O Impacto da Era Beatles no Brasil: Canal de Difusão e Influência na Tropicália

June 6, 2017 | Autor: Clara Abdo | Categoria: The Beatles, Tropicália
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O Impacto da Era Beatles no Brasil: Canal de Difusão e Influência na Tropicália

Clara Maria Abdo Guimarães1

Resumo: Este artigo tem como estudo de caso a influência dos Beatles na Tropicália. Aborda o êxito que o movimento teve na sociedade brasileira e a recepção dos Beatles no país. Os fatos, os quais foram baseados para a construção do artigo, foram fundamentados através de pesquisa, acontecimentos históricos, depoimentos e recursos bibliográficos. O objetivo foi identificar os elementos da mensagem dos Beatles influenciando a Tropicália. Palavras-chave: Beatles, Tropicália, Cultura e Hibridismo.

INTRODUÇÃO

O trabalho apresentado tem como foco central analisar a influência dos elementos dos Beatles no movimento brasileiro da década de 60, a Tropicália. Primeiramente, apresenta uma síntese da biografia dos Beatles com depoimentos dos próprios integrantes da banda. Em seguida, relata como se deu a inserção da banda britânica no Brasil. Através de quais meios canais preferenciais de difusão - eles foram disseminados, o alcance da mensagem e a recepção do público brasileiro para com a banda. O artigo trata de fatos históricos, mais especificamente ao cenário brasileiro, explicando resumidamente o contexto nacional na década de 60 e as origens da Tropicália. Também aborda o objetivo desse movimento e as intenções que os tropicalistas tinham em atingir a sociedade brasileira da época. Em outro momento fixa melhor entendimento com base em depoimentos, entrevistas e estudiosos a presença de ícones derivados dos Beatles nos elementos que permitiram a formação do movimento. O objetivo desta pesquisa é mostrar como esses elementos foram significativos e influentes no contexto musical e político brasileiro, e como o movimento da Tropicália repercutiu na visão que o povo brasileiro tem hoje das questões críticas pelas quais o Brasil passou e passa.

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Artigo escrito em 2007, na graduação em Comunicação Social, com Habilitação em Jornalismo, na Faculdade do Sul –

Facsul, Itabuna, Bahia.

1. A SAGA DOS BEATLES Mc Cartney era um menino bem alegre e masculino. Em Liverpool, encontrou na escola George, um belo rapazola. Juntos os dois conheceram John, outro garotão, entenderam? Hoje em dia quem os aclama É a eterna senhora dona Fama Por isso: Ringo, George, John e Paul, vocês são Não só de Liverpool, mas do nosso coração. (A Vida Fantástica dos Beatles)

Fundadores do estilo conhecido hoje, como pop – neste caso, falando além da música popularmente difundida, mas também de um segmento musical específico marcado por uma expressão inovadora nos ritmos – os Beatles surgiram no interior do Reino Unido em 1960, na cidade de Liverpool. Mas, a banda ainda não era marcante aos ouvidos dos adultos, mesmo já acarretando uma legião de fãs, e tendo dois discos lançados, sendo o segundo, Please, Please Me, campeão de popularidade entre os álbuns lançados na Inglaterra daquela época. A legitimação dos quatro britânicos – John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr – no país como verdadeiros fenômenos da música deu-se em outubro de 1963, quando na mesma semana em que o Primeiro-Ministro Harold MacMillan renunciava, os jornais voltavam à atenção para a invasão dos fans, acontecida no Palladium, enquanto os Beatles ensaiavam. Estava então, lançada a “Beatlemania”. A publicidade gerada após a invasão permitiu que até o interesse real fosse aflorado: na mesma época, a banda é convidada pela Rainha Mãe para um espetáculo. A partir do “carimbo real” (BRAUN, 1967) a imprensa encontrou espaço para atrair o público jovem a ler jornais. Em um dos veículos impressos, o Observer, é publicado o depoimento de uma fan. “Geralmente a gente pensa que os artistas de cinema, cantores, etc., moram em lugares fabulosos como Hollywood, mas os Beatles não são assim. Eles são de Liverpool – onde os carrinhos são fabricados.”. A mídia os intitulou “Reis do Iê iê iê”, por causa da música “She Loves You”. Além de cabelos não convencionais, os Beatles diferenciavam-se por seu estilo de música. Os próprios definiam-se como diferentes dos demais, mas não mais especiais.

