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O exemplo de Veneza: Fundação e potência europeia.




Cadeira: História Urbana Medieval
Docente: Prof.ª Dr.ª Manuela Santos Silva
Discente: Raul Filipe da Costa Bugalho nº 50340








Lisboa, 2 de Junho, 2016
Índice
Introdução………………………………………………………………...1
Um mundo apocalíptico
Os primeiros sinais da fraqueza……………………………….…..2-4
O Preludio da Queda………………………………………………...5
Um exército fraco……………………………….……….....6-7
A separação definitiva………………………………………….....7-9
As invasões bárbaras……………………………………………..9-11
As cidades-refúgio……………………………………………...11-13
A fundação de Veneza
A constituição geográfica………………………………………13-14
Origens e fundação……………………………………………..14-16
O Exarcado de Ravena e a crescente autonomia……………….16-19
Desenvolvimento da Cidade……………………………………19-22
A República de Veneza
A tão aguardada independência……………………………………23
A supremacia no Adriático – "Stato da Màr"………………….24-27
Conclusão………………………………………………………….....…28
Bibliografia……………………………………………………..29


Introdução

O Império Romano do Ocidente foi outrora, o epicentro do mundo, "todos os caminhos vão dar a Roma" como se dizia, no entanto, isto tudo mudou. O magnífico exército romano, com as suas famosas legiões disciplinadas, perde cada vez mais a sua eficácia e qualidade, sendo chamado para conflitos internos entre as diversas fações das elites em vez de estender o império ou sequer proteger, eficazmente, o "Limes"; Os "foederati", antigos aliados bárbaros do império, começam a controlar diversos territórios romanos, com a esperança de sobreviver à invasão Huna; O terror é vivido diariamente pelos seus antigos cidadãos. As antigas cidades são os alvos principais das hostes bárbaras; Bandos ou exércitos destes povos transbordam pelas paisagens europeias, saqueando e destruindo tudo ao seu redor. Um mundo apocalíptico, um mundo sem ordem, sem valores, tradição, ou até mesmo, civilização. É uma realidade negra sem dúvida, no entanto, a esperança é um sentimento feroz e estes antigos cidadãos, cansados de viver numa vida vagabunda, descontentes por terem de lutar por migalhas - com o seu instinto de sobrevivência - usam a sua determinação como catalisador para a criação de uma nova civilização, nova cultura, novos valores, um novo povo.
Nos enormes lagos, charcos e pântanos da Costa Norte do Mar Adriático, nascerá Veneza. Uma cidade? Não, uma nação! Uma comunidade composta por refugiados torna uma vila piscatória (cercada por solos quase impossíveis de utilizar para atividades agrícolas e situada num território disputado por diversos povos) numa nova capital da Europa. Esta cidade segue o exemplo de Roma, uma futura república, não se amedrontando por adversidades, conseguindo ultrapassar os seus adversários em todas as suas frentes, desenvolve uma atividade comercial rivalizando Constantinopla e, claro, tendo um povo ambicioso, não se deixar restringir pelas suas lagoas e, portanto, funda um próprio Império Marítimo. Como é que esta cidade conseguiu enquanto outras falharam? É este o tema que iremos analisar neste trabalho. Centrando-me na sua situação geográfica, política e económica compreenderemos como esta pequena vila, com uma conjuntura quase impossível de gerar sintomas positivos, se converte numa das cidades mais poderosas do mundo europeu medieval.
Um mundo apocalíptico
Os primeiros sinais de fraqueza:
A realidade vivida pelo povo europeu era, em alguns casos, idêntica à vivida na Africa do Norte, na Palestina, na Anatólia, e todas as outras regiões ou protetorados do Império. Os cidadãos romanos seguiam com os seus dias normalizados na tranquilidade trazida pelo Império, sabendo que por mais longe que se localizem da capital, apenas terão de olhar para um Centurião ou para os estandartes nas muralhas para se recordarem que vivem sob a segurança e tutela do S.P.Q.R. Isto, como qualquer outra história de uma grande civilização, de acordo com o que a narrativa histórica nos revela, é temporária. A mudança chega sempre, mas a mudança que o povo romano viverá não será deveras positiva para a continuidade da sua existência. Uma morte progressiva e lenta do sistema governamental romano marcará os séculos seguintes.
Existem muitas razões para explicar a queda do Império Romano, tanto que ainda é um tema que envolve um enorme debate entre historiadores, no entanto, eu quero-me centrar nos pontos que acho cruciais ou que contribuíram em grande parte para a sua queda.
Uma das grandes mudanças vividas e anotadas no Império Romano é mesmo a passagem do sistema Republicano, governado pelo Senado, para o sistema Imperial no ano 30 a.C. por Gaius Julius Cesar, após a sua vitória contra o seu antigo amigo e rival, Gnaeus Pompeius Magnus "Pompeu o Grande". Era visível logo um sinal de fracturação, pois o Império é dividido num denominado, "O Primeiro Triunvirato". Este Estado seria, em 59 a.C., partilhado entre estas duas personagens e Marcus Licinius Crassus, com o objetivo de gozarem de uma forte influência e riqueza nas suas áreas. Este último é morto durante a sua campanha contra o Império Parta, na famosa "Batalha de Carras", no norte da Mesopotâmia. A sua morte vai causar uma quebra no balanço do poder entre os dois competidores restantes, culminando numa guerra civil total na ainda, República Romana.
A 49 a.C., Julius Cesar, agora investido de grandes riquezas, prestígio e fama após a submissão da Gália, atravessa o Rio Rubicão com as suas legiões veteranas e endurecidas das diversas campanhas, quebrando a fronteira de até onde um General pode transportar as suas forças ao pé de Roma. Sabemos então que consegue tomar a capital e seguir numa perseguição determinada a Pompeius até à Grécia, destruindo o exército, em superioridade numérica, do seu rival na "Batalha de Farsalos", no ano 48 a.C. Pompeius foge para o Egipto, procurando apoio na corte Ptolemaica, mas apercebendo-se do poder e peso político que Julius Cesar carregava, a corte de Ptolomeu XIII, assassinou Pompeius para se aliar ao melhor partido. A guerra civil ainda estava longe de estar concluída, mesmo sem Pompeius a liderar o movimento, os seus aliados, liderados por Metellus Scipio, continuaram a lutar até ao ano 45 a.C., onde foram finalmente derrotados na "Batalha de Munda", na Hispânia.
Nós sabemos que os conflitos internos não acabam por aqui. Julius Cesar, agora a figura principal de todo o Império, é traído pelo senador Gaius Cassius Longinus e Marcus Junius Brutus, cometendo um dos mais famosos assassinatos da história, no qual, Julius Cesar é esfaqueado diversas vezes por todos os seus opositores no senado e quando ele cai e olha ao seu redor e observa o seu familiar e amigo próximo, Brutus, exclama: "Et tu, Brute?", no ano 44 a.C., ou seja, no ano seguinte a se ter tornado o ditador romano. Isto claro, culmina numa nova Guerra Civil em larga escala no Império, agora entre Brutus e seus apoiantes e, o filho adotivo de Julius Cesar, o jovem Gaius Octavianus. Esta guerra acaba no ano 42 a.C., quando Brutus é derrotado na "Batalha de Filipos", numa combinação de exércitos entre Octavianus e Marcus Antonius. Mais uma vez surge uma separação de poderes e terras no Império, desta feita, "O Segundo Triunvirato" nasce, liderado pelos três mais poderosos personagens do mundo romano agora: Octavianus, Marcus Antonius e Marcus Aemilius Lepidus.
A estabilidade era demorada a vir e Marcus Lepidus acaba por ser retirado do poder, devido a uma disputa territorial com Octavianus e, logo a seguir, numa tentativa agora de remover a competição pela sua totalidade, uma nova Guerra Civil ascende entre os dois últimos triúnviros. Marcus Antonius, que tinha a sua base no Egipto e alia-se a Cleópatra, lidera uma frota impressionante contra a de Octavianus na "Batalha de Actium", mas acaba por ser decisivamente derrotado e retira para o Egipto. Sem qualquer esperança de vitória, principalmente após as enormes deserções que sucederam depois da vitória na "Batalha de Alexandria", tanto ele como Cleópatra suicidam-se em 31 a.C.. Quando Octavianus chega ao Egipto, ele mata o filho ilegítimo de Julius Cesar, Ptolemeu XV Cesar, tornando-se o único herdeiro direto e segurando o poder total sob o Império Romano.
