O Integralismo como movimento intelectual ou de intelectuais: uma abordagem sociológica da intelectualidade integralista

July 18, 2017 | Autor: Alexandre Ramos | Categoria: Integralismo, História Dos Intelectuais
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O Integralismo como movimento intelectual ou de intelectuais: uma abordagem sociológica da intelectualidade integralista Alexandre Pinheiro Ramos1 Resumo: Este trabalho tem como objetivo estudar alguns dos elementos que estiveram relacionados com a criação da Ação Integralista Brasileira através da análise das redes sociais que foram articuladas, destacando-se, aí, as relações e os contatos mantidos entre os intelectuais que se filiaram ao Integralismo. Palavras-chave: Integralismo; Sociologia dos Intelectuais; Intelectuais brasileiros.

Abstract: The objective of this paper is to study some elements related to the foundation of the Brazilian Integralistic Action [Ação Integralista Brasileira] by analyzing the social networks that were articulated, focusing on the relations and contacts established between the intellectuals that joined the Integralism [Integralismo]. Key-words: Integralism; Sociology of Intellectuals; Brazilian Intellectuals.

1. Introdução A Ação Integralista Brasileira, fundada em 1932 através do chamado Manifesto de Outubro, pelo escritor Plínio Salgado – que havia composto os quadros políticos do Partido Republicano Paulista e participara do movimento modernista – só veio a se constituir em um partido político em 1934, no I Congresso Integralista Brasileiro realizado na cidade de Vitória, no Espírito Santo, onde foram definidos seus estatutos. Até então a AIB não possuía tal característica, pois, de acordo com o Manifesto, o “ideal” do movimento “não nos permite entrar em combinação com qualquer partido político, pois não reconhecemos partidos: reconhecemos a Nação” 2 . É interessante sublinhar isto porque, embora possamos analisar ambas as atitudes como resultados de cálculos políticos em vista da situação pela qual o Brasil atravessava, mostra alguns traços particulares do Integralismo que devem ser levados em consideração para sua compreensão, afinal, ainda que a AIB ganhasse, aos poucos, feições bastante singulares com a adoção de um uniforme, símbolos e ritualística bastante elaborada, organizando-se hierarquicamente e dividindo-se em vários departamentos e secretarias, o que 1

Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da UFRJ. Bolsista CAPES. E-mail: [email protected]. 2 Mais a frente no Manifesto de Outubro, lê-se o seguinte: “Ou os que estão no Poder realizam o nosso pensamento político, ou nós, da Ação Integralista Brasileira, nos declaramos proscritos, espontaneamente, da falsa vida política da Nação, até ao dia em que formos um número tão grande, que restauraremos pela força nossos direitos de cidadania, e pela força conquistaremos o Poder da República”. Cf. “Manifesto Integralista de Outubro”. In: CHACON, V. História dos Partidos Brasileiros. Brasília: UnB, 1998. 3ª Edição. p. 341-342.

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parece encontrar-se em sua base, e em sua origem, é a ênfase e importância dada à dimensão intelectual do movimento. Neste sentido, o Integralismo deu continuidade àquela tendência observada por Daniel Pécaut (1990) sobre os intelectuais brasileiros e “sua vocação para elite dirigente”, pois “a arte de governar relaciona-se com o saber científico” (p. 22 e 30). A importância da dimensão intelectual para a organização a atuação do movimento integralista pode ser observada em duas situações que o antecederam, mas tiveram sua parcela de influência: a criação da revista Hierarchia, no Rio de Janeiro, e a fundação da Sociedade de Estudos Políticos (SEP), em São Paulo, nos anos de 1931 e 1932, respectivamente. Estes elementos, ainda que em número reduzido diante de tantos outros que igualmente contribuíram para a criação da AIB, são relevantes na medida em que se encontram diretamente relacionados à esfera da cultura, isto é, o espaço de produção e distribuição de significações e bens simbólicos onde os intelectuais, nas palavras de Carlos Altamirano (2005), possuem seu império (p. 95). É através dos produtos culturais daí provenientes (mas não somente) que estes indivíduos relacionam-se entre si, construindo suas redes sociais que tanto podem estar circunscritas a espaços de interação face a face como prescindir de contextos presenciais. Os casos da revista Hierarchia e da SEP são representativos destas situações, pois a primeira serviu como um primeiro “ambiente” a viabilizar a aproximação entre futuros integralistas por meio daquilo que cada um apresentava em seus artigos. A Sociedade de Estudos Políticos, por sua vez, possibilitou uma interação direta ao contar com algumas reuniões envolvendo seus membros fosse no Clube Português, em São Paulo, ou na redação do jornal A Razão, onde Plínio Salgado trabalhava – voltaremos a ambos mais a frente. A despeito da função instrumental da revista e, sobretudo, da SEP, afinal, era preciso intervir sobre a sociedade brasileira, havia, aí, considerável importância dada à dimensão intelectual e simbólica, e se somarmos isto a ideia de que “Todos os grupos que buscam uma orientação social começam por uma interpretação da sociedade que os enfatiza” (MANNHEIM, 1974: 78), teremos, assim, um panorama conciso, porém de grande valor analítico para orientar nossas reflexões acerca da intelectualidade integralista, pois diante do que se pode verificar tanto da maneira pela qual a AIB desenvolveu-se quanto daquilo que se encontrava em suas origens e não foi abandonado – ao contrário, serviu-lhe como motor e importante princípio organizador –, não parece correto considerar o Integralismo como mero partido político (ainda que o primeiro de projeção e alcance nacional) e limitado às lutas no campo político brasileiro, sendo, então, necessário atentar para sua intensa atuação, também,

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no campo intelectual3, observando-se sua produção simbólica cuja variabilidade de ideias e temas trabalhados, apresentada em uma estrutura organizada e disseminada pelo território nacional, contribui em larga medida para a avaliação do Integralismo como um movimento altamente intelectualizado, uma comunidade argumentativa complexa e internamente hierarquizada a qual se articulou e desenvolveu-se de modo bastante dinâmico, mobilizando uma série de relações sociais e intelectuais que concorreu para sua expansão. O presente trabalho buscará, assim, analisar alguns dos elementos que contribuíram para a criação da Ação Integralista Brasileira através das redes sociais que foram articuladas, destacando-se, aí, as relações e os contatos mantidos entre os intelectuais que se filiaram ao Integralismo e contribuíram para que este se transformasse em um movimento intelectual/de intelectuais. Em vista do espaço que temos disponível para o tratamento desta questão, não nos deteremos sobre as ideias produzidas por estes intelectuais. Para uma melhor exposição, dividiremos este texto em mais três seções: a próxima ocupar-se-á, rapidamente, das referências teóricas das quais lançamos mão; em seguida, trabalharemos com o objeto de pesquisa em questão, onde será exposto, também, o material e os métodos utilizados; por fim, apresentaremos algumas conclusões, ainda que parciais, da pesquisa.

