O FRACASSO DO ILUMINISMO E DA MODERNIDADE NA CONSTRUÇÃO DA FELICIDADE E DO PROGRESSO HUMANO

July 25, 2017 | Autor: Fernando Alcoforado | Categoria: Philosophy, Enlightenment, Modernity
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O FRACASSO DO ILUMINISMO E DA MODERNIDADE NA CONSTRUÇÃO DA FELICIDADE E DO PROGRESSO HUMANO Fernando Alcoforado* Houve dois grandes acontecimentos da história da humanidade que trouxeram muita esperança de que seria dado início à construção de um mundo novo e de um homem novo. O primeiro grande acontecimento diz respeito ao Iluminismo e, o segundo, ao nascimento da Modernidade. Com o Iluminismo, esperava-se que prevalecesse a tolerância, o humanismo e o respeito à natureza e se afirmaria o direito à liberdade e à igualdade entre os homens. Com a Modernidade, esperava-se que a sociedade alcançaria, por sua vez, progresso ininterrupto em benefício da humanidade graças ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia. É preciso observar que o Iluminismo é o nome que se dá à ideologia que foi sendo desenvolvida e incorporada pela burguesia na Europa a partir das lutas revolucionárias do final do século XVIII cujos temas giravam em torno da Liberdade, do Progresso e do Homem. O Iluminismo tinha como propósito corrigir as desigualdades da sociedade e garantir os direitos considerados naturais do indivíduo, como a liberdade e a livre posse de bens. O humanismo iluminista do século dezoito já propunha que o ser humano e sua dignidade fossem o centro e o valor fundamental de todas as ciências, impondo assim também que fosse a preocupação máxima de todo ordenamento jurídico, de todo sistema jurídico. O Iluminismo forneceu o lema da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade) e fecundou-a na medida em que seus seguidores se opunham às injustiças, à intolerância religiosa e aos privilégios do absolutismo. No entanto, desde a Revolução Francesa até o presente momento, as promessas políticas do Iluminismo foram abandonadas em todo o mundo com a adoção de práticas desumanas cada vez mais sofisticadas pelos governos e imperialistas pelas grandes potências capitalistas, o desencadeamento de 3 guerras mundiais (1ª Guerra Mundial, 2ª Guerra Mundial e a Guerra Fria), o advento do fascismo e do nazismo, a realização de intervenções militares e realização de golpes de estado em vários países do mundo. As teses políticas do Iluminismo fracassaram desde a Revolução Inglesa (1640), a Revolução Americana (1776) e a Revolução Francesa (1789). Este fracasso abriu caminho para o advento da ideologia marxista em todo o mundo que se propunha a dar um passo à frente em relação ao Iluminismo buscando o fim da exploração do homem pelo homem com a redução das desigualdades econômicas entre as classes sociais e, no futuro, sua completa abolição. Os fatos da história demonstram que as teses iluministas que nortearam as revoluções burguesas no século XVIII e as teses marxistas com base nas quais foram realizadas as revoluções socialistas no século XX fracassaram porque não cumpriram suas promessas históricas de conquista da felicidade humana. A Modernidade, por sua vez, nasceu com a Revolução Industrial significando um extraordinário esforço intelectual dos pensadores iluministas para desenvolver a ciência e a razão e descobrir as leis universais para serem postas a serviço da humanidade. Com a Revolução Industrial, a ciência e a tecnologia adquiriram uma importância fundamental para o progresso humano, mediante as contínuas inovações tecnológicas. A ideia era usar o acúmulo de conhecimento gerado em busca da emancipação humana e do enriquecimento da vida diária. É oportuno observar que a Primeira Revolução Industrial foi o conjunto de transformações socioeconômicas iniciadas por volta de 1

