O Impacto dos Negócios Internacionais na República Popular da China nas Décadas de 1970-1980

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Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH)

Erick Chaves Barreto Gabriel Soares Jean Michel Júlio César Bispo

O IMPACTO DOS NEGÓCIOS INTERNACIONAIS NA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA NAS DÉCADAS DE 19701980

Belo Horizonte 2012

Erick Chaves Barreto Gabriel Soares Jean Michel Júlio César Bispo

O IMPACTO DOS NEGÓCIOS INTERNACIONAIS NA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA NAS DÉCADAS DE 19701980

Trabalho Interdisciplinar de Graduação apresentado ao Centro Universitário de Belo Horizonte, como requisito para aprovação nas disciplinas correntes do semestre acadêmico.

Belo Horizonte 2012

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÂO ........................................................................................................ 3 2 AS INICIATIVAS ...................................................................................................... 4 3 OS IMPACTOS POSITIVOS ................................................................................... 7 4 OS IMPACTOS NEGATIVOS ................................................................................ 10 5 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 13 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 15

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1 INTRODUÇÃO Este trabalho tem por objetivo analisar as iniciativas de Deng Xiaoping 1 e as mudanças ocorridas em seu governo, para se entender a atual posição da China no sistema internacional.

Procura-se ainda identificar a importância da abertura comercial e a relevância do fator externo, com a ampliação das relações mundiais, atração de investimentos e a busca pelo incremento das exportações.

Além disso, serão analisados os impactos positivos e negativos resultantes deste processo de desenvolvimento chinês.

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Deng Xiaoping foi político e líder reformista que levou a China para uma economia de mercado. Mesmo não tendo realizado a posse formal como chefe de Estado, chefe de governo ou secretáriogeral do Partido Comunista da China, serviu como o "líder supremo" do país, de 1978 a 1992.

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2 AS INICIATIVAS Com uma substancial interação no sistema internacional, a China emergiu, nas três últimas décadas, como um ator internacional cada vez mais central e ativo, a ponto de suscitar dúvidas e debates internos e externos sobre a própria natureza desta ascensão, se pacífica ou ameaçadora da ordem regional e mundial. Com podendo se dizer trauma do internacional, devido a um processo histórico de rejeição, em que o país sofreu o choque e os efeitos de várias ocupações e de tratados desiguais impostos por potências estrangeiras, o país lançou-se a desenvolver, através de uma diplomacia hiperativa, protagonizando o lançamento de uma série de iniciativas próprias, multilaterais, regionais ou bilaterais. No início da década de 1970, a China, face à impossibilidade de permanecer confrontada simultaneamente por Estados Unidos e URSS, alterou radicalmente a sua política externa. Assim, em 1971 a China acercou-se dos Estados Unidos. Com decorrência desse realinhamento, a China tornou-se membro do Conselho de Segurança da ONU (no lugar de Taiwan). A nova estratégia diplomática chinesa tinha seu sustentáculo teórico na Teoria dos Três Mundos, apresentada por Deng Xiaoping em 1974, na Assembleia Geral da ONU. Segundo tal concepção EUA e URSS eram agrupados em um mundo, os demais países capitalistas desenvolvidos no segundo, e as nações periféricas no terceiro (incluindo a China). Iniciava-se então uma nova fase da política externa chinesa, caracterizada pela busca da modernização, tendo como alvo a posição da China no primeiro mundo (VIZENTINI, 1999). Depois da morte de Mao Tsé-Tung2 (1976), do fim da Revolução Cultural3 (19661976) e da firmação e iniciativas de Deng Xiaoping (1978) no governo, a economia chinesa, que seguia uma orientação de planejamento burocrático altamente 2

Mao Tsé-Tung foi um político, teórico, líder comunista e revolucionário chinês. Liderou a Revolução Chinesa e foi o arquiteto e fundador da República Popular da China em 1949. Seu governo se deu de 1949 até sua morte em 1976.

