O fascínio pelos maias e os atrativos da Arqueologia

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FUNARI, P. P. A. . O fascínio pelos maias e os atrativos da Arqueologia. In: Alexandre Guida Navarro. (Org.). Kakupacal e Kukulcán, Iconografia e contexto espacial de dois reis-guerreiros maias em Chichén Itzá. 1ed.São Luís: Café e Lápis/ EDUFMA, 2012, v. 1, p. 11-12. O fascínio pelos maias e os atrativos da Arqueologia

A civilização maia floresceu na floresta tropical do hemisfério norte do continente americano, durante o primeiro milênio da era cristã. Os maias foram capazes de criar as maiores cidades do mundo à sua época, em ambiente tropical, assim como desenvolveram um sistema de escrita por ideogramas e uma ciência astronômica que ainda causa admiração, por sua precisão e racionalidade. Ao mesmo tempo, os maias eram muito apegados a concepções religiosas do mundo, que incluíam cerimônias sangrentas. Foram, por essas características variadas, tomados pelos estudiosos e pelo público em geral como protótipos tanto do pacifismo e da filosofia, como da violência e da religiosidade, pelos aspectos diversos e, na aparência, contraditórios, de sua civilização.

Os maias continuam mais populares do que nunca. No âmbito acadêmico, predominam os estudos de norte-americanos, com participação crescente dos mexicanos nesse campo de estudo, que conta, ainda, com estudiosos de outros países. No Brasil, as revistas populares tratam, com frequência, da civilização maia, assim como os maias estão presentes em livros didáticos e de apoio didático, sendo, portanto, o povo americano mais popular no nosso país. Isso é tanto mais significativo, quanto há dois fatores únicos a serem destacados. Em primeiro lugar, os maias são o único povo

ameríndio alçado à condição de civilização comparável àquelas que fundaram o ocidente e que, por esse motivo, estão presentes na formação escolar e na mídia no Brasil, como é o caso dos egípcios, gregos e romanos. Só isto já é importante, pois coloca no imaginário popular que também um povo indígena pode se destacar por sua civilização e legado cultural. Portanto, deste ponto de vista, os maias mostram como os indígenas podem ser considerados pelos brasileiros como produtores de alta cultura e sofisticação.

Em seguida, e à diferença das outras civilizações mencionadas e que são conhecidas também por sua literatura e documentação escrita ampla e variada, os maias são acessíveis, de maneira preponderante, pelo estudo da sua cultura material. A Arqueologia exerce, aí, um papel de destaque, mais do que em qualquer outra grande civilização influente no Ocidente e no Brasil, pois o acesso a ela continua a depender, de maneira preponderante, das evidências materiais. A Arqueologia, portanto, possui uma relevância única e particular, ao fornecer as principais informações e conceitos a respeito dos maias e isso condiciona, de forma marcada, nossa percepção desse povo. Assim, as pirâmides e outras estruturas arquitetônicas e, mais ainda, as esculturas e imagens provenientes dos assentamentos maias transmitem sensações, muitas vezes mais influenciadas por nossas sensibilidades modernas do que pelas concepções daquele antigo povo ameríndio. O estudioso norte-americano dos maias, Richard Wilk, alertava, já na década de 1980, que devemos estar atentos às condições e circunstâncias contemporâneas aos pesquisadores para analisar as explicações e interpretações da cultura material maia.

No caso maia, os aspectos simbólicos constituem um desafio especial, tanto pela importância das percepções dos próprios antigos indígenas, como pela relevância que tais questões adquirem no mundo atual. De fato, nós vivemos uma era de predomínio das percepções e dos símbolos e nos preocupamos com isso todo o tempo. Este é o caso do livro de Alexandre Guida Navarro, arqueólogo brasileiro que tem participado de trabalhos de campo nos sítios maias e estudado a cultura material in situ, tendo adquirido, no processo, uma experiência única no cenário acadêmico brasileiro. Com apoio, no correr dos anos, de instituições acadêmicas prestigiosas como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), a CAPES, o CNPq, a FAPEMA, a UFMA, a UNICAMP, pode desenvolver uma abordagem bem fundamentada na teoria social, algo não tão comum, mas que permite que suas obras sejam contribuições originais. Neste livro, portanto, Navarro apresenta ao leitor um amplo panorama das discussões e interpretações na literatura sobre os reis guerreiros maias. Com isso, tanto o livro constrói um quadro complexo e bem inserido na historiografia sobre os capitães, como permite ao leitor formar seus próprios juízos sobre as interpretações originais propostas pelo autor.

Ainda que muito bem documentado e ao corrente das discussões teóricas e empíricas mais recentes, no campo especializado da Arqueologia dos maias, o volume está escrito em linguagem clara, direta e acessível a um amplo público que se interessa pela cultura maia e pelos mistérios e aspectos fascinantes dessa civilização indígena. Não é apenas a ciência brasileira que se beneficia com a publicação deste livro, mas o grande ganhador é o leitor, que se encanta com a narrativa e não deixa de querer ler o que vem a seguir. Chega, assim, logo ao final e sai satisfeito e enriquecido. Boa leitura!

Pedro Paulo A. Funari Professor Titular da Unicamp

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