Sei lá. Uma das nossas qualidades é a capacidade que temos de intrigar as pessoas. Nós parecemos um pouco diferentes dos outros. Se você lê sobre Cliff Richards, já

sabe de antemão o que ele vai dizer – porque já foi dito. Mas nós... é outra história. (...) Quando perguntam a alguém por que gosta dos Beatles, geralmente falam em espontaneidade (MCCARTNEY, 1963).

Após estourarem na Europa e lançarem o álbum With The Beatles, o empresário Brian Epstein preocupou-se com a divulgação deles nos Estados Unidos. A fama da banda já deixava o ar da exigência, em tão pouco tempo, por parte do público. Contudo, no final do ano considerado “Ano dos Beatles”, a banda atinge status de instituição social e o Times publica um artigo à música feita pelos quatro britânicos que viraram febre.

A virtude do repertório dos Beatles é de ser, aparentemente, musicada por eles. Três dos quatro rapazes são compositores; todos são instrumentalistas versáteis; e mesmo quando cantam canções de outros autores, o fazem de maneira original, (...). Estas são algumas das qualidades que nos fazem perguntar com interesse que os Beatles, e especialmente Lennon e McCartney, farão a seguir, se a América os estragará ou os agarrará para sempre, e se seu próximo disco será tão bom quanto os outros. Os Beatles trouxeram um novo divertido sabor pra um gênero de música que estava deixando de ser música. (BRAUN, 1967)2.

Em 1964 os Beatles partem para Nova Iorque e para a própria surpresa da banda, o cenário do aeroporto encontrava-se lotado de fans histéricas. Quando conseguem bater o recorde de audiência, por mais de uma vez, no programa de TV de Ed Sullivan, definitivamente, tornam-se a bomba musical, mencionada por Maureen Cleave, jornalista do Evening Standard. Em uma das críticas publicadas pelos jornais americanos, sobre a performance dos Beatles no programa de Ed Sullivan, destaca-se a do Daily News “Nem mesmo Elvis Presley provocou tal hilariante loucura na geração dos gritadores.”. Mas, nem todos estavam a favor de manter a popularidade dos Beatles. Muitos dos jornais e programas de TV os criticaram maldosamente, classificando-os como “setenta e cinco por cento publicidade, vinte por cento corte de cabelo” (BRAUN, 1967)3. Tais comentários não abalaram o sucesso, o qual esteve com os “Reis do Iê iê iê” até o ano de 1970, quando a banda acabou. Porém, no mesmo ano em que foram “atacados” por jornalistas norte-americanos, lançaram o álbum A Hard Day’s Night, trilha sonora para o primeiro longa metragem em que participaram, e que teve boa repercussão no próprio Estados Unidos. O Rubber Soul é lançado no último mês de 1965, sendo marcado por uma mudança na elaboração de melodias e letras, “além dos Beatles também terem contribuído, pela primeira vez, para a arte da capa do disco” (FARIAS, 2006, p.68). Nesse mesmo ano, a banda teve dez 2 3

Trecho retirado de uma crítica feita pelo Jornal Times. Trecho retirado do Jornal Herald Tribune.