2. Alguns comentários sobre a sociologia dos intelectuais Nesta seção pretendemos expor, rapidamente, alguns dos referenciais teóricos que foram mobilizados a fim de orientarem nossas análises sobre a intelectualidade integralistas. Como mostrado por Charles Kurzman e Lynn Owens em seu artigo sobre a sociologia dos intelectuais (2002), este campo de estudos pode ser dividido em três abordagens distintas, cada qual centrada nas relações entre intelectuais e classes sociais: os intelectuais como sem classe [class-less], como classes em si mesmo [class-in-themselves] e ligados a uma classe [class-bound]. A partir da identificação destas três linhas de ação distintas, os autores passam em revista alguns autores e obras as quais identificam como pertencendo a uma ou outra abordagem, percorrendo, para tanto, quatro momentos na história da análise sociológica dos intelectuais (The Founding of the Field, Mid-century Attention, Late-century developments e The Twenty-First Century), enfatizando, sempre, os principais representantes daquelas vertentes de estudo. De acordo com esta divisão, a reflexão que ora pretendemos levar adiante estaria relacionada à abordagem dos intelectuais como sem classe em vista dos principais autores cujos trabalhos lançamos mão para esta primeira aproximação: Karl Mannheim e 3

Utilizamos esta noção de “campo intelectual” em um sentido mais lato, sem as maiores implicações observadas, por exemplo, nos estudos de Pierre Bourdieu.

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Randall Collins (identificados com o primeiro e terceiro momentos, respectivamente). Mas desde já explicitamos que tomamos tal divisão de modo puramente classificatório, não estando em nossas preocupações atuais trabalhar com a questão das classes sociais e das relações entre estas e os intelectuais e sua atuação na sociedade. Antes, o que mais nos importa, é trabalhar as relações que foram construídas entre os intelectuais ligados ao movimento integralista; é refletir sobre as maneiras pelas quais estes indivíduos aproximaram-se, organizaram-se e atuaram, é buscar a dinâmica interna desta intelectualidade, as redes sociais que foram construídas e como foram mobilizadas. Desta maneira, interessa-nos a reflexão de Karl Mannheim sobre o “Problema da intelligentsia” (1974) nas questões que tratam da posição do intelectual na sociedade, ou seja, dos círculos sociais dos quais faz parte de modo a tornar-se um ponto de interseção entre estes, encontrando-se no interior de várias redes sociais através das quais ocorrem suas interações com outros indivíduos (que podem ser posteriormente mobilizadas visando determinado objetivo) – sua participação em vários grupos, que por vezes se entrecruzam, influenciaria motivações ou as próprias ideias desenvolvidas pelo intelectual em vista dos contatos estabelecidos e posteriores reflexões empreendidas. Estas várias associações levadas a cabo pelo intelectual, algumas de maior relevância que outras, dependendo da situação, como a filiação a um partido político ou participação em um movimento artístico, por exemplo, são de grande valor porque nos permite rastrear tanto os tipos específicos de relações que tomam corpo no microcosmo intelectual como também os espaços sociais no interior dos quais aquelas ocorre, visto que estes acabam por se tornarem elementos igualmente específicos de tal microcosmo, isto é, constituem-se nos ambientes privilegiados de encontros e debates onde parte da dinâmica intelectual se desenvolve – o espaço de uma livraria ou redação de jornal se transforma em um local de interação onde ideias são apresentadas, criticados, anuídos; onde decisões são tomadas e tanto amizades e inimizades são construídas (cada qual com suas consequências). Neste sentido, vale lembrar a seguinte passagem de outro texto de Mannheim (s/d), onde escreve o autor: “Na vida real, o que liberta o pensamento é sempre um centro volitivo; a competição, a vitória, e a selecção a que obriga, determina, em larga medida, o movimento do pensamento (p. 32). Ora, estabelecendo-se, como fica bem claro, uma situação de conflito como capaz de propulsionar ou propiciar uma determinada atitude intelectual, isto é, a elaboração, por exemplo, de novos argumentos ou ângulos de análise sobre determinada questão – aquilo que John G. Pocock (2003) chama de lance – ficamos diante não só de uma situação onde o contato entre os intelectuais (dependendo do caso, não precisa ser necessariamente presencial) é de suma importância seja para a compreensão de seus produtos 4

simbólicos ou da dinâmica que marca suas relações, como, também, de que o próprio conflito ou competição são elementos constitutivos desta mesma dinâmica, sendo observada com mais clareza em disputas entre intelectuais ou grupos intelectuais distintos, mas igualmente encontrada no interior de um mesmo grupo. Esta questão relativa à posição do intelectual na sociedade, ou seja, nos grupos sociais dos quais faz parte e onde interage, aponta, assim, para o fato de que são variadas as influências sobre ele bem como suas motivações e interesses, e por isto “não devemos impedir-nos de analisar as condições objetivas que confrontam o indivíduo a cada passo. Essas condições canalizam e motivam seu comportamento, esteja ele ou não consciente delas” (MANNHEIM, 1974: 85). Sua situação no campo intelectual, desta maneira, encontra-se diretamente ligada às ações e escolhas que lhe foram possibilitadas – em outras palavras, diz respeito ao processo de desenvolvimento de sua biografia onde se encontram mesclados tanto fatores “estruturais” quanto as consequências de seu agir individual –, e para compreendê-la e analisá-la de modo a ser possível o estabelecimento das relações específicas com outros intelectuais (e com o restante do próprio campo), precisamos ter especial atenção para com aquilo que compete para produzi-la, isto é, alguns elementos mais ou menos imprescindíveis que vão desde os mais básicos, como a possibilidade de contato com o campo intelectual, até os mais específicos, como o conhecimento de sua dinâmica, suas regras e códigos. É preciso buscar tais elementos para que se possa mapear e fornecer um panorama das relações que se estabelecem entre os intelectuais, levando-se em consideração sua complexidade e variabilidade, evitando-se, assim, qualquer tipo de reducionismo a estabelecer um único fator como o principal mecanismo que faz o microcosmo intelectual, e tudo que nele se encerra e, movimentar-se. Nas palavras de Sirinelli: “Todo o grupo de intelectuais organiza-se também em torno de uma sensibilidade ideológica ou cultural comum e de afinidades mais difusas, mas igualmente determinantes, que fundam uma vontade e um gosto de conviver” (SIRINELLI, 2003: 248). Ora, se estas considerações feitas por Mannheim – as que optamos por trabalhar no presente texto, sem estarmos, no entanto, limitados a elas – fornecem o referencial teórico para pensarmos a posição do intelectual na sociedade e as redes sociais as quais ele constrói e de que faz parte (e que terão alguma influência sobre sua produção), os trabalhos de Randall Collins apresentam elementos que nos permitem analisar a dinâmica do microcosmo intelectual. A articulação entre as ideias desenvolvidas por estes dois autores, a despeito do fato de que cada um apresenta preocupações e abordagens particulares, parece fortuita para que delineemos, ainda que de forma primária, quase introdutória, alguns aspectos da 5

