O habitus Sujeito Ecológico e a formação discente do curso Técnico em Meio Ambiente do IFBA Eunápolis

June 14, 2017 | Autor: Silvia Kimo Costa | Categoria: Educação Ambiental
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O habitus Sujeito Ecológico e a formação discente do curso Técnico em Meio Ambiente do IFBA Eunápolis1 Laura Elizabeth Ferreira1; Silvia Kimo Costa2; Milton Ferreira da Silva Junior3

1 Laura Elizabeth Ferreira. Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA)/Campus Eunápolis; graduada em Letras Vernáculas pela UNEB; Especialista em Língua Espanhola pela UEFS/BA; Mestranda

em

Desenvolvimento

Regional

e

Meio

Ambiente



PRODEMA/UESC/BA; Coordenadora de Língua Espanhola do Programa e-Tec Idiomas-IFBA; Assistente da direção de ensino do IFBA/Campus Eunápolis, membro representante do IFBA Internacional. Endereço: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia Campus Eunápolis. Av. David Jonas Fadini, S/Nº, Rosa Neto, Eunápolis - BA CEP: 45823-431. Email: [email protected]

2 Silvia Kimo Costa. Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela UESC/ BA; Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela UESC/BA; Arquiteta e Urbanista pela UFV/ MG. Professora do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC) da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) – Campus Jorge Amado, Itabuna, BA. Endereço: Universidade Federal do Sul da Bahia - Campus Jorge Amado – ITABUNA Rua Itabuna, s/n, Rod. Ilhéus - Vitória da Conquista, km 39, BR 415, Ferradas, Itabuna-BA, CEP 45613-204. Email: [email protected]

3 Milton Ferreira da Silva Junior. Doutor em Educação pela UFBA/BA; Mestre em Sociologia Rural pela UFRGS/RS; graduado em Engenharia Agronômica pela UFPE/PE. Professor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC) da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) – Campus Jorge Amado, Itabuna, BA. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação

1

Artigo publicado na Revista Educação Ambiental em Ação, n. 54; Ano XIV; 2015; p. 1-19. Disponível: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2230

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em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus/BA. Endereço: Universidade Federal do Sul da Bahia - Campus Jorge Amado – ITABUNA Rua Itabuna, s/n, Rod. Ilhéus - Vitória da Conquista, km 39, BR 415, Ferradas, Itabuna-BA, CEP 45613-204. Email: [email protected]

Resumo O presente artigo trata do habitus sujeito ecológico na formação profissional de discentes do curso Técnico em Meio Ambiente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (campus Eunápolis). Os dados foram coletados através de um questionário estruturado aplicado aos alunos do 1º, 2º e 4º ano do referido curso. A abordagem teórico-metodológica pautou-se no conceito de habitus segundo Bourdieu (1989), “interdisciplinaridade” segundo Fazenda (2008), Japiassu (2006) e Pombo (2004) e, de “sujeito ecológico” discutido por Carvalho (2010; 2006; 2001). Os resultados mostraram que o docente do IFBA –EUN não é um sujeito ecológico que contribui para a formação de sujeitos ecológicos (discentes).

Palavras chaves: Educação Ambiental; Habitus; Sujeito Ecológico.

Abstract This article deals with the ecological subject habitus’s in vocational training of students of the Environment Technical Course at Federal Institute of Education, Science and Technology of Bahia (Eunapolis campus). Data were collected through a structured questionnaire administered to students of the 1st, 2nd and 4th year of that course. The theoretical-methodological approach was marked in the habitus concept according to Bourdieu (1989), "interdisciplinarity" according Fazenda (2008), Japiassu (2006) and Pombo (2004), and "ecological subject" discussed by Carvalho (2010; 2006; 2001). The results showed that the teachers of the IFBA -EUN is not an ecological subject that contributes to the formation of ecological subjects (students).

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Key - words: Environmental Education; habitus; Ecological subject.

