicadores mais valiosos de caudais excessivos. Quanto à informação da precipitação existe um entendimento, decorrente do protocolo entre as entidades, no sentido do Instituto de Meteorologia (IM) enviar ao Centro de Prevenção e Previsão de Cheias do Douro (CPPC Douro) regularmente de 6 em 6 horas, dados pluviométricos na bacia hidrográfica a partir de determinados níveis de precipitação registados; não obstante esta referência, e de forma a manter o nível de decisão (vital para o rastreio da situação) de certas formas independentes da recepção destes dados, foram criados outros referenciais, que se baseiam na previsão a partir da análise da precipitação ocorrida até às 12h00 do dia anterior. A questão das cheias no rio Douro pode de uma forma linear resumir-se ao conjunto de referências que se encontram no coração da bacia e confinados a um triângulo cujos vértices se localizam nas serras da Cabreira, Gralheira e barragem do Pocinho.

* Como informação complementar e Baseados em experiências e análises pontuais da EDP e CPPC Douro, seguidamente se transcrevem algumas constatações relativas aos efeitos produzidos no Porto e Vila Nova de Gaia pela subida da água na Régua (Caixa 1):

23

Proporções da subida da água no Porto: Por cada metro no Peso da Régua/0,50 m no Cais da Ribeira1 até ao coroamento (nível do referido cais 6 m acima do Zo), e de 0,40 m do coroamento para cima. Assim para se saber a quanto corresponde na Ribeira uma altura de 11,0 metros no Peso da Régua teremos de multiplicar 11m, por 0,50 m que dá 5.5 m (11 m x 0.50 m = 5.5 m) e como o coroamento está a 6 m do Zo verifica-se que faltam 0,50 m para a água atingir o cais. (Ribeira: 5.5 m – 6 m Zo = 0.50 m para atingir o cais). Exemplo: Encontrando-se a água a uma altura de 18,0 m no Peso da Régua na Ribeira do Porto a água cobre o cais com 2,40 m, calcula-se da seguinte forma: 1.º Calcula-se o correspondente a 12.0 m (12 m x 0.50 m = 6 m) que dá 6m; 2.º Calcula-se dos restantes 6 m (6 m x 0,40 m = 2,4 m) que dá 2,4 m; 3.º Soma-se os valores: 8,4 m ( 6m + 2,4 m = 8,4 m). Como o coroamento é 6 m, o cais ficará coberto com 2,4 m de água. (8,4 m – 6 m = 2,4 m) ou seja, - por cada metro de subida na Régua verifica-se um aumento de 50 cm na Ribeira até ao nível do coroamento (6 m); e - acima dos 6 m, 40 cm. Assim a um nível de 18 m na Régua correspondem 8,40 m na Ribeira (12 na Régua = 6 m na Ribeira + 6 x 0,40), o que equivale a que a zona do cais de banhos ficará inundada com 2,40 de altura de água. Estes valores têm, contudo, de ser equacionados conjuntamente com outras condicionantes deste problema como sejam a altura das marés, o estado do mar e a orientação e intensidade dos ventos. O Zo é 2.80 m, o referencial da APDL ao Zo é 2,3 m. Quando as águas atingem o nível do Cais da Ribeira (6 m Zo) a corrente tem cerca de 8.5 nós; daqui até 1,5 m acima do cais (7,5 m Zo) aumenta 2 nós por cada metro e 1,5 m para cima aumenta 1,1 nós: . a água atinge 6 m Zo, a corrente tem certa de 8.5nós no Cais da Ribeira; . para (=) 1,5m ( 6m +1,5 m) acima do cais = 7.5 m Zo, a corrente aumenta 2 nós por cada metro; . mais (+) de 1,5 m, a corrente aumenta 1,1 nós. Relação causa efeito entre barragens é a seguinte (dependente do valor dos caudais): Local Horas Depois Horas Após 3,5 h Pocinho 7 h Saucelle Valeira Régua Carrapatelo Crestuma Foz

3,5 h Valeira

7 h Pocinho

1 h Régua

8 h Pocinho

4 h Carrapatelo 6,5 Régua

5 h Régua 1,5 h Crestuma/13,5 h Pocinho

Fonte: Plano Especial de Intervenção Cheias do Rio Douro do CPPC Douro. ___________________________ 1 - Desde o Zo hidrográfico Caixa 1: Transcrição de exercícios de cálculo relacionados com as cheias no Porto. Fonte: Gabinete Municipal de Protecção Civil do Porto.

