O Lago Nemi e a Identidade Fascista

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26/03/2016

história e­história

ISSN 1807­1783                atualizado em 30 de dezembro de 2008

 

 

Editorial Expediente De Historiadores

O Lago Nemi e a Identidade Fascista por Marina Fontolan

Dos Alunos Arqueologia Perspectivas

Sobre a autora [1] No presente artigo, o objetivo será relacionar a escavação

Professores

ocorrida no lago Nemi, onde se encontrava duas embarcações que datam da

Entrevistas

época do Império Romano, focando a sua escavação na década 1930, e a

Reportagens

identidade italiana criada durante o período fascista, que relacionava os italianos

Artigos

com os romanos da época do Império.

Resenhas

Num primeiro momento, será feita uma análise comparada de

Envio de Artigos

historiografia sobre a história da escavação do lago Nemi. Num segundo, se

Eventos

realizará uma reflexão acerca da criação da identidade italiana relacionada à

Curtas

Roma Antiga e sua relação com questões políticas e culturais, já focando o

Instituições Associadas Nossos Links

período do regime fascista. Por fim, as duas esferas serão postas em relação. As embarcações do Lago Nemi O lago Nemi é um local próximo a Roma onde foram, no século

Destaques

XI, encontrado vestígios de duas embarcações que se acreditava serem da época

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do Império Romano. Após várias escavações que ocorreram durante séculos, o

Cadastro

lago Nemi, sob ordens de Mussolini, passa a ser drenado. A drenagem fará, vir à

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tona duas enormes embarcações, que suscitaram novas pesquisas acerca da construção naval romana, além de estudos sobre a escavação destas. Além disso, ela revela, também, que ambas as embarcações eram de grande luxo, possuindo colunas de mármore e mosaicos como piso, entre outros. Depois que as bombas pararam de funcionar, um museu foi construído na região e, durante a Segunda Guerra Mundial, os barcos foram queimados por alemães. O caso das embarcações do lago Nemi é com freqüência citado por estudiosos de arqueologia subaquática que trabalham com o tema da Roma Antiga. Ao observar tais trabalhos, nota­se que os temas mais comuns em relação ao sítio estão ligados à grandiosidade das embarcações, à história da escavação do sítio e, também, ao modo de construção destes barcos. Por meio do estudo de diversos autores, será feito, aqui, uma pequena comparação de como a história da escavação foi narrada. O lago Nemi ficava a 28 quilômetros a sudoeste de Roma[2] . A região, segundo John F. Gummere[3] , possuía o nome de Lacus Nemorensis. Tal termo deriva de nemus, nemoris, bosque, assim lacus nemorensis quer dizer lago do bosque. Este foi também o único autor a tratar o contexto da região durante o Império Romano. Segundo ele, na região próxima ao lago Nemi

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cultuava a deusa Diana, e assim as embarcações estariam relacionados à este culto: “The ancients called the lake Speculum Dianae it is now called Lo Specchio di Diana. This is a living reminder of the fact that a most important association of the lake in classical times was with the cult of Diana.[...] I shall now give a quotation from Lanciani, who believed that the ships were used in connection with the cult of Diana”. [4] É importante notar que este autor escreve numa época de suma relevância para a escavação no lago, o que será melhor tratado mais adiante. Os estudos sobre estas embarcações, na década de 1930, deveriam ser muito valorizados, uma vez que: “The first wrecks to become available to scholars were those on the floor of Lake Nemi (...), although any general deductions derived from them could be, and were, challenged on the grounds that these were exceptional craft”.[5] Tais estudos abarcam não apenas a história da escavação, como no caso dos estudos de Gummere. A partir da década de 1930, com uma escavação mais sistemática, haverá novos estudos acerca, principalmente, da construção naval romana. Além disso, Gummere também é o único que afirmará sobre a inexistência de referências das embarcações em autores antigos. Em seu artigo, o autor não chega a falar em datações dos objetos encontrados, o que é trabalhado na obra de Marcela Cubillos­Poblete.[6] Ela afirma que os objetos encontrados, num primeiro momento de escavações no século XV, seriam da época do imperador Trajano (entre 98­117 d.C.), o que foi reinterpretado, já no século XIX, como sendo materiais da época de Tibério (entre 14­ 37 d.C.). A partir desta breve contextualização histórica, convém tratar da trajetória da escavação das embarcações do lago Nemi. Segundo Muckelroy, a constatação de que havia algo no fundo do lago veio no século XI. Gummere apenas afirma que: “Hundreds of years ago, natives of the village of Nemi reported that they had seen two large ships on the bottom of the lake, near the shore. Since the bed of the lake is a volcanic crater, the bed is uneven, so the ships are not on an even keel”.[7] Suas datações são vagas, mas poderíamos relacionar com o que Muckelroy havia dito a respeito da constatação no século XI. A primeira tentativa de recuperar os restos das embarcações do lago Nemi veio no século XV, com as tentativas feitas pelo arquiteto Leon Battista Albert. Este, segundo Bass, teria conseguido apenas trazer parte de uma “(...) enorme estátua, o que provocou curiosidade e excitação momentâneas”.[8] Gummere[9] afirma Alberti trouxe à superfície um pedaço da proa da embarcação http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=141