Agora a questão essencial será: Porque recuei imenso? Não é uma questão insensata de se fazer, claro, mas é importante rever a queda do Império Romano numa escala maior. É verdade que após o sistema da República ter sido substituído, ainda se demonstra uma enorme estabilidade nos reinados futuros, mas as conquistas começam a abrandar. O Império Romano da República, que conseguiu submeter outras civilizações impressionantes como o Cartaginês, as cidades-estado gregas, o Império Selêucida no Ocidente, o Egipto Ptolemaico, etc… Depara-se agora com problemáticas de "overextension", o Imperador, que agora governa diretamente tendo o senado como um conselho sem ação direta, não consegue governar de forma eficaz todos os cantos do seu império, requerendo de assistência por parte de governadores ou senadores, muitos deles cada vez mais sem lealdade para com os imperadores, começam a exercer de grande influência em certas áreas e também a corromperem o sistema burocrático romano. Estes jogos políticos e económicos também se sentirão na própria linhagem imperial que levará a novamente a diversas separações no Império e uma que será definitiva. Outro importante fator é sem dúvida o exército romano e como ele tem evoluído ao longo dos tempos do Império Romano.
O Preludio da Queda:
Quando pensamos no Império Romano, logo a primeira coisa que visionamos é, sem dúvida, a cidade de Roma, a grande capital deste magnifico império. De facto, se colocarmos esta pergunta a um indivíduo que somente conhece uma história geral desta civilização pensará que Roma sempre foi a capital e que nunca houveram duas capitais ao mesmo tempo ou que haviam dois Impérios Romanos a governarem simultaneamente ou que o povo de um destes, que não tem nada de semelhante culturalmente com a cultura romana ou engloba a cidade de Roma, se denomina um povo romano. Bem, por mais lúdrico que isto possa parecer a um indivíduo ignorante ou pouco conhecedor desta história, é tudo verdade.
Devido à enorme extensão do Império Romano, o Imperador começou a ter problemas graduais em manter ordem em diversas áreas. A população romana era uma minoria no seu próprio império, apesar dos diversos movimentos coloniais levados a cabo. Haviam também duas culturas dominantes, separando o Império em dois globos – o Romano, onde a cultura era predominantemente itálica e o latim era a língua mais comum, e o Grego, onde a cultura era maioritariamente Peloponense e o latim era substituído pelo grego – isto sempre foi o caso desde a conquista da Grécia, em 146 a.C., que levaria a uma facilidade na delimitação das fronteiras entres os futuros dois Impérios.
Se continuarmos a analisar o aspeto de distância no Império, conseguimos aperceber que o cisma das duas partes era inevitável. Durante séculos, muitos imperadores sofreram com rebeliões de ambos os lados, mas isto era devido em grande parte ao seu afastamento das diferentes regiões. Quando um imperador se localizava no Oriente, o Ocidente revoltava-se, em contrapartida, quando o Imperador se localizava no Ocidente, o Império Parta lançava investidas contra Roma, ou até mesmo povos submetidos que não se vergavam pelo domínio romano, como o exemplo do povo Judeu, que batalhou diversas vezes contra o Império, instaurando em alguns casos sistemas governamentais e tomando um pequeno reino até serem submetidos outra vez.
Um exército fraco:
O ideal de "Romanização" contrariava a realidade cosmopolita vivida. As diferentes etnias e povos que estavam sob tutela romana levavam a revoltas e rebeliões constantes, sendo necessária a intervenção direta das legiões, que facilmente tomavam conta do assunto, no entanto, isto poder-se-ia revelar difícil durante tempos de guerra e a verdade é que é durante este período que se sucedem com mais frequência, devido em grande parte ao sistema de recruta de "auxilia" se ter alterado novamente para uma conscrição anual, mas agora todos os submetido eram cidadãos romanos, facilitando o número de reservas disponíveis, mas um decréscimo na qualidade, pois muitos deles eram camponeses sem qualquer preparação marcial, e a eficácia do seu exército sofria devido a ser um exército demasiado extenso, difícil de controlar todos os seus setores, claro que isto também contribuiu para um maior descontentamento da população não romana.
A grande fraqueza deste exército vinha do facto de recrutar não só dos camponeses romanos, mas também de recrutar indígenas bárbaros, que agora, muitos deles, são romanos também, devido à "Constituitio Antoniniana", de 212 d.C., um édito que garantia a cidadania de todos os súbditos livres do império romano. O problema era mais grave que isto porque, estes bárbaros eram povos germânicos e muitos deles com uma enorme cultura germânica – os gauleses eram talvez o povo mais instável do Império no Ocidente – mas este édito garantia também que eles poderiam ascender às patentes mais altas do exército. Isto levava à ascensão de muitos guerreiros que não tinham qualquer lealdade para com Roma, apenas aos seus generais que podiam até ser gauleses também. É claro que isto trazia problemas do mais alto grau para a estabilidade na sociedade romana, porque as tribos germânicas eram os maiores inimigos de Roma, devido a terem sobrevivido e ripostado contra as invasões romanas de Augustus, sendo o maior exemplo: A "Batalha de Teutoburgo" no ano 9 d.C., na qual, um oficial "auxilia" chamado, Arminius, que era germânico da tribo "Cherusci", trai o seu General Publius Quintilius Varus, levando-o para uma emboscada, resultando na destruição de 3 legiões, as XVII, XVIII e XIX. Esta derrota é conhecida como "a maior derrota de todo o Império", havendo então a preservação desta história ao longo dos tempos, gerando uma enorme descriminação e desunião nas hostes romanas. A organização sofre, bem como a moral do exército, pois conflitos dentro do próprio estabelecimento eram frequentes e inevitáveis.
A separação definitiva:
Chegámos então ao ponto de viragem de um domínio romano firme na Europa. A segunda fase mais problemática que o Império Romano sofreu em toda a sua existência foi, sem dúvida, a "Crise do século III", um período marcado por crises económicas e financeiras catastróficas, fomes, pestes, crises políticas, anarquia militar e, finalmente o mais importante, invasões bárbaras.
Uma situação muito comum há séculos eram imperadores a serem constantemente assassinados, isto em grande parte devido ao enorme sistema de corrupção que estava a proliferar dentro do Senado romano e no exército. No entanto, o assassinato que saiu mais caro ao Império foi o de Alexandre Severus, porque ele estava concentrado nas guerras contra, o agora estabelecido e poderoso, Império Sassânida, enquanto diversas tribos germânicas começaram a derrotar diversas legiões romanas e a saquear povoações no "Limes". Para os apaziguar, ele envia-lhes diversos tributos, infelizmente para ele, os seus soldados não apoiaram esta decisão e, considerando o Imperador fraco e indigno de liderar Roma contra os seus inimigos, é assassinado pelas suas próprias tropas. A sua morte é deveras pesada, pois nos anos seguintes é vivida uma anarquia total no exército romano, porque diversos generais, muitos deles de origem germânica até, começam a lutar entre si com a esperança de ascender a imperador, invés de protegerem o Império de ataques Sassânidas e de outras tribos, permitindo diversas derrotas em todos os palcos. Também houveram diversas alterações climáticas que causaram secas tremendas e um aumento do nível do mar, destruindo muitos campos agrícolas, incapacitando a eficácia governamental do Império; Ainda uma enorme peste conhecida como, "Peste de Cipriano", em 250 d.C., que assolou todo o continente europeu, atrasando o Império demograficamente.
Com todos estes entraves, o Império teve que abandonar diversas províncias como Dácia. Ainda no reinado de Valerianus, 253-260 d.C., ele criou uma separação temporária do governo para controlar, de melhor forma, os diversos problemas que assolavam ambos os palcos romanos. Temos então aqui o primeiro exemplo da futura separação das coroas imperiais, no entanto, esta seria apenas até à morte de seu filho Gallienus. O reinado de Valerianus não seria visto como um exemplo positivo, pois ele é derrotado pelos Sassânidas diversas vezes e, finalmente capturado na "Batalha de Edessa", quando se dirige ao rei Shapur I para negociar a paz é traído e capturado até à sua morte. Diversos usurpadores tomam o Império, separando-o em três estados diferentes: o "Império Gálico", situado na França, o "Império de Palmira", no Oriente, e o Estado de Roma que é ainda governado por Gallienus.
O Império seria reunificado pelo Imperador Aurelianus Augustus, em 272 d.C., mas esta seria uma reunificação temporária, porque no reinado de Diocletianus Augustus, dez anos mais tarde, será instaurado uma nova separação política, um Tetrarcado. Um sistema político que dividia o Império em quatro Estados, dois controlados por um "Augustus" e os outros dois por "Caesares" – são eleitos Maximianus como "Augustus" das regiões ocidentais enquanto Galerius e Constantius Chlorus são eleitos como "Caesares" de ambos – fundando o primeiro Tetrarcado. A ideia dum Império unificado nasce logo na geração seguinte, com Constantinus Augustus. Este jovem, marcado por uma ambição e objetividade tremenda será nomeado "Augustus" das províncias ocidentais, juntamente com Maxentius e Licinius nas províncias orientais, mas Constantinus planeia governar todo o império e tal consegue em 337, após a derrota de Licinius.