Introdução O presente artigo apresenta os resultados da pesquisa intitulada: “Habitus, Interdisciplinaridade e Sujeitos Ecológicos na Educação Profissional do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA Eunápolis)”, desenvolvida no período de março de 2014 a julho de 2015. A pesquisa objetivou verificar se a formação discente e postura docente são caracterizadas pelo habitus sujeito ecológico. Para coleta dos dados foi elaborado um questionário estruturado aplicado aos alunos do 1º, 2º e 4º ano do curso Técnico em Meio Ambiente do IFBA Eunápolis (IFBA – EUN). O referido instrumento foi elaborado objetivando: 1. identificar o tipo de habitus que predomina nas práticas pedagógicas ambientais

dos docentes na existentes.

2.

(des) contextualização dos problemas

verificar

como

tem

sido

a

utilização

da

interdisciplinaridade como método para se trabalhar a Educação Ambiental. E, 3. perceber singularidades que permitam identificar os sujeitos ecológicos. A pesquisa fundamentou-se teórico-metodologicamente no conceito de habitus segundo Bourdieu (1989), “interdisciplinaridade” segundo Fazenda (2008), Japiassu (2006) e Pombo (2004) e, de “sujeito ecológico” discutido por Carvalho (2010; 2006; 2001). O texto encontra-se organizado em três partes: a 1ª apresenta os conceitos que fundamentaram a pesquisa. A 2ª descreve a metodologia utilizada para coleta e análise dos dados e a 3ª apresenta os resultados da pesquisa.

Conceitos norteadores da pesquisa O que se entende por habitus. De acordo com Pierre Bourdieu (1989, p. 61): O habitus como indica a palavra, é um conhecimento adquirido, e também um haver, um capital (de um sujeito transcendental na tradição idealista), o habitus, a hexis, indica a disposição incorporada, quase postural de um agente em ação.

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Segundo Capelle et al. (2005, p. 365) os sujeitos adquirem “o habitus ao longo de sua vida e por meio das formas de socialização exercidas pela organização e pelo meio social em que vivem”. Sendo assim, o habitus é “uma estruturação (vivência) de novas experiências que tem sua base num habitus que foi adquirido anteriormente” (COSTA, 2014, p. 78). Considerando o exposto, a pesquisa partiu da hipótese de que o “sujeito ecológico” é um habitus constituído a partir da educação ambiental, e inerente ao educador ambiental, sob o viés da interdisciplinaridade. Sendo que o termo interdisciplinaridade foi tratado na perspectiva da escola, que segundo Fazenda (2008, p. 17-22) trata-se de uma: Atitude de ousadia e busca frente ao conhecimento. (...) Na interdisciplinaridade escolar, as noções, finalidades habilidades e técnicas visam favorecer, sobretudo o processo de aprendizagem, respeitando os saberes dos alunos e sua integração. (...) somente torna-se possível onde várias disciplinas se reúnem a partir de um mesmo objeto.

Já o termo “educação ambiental”, de acordo com Layrargues (2004, p. 07) é: Um vocábulo composto por um substantivo e um adjetivo, que envolvem, respectivamente, o campo da Educação e o campo Ambiental. Enquanto o substantivo Educação confere a essência do vocábulo “Educação Ambiental”, definindo os próprios fazeres pedagógicos necessários a esta prática educativa, o adjetivo Ambiental anuncia o contexto desta prática educativa, ou seja, o enquadramento motivador da ação pedagógica. O adjetivo ambiental designa uma classe de características que qualificam essa prática educativa, diante desta crise ambiental que ora o mundo vivencia. Entre essas características, está o reconhecimento de que a Educação tradicionalmente tem sido não sustentável, tais quais os demais sistemas sociais, e que para permitir a transição societária rumo à sustentabilidade, precisa ser reformulado. Educação Ambiental, portanto é o nome que historicamente se convencionou dar às práticas educativas relacionadas à questão ambiental.

Segundo Guimarães (2004, p. 30-31) a educação ambiental deve ser crítica objetivando: Promover ambientes educativos de mobilização de processos de intervenção sobre a realidade e seus problemas socioambientais, para que possamos nestes ambientes superar as armadilhas paradigmáticas e propiciar um processo educativo, em que nesse exercício, estejamos, educandos e

http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2230 educadores, nos formando e contribuindo, pelo exercício de uma cidadania ativa, na transformação da grave crise socioambiental que vivenciamos todos.

