O INTERESSE NACIONAL NA RELAÇÃO BRASIL-ARGENTINA: UMA INVESTIGAÇÃO CONSTRUTIVISTA A PARTIR DO JORNALISMO

May 30, 2017 | Autor: Ivan Bomfim | Categoria: Construtivismo
Share Embed


Descrição do Produto

ISSN da publicação: ISSN 2175-6880 (Online)

Anais do Evento 2010 Volume 4 Trabalhos apresentados no Grupo de Trabalho 04 - Políticas Internacionais, Política Externa e Migrações Internacionais

Coordenadores: Profª Drª Danielly Silva Ramos Becard (UFPR) Prof. Dr. Alexsandro Eugenio Pereira(UFPR) Prof. Dr. Márcio de Oliveira (UFPR) Ludmila Culpi Andréa Benetti de Oliveira

Ementa: O GT reunirá trabalhos centrados em temas de relações internacionais contemporâneas, com ênfase nos estudos de segurança internacional, processos de integração regional, análises de política externa, estudos de política externa em perspectiva comparada e migrações internacionais. O GT também pretende reunir trabalhos que discutam avanços recentes nas teorias das relações internacionais e nas teorias explicativas do fenômeno das migrações internacionais, bem como a aplicação desses avanços no desenvolvimento de análises sobre temas contemporâneos da política internacional.

Anais do Evento www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br PPGSOCIO/UFPR – PPGCP/UFPR

2

O INTERESSE NACIONAL NA RELAÇÃO BRASIL-ARGENTINA: UMA INVESTIGAÇÃO CONSTRUTIVISTA A PARTIR DO JORNALISMO Ivan Bomfim O presente trabalho busca discutir o conceito de interesse nacional brasileiro em relação à Argentina a partir da análise dos produtos jornalísticos. De acordo com autores como Hall (1993) e Thompson, (1998), sendo a mídia o principal referencial de mundo na contemporaneidade e, mais especificamente, a atividade jornalística uma instância construtora da realidade social e regulamentadora da experiência cotidiana, a visão sobre o outro, observada a partir dos produtos jornalísticos, será de extrema importância na constituição do que seria o interesse nacional brasileiro sobre o país vizinho. Defende-se que esta construção midiática é decisivamente aportada pelos enquadramentos jornalísticos considerados como mapas culturais de referência dos jornalistas – o que denota não uma manipulação acerca dos sentidos despertados pela Argentina, mas sua inscrição em determinadas formações ideológicas constitutivas da construção social da realidade efetivada pelo jornalismo. É importante observar que adotamos uma perspectiva construtivista, o que nos permite a transdisciplinaridade necessária para a investigação entre diferentes campos de conhecimento. Tendo por referência Wendt (1992), acreditamos que o horizonte das transformações que o Construtivismo trouxe aos estudos das Relações Internacionais permite um movimento transdisciplinar. Em acordo, afirma-se que os enquadramentos noticiosos pelos quais a dinâmica Brasil-Argentina é construída, remetentes à complexidade de um relacionamento histórico em níveis políticos, econômicos, culturais e sociais, apontará para formas de ação do Brasil em ambiente externo. Concebemos, assim, a definição do interesse nacional a partir dos produtos jornalísticos.

Anais do Evento www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br PPGSOCIO/UFPR – PPGCP/UFPR

3

O INTERESSE NACIONAL NA RELAÇÃO BRASIL-ARGENTINA: UMA INVESTIGAÇÃO CONSTRUTIVISTA A PARTIR DO JORNALISMO Ivan Bomfim 1 Uma análise construtivista da Política Externa O presente trabalho busca realizar uma investigação de cunho teórico acerca do conceito de interesse nacional a partir do jornalismo. Para a consecução do movimento interdisciplinar sobre o qual apóia-se esta pesquisa, elucida-se que a incursão ao campo das Relações Internacionais é operada dentro dos pressupostos conformados ao Construtivismo. De acordo com Wendt (1992), o Construtivismo não faz parte do quadro das teorias políticas, mas é uma forma de investigação social aplicada ao estudo do Sistema Internacional – um ambiente imaginário, histórico, construído pelo homem, no qual uma figura também imaginária, o Estado, é o agente. Amparado nos estudos da Sociologia do Conhecimento de Berger e Luckmann (2001), Wendt afirma que os Estados são construtos sociais, de origem discursiva. Em acordo, Onuf (1998) diz que países são mundos sociais construídos, e vêem a existir porque as pessoas acreditam e dizem que eles existem, fazendo com que o planeta, algo que existe fisicamente, seja repartido imaginariamente em centenas de Estados. Mesmo assim, estes são apenas um mundo instituído socialmente, não existindo por si só. Os Estados “são fundamentalmente entidades cognitivas que não existem fora das idéias dos atores sobre como o mundo funciona. Isto não significa que instituições não sejam reais ou objetivas, mas que elas não são nada além de crenças” (WENDT, 1992, p. 399) 2 . Desta forma, os Estados e o Sistema Internacional que o engendra são estruturas sociais, e todas as características facultadas a esses construtos constituem-se na instrumentalização destas idéias. O Estado é uma instituição que congrega identidade e interesses, agindo a partir de um entendimento coletivo que servirá à coordenação de suas ações, dentro de um ambiente também instituído. “Estas estruturas são normalmente codificadas em regras formais e normas, mas possuem forças motivacionais apenas em virtude da socialização dos atores para e participação em um conhecimento coletivo” (WENDT, 1992, p. 399). Os construtivistas afirmam que conceitos tomados como consenso entre teóricos realistas e liberais, tais como soberania, balança de poder, 1 Jornalista, bacharel em História e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da UFRGS. 2 As citações literais de Wendt (1992) são feitas a partir de tradução do autor.

