O jornalismo como tecnologia social: o caso do Twitter

July 17, 2017 | Autor: Lilian França | Categoria: Twitter, Jornalismo Online, On-line Journalism, Tecnologias Sociais
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GESTRA - Gestão de Trabalhos para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias. Volume 2, 2012.

ISSN 2176-8994

O jornalismo online como tecnologia social: O caso do Twitter - Lilian Cristina Monteiro França

O jornalismo online como tecnologia social: O caso do Twitter Lilian Cristina Monteiro França1 Resumo O problema que aqui se apresenta é o da necessidade de desenvolvimento de tecnologias sociais no âmbito das TIC. O objetivo deste artigo é analisar o jornalismo online e em especial o Twitter, como tecnologias sociais, ou seja, tecnologias voltadas para a resolução de problemas sociais. O impacto das TIC na sociedade contemporânea ainda não pode ser plenamente medido. O crescimento da difusão de notícias através de jornais online e do microblog Twitter apresenta índices significativos de crescimento. A metodologia utilizada foi a revisão de literatura e a análise do tipo de notícias veiculadas, confrontados com as necessidades de informação da população. Os resultados demonstram que os jornais online e o Twitter podem ser considerados tecnologias sociais, uma vez que ampliam o acesso a notícia e que desenvolvem linguagens que permitem mais acesso aos conteúdos.

Palavras-chave: tecnologias sociais. jornalismo online. redes sociais. Twitter.

Introdução Em um mundo marcado pela divisão entre "inforicos" e "infopobres", as Tecnologias da Informação e da Comunicação — TIC — despontam como elemento central na discussão por um mundo mais justo. Nesse contexto duas questões principais nos são apresentadas: a alfabetização tecnológica e a inclusão digital. A alfabetização tecnológica, de escopo mais amplo, volta-se para a necessidade de promover um amplo conhecimento acerca das tecnologias, não só as da informação e da comunicação, seus benefícios, limitações, possibilidade de funcionar com meio de exclusão, condicionamento de comportamentos, entre outras. Diretamente ligada a alfabetização tecnológica, mas em escopo menor, está a inclusão digital. Com objetivos bem mais precisos, visa a ampliar o acesso às TIC, permitindo que um maior número de pessoas possa lançar mão dos recursos disponibilizados pela Web. A inclusão digital ficará sempre limitada a uma forma de treinamento de usuários, se não se pensar conjuntamente em termos do desenvolvimento de uma leitura de 1

 Doutora em Comunicação e Semiótica - Universidade Federal de Sergipe (UFS).

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mundo, que permitirá ao usuário o desenvolvimento de uma leitura crítica do mundo, permitindo que cada um saiba exatamente o que significa o universo das TIC para a sociedade. Compreendendo justamente a aplicabilidade da tecnologia, desenvolveu-se o conceito de Tecnologias Sociais (TS): são aquelas técnicas, materiais e procedimentos metodológicos testados, validados e com impacto social comprovado, criados a partir de necessidades sociais, com o fim de solucionar um problema social. Uma tecnologia social sempre considera as realidades sociais locais e está, de forma geral, associada a formas de organização coletiva, representando soluções para a inclusão social e melhoria da qualidade de vida (LASSANCE Jr.; PEDREIRA, 2004).



As TS criadas com a finalidade de solucionar um problema concreto, um pro-

blema que afete a toda a sociedade desenvolveram-se em diferentes áreas, como a genética e a biotecnologia, a produção de energia limpa, a engenharia, a economia e a informação e a comunicação, entre outras. No que diz respeito às TIC o espaço que vem ocupando na sociedade contemporânea tem aberto discussões acerca dos usos dessas tecnologias, sobretudo aquelas que tem como suporte a WWW (Word Wide Web), provocando a discussão acerca dos impactos sobre o indivíduo e a sociedade. Uma das TIC que vem revolucionando o modo de se obter informação é difusão de notícias através da web, desde portais, sites, redes sociais, jornais, blogs e microblogs. O que se pretende examinar neste artigo é o potencial enquanto tecnologia social que os jornais online e em especial o microblog Twitter apresentam. Para tal análise, em primeiro lugar, apresentaremos uma breve caracterização do jornalismo online e do Twitter.