Constantinus, devido a ter uma educação grega, estabelece uma residência imperial na cidade de Bizâncio, convertendo-a na famosa Constantinopla. Esta será vista como a capital do Império Romano, apesar de não ser oficial – isto lança as bases necessárias para o Oriente ganhar cada vez mais enfâse como uma região autónoma – apesar das investidas centralizadoras de Constantinus e ainda as suas diversas conquistas contra as tribos da Dácia e os Sassânidas, bem como o reconhecimento do Cristianismo com o Édito de Milão, no âmbito de segurar uma maior estabilidade em ambos os palcos; a ideia e a necessidade de um império separado é cada vez mais visto como uma necessidade na vida romana, tanto que, logo o seu filho Constantius, cria um novo Tetrarcado até 364, aquando da ascensão do Imperador Valentinianus I, o Império é logo dividido em duas partes, o Ocidente para ele e o Oriente para o seu irmão Valens. Após o reinado de ambos, Teodosius I emerge vitoriosos de duas grandes guerras civis geradas por um descontentamento cristão no Ocidente, inicialmente, mas isto altera-se após a ascensão de Magnus Maximus e, de seguida, por um senador obscuro chamado, Eugenius se ter tornado imperador do Ocidente, por ajuda do "magister militium" franco, Arbogast.
O Império separa-se definitivamente após a morte de Teodosius I, sendo ele o último imperador a governar ambas as partes ao mesmo tempo, pois seus filhos herdam partes diferentes – Arcadius fica com o Oriente e Honorius fica com o Ocidente – criando, de facto, o Império Romano do Ocidente e o Império Romano do Oriente.
As invasões bárbaras:
A crise do século III é também recordada como o início da inclusão de diversas tribos invasoras como aliados ou estados-clientes do Império Romano. Um destes povos foi o Franco. Uma tribo germânica que, a mando de Constantinus, colocou-se no na margem sul do Reno, eles tornaram-se "foederati", ou seja, tribos federadas no Império Romano, com o objetivos de proteger o "Limes" a troco de terras para se governarem, mas os Francos demonstraram ser um povo impossível de controlar, pois cada vez mais se estenderam pela Gália (que já assediavam desde o século II), devido a esta região estar num estado caótico com quase todas as suas "villae" abandonadas ou sem ação governamental presente, acabando por ser cedida a Gália Belga pelo Imperador Iulianus, um alvo fácil de assimilação para os Francos. Isto obrigou os romanos a construírem diversas fortificações, criando uma subdivisão do "Limes". O povo Franco era tenaz, pois sobreviveu a diversas migrações no lado do Reno e seriam com estes povos que a futura Coroa Merovíngia se irá deparar para controlo total. Funda-se então o Reino Franco no séc. V d.C. dentro do próprio território Romano.
Outro povo de extrema importância para a queda do Império Romano foi o Godo. Um povo também germânico, com origem na Escandinávia, que se instalou na Europa de Leste, mas fez uma migração até ao Danúbio, ficando instalados na Panónia pelo Imperador Graciano, mas isto foi uma condição que o Império Romano do Oriente teve que se submeter porque antes, O Imperador Valens tinha auxiliado o povo Godo a atravessar o Danúbio para se instalarem na sua margem sul, mas após diversos pedidos dos reis Godos, Fritigernus e Alateus, de se instalarem na Trácia serem negados e ainda uma enorme fome assolar a população numerosa, os Godos revoltaram-se contra o Império e sucede a "Batalha de Adrianópolis", em 378 d.C. No entanto, após esta vitória, o "magister militum" do Império Romano do Oriente, Julius, ordenou a execução e massacre de diversos elementos da população Goda, levando à sua submissão, temporária. Os Godos acabam por se separar em duas confederações, Os Ostrogodos, que irão habitar no Império Oriental e os Visigodos que irão migrar para o Ocidente.
Os Visigodos instalam-se na Dácia, como "foederati" dos romanos, isto devido à paz que o Imperador Teodosius I conseguiu alcançar, mas foi logo quebrada após a sua morte, em 395 d.C.. Os seus dois filhos foram incapazes de controlar a tensão com os Visigodos, devido à ambição do seu líder, Alareiks I. Foi-lhe concedido o título de Comandante da Ilíria, por Arcadius, no entanto, os Generais Germânicos que detinham o verdadeiro poder no Império entravam em conflito com Alareiks I; bem como a morte do Gen. Flavius Stilicho, por Honorius, após este ter retirado todas as forças do Reno, abrindo caminho para a invasão dos Vândalos; ainda, o massacre de 30,000 família de soldados bárbaros do Império Romano, levam a Alareiks I lançar uma campanha contra o Império Ocidental, resultando no famoso saque de Roma de 410 d.C..
Gradualmente, o Império Romano Ocidental foi perdendo cada vez mais território para estas tribos que se declaravam "foederati", mas que na realidade estavam a absorver e assimilar estas regiões para formar os seus reinos. Temos a formação do Reino Franco, Burgúndio, Visigótico, Suevo, a Bretanha é abandonada para os Saxões e Jutos e outras regiões que tornam o Império Romano do Ocidente apenas restrito à Península Itálica. Todas estas migrações simultâneas foram levadas a cabo por diversas razões económicas, sociais e políticas, mas também devido À intervenção direta dos Hunos, um povos das estepes asiáticas, liderados pelos irmãos, Atilla e Bleda, conseguiram submeter diversos povos ao longo do seu percurso, obrigando muitos deles a penetrarem o "Limes" romano em busca de segurança. Mesmo após o fim do Império Huno, a constituição geopolítica das diversas tribos fora do "Limes", levou a diversos conflitos entre si, tendo muitos que procurar novos territórios para se fixar.
As cidades-refúgio:
O Império Ocidental ainda vai sofrer a sua derradeira queda, com a conquista de Roma e de toda a Itália pelo bárbaro, Odoacer, no ano 476 d.C.. As pequenas regiões isoladas que ainda se consideravam romanas vão gradualmente ser assimiladas para outros reinos ou formarem as suas próprias identidades governativas. O mundo vivído pela população ocidental, desde a formação do Império por Octávio, é marcado por uma instabilidade enorme, não se conseguindo manter efetivamente ao longo dos séculos. A tradição romana apenas é lembrada na Igreja Romana, mesmo assim inacessível ainda a diversas populações do antigo império. As ruínas desta, outrora, opulente civilização enchem a imaginação do povo refugiado que procura agora uma nova casa. É este sentimento que fará nascer as cidades mais impressionantes da Europa medieval.
Os antigos cidadãos e muitos indígenas de pequenas tribos que não sobreviveram à derrocada do Império, pelas inúmeras invasões, estavam agora numa situação delicada. As suas antigas habitações e pertences estavam localizadas nas antigas cidades romanas, mas estas serviam sempre como um alvo principal para um senhor de guerra ambicioso à procura de saque, portanto, sem qualquer hesitação, muita população destes centros urbanos fugiu para localidades isoladas e rurais. Apesar disto, haviam também aqueles que eram conduzidos por antigos membros da alta sociedade romana - talvez um antigo senador, ou um general abastado ou até mesmo um bispo – eles conduziam populações para áreas protegidas e começaram a criar centros urbanos amuralhados, criando as bases para os futuros feudos e senhorios. Existe ainda, uma vaga de cidadãos que fundavam novas cidades ou urbanizações, mas a diferença é que aproveitam as ruinas dos antigos edifícios do Império Romano. Este reaproveitamento da arquitetura e urbanismo romano leva à criação das chamadas, "Cidade-refúgio".
Um grande exemplo, e também um dos meus favoritos, desta nova vaga de construção urbanística é a cidade de Split, presentemente na Croácia. O povo da antiga Salona foi exilado, pelos Avaros, para diversas ilhas da costa Leste do Adriático, tão más eram as condições de vida para este povo que tinham de construir pequenas jangadas de madeira para navegar para a região em busca de recursos. Um líder, Severus "o Grande", convenceu os "salonianos" a retornarem à terra-mãe, mas sem voltar para Salona, porque estava completamente destruída e indefensável contra as tribos eslavas do interior. Eles viajaram então um pouco para o sul, onde se deparam com o antigo palácio do Imperador Diocletianus, que tinha sido mandado construir pelo próprio para servir como seu palácio de repouso. Ele foi, de facto, o único Imperador que governou diretamente o Império Romano, a ocupar este palácio. O seu outro utilizador foi Flavius Julius Nepos, o último Imperador legítimo da coroa ocidental, mas ele acaba por governar na Dalmácia, pois a Península Itálica cai para Odoacer.
O palácio estava erguido como se fosse uma fortaleza, estando amuralhada e seguindo as regras da "Castra" romana., ou seja, tinha tudo o que era necessário para guarnecer uma população vagabunda. Apesar de abandonada, desde 480 d.C., as suas muralhas apresentavam ainda uma condição excecional, e mais, como ainda tinha uma posição costeira, impossibilitava qualquer tentativa dos povos eslavos tomarem, a agora, cidade de Split. As antigas características das urbanizações romanas, de serem tão bem organizadas, foram completamente abandonadas. Novas ruas são criadas, novas vias e bairros, antigos edifícios são convertidos ou então demolidos para dar espaço a bairros muralhados dentro da cidade. As características romanas ficam tão mascaradas que somente séculos mais tarde é que é descoberto que a cidade foi construída a partir do antigo palácio.
