O IMAGINÁRIO DAS LENDAS DE DANDARA DOS PALMARES: UMA LEITURA CRÍTICA E REFLEXIVA

May 26, 2017 | Autor: Rubi Vieira | Categoria: Literatura Afro Brasileira
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O IMAGINÁRIO DAS LENDAS DE DANDARA DOS PALMARES: UMA LEITURA CRÍTICA E REFLEXIVA RUBIANE VIEIRA DE JESUS1 RESUMO: Este presente trabalho configura-se como uma proposta de leitura para discentes dos anos finais do ensino fundamental II e tem como principal objetivo estimular a possibilidade de uma leitura crítica e reflexiva utilizando as lendas de uma negra, negra, guerreira, heroína e protagonista de sua própria história como forma de resistência a uma sociedade que, em dias atuais, ainda é exageradamente excludente. Percebe-se que, apesar dos avanços nos estudos relacionados à história e cultura afrobrasileira, é perceptível que esta temática ainda é abordada de forma considerável em nossa sociedade, em dois momentos distintos: no mês de maio, com a discussão sobre a Abolição da Escravatura e em novembro, com a realização de eventos sobre a consciência negra. Segundo Duarte (2001), faz-se necessário ampliar a visibilidade e aprofundar a reflexão a respeito da escritura dos afro-brasileiros no passado e no presente. A omissão da maioria desses autores é comum nas obras de crítica e historiografia literárias, responsáveis pela institucionalização do cânone. A referida proposta tem como etapa metodológica roda de conversa, varal de lendas, exposição de documentários, música, discussão e socialização de saberes construídos, e assim fomentar a discussão crítico-reflexiva do educando. Com isso, o presente trabalho discute a importância da figura feminina Dandara como sinônimo da resistência negra em um meio social ainda muito discriminatório e excludente. Trabalhar com lendas possibilita oferecer ao discente a formação de identidade do povo negro, além de possibilitar o resgate da cultura africana, muitas vezes esquecida ou feita de forma equivocada por nós educadores. PALAVRAS-CHAVE: Dandara dos Palmares; Resistência; Cultura Afro-brasileira, Leis 10.639/03 e 11.645/08 RESUMEN: El presente trabajo se configura como una propuesta de lectura para estudiantes de los últimos años de la escuela primaria II y tiene como objetivo fomentar la posibilidad de una lectura crítica y reflexiva utilizando de las leyendas de una negra, negra, guerrera, heroína y protagonista de su propia historia como una forma de resistencia a una sociedad que, en la actualidad, todavía es demasiado excluyente. Se dio cuenta de que a pesar de los avances en los estudios relacionados con la historia y la cultura afro-brasileña, Llama la atención que este tema también se discute mucho en nuestra sociedad , en dos momentos distintos: en mayo, con el debate sobre la abolición de la esclavitud y en noviembre, con la celebración de eventos acerca de la conciencia negra. Según Duarte (2001), hace necesario para aumentar la visibilidad y profundizar la reflexión sobre la escritura africano-brasileños en el pasado y el presente. La omisión de la mayoría de estos autores es común en trabajos de críticas y la historiografía literaria responsable por la institucionalización del canon. La propuesta tiene como etapa metodológica, círculo de conversación, tendedero de leyendas ,exposición documental música, discusión y el intercambio de conocimientos construidos Y así fomentar la discusión críticareflexiva del estudiante. Por lo tanto, este trabajo discute la importancia de la figura femenina Dandara como sinónimo de la resistencia negra en un entorno social sigue todavía muy discriminatoria y excluyente. Trabajar con leyendas permite ofrecer a los estudiantes la formación de la identidad de las personas de raza negra, además de permitir el rescate de la cultura africana, muchas veces olvidada o hecha de forma equivocada por nosotros los educadores.

* Mestranda em Letras/ PROFLETRAS pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), campus V. E-mail: [email protected]

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PALABRAS CLAVE: Dandara dos Palmares; resistencia; Cultura Afro-brasileña, Leyes 10.639 / 03 y 11.645 / 08