indicações ao Grammy. Em 1966, Revolver é lançado e torna-se o “divisor de águas”, como define Sérgio Farias, do tempo da banda fazendo turnê e gravando em estúdios. Além dessa mudança acarretada com o lançamento deste álbum, outras modificações foram percebidas, como “o fim das diferenças entre álbuns lançados na Inglaterra e nos Estados Unidos” (ibidem). O último concerto realizado pelo quarteto foi em Candlestick Park, em São Francisco. A partir desse momento, já era perceptível notar que todos rumavam para caminhos diferentes. Já no começo de 1967, o grupo não se vestia mais com os ternos e nem mantinham os cabelos padrões que os simbolizavam. Por influência de George Harrison, eles passaram a seguir a religião Hare Krishna, e no álbum Sgt. Pepper`s Lonely Hearts Club Band a presença de elementos indianos, de instrumentos a vestimentas, estava explícito. Além da inovação com a questão do estéreo e a simultaneidade de sons nunca trabalhados antes, o álbum simulava uma banda fictícia e desempenhava o psicodélico nas músicas e ritmos. Este foi considerado o primeiro disco conceitual do rock. Porém, mesmo com a sintonia em que estavam, os sintomas de separação estavam cada vez mais aparentes. Brian Epstein morre em setembro do mesmo ano, o que leva os Beatles a inaugurarem em 1968 uma gravadora própria, a Apple Corps. Lançam também o Yellow Submarine como trilha sonora do longa metragem em desenho animado, sucesso internacional. Além da morte do empresário da banda, a presença constante de Yoko Ono, esposa de John Lennon, a ausência de George Martin após a gravação do Abbey Road em 1969, e o próprio desgaste pelo qual a banda passava, permitiram que em abril de 1970, Paul McCartney anunciasse o fim dos Beatles. Do início ao fim da sua trajetória musical, os Beatles inspiraram toda uma geração de artistas ao redor do mundo. No Brasil encontram-se grupos musicais até hoje influenciados pela banda. O foco a ser trabalhado nesta pesquisa é o movimento brasileiro do final da década de 60, a Tropicália. Mas antes, será apresentado o modo como se deu a inserção dos Beatles no Brasil.

1.1 OS REIS DO IÊ IÊ IÊ INVADEM O BRASIL

Diferente do que muitos pensam os Beatles não chegaram ao Brasil pela televisão. A primeira aparição do quarteto foi no cinema, em 1964, com o filme A Hard Day’s Night, em português conhecido como Reis do Iê iê iê. Esse foi o ponto de partida para a formação de

grupos “beatlemaníacos”. O país nessa época passava por crises na estrutura política com a instauração da ditadura. O primeiro compacto da banda, lançado nas grandes cidades brasileiras foi Please, Please Me/From Me To You, no início de 64. Ele não reproduzia as versões do disco inglês. No mesmo ano é lançado o primeiro LP da banda no país, Beatlemania, pela Odeon. O terceiro disco, Os Reis do Iê iê iê foi o primeiro a trazer o repertório igual ao álbum lançado na Inglaterra, tendo apenas a cor da capa diferente. Ainda na mesma década, o carioca Newton Duarte interessado nas músicas estrangeiras, percorria pelas rádios do Rio de Janeiro com discos piratas dos Beatles, ainda não lançados em território brasileiro, que conseguia com o amigo americano Douglas Robert. Começou a apresentar o primeiro programa direcionado aos Beatles no Brasil, o Cavern Club, na Rádio Mundial. O nome foi dado em homenagem ao lugar onde a banda tocava ainda em Liverpool, quando não era famosa. Duarte passa a ser conhecido como Big Boy. Sob a perspectiva pela qual o Brasil vivia, e já tendo uma sociedade bombardeada pelo símbolo e frases de âmbito publicitário, mesmo com a censura, Newton Duarte inovou a linguagem do rádio, através da influência que o seu programa exerceu sobre a juventude brasileira e o gosto pela música que vinha de outros países, principalmente o rock. A primeira entrevista concedida pelos Beatles, a uma revista nacional, a Fatos e Fotos, foi feita pelo jornalista Janos Lengyel, em 1966. Em 67, o Big Boy consegue encontrar Paul McCartney em frente à gravadora Apple em Londres, “e figurar na lista mundial de discjockeys que recebiam as novidades dos Beatles um dia antes do lançamento oficial”, como relatou a revista Rock: a História e a Glória, em 1976. Após boa receptividade, principalmente pelo público jovem, o Big Boy começa a trazer para o Jornal Hoje, programa de televisão emitido pela Rede Globo, novidades dos Beatles. Todos esses fatos permitiram que o cenário da música brasileira fosse valorizado e influenciado, misturando os ritmos tropicais com os ritmos advindos do exterior. A repercussão que o fator Beatles causou nas mentes de um mundo inteiro, fez com que muitos grupos nacionais se inspirassem em seu estilo de tocar, compor, twist e shout. Eles foram os primeiros em tudo. O primeiro video-clip da história foi deles, com a música Strawberry Fields Forever. O primeiro “heavy metal” foi deles, com Helter Skelter. A primeira música com acompanhamento sinfônico foi deles, com Eleanor Rigby. O disco divisor de águas mais importante foi deles: “Sgt. Pepper`s Lonely Hearts Club Band”. O primeiro rock a utilizar cítara indiana foi deles, enfim, os caras foram os primeiros em tudo! A música dos Beatles serviu de plataforma para