Anais do Evento www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br PPGSOCIO/UFPR – PPGCP/UFPR

4

interdependência complexa, etc., são figuras instituídas que, escamoteando as objetivações que os indivíduos fazem, funcionam como regulamentadoras de um sistema que parece dissociado da vivência humana. Diante à dispersão de possibilidades dentro do heterogêneo campo das Relações Internacionais e tendo em vista as intenções desta investigação, nossa atenção se volta para o plano de uma das temáticas referenciadas como pertencentes à disciplina: o estudo dos condicionantes da formação do que denominados política externa, ou seja, as decisões e atitudes dos Estados tomadas em ambiente internacional. Pode-se definir política externa como a área que representa os interesses objetivos da figura do Estado no plano internacional. Refere-se à avaliação, formulação e implementação das prioridades externas, sendo que sua definição e prática são prerrogativas do ator estatal, soberano, que opera em um ambiente internacional qualificado como anárquico – note-se, pela inexistência de poder superior ao dos Estados. Durante muito tempo, segundo Lima (2000), as investigações sobre a constituição da política externa dos países refletiram a posição da corrente realista de percebê-la como dependente de uma posição axiomática: uma natureza específica da política externa, em relação à política interna. Esta noção concebe que “a política internacional está acima da doméstica porque voltada para a defesa dos interesses nacionais e por tratar de questões afetas à segurança e à sobrevivência do Estado” (LIMA, 2000, p. 272). Sintomático que, pelo viés realista, o interesse nacional é algo definido a priori, evidente, sem que seja necessária qualquer discussão acerca deste conceito. Todavia, a partir da adoção de paradigmas pluralistas, cognitivos e construcionistas, o panorama dos estudos sobre a natureza da política externa foi modificado decisivamente. O interesse nacional O sentido da composição do interesse nacional era apresentado de maneira apriorística por correntes do Realismo e Liberalismo, que concebiam a política externa como dotada de especificidade intrínseca que a diferenciava fundamentalmente da externa. A perspectiva construtivista acaba por solapar muitas das pré-determinações que acompanhavam o conceito. Autores como Almeida (2004), Oliveira (2005), Cervo (2008), Lima (2000) e Seitenfus (1994) afirmam que, a despeito de possuírem uma instância de assentamento em alguns pressupostos estáveis, o interesse nacional é um conceito volúvel, aberto a interpretações as mais diversas.

Anais do Evento www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br PPGSOCIO/UFPR – PPGCP/UFPR

5

O núcleo pré-definido das determinações de interesse nacional engloba fatores comuns a qualquer Estado – o que acaba por definir não interesses nacionais específicos de cada país mas, simplesmente, problemáticas que fundamentam a existência da instituição estatal dentro do Sistema Internacional. Mirando o exemplo brasileiro e alcunhando as constantes que perpassam o interesse nacional como objetivos nacionais permanentes, Almeida (2006), com ironia, expõe: Esses objetivos pareciam ter algo a ver com a preservação da segurança da pátria frente às ameaças externas, com a afirmação e defesa do interesse do País, a preservação da integridade do território nacional, a projeção internacional do Estado brasileiro, a consolidação de seu potencial econômico e militar e o desenvolvimento integral da Nação, fazendo do Brasil uma sociedade mais justa e mais humana. Em outros termos, nada de muito démodé, ao contrário, uma agenda perfeitamente atual, compatível com programas eleitorais de centro, esquerda ou direita (ALMEIDA, 2006, p. 179). Seitenfus (1994) atesta que há uma dualidade elementar na formação da atitude em política externa de qualquer Estado. Ele define como constantes os fatores que munem uma idéia de estabilidade e permanência, relacionados mesmo a problemáticas territoriais – a existência dentro do Sistema Internacional, em generalização. Há uma perspectiva de acumulação social e histórica na definição dos referidos valores, posto que, por exemplo, até 1912 as discussões sobre a demarcação de fronteiras com os vizinhos eram de grande importância para o Brasil. O que denomina-se aqui como o interesse nacional, no entanto, é proveniente do que o autor denomina como fatores conjunturais ou dinâmicos. Estes “estão sujeitos a constantes alterações vinculadas à experiência histórica da sociedade estabelecida sobre tal território” (SEITENFUS, 1994, 21). São os guias para as formas de ação em política externa, para a inserção internacional, nos dizeres de Cervo (2008). Sendo o interesse nacional uma visão-guia para a ação política de natureza conjuntural e dinâmica, defende-se que o mesmo seja utilizado como promoção de interesses específicos, correspondentes a setores sociais diversos. Ele obedeceria a visões de inserção internacional de um Estado moldadas sob características particulares, numa amálgama sob a definição totalizante do termo “nacional”. Trata-se de um conceito “advogado pelos decisores quando justificam as atitudes internacionais de um país (...). É pelo prisma das crenças e das ideologias que se aplicará uma política de defesa do interesse nacional” (SEITENFUS, 1994, p. 21). Em acordo, Lima postula que Anais do Evento www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br PPGSOCIO/UFPR – PPGCP/UFPR

