O IMPACTO DO USO DO MATERIAL DIDÁTICO ESTRUTURADO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

O IMPACTO DO USO DO MATERIAL DIDÁTICO ESTRUTURADO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM Deosimar Antonio Damasio Mestre em Educação UNB. Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do Instituto Argus de Educação. Geraldo Severino dos Santos Mestre em Educação, UNB. Diretor Presidente do Instituto Argus de Educação

INTRODUÇÃO O uso do livro didático está diretamente relacionado à estruturação dos meios e recursos didáticos que são disponibilizados aos docentes para que eles possam atingir os propósitos estabelecidos em um bom planejamento educacional que exige, no mínimo de:  Um professor atuante e com prática docente apropriada ao contexto social em que ela se insere;  Materiais didáticos utilizados de forma apropriada e selecionados de forma coerente com o processo de ensino e aprendizagem. Segundo Biehl e Bayer (2009, p. 10) “o livro didático é um recurso indispensável para o professor, pois facilita o planejamento diário, auxilia no tempo da aula, motiva o aprendizado do aluno, traz exercícios e textos [...]”. Para Verceze e Silvino (2008, p. 87) “[...] embora, haja, por um lado, o desenvolvimento das

novas tecnologias, da mídia, dos textos digitais, por outro, o livro continua sendo o mais fiel aliado do professor e um recurso imprescindível para os alunos”. Isto mostra a sua importância no processo de ensino, como recurso de apoio ao professor em suas aulas e aos alunos que nem sempre possuem acesso há outros recursos que complementem o seu aprendizado em sala. Só podemos dizer que um livro é completo se ele está bem inserido neste contexto. Para Biehl e Bayer (2009, p. 04), o livro didático “deve oferecer atividades que incentivem aluno a

participar ativamente de sua aprendizagem e interagir com seus colegas. Além disso, o livro precisa assumir a função de texto de referência tanto para o aluno, quanto para o docente”. Segundo Thomaz (2013, p. 62-63), “... ao analisarmos num sentido mais amplo a função que o

livro didático ocupa numa sala de aula, verificamos que o mesmo, além de auxiliar o professor no exercício de sua prática pedagógica, também representa para o aluno uma das fontes mais importantes de informação científica”. Desta forma, fica clara a importância de se avaliar o impacto do livro didático na sala de aula, e, de se verificar se a sua ausência e ou sua qualidade tem relevância significativa na evasão e na aprendizagem escolar. IMPACTO DO USO DO LIVRO DIDÁTICO NA EVASÃO Existem poucos estudos sobre evasão no ensino técnico e, quase sempre estes estudos não apresentam dados relativos ao número de alunos que evadem.

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Dentre os poucos estudos recentes que apresentam estes números, o estudo realizado por Marinêz M. Pacheco, (Pacheco, 2011) apresenta os seguintes dados:

Adaptado de (Pacheco, 2011) Os dados levantados pela pesquisadora junto aos professores do curso (42 professores tutores no total) elencam os seguintes fatores apontados pelos alunos como causa do abandono do curso: Tipo de Fator

Fator

2008

% por Tipo

2010

% por % por Total Tipo Tipo

Externo Dificuldades com as tecnologias

33

26

59

Externo Iniciou curso superior

16

9

25

Externo Começou a trabalhar

13

4

17

Externo Mudança de cidade

11

4

15

Externo Falta de compromisso e interesse

9

17

26

Externo Motivos pessoais

7

2

9

Externo Falta de identificação com o curso

7

Externo Problemas com horários

5

6

11

Externo Problemas de saúde

3

0

3

Externo Muito tempo afastado da escola

3

11

14

Externo Gravidez

2

2

4

Externo Dificuldade com transporte

1

2

3

Externo Fator econômico

0

1

1

Interno

Material didático

9

2

11

Interno

Desmotivados

7

8

15

Interno

Infraestrutura Inadequada

6

Interno

Nível do curso muito alto

1

Interno

Falta de Processo seletivo

0

2

2

Interno

Pouca divulgação do curso

0

1

1

Total

82,7%

17,3%

133 100% (Adaptado de Pacheco, 2011)