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A Revolução Cultural foi um movimento político-social ocorrido na República Popular da China de 1966 a 1976, colocado em prática por Mao Tsé-Tung, então presidente do Partido Comunista da China. Representou um virtual fechamento por dez anos do ensino médio e universitário, a perseguição indiscriminada de professores e pesquisadores, a desvalorização da educação nos mais diversos níveis e a repressão a muitas formas de produção e manifestação cultural.

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centralizado, tornou-se, passo a passo, uma economia de mercado socialista bastante descentralizada e desburocratizada, através do processo de Reforma e Abertura para o Exterior, em fins da década de 70 (MARTINS, 2008).

Entre os objetivos de Deng Xiaoping estava o propósito duplo e complementar de rever o voluntarismo e os excessos ideológicos do período anterior e de empreender uma modernização pragmática da China, cristalizada no lema das “Quatro Modernizações” (da agricultura, da indústria, da ciência & tecnologia e da defesa). Além de estabelecer o processo de modernização da China para a adoção de reformas econômicas e para uma relativa abertura ao exterior, em função da necessidade de incorporação de tecnologias e de capitais, o que era de extrema importância para Deng, de tal maneira que veio a desencadear a posição da China como uma das grandes potências no sistema multilateral contemporâneo (LYRIO, 2010).

Nesse contexto a principal reforma econômica se baseou na liberalização de varias formas de empreendedorismo: Dentre a estatal foram liberadas a privada, a coletiva, a mista (da estatal com a privada nacional, da estatal com a privada estrangeira, da privada nacional com a privada estrangeira, da estatal chinesa com estatal estrangeira) e até da iniciativa privada 100% estrangeira, desde que dedicada à obtenção de novas tecnologias e de divisas, através da exportação de sua produção (MARTINS, 2008).

A mudança da China nesse período foi de tripla natureza, no sentido de operar a transição de uma economia centralmente planificada para uma economia regulada com progressiva incorporação de elementos de mercado, de reduzir a centralidade do campo e da produção rural pelo aprofundamento do processo de industrialização e de renunciar a um modelo de autarquia estrita em favor de uma abertura comercial ampla (LYRIO, 2010).

Na visão de Deng, a China deveria valer-se do que ele considerava como as duas tendências fundamentais de sua época, “a paz e o desenvolvimento” (heping yu fazhan). Tal pensamento estava ligado às tendências do mundo contemporâneo

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(alta nas relações internacionais via comércio) onde um contexto de paz permitiria ao país não apenas valer-se de um ambiente internacional favorável como fonte de capitais e mercados, mas também concentrar esforços e meios internos no processo de modernização econômica, sem maiores desvios de recursos para a construção precoce de um grande aparato militar. Sua avaliação era de que a China deveria crescer economicamente antes de se fortalecer militarmente. De 1971 a 1985, a fatia do PIB chinês voltada para os gastos militares caiu de 17,4% para 7,5%. A China de Deng Xiaoping somente envolveu-se em um conflito militar, com o Vietnã, em 1979, quando o novo líder chinês ainda consolidava o seu poder interno (LYRIO, 2010).

Foi então o grande idealizador do pragmatismo diplomático na China, no qual buscou manter relações de reciprocidade comercial e diplomática (Abertura e Reforma) criando a reaproximação entre o país com as potências ocidentais, com o Japão, Estados Unidos, entre outros, em função do interesse de obter recursos financeiros e tecnológicos para o processo de modernização econômica (LYRIO, 2010). Deng Xiaoping soube entender a necessidade de seu país, quebrou então as barreiras que impediam o fluxo dos negócios internacionais, e realizou de forma sábia as relações comerciais. Como diz Arthur Kroeber (2007, apud LYRIO, 2010), graças em parte à insistência de Deng em associar a ideia de reforma à ideia de abertura, a chave do desempenho chinês, desde 1979, tem sido não a inovação tecnológica, mas a difusão tecnológica. Para Kroeber, o princípio básico da economia chinesa tem sido o de importar tecnologia de forma barata, para assim então produzi-la pelo menor custo possível para o maior número tangível de pessoas (KROEBER, 2007, apud LYRIO, 2010).