Veneza, no entanto, que acabará por controlar a Dalmácia por completo, incluindo Split, é uma "Cidade-refúgio", mas não tem um palácio enorme e opulente como sua base de fundação. É uma cidade que nascerá a partir de uma pequena vila piscatória romana, cercada por lagoas pantanosas.
A fundação de Veneza
Constituição Geográfica:
A cidade de Veneza localiza-se no nordeste de Itália, a sul da região de Portogruaro e no norte do Mar Adriático. Está erguida nas duas maiores massas terrestes cercadas por uma enorme laguna. Esta área é bastante pantanosa e tem épocas de "Acqua Alta", ou seja, cheias que ocorrem durante o Outono e a Primavera e isto vai, claro, moldar a cultura veneziana. A primeira referência histórica sobre a "Acqua Alta" é de, Paulo o Diácono, que documentou o evento no ano de 589, indicando que todos os rios do norte do Adriático, de Tangliamento até ao Po, transbordaram ao mesmo tempo, completamente alterando a paisagem local. Temos outras documentações medievais, principalmente, o evento de 1110, porque o fluxo da água ficou comprometido devido a uma enorme tempestade, acabando por engolir diversos setores da cidade e destruindo o palácio do Doge.
Todo o "pensolon" é constituído por 6 vilas, cada uma espalhada pelas 117 ilhas diferentes da região de Veneto. A Zona Histórica, onde é a parte principal e governativa da região nas duas grandes ilhas, Rivoalto (a mais elevada, segura das cheias e futuro local do palácio do Doge) e Malamocco, separadas pelo Rio Businiacus, encontra-se separada por 6 "sestieri": "Cannaregio", "San Polo", "Dorsoduro", "Santa Croce", "San Marco" e "Castello", cada uma destas áreas é administrada por um "Procurator" e também por um conjunto de "Tribunos", com um pequeno conselho local, garantindo uma autonomia a cada "sestieri". Dentro destes territórios existem uma série de freguesias, o mais antigo número delas que temos ao nosso dispor são 70, no ano 1033, e até ao governo instaurado por Napoleão no séc. XIX, este número iria-se manter. As ilhas fora da área histórica não entram em nenhuma "sestieri", sendo controladas diretamente pelo Doge, ou o governo central, nem sempre eficazmente, conferindo uma grande autonomia a cada uma.
Origens e fundação:
As primeiras referências a um povo localizado na laguna de Venetio são dos romanos tardios, referindo-se a uma comunidade piscatória nessas áreas pantanosas e seus habitantes como "incolae lacunae", no entanto, esta é a única referência que temos dessa civilização, mas historiadores acreditam e aceitam que a cidade, ou pelo menos o povo de Veneza, nasce com a deslocação de diversos refugiados das antigas cidades romanas, da região de Portogruaro, Pádua, Aquileia, Trevisco, Altino e outras pequenas localidades ou municípios que estivessem sob a ameaça dos diferentes povos bárbaros que transbordavam na península ibérica desde o saque de Alareiks I em 410 ou até mesmo das invasões hunas. Esta comunidade foi, gradualmente, estabelecendo pequenas habitações por todas as pequenas ilhas da região, gozando da proteção que a "muralha natural" os conferia, bem como o seu aspeto pantanoso inicial, afastava qualquer olhar de uma fação expansionista, dando alento à proliferação e estabelecimento desta comunidade na esfera económica e social pós-romana. Estes povos também mostraram ter um instinto de sobrevivência astuto, pois o seu território pouco tinha de terras aráveis, portanto, estando rodeados por uma massa aquática, desenvolvem uma enorme atividade piscatória, criando as bases necessárias para a futura tradição naval que marcará esta futura nação - mas a comunidade de Veneza vai-se apropria do território ao seu norte, a região de Venetia, estabelecendo a sua capital na Eraclea, uma área campestre que é fácil de defender devido aos redutos romanos da Dalmácia. De acordo com a tradição, Veneza foi fundada a 25 de Março de 421, com a construção da Igreja de San Giacomo, no Rivoalto, no entanto, poucas são as provas que isto oficializou o seu estatuto de cidade ou reconhecimento como um centro urbano, mas, pelo meu ponto de vista, pode ser logo um reconhecimento de crescimento e importância da comunidade que se estava cada vez mais a fortalecer nesta área.
É impossível delimitar fronteiras exatas no reino de Odoacer, muitos são os centros urbanos dentro do seu proclamado território, que ainda se declaram romanos, portanto, não conseguimos submeter a área de Veneto como uma comunidade subserviente deste novo governador da Itália. A verdade é que durante o seu reino havia ainda o "Imperador de Dalmácia", o tal Flavius Julius Nepos, que era reconhecido pela coroa Oriental como o verdadeiro imperador do Império Ocidental, tentando até tomar controlo da capital de Ravenna, mas sem sucesso. Ainda após a morte de Nepos, Odoacer toma a Dalmácia. É sem dúvida possível que Veneto tenha sido uma dessas comunidades isoladas que se declarava leal ao Imperador e à cultura romana. Talvez o que venha a comprovar esta questão é que, quando o rei dos Ostrogodos, Thiudareiks, toma controlo sob a península Itálica no ano 480 d.C., com a bênção do Imperador Zeno – houve uma tentativa de submissão do povo de Veneto, mas sem sucesso. Sendo esta a única comunidade romana sobrevivente para lá do Adriático, alinha-se logo para o Império Romano Oriental, tornando-se a única região imperial de toda a Itália, uma jogada que lhe vai dar imensos frutos no futuro.
O sistema político de Thiudareiks é sólido e estável nos seus primeiros anos de governo, porque ele não interrompe as atividades e tradições da antiga aristocracia romana, mas começa a estagnar nos seus últimos anos de governo e ruí por completo com os seus herdeiros, tornando o Reino Ostrogodo, uma nação muito breve na sua existência. O seu destino é selado com o plano do Império Romano do Oriente, agora governado pelo Imperador Justinianus, de submeter os Ostrogodos e recuperar todo o antigo território do Império Romano Ocidental – As suas conquistas começam pela recuperação da Dalmácia, a Itália (efetivamente acabando com o Reino Ostrogodo em 540 d.C.), O Norte de África (da Tunísia até a Tanger) e o Sul da Hispânia. Este enorme feito é debatido pelos historiadores, se foi de facto benéfico para o Império Romano do Oriente, devido em grande parte, à negligência de políticas internas e reconhecimento das mudanças da Europa do séc. VI, mas o que prevalece aqui é que Veneza, é completamente integrada em território Romano, no entanto, logo passado três anos da morte de Justinianus, a Itália, que custou tanto ao Império conquistar, cai para uma nova vaga de invasões, desta feita, do povo Lombardo no ano 568 d.C., que ao derrotar a pequena guarnição deixada em Itália, cria uma enorme desunião entre as províncias itálicas, umas submetidas ao novo reino estabelecido, que gradualmente se desintegra em diferentes ducados e outras sob a tutela do Império Romano do Oriente, que as governa indiretamente, pela forma de um Exarcado.
O Exarcado de Ravena e a crescente autonomia:
Em 568, o rei Alboin dos Lombardos, um "foederati", juntamente com outros aliados germânicos, invadem a Península Itálica, conquistando as importantes cidade de Milão e Pavia (sua capital) e conquistam a Toscânia. Durante os reinados de Faroald e Zotto, são submetidas diversas regiões do centro e do sul, estabelecendo-se os Ducados de Espoleto e Benevento, começando um período de desunião entre as diversas fações lombardas, que se agrava e, finalmente, se desunem, de facto, após o assassinato de Alboin, em 573, iniciando-se o período: "Governo dos Duques", que facilita aos Bizantinos, a sua missão de recuperar o máximo de territórios possíveis, pois o Imperador Justinus II envia o seu enteado, Baduarius, para a Itália, mas a sua campanha é interrompida com a sua morte, acabando com as esperanças de libertar a Itália do governo Lombardo.
As incursões lombardas, incluindo tentativas de conquista de Veneza diversas vezes, causou uma enorme fragmentação das suas regiões em governo isolados, apenas se alterando a situação com o Imperador Tiberius II em 580, quando este funda um "eparchies", mas logo em 584, é fundado o Exarcado, com a sua sede na cidade de Ravena, governado por um Exarca, confinado na cidade, com capacidades administrativas, militares e eclesiásticas e a Sul do rio Marecchia, o Ducado de Pentápole, que era subserviente do Exarcado, governado por um Duque, representando o Imperador Bizantino.
Quando as invasões lombardas estavam em curos, Veneza já apresentava diversas características de uma cidade autónoma e com um papel estratégico, quer do ponto de vista político e económico, também os imensos recursos que foram movidos pelas população e o Império para proteger as suas cidades conferiam um enorme desenvolvimento destas mesmas. Esta autonomia é reforçada com a criação do Exarcado porque, cria-se uma espécie de governo feudal entre as diversas cidades sob este domínio, pois cada cidade possui um Duque, eleito pelo Exarca, sendo todas denominadas por Ducados, isto é ainda mais ajudado pelo facto geográfico que separa as duas cidades – a laguna era uma barreira que impedia uma governação mais direta por parte do Exarca, garantindo sempre uma maior e gradual autonomia e independência à cidade.