1 Introdução Apesar dos avanços nos estudos relacionados à história e cultura afro-brasileira, é perceptível que esta temática ainda é abordada, em nossa sociedade, em dois momentos distintos: no mês de maio, com a discussão sobre a Abolição da Escravatura e em novembro, com a realização de eventos sobre a Consciência Negra. Com isso, o presente trabalho tem como intuito discutir a importância da figura feminina Dandara como sinônimo da resistência negra em um meio social ainda muito discriminatório e excludente sem esperar uma data específica para promover esta discussão. É perceptível o pouco reconhecimento feminino, no que diz respeito ao espaço que a mulher negra tem na sociedade, relegando a ela, muitas vezes, uma representatividade secundária, subalterna e deveras pejorativa. Tão importante quanto Zumbi, Dandara dos Palmares, a raiz negra protagonista de uma negritude lutadora nos oferece um legado de resistência às imposições e conquista de um espaço muitas vezes dominado pelo homem. E assim mesmo, não observamos estudos sobre ela e sua importância na cultura afro-brasileira, pois não se adequa ao modelo sexista que por muitas vezes encontramos em nosso convívio social. 2 O texto literário para uma educação de significância A prática e a exploração da literatura no ambiente escolar configuram-se como valiosas formas de promoção para um educar de qualidade. É extremamente importante o uso da leitura como forma de aprimorar o intelecto humano; assim, faz-se necessário um olhar para esta forma de expressão como meio de promover uma educação significativa, que transforme nossas práticas pedagógicas e, consequentemente, modifique nossos ambientes escolares. As instituições públicas de ensino do Brasil são consideradas locais que necessitam urgentemente de uma ressignificância, no que tange a sua finalidade de mediar na inserção do alunado nessa sociedade dinâmica e desafiadora. Ao observarmos a estrutura do ensino brasileiro, não podemos negar que a mesma possui uma série de deficiências e realmente precisa ser reorganizada no que se refere, principalmente, ao gosto pela leitura e suas especificidades. É perceptível que o desinteresse pela leitura promove uma série de dificuldades. E, ao observar-se a quantidade elevada de educandos que somente decodifica as palavras, sem construir o entendimento necessário para a promoção do conhecimento, faz-se necessária uma reflexão acerca de nossa prática docente que, muitas vezes, ainda é ultrapassada e não auxilia na promoção da criticidade do discente. Com o intuito de ajudar nos processos dinâmicos que fazem parte do nosso aprender, bem como permitir que o educando leia, fale e discuta os textos, além de ter posicionamento crítico-reflexivo, é necessário o desenvolvimento de estratégias que o estimule nas mais diversas formas de expressão oral e escrita, a resgatar o hábito prazeroso de ler. E assim, promover o domínio crítico da língua vernácula como meio de auxiliá-lo a na expansão de suas ideias sobre as diversas manifestações culturais em nossa nação. A leitura deve ser vista, portanto, como uma: [...] “leitura de verdade”, aquela que realizamos os leitores experientes e que nos motiva, é a leitura na qual nós mesmos mandamos: relendo, parando para saboreá-la ou para refletir sobre ela [...]” (SOLÉ, 1998, p.43)

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Ao promover a leitura tendo como base a concepção dialógica da língua, percebemos a possibilidade de desenvolvimento e o crescimento do leitor que é, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN, Alguém que compreende o que lê; que possa aprender também o que não está escrito, identificando elementos implícitos; que estabeleça relações entre o texto que lê e outros textos já lidos; que saiba que vários sentidos podem ser atribuídos a um texto; que consiga justificar e validar a sua leitura a partir da localização de elementos discursivos (BRASIL, 1998, p. 54).

Nossas escolas ainda continuam sendo o espaço democrático de mediação cultural. Com isso, a ideia do professor como mero transmissor de conteúdos e conhecimentos perde espaço para uma educação cujo docente atua como figura intermediadora neste processo. O docente recebe o importante papel de auxiliar a reconstrução do aprendizado do aluno, e este ser o protagonista de sua formação crítico-reflexiva. É mais do que necessário, construir com esses educandos a prática de buscar informações e a superação de desafios, e assim, oportunizar uma prática autônoma de leitura e análise pautada na reflexão. Segundo Antunes (2009, p. 36, 37), para que esse processo de uma leitura com real significado ocorra, é necessário fazer uso de meios que estimulem o educando a ler, além de traçar estratégias para que este seja um hábito constante na vida do mesmo, a exemplo do bom acesso e orientação aos diversos tipos de materiais literários, a variedade de materiais que promovam esta prática, oportunidade de atenção às finalidades a serem alcançadas, sem esquecer-se de fazer uso de metodologias que promovam hábitos de formação do gosto pela leitura e, a partir desse gosto, que eles adquiram habilidade de ler e interpretar, de forma prazerosa e contínua. Para os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p. 37) A literatura não é cópia do real, nem puro exercício de linguagem, tampouco mera fantasia que se asilou dos sentidos do mundo e da história dos homens. Se tomada como uma maneira particular de compor o conhecimento, é necessário reconhecer que sua relação com o real é indireta. Ou seja, o plano da realidade pode ser apropriado e transgredido pelo plano do imaginário como uma instância concretamente formulada pela mediação dos signos verbais (ou mesmo não verbais conforme algumas manifestações da poesia contemporânea).