24

5. A Área de Estudo O objectivo deste trabalho é identificar as áreas ribeirinhas do estuário do rio Douro que estão sujeitas ao risco de cheia, atendendo também ao registo histórico das referidas cheias na área estuarina. A área de estudo deste trabalho circunscreve-se às áreas ribeirinhas do estuário do Douro, pois, como é óbvio, são elas as mais vulneráveis ao risco de cheia. Para uma melhor análise da área de estudo, limitou-se a bacia hidrográfica do rio Douro à área envolvente do estuário, à qual se chamou “Área de Estudo” (Figura 7), onde se analisarão as áreas ribeirinhas mais vulneráveis:

Figura 7: Área de Estudo.

25

Como se pode verificar, e como já foi referido, desaguam no estuário do Douro vários rios, ribeiros e riachos, bem como um elevado número de linhas de água resultantes da orografia do terreno envolvente (Figura 8).

Figura 8: Rede Hidrográfica da Área de Estudo.

26

A altimetria, aqui representada pelas curvas de nível, na Área de Estudo mostra que o rio Douro se desenvolve num vale longo e estreito, com uma extensão de cerca de 22 km de comprimento e somente a 2,9 km da barra ocorre o alargamento das margens (Figura 9).

Figura 9: Altimetria na Área de Estudo.

27

A partir das curvas de nível foi elaborado um mapa hipsométrico, que proporciona uma melhor percepção do relevo do vale do Douro no seu estuário. O vale que encaixa o rio tem altitudes que variam até aos 100 metros, existindo alguns troços que variam entre 0 e 20 metros (Figura 10).

Figura 10: Mapa Hipsométrico da Área de Estudo.

28

O mapa de declives da Área de Estudo mostra uma declividade considerável nas áreas envolventes do estuário que influencia a velocidade de escoamento, acelerando o processo de formação de ceias. Os declives variam até aos 89% (Figura11).

Figura 11: Mapa de Declives da Área de Estudo.

29

A orientação das vertentes na Área de Estudo, para além de influenciar a precipitação orográfica, também proporciona uma maior insolação na margem direita, uma vez que a orientação das vertentes é predominante para o quadrante Sul, ao contrário da margem Esquerda (Figura 12).

Figura 12: Orientação das Vertentes na Área de Estudo.

30

Na área de estudo o edificado apresenta-se com duas características distintas: no último terço do estuário, em ambas as margens, o povoamento é concentrado, com especial concentração nos centros históricos do Porto e Vila Nova de Gaia. A partir do segundo terço (para montante), o povoamento vai-se tornando gradualmente disperso nas áreas ribeirinhas (Figura 13).

Figura 13: Áreas Edificadas na Área de Estudo.

31

6. O Risco de Cheias No Estuário do Douro existem algumas áreas críticas (Figura 13) onde as cheias provocam interferência com as povoações no comércio, na indústria, na agricultura e infra-estruturas como pontes, viadutos e rede viária e via-férrea. Nestas áreas, pode verificar-se a destruição ou perdas de bens e desalojados nas populações afectadas, a interrupção das vias de comunicação pelo corte de estradas e caminhos-de-ferro e ainda estragos em plantações agrícolas.

Figura 14: Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo.

Os pontos mais susceptíveis à ocorrência de cheias, no estuário do Douro, estão localizados em ambas as margens e as áreas habitadas são as que apresentam maior vulnerabilidade ao risco de cheias.

32

De montante para jusante as áreas mais afectadas são:

 Crestuma Margem - Esquerda Freguesia – Crestuma Concelho – Vila Nova de Gaia

Figura 15: Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Crestuma – Vila Nova de Gaia.

33

 Zebreiros Margem – Direita Freguesia – Foz do Sousa Concelho – Gondomar

Figura 16: Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Zebreiros – Gondomar.

34

 Arnelas Margem - Esquerda Freguesia – Olival Concelho – Vila Nova de Gaia

Figura 17: Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Arnelas – Vila Nova de Gaia.

35

 Biqueiro Margem – Direita Freguesia – Foz do Sousa Concelho – Gondomar

Figura 18: Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Biqueiro – Gondomar.

36

 Areinho de Avintes Margem – Esquerda Freguesia – Avintes Concelho – Vila Nova de Gaia

Figura 19: Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Areinho de Avintes – Vila Nova de Gaia.

37

 Cais do Esteiro (foz rio Febros) Margem – Esquerda Freguesia - Avintes Concelho – Gondomar

Figura 20: Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Cais do Esteiro – Vila Nova de Gaia.

38

 Atães Margem – Direita Freguesia – Jovim Concelho – Gondomar

Figura 21: Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Atães – Gondomar.

39

 Gramido Margem – Direita Freguesia – Foz do Sousa Concelho – Gondomar

Figura 22: Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Gramido – Gondomar.

40

 Freixo (fozes dos rio Torto e Tinto) Margem - Direita Freguesia – Campanha Concelho – Porto

Figura 23: Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Freixo (fozes dos rios Torto e Tinto) – Porto.