1760, na Inglaterra (e mais tarde em outros países), e caracterizadas especialmente pela substituição do homem pela máquina (tear mecânico e máquina a vapor, a princípio), seguida da formação de grandes conglomerados industriais. A Modernidade, que está geralmente associada à Segunda Revolução Industrial ocorrida na segunda metade do século XIX, foi o conjunto de transformações socioeconômicas iniciadas por volta de 1870 com a industrialização da França, da Alemanha, da Itália, dos Estados Unidos e do Japão, caracterizadas especialmente pelo desenvolvimento de novas fontes de energia (eletricidade e petróleo), pela substituição do ferro pelo aço e pelo surgimento de novas máquinas, ferramentas e produtos químicos (como o plástico). Entre 1909, quando Henry Ford criou a linha de montagem e inaugurou a produção em série, e o final do século XX, quase todas as indústrias se mecanizaram e a automação se estendeu a todos os setores fabris. Por sua vez, a Terceira Revolução Industrial, que está associada à Pós-Modernidade, é o conjunto de transformações socioeconômicas iniciadas a partir da segunda metade do século XX, com o surgimento de complexos industriais e empresas multinacionais, o desenvolvimento das indústrias química e eletrônica, os avanços da automação, da informática e da engenharia genética, e respectiva incorporação ao processo produtivo, que passou a depender cada vez mais de alta tecnologia e de mão de obra especializada. A Modernidade é identificada com a crença no progresso e nos ideais do Iluminismo. Entretanto, a evolução da Modernidade foi marcada por eventos que marcaram negativamente a sociedade atual. O principal deles foi sem dúvida às catástrofes da 1ª e da 2ª Guerra Mundial. Na verdade, a ciência e a tecnologia contribuíram para a barbárie de duas guerras mundiais com a invenção de armamentos bélicos poderosos e destrutivos. A ciência e a tecnologia passaram a ser utilizadas numa escala sem precedentes tanto para o bem como para o mal. Adicione-se o fato de que a ciência perdeu o seu valor, como resultado da desilusão com os benefícios que associados à tecnologia trouxe à humanidade. Todo esse desenvolvimento científico e tecnológico culminou na era atual com uma crise ecológica mundial que pode resultar em uma mudança climática global catastrófica que pode ameaçar a sobrevivência da humanidade. Nesse sentido pode-se duvidar dos reais benefícios trazidos pelo progresso científico e tecnológico com o advento da Modernidade. Em sua obra A Dialética do Esclarecimento (Zahar Editora, 1985), Theodor Adorno e Max Horkheimer, filósofos vinculados à Escola de Frankfurt, afirmam que a supremacia da ciência e da tecnologia na Modernidade preparou também o caminho para o desvario político em benefício do capitalismo de mercado. O avanço científico e tecnológico, na medida em que possibilitou tecnicamente a eliminação da miséria, trouxe, também, seu crescimento, o que, para ambos os autores, denunciaria como obsoleta a razão de ser da sociedade racional pregada pelos iluministas. Adorno e Horkheimer desconstroem o mito de que o iluminismo traria a liberdade para que os homens fossem donos de seu próprio destino e proporcionaria a conquista da felicidade para todos os seres humanos. A razão preconizada pelo Iluminismo foi substituída pela razão do capitalismo de mercado que, ao exercer seu controle sobre as forças da natureza, estendeu sua dominação também sobre os seres humanos. E o capitalismo de mercado tornou-se a instância privilegiada dessa modalidade de controle sobre a natureza e sobre os seres humanos. Sendo global e onipresente, o capitalismo de mercado dispõe da técnica necessária, fornecida pela ciência e pela tecnologia, para fazer dos homens engrenagens de seu 2

motor, anulando-os, através do princípio econômico da concorrência total. O totalitarismo do capitalismo de mercado está contribuindo para extinguir o pensamento autônomo e reforçar a uniformidade e a unanimidade em uma sociedade de massa, amorfa como a que vivenciamos na era contemporânea no mundo. Coligadas, distantes dos indivíduos, economia capitalista, ciência e tecnologia, fundidas agora como se fossem uma instância única, consolidam sua supremacia sobre a sociedade contemporânea, determinando seus rumos com a mesma desfaçatez e impessoalidade de uma mão invisível, segundo Adorno e Horkheimer. À autonomia do mercado se contrapõe a total dependência do indivíduo. O totalitarismo do mercado é capaz de produzir o homogêneo com o suporte de meios massivos de comunicação. A contrarrevolução neoliberal teve como um dos instrumentos fundamentais o paradigma da Pós-Modernidade que será abordado no próximo artigo a ser publicado A PÓSMODERNIDADE COMO IDEOLOGIA DO NEOLIBERALISMO E DA GLOBALIZAÇÃO. * Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.

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