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e Cubillos irá dizer que Alberti “encuentra vestigios de dos grandes embarcaciones romanas, según el humanista correspondientes a la época del emperador Trajano”.[10]

Em 1535 inicia­se outra fase da escavação das embarcações com Fancesco De Marchi. Da mesma forma como ocorreu com Alberti, os autores analisados não entram em consenso sobre os resultados da escavação. Bass e Muckelroy afirmaram que foi nesta época que se fez um primeiro reconhecimento do sítio. Cubillos apenas argumenta que De Marchi “se ‘lanza’ en el lago con una especie de escafandra (...), que dejan libres brazos y piernas, permitiendo el trabajo en el fondo del lago”. [11] Gummere salienta que De Marchi apenas teria causado estragos nas

embarcações.[12] A respeito do século XIX, os autores aqui analisados entram em contradições. Bass afirma que, no século XIX, houve duas escavações, sendo uma realizada em 1825 sob a coordenação de um negociante de antiguidades romanas e a outra realizada em 1827.[13] Gummere também irá se reportar à escavação de 1827 e irá afirmar que houve outra em 1895, feita por mergulhadores profissionais, sob supervisão oficial.[14] Cubillos apenas irá fazer uma breve explanação sobre o que ocorreu em 1827 e não irá mais tratar sobre a escavação no lago Nemi.[15] Muckelroy não vai mencionar nada sobre o que foi realizado em Nemi no século XIX. O século XX foi, sem dúvida, fundamental ao lago Nemi. Na década de 1930, sob as ordens de Mussolini, o lago passou a ser drenado, fazendo com que ambos as embarcações ficassem à mostra. A idéia sobre a drenagem também não é consensual: Bass afirma que foi com o professor Emílio Gluria, no século XIX, que a idéia teria surgido.[ 16] Para Gummere, tal plano projetou­se em 1924 com Corrado Ricci e que isso estava sendo implantada na época em que ele escrevia. A drenagem do lago Nemi é trabalhada apenas por Muckelroy e por Bass. Assim, Muckelroy irá afirmar: “Undoubtedly the most publicised operation in this period was the draining, on Mussolini’s orders, of Lake Nemi in order to reveal and raise the famous Roman craft known to lie there (...). The project was a success, providing both a spectacular museum display and much new and detailed information about the construction and sheathing on Roman ships”.[17] De forma análoga, entretanto, com maior atenção às datas, Bass afirma: “A idéia foi, no entanto, relembrada na época de Mussolini, que decidiu que o governo deveria recuperar  (...). Drenando­se as águas para outro lago existente a um nível inferior,  operação (...) teve seu início em 1928. [...] Quatro anos passados, estando ambos os barcos em seco, deixou de se fazer funcionar as bombas”.[18]