Ao afirmar a necessidade de inserção da literatura no ensino fundamental, este projeto se insere na democratização de um aprendizado pautado na análise e utilização da literatura como meio de promoção do poder crítico e reflexivo do educando e que o mesmo se torne um leitor atuante, analítico e literariamente letrado. Portanto, o presente projeto objetiva a inserção de um aprendizado efetivamente democrático, além de discutir as relações existentes entre leitura e, compreensão crítica, fazendo uso de lendas para a inserção de estudos relacionados à história e cultura afro-brasileira. Mais de uma década após da implantação da Lei 10.639, que promulga a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira, e quase dez anos da Lei 11.645, que inclui a temática indígena na rede de ensino, é preocupante observar que muitas instituições ainda não reconhecem a necessidade de discussão e, apesar dos processos de conscientização e formação docente, a prática efetiva parece ser uma realidade distante. Em uma sociedade

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multicultural como a nossa, o ensino ainda foge do modelo democrático ao propagar uma representação unidimensional da cultura eurocêntrica, relegando ao negro uma representatividade secundária, subalterna e pejorativa. E assim, as aulas sobre essa questão são, em muitas instituições escolares, relegadas somente ao ensino conteudista em aulas de História, com pouca discussão, sem o uso de textos reflexivos e produções textuais que promovam a criticidade do educando, a partir do conhecimento da cultura negra como parte imprescindível no processo de respeito e valorização. Não se pode negar, contudo, que a Lei abriu espaço para que temáticas voltadas para a cultura ganhassem visibilidade em ambientes que a abraçaram. Assim, foram ampliadas essas discussões e muitos docentes mostram-se preocupados e engajados na luta pela valorização da cultura afro-brasileira e dos estudos etnicorraciais, principalmente através das obras literárias. As instituições públicas de ensino configuram-se espaços primordiais para a execução de projetos voltados para a leitura e compreensão crítica. Assim, ações voltadas para a cultura afro-brasileira e estudo das relações etnicorraciais, neste espaço, pode vir a ser a mola propulsora para transformações no que tange a diminuição da visão estereotipada de muitos educandos em relação ao negro e suas tradições. 3 Dandara dos Palmares na construção de espaços de poder Intitulado O imaginário das lendas de Dandara dos Palmares: uma leitura crítica e reflexiva, este trabalho tem como intuito proporcionar aos educandos acesso a história de luta, poder e resistência de Dandara, mulher do líder Zumbi dos Palmares, como forma de valorização da mulher no processo de construção da identidade negra. A ideia é trabalhar esta temática com alunos do 9º ano do ensino fundamental II, a obra intitulada “As lendas de Dandara dos Palmares”, narrativa de autoria de Jarid Arraes, que trabalha com dez narrativas sobre a guerreira quilombola Dandara, desde sua origem, luta, conquistas, poder e resistência. A temática está voltada para o empoderamento da mulher negra e sua grande contribuição para nossa história guerreira e miscigenada. Na historiografia, a origem de Dandara é permeada de controvérsias, pois quase não existem relatos sobre sua vida e seus atos. Talvez por isso o seu esquecimento, pois, diante da figura de seu esposo, Zumbi, a história precisa estudar história de Dandara, pois quase não se fala sobre ela e alguns ainda defendem a teoria de que a mesma está presente apenas imaginário. Mas não podemos negar que, fictícia ou não, a figura dela nos proporciona reflexões essenciais acerca da resistência da mulher negra ao processo dominante de escravidão. E o dia seis de fevereiro, dia não só da morte de Dandara, mas também da consciência da mulher, da liderança e do protagonismo negro, passa despercebido nos ambientes escolares. Na obra “As lendas de Dandara”, a mesma é a protagonista da luta e resistência negra, ao recusar-se a submissão de ser escrava e, um ano antes de Zumbi, se jogou de um abismo para não se entregar às forças que dominaram o Quilombo dos Palmares. As abordagens pontuais sobre o tráfico humano e a escravidão, nesta obra, nos fazem refletir sobre o violento processo de domínio, extermínio e violência sofridos pelos negros, além de provocar profundas discussões acerca do suicídio, pois Dandara prefere morrer a tornar-se escrava novamente. É fato e notório que as literaturas ditas marginais ainda não são consideradas significativas por grande parte da sociedade. Propositadamente, os escritores que se propõem a discutir esta temática ainda sofrem um apagamento, são esquecidos ou sofrem o processo de invisibilidade na literatura. Vemos então, com isso, o quanto é necessária esta discussão. Tomemos como base o autor Eduardo Assis, na obra “Entre Orfeu e Exu, a afrodescendência toma a palavra”. A partir dessa leitura, percebemos quantos escritores negros e