I - O jornalismo online e o Twitter Rede social ou nova media? A indagação incomodou a muitos analistas, mas é inegável a importância do Twitter como novo espaço de distribuição de notícias. Se por um lado discute-se a obrigatoriedade do diploma e a morte dos jornais impressos, por outro, ressalte-se, a atividade jornalística nunca foi tão importante. Os novos meios, por caminhos mais ou menos adequados, incrementam a circulação de notícias, oriundas de fontes profissionais ou desconhecidas, com diferentes Grupo de pesquisa em Linguagem, Enunciação e Discurso para o ensino da língua portuguesa (LED) - http://led-ufs.net Texto disponível em: http://led-ufs.net/gestra/II/?file=17-Lilian-Cristina-Monteiro-Franca

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graus de fiabilidade. As TIC representam, sobretudo a partir das duas últimas décadas do século XX, uma gama imensa de modificações no âmbito comunicacional, com consequências para os vários produtos midiáticos, além, é claro, de vários desdobramentos para os diferentes segmentos societais. Nesse contexto, os jornais em seu formato online, têm merecido inúmeras análises, passando pela velocidade de atualização, rapidez na apuração dos fatos, possibilidade de uma escrita hipertextual e hipermodal, estilos de narrativa, acesso (ou não) ao aprofundamento dos conteúdos, entre outras. Do ponto de vista da disponibilização de notícias na rede, uma primeira experiência se deu quando o jornal norte-americano The New York Times colocou informações online, ainda em meados dos anos 702, através do New York Times Information Bank (MOHERDAUI, 2000). Tratava-se, em princípio, de um banco de dados, mas, o acesso ao seu conteúdo permitia também o acesso a uma série de notícias, ainda que não fosse este o seu objetivo principal. A história do jornalismo online propriamente dito começa em maio de 1993, quando o The San Jose Mercury News colocou no ar a sua versão online através da rede American On Line3. De acordo com Lima Junior (2005), O jornal foi pioneiro nos serviços adicionais, tais como arquivo de informações jornalísticas desde 1985, expandiu as notícias locais e o mural eletrônico para que leitores se comunicassem entre si e com a equipe. De caráter inovador, o jornal também incorporou um serviço personalizado de notícias, no qual os leitores escolhiam palavras-chave e as graduadas pelos leitores em termos de nível de relevância, recebendo então os artigos enviados por e-mail. (Disponível em http://www.walterlima.jor.br/ academico/alcar/terceiro/trabalhos/tribuna_dgab_walter.doc. Acesso em julho/2012).

Um aspecto interessante no que diz respeito ao pioneirismo do The San Jose Mercury News, é o fato de que em 1995 o jornal já cobrava pelo acesso ao conteúdo completo de sua versão online, o que gerou uma significativa queda no número de leitores: “Mercury Center began 5 years ago as an online service with America Online in 1993, followed by direct publication on the Web in January 1995. In April 1995, the  Em 26 de março de 1972: “The New York Times decides for the first time to allow outsiders access to its research files through a planned online search system called New York Times Information Bank ” (BOURNE e HAHN, 2003). 2

 Quanto ao surgimento do primeiro jornal online, MOHERDAUI (2000), mostra que existe ainda uma outra possibilidade: “O primeiro jornal verdadeiramente on-line foi o Personal Journal, versão digital do The Wall Street Journal, lançado em 1995 e entendido como o ‘primeiro jornal de um exemplar’”. 3

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publishers introduced pricing of $4.95 a month. Rumors circulate that the introduction caused usage then to drop from the 100,000 range to under 10,000” (QUINT, 1998).

Fonte: http://www.mercurynews.com/news. Acesso em 20 de agosto de 2012.

