O ESTUDO SOBRE QUALIDADE DE VIDA NO ENSINO MÉDIO A PARTIR DA DINÂMICA DE UM JÚRI SIMULADO SOBRE COLESTEROL

July 15, 2017 | Autor: A. Miranda Guimarães | Categoria: Science Education
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Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014

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O ESTUDO SOBRE QUALIDADE DE VIDA NO ENSINO MÉDIO A PARTIR DA DINÂMICA DE UM JÚRI SIMULADO SOBRE COLESTEROL Alessandro Eduardo de Almeida Sousa (Instituto Federal da Bahia, campus Camaçari) Anna Cássia Sarmento (Colégio da Polícia Militar da Bahia, Unidade Dendezeiros) Cássia Regina Reis Muniz (Colégio da Polícia Militar da Bahia, Unidade Dendezeiros) Ana Paula Miranda Guimarães (Instituto Federal da Bahia, campus Camaçari)

RESUMO: No presente trabalho, apresentamos e analisamos os resultados de uma experiência didática em uma escola da educação básica para abordar temas relacionados à educação para saúde em turmas do ensino médio. Aspectos nutricionais e alimentares conectados com um dos principais problemas de saúde da atualidade que é a obesidade foram o foco do estudo cujo objetivo foi de colaborar para uma melhor qualidade de vida dos estudantes. Para tanto utilizamos um questionário de múltipla escolha, bem como as anotações em um caderno de campo cujos dados foram triangulados para a análise dos resultados. Os dados encontrados indicam que os estudantes possuem bons conhecimentos e entendimentos sobre o assunto saúde, porém, ainda não mostram hábitos alimentares desejáveis na prática cotidiana. Palavras-chave: ensino de biologia, experiência didática, hábitos alimentares, obesidade.

INTRODUÇÃO Fenômenos contemporâneos como o avanço tecnológico, as transformações culturais e sociais ocasionam, invariavelmente, impactos no currículo escolar. Por conta disso, os sistemas educacionais propõem, frequentemente, reformulações no ensino de Ciências. Não obstante tais mudanças, Krasilchik (2008) argumenta que a Biologia apresentada nas escolas ainda reflete o momento histórico de grande desenvolvimento científico das décadas de 1950 e 1960, quando a esperança na solução dos problemas da humanidade era depositada na ciência. No entanto, nas décadas seguintes, a autora observa que eclodiram enormes problemas sociais demonstrando, em parte, que as esperanças eram infundadas. Segundo Krasilchik (2008), muitos educadores, diante desse novo quadro, admitem que a Biologia, além das funções já desempenhadas pelo currículo escolar, deva preparar os jovens para enfrentar e resolver problemas. Portanto novos assuntos devem fazer parte dos programas, incluindo não só os de ciência pura, como também aqueles que tratam da 184

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aplicação da ciência para a solução de problemas concretos. Deste modo, torna-se importante salientar que novas maneiras de se enxergar o ensino de Biologia exigirão de escolas e professores: (...) uma relação estreita com a comunidade, de forma que possam ser considerados assuntos relevantes que não alienem os alunos do ambiente cultural onde vivem, mas que, ao contrário, permita-lhes atendê-lo e analisá-lo, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida de sua comunidade (KRASILCHIK, 2008, p. 21).

A análise do ensino de ciências tem demonstrado que visões distorcidas e empobrecidas, que se afastam da forma como se constrói e evolui o conhecimento científico, criam o desinteresse, quando não a rejeição, de muitos estudantes e se convertem em obstáculos para a aprendizagem (GIL-PÉREZ et al., 2001). Isto está relacionado com o fato de que o ensino científico limitou-se basicamente à apresentação de conhecimentos já elaborados, sem dar possibilidade aos estudantes de se aproximarem das atividades que são características do trabalho científico (GIL-PÉREZ et al., 1999). Documentos oficiais, dentre eles os Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Médio (1999), elaborados pelo Ministério da Educação (MEC) e, posteriormente, suplementado pelos PCN+ Ensino Médio (2002), deixam claro o propósito do poder público em nortear a construção de currículos considerando questões atuais que derivam das novas feições econômicas e tecnológicas causadas pelo aumento da recíproca dependência entre as nações: Num mundo como o atual, de tão rápidas transformações e de tão difíceis contradições, estar formado para a vida significa mais do que reproduzir dados, determinar classificações ou identificar símbolos. Significa: saber se informar, comunicar-se, argumentar, compreender e agir; enfrentar problemas de diferentes naturezas; participar socialmente, de forma prática e solidária; ser capaz de elaborar críticas ou propostas; e, especialmente, adquirir uma atitude de permanente aprendizado (MEC, 2002, p.9).