6

“o interesse nacional depende das preferências e interesses da coalizão política [interna, observação nossa] vencedora e não apenas pode mudar, como é objeto de conflito interno” (2000, p. 287). Defende-se que o termo interesse nacional é uma figura necessariamente generalizante, que conjuga os interesses de grupos específicos à intencionalidade de que estes sejam tomados como frutos legítimos dos “desejos” de um país. É conveniente notar que não se trata de afirmar um interesse estatal, o que poderia ser tomado como referência apenas à máquina administrativa do país. A utilização da idéia de nação é primordial, pois esta será a aglutinadora de interesses quaisquer sob a concepção de união da população de um Estado. Estruturas da identidade cultural nacional Deve-se atentar para um fenômeno decisivo em relação ao êxito da figura do Estado: a idéia de nação. Este fato mostra-se, inclusive, pela consagração da terminologia “Estado nacional moderno”. De acordo com a clássica definição de Anderson (1991, p. 32), “nação é uma comunidade política imaginada”, pois embora seus componentes tenham um senso de comunhão grupal, eles nunca conhecerão a maioria de seus compatriotas, como aconteceria numa comunidade dita normal. Hall (1998), como será contemplado mais detalhadamente adiante, certifica que o sentido de nação trabalha com a construção de uma identidade nacional 3 , de maneira com a qual os indivíduos possam se identificar. Por sua vez, Hobsbawm (1997, p. 9) discorre sobre as maneiras pelas quais as idéias de identificação nacional são dispostas por meio da prática e celebração de reminiscências falseadas ou, simplesmente, concebidas: “Tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica, automaticamente: uma continuidade em relação ao passado”. Conformando-se o ideário da construção do que seja o “nacional”, para Martins (2007), a nação não é uma ideologia, tampouco o ponto de vista de um determinado ator social. Ela é uma linguagem promovida a mito político, na expressão de Roland Barthes (...), é produzida continuamente por “atos ilocutórios”, ditos e escritos, que a fazem existir pelos discursos, livros, estudos que lhe são consagrados e que a redesenham ininterruptamente e, sobretudo, traçam o espaço simbólico no qual as ações passadas, presentes e futuras são dotadas de sentido (MARTINS, 2007, p. 104, 105). 3

“Que estratégias representacionais são acionadas para construir nosso senso comum sobre o pertencimento ou sobre a identidade nacional?” (HALL, 1998, p. 51). Ele elenca cinco elementos principais: a) narrativa de nação; b) ênfase nas origens, continuidade, tradição e intemporalidade; c) invenção das tradições; d) mitos fundacionais; e) idéia de povo ou folk puro, original.

Anais do Evento www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br PPGSOCIO/UFPR – PPGCP/UFPR

7

Observando o que considera como um descompasso entre Estado e nação na constituição dos Estados nacionais modernos latino-americanos, Martín-Barbero (2003) afirma que a dissociação dos estudos relacionados à cultura de processos econômicos e políticos condiz com a observação uma racionalidade instrumental sobre os dois campos. “Introduzir a análise do espaço cultural, todavia, não significa introduzir um tema a mais num espaço à parte, e sim focalizar o lugar onde se articula o sentido que os processos econômicos e políticos têm para uma sociedade” (MARTÍN-BARBERO, 2003, p. 241). A observação do Sistema Internacional como organismo à parte das relações humanas instrumentaliza sua existência, perdendo-se a capacidade de percebê-lo como subordinado a estruturas sócio-históricas. Estas determinam formas de ação política possíveis. Recorrendo a Thompson (1995), compreendem-se os processos culturais a partir do entendimento de uma concepção estrutural da cultura, concebida como a coordenação de “formas simbólicas em contextos estruturados” (THOMPSON, 1995, p. 181). A cultura é tida como uma forma de organização e significação do poder simbólico, regulando práticas sociais por meio de concepções, valores, costumes, crenças – funcionando, assim, para a instituição de identidades. Para Castells (1999, p. 22), identidade é o “processo de construção de significado com base em um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, os quais prevalecem sobre outras formas de significado”. Em sua concepção construtivista das Relações Internacionais, Wendt (1992) observa que os interesses de quaisquer atores são baseados em identidades – uma forma contingente de produzir significados, designando papéis sociais. Desta feita, não obstante esteja-se tratando de Estados, é expressivo que a percepção da constituição identitária será aplicável, de acordo com Kowert (1994), pela razão de que o Construtivismo permite com que se consiga fazer uma ponte de análise entre o nível do indivíduo e o das Relações Internacionais. Para o autor, as pessoas constroem grandes realidades sociais, o que inclui a identidade nacional. A linguagem transfigura visões individuais em Relações Internacionais, e agentes em qualquer nível são percebidos como possuidores de intencionalidade; ademais, indivíduos conferem identidades a si mesmos e às instituições que os representam, como o Estado-nação. Trabalhando a partir de estudos cognitivos, Kowert (1994) delineia como a forma identitária nacional poderá influenciar na percepção que um hipotético “nós” apresentará acerca de um “eles”. Anais do Evento www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br PPGSOCIO/UFPR – PPGCP/UFPR