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A drenagem do lago teria revelado ao mundo duas gigantescas embarcações romanas que, segundo Gummere, estariam ligados ao culto da deusa Diana. Após a escavação completa, construiu­se um museu ao lado do lago. Bass irá afirmar que: “A longa história dos barcos Nemi tem um desfecho bastante triste. Aqueles foram queimados por um grupo de soldados alemães em 1944. Presentemente, apenas existem no museu que está perto do lado modelo à escala dos barcos e alguns objectos achados”.[19] Este fim é apenas reportado por Bass. Muckelroy apenas diz que há um museu na região. Retornando ao texto contemporâneo à drenagem, Gummere afirma que vários objetos que foram encontrados eram levados à Roma, para o Museo Delle Terme. Aqui, podemos notar que o destino das peças não merece atenção especial. Aliás, entre os autores analisados, podemos notar a especial atenção apenas durante a época em que o lago estava sendo drenado, que é a única parte em que três dos quatro autores analisados entram em consenso, sendo que este último não chega a trabalhar com o período. Isso deixa à mostra a questão da excentricidade do caso das embarcações do Lago Nemi para a história da arqueologia. Excentricidade esta que fica apenas focada no método de escavação por drenagem e que não valoriza as outras tentativas de estudos. Tal foco dado pelos autores acabará sendo fundamental para as próximas considerações deste artigo. Entretanto, cabe pontuar que tanto as embarcações, quanto seus usos posteriores, relacionados às embarcações como patrimônio, não acabaram sendo objeto de atenção. História Antiga e Usos do Passado na Itália Neste item, trabalhar­se­á com a questão de como a Itália apropriou­se do passado romano, dando maior ênfase ao período fascista. Tal escolha foi feita já que é neste período que irá calhar com o período da drenagem do lago Nemi. A análise será feita a partir as obras de Marina Regis Cavicchioli,[20] de Glaydson José da Silva[21] e de Mariella Cagnetta[22] . A Itália unificou­se tardiamente, em meados do século XIX. Antes de sua unificação, havia uma divisão entre sete reinos distintos. O sentimento de união, segundo Cavicchioli, acabou surgindo através da identificação direta entre Itália e Roma no intuito de criar­se uma identidade nacional: “A própria construção do Estado Italiano se deu, em grande parte, em função dessa identidade Itália­Roma Antiga, pois, o estabelecimento de uma unidade cultural identitária foi muito importante no processo de unificação, legitimando a criação de um único estado nacional. [...] No processo de lutas pela concretização de uma nação italiana, o mundo romano serviu de pano de fundo para se criar uma identidade nacional, e foi graças a este fator de identidade que muitos entraram nas lutas http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=141

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pela unificação”.[ 23] A recuperação de Roma Antiga trazia várias idéias acerca do que significava ser romano: idéia de que os italianos seriam herdeiros dos romanos e que eram um povo único, que seriam unidos sob um único Estado e um único líder. Fazendo um grande pulo cronológico até a época do período entre guerras (1918­1939), pode­se notar como a questão da recuperação do passado romano foi forte: “(...) a escolha de Roma não é, de nenhuma forma, ocasional, visto que, ao mesmo tempo em que é a sede da Itália unificada, representa também o glorioso passado ao qual o fascismo faz apelo e do qual se vangloria como herdeiro”.[24] Esse uso do passado romano como meio de identificarem­se como herdeiros acabou não sendo de uso exclusivo dos italianos. Os franceses e os ingleses também se apropriaram disso para legitimar seu poderio imperialista. [25] Entretanto, segundo Silva,

“De todos os países europeus a Itália talvez seja aquele em que o uso da Antigüidade a serviço dos governos autoritários tenha atingido seu ponto máximo. De unificação tardia – 1859­1870 – a Itália teve na sua união política um dos maiores eventos de sua História”.[26] O período fascista fora marcado por essa constante reapropriação de Roma. Na época, segundo Cagnetta, os estudos sobre Roma antiga eram muito valorizados: “Quando, negli anni Trenta, le velleità espansionistiche si fanno più evidenti, la riflessione sulla storia di Roma e dell’impero, interpretata alla luce della politica contemporanea, fornisce argomenti di fondo alla propaganda”.[27]