Para Lima e Borges (2007) as atuais necessidades formativas em termos de qualificação humana, pressionadas pela reconfiguração dos modos de produção e explicitadas nos PCN+ Ensino Médio (2002), exigem a reorganização dos conteúdos trabalhados e das metodologias empregadas, delineando a organização de novas estratégias para a condução da aprendizagem de Biologia. Ainda no âmbito do PCN+ Ensino Médio (2002), é prática defendida que a Biologia, ao abordar o estudo das funções vitais básicas nos diferentes grupos de seres vivos, confira adequado enfoque ao corpo humano, focalizando as relações que se estabelecem entre os diferentes aparelhos e sistemas e entre o corpo e o ambiente, conferindo integridade ao corpo humano, preservando o equilíbrio dinâmico que caracteriza o estado de saúde. Não menos 185

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importantes são as diferenças que evidenciam a individualidade de cada ser humano, indicando que cada pessoa é única e permitindo o desenvolvimento de atitudes de respeito e apreço ao próprio corpo e ao do outro. Importante problema de saúde pública da atualidade, a obesidade vem ganhando destaque no cenário epidemiológico mundial. Sua prevalência aumentou nas últimas décadas em todo o mundo, inclusive nos países em desenvolvimento, preocupando pesquisadores e profissionais da área de saúde, em razão dos danos e agravos à saúde provocados pelo excesso de peso, tais como hipertensão arterial, cardiopatias, diabetes e hiperlipidemias (ENES e SLATER, 2010). Especificamente no Brasil, no início da década de 1970, a prevalência de sobrepeso em jovens entre seis e 18 anos era estimada em 4%. No final da década de 1990, essa estimativa se elevou para 14%, ou seja, mais que triplicou (GUEDES et al., 2006). Com base no que foi exposto e considerando que a nossa pretensão, enquanto professores de Biologia, é contribuir para melhorar a qualidade de vida dos estudantes, foi realizada uma experiência didática em que se utilizou uma metodologia de debate na escola – o júri simulado - para abordar temas relacionados à educação para saúde, focando aspectos nutricionais e alimentares. Desta forma, destacamos a Biologia como parceira da sociedade na promoção da saúde de crianças e adolescentes ao mesmo tempo em que tencionamos investigar o que os estudantes compreendem sobre saúde e saber como eles avaliam a atividade de júri simulado. METODOLOGIA A dinâmica do júri simulado A metodologia de debate proposta aos educandos foi a de um júri simulado, que consiste em uma representação do ambiente de um tribunal de júri. O julgamento que simulamos fundamentou-se na seguinte pergunta desencadeadora: “O colesterol: vilão ou herói?” e cujo objetivo foi o de trazer para sala de aula um debate sobre a obesidade na infância e na adolescência, contribuindo para a prevenção desta patologia e estimulando o desenvolvimento de ações complementares que visem à valorização de hábitos de vida saudáveis, como uma alimentação balanceada e a prática esportiva diária. A atividade, que se desenvolveu entre os meses de setembro e novembro de 2012, foi realizada em duas turmas de Tecnologia em Informática e uma turma de Eletrotécnica do segundo ano do ensino médio integrado ao ensino técnico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), campus Camaçari. A experiência didática estendeu-se por 9 h/a (horas/aula) ao todo, divididas em três encontros de 2 h/a e um encontro de 3 h/a. 186