8

O autor distingue três tendências principais: 1) Sempre que categorias distintivas entre grupos políticos 4 forem salientadas, os membros do grupo irão observar identidades grupais mais fortes (em geral, avaliadas positivamente para grupos internos e negativamente para grupos externos). Conflitos entre grupos irão aumentar a força destas identidades e encorajar exageros em relação a atributos do grupo; 2) Os indivíduos tendem a extrapolar diferenças entre grupos políticos distintos e a subestimar diferenças dentro destes grupos. Novamente, conflitos aumentarão esta tendência; 3) Os indivíduos são propensos a atribuir o comportamento dos grupos externos às intenções e desejos destes grupos. No entanto, quando tratam-se dos grupos internos, desejos e intenções serão atribuídos, mais constantemente, a constrangimentos ambientais/circunstanciais. A forma de atuação da percepção identitária é, obviamente, definida no processo interativo de seu “preenchimento”. Segundo Hall (1998), a identidade é desenvolvida ao longo do tempo, num processo que não se completa, apesar do sujeito acreditar que possua uma distinção identitária unificada e pronta. Ela conta com elementos de matizes imaginários em sua constituição e surge “de uma falta de inteireza, que é ‘preenchida’ a partir de nosso exterior, pelas formas através das quais nós imaginamos ser vistos por outros” (HALL, 1998, p. 39). A identidade é algo a ser construído, e vários aspectos trespassam esse processo. Contudo, poder-se-ia pensar que o sujeito fosse desenvolvendo, mesmo que de forma contínua e inacabada, uma identidade única. Autores como Castells (1999) e Hall (1998) crêem que cada indivíduo pode possuir distintas identidades, e evocálas em formas e momentos diversos. Se os sujeitos podem possuir múltiplas identidades, qual seria a especificidade da identidade nacional? Retoma-se o significado de nação. Ela é um “sistema de representação cultural” (HALL, 1998, p. 49), e os indivíduos que dela participam compartilham uma idéia que terá representação na cultura nacional. Esta é uma forma de organização que surgiu intrinsecamente ligada à Modernidade, concebida na edificação do sistema representativo de Estados e, de maneira marcante, reproduz-se como a continuidade de uma comunidade pré-moderna, visto que as idéias norteadoras da organização hierárquica social – os “laços solidários”, como destaca Guibernau i Berdún (1997) – são percebidas em sua composição:

4

Utilizamos a denominação do autor de grupos políticos, pois que envoltos em processos de negociação política – no caso, pensamos nas relações entre Estados. O grupo interno refere-se à união por nacionalidade (compatriotas) e o externo aos estrangeiros (KOWERT, 1994).

Anais do Evento www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br PPGSOCIO/UFPR – PPGCP/UFPR

9

Os indivíduos que ingressam numa cultura carregam emocionalmente certos símbolos, valores, crenças e costumes, interiorizando-os e concebendo-os como parte deles próprios. A carga emocional que os indivíduos investem em sua terra, língua, símbolos e crenças, enquanto desenvolvem sua identidade, facilita a difusão do nacionalismo. (...) a força do nacionalismo procede não do pensamento racional apenas, mas do poder irracional das emoções que se originam dos sentimentos de pertencer a um grupo determinado. (GUIBERNAU I BERDÚN, 1997, p. 86) Lembrando-se da idéia de “comunidade política imaginada”, Hall (1998) diz que as culturas nacionais são “dispositivos discursivos”. Concebe-se que as culturas nacionais são “atravessadas por profundas divisões e diferenças internas, sendo ‘unificadas’ apenas através do exercício de diferentes formas de poder cultural” (THOMPSON, 1998, p. 62). De tal modo, Hall (1998) observa que não importa quão diferentes seus membros possam ser em termos de classe, gênero ou raça, uma cultura nacional busca identificá-los numa identidade cultural, para representá-los todos como pertencendo à mesma e grande família nacional (...). Uma cultura nacional nunca foi um simples ponto de lealdade, união e identificação simbólica. Ela é também uma estrutura de poder cultural (HALL, 1998, p. 59). Em acordo, dentro do que seria constitutivo desta “grande família nacional”, para Castells (1999, p. 24) a identidade nacional perfaz um papel de identidade legitimadora, “introduzida pelas instituições dominantes da sociedade no intuito de expandir e racionalizar sua dominação em relação aos atores sociais”. O sentimento de pertencimento proporcionado pela identidade nacional possui, em sua constituição, a exclusão daquele que não faz parte da nação. A figura do estrangeiro encarna aquele que é o nosso oposto – e que poderá representar o inimigo. Para constituir-se um “nós” nacional, deve haver um “eles”, estrangeiro. Considerando as percepções identitárias a partir das Relações Internacionais, Cervo (2008) atesta que estas são fundamentais à arquitetura de uma cosmovisão paradigmática, a maneira com que cada indivíduo ou grupo de liderança entende a si mesmo e às outras nacionalidades. Para o autor, a ação em ambiente internacional é dependente destes paradigmas adotados por cada Estado, tendo implicação: a) cognitiva, posto que o paradigma “organiza a matéria, sempre complexa, difusa e disparatada quando se trata do comportamento humano” (CERVO, 2008, p. 66); b) operacional, em virtude de os paradigmas engendrarem formas de atuação, aqui explicitadas em maneiras de formular e agir em política externa. Anais do Evento www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br PPGSOCIO/UFPR – PPGCP/UFPR

