O IMPERATIVO DA REINVENÇÃO DO ILUMINISMO PARA ENFRENTAR E VENCER O NEOLIBERALISMO E O PENSAMENTO PÓS-MODERNO

July 24, 2017 | Autor: Fernando Alcoforado | Categoria: Sociology, Economics, Political Science, Postmodernism
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O IMPERATIVO DA REINVENÇÃO DO ILUMINISMO PARA ENFRENTAR E VENCER O NEOLIBERALISMO E O PENSAMENTO PÓS-MODERNO Fernando Alcoforado* Em seu artigo Para entender o pós-modernismo, publicado no website , Raymundo de Lima, psicanalista, afirma que os sinais da Pós-Modernidade se apresentam de forma clara no campo político com atitude desinteressada, despolitizada, destacando que os pósmodernistas descartam a ideia de revolução como passaporte necessário para a construção de uma “nova sociedade", um "novo homem” e uma “nova felicidade realista” “sem classes” e “sem desigualdade”. Além desta descrença, existe o fato de as revoluções ocorridas no socialismo real, resultaram em totalitarismos, fracasso econômico e decepção da população obrigada a conviver com a falta de liberdade. Raymundo de Lima afirma que a ação política pós-moderna, descrente da ação política tradicional (partidos políticos, sindicatos, eleição de representantes, etc), prefere atuar através de ações voluntárias através de ONGs, bem como nos atos mais ou menos espontâneos de grupos e de sujeitos que investem, por exemplo, em melhorar a saúde da sociedade. São as ações pró-educação para diminuir a violência no trânsito, ações próeducação ambiental, a luta pela extinção do tabagismo e das drogas, a prevenção da DST e AIDS, a participação de ações contra a fome, prestar serviço para a eliminação do analfabetismo, etc, podem ser de inspiração pós-modernista. Segundo Raymundo de Lima, na Pós-Modernidade a perversão e o estresse são sintomas resultantes da falta de lei, da falta de tempo, e da falta de perspectiva de futuro. Nossa sociedade é regida mais pela ânsia de “espetáculo”. Existe a ânsia de prazer a qualquer preço. Todos se sentem na obrigação de se divertir, de “curtir a vida adoidado” e de “trabalhar muito para ter dinheiro ou prestígio social”. Na sociedade ocidental Pós-Moderna a visibilidade de cenas tende a ser obscena, quando exclui a dimensão da subjetividade e da privacidade das pessoas. Ou seja, anula-se a dimensão do privado, tornando “tudo” público, do cotidiano dos ansiosos por fama dos exanônimos do programa televisivo Big Brother. Em seu artigo Os movimentos sociais e os processos revolucionários na América Latina: uma crítica aos pós-modernistas, publicado no website , Edmilson Costa, doutor em Economia pela Unicamp, afirma que a ideologia pósmodernista é responsável por grande parte das derrotas dos movimentos sociais nestas duas décadas. Não só porque a Pós-Modernidade influenciou boa parte da juventude e lideranças dos movimentos sociais, como também porque levou à frustração milhares de lutadores sociais porque as lutas fragmentadas tem uma trajetória de ascensão no início e vai enfraquecendo até ser absorvido pelo sistema como aconteceu nas manifestações políticas de 2013 contra o governo e o sistema político no Brasil. Edmilson Costa afirma que a Pós-Modernidade, como movimento teórico e político, envolveu forças difusas, mas influentes junto à juventude e vários movimentos sociais. O objetivo era desconstruir o discurso dos partidos políticos revolucionários, do movimento sindical e do próprio marxismo, como síntese teórica da revolução social. Para os adeptos da Pós-Modernidade, os discursos de temas abrangentes, como a igualdade, o socialismo, a emancipação humana, os valores históricos do proletariado, 1