De acordo com Silva Jr. (2001), a história do jornalismo online divide-se em dois momentos principais: o transpositivo e o hiperimidiático. O momento transpositivo constituía-se na mera transposição dos jornais impressos para a Internet; o hipermidiático se refere ao desenvolvimento de uma modalidade própria de escritura, voltada para a utilização das inúmeras possibilidades dos recursos digitais, incluído a produção específica de conteúdo para a versão online dos jornais, ou ainda, para aqueles que possuem apenas a versão digital. As pesquisas de John Pavlick, da Universidade de Columbia, dividiram os jornais digitais em três estágios: primeiro — aqueles que realizam apenas transposição da versão impressa para a versão digital; segundo — aqueles que realizam a transposição e incluem mais alguns itens diferenciados da versão impressa; e, terceiro, aqueles que produzem todo o material exclusivamente para a Internet (apud QUADROS, 2002). Esses três estágios têm sido chamados também de primeira, segunda e terceira geração de jornais online.

Embora essa não seja ainda uma questão completamente consensual, têm-se

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optado por chamar de webjornalismo os jornais cujos conteúdos tenham sido produzidos especificamente para a Internet, distanciando-se, portanto, da versão impressa e ganhando, assim, um novo formato, incorporando links, fotos, infográficos, áudio, vídeo, numa linguagem formatada para o ambiente de navegação da web. Os jornais de “terceira geração” ou hipermidiáticos, a partir de 1995, têm se transformado numa modalidade cada vez mais frequente, impulsionados pelo desenvolvimento tecnológico e pelas novas linguagens desenvolvidas para a Internet.

Fonte: http://www.chicagotribune.com. Acesso em setembro de 2012.

O ano de 1995 marcou também o surgimento dos primeiros jornais online no Brasil: inicialmente o Jornal do Brasil: O primeiro jornal brasileiro a lançar uma edição jornalística completa na Internet foi o Jornal do Brasil, que entrou na rede em 28 de maio de 1995. Segundo o atual editor-chefe do JB On-line, Roberto Ferreira, a idéia de produzir um jornal digital surgiu a partir do momento em que a Internet, como nova mídia, foi se popularizando entre os brasileiros. Os internautas queriam explorar cada vez mais a rede na procura de novos serviços. “Os jornais sentiram que não poderiam ficar de fora da tecnologia, para não correrem o risco de serem atropelados”, explicou Roberto. (LIMA JUNIOR, 2005. Disponível em http://www.walterlima.jor.br/academico/alcar/ terceiro/trabalhos/tribuna_dgab_walter.doc. Acesso em julho/2007);

Logo depois vieram as versões online dos jornais O Estado de São Paulo, Folha de S. Paulo, O Globo, O Estado de Minas, Zero Hora, Diário de Pernambuco e Diário do Nordeste.

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Homepage da FolhaWeb em 96. Este formato de página, criado em 95, foi a primeira iniciativa do Grupo Folha na Internet. Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2005/10anosdeinternet/galeria.shtml.

O primeiro jornal em tempo real no Brasil surge um ano depois, em 1966, no Universo On Line – UOL. É interessante notar que a sua primeira edição, o Universo online não apresenta fotos, figuras, gráficos, mas tão somente texto, numa diagramação tradicional, dominada pelo jogo preto/branco das letras contra o fundo branco.

Primeira Homepage do UOL, abril/1996. Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2005/10anosdeinternet/galeria.shtml.

A ascensão do jornalismo online na última década pode ser percebida nos números apresentados em maio/2006 pelo relatório A Internet no Brasil, do IBOPE//Net Ratings, que aponta para um índice de 57,6% entre as categorias mais acessadas no item “Notícias e Informação” ao mesmo tempo em que mostra uma diminuição da ordem de 41% no consumo na mídia “jornal impresso” (Disponível em http://www.abranet. Grupo de pesquisa em Linguagem, Enunciação e Discurso para o ensino da língua portuguesa (LED) - http://led-ufs.net Texto disponível em: http://led-ufs.net/gestra/II/?file=17-Lilian-Cristina-Monteiro-Franca