De acordo com Carvalho (2001), a educação ambiental é a ação do sujeito ecológico dentro do campo da educação. Ao constituir-se enquanto prática educativa, a educação ambiental também se filia ao campo da educação propriamente dito, e é da confluência entre o campo ambiental e algumas tradições educativas que vão surgir orientações específicas dentro da educação ambiental (CARVALHO, 2001, p. 188).

Carvalho (2010, p. 04), afirma que a noção de sujeito ecológico “configura o horizonte simbólico do profissional ambiental de modo geral e, particularmente, do educador ambiental”. Por esse motivo o ”sujeito ecológico” pode ser considerado um habitus.

O sujeito ecológico, em poucas palavras, é um modo de ser relacionado à adoção de um estilo de vida ecologicamente orientado. Trata-se de um conceito que dá nome àqueles aspectos da vida psíquica e social que são orientados por valores ecológicos. (...) O sujeito ecológico designa um ideal ecológico, uma utopia pessoal e social norteadora das decisões e estilos de vida dos que adotam, em alguma medida, uma orientação ecológica em suas vidas (CARVALHO, 2010, p. 01-02). Um sujeito que pode ser visto em sua versão grandiosa como um sujeito heroico, vanguarda de um movimento histórico, herdeiro de tradições políticas de esquerda, mas protagonista de um novo paradigma político-existencial; em sua versão new age é visto como alternativo, integral, equilibrado, harmônico, planetário, holista; e também em sua versão ortodoxa, onde é suposto aderir a um conjunto de crenças básicas, uma espécie de cartilha – ou ortodoxia – epistemológica e política da crise ambiental e dos caminhos para enfrentá-la (CARVALHO, 2001, p. 187-188).

Considerando o exposto, se o sujeito ecológico é um habitus constituído a partir da educação ambiental e inerente ao educador ambiental, logo o educador ambiental contribui para a formação de sujeitos ecológicos. Dessa forma, questionou-se: seriam os docentes do Curso Técnico em Meio Ambiente do Instituto Federal da Bahia, do referido curso, educadores ambientais? Sujeitos ecológicos que contribuem para a formação de sujeitos ecológicos (discentes)?

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O Projeto Pedagógico Institucional (PPI) do IFBA apresenta como Missão “promover a formação do cidadão histórico-crítico, oferecendo ensino, pesquisa e extensão com qualidade socialmente referenciada, objetivando o desenvolvimento sustentável do país” (PPI, 2013, p. 27). E ao estabelecer os princípios que delimitarão a atuação do instituto, afirma que:

A busca da integração interdisciplinar permitirá a geração, construção e utilização do conhecimento produzido pelo ensino e pela pesquisa aplicada para solução de problemas econômico-sociais da região. A vinculação estreita à tecnologia, destinada à construção da cidadania, da democracia e da vida ativa de criação e produção solidárias em uma perspectiva histórico - crítica; O IFBA comprometer-se-á com a preservação ambiental, de forma a garantir a sustentabilidade nas suas ações (PPI, 2013, p. 28-29).

Como principio filosófico que direcionam as práticas de ensino e aprendizagem no Instituto, assegura-se que o desenvolvimento da formação do cidadão histórico - critico, perpassa pelo: (...) desenvolvimento do senso crítico em relação ao mundo que o cerca, buscando instrumentalizá-lo para que ele busque se direcionar pelos princípios de igualdade, solidariedade e sustentabilidade. (...) A formação de um cidadão que incorpore a profissionalização sustentável deve ser construída cotidianamente com a assunção das responsabilidades individuais e coletivas de cada professor (a), técnico (a), estudante (PPI, 2013, p. 34).

Além do PPI, o Projeto Pedagógico (PP) do Curso Técnico em Meio Ambiente, define como perfil do egresso:

Profissionais dentro do novo paradigma ambiental intuindo uma formação sistêmica voltada ao estudo, planejamento e gerenciamento dos recursos naturais e humanos almejando a construção de comunidades sustentáveis (PPC, 2011, p. 13).