41

 Areinho de Oliveira do Douro Margem - Esquerda Freguesia – Oliveira do Douro Concelho – Vila Nova de Gaia

Figura 24: Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Areinho de Oliveira do Douro – Vila Nova de Gaia.

42

 Cais da Ribeira Margem – Direita Freguesia - S. Nicolau Concelho – Porto

Figura 25: Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Cais da Ribeira – Porto.

43

 Cais de Gaia Margem - Esquerda Freguesia - Santa Marinha Concelho – Vila Nova de Gaia

Figura 26: Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Cais de Gaia – Vila Nova de Gaia.

44

 Rua Nova da Alfândega (Miragaia) Margem – Direita Freguesia – Miragaia Concelho – Porto

Figura 27: Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Rua Nova da Alfandega (Miragaia) – Porto.

45

 Massarelos Margem – Direita Freguesia - Massarelos Concelho – Porto

Figura 28: Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Rua Massarelos – Porto.

46

 Afurada Margem – Esquerda Freguesia - S. Pedro Afurada Concelho – Vila Nova de Gaia

Figura 29: Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Afurada – Vila Nova de Gaia.

47

 Cantareira e Foz do Douro Margem - Direita Freguesia – Foz do Douro Concelho – Porto

Figura 30: Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Cantareira e Foz do Douro – Porto.

48

 Lavadores e Cabedelo Margem - Esquerda Freguesia – Canidelo Concelho – Vila Nova de Gaia

Figura 31: Áreas Vulneráveis ao Risco de Cheia na Área de Estudo. Lavadores – Vila Nova de Gaia.

49

Para além destas áreas habitadas, existem outras áreas alagáveis nas áreas ribeirinhas ao longo do percurso estuarino do rio Douro, por vezes causando cortes nas ligações viárias mais expostas, bem como, fortes caudais e fluxos de lama pelos leitos dos afluentes. A quando da ocorrência de cheias, as áreas mais vulneráveis com terrenos cultivados, localizam-se no lugar da Areia (Crestuma), em Zebreiros, no lugar do Biqueiro, em Atães, no Areinho de Avintes, no lugar do Esteiro (junto à foz do Febros), em Gramido e na quinta da Pedra Salgada. As vias rodoviárias que ficam mais afectadas são a E.N. 108 em alguns pontos mais baixos desde Crestuma e no Freixo, junto aos rios Torto e Tinto; a marginal do Porto entre a Rua Nova da Alfandega e a foz do rio Douro em vários pontos; em Vila nova de Gaia, alguns arruamentos próximos aos areinhos de Avintes e Oliveira do Douro ficam submersos; a Avenida Diogo Leite e a Marginal até à Afurada e Canidelo também ficam interditas. As infra-estruturas que mais sofrem o efeito das cheias são a ponte sobre o rio Uíma, na E.N. 109-2 em Crestuma e os pilares de sustentação do viaduto de Massarelos no Porto. As actividades mais vulneráveis aos efeitos das cheias são o armazenamento e comercialização do vinho do porto, das caves localizadas nas cotas inferiores da marginal de Vila Nova de Gaia e as do sector secundário das duas margens ribeirinhas do Douro. A vulnerabilidade do sector terciário é muito reduzida, excepto em alguns locais nas cidades do Porto e Vila Nova de Gaia. A actividade agrícola é atingida durante alguns meses, bem como, outras actividades económicas são afectadas devido a cortes nas comunicações rodoviárias que impedem a mobilidade da população activa. Por vezes as populações mais atingidas sofrem com a interrupção do comércio e mesmo algumas indústrias são obrigadas a encerrar temporariamente.

50

6.1 Análise do Risco Face ao histórico das cheias no estuário do douro e aos seus períodos de retorno, existem áreas ribeirinhas sujeitas a mais ou menos risco de cheia. Considerando então o que foi apresentado pode-se fazer uma delimitação e um ordenamento de áreas inundáveis, segundo 5 classes4, associadas ao respectivo risco e aos efeitos sobre os utilizadores dessas áreas, de acordo com a seguinte forma: Área Vermelha – Risco Muito Elevado = todas as áreas que em condições naturais são inundadas pelas cheias com cotas até aos 6 metros. Área Laranja - Risco Elevado = todas as áreas que em condições naturais são inundadas pelas cheias com cotas entre os 6 e os 7 metros. Área Amarela - Risco Moderado = todas as áreas que em condições naturais são inundadas pelas cheias com cotas entre os 7 e os 8 metros. Área Beije - Risco Baixo = todas as áreas que em condições naturais são inundadas pelas cheias com cotas entre os 8 e os 9 metros. Área Azul Claro - Risco Muito Baixo = todas as áreas que em condições naturais são inundadas pelas cheias com cotas superiores a 9 metros. Quadro matriz de classificação de risco (Quadro 2):