tudo o que se faz hoje em termos de rock-pop e todos os outros estilos. (Dewet, 2007)4.

2. TROPICÁLIA: HISTÓRIA E PROPOSTA CULTURAL

O Golpe Militar de 1964 viria mudar toda uma concepção de Brasil. Neste ano é imposta a ditadura no país, e uma sociedade que vinha aspirando por modernização e crescimento desde o governo de Juscelino Kubitschek, passa a ser controlada e censurada, em um modelo tradicional e autoritário. O que não significa que o Brasil estacionou economicamente com a ditadura, pelo contrário, o país desenvolveu-se nessa semântica, apesar das dívidas geradas. Através dos meios de comunicação, principalmente a televisão, o Estado encontrou um canal para manipular grande parte da população, ofuscando a verdadeira realidade pela qual o país se encontrava, e propagando a política cultural que deveria ser adotada pelos cidadãos brasileiros.

A noção de integração, trabalhada pelo pensamento autoritário serve assim de premissa a toda uma política que procura coordenar as diferenças, submetendo-as aos chamados Objetivos Nacionais. (...) Isso significa que o Estado deve estimular a cultura como meio de integração, mas sob o controle do aparelho estatal. (...) Daí a busca incessante pela concretização de um Sistema Nacional de Cultura (o que não é conseguido) e a efetiva consolidação de um Sistema Nacional de Turismo em 1967, ou de um Sistema Nacional de Telecomunicações. (ORTIZ, 2003)

A música foi um elemento que contribuiu para a construção da ilusão de que o Brasil era um país justo e sem problemas. Por meio da bossa nova, estilo disseminado na época, os compositores retratavam um país otimista, com a beleza “cheia de graça”5 e reforçavam a idéia do tradicional e do nacionalismo, pela qual o regime prezava. Alguns elementos são apropriados e transformados em símbolos nacionais. “Na visão elitista de então havia uma série de pseudonacionalismo purista, que era aquela idéia do nosso bom crioulo, nosso samba autêntico, tudo isso como se fosse uma forma estagnada” (DUARTE, 1987) Em 1967, nasce um movimento no país, tendo em seus precursores Caetano Veloso e Gilberto Gil, denominado Tropicália. O objetivo primordial não visava uma reivindicação política em si, mas uma modificação cultural de como as coisas eram conduzidas no país,

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Luciano Dewet em entrevista realizada para contribuição do artigo. Integrante da banda carioca cover dos Beatles, Beetles. 5 Trecho da música Garota de Ipanema composta por Tom Jobim e Vinícius de Moraes em 1962.

