O futuro da integração europeia - o Euro a perigo na crise grega

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02/07/2015

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30/06/2015 12h36

Artigo: O futuro da integração europeia o euro a perigo na crise grega Carlos Frederico Pereira da Silva Gama* A última tsunami financeira do século XX varreu os países emergentes entre 1994 e 2000. Principiando na crise tequila do México e passando pela Argentina, a onda de crise se tornou global na Tailândia (com a quebra do banco Barings em 1997), cresceu na Indonésia (motivando a queda da ditadura Suharto e a independência tardia do Timor-Leste) e chegou às praias de dois futuros BRICS: a Rússia, de Boris Yeltsin, e o Brasil, de Fernando Henrique Cardoso. Os emergentes se tornaram uma opção irresistível para mercados globais por exclusão. Não eram pontas-de-lança de grandes blocos econômicos (México, primo pobre do pujante NAFTA, a ASEAN engatinhava). Passavam a quilômetros do mercado integrado mais bem sucedido da época - a União Europeia, maior mercado consumidor do globo, em vésperas de criar sua moeda única, o euro. Os emergentes estavam em crise por ser uma opção interessante frente às medidas de austeridade, então em curso na UE. A contagem regressiva para o euro implicava um esforço fiscal extra para adequar os recorrentes déficits públicos às metas do Banco Central Europeu (a situação de Itália, Espanha e Portugal era particularmente vulnerável). Mas ninguém acreditava em falência do modelo de integração europeu que, em meio século, uniu adversários seculares como a França e Alemanha reunificada e ainda granjeou o apoio (ainda que por vezes condicional) da Grã-Bretanha. Candidaturas para adentrar os portões de Bruxelas incluíam quase todos os ex-integrantes da Cortina de Ferro, além de ex-repúblicas soviéticas e a Turquia. A confiança no sucesso da integração europeia e a expectativa de que o euro rivalizaria - senão superaria - com o dólar como moeda internacional de fato era inversamente proporcional à crise de confiança nos mercados emergentes de um sistema financeiro global crescentemente integrado. Ondas de crise varreram a América Latina e a Ásia. Os atentados terroristas de 11 de setembro e a invasão do Iraque monopolizariam as atenções dos Estados Unidos, antecipando uma dura desaceleração econômica. Nesse ínterim, a Europa lançaria o euro nos primeiros anos do milênio. Sabedores disso, recém-chegados à festa europeia se davam ao luxo de organizar megaeventos esportivos calculados a peso de ouro. A Grécia organizaria as primeiras Olimpíadas do Terceiro Milênio, em 2004, e ampliava perigosamente seu endividamento (com o euro já lançado, algo facilmente compensável no futuro próspero - assim pensavam os eurocratas). Pouco mais de uma década depois, uma cruel ironia paira sobre a Europa. O fantasma de um novo Crash permanece firme após o desabamento das economias do G-8 em 2008. Uma crise profunda das economias desenvolvidas não era aguardada. Se a UE foi capaz de sepultar rivalidades que arrastaram a humanidade a duas guerras mundiais, não seria capaz de sobreviver a mais uma crise do capitalismo? À luz de 1999, a Europa parecia poder aguardar os sinos da crise sem alarde e deixar as cenas mais tórridas a cargo dos emergentes da vez (os BRICS). Não foi o

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caso. Na crise, a UE não tinha uma arquitetura econômica capaz de coordenar a adoção de medidas anticíclicas. Essa descoordenação cobrou seu preço à medida que cada membro da União adotou apressadamente as medidas que julgou cabíveis: uma versão pós-moderna do efeito beggar thy neighbour. O investimento europeu nos parceiros mais frágeis (superendividados Grécia, Portugal, Irlanda, Itália e Espanha - em inglês, os PIIGS) foi dramaticamente limitado num continente cada vez mais adepto de políticas contracionistas. Nesse contexto, o esforço para adequar os orçamentos às especificações da Zona do Euro que era um sinal de robustez da integração menos de dez anos antes - se tornou uma trincheira a separar as duas Europas: os austeros que evitaram a recessão (Alemanha à frente) versus os cronicamente inviáveis (a tragédia grega mais visível). Em contrapartida, após o choque de 2008, os BRICS cresceram e se tornaram motores do crescimento global. Absorveram os impactos rapidamente e se tornaram exportadores líquidos de investimento no trajeto da crise. Em parte pela resistência dos europeus e dos EUA a partilhar poder decisório com os emergentes nas instituições financeiras internacionais, o G-20 fracassou na tentativa de ser o fórum multilateral capaz de coordenar a resposta à crise de 2008. Semanas atrás, a Rússia, de Vladimir Putin, propôs "resgatar" a Grécia com recursos dos BRICS, proposta atrelada à aquisição de gás natural russo. As vítimas de 1999 se solidarizam com os martirizados de 2015. Sinal de alento numa Europa cada vez mais fragmentária? Um ano após anexar a Crimeia, ação que lembrou os velhos czares, e de prosseguir em sua guerra de atrito com a Ucrânia, Putin preside uma economia sancionada pelos membros da União Europeia, colegas da Grécia. Previsões oficiais para o PIB russo preveem queda de 6% em 2015. Nesse contexto, novos mercados para o gás natural russo executam duas tarefas. Redirecionam exportações de gás para longe da União Europeia (respondendo, pois, às sanções) e geram divisas cada vez mais preciosas numa economia em retração (como já houvera ocorrido em 1999 e 2008). O convite para o governo do Syriza participar das reuniões dos BRICS na cidade russa de Ufa e o apoio russo à entrada da Grécia no Novo Banco de Desenvolvimento ("Banco dos BRICS") dependem, porém, da boa vontade dos chineses. A China prometeu recentemente dois megainvestimentos na Rússia: a aquisição massiva de gás natural (contrariando previsões da transição chinesa para a "economia verde") e a construção de ferrovia integrando Beijing a Moscou (250 bilhões de dólares). Essas propostas dão novo gás à política externa agressiva de Putin? Difícil dizer. Um elemento que enfraquece a proposta russa é o alto grau de investimentos chineses diretos na Grécia. O capital chinês está construindo ferrovias entre o país e a Hungria (com vias a integrar os Bálcãs), bem como transformando o porto do Pireu num hub regional - isso apenas nos últimos 6 meses. A presença chinesa na Grécia em crise pode ser a ponta-de-lança da potência oriental na ex-Cortina de Ferro europeizada. Estariam os gregos - mesmo em desespero - dependentes do auxílio russo?