Tanto e PPI quanto o PP do Curso Técnico em Meio Ambiente do Instituto Federal da Bahia (campus Eunápolis) sinalizam para a formação de profissionais com características de um sujeito ecológico. Entretanto, considerando o vivenciar cotidiano dos docentes e discentes em relação às práticas de ensino e aprendizagem e aos conteúdos programáticos das

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disciplinas que compõem a grade curricular do curso, surgiu outro questionamento: o “discurso” escrito no PPI e no PP se efetiva na prática?

Metodologia O IFBA Eunápolis O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA Eunápolis localiza-se no município de Eunápolis situado no extremo sul do Estado da Bahia; foi inaugurado em 1994 e entrou em funcionamento em 1995. Há 20 anos vem oferecendo cursos técnicos na modalidade subsequente e integrada nas seguintes áreas: enfermagem; construção civil (edificações); meio ambiente e mais recentemente (desde 2014) segurança do trabalho. Além dos cursos técnicos, o Instituto oferece cursos superiores em: Matemática (licenciatura e bacharelado); Engenharia Civil e Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas. O

IFBA-Eunápolis

apresenta

a

seguinte

infraestrutura:

núcleo

administrativo e de direção geral; núcleo de direção de ensino e sala para professores; 1 restaurante para alunos provenientes de famílias de baixa renda; 35 salas de aula com capacidade para 40 alunos; 1 Laboratório de Geoprocessamento; 1 Laboratório de Bioquímica; 1 Laboratório de Matemática; 1 Laboratório de Modelos Matemáticos; 1 Laboratório de Desenho; 2 Laboratórios de Desenho Arquitetônico; 1 Laboratório de Física; 1 Laboratório de Química; 1 Laboratório de Biologia; 1 Laboratório de práticas em Enfermagem; 1 Laboratório de Redes de Computador; 4 Laboratórios de Informática; 1 Laboratório de Edificações multidisciplinar (laboratório de mecânica dos solos; laboratório de materiais de construção e laboratório de instalações elétricas); 1 Sala de Línguas; 1 Sala de Audiovisual; 1 Sala de Ginástica; 1 Auditório e 1 Biblioteca com acesso à internet; módulos de sanitários e vestiários; 1 quadra poliesportiva coberta; 1 quadra para futebol de grama não coberta e 1 pista de corrida.

Coleta dos dados Para coleta dos dados foi elaborado um questionário estruturado objetivando identificar posturas discentes e docentes pertinentes à formação do

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técnico em Meio Ambiente do IFBA Eunápolis. O instrumento dividiu-se em três seções: 1ª seção: perguntas que permitissem identificar o tipo de habitus que predomina nas práticas pedagógicas dos docentes sujeitos da pesquisa, na (des) contextualização dos problemas ambientais existentes. 2ª seção: perguntas que possibilitassem verificar como tem sido a utilização da interdisciplinaridade como método para se trabalhar a Educação Ambiental e desenvolver atitudes voltadas para a formação do sujeito ecológico. 3ª seção: perguntas que permitissem perceber singularidades que caracterizam os sujeitos ecológicos. 92% dos discentes matriculados no curso participaram da pesquisa. Deste total, 50% eram discentes ingressantes e aproximadamente 15% estavam concluindo o curso; os discentes estavam entre o segundo e terceiro ano. Por questões didáticas, o questionário foi reestruturado para os discentes ingressantes, pois se considerou que estes discentes ao ingressarem no Instituto se envolvem com as atividades que objetivam sua adaptação ao cotidiano da escola.

Análise dos dados Os questionários, tanto para discentes ingressantes no curso, quanto para veteranos, foi disponibilizado por email via link (Googleforms). Os discentes acessaram o link (do questionário) dos computadores da Instituição em horário previamente agendado. Os questionários depois de respondidos foram enviados diretamente para o email da pesquisadora. A pesquisadora acessou cada questionário e quantificou as respostas em Excel. Os resultados foram representados através de gráficos. As duas primeiras seções dos questionários foram analisadas de maneira comparativa entre dois grupos. Na terceira seção, por se tratar de vivências anteriores ou questões mais amplas e, porque não houve diferença expressiva nos tipos de resposta, optou-se por trabalhar com a totalidade dos participantes.