O poderio Bizantino começa a desvanecer na Itália com a ascensão de Arioald, que inicia uma guerra civil em 624, contra a rainha Theodelinda, esposa do falecido rei Agilulf, porque esta procurava uma solução pacífica com o Império, que causa um corte total com a comunidade Ariana guerreira dos Lombardos, ao qual, Arioald pertencia. Sua vitória é rápida, tornando-se rei de facto. O seu reino seria marcado por uma enorme instabilidade social e política, devido às diversas rivalidades e movimentos faciosos, francos, avaros e religiosos, acabando com a sua morte. Apesar disto, a sua esposa, a rainha Gundeperga, pôde escolher o seu novo esposo e rei – este seria, o rei Rothari. Este novo rei apresentou um enorme problema para o Exarcado, pois ele era munido de uma enorme ambição e desdenho contra os bizantinos, e foi estrategicamente escolhido por ter o apoio da maioria das fações do reino. O seu reino, de 636 a 652, é marcado por inúmeras campanhas militares contra os inimigos lombardos e bizantinos na Itália, conseguindo conquistar a Ligúria, Génova, Luni, Oderzo, toda a área de Venetia, menos Eraclea (o território a norte de Veneza) e, mesmo após derrotar um grande exército do Exarcado no Rio Panaro, ele não consegue anexar o Exarcado na sua totalidade, apenas tornar os seus Ducados em comunidades costeiras, cada vez mais isoladas. Nos finais do séc. VII, a cidade de Ravena cai para os Lombardos, agravando a situação do Exarcado. O Exarca altera agora a sua residência para a localidade de Eraclea, até agora a capital de Veneza, devido à sua posição terrestre e ser um ponto de fuga para a Dalmácia, em caso de invasão.
O primeiro Doge de Veneza, 697-717, é conhecido como, Paolo Lucio Anafesto, um oficial bizantino eleito pelos "Tribunos" para supervisionar toda a laguna – sua missão era acabar com a desunião entre os diversos políticos, que governavam de forma independente cada pequena ilha, no âmbito de poder coordenar da melhor forma a defesa contra os lombardos e os eslavos. No entanto, de acordo com Norwich, logo no início do seu livro, durante a sua introdução a Veneza, ele refere que este Doge poderia ter sido, de facto, o Exarca Paulo, devido a este ter como o seu "magister militum", Marcellus Tegallianus, nome igual ao do sucessor de Paolo Lucio Anafesto, mas existe falta de provas sobre este facto. O governo do Exarca Paulo é importante para a futura separação do complexo político, pois é nesta altura que sucede a "Controvérsia do Iconoclasmo", porque quando este tenta implementar a política religiosa de se deixar de usar imagens religiosas do Imperador Leo III, as populações de diversos ducados revoltaram-se, acabando por matar o Exarca, pois estes estavam demasiado influenciados pelos ideais da Igreja de Roma que adotava imagens – isto criou uma fratura permanente entre ambas as culturas até ao cisma de ambas as Igrejas, mas também porque agora o povo veneziano começou a eleger o seu próprio Doge, sendo o primeiro, Ursus. Apesar das divergências ideológicas, ele apoiou as campanhas de Leo III, para recuperar Ravena, enviando diversos contingentes de soldados e navios. Como recompensa, foi-lhe conferido "diversos privilégios e concessões", sendo reconhecido o seu título de "dux" e ainda conferido o de Cônsul, garantindo a Veneza uma série de privilégios comerciais e económicos dentro do Império.
O Exarcado chega ao seu fim, finalmente, durante o reinado de Aistulf, que no ano de 751, voltou a conquistar a cidade de Ravena, múltiplas comunidades e cidades costeiras, tentando diversas vezes a conquista de Veneza, mas sem sucesso em 752 e 753. Eutychius é o último Exarca, pois este estava novamente localizado na cidade de Ravena após a reconquista por Leo III.
A ameaça de conquista não acaba por aqui, pois o reino Lombardo agora tem que conter com o poder crescente dos Francos, sendo completamente obliterados em 756. Os antigos territórios do Exarcado são ocupados pelo Papa Stephanus II, após estes serem doados pelo seu aliado, Pépin le Bréf. Existem ainda algumas tentativas de submissão ao poder dos francos a Veneza, mas também são derrotados e cedem o território de Venetia e Brenta, bem como cedem uma série de condições comerciais a seu favor, conferindo as bases necessárias para Veneza se tornar numa potência comercial. O poder Papal destes territórios, sob o nome de "Património de St. Pedro", não se consegue aguentar devido à forte tradição de autonomia que os diversos bispos estavam acostumados, resultando na criação das futuras Cidades Ducais Italianas.
Desenvolvimento da Cidade:
Durante este período, a residência do Doge era então em Malamocco, que criou ainda uma melhor visão de apetência para se mudar para a proteção que as ilhas poderiam conferir. Possivelmente a população de Veneza cresceu bastante com todos estes conflitos em Itália, albergando imensos refugiados que se espalhariam por todas as pequenas ilhas e aqueles da alta sociedade viviam junto da aristocracia na capital, trazendo imenso prestígio e fundos, que levará, efetivamente, a um enorme desenvolvimento da cidade. Algo que também ajudou para a obtenção de mais influência no Império Bizantino foi, sem dúvida, a construção do assento episcopal de Olivolo, "San Pietro di Castello".
O método de urbanização é moldado de acordo com diversos fatores, desde a sua cultura, religião, sociedade, mas principalmente, a sua geografia. O desenvolvimento a partir desta última característica é influenciada pelo acesso a água e vias de comunicação com outras cidades – quanto mais importante ou desenvolvida a sua área é, maiores vão ser os resultados, tal como, o quão rapidamente estes "milestones" serão atingidos. "Veneza sofre uma série de desafios iniciais, quer da sua composição aquática e pantanosa, mas também aufere de diversas vantagens por servir como uma ponte entre o Oeste e Este do Adriático" – Este componente, de ser uma cidade rio, impede-lhe de seguir diversas características que as grandes cidades medievais vão tomar como regras de urbanização. A primeira representação artística que temos de Veneza é da, "Chronologia Magna", de c. 1346, que contem uma série de planos detalhados e posicionamento das estruturas na cidade e existe logo aqui uma quebra de semelhanças com as típicas cidades medievais, pois Veneza contem ruas bem organizadas nas suas áreas mas importantes, no âmbito de promover uma melhor locomoção, mas também existem enormes espaços desorganizados devido à assimetria das ilhas, tendo que adaptar certas áreas à sua geografia. Apesar de nos faltar alguma representação dos seus primórdios, temos ao nosso dispor, documentação de múltiplos governos dos Doges, que nos dão uma conceção sobre o seu desenvolvimento inicial.
A capital é novamente alterada durante o governo de Agnellio Participazio, 811-827, para a ilha de Rivoalto. Este, que defendeu a cidade de Veneza contra as forças de Pépin, foi eleito Doge pela sua bravura, mas também por ter observado que a ilha de Rivoalto era mais segura e defensável que a capital de Malamocco – mudou logo para esta ilha, onde se localizava a sua residência, "Campiello della Cason", tornando-se também o primeiro Palácio Veneziano, começando a expandi-lo com pedra e uma arte inspirada no Romano e Bizantino. É também no governo deste Doge que Veneza começa a ganhar as suas características modernas – tornando-a numa cidade de canais, e imensas pontes; Ele também começou uma enorme atividade de reclamação de terras, estabelecendo diversas ilhas, expandindo o território à volta de Rivoalto e Malamocco, criando os diversos canais que hoje conhecemos – houve também uma concentração em fortificar certos pontos da ilha, mas nunca existirá um castelo ou muralha como as outras grandes cidades medievais, devido, ao facto, de a sua maior defesa ser a sua laguna.
Ele foi o que criou o equivalente a uma Comissão de Obras Públicas, nomeando três dos seus conselheiros para supervisionar as diversas construções – Nicolò Ardisonio tinha a missão de fortificar o "lidi" com baluartes. Lorenzo Alimpato cavou diversos canais e reforçou as ilhas com diversos parapeitos, criando ainda novos espaços para construção. Pietro Tradonico, um familiar próximo de Agnellio, tinha a missão de construir novos e melhores edifícios, a ilha de Torcello, que servia como a Sé do Bispado de Veneza e serviu de ponto de assalto à cidade por muitos povos, foi reconstruída, tendo começado a construir diversos edifícios monásticos e também desenvolvido as minas de sal, que servia de base para a economia local; A ilha de Rivoalto começou a adotar diversas características bizantinas, com a construção de edifícios nos extremos dos cantões que, mais tarde, no séc. X-XIII dará espaço para a construção dos "Fondaco" grandes palácios de forma quadrada, com diversos quartos e áreas recreativas no seu interior, como o "Fondaco dei Tedeschi" em 1228, que servirá de pousada para os mercadores alemães, o "Fondaco dei Turchi" em 1381, servindo de pousada para as comunidades turcas e dignitários Otomanos; Diversas pontes são construídas, até mesmo na área de Brenta; Ainda algumas Igrejas espalhadas pelas ilhas são erguidas. O Rivoalto, como será a capital permanente de Veneza, começa a desenvolver-se num centro de mercadores, obtendo logo, a Praça de San Marco e Praça de San Marco, sendo os fatores do maior urbanismo e riqueza da área nos seus primeiros tempos. O seu desenvolvimento torna-se mais opulente no ano de 1181, com a construção de uma ponte flutuante, por Nicolò Barattieri – esta teria diversas reparações ao longo dos anos devido à sua estrutura em madeira, mas converte-se em pedra no ano 1551.