Entre fatores tão variados para o crescimento econômico da China como a habilidade de mobilizar recursos para a ação do Estado, e a capacidade de atuação diplomática como já dito, Deng Xiaoping pôde contar como fator crucial para ajuda no desenvolvimento do país, características territoriais e demográficas, como as proporções agigantadas dos recursos físicos e humanos. A China possui o terceiro maior território do mundo e a maior população do planeta, e com a difusão dos meios de produção industrial, se tornou uma forte candidata a status de “grande potência” (LYRIO, 2010).

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Extensão do território e tamanho da população sempre tiveram a sua relevância na formação das grandes potências, mas se tornaram ainda mais cruciais em tempos de universalização dos processos de industrialização (MACKINDER, 1988).

Foi através do movimento de Reforma e Abertura, em vez de movimentos de agitação política (como o ocorrido da Revolução Cultural), que o governo de Deng Xiaoping passou a concentrar esforços na edificação econômica. Prevaleceu, assim, a compreensão nesta etapa inicial de uma sociedade socializante e que as crescentes necessidades materiais e culturais da população e o atraso da produção social, ou seja, o atraso especialmente em ciência, tecnologia e capital acarretava prejuízos para toda a nação chinesa, tanto para o Estado quanto ao povo e mudanças para o desenvolvimento nesses setores era de premência de todos.

3 OS IMPACTOS POSITIVOS A variável externa foi crucial para o desenvolvimento e crescimento econômico chinês. O incremento das exportações, atração dos investimentos externos e obtenção de novos mercados se tornaram o alicerce da posição do país hoje como uma das grandes potências (GUIMARÃES, 2009).

Dando sequencia a esse

movimento de universalização, no início dos anos de 1980, a China aumentou seus contatos internacionais e sua participação na comunidade internacional, inclusive com instituições internacionais. Aproximou-se do Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial (ambos com adesão em 1980), Banco Africano de Desenvolvimento (adesão em 1985) e Banco Asiático de Desenvolvimento (adesão em 1986), recebendo importantes créditos destes, além do início da negociação do processo de entrada, a partir de 1986, no GATT - e sua então entrada na OMC, sucessor do GATT, em 2001 (BECARD, 2008).

Com esses movimentos o país abriria um leque de oportunidades ligadas à facilitação e expansão das possibilidades de comércio e mercados. Com um foco

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então direcionado ao comércio exterior e à expansão das exportações, a priori, às políticas de criação de Zonas Econômicas Especiais4 (ZEEs), permitiram a atração de empresas estrangeiras voltadas primordialmente para exportação e o acesso chinês a recursos e tecnologia estrangeiros. Os baixos custos relacionados à mãode-obra, a percepção de um mercado chinês com grande potencial, além das condições facilitadas oferecidas pelas ZEEs favoreceram o crescimento do fluxo de Investimento Externo Direto5 (IED), que foi outro ponto importante ligado ao crescimento chinês. A partir daí, várias multinacionais buscaram a transferência do seu processo produtivo para a China em busca de baratear os custos de critérios de produção. Através do seguimento migratório trouxeram para o país conhecimentos ligados à absorção de tecnologia e especialização - movimento também ligado às joint-ventures6 onde as

empresas

chinesas,

se associando às empresas

internacionais, puderam entrar em contato com as tecnologias e processos mais avançados, além de obter know-how para as mesmas (NAUGHTON, 2007; NOLAN, 2004). De acordo com estimativas do Banco Mundial, as multinacionais se tornaram responsáveis por 55% no embalo das exportações da China (CUNHA, 2008, apud GUIMARÃES, 2009).