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Nas duas primeiras aulas (2 h/a), foram divididos os participantes de acordo com as funções específicas de cada profissional e/ou integrante de um julgamento: juiz, advogados, promotores, testemunhas de defesa e de acusação, jurados e réu. Foram esclarecidas ainda as etapas da atividade como um todo: uma pesquisa prévia em materiais didáticos complementares ao livro didático sobre o colesterol para que os educandos pudessem aprofundar os seus conhecimentos a respeito do tema e que oferecesse subsídios às discussões durante o júri simulado; as exibições e correspondentes debates com duração de aproximadamente 20 minutos de dois filmes ligados à atividade e a apresentação do júri simulado. Nas duas aulas seguintes (2 h/a), foi exibido o filme “Obrigado por Fumar” (2005) dirigido por Jason Reitman e com 92 minutos de duração. O filme retrata o interlocutor da indústria do cigarro, Nick Naylor que manipula as informações de forma a diminuir os riscos do cigarro para a saúde em programas de televisão e, para tanto, utiliza a argumentação e o convencimento como métodos de persuasão. No terceiro encontro (3 h/a), foi exibido o filme “O Júri” (2003) dirigido por Gary Fleder e com tempo de duração de 127 minutos. Este filme descreve a dinâmica de um tribunal de júri norte-americano. No quarto e último encontro (2h/a), a sala foi reordenada de forma a simular o tribunal de júri. A dinâmica dos rituais do júri assemelhou-se ao modelo brasileiro, em que sete jurados, após ouvirem os argumentos do promotor de justiça e as contra-alegações dos advogados de defesa, decidem por maioria simples pela culpabilidade ou não do réu, no caso específico, o colesterol. Para a construção da atividade didática descrita, utilizamos critérios de justificação a priori (ARTIGUE, 1996; MÉHEUT, 2005), como modos de tornar uma intervenção clara e apropriada ao contexto. Estes critérios incluem três dimensões: (1) epistemológica, relacionada aos conteúdos a serem aprendidos, aos problemas que eles podem resolver e à sua gênese histórica; (2) psicocognitiva, que analisa as características cognitivas dos estudantes em relação as possibilidades de compreensão do assunto; (3) didática, que analisa o funcionamento da instituição escolar. Abordagem da pesquisa e instrumento de coleta de dados O presente estudo possui uma abordagem de pesquisa qualitativa (CRESWELL, 2010). A coleta de dados foi realizada por meio de um caderno de campo, em que foram anotadas as observações durante o processo e um questionário constituído por 13 afirmativas, cujas respostas orientaram-se numa graduação sob a forma de escala de Likert de quatro pontos 187

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(1=concordo fortemente CF, 2=concordo C, 3=discordo D e 4=discordo fortemente DF). Além de avaliar variáveis demográficas, procurou-se obter dados relativos às atitudes e opiniões dos educandos sobre a metodologia de júri simulado e sobre aspectos relacionados à saúde. As afirmativas foram categorizadas a priori, para a interpretação e análise dos dados sobre o cotidiano, a influência da mídia e as políticas públicas para a saúde no Brasil, relacionados aos hábitos alimentares e suas consequências para a manutenção de uma boa qualidade de vida. É importante ressaltar que o questionário foi elaborado e validado de forma colaborativa por professores pesquisadores da área de ensino de Ciências. Foi realizado, também, um teste piloto aplicado a uma pequena amostra de participantes. Análise dos dados Previamente à análise dos questionários, codificamo-los, visando manter a privacidade e anonimato dos sujeitos participantes da pesquisa. A análise dos dados dos questionários foi realizada através de uma abordagem qualitativa. Os dados foram transpostos para uma planilha eletrônica para se calcular as frequências das respostas. A abordagem qualitativa foi baseada na metodologia da pesquisa de Bogdan e Biklen (1994), pois buscamos identificar atitudes e concepções, ou seja, a postura e o entendimento dos estudantes quanto à adoção de uma prática de vida saudável. A análise das respostas dadas pelos estudantes às questões e as anotações do caderno de campo foi baseada na interpretação dos pesquisadores, que realizaram uma categorização prévia das respostas a partir de referências teóricas. O tratamento e a análise estatística dos dados foram realizados no programa Statistical Package for Social Science (SPSS) versão 20.0 para Windows. RESULTADOS E DISCUSSÃO A amostra de alunos investigados foi de 43, dos quais 49% são do sexo masculino e 51% do sexo feminino, com faixa etária entre 15 e 20 anos. Analisaremos cada uma das quatro categorias separadamente (tabela 1), triangulando os dados do questionário e as anotações do caderno de campo através das interpretações dos pesquisadores. Tabela 1: Itens do questionário selecionados para discussão. QUESTÕES 1. Qualidade de vida

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Q1. Fazer atividades físicas regulares auxilia na

CF=83,7%; C=16,3%; D=0; DF=0

regulação dos níveis de colesterol. CF=0; C=0; D=34,9%; DF=65,1%

Q5. Sou muito jovem, por isso não necessito me preocupar com os riscos do consumo exagerado de produtos ricos em colesterol.