10

Junto ao arrolamento de objetivos a cumprir externamente e às estruturações políticas de ação, a temática da identidade nacional é de grande relevância para a formação dos conceitos de inserção internacional de um país, relacionando-se à cosmovisão orientadora de sua política externa. Entende-se a formação de uma identidade nacional brasileira como decisivamente influenciada pelo relacionamento com a Argentina. A importância desta dinâmica é referenciada por historiadores e teóricos das Relações Internacionais, e compreende as representações da identidade argentina aos olhos dos brasileiros. A relação Brasil e Argentina a partir do jornalismo Em nossa temática de pesquisa, ressalta-se que os meios de comunicação terão uma importância fundamental nas formas de situar o “encontro” entre Brasil e Argentina. Como instância de veiculação de sentidos, baseada na detenção do poder de produzir e fazer circular as formas simbólicas 5 nas sociedades contemporâneas (THOMPSON, 1998), a mídia irá referenciar construções sociais acerca da identidade argentina. Ressalte-se que este processo constitutivo acontece dentro do entendimento das formas simbólicas como constituintes de contextos estruturados. Cervo (2008) comenta que os dois grupos-base do pensamento diplomático do país, os associacionistas e os independentistas, concebem a ação da política externa brasileira perpassada por um ideal de cordialidade oficial. Apesar disso, historicamente condicionada pelo relacionamento com a Argentina, a ação externa é exposta à sociedade em geral sob as perspectivas de rivalidade, cooperação e conflito, relações cíclicas e relações em eixo. Estes conceitos influenciam enormemente as visões dos meios de comunicação e por isso incidem sobre a opinião pública. Certos órgãos de comunicação derivam sua interpretação desse ou daquele conceito e, portanto, estimulam a vigência de um ou de outro paradigma de relações regionais. Sabe-se que há órgãos de imprensa que fomentam a rivalidade, outros, a cooperação, sendo outros, ainda, volúveis e, finalmente, existem também aqueles que fazem análise objetiva. Buscar a objetividade significa ser crítico diante de interpretações que evidenciam parcelas da verdade. (...) o fato é que os paradigmas pesam sobre a opinião e o processo decisório do Estado. Os dirigentes são, via de regra, sensíveis à pressão da opinião, por 5

De acordo com Thompson, as formas simbólicas são “ações, objetos e expressões significativas de vários tipos” (1995, p. 181). Formas simbólicas mais complexas (discursos, textos, programas de TV, obras de arte) implicam uma multiplicidade de instituições específicas dentro das quais, e por meio das quais, essas formas são produzidas, transmitidas e recebidas.

Anais do Evento www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br PPGSOCIO/UFPR – PPGCP/UFPR

11

essa razão os paradigmas condicionam a estratégia de ação dos governos (CERVO, 2008, p. 206). Percebendo-se as formas como se processa o aparecimento da Argentina na mídia brasileira como interligado às estruturas culturais nacionais, que demarcam o nós e o eles por meio de processos de exclusão sob um discurso nacional, é saliente que a caracterização do argentino, muitas vezes, acontecerá por identificações tipificadoras. Para Ribeiro (2002), as formas de representação de coletividades se dividem em duas frentes: maneiras de representar nosso pertencimento a certas estruturas sócio-político-culturais e formas de representar a concernência do outro a estruturas sócio-político-culturais distintas. Pozobon (2009) e Ribeiro (2002) observam que um destes vieses de tipificação nas relações entre os dois Estados é o estereótipo. Embora estruturas persistentes, estes não são estáticos, sendo tanto referidos quanto reconfigurados discursivamente. Os modos de representar coletividades baseiam-se comumente em estereótipos, em reduções das características e diferenciações internas de um determinado grupamento social complexo e, por definição, heterogêneo. São, portanto, modos de construir homogeneidade, histórica e circunstancialmente estabelecidos (RIBEIRO, 2002, p. 237) Estudos realizados por Pozobon (2009) referenciam matrizes históricas residuais incidindo nas percepções contemporâneas acerca da identidade argentina, sendo que estas são trabalhadas e resignificadas por meio dos produtos midiáticos. Ademais dos processos históricos referenciados na rivalidade, percepções de uma Argentina saudosa de suas raízes européias são recorrentes, conformando a visão do europeísmo. Desde o apelido racista de macaquitos dado aos brasileiros quanto à pilhéria de dizer que o argentino “fala espanhol, gesticula como italiano e acredita que é inglês” (RIBEIRO, 2002, p. 249), o europeísmo aparece, significativamente, em oposição ao elemento do tropicalismo creditado como constitutivo da identidade brasileira. Tal percepção também é invólucro para contraposições, como dramaticidade e arrogância dos argentinos versus alegria e humildade dos brasileiros. As relações entre os dois países são essenciais à constituição histórica de Argentina e Brasil, o que pode ser indiciado pelo termo mais utilizado pelos brasileiros no tratamento aos argentinos: hermanos. Jacks, Benetti e Müller (2004), em investigação sobre a imagem dos argentinos construída por jornais gaúchos e catarinenses, buscam desconstruir essa designação. Para as autoras, a palavra hermanos engendra, por trás da aparente característica fraterna, um tratamento Anais do Evento www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br PPGSOCIO/UFPR – PPGCP/UFPR