sociologia dos intelectuais a partir dos quais pretendemos estudar a intelectualidade integralista. Como feito anteriormente, optamos por enfatizar somente alguns pontos com os quais poderemos trabalhar na seção seguinte, a saber: as relações sociais estritamente vinculadas ao mundo intelectual e a articulação destas com aquilo que o autor chama de estrutura de oportunidade [Opportunity structure]. A partir de uma situação mais ampla – a inserção do intelectual em vários círculos sociais – chegamos a esta mais restrita relacionada às particularidades das redes intelectuais (para usarmos a expressão do próprio Collins). Tomemos como ponto de partida um traço central da reflexão empreendida por Randall Collins que se coaduna com o que foi exposto por Mannheim acerca do “movimento do pensamento”: o conflito exerce um papel fundamental na dinâmica interna do campo intelectual, pois são as oposições existentes entre os grupos ou indivíduos que dele fazem parte que se encontram na base de seu desenvolvimento (isto não significa que possamos traduzir sempre estas oposições como “rivalidades” pessoais ou mesmo direcionadas de modo consciente, visto que estas são passíveis de existirem como o resultado, por exemplo, de interpretações ou análises diferentes, empreendidas por dois grupos intelectuais, de uma determinada tradição anterior a eles, não havendo nenhum tipo de disputa direta entre eles – esta pode surgir com o passar do tempo), neste sentido, observa-se que “The core experiences of intellectuals are their immediate interactions with other intellectuals” (COLLINS, 1998: 25), implicando, assim, que os contatos entre os intelectuais – pessoalmente ou por meio da leitura de suas obras – fornecem a estrutura do campo intelectual bem como sua dinâmica, incluindo-se aí seus elementos particulares, como a elaboração de bens culturais (livros, revistas ou jornais onde são veiculadas e disseminadas suas ideias) e o estabelecimento de espaços próprios para estes contatos. Note-se que compreendemos, aqui, o conflito de modo semelhante ao apresentado por Georg Simmel (1955), consequentemente, sua centralidade na conformação das redes intelectuais encerra tanto uma característica negativa, isto é, de oposição ou luta, dando margens a enfretamentos intelectuais (como mencionado pouco acima), como positiva, no sentido de que as contradições e eventuais “dilemas” aos quais o indivíduo fica exposto auxiliam na (re)elaboração de seu pensamento ou de suas ideias – a colocação, inclusive, de uma determinada problemática acerca da qual não se havia antes refletido leva o indivíduo a buscar articulá-la ou relacioná-la com aquilo que já se fazia presente em sua estrutura mental. Ou seja, o conflito acha-se imbuído de um aspecto “construtivo” – tanto neste sentido aqui expresso, como um importante elemento de associação, visto que a discordância ou a (re)formulação de determinado pensamento, provocadas pelos contatos com/no campo intelectual, permite a aproximação dos intelectuais 6

(o que não os exime de eventuais atritos que podem ter como resultado tanto o maior fortalecimento de suas relações quanto o rompimento total destas). A partir destas considerações evidencia-se a importância das relações entre os intelectuais na constituição do espaço de experiência destes, onde se fundem “tanto a elaboração racional quanto as formas inconscientes de comportamento, que não estão mais, ou que não precisam mais estar presentes no conhecimento” (KOSELLECK, 2006: 309). Este espaço (intelectual) de experiência encerra todas aquelas ações cuja reprodução e reatualização formam a dinâmica e a estrutura do campo intelectual, influenciando, por um lado, o comportamento individual, “isolado” – o momento em que o intelectual recolhe-se para elaborar e refinar suas ideias através de variadas operações mentais, o pensar, onde é estabelecida uma situação dialógica internalizada, resultado da exposição do indivíduo aos argumentos de terceiros com os quais precisa entrar em contato a fim de desenvolver os seus próprios, que serão posteriormente exteriorizados na forma escrita ou falada –, e por outro, o comportamento coletivo mais amplo, aquilo que se poderia chamar de jogo intelectual, quando seus participantes engajam-se em disputas simbólicas nas quais um visa exclusivamente o outro, ou visam, também, o público que pode ser constituído tanto por outros intelectuais (que decidem se tomam parte ou não do jogo, seja associando-se a um dos lados ou criando um distinto) quanto por leigos. A distinção feita por Koselleck entre “elaboração racional” e “formas inconscientes de comportamento” é interessante na medida em que fornece um quadro dos elementos atuantes naquele espaço (intelectual) de experiências, no entanto, é possível que tal separação não seja viável sempre (isto é, fora do nível abstrato), visto que determinadas ações podem estar tão rotinizadas e inseridas na cotidianidade, ou mesmo que sejam fruto de experiências alheias, incorporadas pelo indivíduo, que as distinções tornam-se opacas ou até mesmo que seu conteúdos fiquem fluidos – porém, não enveredaremos para esta discussão, deixando somente registrada a existência de características particulares do campo e do espaço de experiência intelectual. Tudo isto ocorre dentro da estrutura de oportunidade, que pode ser traduzida como as possibilidades que se abrem (e fecham) para o intelectual através de seu deslocamento entre as redes e círculos sociais dos quais faz parte: as chances dele travar contato com outros (pessoalmente ou não), ou de estar próximo de onde ocorrem as principais discussões e conflitos simbólicos, são fundamentais para a inserção, a produção, a atuação e a visibilidade do intelectual. A estrutura de oportunidade fornece-lhe tanto os meios, ou seja, equipa-o com uma série de recursos e elementos os quais pode mobilizar para sua ação, como impõe barreiras, coerções e constrangimentos, capazes de tolher alguma forma de manifestação que 7