MUITO ELEVADO

Áreas com cotas até aos 6 m

ELEVADO

Áreas com cotas entre 6 e 7 m

MODERADO Áreas com cotas entre 7 e 8 m

BAIXO

Áreas com cotas entre 8 e 9 m

MUITO BAIXO

Áreas com cotas acima dos 9 m

Quadro 2: Quadro Matriz de Classificação de Risco. 4 - As cotas correspondentes às classes de risco são referidas ao n m m (Nível Médio do Mar)

51

7. Conclusão As cidades de Porto e Vila Nova de Gaia situam-se respectivamente nas margens Norte e Sul da parte terminal do estuário. Em ambas as cidades, as zonas ribeirinhas estão sujeitas a inundações frequentes devidas às características do estuário e da bacia de drenagem do rio correspondente ao estuário, apesar do esforço consertado do controlo do caudal do rio, pelo Centro de Prevenção e Previsão de Cheias do Douro. Acontece que, por um lado, a capacidade de retenção das albufeiras é relativamente pequena e, à medida que vão atingindo o seu máximo de retenção, vão fazendo com que o efeito de “cascata” entre barragens se verifique. Por outro lado a parte da bacia hidrográfica correspondente ao estuário, que fica para jusante da barragem de Crestuma, tem uma área bastante considerável e para a qual drenam uma grande quantidade de rios e ribeiros, em especial o rio Sousa. As cheias são fenómenos naturais extremos, temporários, de origem climática, provocadas por chuvas torrenciais ou por um longo período de chuvas copiosas que fazem aumentar os caudais dos cursos de água, cujas acentuadas subidas fazem extravasar os seus leitos, inundando as margens e áreas circunvizinhas. As cheias podem ainda resultar de rotura de barragens, associadas ou não a intempéries, tendo, neste caso, estes acidentes uma propagação muito rápida. Os prejuízos resultantes são, na maior parte dos casos, muito avultados, quer no que respeita a vidas humanas, quer aos seus bens. O impacte no tecido socioeconómico da região afectada é de um modo geral muito significativo. Daqui resulta a importância da prevenção e mitigação do efeito das cheias. O tempo necessário para que uma cheia ocorra, bem como a sua duração depende das características da bacia hidrográfica do rio em questão, sendo que, na maior parte dos casos, é possível prever uma cheia e assim minimizar as suas consequências através de um alerta atempado às populações e da tomada de medidas de auto-protecção. Contudo, tal não será possível em casos de inundações súbitas, provocadas por precipitações intensas e repentinas, associadas a instabilidades atmosféricas de rápida evolução e de difícil previsão. A análise do risco de cheia e da gravidade dos seus efeitos é crucial para a decisão sobre medidas de defesa a adoptar contra cheias. Entende-se por 52

vulnerabilidades os elementos da sociedade que potencialmente ficam expostos, ou são afectados, por um dado risco, neste caso uma cheia. As cheias de alguns rios são cíclicas, podendo contribuir para a fertilização dos campos ou, mesmo, para a remoção de diversos poluentes. Mas para se tirar partido deste benefício e se minimizarem os danos por ele causados é necessário que as populações saibam precaver as suas vidas e bens. Os prejuízos resultantes das cheias são vastos e variados, consistindo principalmente nas seguintes consequências: Perda de vidas humanas; Danos físicos em edifícios residenciais, comerciais e industriais, vias de comunicação e outras infra-estruturas; Destruições em explorações agrícolas; Perda de produção de bens e serviços; Custo nas acções de Protecção Civil. O problema das cheias está directamente ligado ao problema das inundações e dos danos físicos e materiais que podem provocar. É de extrema importância estudar as cheias para permitir a delimitação das zonas inundáveis e poder prever as medidas ou acções tendo em vista a protecção das pessoas e bens que podem ser afectados, bem como para a revisão ou fixação da cheia, de projectos das obras construídas ou a construir para a qual estas obras devem ser dimensionadas de modo a garantir a sua própria segurança e a protecção das áreas envolventes, numa perspectiva de uma melhor elaboração de Planos de Ordenamento e Planeamento do Território, tendo em vista um futuro com melhor qualidade de vida, isto é, sustentável. “Se algum procedimento errado ou ocorrência negativa tiver que acontecer, acontece. E será da pior maneira, no momento menos oportuno e de modo a causar o maior número de danos”! LEI DE MURPHY .

António Artur Pires Dias Lgeogr 07102 53

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Fontes Programa curricular da disciplina Geomorfologia Dinâmica da Licenciatura de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, ano lectivo 2009/2010, ministrado pelo Professor António de Sousa Pedrosa. Programa geral da Licenciatura de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, anos lectivos de 2007/2008 a 2009/2010. Gabinete Municipal de Protecção Civil da Câmara Municipal do Porto

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