12

preconceituoso, baseado na idéia de rivalidade. Constrói-se mesmo a imagem de um povo inimigo, sendo que a representação de turistas é assentada como de invasores e desordeiros julgando-se apenas seu lugar de origem. Não obstante, reforça-se a importância da mídia na representação do outro – neste caso, contumazmente negativa. Advoga-se a proeminência de fatores relativos a estruturas sociais e políticas – que podem ser percebidas como instrumentalização da cultura – na construção que a mídia, e especificamente o campo jornalístico, realizam, sendo a relação histórica entre Brasil e Argentina colocada nesta dinâmica. Desta maneira, intenta-se entender o funcionamento das estruturações sócio-políticoculturais dentro da produção da notícia. A construção da notícia: enquadramentos como mapas culturais de significado Os meios de comunicação reconstituem, por meio de aparatos tecnológicos, as estruturas de poder simbólico que orientam a experiência social, de acordo com Thompson (1998). Como a comunicação midiática ocupa lugar de destaque para a organização social, pela veiculação de formas simbólicas representativas culturalmente para os indivíduos, compreende-se o jornalismo como uma das principais referências na construção social da realidade contemporânea. Investido de um papel definido como particular dentro da estrutura social, acabou por desenvolver uma “legitimidade social para produzir, para um público amplo, disperso e diferenciado, uma reconstrução discursiva do mundo com base em um sentido de fidelidade entre o relato jornalístico e as ocorrências cotidianas” (FRANCISCATO, 2005, p. 167). Não obstante, para participar do processo construtivo social, o jornalismo deve, de certa maneira, negá-lo. Franciscato expõe esta questão ao comentar que, entre os fundamentos que sustentam o campo, há um ideal de transposição da realidade através de técnicas específicas, trazendo esta “verdade” àquilo que chamamos notícia. Parte-se da consideração de existência de uma realidade objetiva que pode ser reconstituída por meio de dispositivo físico. Todavia, se, como sustentam Berger e Luckmann (2001), o que designamos como realidade social é algo instituído pelos processos de significação, num procedimento ancorado na linguagem, a noção de que a notícia é um reflexo do real não se fundamenta. Desta forma, a negação que o jornalismo faz de seu próprio funcionamento na estruturação social advém de um conjunto de prerrogativas nas quais o campo se insere. Destaca-se que o que denominamos como jornalismo envolve duas perspectivas distintas: a instituição jornalística e a atividade jornalística. A primeira Anais do Evento www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br PPGSOCIO/UFPR – PPGCP/UFPR

13

representa que o jornalismo “é, ao mesmo tempo, um ‘corpo’, uma forma social e uma estrutura operacional de produção” (FRANCISCATO, 2005, p. 166), posto que se trate de uma instituição que engendra uma racionalidade própria. A segunda perspectiva abrange “o conjunto das práticas (habilidades e técnicas) executadas pelos jornalistas e das normas, valores e conhecimentos específicos que conformam, dão discernimento e orientam esta prática” (FRANCISCATO, 2005, p. 166). É representativa a conformação de uma cultura jornalística, e, mais do que influenciar, esta é definidora do resultado de seu trabalho – a notícia. Primordial para compreender o que é notícia é a noção de que nem todo acontecimento será transformado em notícia. Dentre a enormidade de fatos que ocorrem todos os dias, em todos os lugares, apenas uma parte ínfima acaba realmente “acontecendo” aos olhos de uma coletividade-público. A tentativa de dar ao discurso jornalístico propriedade de verificação da realidade torna-se medida ilusória e idealizada, tarefa que só seria permitida dentro de um mundo ordenado por uma suposta “verdade universal” inabalável. Molotch e Lester (1993) apresentam um quadro teórico a partir do qual o processo de produção das notícias torna-se mais claro. Eles identificam a organização da atividade jornalística a partir de uma relação entre três instâncias: a) Promotores de notícias (news promotors); b) Jornalistas (news assemblers); c) Consumidores de notícias (news consumers). Os acontecimentos são “coletados” primordialmente na interação entre as duas primeiras instâncias – atendendo a diferentes necessidades dentro deste intercâmbio – para serem construídos como notícia na segunda e disponibilizados à terceira. A desconstrução do julgamento de notícia como reflexão da realidade passa pela consideração da notícia como “estória”, narrativa permeada por uma idéia de objetividade que escamoteia diversos processos constitutivos de seu erigir (TUCHMAN, 1993). Estes são fundamentados na utilização de critérios de noticiabilidade relativos a valores-notícia dos acontecimentos, numa cadeia de definições operacionais de objetividade incorporada ao ethos jornalístico. É importante ressaltar que estes critérios de noticiabilidade apresentam-se como uma forma de organização do trabalho jornalístico relacionada às imposições do tempo, considerando-se que o jornalismo busca uma estruturação da ordem temporal para a concretização de sua prática (WOLF, 2008). Os valores-notícia serão definidos de maneira subjetiva, como se introjetados na figura do profissional e, a partir dele, definidos de maneira “imparcial”. Exemplo desta constatação é a idéia Anais do Evento www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br PPGSOCIO/UFPR – PPGCP/UFPR