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Resultados e discussões A primeira seção do questionário abordou: planejamento, ementas das disciplinas, PPC do curso, inserção da Educação Ambiental (EA) nas disciplinas e conceito de EA. Do total de participantes, os discentes ingressantes responderam positivamente quando questionados se os docentes apresentaram o PPC do Curso, as ementas e o planejamento anual das disciplinas (Figura 1).

Figura 1: Respostas relacionadas à apresentação de ementas e PPC do curso técnico em Meio Ambiente

Projeto Pedagógico do Curso Alunos ingressantes

Alunos veteranos

73,8 61

PPC do curso Fonte: resultados da pesquisa

Nota-se que há um cuidado maior com os discentes ingressantes, no que diz respeito à apresentação, funcionamento e planejamento do curso. Questionados sobre o que é Educação Ambiental (EA) os discentes entre o 2º e 4º ano responderam que conhecem o que é EA porque é trabalhado nas disciplinas técnicas, enquanto que os discentes ingressantes afirmam conhecer o termo, mas não conhecem ou nunca foi trabalhado no ensino fundamental (Figura 2).

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Figura 2: Respostas Educação Ambiental

relacionadas

ao

conceito

de

GRÁFICO 02 – Quando questionados se conhecem o conceito de

Dados da ambiental. pesquisa educação

Quando perguntados se os conteúdos das disciplinas de núcleo comum abordam a EA, os discentes do 2º a 4º ano manifestaram que apenas alguns professores inserem a temática nas referidas disciplinas, e em algumas disciplinas técnicas está implícita a EA (Figura 3). Figura 3: Respostas relacionadas à quais disciplinas abordam a Educação Ambiental

GRÁFICO 03- DISCIPLINAS ABORDAM A EA Dados da pesquisa

Os discentes do primeiro ano, não souberam responder a esta questão, em virtude do tempo em que se encontram na Instituição. Assim, confrontado com o artigo 8º da Resolução nº 02/2012, que dispõe as Diretrizes Nacionais

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para a Educação Ambiental, percebe-se que as práticas educativas, ainda que integrem as temáticas abordadas pela Educação Ambiental ao planejamento escolar, não alcançam a dimensão proposta pelo marco legal. A segunda seção do questionário objetivou verificar o exercício da interdisciplinaridade na inserção da EA no currículo do curso Técnico em Meio Ambiente do IFBA-EUN. Sendo assim, quando questionados sobre qual disciplina trabalha a EA em seu conteúdo de maneira interdisciplinar, constatou-se que os discentes não conseguem sequer identificar quando os professores propõem práticas interdisciplinares (Figura 4). Figura 4: Respostas relacionadas à EA, conteúdo trabalhado nas disciplinas e Interdisciplinaridade. 60 Quando varias disciplinas abordam o mesmo tempo com diferentes enfoques

50 40 30

Quando varias disciplinas abordam de forma integrada o mesmo tema.

20 10 0 CalourosVeteranos Dados da pesquisa

Essa atitude reflete um habitus voltado para as práticas de ensino e aprendizagem que privilegiam a especialização dos saberes. Verificou-se que há uma dificuldade por parte do docente em inserir práticas interdisciplinares dentro do “espaço” (seja o edificado da escola, seja o simbólico das relações sociais) onde não se pratica a interdisciplinaridade. Mas por que não se pratica a interdisciplinaridade no IFBA-EUN? Não se pratica o que se desconhece ou se conhece parcialmente, ou ainda não se identifica se não houver um habitus capaz de impulsionar para a prática, mesmo que seja intuitiva. Segundo Pombo (2004, p. 25): Uma última palavra diz respeito ao facto de a interdisciplinaridade se deixar pensar, não apenas na sua faceta cognitiva, enquanto

http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2230 sensibilidade à complexidade, capacidade de penetração do olhar no sentido da procura de mecanismos comuns, estruturas profundas que possam articular o que aparentemente não é articulável, mas também em termos de atitude: curiosidade, vontade de saber, interesse real por escutar o que o outro tem para dizer, gosto pela colaboração, pela cooperação, pelo trabalho em comum, disponibilidade para abandonar a segurança do seu domínio próprio, para interromper o conforto da sua linguagem técnica, para se aventurar em campos – lavrados por muitos, é certo – mas de que ninguém é proprietário exclusivo.