Segundo

Lardy (2002,

apud

GUIMARÃES,

2009)

as

empresas

asiáticas

principalmente de Hong Kong, Taiwan, Coreia do Sul e Japão direcionaram muito dos seus investimentos em direção à China, e em meados da década de 80, o país se tornou um importante elemento na produção de eletrônicos e produtos de informática. Com os Estados Unidos as relações econômicas se intensificaram de tal 4

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As Zonas Econômicas Especiais foram regiões criadas pelo governo Chinês a partir de 1980 que ofereciam facilidades na atração de negócios, tais como permissão das atividades de cunho capitalista, incentivos a parcerias e joint-ventures entre chineses e estrangeiros, incentivos fiscais, independência na regulação de atividades de comércio estrangeiras, proximidade a áreas urbanas e portuárias (vantagens logísticas), além de melhores condições de infraestrutura. O investimento externo direto (IED) é o investimento direto na produção em um determinado país, feito por uma empresa de outro país, seja através da compra de uma empresa no local de destino ou por expansão das operações de uma empresa já existente neste. O investimento estrangeiro direto é feito por muitas razões inclusive para tirar vantagem dos salários mais baratos, privilégios especiais de investimento, isenções fiscais e outros mecanismos de facilidade para acesso aos mercados do país ou da região. A China foi o país que mais tenha recebido investimento direto estrangeiro nos últimos anos, correspondendo a US$ 750 bilhões de 1978 a meados de 2007 (LYRIO, 2010, apud KROEBER, 2007). Joint-ventures são as associações em que duas entidades se juntam de modo a atuarem em algum ramo de atividade, de maneira em que as partes envolvidas não percam a sua identidade própria. O termo se tornou mais conhecido para definir a associação entre duas empresas.

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modo que o país veio investir US$1 bilhão na China (e também fazer o fornecimento de armas e equipamentos, e a realização de transferência de tecnologias). O comércio bilateral entre os dois países era de US$7,3 bilhões em fins da década de 80, e já no inicio dos anos 90 o número se encontrava em US$12,2 bilhões (BECARD, 2008) um absurdo crescimento de quase US$5 bilhões em poucos anos, o que é caracterizado por parte da China como uma importante conquista perante seu intenso esforço em direção a novos contatos no sistema internacional capitalista.

É importante mencionar ainda o movimento da manutenção de uma taxa de câmbio desvalorizada, que foi crucial para estimular as exportações (GUIMARÃES, 2009). Quanto à desvalorização do cambio, de acordo com cálculos do FMI, a moeda chinesa perdeu 70% do valor comparado ao Dólar, durante o período entre 1980 e 1995 (LARDY, 2002, apud GUIMARÃES, 2009) o que serviu para fazer com que os produtos chineses mantivessem preços ainda mais baixos (além do fator da mão-deobra barata) conferindo alta competitividade em âmbito global. Segundo Guimarães (2009), o processo de manutenção dessa desvalorização cambial era mantido com insistência pelo governo chinês, pois este via nas exportações um papel crucial para o crescimento econômico e redução da pobreza.

Entre 1980 e 1998 os setores de têxteis, calçados, brinquedos, roupas e confecções cresceram de forma considerável a elevar significativamente a porcentagem das exportações mundiais da China, com 8,5% nos têxteis, 16,7% nas confecções, 17,9% no ramo de brinquedos e 20,7% em calçados (LARDY, 2002, apud GUIMARÃES, 2009). Esses setores mais intensivos em mão-de-obra abriram inúmeras vagas de trabalho (criando êxodo rural), empregando grande parte da população em geral, diminuindo assim o índice de pobreza (inclusive do campo) e ainda elevando o número de indivíduos na classe média, proporcionando maiores possibilidades de crescimento social como educação e cultura. Com o aumento da demanda mundial por esses produtos e a busca por custos cada vez mais baixos, o país fez uso de suas vantagens comparativas, relacionadas à alta disponibilidade de mão-de-obra barata, conseguindo por sua vez, atender as altas na demanda mundial com preços baixos e competitivos.