14

do gatekeeper, que se mostra de grande valor para a investigação de temas ligados ao jornalismo internacional. Esse conceito é operado a partir de um entendimento de que, dentro do processo de construção noticiosa, alguns jornalistas possuem o papel de selecionar acontecimentos, decidindo o que, no universo de acontecimentos dispostos pelos news promoters, será escolhido para a transformação em notícia, funcionando como um “guardião” – procedimento corriqueiro na editoria de internacional. Para ele, a seleção acontece a partir de parâmetros objetivos, relativos ao aprendizado da profissão (WHITE, 1993; WOLF, 2008). Considerando a perspectiva do newsmaking 6 que aqui contemplamos, este escalonamento de valores é um “ritual estratégico” da profissão (TUCHMAN, 1993), operado por uma lógica de critérios de noticiabilidade conjugados que derivam na concepção de objetividade. Torna-se opaca a subjetividade constitutiva de tais julgamentos e a manifestação de uma escala valorativa acerca do que é relevante saber sobre o mundo. No caso do jornalismo internacional, o profissional da empresa noticiosa, ao acessar o despacho (nome comum dado ao conteúdo das agências disponibilizado às empresas jornalísticas), orienta-se pela pergunta: o que acontece no mundo que é relevante para ser publicado? A resposta “prática” a esta questão acaba também por definir o que estará disposto pela agenda jornalística. O jornalismo trabalha sob uma noção de que reproduz uma realidade objetiva, e o faz, como apontado anteriormente, não explicitando seu papel na construção da realidade social. Hall (1993) explica esta situação pelo conceito de enquadramento: Os acontecimentos, enquanto notícias, são regularmente interpretados dentro de enquadramentos que derivam, em parte, desta noção de consenso enquanto característica básica da vida quotidiana. São elaborados através de uma variedade de “explicações”, imagens e discursos que articulam o que o público supõe pensar e saber da sociedade (HALL, 1993, p 227) O autor afirma que sem estes “mapas culturais de significado” do mundo social, o trabalho de dar sentidos à informação jornalística não poderia ser efetivado. Porém, eles devem ser tomados em perspectiva, para que se faça ver o que é constitutivo da “desordem” que, paradoxalmente, faz o papel de ordem natural da realidade.

6

Em resumo, para Traquina (1993), a notícia é dependente de seis condições de produção: a “realidade”, ou formas como se apresentam os acontecimentos; as coações estabelecidas pelo sistema organizacional aos jornalistas; as formas de narração utilizadas pelos jornalistas; as rotinas produtivas que estruturam a prática dos profissionais; a intencionalidade das fontes utilizadas e a dinâmica destas com os jornalistas; e os chamados “valores-notícia” dos jornalistas.

Anais do Evento www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br PPGSOCIO/UFPR – PPGCP/UFPR

15

A identificação social, classificação e contextualização de acontecimentos noticiosos em termos destes quadros de referência de fundo constitui o processo fundamental através do qual os media tornam o mundo a que eles fazem referência inteligível a leitores e espectadores. Este processo de “tornar um acontecimento inteligível” é um processo social – constituído por um número de práticas jornalísticas específicas, que compreendem (freqüentemente só de modo implícito) suposições cruciais sobre o que é a sociedade e como ela funciona (HALL, 1993, p. 226). Traquina (2000) afirma que a idéia do enquadramento recorre à interpretação dos contextos nos quais as notícias são produzidas. Ela influencia na constituição daquilo que é entendido como agenda jornalística, ou seja, os acontecimentos que se tornarão notícias. Os enquadramentos jornalísticos podem ser definidos como uma “espécie de princípio interpretativo que organiza um conjunto de temas” (ANTUNES, 2009, p. 96). Eles influenciam no processo de significação das notícias, referenciando formas de compreensão dos fatos. Considerando a investigação do jornalismo internacional a partir dos enquadramentos, sustenta-se que este processo servirá como um esquema de explicação do mundo. As temáticas contempladas na editoria de jornalismo internacional são entendidas, de maneira usual, como distantes da experiência direta da maioria dos indivíduos – o que influenciaria na mobilização do arcabouço das experiências vividas. Traquina (2000) atesta que as questões internacionais, como “não-envolventes” ou de “limiar elevado”, são mais suscetíveis aos enquadramentos jornalísticos. Como introdutor de assuntos antes desconhecidos para as pessoas, o jornalismo acaba atuando de forma pedagógica. “O cuidado com o objeto da notícia é ainda mais delicado quando se trata de fatos internacionais, pois o enquadramento dado a estes pela imprensa será, em última análise, determinante para formar a visão de mundo – no sentido mais literal possível – do leitor” (AGUIAR, 2006, p. 20). Hall (1993) corrobora esta idéia, explicando que “os media, desta forma, apresentam a primeira, e muitas vezes única, fonte de informação acerca de muitos acontecimentos e questões importantes” (HALL, 1993, p. 228). Por meio de enquadramentos, o jornalismo busca verter em conhecimento acessível acontecimentos que se fazem fora da compreensão do público – a “realidade problemática” aludida por Hall. Considerações finais Tendo como referencial paradigmático os parâmetros construtivistas, percebe-se a instituição de identidades culturais de caráter nacional como referências à constituição daquilo que Anais do Evento www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br PPGSOCIO/UFPR – PPGCP/UFPR

16

é determinante para o desenvolvimento de enquadramentos noticiosos. A constituição do interesse nacional é atinente à efetivação de concepções localizadas ideologicamente, podendo ser expostas a partir do estudo dos enquadramentos constitutivos das notícias sobre o ambiente internacional. Como se argumenta, a notícia – a matéria-prima do jornalismo – é uma forma de construção social da realidade. Esta é por ela exposta e defendida como a suposta verdade inabalável levada aos olhos do público. A idéia de objetividade jornalística se escora na ilusão da realidade unívoca. A alegação de defesa do interesse nacional segue a mesma lógica, escamoteando diversos processos constitutivos, tanto em caráter objetivo quanto subjetivo. Referências AGUIAR, Pedro. Jornalismo internacional em redes. Rio de Janeiro: Secretaria Especial de Comunicação social, 2008. ALMEIDA, Paulo Roberto de. Relações Internacionais e política externa brasileira: história e sociologia da diplomacia brasileira. Porto Alegre: editora da UFRGS, 2004. ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a expansão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. ANTUNES, Elton. Enquadramento: considerações em torno de perspectivas temporais para a notícia. Revista Galáxia, São Paulo, n. 18, p.85-99, dez. 2009. BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade: tratado de Sociologia do Conhecimento. Petrópolis: Vozes, 2001. CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra, 1999. CERVO, Amado Luiz. Inserção internacional: formação dos conceitos brasileiros. São Paulo: Saraiva, 2008 FRANCISCATO, Carlos Eduardo. A fabricação do presente: como o jornalismo reformulou a experiência do tempo nas sociedades ocidentais. São Cristóvão (SE): Editora UFS/Fundação Oviedo Teixeira, 2005. GUIBERNAU I BERDÚN, Montserrat. Nacionalismos: o estado nacional e o nacionalismo no século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007. GUIMARÃES, Samuel Pinheiro. Desafios brasileiros na Era dos Gigantes. Rio de Janeiro; Anais do Evento www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br PPGSOCIO/UFPR – PPGCP/UFPR