Quando perguntado em que tipo de ambiente as aulas acontecem, verificou-se que os docentes escolhem diferentes espaços dentro da escola de acordo com o nível dos discentes - ingressantes e veteranos (Figuras 5 e 6). Figura 5: Respostas relacionadas aos ambientes onde ocorrem as práticas de ensino e aprendizagem – discentes ingressantes. 60 50 40 30 20 10 0

56

AMBIENTES DE AULA 20

15

8

INGRESSANTES

Dados da pesquisa

Figura 6: Respostas relacionadas aos ambientes onde ocorrem as práticas de ensino e aprendizagem – discentes veteranos.

AMBIENTE DE AULA 40 35 30 25 20 15 10 5 0

38

10

7

4 VETERANOS

Em sala de aula

Dados da pesquisa

Às vezes em Em sala de Em todos os sala de aula e aula, espaços que a outra em laboratório e escola oferece espaços ao ar visitas e visitas livre. técnicas. técnicas e laboratório

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A opção “em sala de aula” foi a mais votada pelos dois grupos, ainda, entre os ingressantes a segunda opção escolhida com 20,2%, foi em “em sala de aula, laboratório e visita técnica”, enquanto que no grupo dos discentes veteranos, 11,9% fez essa seleção. As respostas demonstraram que à medida que o aluno vai passando para as séries subsequentes, menor é a frequência de uso dos espaços alternativos para as práticas de ensino e aprendizagem das disciplinas. Isso provoca uma repetição/ padronização de práticas em função do espaço físico da escola. Questionados em relação a qual tipo de aula mais os agrada (Figura 7) verificou-se que não há uma preferência pelos projetos interdisciplinares, e as respostas se polarizam basicamente para as aulas de cunho mais conservador; tradicionais – professor como detentor do conhecimento que expõe o conteúdo e o aluno como receptor passivo (ELALI, 2003, 2002). Observou-se que os pontos

de

contato

entre

as

disciplinas

que

possibilitariam

uma

interdisciplinaridade, segundo Japiassu (2006), é pouco explorado. A fragmentação do conhecimento é priorizada corroborando um processo de “esquadrinhamento” do processo educacional (COSTA, 2014).

Figura 7: Respostas relacionadas à preferência dos alunos quanto às práticas de ensino e aprendizagem

60 50 40 30 20 10 0

TIPO DE50 AULAS 39 29 16

15 4

Dados da pesquisa

1

4

INGRESSANTES VETERANOS

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A Organização Didática do IFBA instrui para aplicação de três instrumentos de avaliação por disciplina durante a unidade. Ao serem questionados sobre as práticas habituais de avaliação propostas pelos professores do curso (Figura 8), as respostas indicaram que, para os discentes ingressantes, as atividades avaliativas são distribuídas, de certa forma, igualitariamente. Entretanto, para os discentes veteranos (alunos do 2º ao 4º ano) o tipo de avaliação está concentrado em instrumentos que pouco colaboram para práticas interdisciplinares, visto que, a interação com outras disciplinas fica reduzida a possíveis links que o professor faça nas questões elaboradas ou nas apresentações, sem necessariamente, haver outra forma de interação.

Figura 8: Respostas relacionadas às práticas docentes de avaliação. 40 35 30 25 20 15 10 5 0

35

35

12

11 2,4

4,4

1,8

1

2,8

INGRESSANES

5 0

0

VETERANOS

Dados da pesquisa

A terceira seção do questionário buscou identificar atitudes singulares que sinalizam possíveis sujeitos com o habitus sujeito ecológico. Assim, quando perguntado o que representou a natureza na infância (Figura 9), 61% dos discentes responderam que a natureza foi um lugar de reflexão e brincadeiras, e 17% o momento de férias.

http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2230 Figura 9: Respostas relacionadas à Natureza na infância dos alunos. 70% 60%