as soluções coletivas contra a opressão humana, eram coisa do passado e produto de um mundo que já não existia mais. No lugar desses velhos temas, tornava-se necessário colocar um novo discurso, como forma de reconhecer a fragmentação da realidade e do conhecimento, a constatação da diferença, a emergência de novos sujeitos sociais, com características, valores e reivindicações específicas, como os movimentos sociais, de gênero, raça, etnia, etc, e novas formas de luta, inclusive com renúncia à tomada do poder. O fim da centralidade do trabalho é um dos temas mais destacados pelos pósmodernistas com o argumento de que as tecnologias da informação, a reestruturação produtiva e a inserção acelerada de ciência no processo produtivo tornaram obsoleto o conceito de classe operária e proletariado, até mesmo porque esses atores estão se tornando residuais num mundo globalizado onde impera a robótica, a internet e a informática avançada. Baseado no argumento de que a classe operária está diminuindo em todo o mundo, os pós-modernistas chegaram a dar adeus ao proletariado, que seria um conceito típico da Segunda Revolução Industrial. Trata-se de um tremendo equívoco chegar a esta conclusão pelo fato de não considerarem que o proletariado está diminuindo nos países capitalistas centrais da Europa, Estados Unidos e Japão, mas está crescendo de maneira expressiva em termos mundiais, com o deslocamento de milhares de indústrias dos Estados Unidos e da Europa para a Ásia, processo que está incorporando ao mundo do trabalho centenas de milhões de trabalhadores na China, na Índia e em toda a Ásia, num movimento que está mudando a conjuntura mundial. Outro grande absurdo é não considerar que, quanto mais se moderniza, quanto mais insere ciência e tecnologia na produção e mais amplia sua composição orgânica do capital, mais pressiona as taxas de lucro para baixo. Por isso, o capitalismo não pode existir sem seu contraponto, o proletariado que á fonte de seu lucro. Se o capitalismo automatizasse todas suas fábricas o sistema entraria em colapso, pois os robôs são mais disciplinados que os seres humanos, são capazes de trabalhar sem descanso, não reivindicam salário, nem fazem greve, mas também tem seu calcanhar de Aquiles: não consomem bens e serviços. Se não tem consumidores, os capitalistas não têm para quem vender suas mercadorias. Ou seja, antes de uma automatização total, o sistema entraria em colapso em função de suas próprias contradições. O pós-modernismo é o fetiche ideológico típico dos tempos de neoliberalismo e representa a ideologia pequeno-burguesa da submissão sofisticada à ordem do capital. A aprovação recente pela Câmara dos Deputados do projeto de lei da terceirização do trabalho representa a submissão do parlamento brasileiro aos ditames do capital se constituindo em imenso retrocesso em prejuízo dos trabalhadores. Na verdade, todos que seguem esse ritual, de maneira direta ou indireta, estão se subordinando à ideologia neoliberal à serviço do capital financeiro nacional e internacional, abrem mão de um projeto emancipatório e escondem sua impotência mediante um discurso cheio de abstrações sociológicas, mas muito conveniente para o capital. Por isso, combatem as lutas de caráter geral, para fragmentá-las em lutas específicas, que não afrontam abertamente o sistema dominante. O desaparecimento no mundo de hoje das ultimas reservas de racionalidade crítica preconizada pelo Iluminismo e pela Modernidade, que se degradaram em sucessivos processos de autodestruição ao longo do tempo, abriram caminho para a PósModernidade que representa o aumento do calvário a que estão submetidos os seres 2

humanos e, também, uma gigantesca ameaça para o progresso da humanidade. Diante deste fato, trata-se de um imenso desafio para os pensadores contemporâneos estabelecer novos paradigmas e novos valores de comportamento racional a serem formulados para a sociedade humana na era atual visando derrotar a nefasta influência política e ideológica da Pós-Modernidade que, segundo seus ideólogos, não existem verdades, que todos os sistemas anteriores estavam errados e que nada pode ser conhecido. Os pensadores contemporâneos precisam se mobilizar na reinvenção de um novo projeto iluminista como fizeram os pensadores do século XVIII visando a construção de um mundo novo que leve ao fim o calvário da humanidade. * Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.

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