também com relação à liberdade de expressão, até então censurada, mas principalmente com a estética e o comportamento da música brasileira. Esse movimento baseava-se no apoio teórico da antropofagia, idéia esta, promovida pelo modernista Oswald de Andrade, em 1928, com o Manifesto Antropófago. No âmbito da Tropicália, os participantes utilizavam do termo para significar o ato de envolver outros recursos, além do samba e da bossa nova, na música. A inclusão do rock, distorções de guitarra, rumba, baião, elementos psicodélicos e afros nos ritmos, permitiram uma mudança radical nos padrões musicais da época. A renovação das letras compostas passou a conter críticas com relação à situação brasileira. Elas não eram mais limpas e ilusórias, como na bossa nova. “Assumir completamente tudo o que a vida dos trópicos pode dar, sem preconceitos de ordem estética, sem cogitar de cafonice ou mau gosto, apenas vivendo a tropicalidade e o novo universo que ela encerra, ainda desconhecido” (NETO, 1968). A eclosão do movimento se dá na apresentação transmitida pela Tv Record, em São Paulo, no III Festival de MPB. Alegria, alegria (Caetano) e Domingo no Parque (Gil) estreiam no festival causando polêmica. Além da presença de artistas baianos, outros foram contagiados a engajar-se no movimento: Gal Costa, Tom Zé, os Mutantes, Nara Leão, Torquato Neto, José Carlos Capinan e o maestro Rogério Duprat, tiveram participação efetiva no caminhar da manifestação. Em setembro de 1968, seguindo a linha do Festival do ano anterior, os tropicalistas surpreendem os brasileiros mais uma vez, no III Festival Internacional da Canção, FIC, transmitido pela Rede Globo. Caetano e os Mutantes apresentam É proibido proibir e não têm uma recepção boa por parte do público, que joga ovos, tomates e viram as costas. O trio – Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias – em resposta, vira as costas também e continua tocando. O significado da Tropicália pode ser resumido ao álbum lançado em 1968, Tropicália ou Panis et Circenses, com a participação de todos os compositores e músicos tropicalistas. No mesmo ano, em dezembro, é instituído o AI5, pelo presidente Costa e Silva. Caetano e Gilberto Gil são exilados em Londres, tendo o fim do movimento, mas não da repercussão que ele trouxe ao Brasil. Não só o cenário musical foi modificado, mas também o político e o social.

2.1 OS BEATLES NA TROPICÁLIA

Geléia Geral É bumba-iê-iê-boi Ano que vem mês que foi

É bumba-iê-iê-iê É a mesma dança meu boi (NETO, 1968)6

A Tropicália, como movimento que abrangia vários recursos externos para a formação de uma nova música brasileira, acarreta em sua formação ícones culturais de várias épocas. Dentre eles, Carmen Miranda, Roberto Carlos, representando a Jovem Guarda, o escritor José de Alencar, o corte de cabelo e as vestimentas da contracultura hippie nos Estados Unidos e os Beatles. Esta pesquisa procura focar nos ícones representados pela Tropicália, do quarteto britânico. Sendo ambos os fenômenos presentes e influentes até hoje no cenário musical. Um com uma universalização muito maior do que o outro, mas não mais importante. Como citou o professor da Universidade Tulane nos Estados Unidos, Christopher Dunn: a música popular, em particular o Rock, fornecia uma linguagem e um contexto para a circulação de atitudes e práticas contraculturais no Brasil. Os tropicalistas foram os primeiros a fazer experiências com guitarras fortemente amplificadas e distorcidas, características do rock ácido e psicodélico.