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afrodescendentes, sofrem declaradamente um processo exacerbador de apagamento e invisibilidade. Precisamos, contudo, reverter esse quadro, além de: Ampliar a visibilidade e aprofundar a reflexão a respeito da escritura dos afrobrasileiros no passado e no presente. A omissão da maioria desses autores é comum nas obras de crítica e historiografia literárias, responsáveis pela institucionalização do cânone. (DUARTE, p. 19, 2011)

Ao negro, ainda cabe uma visão preconceituosa e estereotipada. Expressões pejorativas utilizadas, ideia que o negro só serve para estar à margem da sociedade, o belo como a cor clara, o estético transmitido como o modelo padrão e muitos outros equívocos são perceptíveis em nosso convívio social. E muitas escolas, centros de desenvolvimento da formação do indivíduo, ainda analisa o livro didático superficialmente. Muitos destes difundem em seus textos, de forma geralmente velada, preconceitos e práticas racistas. Segundo Silva (1995, p. 47), “O livro didático, de modo geral, omite o processo histórico–cultural, o cotidiano e as experiências dos segmentos subalternos da sociedade, como o índio, o negro, a mulher, entre outros. Em relação ao segmento negro, sua quase total ausência nos livros e a sua rara presença de forma estereotipada concorrem em grande parte para a fragmentação da sua identidade e auto estima”. E são estes que servem como referência para o ensino em sala de aula. É lógico que devem ser utilizados como material de apoio, mas sendo ressignificado no que tange a formação do poder crítico do discente. Ao optar pela lenda, gênero literário que aguça a criatividade e imaginação do educando, a proposta é despertar esse imaginário a partir do suspense, de fatos sobrenaturais contidos na obra e uma visão mais literária acerca da cultura afro-brasileira. Além disso, aguçar o sujeito crítico e inventivo do educando ultrapassando, assim, um modelo de educação pautado em padrões rígidos e ultrapassados de aprendizagem, sem desenvolver no alunado a curiosidade e a diversidade. É perceptível que os estudos sobre as populações negra e indígena, antes meros coadjuvantes na estrutura curricular das instituições brasileiras, embora protagonistas, avançaram no que diz respeito ao acesso a sua verdadeira cultura. Apesar dos perceptíveis avanços que as culturas marginais estão tendo, a partir da Lei 10.639/03 e 11.645/08, ainda muito é preciso avançar. Mesmo com o aparecimento de oportunidades, é visível o despreparo de muitas instituições de ensino e docentes em trabalharem com o alunado sobre esta temática, sob a ótica de uma postura crítica, reflexiva e dialógica acerca da importância desses povos na constituição do povo brasileiro. O que preconizam as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (2004. p.21) é que: Datas significativas para cada região e localidade serão devidamente assinaladas. O 13 de maio, Dia Nacional de Denúncia contra o Racismo, será tratado como o dia de denúncia das repercussões das políticas de eliminação física e simbólica da população afro-brasileira no pós-abolição, e de divulgação dos significados da Lei Áurea para os negros. No 20 de novembro será celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra [...] Entre outras datas de significado histórico e político deverá ser assinalado o 21 de março, Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. Todavia, as discussões deveriam acontecer diariamente, com objetivo de despertar a criticidade do educando. O dia de luta, resistência e combate aos mais diversos crimes étnicos não podem ficar condicionado a datas. Deve vir sempre acompanhados, diariamente, de reflexão.

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Por conta da história de luta deste povo, consideramos importante que o nosso alunado conheça a história de luta de Dandara por uma sociedade justa e como sua resistência muito significou para o fortalecimento feminino atual em uma sociedade ainda predominantemente branca, preconceituosa e sexista.