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org.br/doc/ApresUOLmaio_06FJ1.pdf. Acesso em julho/2012). Esses números deixam clara a ampliação da participação dos jornais online na sociedade brasileira e ensejam estudos mais aprofundados acerca da linguagem e das possibilidades oferecidas pelo meio digital como suporte de notícias e de como essa linguagem afeta ao leitor. Algumas especificidades do jornalismo online têm sido postas por teóricos da área, procurando apontar as principais características desse meio em relação à sua versão impressa. Para Pinho (2003), as principais mudanças do jornalismo digital com relação ao jornalismo impresso são: a) não-linearidade da informação4 — na Internet o leitor tem a possibilidade de ler em blocos que devem ser curtos e completos para permitir uma leitura em camadas de aprofundamento, de acordo com as necessidades e interessante do autor; b) fisiologia — a leitura na tela causa maior fadiga visual do que a leitura no papel, daí a necessidade de se adequar os conteúdos ao meio; c) instantaneidade — no caso da Internet a instanteidade se refere tanto a cobertura do fato, quanto a formatação da notícia e a sua publicação imediata, na forma de texto audiovisual; d) interatividade — a Internet permite buscar um maior número de informações através de uma série de modalidades síncronas e assíncronas de pesquisa e comunicação. Dentre as características apresentadas acima, a da interatividade é fundamental para o presente estudo, pois um jornal online deve permitir a interatividade do leitor não apenas com o texto verbal, mas também com diferentes formas de texto não verbal. Existem inúmeras definições de interatividade, pelo que, optou-se por, no corpus desse texto, utilizar como base a discussão apresentada por Lippman, pesquisador do MIT, que define interatividade como uma "atividade mútua e simultânea da parte dos dois participantes, normalmente trabalhando na direção de um mesmo objetivo" (1986, p. 46). O autor afirma que um sistema pode ser considerado interativo quando apresenta as seguintes características5: interruptabilidade; granularidade; degradação graciosa; previsão limitada; não-default (LIPPMAN, 1986). Para Palácios et alli (2005), as principais características do jornalismo online são: interatividade, hipertextualidade, multimidialidade, convergência, memória e atualização contínua. Aprofundando um pouco mais tais características, Palácios et alli (2005) destacam que a interatividade deve permitir que o leitor/usuário sinta-se parte do processo, através da troca de e-mails, da disponibilização da opinião dos leitores, dos chats:

 Devido a esta estrutura não-linear, a internet é considerada uma mídia pull - que deve “puxar” o interesse e a atenção do usuário, enquanto a TV e o rádio são mídias push, nas quais a mensagem é “empurrada” diretamente ao receptor, mesmo sem solicitação (Disponível em http://gelson-filho.sites.uol.com.br/). 4

5

 Para um maior detalhamento das características apresentadas, ver Lippman, 1986.

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Conclui-se que, neste contexto, não se pode falar simplesmente em interatividade e sim em uma série de processos interativos. Adota-se o termo multiinterativo para designar o conjunto de processos que envolvem a situação do leitor de um jornal na Web. Diante de um computador conectado à Internet e acessando um produto jornalístico, o usuário estabelece relações: a) com a máquina; b) com a própria publicação, através do hipertexto; e c) com outras pessoas — seja o autor ou outros leitores — através da máquina (LEMOS, 1997; MIELNICZUK, 1998, apud PALÁCIOS et al., 2005).