O maior monumento de Veneza, neste tempo, foi a Basílica de S. Marco, que tem uma fundação bastante bizarra – Isto porque, o herdeiro de Agnellio, Giustiniano Participazio procurou aumentar o prestígio da Igreja Veneziana. O povo de Veneza foi evangelizado por S. Marco, levando a muitos venezianos fazerem peregrinações ao seu túmulo na Alexandria. De acordo com a tradição, Giustiniano contratou dois mercadores, Buono di Malamocco e Rustico de Torcello, instruindo-lhes para subornar os monges de Alexandria para eles poderem secretamente roubar os seus restos mortais, escondendo-os juntos de carne de porco. O navio veneziano ultrapassou a alfândega, chegando à cidade, onde Giustiniano ergueu uma capela a S. Marco – tal era a importância deste santo (torna-se o seu Santo Padroeiro) que, a capela foi-se rapidamente expandindo, também por sucedem alguns incêndios que a danificam imenso como o de 976 – Como muito dos outros edifícios e monumentos desta cidade, é dotada de uma arte tipicamente bizantina devido à sua enorme conexão e influencia no Império.
Entre os séculos X-XI, a urbanização começa a intensificar-se devido aos venezianos começarem a usufruir imenso dos privilégios comerciais conferidos pelo Império Bizantino – Durante o reinado de Alexius I Comnenus, graças à ajuda que Veneza prestou ao Império, foi-lhe conferida acesso comercial sem restrições por todos os cantos bizantinos, em 1082. Devido a esta falta de taxação nas alfândegas, o enriquecimento da cidade foi tal, que durante o governo do Doge, Ordelafo Faliero, construiu-se um porto em Rivoalto chamado, O "Arsenal", estando as bases erguidas para Veneza se tornar uma potência marítima – porque este não seria apenas um porto extenso, mas sim uma fábrica para a produção de cordas, armas e navios, como as "Lanternas" que se tornarão os navios de guerra preferidos das cidades italianas – esta produção ainda se torna mais eficiente com a sua renovação em 1320, tornando-se no "Arsenal Nuovo".
A República de Veneza
A tão aguardada independência:
É impossível discernir concretamente, quando é que a cidade de Veneza ficou de facto independente do Império Bizantino devido ao enorme poder e influencia que foi ganhando em ambos os palcos Oriental e Ocidental, no entanto, aceita-se que seja por volta do séc. X.
No início do séc. IX, os conflitos entre Veneza e o Império de Charlesmagne, culminaram na "Pax Nicephori", em 803, mas apenas concluído em 814 – Um tratado entre o Reino Franco e o Bizantino, que reconhece a cidade e as cidades da Dalmácia como subservientes da área de influência de Constantinopla, garantindo a sua proteção de incursões do Ocidente, mas também com o estatuto de um Estado independente, um "buffer-state", com imensos privilégios comerciais em ambas as margens. Foi, de certeza, este o tratado que lançou as bases para a independência gradual, pois parece que o Império Bizantino já estava a ter falta de organização neste lado do continente, sendo apetecível ter um protetorado com agência nesta área, para segurar os seus interesses. Logo após este tratado ter sido assinado, houve tentativas contínuas, por parte dos francos, para interromper a influência comercial e a capacidade militar dos venezianos, dando ordens ao Papa para os expulsar da Itália, ou seja, utilizá-lo como intermediário em vez de uma ação direta - Consideravam a presença bizantina no ocidente Adriático, uma ameaça. Isto agravou-se com as tentativas de expulsão de militares e comerciantes venezianos na cidade de Pentápole.
Gostaria de poder fornecer uma data precisa para a sua desagregação do Império Bizantino, mas parece que Veneza, desde que se tornou um ponto estratégico e comercial importante no Adriático, sempre gozou de uma enorme independência, principalmente com a eleição de Ursus, pois isto representou logo uma falta de controlo de Veneza por parte do Imperador, começando aí a ser chamada por "Serenissima Repubblica di Venezia", desde 697.
A supremacia no Adriático – "Stato da Màr":
Até ao século IX, o comércio europeu estava bastante devastado e inflacionado. Muitas cidades não conseguiam desenvolver os seus mercados devido à enorme devastação causada ainda pelas invasões bárbaras – Até à ascensão dos Carolíngios, não existia um sistema governamental estável no continente europeu capaz de segurar rotas comerciais protegidas. Até o próprio comércio do reino dos Visigodos na Península Ibérica é interrompido com as sucessivas guerras civis e a sua conquista pelos muçulmanos, em 718. Apesar deste cenário sombrio para a economia europeia, a cidade de Veneza consegue vencer onde os outros falham.
A sua constituição geográfica mantem-lhe bastante isolada destes eventos negativos durante a sua fundação. As suas primeiras comunidades viviam da atividade piscatória, mas começaram logo a fazer pequenas trocas comerciais com outras entidades locais, constituídas por sal e também trigo da região de Venetia e das pequenas ilhas. Este comércio ficou afetado no ocidente durante o reinado de Aistulf, a partir do ano 750, quando este proíbe trocas com os povos bizantinos, um percalço de curta duração, mas que acaba por ter alguns efeitos benéficos, pois agora os pequenos mercadores desta comunidade podem-se concentrar no comércio bizantino, gerando imenso lucros rapidamente, tão rápido até, que logo, por volta de 780, vemos comerciantes venezianos na cidade de Pavia, agora sob domínio franco, a vender Púrpura tíria. Os venezianos que tinham sido expulsos de Ravena e Pentápole durante as guerras contra os francos, voltam a estas cidades por volta de 814, entrando agora, no mercado de escravos sarracenos, que estavam a invadir o que restava do antigo Exarcado de África, no sul da Itália, conquistando a cidade Bari por volta deste tempo.
O comércio veneziano começou a centrar, cada vez mais, em drapeados e tecidos, muitos deles vindos do Oriente, devido aos enorme privilégios comerciais que tinham ao seu dispor dentro do Império Bizantino. É também importante salientar, que Veneza começa a desenvolver a sua própria cunhagem, desenvolvendo "zecca" de prata, mas também assimilando outras moedas – as suas preferidas eram as moedas de Verona e dos Carolíngios, mas cunhavam atrás destas: "Venecia".
Quando se muda a capital para Rivoalto, cria-se a Praça de San Marco, tornando esta ilha no seu centro comercial e económico mais importante, recebendo feiras constantes e até se começam a fundar guildas de mercadores nesta área – Esta tornar-se-ão em futuras companhias comerciais, as primeiras de toda a europa, as "Collegantia" – Começam a aparecer como instituições a partir de 1171, devido ao enorme influxo de capital vindo das posses marítimas que o Estado vai adquirindo ao longo dos séculos. A construção do Arsenal, sem dúvida, trouxe um alento enorme ao desenvolvimento das atividades comerciais da cidade, porque sabemos que uma enorme frota mercantil é desenvolvida, principalmente, quando os piratas da Dalmácia são derrotados, no ano 1000, garantindo um fluxo mais seguro de capital entre as diversas cidades costeiras que agora entram no domínio veneziano. A redução de impostos de cada navio veneziano, por decreto do Imperador Basilleus II, como compensação da segurança que os venezianos garantiam aos navios bizantinos no mediterrâneo contra os árabes promoveu uma maior dinâmica, para a construção de uma maior frota. Os venezianos conseguiram fazer trocas comerciais sazonais e clandestinas, muito lucrativas, com a Tunísia e o Egipto, apesar do Imperador Leo V o proibir durante tempos de guerra.
O sucessor da dinastia Participazio, Pietro Trandonico, começa a instaurar políticas militares, desenvolvendo a sua capacidade de ter um papel de agência mais direto em províncias vizinhas, bem como acabar com certas ameaças. Sendo ele um veterano das guerras contra os sarracenos em Bari e Taranto, já trazia consigo um certo prestígio e saque, isto irá influenciar as ações futuras nas cruzadas. Como já referimos, os piratas da Dalmácia eram uma ameaça constante para Veneza, pois era impossível defender todas as suas pequenas ilhas isoladas, custando ao governo imensos florins, mas logo no ano 1000 eles, juntamente com os piratas sarracenos no sul do Adriático são submetidos – Com isto, as diversas cidades da costa da Croácia caem sob a influência do governo veneziano, começa então um período de expansão militar e colonial por parte de Veneza, denominado este Império: "Stato da Màr".