possa a entrar em desacordo com aquilo que a sustenta ou com a maneira como ela funciona internamente. Neste sentido, tal estrutura faz-se presente desde a tentativa de ingresso/acesso do indivíduo ao campo intelectual e seu espaço de atenção até a veiculação de suas obras, sem deixar de lado sua legitimação e consagração; mas todos estes acontecimentos estão igualmente relacionados às ações do próprio individuo, em sua monitoração daquilo que está ocorrendo no campo e que lhe fornece um determinado leque (limitado) de informações, permitindo-o agir no momento no qual julga propício – existe, aqui, um componente estratégico, mas este não pode ser hipostasiado sob a pena de ignorar-se a influência de diversos outros fatores para a atuação intelectual que não se coadunariam com uma atitude estritamente “racional” requerida para a elaboração e execução de uma estratégia. O timing do intelectual é crucial para definir sua posição no campo, onde se situa em sua hierarquia, podendo ele deslocar-se em seu interior ao lançar alguma ideia ou argumentação que, problematizando outras, atrai a atenção dos intelectuais (e do público) para si – e a partir das mudanças que ele consiga, aí, imprimir, é possível que novas relações e redes sociais se construam pelos contatos recém-estabelecidos (através, por exemplo, de eventuais convites para conferências ou palestras, a “descoberta” de sua obra anterior e em desenvolvimento) com aqueles que abraçaram ou passaram a discutir estas ideias novas. Estas considerações, bastante introdutórias de algumas questões com as quais nos defrontaremos neste texto, servem como referências teóricas para uma análise do “nível” social das relações que se estabelecem entre grupos de intelectuais, havendo, ainda, outro nível, o intelectual, que diz respeito ao conteúdo da produção destes indivíduos. Como não abordaremos esta dimensão no presente trabalho, faremos somente uma rápida menção a alguns elementos que dela fazem parte. Acerca dos autores, destacamos, aqui, Quentin Skinner e, principalmente, John G. Pocock; as reflexões de Mark Bevir sobre a história das ideias também fornecem subsídios para estudos que se ocupem das ideias, projetos, visões de mundo, etc. elaboradas pelos intelectuais. Embora estes dois “níveis” possam ser trabalhados de modo isolado, sua articulação é enriquecedora, pois um ilumina o outro e permite, assim, não só um maior esclarecimento sobre as questões que surgem quando debruçamo-nos sobre a organização e atuação intelectual, como problematiza as relações entre estes (e sua produção) e algumas situações que anteriormente eram tidas como dadas, taken for granted. A análise da produção simbólica (na forma de livros, artigos, manifestos, palestras) leva em consideração duas categorias fundamentais: a de comunidade argumentativa, ou comunidade de debates (POCOCK, 2003), que consiste no conjunto de autores envolvidos com determinados temas ou programas de ação (os autores reunidos em uma revista, por 8

exemplo, formariam uma comunidade argumentativa) e que partilham um determinado vocabulário político-social em comum, e de contexto intelectual (SKINNER, 1999), que é o contexto dentro do qual aquela produção foi concebida, formado pelo conjunto de obras e ideias anteriores que foi herdado pelos autores em determinada situação histórica, além daqueles textos circulantes à época, sejam eles de maior ou menor projeção. Tanto uma categoria quanto a outra guardam suas respectivas especificidades advindas do tipo de abordagem que cada autor empreende, no entanto, elas não são excluem-se mutuamente e podem ser articuladas tanto entre si quanto com aquilo que já trabalhamos mais acima. Tratando de maneira bastante sintética, pois não se trata de nosso presente objetivo, podemos considerar o contexto intelectual como o universo simbólico em constante transformação onde seus vários elementos constitutivos – conceitos, ideias, doutrinas, projetos, programas – estão relacionados aos intelectuais que os produzem, reproduzem ou combatem, passíveis de serem observados de modo concentrado ou exclusivo ou então pulverizados dentre vários grupos (ou instituições). No interior deste universo, resultado de vários processos de criação, esquecimento e resgate, cujas influências fazem-se sentir em sua configuração atual, encontram-se aquelas comunidades argumentativas, às vezes isoladas (aparentemente), ou sobrepostas, visto que a dinâmica do microcosmo intelectual, onde os indivíduos transitam e deslocam-se por meio de seus círculos sociais, permite tal interação que se traduz nos debates e conversas travadas acerca de temáticas específicas; o contexto intelectual, poder-se-ia dizer para criarmos uma imagem de caráter ilustrativo, é compartimentalizado, pelo menos no que diz respeito a uma estruturação mais formal, isto é, seus “espaços” sendo ocupados por núcleos produtores mais ou menos definidos – mas se observarmos seus pormenores, rastreando suas constituições ao longo tempo, encontraremos aquele mesmo processo de criação, esquecimento e resgate que forma um “fluxo intelectual” comum, subjacente a estes núcleos, pois aquilo que foi herdado por um e mantido (ou re-atualizado), pode muito bem ter sido esquecido por outro que, por sua vez, criou algo novo – e um terceiro pode vir a transformá-lo, e assim sucessivamente. Há, então, um substrato cujo alcance e influência pode ser mais incisivo ou não, contudo, ele está lá. São, neste sentido, as comunidades argumentativas que criam este contexto intelectual ao mesmo tempo em que são por ele definidas, e estas, evidentemente, são compostas por intelectuais, de maior ou menor projeção, cujo trabalho (publicando livros ou escrevendo para revistas), bem como as interações que o enriquece, fornecendo elementos para o ulterior desenvolvimento de seu conteúdo, permite erguer todo este complexo, dinâmico e em constante mutação.

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3. Aspectos da organização da intelectualidade integralista Antes de adentrarmos em nossa temática específica, parece interessante enumerar as fontes e os materiais de análise os quais consultamos para a elaboração de nossa pesquisa: para tratarmos da dimensão intelectual, isto é, a produção simbólica do Integralismo, foi mobilizado todo um corpus textual composto pelos livros publicados pelos intelectuais integralistas – entre o período de 1932 a 1937 – e por outros autores que tiveram alguma influência sobre o pensamento destes e aos quais se reportavam (como as obras de Alberto Torres, Oliveira Vianna, Farias Brito, Graça Aranha), bem como alguns dos principais periódicos do movimento, como a revista Panorama (destinada à “elite intelectual do país”), a revista ilustrada Anauê! (voltada para o público em geral) e a revista Brasil Feminino 4 . Entram neste corpus a já citada revista Hierarchia bem como A Ordem, do Centro Dom Vital, em cujas páginas foram veiculados artigos sobre a Ação Integralista Brasileira. Formamos, aqui, o contexto intelectual da época. Para a abordagem sobre a qual nos deteremos aqui, da dimensão social da organização da intelectualidade integralista, lançamos mão não só da própria biografia secundária sobre o Integralismo como de uma série de documentos (como a correspondência particular destes intelectuais) e, seguindo os passos de Sérgio Miceli (2000), biografias e memórias de personalidades ligadas ao movimento. Na introdução deste trabalho estabelecemos duas possíveis “origens” para a maneira como o movimento integralista articulou-se e desenvolveu-se: uma mais remota, com a Hierarchia, onde foram estabelecidas as primeiras articulações entre futuros intelectuais integralistas, e outra mais direta, a criação da Sociedade de Estudos Políticos (SEP). Em ambas encontramos a figura de Plínio Salgado, fundador da AIB, e para os fins aqui visados, centraremos nossa atenção sobre ele – procurando evitar, no entanto, erros muitos comuns, como o de Hélgio Trindade em seu trabalho pioneiro sobre o Integralismo (1974) que, ao debruçar-se sobre a trajetória de Plínio Salgado, fez uma análise retrospectiva, ou seja, partiu da existência consolidada do movimento para, então, retroceder e “localizar” seu gérmen, por exemplo, em livros e artigos anteriores ao Manifesto de Outubro, como se estes fossem produzidos em função de um horizonte de expectativas muito mais amplo do que aquele possibilitado pelo espaço de experiência dos atores sociais; é preciso, por conseguinte, uma abordagem prospectiva, que leve em consideração, justamente, as experiências dos agentes, os acontecimentos e mudanças pelos quais passaram, em suma, o contexto (social, político, econômico) no qual estavam inseridos e seu desenrolar. 4

Consideramos o conjunto de livros e periódicos integralistas como componentes de um “sistema de produção de bens simbólicos” (BOURDIEU, 2003). Sobre este “sistema” em particular: RAMOS, 2009.