4 A compreensão leitora e crítica através da leitura das Lendas de Dandara A principal proposta da atividade é estimular a possibilidade de uma leitura crítica e reflexiva ao utilizar as lendas de uma negra, guerreira, heroína e protagonista de sua própria história como forma de resistência a uma sociedade atualmente excludente. Faz-se necessário propor aos educandos meios de auxiliá-los a construir uma visão crítica acerca da nossa realidade. Ao propor estratégias para o desenvolvimento das atividades, o acesso a leitura e compreensão leitora das Lendas de Dandara proporcionarão, aos educandos, a desmistificação de ideias equivocadas de sexismo e preconceito existentes no contexto escolar, uma educação democrática no que tange ao acesso da leitura afro-brasileira como forma de valorização e pertencimento da figura negra, acesso à Lei 10.639/03 como forma de mostrar a importância do negro protagonista na valorização da cultura e identidade negra, a fim de promover o respeito ao mesmo e sua cultura, a construção, no ambiente escolar, de um espaço de discussões sobre a literatura afro-brasileira, além do contato com as lendas da figura negra Dandara dos Palmares e as discussões que permeiam a ideia do imaginário. Nas aulas de História, a figura de Zumbi dos Palmares é discutida, no tocante a luta ante as imposições da época, todavia, sabemos que ele não lutou sozinho em prol da liberdade de seu povo. Ao seu lado, pessoas a exemplo de Dandara dos Palmares, sua esposa, também possuíram uma parcela significativa no processo de libertação e luta por uma sociedade mais justa. Na obra analisada, a autora nos mostra a angústia da protagonista, além de nos suscitar uma profunda reflexão acerca da dor e violência sofridas pelos nossos ancestrais. Principalmente no tocante às condições dos negros que viviam em senzalas e o sofrimento da vinda deles ao Brasil nos violentos e sub-humanos navios negreiros, questões ainda pouco abordadas nos escritos da época e, na atualidade, uma visão superficial da situação degradante que o negro passou em terras brasileiras. Como resultado a essa invisibilidade forçada, ainda vemos alunos desconhecedores de sua história de luta e resistência ao sobreviver em uma sociedade preconceituosa, machista, discriminadora, excludente e racista. Assim, o referido livro transforma este mito em exemplo de como a mulher é guerreira que com sua força e nos faz refletir sobre o papel da mulher em dias atuais. 5 Conclusão A feitura e desenvolvimento desta atividade foram pensados com o intuito de utilizar a leitura como forma de resistência a um modelo de literatura que não contempla boa parte dos discentes das instituições públicas de ensino. O resgate da cultura africana, muitas vezes esquecida ou feita de forma equivocada por nós, professores de Língua Portuguesa, deve ser ressignificado no tocante às práticas pedagógicas realizadas nos ambientes escolares. A escola é o espaço de construção de valores necessários para a nossa formação cidadã. E o ensino da cultura afro-brasileira nestas instituições certamente divulgarão os valores

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etnicorraciais, além de proporcionar a valorização da identidade para a cultura brasileira, e favorecer o entendimento acerca da história negra. Os conhecimentos apreendidos, sem sombra de dúvidas resgatarão a autoestima de nosso alunado negro e protagonista de sua história. REFERÊNCIAS

ANTUNES, Irandé. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. ARRAIS, Jarid. As lendas de Dandara. Disponível em http://aslendasdedandara.com.br. Acesso em 22.07.2016 COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. 2.ed,2ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2012. DUARTE, Eduardo Assis. Entre o Orfeu e Exu, a Afrodescendência toma a palavra. In: DUARTE, Eduardo de Assis (org.). Literatura e afrodescendência no Brasil. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2011. BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. ______BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações ÉtnicoRaciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, 2008. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: pluralidade cultural e orientação sexual. Secretaria de Educação Fundamental – 2. Ed. – Rio de Janeiro: Gráfica Brasília, 2000. Presidência da República. Lei 10639, de 9 de janeiro de 2003. Disponível em httl://planalto.gov.br/ccivil/leis. Acesso em 17.03.2016 Presidência da República. Lei 11.465/08, de 9 de janeiro de 2003. Disponível em httl://planalto.gov.br/ccivil/leis. Acesso em 25.07.2016 SILVA, Ana Célia. A discriminação do negro no livro didático. Salvador: CED – Centro Editorial Didático e CEAO - Centro de Estudos Afro - Orientais, 1995, p 34; 47; 135. SOLÉ, Isabel; SCHILLING, Cláudia. Estratégias de leitura. 6 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

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