Quanto a customização/personalização de conteúdo, PALÁCIOS et al. (2005), explicam que consiste na opção oferecida ao usuário para configurar os produtos jornalísticos de acordo com os seus interesses individuais. No que diz respeito as demais características, os autores salientam: Hipertextualidade - Esta característica, apontada como específica da natureza do jornalismo online, traz a possibilidade de interconectar textos através de links. Bardoel e Deuze (2000) chamam a atenção para a possibilidade de, a partir do texto noticioso, apontar para outros textos, como originais de releases, outros sites relacionados ao assunto, material de arquivo dos jornais, textos que possam gerar polêmica em torno do assunto noticiado, entre outros. Multimidialidade/Convergência — No contexto do jornalismo online, multimidialidade refere-se à convergência dos formatos das mídias tradicionais (imagem, texto e som) na narração do fato jornalístico. Memória — Palacios (1999) aponta para o fato de que o acúmulo das informações é mais viável técnica e economicamente do que em outras mídias. A memória pode ser recuperada tanto no nível do produtor da informação como do usuário. Sem as limitações anteriores de tempo e espaço, o jornalismo tem a sua primeira forma de memória múltipla, instantânea e cumulativa. Desta maneira, o volume de informação diretamente disponível ao usuário é potencialmente maior no jornalismo online, seja com relação ao tamanho da notícia ou à disponibilização imediata de informações anteriores, com a possibilidade de se acessar com maior facilidade material antigo (PALÁCIOS et al., 2005). Partindo da estrutura do jornalismo online, o Twitter surgiu como um microblog com características tanto de rede social digital quanto de mídia social. De acordo com KAWK et al. (2010), Twitter, a microblogging service, has emerged as a new medium in spotlight through recent happenings, such as an American student jailed in Egypt and the US Airways plane crash on the Hudson river. Twitter users follow others or are followed. Unlike on most online social networking sites, such as Facebook or MySpace, the relationship of following and being followed requires no reciprocation (2010, p. 1).

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O Twitter baseia-se no envio de mensagens curtas, com até 140 caracteres e pode incluir links. Essa possibilidade de envio de mensagens curtas e a rapidez com que é divulgada a notícia, tem feito do Twitter uma forma de envio de notícias muito eficiente. O Twitter formata a notícia de modo que possa ser facilmente lida em dispositivos móveis. Bradshaw (2007) viu nessa técnica o que ele chamou de modelo diamante de noticias (“news Diamond model”): para a produção da notícia na internet é necessário um alerta sobre o acontecimento, que pode ser um alerta "postado" no Twitter. A seguir os jornalistas profissionais apurariam o fato e produziriam conteúdos jornalísticos mais sofisticados a serem disponibilizados em sites noticiosos. Assim, o Twitter vem transformando-se numa importante ferramenta de produção jornalística.

II - O Twitter como tecnologia social De acordo com o conceito de tecnologias sociais a característica que as fundamenta é a possibilidade de resolver um problema social. O Twitter foi criado para resolver um problema e posteriormente aprimorado para resolver um problema social. O Twitter, com a sua economia de caracteres, a possibilidade de direcionamento para um link mais completo e a velocidade de distribuição de notícias vem, ao nosso ver, funcionando como uma tecnologia social. O número do usuários do Twitter vem crescendo, alcançando 110 milhões nos Estados Unidos e cerca de 33 milhões no Brasil, como indica o gráfico abaixo:

Fonte: http://www.wsiconsultoria.com/brasil-e-o-segundo-maior-em-usuarios-no-twitter. Grupo de pesquisa em Linguagem, Enunciação e Discurso para o ensino da língua portuguesa (LED) - http://led-ufs.net Texto disponível em: http://led-ufs.net/gestra/II/?file=17-Lilian-Cristina-Monteiro-Franca

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No Brasil os maiores jornais impressos tem uma tiragem máxima de trezentos mil exemplares. Vejamos:

Fonte: http://www.anj.org.br/a-industria-jornalistica/jornais-no-brasil/maiores-jornais-do-brasil.

Com uma tendência a diminuição do número de leitores e a extinção da versão impressa de vários jornais no Brasil e no mundo, os telejornais intensificam a sua posição como principais meios de obtenção de notícias. A intensificação da distribuição de notícias através da Internet tem ampliado o acesso a um conteúdo mais denso e preciso do que o apresentado nos telejornais. Analisando-se o gráfico abaixo, é possível perceber que a maioria dos usuários acessa o Twitter para obter informações e não para utilizá-lo como rede social, uma vez que o número de interações com outros usuários é muito baixo.