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Colhidos os dados do período da década de 80 a fins da década de 90, as exportações totais chinesas cresceram anualmente 17%, passando de US$ 27 bilhões para US$ 148,8 bilhões. A participação do comércio exterior no PIB, que em 1978 era de 10%, em 1995 atingiu o patamar de 44% (LARDY, 2002, apud GUIMARÃES). Em 2001, as exportações já se encontravam em US$ 266 bilhões e após a adesão do país na OMC (no mesmo ano de 2001), o ritmo acelerado de crescimento se manteve, de modo que em 2007, as exportações chinesas atingiam US$ 1,2 trilhão, o que nessa época permitiu a China acumular reservas de US$ 1,5 trilhão com os superávits comerciais (CUNHA, 2008, apud GUIMARÃES, 2009). Através desse crescimento a China pôde investir em obras de infraestrutura e novas tecnologias demonstrando a força de sua economia e ainda o amadurecimento e eclosão social e cultural da nação, o que reflete, inclusive, na magnificência dos estádios e ginásios destinados aos jogos para as Olimpíadas de Pequim ocorrido no ano de 2008 (tanto em Pequim como em outras seis cidades que sediaram os jogos). Os gastos chegaram a quase US$15bilhões na de construção de 31 estádios, 77 estradas e pontes, 26 km de light rails (vias exclusivas para ônibus), seis novas linhas de metrô, que transportaram de graça quase 20 milhões de passageiros/vezes por dia. É imprescindível salientar que as monumentais realizações na China em 2008 não teriam sido possíveis sem o processo de Reforma e Abertura criado por Deng Xiaoping (MARTINS, 2008).

4 OS IMPACTOS NEGATIVOS É importante dizer que os impactos positivos no processo de desenvolvimento chinês estão em um patamar acima dos impactos negativos, levando em conta principalmente aspectos sociais como a educação, saúde, cultura e crescimento social (aumento da classe média) que tiveram seus índices alterados positivamente nas ultimas décadas. Porém alguns pontos e diferenças negativas não deixaram de existir e outros acabaram emergindo junto com o crescimento do país.

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As diferenças de renda entre ricos e pobres, a diferença entre os níveis de desenvolvimento dos centros urbanos e do meio rural se destacam como principais fatores dos impactos negativos. Cerca de 800 milhões de pessoas ainda vivem no campo, e cerca de 50% destas ainda vivem em situação de pobreza (GUIMARÃES, 2009). Ainda pode-se verificar o índice GINI chinês (índice que mede a desigualdade da distribuição de renda, indo de 0, com total igualdade, a 1, situação de total desigualdade) que passou de 0,29 para 0,42 entre 1981 e 2005, segundo cálculos do Banco Mundial.

Em meio a essas diferenças ainda existe a corrupção, responsável pelo desvio anual de bilhões de yuans e abusos de poder e violação de direitos. As cortes, por exemplo, não são efetivas, além de serem fortemente politizadas (favoráveis aos empresários e ao governo) e corruptas (GUIMARÃES, 2009) perpetuando a situação de impunidade e dificuldade de obtenção dos direitos, incluindo os trabalhistas e humanos. Ainda segundo Pei (2006), houve poucos avanços na questão de direitos individuais, além do fato do governo exercer forte repressão contra possíveis grupos opositores e protestos sociais.