CF=11,6%; C=60,5%; D=25,6%;

Q6. Sempre que possível, eu opto por alimentos com teores de colesterol mais baixos nas minhas

DF=2,3%

refeições. Q11. O sabor do alimento é mais importante que o seu valor nutricional.

CF=4,7%; C=27,9%; D=44,2%; DF=23,3%

Q12. Somente através da educação é possível mudar os hábitos alimentares dos cidadãos. Q13. A magreza é uma evidência de que a pessoa

CF=44,2%; C=46,5%; D=9,3%; DF=0 CF=0; C=0; D=53,5%; DF=46,5%

tem níveis de colesterol normais no sangue. 2. Metodologia Q03. A atividade do júri simulado foi importante para que eu pudesse readequar a minha alimentação e

CF=4,7%; C=55,8%; D=32,6%; DF=7%

seguisse uma dieta saudável e pobre em gorduras. 3. Políticas públicas e mídia Q04. As escolas públicas devem fornecer, durante os intervalos, uma alimentação balanceada com baixos

CF=65,1%; C=32,6%; D=0; DF=2,3%

teores de gordura. Q07. As políticas públicas incentivam a utilização de produtos com baixo teor de colesterol. Q09. Eu confio plenamente na mídia, por isso, quando é divulgado que certos alimentos combatem o

CF=2,3%; C=4,7%; D=69,8%; DF=23,3% CF=0; C=9,3%; D=48,8%; DF=41,9%

colesterol eu passo a consumi-los. 4. Empresas alimentícias

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Q02. O fastfood é uma opção rápida e que pode ser saudável.

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CF=2,3%; C=16,3%; D=30,2%; DF=51,2%

Q08. As empresas de fastfood devem ter sempre uma opção mais saudável no seu cardápio. Q10. As propagandas das empresas alimentícias demonstram que elas estão preocupadas com os

CF=51,2%; C=44,2%; D=2,3%; DF=2,3% CF=2,3%; C=4,7%; D=58,1%; DF=34,9%

problemas de saúde causados pelo consumo exagerado de colesterol.

Dentro da categoria “qualidade de vida”, há dois tipos de questões: as ligadas a valores e as ligadas à concepção. Sobre a concepção, houve um grau significativo de concordância que os estudantes possuem uma boa compreensão sobre questões relacionadas ao colesterol e à saúde (tabela 1). Isso também pôde ser confirmado pelas anotações de caderno de campo uma vez que alguns estudantes sinalizaram interesse em nutrição no esporte e também por estarem fazendo tratamento médico com nutricionista. Nos valores novamente têm-se uma alta concordância nas afirmativas que apontam para hábitos alimentares desejáveis para uma boa qualidade de vida. Com a triangulação dos dados do questionário com as observações e anotações no caderno de campo, no entanto, não é possível concordar totalmente com esses dados, já que, no seu cotidiano, muitos estudantes preferem alimentos gordurosos, tais como salgadinhos e frituras, ao invés de salada de fruta e sanduíche natural, por exemplo, oferecidos pela cantina da instituição de ensino. Também preferem lanche a almoço - com feijão, arroz, carne e salada. Portanto, há uma discrepância entre as respostas dos estudantes com o que eles fazem rotineiramente no ambiente escolar e no seu cotidiano, indicando que teoricamente eles sabem o correto e entendem o conteúdo, no entanto não aplicam tais conhecimentos na prática. Silva e Pereira (2012) argumentam que é cada vez mais solicitada a participação ativa dos indivíduos para a prática de comportamentos saudáveis como forma de preservar a saúde e o bem estar pessoal, assim como prevenir o aparecimento de doenças. No entanto, toda mudança de comportamento exige esforço e, no domínio da saúde, os processos autorregulatórios que podem ser definidos como a mobilização estratégica – de cognições, motivações e comportamentos - conduzida pelo indivíduo para atingir determinados objetivos 190