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A importância de Plínio Salgado não se limita ao fato de ter sido ele o fundador da Ação Integralista Brasileira e sua principal personalidade, pois sua trajetória é ilustrativa daquilo que nos pretendemos analisar, afinal, trata-se de alguém inserido tanto nas esferas política e cultural – traço fundamental para compreender sua atuação e suas ideias, retomando-se, aqui, a questão sobre o intelectual imbuído de uma “missão” (as mudanças a serem provocadas na sociedade passariam, necessariamente, pela definição de rumos traçados pelo intelectual) – o que lhe possibilitava não só acesso a determinados grupos sociais, mais “restritos”, como ao conhecimento de elementos particulares destes dois ambientes distintos, ou seja, seus símbolos e códigos e toda gama de informações passíveis de serem mobilizadas nas relações com seus membros; em outras palavras, a posição de Salgado nos círculos sociais relacionados à política e à cultura permitiria o estabelecimento de contatos e a abertura de possibilidades daí advindas (e por vezes as atividades ligadas a uma ou a outra se misturavam). Ilustrativo, aqui, é o trabalho de Plínio Salgado no Correio Paulistano, que tem Menotti Del Picchia como redator-chefe: ambos participaram do movimento modernista e foram eleitos deputados estaduais pelo PRP, em 1927, um ano após a publicação do romance de Plínio Salgado, O Estrangeiro, muito bem aceito pela crítica na época, que foi publicado pela editora Helios, fundada por Cassiano Ricardo – quem solicitou a Salgado os originais do romance para que pudesse ler – e pelo próprio Menotti Del Picchia. É um exemplo simples que, no entanto, fornece um vislumbre do funcionamento destas redes sociais, de como tomam corpo as relações entre os indivíduos no interior de um determinado espaço, ao qual nem todos têm acesso, e como estas se desenvolvem e quais seus resultados: o Correio Paulistano não era somente um órgão ligado ao PRP como, também, um pequeno ambiente de convívio intelectual através do qual, em última análise, o nome de Plínio Salgado é tornado conhecido nos círculos intelectuais do Brasil. Se quisermos utilizar categorias de Randall Collins (op. cit), poderíamos dizer que, neste momento (ainda na década de 1920), a energia emocional5 (e o capital cultural) de Plínio Salgado é carregada e aumentam de intensidade, o que concorre para que ele dê prosseguimento a suas atividades ou, no mínimo, coloquem-no como um participante em potencial do campo intelectual – em 1927, ele publica o livro Literatura e Política e Discurso às Estrelas, redige o manifesto modernista A anta e o curupira e O curupira e o carão juntamente de Menotti Del Picchia e Cassiano Ricardo. Temse, aqui, uma comunidade argumentativa cuja produção simbólica não só passa a integrar o contexto intelectual da época (dialogando constantemente com ele) como estabelece, em 5

Para Collins, a energia emocional [emotional energy (EE)] consiste em “the kind of strength that comes from participating successfully in an interaction ritual” (p. 29).

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alguma medida, os contornos mais ou menos visíveis das afinidades e sensibilidades (culturais, políticas) que definem as pessoas que dela fazem parte ou com as quais dialoga. É um retrato extremamente sintético que revela ao pesquisador algumas características do funcionamento do microcosmo intelectual. Na década de 1920 estas relações e contatos já estão estabelecidos, por conseguinte, toda a gama de informações e o conhecimento adquirido por Plínio Salgado nelas podiam ser mobilizados – somando-se a isto, claro, os benefícios advindos da própria posição calcada por ele no campo intelectual. A partir de 1930, as redes sociais vão ficando cada vez mais complexas e se ampliam seguindo as movimentações de Plínio Salgado e os encontros (e possibilidades) que a elas estão ligados6; e novamente o trabalho de Salgado em um jornal ganha relevo: no A Razão, fundado em São Paulo em 1931 por Alfredo Egídio de Souza Aranha, primo de Osvaldo Aranha (então Ministro da Justiça), ele escreve uma “Nota Política” e é um dos redatores do jornal ao lado de San Tiago Dantas, que fazia parte do grupo de estudantes e jovens intelectuais com os quais Plínio Salgado se reunia na Livraria Católica no Rio de Janeiro (faziam parte deste grupo, além de Dantas, Hélio Viana, Américo Jacobina Lacombe, Augusto Frederico Schmidt, Lourival Fontes, dentre outros) e veio a ser também redator, como já mencionado, da revista Hierarchia. Através do A Razão, Plínio Salgado travou contato com novas redes sociais ao mesmo tempo em que, de “posse” de um meio que o permitia dirigir-se diretamente a um público mais amplo, conseguiu lançar suas ideias, fazendo-as chegar a grupos dispersos de intelectuais (TRINDADE, 1974: 89) – aqui, novamente a divisão entre política e cultura torna-se problemática, e o contexto intelectual da época é tomado por uma mescla de ideias advindas de ambas esferas – a despeito de sua breve existência (quase um ano), visto que o jornal foi empastelado em maio de 1932. No entanto, independentemente deste fato, desde fevereiro já estava organizada em São Paulo a Sociedade de Estudos Políticos (SEP)7 que reuniu, de modo semelhante ao grupo da Livraria Católica (RJ), jovens intelectuais de São Paulo e estudantes da faculdade de Direito – incluíam-se aí,

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Parece interessante mencionar que, ainda na década de 1920, Plínio Salgado recebia, na pensão onde morava, a visita de Raul Bopp (com quem já estudara a língua tupi), Augusto Frederico Schmidt, Fernando Callage (da revista Novíssima), Mário Pedroso, dentre outros. 7 De acordo com Plínio Salgado (em carta para Olbiano de Melo), o objetivo da SEP era “criar uma nova mentalidade. Na capital ela está aumentando cada vez mais o número de adeptos; estamos organizando células em cada uma das cidades do Estado. Resolvi pedir aos editores e autores que nos auxiliem nesta hora de catequese e de iniciação. Vou divulgar, por um sistema que engendrei, a obra de Alberto Torres, de Oliveira Viana, de Tristão de Athayde, de Otávio Faria, de Alberto Faria, de Euclides da Cunha, de Oliveira Lima, de Nabuco, a literatura fascista de Rocco, o que Portugal nos oferece de mais interessante, e, com o tempo, os trabalhos de escritores franceses, ingleses, americanos e alemães. Pretendo organizar comissões de estudo e divulgação especializadas cada qual em assuntos econômico-financeiros, sociológicos, religiosos e culturais”. Cf. MELO, 1957: 61-62.