9

0 6

112

83,0%

17,0%

100%

16

6 7

245

82,9%

17,1%

100%

Como se pode observar, aproximadamente de 83% das causas de evasão dos alunos estão ligadas a fatores externos à escola. Estes fatores só podem ser minimizados através de um

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amplo conjunto de ações a serem realizadas antes e durante o curso, principalmente na divulgação e no processo seletivo. Já sobre os fatores internos, aqueles sobre os quais a escola tem controle, o material didático e o nível do curso respondem por 45% por cento dos motivos que levam a evasão. O estudo não detalha os motivos da desmotivação dos estudantes, mas podemos inferir que quando os alunos encontram dificuldade de aprendizagem, a desmotivação acontece de forma natural, como resultado direto desta dificuldade, principalmente se somarmos a isto o fato de aparecer entre os dados a Infraestrutura sendo apontada como i inadequada por 15% dos alunos. Podemos concluir que, o livro didático é um fator importante do processo de ensino e aprendizagem e os estudos que apresentaremos a seguir reforçam este entendimento. O PAPEL DO MATERIAL DIDÁTICO ESTRUTURADO NO PROCESSO DE ENSINO Como observado na pesquisa apresentada anteriormente, os alunos relatam que a falta do material didático é um dos motivos para a evasão. Para avaliar a correlação entre o material didático e o seu impacto na qualidade da educação (e consequentemente o seu impacto na motivação dos alunos e seu aprendizado) a Fundação Lemann fez uma pesquisa para avaliar o uso de Sistemas de Ensino por parte das Secretarias Estaduais de Educação do Estado de São Paulo (Louzano, 2014). No contexto deste estudo, os Sistemas Estruturados de Ensino são considerados como empresas privadas do setor de educação que desenvolvem e comercializam os seguintes produtos e serviços, tanto para a rede privada, quanto oferta de forma conjunta:   

Materiais didáticos estruturados para alunos e professores do Ensino Básico; Cursos de capacitação e apoio pedagógico aos professores (presencial e a distância); Acesso para professores e alunos ao portal educativo.

O estudo mostra que o uso do material didático estruturado altera os processos da sala de aula e da escola, na medida em que segundo Louzano (2014, p. 19):     

Garante os conteúdos mínimos para todos os alunos; Garante maior cobertura do conteúdo; Estimula o Professor a ampliar seu tempo de planejamento; Aumenta a economia de tempo de trabalho do professor; Diminui o uso da lousa pelo professor;

Adaptado de (Louzano, 2014, 19)

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Ou seja, em uma escola em que o professor tem uma atividade didática com maior planejamento, mais tempo de estudos e conteúdos didáticos melhor preparados e organizados, os resultados sobre o processo de ensino como um todo, tende a ser muito positivo. Outra questão apontada no estudo é a organização didática dos conteúdos de um sistema de ensino. Segundo Louzano (2014, p. 26) estes conteúdos são planejados para atender aos perfis em formação e observando a quantidade de conteúdo, dias letivos e/ou carga horária da disciplina, definidos nas diretrizes curriculares de cada área. Assim, alia-se quantidade e a dosagem do conteúdo à qualidade do que se é ensinado. Segundo os próprios entrevistados por Louzano (2014, p. 26):  “No começo, a apostila assustava um pouco os professores. Os professores tiveram que estudar e se preparar mais – professor”; 

“O Material Didático estrutura e organiza o trabalho docente (20%)”;



“O Professor tem norte, padroniza seu trabalho, organiza a sala de aula”;

 “O Material Didático norteia o trabalho e não deixa a gente queimar etapas – professor”;  “Uniformiza o trabalho dos professores, que muitas vezes têm um nível muito ruim e são malformados. Então, uniformizar é melhor do que deixar por conta de professores malformados – coordenador pedagógico”;  “Sem a apostila o professor ficava perdido. O Material Didático unificou o trabalho de todos os professores. É mais fácil pra gente – professor”;  “A sistematização da apostila deu ao professor segurança no ensinar. Isso deu qualidade no ensino e, por isso, acho que melhorou – diretor”; 

“A apostila já traz o planejamento. O livro didático não tem isso pronto – diretor”.