LUGAR DE BRINCADEIRAS

50%

UMA IMAGEM

40% 30%

A POSSIBILIDADE DE CONHECER O OUTRO

20%

ALGO DISTANTE

10% FÉRIAS

0% ALUNOS MEIO AMBIENTE Dados da pesquisa

Pressupõe-se que a maioria dos entrevistados teve um contato direto com a natureza durante a sua infância. De acordo com Chawla (2009) a criança, que durante a infância teve oportunidade de conviver em espaços naturais, desenvolvendo atividades prazerosas, têm maiores possibilidades de se tornar um sujeito engajado em questões ambientais, pois “através de experiências

positivas

com

a

Natureza,

as

crianças

ganham

tanto

conhecimento quanto conexão emocional com o Mundo Natural” (CHAWLA, 2009, p. 7, tradução nossa). Os discentes também responderam em relação ao direcionamento da família sobre o cuidado com a natureza. 126 discentes afirmaram que é uma preocupação da família o cuidado com a natureza. A figura 10 mostra a proporção de discentes que recebem esta orientação já no seio familiar.

http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2230 Figura10: Respostas relacionadas ao cuidado com a Natureza.

Cuidado com a natureza Não há ou não me lembro deste tipo de conversa na minha familia Não, o cuidado está direcionado principalmente ao fator econômico Sim, é uma preocupação dos meus pais 38

126 21 Alunos do meio ambiente

Dados da pesquisa

No que se refere à infraestrutura que a cidade oferece para passeios, o lazer em contato com a natureza, e se estes lugares estão bem cuidados, oferecendo espaços arborizados, segurança, espaço para convivência, lazer ou descanso. De acordo com a figura 11, 66% dos discentes acreditam que a cidade não oferece infraestrutura para este tipo de atividade. Ainda quando perguntado

se

costumam

frequentar

estes

espaços,

121

discentes

responderam que às vezes costumam frequentar. Figura11: Respostas relacionadas à infraestrutura da cidade que permite contato com a Natureza.

Espaços Verdes Arborizadas, com espaço para convivência, lazer e descanso Desorganizada, sem espaço para sentar à sombra de uma árvore, são poucas e mal-cuidadas Inexistentes 33%

66% 1% Alunos do meio ambiente

Dados da pesquisa

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3 Considerações finais O sujeito ecológico é um habitus constituído a partir da educação ambiental e inerente ao educador ambiental, logo o educador ambiental contribui para a formação de sujeitos ecológicos. Considerando o exposto, verificou-se que o tanto o PPI quanto o PP do Curso Técnico em Meio Ambiente do Instituto Federal da Bahia (campus Eunápolis) sinalizam para a formação de profissionais com características de um sujeito ecológico. Entretanto, questionou-se: considerando o vivenciar cotidiano dos docentes e discentes em relação às práticas de ensino e aprendizagem e aos conteúdos programáticos das disciplinas que compõem a grade curricular do curso, o “discurso” escrito no PPI e no PP se efetiva na prática? Os resultados da pesquisa mostraram que não. Existe um habitus contrário ao ideário da Educação Ambiental, pois no IFBA-EUN a Educação Ambiental, na prática, fica a cargo das disciplinas técnicas, cujas práticas de ensino e aprendizagem raramente ocorrem de maneira interdisciplinar. Constatou-se que o docente do curso Técnico em Meio Ambiente do IFBA – EUN não é um sujeito ecológico. No entanto, há uma predisposição dos discentes em vivenciar/ adquirir o referido habitus. Porém, a falta de infraestrutura urbana em espaços como praças, parques e outros locais que permitam maior contato com a Natureza, contribui para minimizar essa predisposição. A pesquisa sinaliza para a necessidade de mudanças na postura docente do curso Técnico em Meio Ambiente do IFBA – EUN, no sentido de compreender que a Educação Ambiental não é um apêndice a ser incorporado às disciplinas, mas sim um núcleo norteador (sejam de disciplinas do tronco comum – física, biologia, matemática, história, geografia.... sejam de disciplinas técnicas), numa abordagem interdisciplinar, pois a mesma não existe sem a interdisciplinaridade. Somente quando o docente se tornar um educador ambiental, ele também

será

um

sujeito

ecológico

e

conseguirá

contribuir

para

o

desenvolvimento da consciência ambiental e aperfeiçoamento de atores políticos, favorecendo aos discentes um olhar crítico sobre a relação ambiente

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/sociedade, possibilitando, dessa forma, a formação de profissionais com participação social ativa, envolvidos no processo da gestão ambiental.

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