A valorização destes estudos, como afirmou a autora, dá­se sempre pela releitura de Roma à luz da política e da propaganda da época. Além disso, essa releitura acaba se refazendo quando a Itália passa a expandir­se: “Le doti e le virtù richieste da una politica di potenza il facismo le ha richiamate in vita, indicando al popolo italiano gli ideali di disciplina, di dovere, di sacrificio che erita direttamente dalla tradizione romana: la idea stessa di romanità esprime dasé anche quella di imperio. La sua eredità ideale è un patrimonio che revive e continua nell’esperienza politica avviata dal regime. [...] Per il fascismo, il concetto di impero presenta delle constanti che risalgono ai primordi del partito e giungono sino ai tempi successivi alla conquista dell’Etiopia; in ogni fase esso è legato all’ideia di Roma”.[28]

As releituras e as reapropriações de Roma Antiga no período fascista não ficavam apenas no âmbito teórico, que sempre repensava a idéia de Império e da política de Roma. Esse fenômeno acabava por abarcar aspectos culturais http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=141

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também. Mussolini, por exemplo, se identificava como César. Além da identificação

pessoal, a apropriação de Roma também foi feita através da cultura material. Esta parte está ligada à monumentalidade, sempre relacionada à grandiosidade de Roma: “As constantes referências à romanidade da Itália e à glória da Roma antiga e dos romanos conferiram à Roma fascista a necessidade de se adequar à imagem da Roma ideal. [...] A grandiosidade evocada encontrará seu lugar na construção ou reconstrução da monumentalidade arquitetônica romana (...). A romanidade é, aí, a manifestação da glória imperial utiliza de para fins nacionalistas, imperialistas, fascistas (...). Limpava­se a cidade  de seu passado indesejado , porque não glorioso, não útil, e evidenciava­se, aos olhos dos italianos e do mundo, a grandiosidade de Augusto e dos césares, em uma Roma monumental, cuja potência se afirma”.[29] A cultura material também acabou sendo utilizada como fonte de legitimação da identidade italiana, principalmente na época fascista, em que essa prática tornou­se mais freqüente. Aqui, pode­se observar que os usos do passado e a criação da identidade abarcam de diversas maneiras diferentes questões culturais, tais como a identificação de um líder de Estado como um imperador antigo ou a identificação de si mesmo com um herdeiro romano. Fascismo e Arqueologia no Lago Nemi As constantes apropriações e releituras de Roma durante o período fascista acerca da monumentalidade romana podem ser estendidas ao caso da escavação do lago Nemi: “Foi então que se viu tratar­se de gigantescas embarcações (...)  eram sumptuosamente decoradas (...). Teriam sido construídos, sem dúvida, para a nobreza (...). O valor dos resultados obtidos provocou controvérsia. [...]  o que na oferece controvérsia é que se tornou assim possível ao arqueólogo estudar pela primeira vez um casco de navio do tempo do Império Romano, em bom estado de conservação”.[30] A suntuosidade das embarcações também é tratada por Muckelroy: “However, the extent to which they could be regarded as typical was in doubt, since, with their marble columns, heated baths, and decks paved with mosaics, they were evidently very special craft”.[31] O estado de conservação das embarcações, o tamanho delas e a suntuosidade dos materiais que seriam pertencentes aos barcos poderiam ter sido utilizadas (e, de certa maneira foram) por parte do governo de Mussolini. Afirma­se isto desta forma devido à uma única passagem de Gummere:

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“The excellent quality of the works of art which have been recovered from the ships is striking. For the most part these objects are in the Museo Delle Terme, at Rome”.[32] Caso as peças encontradas no lago estivessem sendo levadas para Roma, então a tese sobre a identificação entre a Itália e Roma Antiga se reconfirmaria, uma vez que o envio de peças de lugares fora da cidade de Roma para a mesma teria o objetivo de mostrar que, em todo o império, a suntuosidade era a mesma. Além disso, a possibilidade de acadêmicos trazerem à tona novos questionamentos e informações acerca da construção naval e de objetos relacionados ao uso marítimo também mostraria o poderio do Império não só romano, mas fascista. Ora, isto poderia ser pretexto para as idéias imperialistas que norteavam os fascistas. Em outras palavras: além dos italianos se considerarem herdeiros dos romanos, eles também seriam responsáveis por levarem tudo aquilo que eles interpretavam como sendo o Império Romano para o restante do mundo. “Il mito della missione de Roma nel mondo, sviluppato cosí ampiamente dal fascismo, era stato in occasione delle avventure africane; appunto in nome dell’eredità politica e culturale di Roma si erano coltivati sogni di primato; oltre che la propaganda, anche la storiografia di ispirazione nazionalista aveva tentato un’identificazione della storia di Roma con la storia d’Italia, fazendo uso di concetti e di un linguaggio del tutto analoghi a quelli che sarebbero stati poi tipici in età fascista”.[33]