17

Contraponto, 2005. HALL, Stuart. A identidade cultural na Pós-Modernidade. Rio de Janeiro: DP&A editora, 1998. HALL, Stuart et al. A produção social das notícias: o “mugging” nos media. In: TRAQUINA, Nelson (org.). Jornalismo: questões, teorias e estórias. 2.ed. Lisboa: Vega, 1993. HOBSBAWM, Eric. A Invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. JACKS, Nilda; BENETTI, Márcia; MULLER, Karla. Hermanos, pero no mucho: el periodismo narra la paradoja de la fraternidad y la rivalidad entre Brasil y Argentina. Buenos Aires: La Crujía, 2004. KOWERT, Paul. Agent versus Structure in the Construction of National Identity. In: KUBÁLKOVÁ, Vendulka; ONUF, Nicholas; KOWERT, Paul (ed.). International Relations in a constructed world. Armonk, NY: M.E. Sharpe, 1998 LIMA, Maria Regina Soares de. Instituições democráticas e Política Exterior. Contexto Internacional: Rio de Janeiro, v. 22, n.2, p. 265-303, jul. dez. 2000. MARTIN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 2003. MARTINS, Estevão de Rezende. Cultura e Poder. São Paulo: Saraiva, 2007. MOLOTCH, Harvey; LESTER, Marylin. A notícia como procedimento intencional: acerca do uso estratégico de acontecimentos de rotina, acidentes e escândalos In: TRAQUINA, Nélson (org.). Jornalismo: questões, teorias e 'estórias'. Lisboa: Vega, 1999. OLIVEIRA, Henrique Oliveira. Política Externa Brasileira. São Paulo: Saraiva, 2005. ONUF, Nicholas. Constructivism: a user's manual. In: KUBÁLKOVÁ, Vendulka; ONUF, Nicholas; KOWERT, Paul (ed.). International relations in a constructed world. Armonk, NY: M.E. Sharpe, 1998. PRADO, Maria H. C.. O Brasil e a distante América do Sul. In: Revista de História, nº. 145, São Paulo: USP, 2001. POZOBON, Rejane. Estereotipias e dinamizações das identidades argentinas a partir da instância midiática. Alceu, v. 9. Rio de Janeiro: PUCRJ, 2009. RIBEIRO, Gustavo. L. Tropicalismo e Europeísmo. Modos de representar o Brasil e a 18 Anais do Evento www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br PPGSOCIO/UFPR – PPGCP/UFPR

Argentina. In: RIBEIRO, Gustavo L. FRIGERIO, Alejandro; RIBEIRO, Gustavo Lins. Argentinos e brasileiros: encontros, imagens e estereótipos. Petrópolis: Vozes, 2002. RODRIGUES, Adriano Duarte. O acontecimento. In: TRAQUINA, Nelson (org.). Jornalismo: questões, teorias e 'estórias'. Lisboa: Vega, 1993. SEITENFUS, Ricardo. Para uma nova política externa brasileira. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994 THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 1995. __________________. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petrópolis: Vozes, 1998. TRAQUINA, Nelson. A redescoberta do poder do jornalismo: análise da teoria do agendamento. In: TRAQUINA, Nelson (org.). O poder do jornalismo: análise e textos da teoria do agendamento. Coimbra: Minerva, 2000. _________________. As notícias. In: TRAQUINA, Nelson (org.). Jornalismo: questões, teorias e “estórias”. Lisboa: Vega, 1993. TUCHMAN, Gaye. A objectividade como ritual estratégico: uma análise das noções de objetividade dos jornalistas. In: TRAQUINA, Nelson (org.). Jornalismo: questões, teorias e 'estórias'. Lisboa: Vega, 1993. WENDT, Alexander. Anarchy is what states make of it: the Social Construction of Power Politics. In: International Organization, vol. 46, no. 2. Cambrigde, MA: The MIT Press, 1992. WHITE, David Manning. O gatekeeper: uma análise de case na seleção de notícias. In: TRAQUINA, Nelson (org.). Jornalismo: questões, teorias e 'estórias'. Lisboa: Vega, 1993. WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Lisboa: Presença, 2008. Arquivos de internet CARVALHO, Anabela. Discourse Analysis and Media Texts: a Critical Reading of Analytical Tools. In: International Conference on Logic and Methodology. Anais… Colônia: International Sociology Association, 2000. Disponível em https://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/3137. Acessado em abril de 2010.

Anais do Evento www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br PPGSOCIO/UFPR – PPGCP/UFPR

19

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.