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por exemplo, Roland Corbisier (então estudante), e Cândido Motta Filho, que havia publicado em 1931 o livro Alberto Torres e o tema de nossa geração, prefaciado por Plínio Salgado (a obra e as ideias de Alberto Torres, aliás, tornam-se “objetos sagrados” para alguns grupos de intelectuais desta época). A SEP constituiu-se em uma comunidade argumentativa onde seus integrantes, inclusive, valiam-se de um ambiente físico para seus encontros e conversas, ou seja, um espaço de sociabilidade para interações de co-presença, onde novas redes eram construídas – ou rompidas, como ocorreu com as pessoas ligadas ao movimento Patrionovista – e seus participantes tinham, retornando a Collins, sua energia emocional e seu capital cultural alterado de acordo com a frequência e participação nestes encontros. A SEP dá lugar a Ação Integralista Brasileira em vista dos acontecimentos de 1932, mas antes de determo-nos sobre ela, passemos nossa atenção para o Rio de Janeiro. A revista Hierarchia, criada em 1931 por Lourival Fontes, contou com a colaboração de Plínio Salgado e outros futuros intelectuais integralistas, como San Tiago Dantas, Hélio Viana (seus redatores, junto de Fontes), Madeira de Freitas (mais conhecido por seu pseudônimo, Mendes Fradique), Antônio Galloti e Olbiano de Melo, sendo que o contato estabelecido entre este último e Salgado deu-se por meio de troca de correspondências após seu conhecimento das ideias desenvolvidas por Melo, que morava em Minas Gerais e já havia publicado os livros A república sindicalista dos Estados Unidos do Brasil (1930) e Comunismo ou Fascismo (1931) – em carta enviada a Olbiano de Melo, Plínio Salgado chamou a atenção para a semelhança entre suas ideias. Além disto, Dantas e Viana também estavam envolvidos com a Revista de Estudos Jurídicos e Sociais, que contava com a colaboração de outros futuros integralistas, como Thiers Martins Moreira e Américo Jacobina Lacombe8. O contato de Plínio Salgado com este grupo de intelectuais datava de 1931, e após a criação da Sociedade de Estudos Políticos, ele retoma-o novamente por meio de Augusto Frederico Schmidt e San Tiago Dantas, possibilitando a criação de uma seção da SEP no Rio de Janeiro que contava, ainda, com a participação de Lourival Fontes (lembrando-se que este em momento algum fez parte do movimento integralista). Estas duas revistas 9 – havendo maior relevância, talvez, da Hierarchia – são ilustrativas das experiências destes intelectuais, onde o contato entre si, que leva a discussão de ideias e as possibilidades de apresentarem-nas 8

San Tiago Dantas, Hélio Viana, Américo Jacobina Lacombe e Antônio Galloti faziam parte do Centro Acadêmico Jurídico Utilitário (CAJU, que posteriormente se chamaria Centro de Estudos Jurídicos e Sociais), por eles fundado. 9 A importância das revistas se dá por serem elas o “observatório de primeiro plano da sociabilidade de microcosmos intelectuais”, ela é “um lugar precioso para a análise do movimento das ideias. Em suma, uma revista é antes de tudo um lugar de fermentação intelectual e de relação afetiva, ao mesmo tempo viveiro e espaço de sociabilidade (...)”. Cf. SIRINELLI, 2003: 249.

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para um público maior, veiculadas por uma revista (que não deixa de ser um diferencial diante da eventual existência de outros grupos intelectuais, animando-os ainda mais para seguirem com sua produção, galgando fatias do espaço de atenção), soma-se a convergência “ideológica” estabelecida com outros núcleos ainda mais conhecidos nos meios intelectuais e forma uma complexa rede social que acaba por extrapolar os limites espaciais imediatos, afinal, é estabelecida uma conexão em um nível intelectual a qual é capaz de permitir a mobilização dos laços sociais quando necessário. As reflexões de Randall Collins são interessantes para a dinâmica que se opera nas relações entre estes intelectuais: I suggest three processes, overlapping but analytically distinct, that operate through personal contacts. One is the passing of cultural capital, of ideas and the sense of what to do with them; another is the transfer of emotional energy, both from the exemplars of precious successes and from contemporaneous buildup in the cauldron of a group; the third involves the structural sense of intellectual possibilities, especially rivalrous ones. (COLLINS, op. cit: 71).

Todo este complexo formado por espaços e relações sociais específicas, pelas redes que se articulam a partir da presença dos indivíduos em vários grupos, permitindo-lhes o contato entre estes e tudo aquilo que ele engendra (a passagem de capital cultural, de ideias, de conhecimentos e informações relativas à dinâmica e a organização do campo intelectual, etc.), relaciona-se à estrutura de oportunidade mencionada anteriormente; em última análise, ela se forma a partir deste complexo, a partir das ações destes indivíduos que, por sua vez, beneficiam-se dela, ou seja, podem apresentar e disseminar seus produtos simbólicos, seja através da publicação de textos (ou mesmo livros) ou do pronunciamento de conferências, bem como discuti-los e refiná-los por meio da interação com outros intelectuais – mas, como já foi aludido, esta estrutura, além das possibilidades, cria coerções, como eventuais restrições à apresentação e circulação de determinadas ideias, ou mesmo à presença em dado espaço, identificadas com outros grupos com os quais se rivaliza na luta pelo espaço de atenção. Este panorama bastante geral traçado até aqui – onde se enfatizou somente algumas figuras de maior centralidade – serve para introduzir a discussão sobre o Integralismo. É evidente que os acontecimentos de 1930 e, principalmente, de 1932, são de suma importância para o lançamento do Manifesto de Outubro que cria o movimento integralista, contudo, outro elemento de igual relevância foi esta articulação prévia entre os grupos de intelectuais trabalhados até aqui – o Integralismo, assim, encontra-se diretamente ligado àquela estrutura de oportunidade. Ora, se ela encontra-se articulada com elementos, sobretudo, do microcosmo intelectual, consequentemente, o Integralismo herda suas características e, a despeito de apresentar-se e afirmar-se como um movimento de ação, que visa intervir e transformar a 14