Mesmo considerando que a pesquisa aponta deficiências (e consequentemente oportunidades de melhorias) no Livro do Professor disponibilizado pelos Sistemas de Ensino, este livro também traz consequências positivas para o processo de ensino aprendizagem, como podemos observar a seguir:

Adaptado de (Louzano, 2014, 19) Para os alunos esta organização didática, além da própria estruturação do processo de ensino, tende a proporcionar um ambiente de aprendizagem mais favorável, o que possibilita um

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melhor aprendizado. Isto pode ser efetivamente verificado através dos resultados obtidos na Prova Brasil pelos alunos dos municípios que adotaram estes materiais didáticos:

Adaptado de (Louzano, 2014, 24) Além disto, o simples fato do aluno poder reter o material didático é um fator relevante do processo de aprendizagem, pois, quase sempre este é o único material impresso de estudos que ele terá acesso fora da sala de aula.

Adaptado de (Louzano, 2014, 19) Segundo 36% dos participantes da pesquisa (Louzano, 2014, 25), o material didático estimula o aprendizado, além disto: 

Alunos copiam menos. Leem, refletem e estudam mais;



A aula não fica cansativa para os alunos e nem para mim. Eles leem mais – professor;

 Antes, o aluno só lia o que estava na lousa. Hoje, ele leva a apostila para casa, vai ler e entender melhor [a matéria] – professor;  Antes o ensino era muito mecânico, agora é mais crítico. O aluno tem que pensar maisprofessor;  O Material do sistema de ensino força o aluno a estudar antecipadamente, leva-o a pesquisa – professor.  Melhorou, não só pela apostila, mas pelo trabalho do município. Há uma cobrança maior por parte da Secretaria, e ela também faz capacitação – diretor.

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Para que o processo de utilização do material didático ocorra de forma planejada, com melhor aproveitamento, é essencial que ocorra a capacitação inicial e continuada dos professores quanto a sistemática de utilização dos recursos disponibilizado pelos Sistemas de Ensino, como podemos observar a seguir:

Adaptado de (Louzano, 2014, 19) Os sistemas de Ensino, ainda disponibilizam outros recursos de ensino aprendizagem através de um portal educacional que, quando utilizados adequadamente contribuem para a diversificação de fontes e possibilidades de aprendizagem, para avaliação e a mediação pedagógica, enriquecendo ainda mais o processo de ensino aprendizagem. Estes recursos ainda são pouco utilizados por alunos e professores como podemos ver logo abaixo:

Adaptado de (Louzano, 2014, 22) O fato de professores utilizarem pouco os recursos online disponibilizados pelos Sistemas Estruturados de Ensino precisa ser estudado com mais detalhes, mas diversos estudos apontam para a resistência de grande parte do professorado a utilizarem tecnologias baseadas na internet, devido a sua pouca capacitação para trabalhar com estas tecnologias. Desta forma, sugere-se que a capacitação dos professores para uso destes recursos não está sendo feita de modo adequado. Faz necessário ampliar estas ações, pois os conteúdos didáticos disponibilizados pelos sistemas de ensino são relevantes e complementam o trabalho docente, ampliam as fontes de informações disponíveis aos alunos e podem ainda reforçar o aprendizado ocorrido na sala de aula. Outro fator relevante do uso de material didático estruturado é a percepção da família do aluno quanto ao uso deste material:

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Adaptado de (Louzano, 2014, 39) Ou seja, os pais se mostram muito satisfeitos porque eles podem acompanhar o andamento dos cursos através do material didático utilizado pelos alunos, como mostra a pesquisa:  Os pais querem [a apostila] pelo status. Alguns tiram o filho do Objetivo e do Anglo porque a escolas públicas tem apostila – diretor;  Acho que os pais não gostariam de tirar a apostila, pois podem acompanhar o que o aluno aprende. E cobram quando não está completa ou corrigida – professor;  Eles gostam porque equalizou as escolas da nossa rede. Não existe mais pedido dos pais para estar na sala deste ou daquele professor, ou mesmo mudar de escola – diretor.

