O fim das ciências sociais e das humanidades? – The end of the social sciences and the humanities?

O fim das ciências sociais e das humanidades?
O artigo Le Japon va fermer 26 facs de sciences humaines et sociales, pas assez «utiles», publicado na edição online do jornal francês Le Monde no passado dia 17 de Setembro de 2015, sublinhou que 26 universidades nipónicas tinham anunciado querer encerrar as suas faculdades de ciências sociais e humanas ou, pelo menos, limitar e reduzir a sua actividade.
Uma decisão, observou, tomada após a recepção de uma missiva enviada pelo ministro da educação do país dirigida, no início de Junho deste ano, aos presidentes de 86 universidades de todo o país pedindo-lhes que encerrassem ou modificassem «tais departamentos no sentido de beneficiar disciplinas que servem melhor as necessidades da sociedade» japonesa.
Por outro lado, o artigo Which country has most humanities graduates?, publicado em 2 de Setembro de 2015 no sítio do Fórum Económico Mundial, salientou que «um pilar decisivo para o crescimento económico é a disponibilidade de um diverso e altamente especializado "viveiro" de talentos» já que o mesmo «permite a um país poder maximizar o seu capital humano.».
Citando dados compilados pelo próprio Fórum para o seu relatório de 2015 acerca do capital humano, frisou que o top 10 dos países com o maior número de graduados em artes e em humanidades era encabeçado pelos Estados Unidos da América com quase 400 mil licenciados anualmente nestas duas áreas seguido, precisamente, pelo Japão com pouco mais de 144 mil diplomados todos os anos.
Em terras lusas, revelou o físico e político independente recentemente eleito por um partido político nas eleições legislativas portuguesas, Alexandre Quintanilha, num bloco noticioso emitido em 7 de Outubro de 2015 (Telejornal da cadeia televisiva RTP 1) que «há uma depreciação da área das humanidades e das ciências sociais que me desagrada».
Estaria a referir-se, apenas, ao panorama académico e cultural português?
Não sei.
Fruto da minha formação académica em antropologia e da minha actividade profissional de investigador, reflicto muitas vezes sobre a existência das ciências sociais, das artes e das humanidades nos sistemas educativo, social, económico e cultural da maior parte das actuais sociedades do mundo.
E se não existissem, de todo?
Então, todos os assuntos e acontecimentos que preocupam – e que modelam – os cidadãos contemporâneos (como o desemprego, as dependências físicas e virtuais, a guerra, as migrações, as mudanças climáticas, a criminalidade, por exemplo) teriam de ser observados, analisados e comentados, maioritariamente, por actores ligados à engenharia, à medicina, à matemática, à física, à química e às finanças…
Enfim, às ciências exactas e naturais.
Assim, a "lupa" analítica reduzir-se-ia bastante.
Quem perderia?
As sociedades no seu todo porque ver-se-iam privadas de opiniões e de pontos de vista diferentes e alternativos.
Ou seja, todas são precisas: ciências sociais e humanas, artes, ciências naturais e exactas uma vez que os ensinamentos que propõem nos permitem olhar o mundo com outros olhos e pensar.
Mas parece que alguns ainda não perceberam isto.


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The end of the social sciences and the humanities?
The article Le Japon va fermer 26 facs of sciences humaines et sociales, pas assez "utiles", published on the online edition of the french newspaper Le Monde on September 17, 2015, noted that 26 japanese universities had announced they wanted to close their social and human sciences colleges, or at least, limit and reduce their activity.
A decision, it noted, taken after having received a letter sent out by the minister of the country's education early June this very year, to the presidents of 86 universities around Japan asking them to eliminate or convert "such departments in order to benefit disciplines that are better to the needs" of the japanese society.
On the other hand, the article Which country has most humanities graduates ?, published on September 2, 2015 on the World Economic Forum website, pointed out that "A key driving force of economic growth is the availability of a diverse and highly skilled pool of talent, allowing a country to make the most of its human capital.".
Citing data compiled by the Forum itself to his Human Capital Report 2015, it stressed that the top 10 countries with the highest number of graduates in arts and humanities was led by the United States with almost 400,000 annually graduates in these two areas followed, precisely, by Japan with over than 144,000 graduates every year.
In Portugal, the physical and political independent newly elected by a political party in the portuguese legislative elections, Alexandre Quintanilha, in a news block presented on October 7, 2015 (Telejornal, in the television channel RTP 1) said that "there is a depreciation of the humanities and social sciences' areas that displeases me".
Was he referring, only, to the academic and cultural portuguese panorama?
I don't know.
I must, however, confess that as I am an anthropologist and researcher, I often reflect about the existence of the social sciences, arts and humanities in educational, social, economic and cultural systems that exist in almost every societies in the world.
What if they didn't actually exist at all?
Then all the issues and events that concern - and model - contemporary citizens (such as unemployment, physical and virtual dependencies, war, migrations, climate change, crime, for example) would have to be viewed, analyzed and commented by actors mostly 'linked' to the engineering, to the medicine, to the finance, to maths, to physics, to chemistry, ...
Thus, the analysis would 'shrink' a lot.
Who would lose, then?
Societies, from the bottom to the top, because different opinions and points of view would not appear.
That is, all are needed: the humanities and the social sciences, the arts, the natural and the 'hard and soft' sciences as the teachings and doctrines they propose can help us to see the world with different eyes and…think.
But it seems that some have not realized this yet.