Outro ponto que merece atenção, é a demanda chinesa por recursos naturais e energéticos. A dependência nestes setores vem sendo construída pelo país desde o processo de industrialização visando à manutenção de uma taxa de crescimento elevada. Com alta produção no setor industrial e ineficiência energética para atender os ramos químico e siderúrgico, além do abastecimento dos automóveis, o país acaba indo buscar os produtos em outros lugares como Oriente Médio, Ásia Central, Sudeste Asiático, e principalmente África e América Latina (LYRIO, 2010). A importação de combustíveis e minérios na China entre 2001 e 2009 cresceu 27,9% maior que o aumento de 13,9% das importações mundiais dos mesmos produtos. Outro aspecto negativo é

a

devastação ecológica

ocasionada

por uma

industrialização descontrolada, a qual afeta profundamente o solo, a água e o ar, por toda parte. Segundo Lyrio (2010) em 2004 a China já abrigava 20 das 30 cidades mais poluídas do mundo, além de apresentar alta poluição da água e do ar. Os problemas ambientais já estariam atingindo o valor de cerca de 8% a 12% do valor do PIB, englobando fatores como: despesas médicas e hospitalares, horas não

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trabalhadas por licenças médicas, fundos alocados para resolução de desastres ambientais, deterioração dos recursos naturais e prejuízos com o impacto de chuvas ácidas na produção agrícola. Segundo MEDEIROS (2009) em 2004 a importação de produtos agrícolas pelo país passou de 17,6% contra 8,6% do total das importações mundiais dos mesmos produtos, demonstrando também a necessidade da China em relação aos alimentos, já que a degradação ambiental, o aumento da população, e a concentração cada vez maior dessa em direção aos centros urbanos vêm prejudicando também produção agrícola chinesa.

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5 CONCLUSÃO

As mudanças econômicas ocorridas na China nas ultimas décadas se configuram como um dos mais incríveis acontecimentos econômicos já percebidos, ainda mais quando se imagina que um país com economia basicamente agrária, fechado ao mundo, e que enfrentava várias dificuldades sociais e econômicas, em pouco mais de três décadas já se encontra na posição que vemos hoje, como segunda maior potência econômica do globo (segundo informações do Banco Mundial). O país implantou medidas liberais e de abertura comercial para funcionar em conjunto com o seu socialismo, implantando o chamado sistema socialista com características chinesas, tendo em vista o seu crescimento e desenvolvimento.

Foi demonstrada a importância das reformas propostas por Deng Xiaoping e a forma como estas foram executadas, como o fato de terem se iniciado no ramo agrícola, já que até antes das reformas este era o setor dominante no país. Além disso, pôde-se perceber a importância do fator externo nesse processo, com ampliação dos contatos mundiais, a atração de investimentos de outros países e aumento das exportações, permitindo o emprego de um grande contingente da enorme população, beneficiando tanto a China quanto os outros países que queriam explorar o potencial numérico da produção chinesa. A importância das Zonas Econômicas Especiais também é notada, já que se tratavam de zonas especialmente criadas pelo governo para atrair os investimentos externos, com suas legislações próprias e infraestrutura mais apropriada para execução dos negócios capitalistas. Destacou-se outro fator importante para o desenvolvimento chinês: o incentivo ao movimento de parcerias entre empresas estrangeiras e chinesas, as Joint-Ventures, podendo-se transferir tecnologias, conhecimentos e know-how para as mãos chinesas. Todo esse processo fez com que o país melhorasse suas condições de infraestrutura, causa-se enriquecimento da população, o surgimento de uma grande classe média, além da melhora das condições sociais da população como um todo, principalmente com redução da pobreza.

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Também puderam ser percebidos os desafios a serem enfrentados e que andam em conjunto com o processo de desenvolvimento. Falhas nos direitos trabalhistas, individuais e humanos, impactos no meio-ambiente, alto índice de desigualdade (principalmente entre o campo e as cidades) e pobreza ainda recorrentes, corrupção, êxodo rural, além da demanda crescente de recursos naturais e alimentos para sustentar seu crescimento (causando certa dependência, já que o país vai busca-los em outros lugares). Por fim, é importante dizer que mesmo com essas peculiaridades a China conseguiu se transformar em uma potência e o seu papel econômico no sistema mundial se tornará cada vez mais importante, sendo que atualmente ela já se coloca como um dos principais players do sistema mundial.

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