OUTROS FATORES A SEREM CONSIDERADOS Podemos ainda ressaltar três motivos fundamentais pelos quais a adoção de sistemas estruturados de ensino tem tido uma aprovação das escolas públicas e privadas de todo o país: O primeiro ponto é que os sistemas estruturados de ensino alteram a estrutura global da oferta educacional de uma escola. A constante troca de professores seja pela sua saída definitiva ou temporária da escola; a constante troca de livros didáticos pelo FNDE como relatado por diversos professores e gestores nos estudos aqui apontados fazem com que os conteúdos didáticos estudados sejam constantemente alterados na sala, dificultando a gestão do processo educativo pelos diretores e coordenadores escolares e mais ainda o seu acompanhamento pelos alunos. Os Sistemas Estruturados de Ensino, devido suas características e duração dos contratos, permitem que, independentemente do professor que está em sala de aula, os conteúdos didáticos estejam sempre estruturados da mesma maneira. Para os alunos isto é muito importante, pois eles já sabem o que e quando estudar, com regularidade e estabilidade. Para os gestores fica fácil indicar para os professores substitutos de onde ele deve continuar as aulas. Este é um fator crucial para se compreender este mercado, que se constitui em um campo de disputa pelas principais editoras que já identificaram o seu potencial de crescimento. O segundo aspecto a ser considerado para a adoção dos sistemas de ensino estruturados está em poder superar as limitações representadas pela formação dos professores em uma determinada área geográfica, ou seja, os materiais didáticos seguem os perfis estruturados nacionalmente e não dependem diretamente da qualificação dos professores de uma escola ou rede de ensino local, nas quais, muitas vezes, há falta de profissionais qualificados para

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estruturar materiais didáticos para as instituições de ensino que atendam os patamares mínimos de qualidade e aos parâmetros curriculares nacionais. O terceiro ponto é poder garantir a interação e exploração potencializadas pelos novos meios ou por algum tema que interesse aos alunos através de um apoio por parte da editora em ambientes digitais específicos que atendam às demandas dos alunos e também dos docentes. CONCLUSÃO Podemos concluir que o uso de materiais didáticos estruturados possibilita ganhos significativos no processo de ensino e aprendizagem, ampliando as oportunidades de aprendizagem para os alunos, organizando e ampliando o trabalho docente, e facilitando o processo de gestão da sala de aula, tanto para professores quanto para os gestores, segundo os próprios entrevistados por Louzano (2014, p. 36 e 38): 

“Há maior cobertura dos conteúdos (20%)”;

 “Ninguém trabalhava todo o conteúdo; o professor escolhia o que mais gostava. Isso mudou – professor”; 

“A apostila foi definida como mínimo, como garantia para todos os alunos – diretor”;



“Na apostila o aluno tem lição de casa todos os dias – professor”.

Além disto: 

“Aulas estão mais interessantes (11%)”;

 “Antes era muita xerox e mimeógrafo de baixa qualidade, e cada um fazia o seu material – professor”;  “Mudou pelo fato das crianças terem o material delas, poderem escrever e recortar. Elas ficam mais motivadas. Mesmo que o professor não tenha criatividade, só a apostila já dá o básico – diretor”.

BIBLIOGRAFIA 

BIEHL, Juliana Volcanoglo; BAYER, Arno. A escolha do livro didático de matemática. X Encontro Gaúcho Matemática, Ijuí - RS. 2009.



VERCEZE, Rosa Maria A. N.; SILVINO, Eliziane F. M. O livro didático e suas implicações na prática dos professores nas escolas públicas de Guajará- mirim. Disponível em: < http://www.dtp.uem.br/rtpe/volumes/v11n3/010_rosa-338-347.pdf >. Acesso em: 06 jul. 2016.



THOMAZ, Dilson. Do livro didático ao aluno: transposição didática na aula de matemática do ensino médio diurno e noturno. Disponível em: < http://www.ie.ufmt.br/ppge/dissertacoes/index.php >. Acesso em: 6 jul. 2015.



PACHECO, Marinêz, M. Políticas de Educação Profissional: A evasão no curso técnico em secretariado do programa E-TEC Brasil no Paraná. Tese de Mestrado. Universidade Tuiuti Do Paraná. 2011.



LOUZANO, Paula. et al. Sistemas Estruturados de Ensino e Redes Municipais do Estado de São Paulo. Fundação Lemann. SP. 2014.

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