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A complexa triangulação entre a endividada Grécia, do Syriza; a isolada Rússia, dos hidrocarbonetos de Putin; e o "Banco dos BRICS" tem por vértice o capital chinês. Seriam investimentos chineses nos colegas de BRICS (e alhures) desprovidos de condicionalidades? Em meio às expectativas favoráveis de que o capital chinês substitua os investimentos europeus, não custa nada lembrarmos o alto custo das expectativas positivas em relação ao euro, apenas 10 anos atrás... A proposta russa tem múltiplos efeitos. Produz uma resposta doméstica às sanções e aumenta o custo (via gás) da UE apoiar a Ucrânia, prolongando o conflito local. Ao afagar a Grécia, Putin revive ambições balcânicas do Império Russo (autointitulado "protetor dos povos eslavos", mesmo que a Grécia não se encaixe na narrativa). Atraindo a Grécia para a órbita dos BRICS, a Rússia desnudaria a inadequação da arquitetura financeira da UE (e do G-7 do qual foi recentemente acossada) e aumentaria a hemorragia política do bloco. Ao mesmo tempo, ao fazer promessas baseadas em capital chinês prometido aos BRICS, Putin assume um surpreendente

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papel de intermediário. Essa postura diz mais sobre o estado de coisas na Rússia do que gostariam seus discursos nacionalistas... A proposta russa foi um presente de grego para o Syriza. Dias depois do seu "anúncio" (e do silêncio dos demais BRICS), a UE propôs uma extensão do pagamento da dívida grega e novos empréstimos, condicionados a novos cortes orçamentários e diminuição de pensões. A carta dos BRICS lançada pela Rússia motivou a consulta popular proposta pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras sobre as condicionalidades propostas pelos credores europeus para conceder novo empréstimo bilionário, sob clima de forte polarização doméstica. Acuado, o governo grego recorre a um velho instrumento das democracias para lidar com questões inconvenientes. A UE, por sua vez, cortou negociações à luz do referendo grego. E teve início a corrida aos bancos. A vitória do "sim" representa o crepúsculo do governo grego como força política contraposta à austeridade. Vitorioso sem maioria nas urnas, o Syriza fez alianças com pequenos partidos nacionalistas e concessões no programa de governo. Acatar a vontade do eleitorado grego, nesse caso, significa a capitulação política: inviabiliza no nascedouro a alternativa da esquerda grega e transforma o projeto político do Syriza em paçoca - em um novo PASOK, o partido socialista que sucumbiu às demandas da Troika. A ameaça de uma moratória seria significativamente diminuída para os credores. Novas negociações seriam draconianas. O recuo econômico na Zona do Euro será vista como inevitável. O voto favorável à austeridade - qualificado por Jurgen Habermas como uma mistura de antibióticos com veneno de rato - reforçaria o nacionalismo e a xenofobia (em tempos de atentados do ISIS e securitização dos imigrantes). Na Grécia, um partido neonazista ocupa assentos no parlamento. A vitória do "não" cria uma situação insustentável: o default da dívida acompanhado da interrupção de facto do Euro como reserva de valor. Nesse cenário, ocorre o Grexit: a Grécia fica com sua dívida externa impagável e o euro implode. O país permaneceria juridicamente na Zona do Euro e na União, motivando desconfiança em ambos. No curto prazo, a economia grega afundaria mais. Ondas de choque do revés inédito para a integração europeia se alastrariam pelos demais PIIGS, possivelmente motivando novas baixas na Zona do Euro em espiral de crise. Perspectivas de novos membros são esquecidas. A saída grega pode dar início a uma grande deserção. Os investidores preparam suas apostas. Os países, suas reservas. Abalos fora da Zona do Euro não são comparáveis a um mecanismo de integração em colapso. Os emergentes menos dependentes do capital europeu passarão ao largo do alvoroço que perturba os PIIGs. Opção não disponível para a Rússia, que ruma para a maior queda do PIB desde a crise de 1999. Já os chineses têm muito o que comemorar nesse jogo que decidirá o futuro da EU e, possivelmente, da atual onda de globalização.

*professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Tocantins (UFT), pesquisador associado (voluntário) ao BRICS Policy Center, parceria da PUC-Rio com a Prefeitura do Rio de Janeiro, em colaboração voluntária ao SRZD

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Comentários 30/06/2015 20:20:13

KOKITO Anônimo Se todas as nações dessem o calote, os moneychangers iriam catar coquinhos na ladeira.

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