sociedade brasileira, vale-se delas para sua expansão e seus propósitos e acaba por se constituir, talvez mesmo de modo inesperado, em um movimento intelectual organizado e complexo. Isto significa que a pergunta colocada no título deste trabalho encontra, aqui, sua resposta? Não, pois ele é tanto um movimento de intelectuais, no sentido de congregar em seu interior, em várias posições de destaque em sua hierarquia interna, vários intelectuais (já conhecidos ou que passam a ter acesso ao campo intelectual através dele), quanto é um movimento intelectual por criar um corpo de ideias (gerais) mais ou menos partilhados por todos os seus membros, mas quando nos debruçamos sobre o pensamento de cada um deles, encontramos considerável diferenciação interna, verdadeiras clivagens relacionadas ao maior ou menor peso concedido a determinado problema – vale, aqui, recordar a seguinte passagem de Karl Mannheim (1972): “No domínio intelectual sobre os problemas da vida, cabem a cada um segmentos diferentes, com os quais cada um lida bastante diferentemente de acordo com seus interesses vitais” (p. 56-57). Em pesquisa anterior (RAMOS, 2008) exploramos estas profundas diferenças entre o pensamento de Plínio Salgado e Miguel Reale, as quais nos levaram a postular a ideia de limites (intelectuais) do Integralismo, ou seja, estes dois autores estariam situados em polos opostos daquele corpo de ideias mais gerais, e as variações entre os outros autores, circunscritas a estes “limites” representados pelas propostas de Salgado e Reale. Desta maneira, gostaríamos de propor, ainda que em caráter provisório, uma divisão (de fins analíticos) que, em alguma medida, obedeceria a esta distinção: a Ação Integralista Brasileira seria um movimento de intelectuais (mas não unicamente), é a feição “institucionalmente” organizada do Integralismo, que seria, por sua vez, um movimento intelectual. Como não teremos como desenvolver de maneira mais detida este segundo caso, prosseguiremos atentando somente para aquelas questões sobre a organização da intelectualidade integralista. Em 7 de Outubro de 1932 é publicado o Manifesto de Outubro que lança oficialmente a Ação Integralista Brasileira10. Vale mencionar que Cândido Motta Filho, um dos principais intelectuais da SEP, discordou desta transformação: de acordo com depoimento dado a Hélgio Trindade (op. cit), disse que “nós não podíamos tirar da SEP sua feição cultural. E eu disse a ele (Plínio) com toda a franqueza que achava que não, que ele não deveria transformar aquele movimento nos arrastando a uma responsabilidade que não era nossa” (p. 130-131). A fala de Motta Filho é interessante por destacar a feição cultural da Sociedade, de que havia subjacente a ela uma orientação intelectual, a qual seria perdida ao modificá-la em um 10

Dentro da SEP já existia uma comissão denominada de Ação Integralista Brasileira que, de acordo com Olbiano de Melo (op. cit), deveria transmitir ao público os resultados dos estudos da Sociedade.

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movimento de ação, o que, decerto, significaria aquela “traição” do intelectual, por deixar de situar-se sempre acima das lutas políticas, nunca se filiando a nenhum dos lados em conflito. O que se observa é, ao contrário, a ideia da conversão do intelectual em ator direto das contendas políticas e participante ativo das transformações sociais – é esta a sua missão, e os intelectuais da AIB acabaram por assumirem-na. Independente dos julgamentos passíveis de serem feitos, sublinhamos o fato de que aquela mesma orientação intelectual, ou mesmo tal feição cultural, não desapareceu, mas foi levada para dentro do movimento integralista com a diferença de que seus produtos simbólicos ganhavam, agora, novos “objetivos” ou “funções”. A Ação Integralista Brasileira expandiu-se, nos primeiros meses, de modo bastante lento, mas ainda em 1932 ela atingiu os estados de Minas Gerais, Bahia e Ceará graças “aos contatos de Plínio Salgado com intelectuais e líderes políticos desses estados” (BRANDI, 2001: s/p.) Um dos principais contatos foi Olbiano de Melo que imediatamente fundou em Teófilo Otoni um núcleo integralista – o segundo do país – e ainda conseguiu que o semanário Satélite fosse colocado serviço do movimento, pois seu diretor, Artur Atschin, era um conhecido seu e havia tomado parte na reunião que instalara o núcleo – neste caso fica bem visível a articulação do movimento com base, primeiro, nas relações mantidas por Melo com Plínio Salgado (espacialmente distantes), e depois, através das próprias redes sociais locais onde aquele encontrava-se inserido. E ainda neste mesmo ano, no mês de novembro, acadêmicos da faculdade de Recife publicaram o Manifesto de Recife, onde demonstraram seu apoio ao movimento integralista11. Enquanto isto, em São Paulo, a AIB realizava, em sua sede, suas primeiras reuniões onde antigos membros da SEP participavam e outras pessoas, interessadas no movimento, apareciam, tendo sido Miguel Reale uma das principais. Reale já conhecia as ideias desenvolvidas por Plínio Salgado no A Razão, concordando com muitas delas, e resolveu encontrá-lo, pois estava convencido da “necessidade de um movimento de ideias, capaz de sacudir a Nação de seu torpor” (REALE, 1987: 72). Ambos conversaram e Reale inscreveu-se na AIB em novembro de 1932, sendo, pouco depois, convidado para falar em uma das reuniões semanais. Como tantos outros que se filiaram ao movimento, Miguel Reale era estudante da Faculdade de Direito do Lardo de São Francisco, mas destacou-se como teórico – ocupava-se, sobretudo, com questões relacionadas ao Estado – e no ano seguinte já contribuía para os Estudos Integralistas (1ª Série), volume que contava com o 11

É interessante perceber uma clara referência a Silvio Romero (autor importante para o Integralismo) em uma passagem do Manifesto: “A mocidade nordestina de modo algum poderia ficar indiferente. E muito menos alunos da Faculdade de Direito. Esta escola, que certa vez ouviu proclamar a morte da metafísica, precisa tornar-se uma célula vivíssima desse grande movimento de renovação política, social e espiritual” [o grifo é nosso].