Este Império colonial é bastante extenso, tendo em conta que origina de uma única cidade. A facilidade com que estas cidades, primariamente costeiras, são submetidas, é devido ao facto da frota veneziana ser tão bem desenvolvida que consegue isolar estas comunidades até à sua rendição. Existe também uma enorme necessidade de conquistar estas regiões devido à sucessiva queda do Império Bizantino, que se via cada vez mais isolado na sua cidade de Constantinopla, mantendo ainda controlo total no Peloponeso e no Chipre, em forma do Ducado de Nexos. A sua colónia mais importante é, Cândia, ou a ilha de Creta. Esta é conquistada em 1207 e, devido a ser uma extensão terrestre considerável no mediterrâneo e perto de ambas as costas da Grécia e Anatólia, serviu como um posto comercial muito importante para a nação. Esta colónia era tão apetecível que foi sucessivamente atacada por piratas e muçulmanos, sendo necessário fortificá-la – construíram-se uma série de fortes por toda a ilha, sendo a mais conhecida, as "Muralhas de Chania", que foram renovadas e alargadas até ao séc. XVI.
Para governar estes territórios, inicia-se finalmente o modelo de feudalismo veneziano – Em primeiro lugar, são fundados os Domínios, para delinear as áreas de influência de cada uma, estes domínios são: Ístria Veneziana, a costa norte da Croácia; Dalmácia Veneziana; Albânia Veneziana; Durázio Veneziana; Ilhas Jónicas Venezianas; Mais tarde, Chipre Veneziano. Cada um destes domínios é governado por um senhorio, que em troca cria diversos vassalos no seu território. Este senhor é subserviente do Doge e dos seus "tribunos".
O avanço mais importante para a economia veneziana e a manutenção da sua posição como potência marítima foi, o tratado que assegurou diversos privilégios comerciais garantidos pelo Imperador Alexis I Comnenus, como já referimos, que abriu os seus portos gratuitamente aos venezianos, dando acesso sem restrições ou taxação nas alfândegas. Isto levou a vários comerciantes, de diversos países, criarem as suas companhias e guildas em solo venezianos, para usufruírem destes enormes benefícios, apesar do governo do Doge, cobrar as suas estadias a preços elevados, mas estes comerciantes continuariam a fazer lucro devido aos custos elevados dos produtos do Oriente – eles acabam por serem colocados nos "Fondaco" – Um tratado de características idênticas, foi o selado com Heinrich IV, em 1084, que tinha cedido também condições semelhantes, sem restrição aos portos do Sacro Império Romano.
Um evento que garantiu a supremacia comercial no Mediterrâneo e também estabilidade nas colónias foi, a Primeira Cruzada. Os exércitos dos francos e os bizantinos foram beneficiários dos mantimentos que as frotas venezianas traziam para eles. Isto garantiu um enorme apoio aos cruzados que agradeceram, instaurando um tratado de acesso comercial também sem restrições aos novos feudos constituídos na Palestina, isto garantiu aos comerciantes de Veneza um acesso total até às cidades árabes ricas dos Abássidas, que traziam produtos diretamente da Índia.
Devido a estes eventos, Veneza chega ao séc. XIII e XIV com uma população de c. 180,000, tendo sempre um fluxo migratório enorme, vindo dos grandes impérios, de regiões juntas das suas colónias e também dos reinos Muçulmanos. Veneza torna-se nestes séculos o centro do comércio mundial. Encoraja comerciantes a fundarem companhias privadas, confere escoltas armadas aos seus comerciantes e aluga-as a outros reinos, estabelece entrepostos comerciais na Ásia Central, após a viagem de Marco Polo; Mesmo depois da Quarta Cruzada, consegue se aliar aos bizantinos, garantindo passagem em Bosporus e Trebizonda – garantindo produtos diretamente da Índia e da Rota da Seda. Apesar de sofrer com alguma competição de cidades como Génova e Sicília na costa e, no interior, de Milão e Florença, isto só compromete o estatuto de Veneza no final da Idade Média até às Guerras Italianas no séc. XV-XVI;


Conclusão
Tendo em conta, a matéria que foi estudada por todo este trabalho, conseguimos notar que a prevalência de Veneza na Europa (quando esta se encontra estagnada, devido ao curso das diversas invasões, guerras, governos instáveis e uma demografia bastante devastada) é conseguida devido à sua constituição geográfica.
O facto de ser uma ilha, mantem Veneza bastante segura de confrontos diretos com outros povos, isto é provado com as tentativas falhadas dos Avaros, Ostrogodos, Lombardos e Francos, mantendo-se imune ao clima apocalíptico da Europa. Isto cria um sentido de união e nação dentro da cidade que desde cedo, demonstra o desejo pela independência total, bem como esta cultura de sobrevivência ganha ao longo dos séculos, resulta numa necessidade de procurar sempre estar acima dos seus adversários, obtendo assim, sempre os melhores tratados possíveis para garantir um fluxo de capital enorme para a manutenção da sua existência.
Estas riquezas que vai ganhando com o seu comércio naval, devido à tradição naval que adquire também pela sua geografia e cultura marítima ancestral, eleva a cidade a um Império, pois os Doges começam a investir em recuperação de terra para por produzir mais recursos, bem como criar infraestruturas para se manter como uma potência marítima, enquanto o resto do Continente luta entre si. Foi esta a chave para o sucesso desta comunidade do Adriático e apenas quando as outras cidades italianas seguirem o mesmo exemplo de Veneza é que começarão a interromper a sua supremacia.






Bibliografia:

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http://www.venicethefuture.com/schede/uk/309?aliusid=309



Sigla para "Senatus Populusque Romanus", a marca da antiga República Romana, muito utilizada em monumentos e estandartes militares;
Vide. CANTOR, F. Norman, "Antiquity". Harper Perennial, 2004 – pág. 168;
Ibidem. CANTOR – pág. 169-170;
Ibidem. CANTOR – pág. 175;
Ibidem. CANTOR – pág. 184;
Recordo que este Estado vivia sob tutela romana como um principado ou protetorado, alguns até o referem como um vassalo;
Os resultados esperados pela corte Ptolemaica foram negativos, pois foi encarado como um insulto por Julius Cesar, o facto de Pompeius ter sido enganado, esfaqueado enquanto a sua esposa Cornelia o observava à distância e ainda pela sua cabeça ter sido oferecida ao próprio, acabando por serem castigados e os assassinos executados. Isto ajudou a promover uma aliança futura entre Julius Cesar e Cleópatra contra Ptolomeu XIII.
Ibidem. CANTOR – pág. 192-193;
Ibidem. CANTOR – pág. 198;
Ibidem. CANTOR – pág. 201 – As marchas forçadas que ele cometia, a falta de fundos e alimentos ajudou imenso para a sua queda, quebrando muitas das suas legiões;
Ibidem. CANTOR – pág. 202;
Termo inglês para descrever quando um sistema não consegue governar eficazmente o seu território devido à sua enorme extensão. Muitos fatores podem contribuir para esta quebra, mas um exemplo que descreve uma situação semelhante é o Império Tang. Um Império demasiado extenso para as vias de comunicação que tinham ao seu dispor naquele tempo, impossibilitando o Imperador de tomar ação direta sobre todos os seus territórios ou eficazmente os proteger contra nações inimigas ou rebeliões locais, levando à sua queda efetiva.
