\"O Jornalismo tem vindo a pensar cada vez menos\" (2009)

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"O jornalismo pensa cada vez menos" Vasco Ribeiro concluiu

que apenas um terço das notícias são feitas por iniciativa

MARIA CLÁUDIA MONTEIRO [email protected]

Foi

enquanto investigador da área da Assessoria de Imprensa que Vasco Ribeiro, docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, analisou

a

acontecerá...

influência

das fontes no noticiário político, produzido ao longo de 15 anos, pelo "Correio da Manhã", "Diário de Notícias"," Jornal de Notícias "e"Público". No livro"Fontes Sofisticadas de

Informação", editado esta semana,o também responsável pela Comunicação e Imagem da Reitoria do Porto explica porque é que os jornalistas fainduzidas"e zem maioritariamente"coberturas aponta soluções.

que só um terço das notícias políticas são feitas por iniciativa das redacConcluiu

ções. Quem faz os outros dois terços? Se os jornalistas fizessem um diário

perceberiam que acordam e levam com um "press release" para ir cobrir uma conferência de Imprensa do presidente da câmara em A, depois vão à inauguração de uma exposição B, depois vão fazer a cobertura de um sindicato que vai fazer uma conferência de Imprensa. Todo o dia nisto. Do ponto de vista da investigação não posso provar, mas mesmo as manchetes são dadas por fontes muito bem colocadas, por políticos e assessores, e não com o objectivo do mero interesse jornalístico. E como é que explica esta

que não seja bombardeado compressões, com telefonemas, com as pseudo fugas de informação, alguém parado para ouvir as pessoas e para fazer um jornalismo na sua essência mais pura. Isso não acontece, nem

forma de fazer

jornalismo?

O jornalista só faz cobertura induzida. O problema é que o jornalismo não pensa e, infelizmente, tem vindo a pensar cada vez menos. Não há um jornalista a pensar numa redacção,

Porque?

Porque o jornalismo é, nada mais nada menos, do que o espelho de toda uma estrutura económica, social e política em que nós estamos inseridos. O jornalismo não é, nem nunca foi contrapoder. Mas não é isso que as pessoas esperam do jornalismo? O problema é que as pessoas esperam demasiado. Devia-se aprender nas escolas que o jornalismo é um ponto de vista, é uma informação muito

efémera e evasiva... Os portugueses ainda não estão habituados a olhar para a Comunicação Social como um ponto de vista, mas como algo que é realmente verdade. Outra das conclusões a que chegou foi que o consumidor não detecta a intervenção destas fontes sofisticadas na produção das notícias. O "off " é uma das ferramentas mais poderosas do jornalista ou muitas vezes não tem acesso à informação. Não apa-

rece também porque as próprias organizações preferem que seja o jornalista a dizer algo que é do interesse delas. E os

jornalistas continuam a ter algum preconceito em citar um assessor de Imprensa. Só 1,3% das notícias analisadas identificava o porta-voz, o assessor, o relações públicas. Para mim, é fantástico, mas acho que o leitor fica a perder.

das redacções

As instâncias do poder ficam sempre a ganhar, o que mais uma vez prova que o jornalismo é um espelho claro da estrutura social e política. Como

Todos os partidos utilizam, sendo que o PP e o BE são os mais agressivos e os que têm um discurso mais descontraído, menos institucional e menos cinzento do que os partido de poder.

que os jornalistas se preparam para combater isto: com mais jornalismo de investigação e com mais gente a pensar nas redacções.

Como avalia a acção do Governo socialista em termos de utilização dos "spin doctors"? Este Governo não está a fazer nem mais,

E

quem fica a ganhar?

é

E com

mais jornalistas com cabelos brancos nas

redacções?

Um jornalista com "know-how"

nas áreas

onde trabalha, à partida, será melhor do que um que entrou há três ou quatro anos. E esse também o alerta que se faz: é preciso haver mais jornalismo de investigação. Porque o que falta muitas vezes nas redacções é a noção de memória. Quantas vezes nós embrulhamos acontecimentos que já foram embrulhados não sei quanvão tas vezes e que sistematicamente saindo porque não há memória... Como são vistos, hoje, os assessores de Imprensa? O assessor de imprensa é visto com algu-

- e daí o termo "spin doctors" usado em Inglaterra no sentido de malabarista... Em Portugal, existe a ideia de que é alguém próximo do poder. Mas já há algum tempo que não só o poder público, como as empresas, o contrapoder e os ambientalistas usam assessores e relações públicas com técnicas apuradíssimas. E vemos os sindicatos, os próprios hospitais e os tribunais a terem técnicos de comunicação. ma desconfiança

Os partidos utilizam estas fontes sofisticadas de informação de igual forma?

nem menos do que outros tentaram fazer. Qualquer Governo vai querer, por mais que diga que não, intervir e controlar o processo noticioso. Mas o mesmo acontece por parte dos órgãos de Comunicação Social que vão querer ter peso no processo de decisão política de um partido e de governação de um determinado Governo. É que os dois, de alguma forma, lutam pelo mesmo espaço: o espaço público.

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