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Manifesto de Outubro, declarações de Plínio Salgado ao jornal Folha da Noite e um artigo de autoria de Olbiano de Melo. A presença de Reale nesta publicação demonstra o prestígio que adquiriu através dos encontros e participações nas reuniões da AIB, afinal, seu artigo (Cartilha do Integralismo Brasileiro) figurava ao lado de textos de intelectuais conhecidos e consagrados – decerto que a posição de Plínio Salgado era bem superior a de Olbiano de Melo. O estreitamento de seus laços e a participação ativa no movimento – Miguel Reale acompanhou Plínio Salgado em viagem ao Rio de Janeiro, onde proferiram conferências na Associação Brasileira de Imprensa (contando, para isto, com a ajuda de San Tiago Dantas) – contribuíram, certamente, para a ampliação de sua energia emocional e de seu capital cultural, o que lhe dava tanto ânimo quanto legitimidade para continuar produzindo e tendo uma atuação destacada na AIB. Suas redes sociais ampliavam-se – por meio desta viagem, travou contato com aqueles jovens intelectuais que formavam o Grupo do CAJU e mesmo com personalidade que nunca vieram a militar no movimento, como Octavio de Farias – e, com elas, seu acesso aos componentes mais “limitados” do campo intelectual: o mercado editorial. Em 1934, Miguel Reale conseguiu publicar seu primeiro livro, O Estado Moderno, pois havia sido apresentado a José Olympio diretamente por Plínio Salgado – e outros quatro livros seus, publicados entre 1934 e 1937 saíram, igualmente, pela José Olympio. Ainda no tocante ao mercado editorial, outra figura importante para a veiculação de obras integralistas no campo intelectual brasileiro foi Augusto Frederico Schmidt, que editou vários autores integralistas por meio da Schmidt Editora, que funcionara nos fundos da Livraria Católica. Estes dados são relevantes pois demonstram a articulação entre estes indivíduos e sua influência na dinâmica da organização e das relações intelectuais, incluindo-se, aí, a própria difusão dos bens culturais, visto que o conhecimento de alguém “do meio” torna-se decisivo para que o livro seja editado 12 – e isto pode, até mesmo, contribuir para que haja uma continuidade da produção por parte do autor, pois a falta de perspectiva de publicação é capaz de tolher ou inviabilizar o desejo do intelectual de prosseguir escrevendo. O ingresso, ou mesmo a simpatia, de pessoas ligadas ao meio intelectual na Ação Integralista Brasileira contribuiu largamente para sua expansão e reforçou ainda mais a importância concedida à esfera cultural. Em 1933 quem se filia a AIB é Gustavo Barroso, membro da Academia Brasileira de Letras, fundador do Museu Histórico Nacional e professor no Curso de Museus ministrado neste mesmo museu, além disto, fora, na década de 1910, 12

E só não podemos deixar de lado o fato de que a presença de nomes de peso levaria a um número maior de vendas, trazendo mais benefícios ao editor – no caso dos autores integralistas, Plínio Salgado e Gustavo Barroso certamente eram figuras destacadas, e suas obras tinham chance de atingir um número expressivo de vendas.

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diretor da revista Fon-Fon que chegou a publicar algumas matérias sobre o movimento integralista. O prestígio que possuía foi levado consigo para a AIB, dando-lhe mais visibilidade e alcance, como foi no caso de sua penetração em Juiz de Fora: o Instituto Grandbery, ligado à Igreja Metodista, recebeu Barroso que apresentou, para professores e alunos, as ideias defendidas pelo movimento. Várias outras personalidades que já despontavam no meio intelectual, como Luis da Câmara Cascudo, seguiram o mesmo caminho e davam suas contribuições para os periódicos integralistas; Rodolpho Josetti, presidente da Sociedade de Cultura Musical (HIRANO, 2009: 4), escreveu longo ensaio sobre o “sentido estético, cultural e artístico” do Integralismo; Dario de Bittencourt, membro da Academia Sul-Rio Grandense de Letras, redige um texto sobre “O Integralismo e os seus Poetas”, recolhendo, também, várias poesias cuja temática era o movimento. Os exemplos são vários, mas não é nossa intenção mencioná-los em demasia – talvez, nem mesmo em nossa pesquisa seja possível rastrear todas as manifestações e relações intelectuais relacionadas à AIB –, pois o nosso intuito, no momento, é apresentar apenas um panorama capaz de apresentar um vislumbre das redes sociais/intelectuais estabelecidas pelo movimento integralista que, por um lado, sublinham a importância da dimensão cultural tanto em sua constituição quanto disseminação, e por outro, revelam sua dinâmica em vista das relações mantidas entre seus intelectuais – uma dinâmica composta por variados elementos: desde os espaços por eles frequentados e que servem como ambiente para a troca de ideias, até o afluxo de bens simbólicos sobre o público (na forma de artigos, livros ou conferências), passando, claro, pelas próprias interações entre os intelectuais, sejam elas convivências mais prolongadas ou mesmo o contato rápido, porém significativo, em uma palestra ou conferência.

4. Considerações finais Não podemos afirmar que chegamos a conclusões peremptórias, quando muito, a conclusões provisórias condizentes a uma abordagem com certo caráter exploratório, onde foram estabelecidas algumas linhas de análise junto de questões que serviram como guias para as reflexões empreendidas. O problema central que colocamos – sobre a intelectualidade da Ação Integralista Brasileira – só foi trabalhado sob um único ângulo (sua formação através da articulação entre redes previamente estabelecidas), embora tenham sido feitas considerações acerca de alguns elementos referentes a esta articulação e seus desenvolvimentos ulteriores. Sendo assim, é possível fornecer alguns resultados, ainda que de natureza parcial: os intelectuais que fizeram parte da AIB situavam-se, com maior ou menor

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ênfase, tanto no campo do poder quanto das letras, achando-se inseridos em círculo sociais que permitiam, senão o trânsito, pelo menos o contato entre aqueles, podendo, a partir daí, obter o conhecimento e mobilizar as relações relativas a estas duas esferas (da cultura e da política). A difusão de suas ideias, através de livros ou jornais, valeu-se, em vários momentos, destes contatos, e elas encontraram pessoas receptivas com as quais, ainda que espacialmente distantes, foram estabelecidas redes sociais mais amplas. A incorporação crescente de outros intelectuais (vários deles jovens, que tiveram no movimento integralista a oportunidade de participar de movo ativo no campo intelectual) ou de pessoas envolvidas na área da cultura e/ou educação contribuiu tanto para a expansão do movimento – pois serviam como o ponto de ligação entre a AIB e o ambiente social no qual estavam inscritos – como para o reforço de sua feição intelectual. Infelizmente não foi possível desenvolver com maior acuidade outros elementos importantes acerca da organização e da dinâmica desta intelectualidade: havia uma hierarquia onde as posições no interior da AIB eram equivalentes àquelas no campo intelectual, ou seja, os autores mais destacados do movimento eram os que mais produziam bens simbólicos; ambientes como teatros e faculdades serviram de espaço para conferências apresentadas pelos intelectuais integralistas e em alguns núcleos eram ministradas aulas; alguns intelectuais estavam ligados, ao mesmo tempo, ao Centro Dom Vital e à revista A Ordem, que disputavam igualmente o espaço de atenção com os integralistas. Estes são alguns exemplos que nos ajudam a montar um quadro bem amplo das redes complexas de relações sociais estabelecidas entre estes intelectuais e que contribuíram em larga escala para o crescimento do Integralismo e de sua produção simbólica; a compreensão destas redes (e aquilo que elas encerram) não só nos permitem ter uma visão mais detalhada e aprofundada do microcosmo intelectual brasileiro à época como podem servir de pontos de referências para futuros estudos onde semelhanças e diferenças entre outras redes intelectuais sejam buscadas.

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