Vide. MACMULLEN, Ramsay. Corruption and the decline of Rome. Yale University Press, 1988 – pág. 12
Ibidem. MACMULLEN – pág. 24;
Ibidem. MACMULLEN – pág. 25;
Ideal civilizacional dos romanos. Tinha o objetivo de tornar a cultura romana como a principal, obrigando todos os povos submetidos, gradualmente, assimilarem a cultura de Roma até a sua própria identidade desaparecer;
Ibidem. MACMULLEN – pág. 29 – A enorme revolta do povo judaico a 66 d.C., que levaria ao início da Primeira Guerra Judaico-Romana, um exemplo de uma revolta particularmente difícil para o Império controlar devido ao estado bélico vivido;
Um sujeito do Império livre da província, mas que não era cidadão romano, sendo que para obter tal cidadania teria que servir no exército durante um mínimo de 25 anos;
Ibidem. MACMULLEN – pág. 31-32;
Apenas aqueles que eram considerados "homens livres" claro;
Ibidem. MACMULLEN – pág. 33;
Ibidem. MACMULLEN – pág. 36;
Ibidem. MACMULLEN – pág. 37-38;
Vide. HEATHER, Peter. "The fall of the Roman Empire. A new history." Pan Books, 2006 – pág. 67;
Ibidem. HEATHER – pág. 71;
Ibidem. HEATHER – pág. 85;
Ibidem. HEATHER – pág. 98;
Ibidem. HEATHER – pág. 107;
Ibidem. HEATHER – pág. 116-117;
É de salientar que durante estes 10 anos de diferença entre o reinado de Aurelianus e Diocletianus, houveram cerca de 8 ou 9 imperadores assassinados;
Ibidem. HEATHER – pág. 123-124;
Ibidem. HEATHER – pág. 125;
Ibidem. HEATHER – pág. 143-147;
Posto importante do exército romano tardio;
Ibidem. HEATHER – pág. 152;
Ibidem. HEATHER – pág. 154-155;
Vide. MACMULLEN, Ramsay. Corruption and the decline of Rome. Yale University Press, 1988 – pág. 134-135;
Ibidem. MACMULLEN – pág. 137-142;
Destes povos refiro: Alamanos, Burgúndios, Vândalos, Marcomanos, Quados, Sármatas, Visigodos e Suevos;
Ibidem. MACMULLEN – pág. 145-157;
Ibidem. MACMULLEN – pág. 158-159;
Vide. HEATHER, Peter. "The fall of the Roman Empire. A new history." Pan Books, 2006 – pág. 170-173;
Vide. WARD, Perkins Bryan. "The fall of Rome and the end of civilization". Oxford University Press 2005 – pág. 137;
Ibidem. WARD. – pág. 145;
Ibidem. WARD. – pág. 168-171;
Vide. SINGLETON, Fred. "A Short History of the Yugoslav Peoples", Cambridge University Press (1985) 1999 – pág. 39;
Ibidem. SINGLETON. – pág. 41-42;
Ibidem. SINGLETON. – pág. 45;
Vide. BATTISTINE, Davide; Paolo Canèstrelli (2006). La serie storica delle maree a Venezia (in english). Venezia: Centro Previsioni e Segnalazioni maree – pág. 2;
"Rotta della Cucca" é um livro escrito por, Paulo o Diácono, no século VI, sendo a primeira referência histórica das cheias sazonais de Veneza;
Vide. J. J. Norwich, "A History of Venice". 1989 by Vintage – pág. 89;
Município de Veneza;
Ibidem. NORWICH – pág. 18 – É impossível datar quantas ilhas haviam exatamente na época Medieval, isto é devido a diversas atividades de recuperação de terra ao longo dos séculos, muitos destes projetos acabam por serem abandonados e outro sem referência de serem concluídos, portanto, teremos em conta que o número 117 não é o correspondente à realidade vivida nesta época, mas sim muitas menos ilhas;
Conhecido hoje como: "Grande Canal";
Ibidem. NORWICH – pág. 23 – Um "sestieri" é o equivalente a um concelho, com capacidade governativa sob o seu território, hoje já não existe este sistema, passou a ser um modelo de estatística e censória;
É reduzido para 38 freguesias;
Ibidem. NORWICH – pág. 24;
Vide. BOSIO, Luciano. "Le origini di Venezia" (in english). Novara: Istituto Geografico De Agostini 1987. – pág. 19 – Significa literalmente, "moradores da laguna";
Ibidem. BOSIO. – pág. 31-45;
Vide. BOSIO. – pág. 45 – Referindo-se à barreira aquática entre eles e a Itália – neste tempo é de salientar que os níveis do mar não eram tão elevados, resultando em épocas que permitiam a passagem terrestre para Veneza;
Vide. BOSIO. – pág. 47;
Vide. BOSIO. – pág. 48-50;
Vide. BOSIO. – pág. 51;
Vide. WARD, Perkins Bryan. "The fall of Rome and the end of civilization". Oxford University Press 2005 – pág. 201-208;
Vide. BOSIO, Luciano. "Le origini di Venezia" (in english). Novara: Istituto Geografico De Agostini 1987. – pág. 81-82;
Ibidem. BOSIO. – pág. 86;
Vide. WARD, Perkins Bryan. "The fall of Rome and the end of civilization". Oxford University Press 2005 – pág. 231-236;
As campanhas de Justinianus tiveram um cariz de atrição, resultando numa enorme quebra demográfica na Itália, bem como uma enorme deslocação social, fragmentação política e queda económica;
Vide. BOSIO, Luciano. "Le origini di Venezia" (in english). Novara: Istituto Geografico De Agostini 1987. – pág. 91;
Altero agora a denominação do Império Romano Oriental para Império Bizantino, na esperança de poupar mais tempo e também para fornecer uma noção do fim da sociedade romana no Ocidente;
Vide. J. J. Norwich, "A History of Venice". 1989 by Vintage – pág. 184-187;
Ibidem. NORWICH. pág. 190;
Ibidem. NORWICH. pág. 191 - Nome grego para o sistema governativo instaurado, que separa as diferentes regiões bizantinas em dois grupos: A "Annonaria", no norte e a "Urbicaria", no sul;
Ibidem. NORWICH. pág. 194;
Ibidem. NORWICH. pág. 196-197 – Isto inclui os ducados de: Veneza, Roma, Calábria, Nápoles, Perugia, Pentápole, Lucânia, etc…);
Ibidem. NORWICH. pág. 197;
Ibidem. NORWICH. pág. 201 – Norwich faz referência a uma outra crónica escrita por Paulo o Diácono, a "Historia Langobardorum vol. IV", na qual estão descritas, com detalhe, as conquistas dos lombardos nesta época;
Ibidem. NORWICH. pág. 210;
Ibidem. NORWICH. pág. 13 – Quero apenas indicar que a história inicial de Veneza é muito nublada, existem muito pouco concreto sobre oficiais, datas e até a sua fundação oficial – Aceita-se que a fundação de Veneza como uma poderosa comunidade e cidade a partir do séc. VII-VIII;
Ibidem. NORWICH. pág. 13-14 – Tanto é o poder e opulência desta comunidade que as ilhas da laguna são desenvolvidas e a capital muda para a ilha de Malamocco, no ano 742 d.C.;
Ibidem. NORWICH. pág. 213;
Ibidem. NORWICH. pág. 214;
Ibidem. NORWICH. pág. 214;
Ibidem. NORWICH. pág. 215-216;
Vide. HYUNGSUN, Chloe Cho, "Venice and Its Location, Trinity College Digital Repository." (1868 - present) – pág. 1;
Ibidem. HYUNGSUN. pág. 1;
Ibidem. HYUNGSUN. pág 1;
Vide. J. J. Norwich, "A History of Venice". 1989 by Vintage – pág. 19-21;
Ibidem. NORWICH. pág. 637-639;
Uma ilha estreita a sul de Veneza que serve de fronteira entre a laguna e o Mar Adriático;
Ibidem. NORWICH. pág. 672;
Ibidem. NORWICH. pág. 678-679;
Vide. HYUNGSUN, Chloe Cho, "Venice and Its Location, Trinity College Digital Repository." (1868 - present) – pág. 1;
Ibidem. HYUNGSUN. pág. 1;
Ibidem. HYUNGSUN. pág. 1-2;
Ibidem. HYUNGSUN. pág. 1;
Vide. J. J. Norwich, "A History of Venice". 1989 by Vintage – pág. 690-692 - Galeões mais rápidos e com maior capacidade de carga de mercadorias – a sua rapidez e versatilidade, despoletará um rápido domínio do mediterrâneo dos venezianos;
Ibidem. NORWICH. – pág. 692;
Ibidem. NORWICH. pág. 543-549 – Não existe qualquer documento preservado deste tratado, apenas alguma citações de João o Diácono e de Andrea Dandolo, sendo uma questão ainda debatida, pois até existem alguns historiadores que consideram que foi neste tratado que se estipula a independência de Veneza;
Ibidem. NORWICH. pág. 551;
Ibidem. NORWICH. pág. 314;
Ibidem. NORWICH. pág. 314-315;
Ibidem. NORWICH. pág. 315-316 – Faz-se uma referência ao "Honorantiae Civitatis Papiae", que documenta este aparecimento de mercadores venezianos a trazerem produtos do Oriente;
Ibidem. NORWICH. pág. 316 – Existem também dados que demonstram ações no mercado de escravos, mas dos povos eslavos, pois estes também assolavam território de Venetia e de Dalmácia regularmente;
Nome árabe para moeda;
Ibidem. NORWICH. pág. 322-327;
É importante referir que o investimento vindo destas companhias é tão lucrativo, que começam-se a formar companhias semelhantes em outras cidades portuárias de Itália, tornando-se futuras competidoras de Veneza;
Ibidem. NORWICH. pág. 421;
Ibidem. NORWICH. pág. 422;
Ibidem. NORWICH. pág. 422-25;
Vide. CHAMBERS, D. S. (1970). "The Imperial Age of Venice, 1380–1580." London: Thames & Hudson – pág. 13;
Ibidem. CHAMBERS. pág. 17;
Ibidem. CHAMBERS. pág. 19;
Ibidem. CHAMBERS. pág. 21-26;
Ibidem. CHAMBERS. pág. 27;
Vide. J. J. Norwich, "A History of Venice". 1989 by Vintage – pág. 430 – à parte de comerciantes alemães, haviam de outras cidade italianas, da Flandres, Turcos e também de Judeus;
Ibidem. NORWICH, pág. 430-431 – Em grande parte, devido à pressão da "Controvérsia da Investidura";
Ibidem. NORWICH. pág. 431;
Ibidem. NORWICH. pág. 438.

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