Desta forma, a suntuosidade existia não só do lago Nemi, mas em todo o império e aqueles que fossem ao centro poderiam vislumbrar­se com todo o esplendor romântico. A dominação poderia ser feita de duas maneiras: ou voluntariamente ou involuntariamente, como o caso da Etiópia, que fora invadida pela Itália. A dominação seria, desta forma, uma missão que a Itália, como herdeira dos romanos, teria de cumprir. É possível concluir, portanto, que as embarcações do lago Nemi fazem parte de uma estratégia nacional e imperialista desenvolvida, na época do período fascista. Afinal, “A História foi, por excelência, a disciplina da legitimação dos estados nacionais, e a Arqueologia também teve grande destaque neste contexto. Ambas colaboraram intensamente no sentido de fornecer elementos que colaborassem na formação de uma identidade nacional”.[ 34] Ao considerar­se o caso das escavações do lago Nemi, nota­se que, embora o uso de Roma como legitimadora do poder e como criadora de uma identidade nacional italiana durante a época do regime fascista tenha sido muito forte, pode­se considerar tal escavação como apenas a reveladora de mais um exemplo da grandiosidade romana. Isto porque, o uso das embarcações como patrimônio e os próprios barcos acabaram não sendo objeto de atenção e, quando são, a maioria dos estudos acaba apenas por contar uma história da http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=141

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26/03/2016

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escavação, dando um enorme foco à excentricidade da drenagem do lago. Além disso, é muito interessante notar o detalhe das naves sendo queimadas por soldados alemães. A criação de um museu pode ser interpretada como a criação de um lugar onde a memória coletiva ganha um aspecto material, o que pode ajudar um governo a legitimar a identidade que ele constrói. Assim, quando, numa guerra, a tática de destruir museus e bibliotecas acaba fazendo sentido: ao destruir estes locais, destrói­se um dos maiores meios da identidade fundar­se, ou seja, a destruição física de um museu significaria a destruição daquilo que aquele povo se considera ser. Com isso, podemos ver nas embarcações do lago Nemi mais um exemplo de imperialismo: ao destruir embarcações de tal grandeza e, de certa forma, importância, destruía­se, em sua representação, uma parte identidade italiana, o que os forçaria a submetê­los a outro regime, também imperialista. Assim, mesmo podendo ser considerado apenas mais um exemplo, há uma relação fundamental entre a escavação das embarcações do lago Nemi e a criação da identidade italiana ligada ao Império Romano durante o período fascista. Agradecimentos Agradeço aos professores orientadores Pedro Paulo Abreu Funari e Gilson Rambelli. Meus maiores agradecimentos às pessoas que me ajudaram muito com este artigo: Marina Regis Cavicchioli e os professores já citados. Devo mencionar, por fim, o apoio institucional do CNPQ, pela concessão de uma bolsa de iniciação científica, bem como do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Estadual de Campinas (NEE­UNICAMP). Referências Bass, George Fletcher. Arqueologia Submarina. Lisboa: Editorial Verbo, 1971. Cagnetta, Mariella. Antichisti e Impero Fascista. Bari: Dedalo Libri, 1979. Cavicchioli, Marina Regis. “Arqueologia e Identidade: Pompéia e a Construção da Identidade Nacional Italiana”. Texto Inédito. Cubillos ­ Poblete, Marcela. “La Arqueologia Submarina en Europa: Un ejemplo para la Historia Nacional”. Revista de Marina (Armada de Chile) en Linea. 2000, nº5. Fonte: http://www.revistamarina.cl/revistas/2000/3/cubillos.pdf, acessado em 30/11/2008. Gummere , John F. “The Ships in Lake Nemi”. The Classical Weekly. Volume 22,

nº13, 21 de janeiro de 1929. PP. 97­98. Fonte: http://www.jstor.org/stable/4389262, acessado dia 11/11/2008. Muckelroy, Keith. Maritime Archaeology
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