Elementos estes, utilizados pioneiramente pelos Beatles. No álbum Sgt. Pepper`s Lonely Hearts Club Band, percebe-se a presença de vários instrumentos de gêneros diferentes na composição das canções. Esta característica encontra-se presente também no álbum Tropicália ou Panis et Circenses, em que os artistas, guiados pelo maestro Rogério Duprat, considerado o George Martin brasileiro, sincronizam um hibridismo musical. Segundo análise da matéria publicada na BIZZ, em 1986, a música Senhor F, cantada pelos Mutantes, tem o arranjo inspirado no álbum Sgt. Pepper`s Lonely Hearts Club Band, assim como a última faixa do disco lançado pelos tropicalistas em 1968, Ave Gencis Khan, modela o estilo George Harrison de tocar com instrumentos orientais. Gilberto Gil, fazendo referência a uma banda pernambucana, Banda de Pífanos de Caruaru, que sintetiza o som de tambores e pífanos, comentou que a intenção da Tropicália seria uma junção desta banda com os Beatles. Em depoimento ao livro Verdade Tropical, Caetano Veloso alega sobre o movimento, baseado na antropofagia abordada por Oswald de Andrade: “A idéia do canibalismo cultural servia-nos, aos tropicalistas, como uma luva. Estávamos comendo os Beatles e Jimi Hendrix”.

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Trecho da música Geléia Geral composta por Torquato Neto.

Não é que eu fiquei dando aula para eles; ao contrário, eu que aprendi pra burro com os Mutantes, com o Gil, com o Caetano, com todo mundo, como fazer uma coisa, que pode ser ao mesmo tempo com certa correção, com uma correção que a gente já conhecia, de músicos, e fazer isso, de uma coisa popular e avançada, uma coisa na frente dos Beatles. (DUPRAT, 2002) 7.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalhou analisou os ícones da banda inglesa, Beatles, que influenciaram o movimento brasileiro, a Tropicália, sendo este o foco central da pesquisa. Também foram abordados os canais de difusão que fizeram com que os Beatles se disseminassem no país, e os fatos históricos que permitiram o surgimento da Tropicália. Através desses pontos, foi percebido como a influência dos Beatles, no movimento de 67, modificou o cenário musical e político brasileiro. Com ele, a população brasileira “abandonou” o nacionalismo cego prezado pelo regime ditatorial, e passou a enxergar e valorizar, além dos ritmos mesclados, a letra contextualizada de conteúdo. Essa manifestação também possibilitou reforçar a ideia de que a diversidade está inteiramente presente no Brasil, ideia esta, construída desde o mito fundador. A música é uma forma de manifestação artística, que é disseminada na nação contendo pensamentos, ideologias, ou não, em letras cantadas. Os Beatles, como a Tropicália, tiveram uma duração curta, se comparados com outros movimentos culturais. Mas, tornaram-se fenômenos, ícones e referência para muitos músicos atuais, e influenciam até hoje os ritmos e melodias que provocaram admiração e conquistam admiradores.

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Rogério Duprat, em entrevista concedida a Fernando Rosa e Alexandre Matias.

REFERÊNCIAS Bibliográficas BRAUN, Michael. A Vida Fantástica Dos Beatles. Tradução de Augusto Newton Goldman. Biblioteca Universal Poupar, Rio de Janeiro, 1967. MCCARTNEY, Paul apud BRAUN, Michael. A Vida Fantástica Dos Beatles. Tradução de Augusto Newton Goldman. Biblioteca Universal Poupar, 1967. ORTIZ, Renato. Cultura Brasileira E Identidade Nacional. São Paulo; Brasiliense, 2003. Eletrônicas DUARTE, Rogério. Momentos do Movimento. Extraído de Tropicália 20 Anos, SESC, 1987. In: http://tropicalia.uol.com.br/site/internas/verbo_momentos.php, 17 de novembro de 2007, 22h59min. FARIAS, Sérgio. O ano em que tudo mudou. In: http://www.thebeatles.com.br/beatles66.htm, 8 de novembro de 2007, 14h23min. NETO, Torquato. Tropicalismo para Principiantes. Extraído de Os Últimos Dias de Paupéria. In: http://tropicalia.uol.com.br/site/internas/verbo_principiantes.php, 17 de novembro de 2007, 23h07min.

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