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pessoais são considerados importantes para a modificação de hábitos inapropriados e para a promoção de estilos de vida saudáveis. A respeito das questões relacionadas ao júri simulado realizado nesta experiência didática, a maioria dos estudantes concordou que esta atividade contribuiu para a ampliação de seu aprendizado para o conteúdo proposto. Nesse sentido, entendemos que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996). O debate é uma metodologia que oferece um momento pedagógico significativo de abundante troca de informações e valores entre os estudantes, que motivados em poder argumentar e discutir entre si, ideias e opiniões que eles se manifestam a favor ou contra, produzem conhecimentos que contribuirão para a construção de sua visão de mundo (OLIVEIRA, 2011). No entanto, 39,6% discordaram, mostrando que essas atividades não podem ser isoladas e em apenas um ano letivo, elas devem ser contínuas e preferencialmente interdisciplinares. Sichieri & Souza (2008), analisando as intervenções que produziram efeito positivo na prevenção do ganho de peso, identificaram que os programas que mais geraram efeitos positivos foram aqueles com duração mais longa e realizados com estudantes de ensino fundamental e médio. Além de serem também mais eficazes junto aos adolescentes, pois os mesmos administram melhor suas escolhas alimentares e de atividade física. Na categoria “políticas públicas e mídia”, na questão 04, os estudantes concordam que a escola deva fornecer alimentação balanceada nos intervalos, porém, a despeito da cantina oferecer, como parte integrante do seu cardápio, lanches integrais, na prática, os alunos preferem lanches pouco nutritivos e gordurosos. Consequentemente e em virtude da pouca procura por lanches saudáveis, a cantina reduziu drasticamente a oferta desse tipo de alimento, evitando assim desperdício e a redução dos lucros. Nas questões 7 e 9, os estudantes demonstram possuir uma postura crítica, pois, refletem as informações veiculadas na mídia e também percebem que muito do que é proposto pelas políticas públicas com o objetivo de produzir efeitos significativos na prevenção da obesidade deixa demasiadamente a desejar. Para Felippe e Santos (2004) o assunto ganha destaque nos meios de comunicação de massa que orientam as mais diversas formas de tratar o problema e, ao mesmo tempo, estimulam tanto a venda de produtos alimentícios oferecidos pela indústria de consumo, como a definição de um padrão estético corporal. Na categoria “empresas alimentícias”, em virtude do exposto, os estudantes 191

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demonstram saber diferenciar entre o interesse das empresas em obter lucros e o interesse da população por uma alimentação mais equilibrada, apesar da praticidade de uma alimentação do tipo fast food. Entretanto, como afirmam Felippe e Santos (2004), observa-se aqui um paradoxo: se por um lado há o estímulo de uma sociedade obesogênica, que vende o fast food, incentivando o comer, por outro lado há a exigência da magreza como padrão de beleza, pressionando o emagrecer, ou seja, se a obesidade é uma doença de descontrole e a pressão social, o apelo ao emagrecimento e a oferta de diversas terapias estão na mídia, há um “interesse” na manutenção desse problema social, bem como na permanência de indivíduos vulneráveis a esse controle. CONSIDERAÇÕES FINAIS A escola é, sem dúvida, um meio essencial na prevenção de doenças, como a obesidade, e na promoção de comportamentos saudáveis para a preservação da saúde e do bem estar. Para que os resultados sejam alcançados de forma mais consistente é importante que os programas que visam prevenir o ganho de peso sejam aqueles de longa duração ao passo que, simultaneamente, é essencial o envolvimento intenso da família e da comunidade. É notável, que a grande maioria dos estudantes compreenda tal assunto, entretanto, não aplicam os seus conhecimentos na prática, pois preferem não seguir uma alimentação saudável e rotina de exercícios, mesmo possuindo conhecimentos dos benefícios destas atividades. Fica evidente que esses conhecimentos, em si, não são suficientes para incentivar nos alunos uma mudança no seu comportamento, pois é necessário adotar novos padrões de conduta, criar novos hábitos de vida, ao mesmo tempo em que se torna necessário inibir posturas anteriormente instaladas, muitas vezes incompatíveis com aquelas que deseja adquirir, ou seja, é essencial o empenho e o compromisso do indivíduo na regulação do comportamento (SILVA e PEREIRA, 2012). Quanto à metodologia do júri simulado percebemos que houve um engajamento muito intenso dos estudantes em todas as etapas da atividade relatada e que, como eles mesmos constataram, a atividade foi bastante interessante na medida em que houve um estímulo à pesquisa do conteúdo em fontes diversas e que a forma dinâmica com que o tema foi abordado suscitou interesse em adquirir novos conhecimentos que contribuam para uma atenção maior no controle do excesso de peso e da obesidade. REFERÊNCIAS

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