Fonte: http://www.wsiconsultoria.com/brasil-e-o-segundo-maior-em-usuarios-no-twitter. Grupo de pesquisa em Linguagem, Enunciação e Discurso para o ensino da língua portuguesa (LED) - http://led-ufs.net Texto disponível em: http://led-ufs.net/gestra/II/?file=17-Lilian-Cristina-Monteiro-Franca

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São inúmeros os exemplos em que notícias veiculadas pelo Twitter permitiram resoluções rápidas de problemas, incluindo desde o salvamento de vidas, como no caso do avião que pousou nas águas do Rio Hudson (NY/USA) até a saída da prisão de manifestantes, como no caso do Egito. A conta do jornal "Folha de S. Paulo" (@Folha_com) supera os 500.000 seguidores; a do "Estado de S. Paulo" (@Estadao) tem mais de 533.000 seguidores; o "O Globo" (@JornalOGlobo) tem mais 654.000 seguidores; dados obtidos no próprio perfil dos jornais na página do Twitter indicam que a possibilidade de acesso aos conteúdos desses jornais no mínimo dobram. Embora se saiba que nem todos efetivamente acessam suas contas, ainda assim pode-se inferir um elevado número de leitores, principalmente em momentos mais críticos, quando a busca por informações é maior. As análises realizadas permitem considerar o jornalismo online e em especial o Twitter como tecnologias sociais que ampliam o acesso a informação e alteram a relação produtor/leitor de notícias, criando uma nova maneira de produção e divulgação de notícias.

Referências bibliográficas BOURNE, C.P. e HAHN, T. B. A History of Online Information Services, 1963-1976. Cambridge, MA: MIT Press, 2003. CEBRIÁN HERREROS, M. Información Audiovisual: Concepto, Técnica, Expresión y Aplicaciones. Madrid: Editorial Síntesis, 1995. . Información Televisiva: Mediaciones, Contenidos, Expresión y Programación. Madrid: Editorial Sintesis, 1998. KWAK, Haewoon, LEE , Changhyun, PARK, Hosung, e MOON, Sue. What is Twitter, a Social Network or a News Media? Disponível em http://an.kaist.ac.kr/~haewoon/ papers/2010-www-twitter.pdf. Acesso em setembro de 2012. LASSANCE JR, A.; PEDREIRA, J. "Tecnologias Sociais e Políticas Públicas" In: FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL. Tecnologia social: uma estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: FBB, 2004. LIMA JUNIOR, Walter Teixeira. A Tribuna de Santos e Diário do Grande ABC: a vanguarda do conteúdo jornalístico na web. Disponível em http://www.walterlima. jor.br/ academico/alcar/terceiro/trabalhos/tribuna_dgab_walter.doc. Acesso em Grupo de pesquisa em Linguagem, Enunciação e Discurso para o ensino da língua portuguesa (LED) - http://led-ufs.net Texto disponível em: http://led-ufs.net/gestra/II/?file=17-Lilian-Cristina-Monteiro-Franca

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julho/2012. LIPPMAN, Andrew. O arquiteto do futuro. Revista Meio & Mensagem, São Paulo, n.792, 26 jan. 1998. Entrevista. MOHERDAUI, Luciana. Guia de estilo web. Produção e edição de notícias online. São Paulo: Senac, 2000. PALÁCIOS, Marcos. Natura non facit saltum: Promessas, alcances e limites no desenvolvimento do jornalismo on-line e da hiperficção. In: e-COMPÓS, Revista eletrônica da COMPÓS, vol. 1, n. 2, Brasília, 2005. . PALACIOS, Marcos. MIELNICZUK, Luciana, BARBOSA, Suzana. RIBAS, Beatriz e NARITA, Sandra. Um mapeamento de características e tendências no jornalismo online brasileiro e português. Intercom, 2005. PINHO, J.B. Jornalismo na internet. São Paulo: Editora Summus, 2003. QUADROS, Cláudia. Jornalismo na Internet: Conveniência, Informação e Interação. 2001. Anais INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Campo Grande – MS. . Uma Breve Visão Histórica do Jornalismo on-line. 2002. Anais INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação - XXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Salvador-BA.

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