O legado de Edward Hallet Carr para as Relações Internacionais

July 15, 2017 | Autor: Larissa Rosevics | Categoria: Relações Internacionais
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23 de janeiro de 2015 O legado de Edward Hallet Carr para as Relações Internacionais Por Larissa Rosevics

Edwar Hallet Carr (fonte: Wikipedia)

O pensamento realista na área internacional tem Edward Hallet Carr (18921982) como seu precursor contemporâneo. Poucos teóricos, inclusive, tiveram as mesmas oportunidades que Carr teve, de participar das principais transformações do início do século XX. Pertencente a uma família de classe média londrina, E. H. Carr realizou seus estudos superiores na Universidade de Cambridge, no curso de Estudos Clássicos. Com o deflagrar da Primeira Guerra Mundial, alistou-se nas forças armadas inglesas e, em 1916, foi designado para o Ministério das Relações Exteriores, onde permaneceu até 1936. Como funcionário da diplomacia inglesa, teve a oportunidade de participar da Conferência de Paz em Paris e de presenciar a assinatura do Tratado de Versalhes, em 1919. Essas experiências permitiram que lecionasse Política Internacional no Colégio da Universidade de Gales a partir de 1936, onde escreveu um de seus livros mais conhecidos, Vinte anos de crise: 1919-1939. As críticas realizadas por Carr em Vinte anos de crise aos estudos de política internacional de seu tempo revelam a importância da história, da filosofia política e da economia política. Seus principais interlocutores são os pensadores pré-Primeira Guerra e do período entre guerras, em especial: o jornalista Norman Angell, que em 1912 havia publicado o livro A grande ilusão, em que defendia ser a guerra um fenômeno em extinção, por se tornar cada vez menos interessante financeiramente, graças à interdependência pelo comércio que o mundo globalizado proporcionara; o professor Alfred Zimmern, defensor da normatização do sistema internacional e da criação de instituições como a Liga das Nações para a regulamentação das relações entre 1

os Estados; e o presidente estadunidense Woodrow Wilson, propositor de uma ideia de segurança coletiva para o sistema internacional, institucionalizada na figura da Liga das Nações. Harmonia de interesses

Disponível para download na Funag A crítica de Carr aos pensadores “idealistas” pode ser sintetizada na ideia de harmonia de interesses. O objetivo é desconstruir as ideias de que laissez faire, o comércio e a normatização das relações entre os Estados seriam capazes de criar uma harmonia geral dos interesses, e consequentemente uma “paz perpétua”. A tese do laissez faire de afastar o Estado das questões econômicas, confinando aos indivíduos o controle dos interesses coletivos e ao mercado a autorregulação, promoveu a concentração de renda e a desigualdade social. O livre comércio só interessava aos países que já haviam se industrializado, como a Inglaterra e os Estados Unidos, e ainda sim, a base de muito protecionismo. A tese de que o interesse individual é o mesmo que o interesse coletivo se converte na ideologia de uma classe dominante, interessada em preservar seu status de poder em relação às demais classes da sociedade. Basear a moral internacional a partir da moral individual via harmonia de interesses seria como ignorar a contribuição de Maquiavel com relação importância da moral do Estado dissociada da moral do indivíduo, pois a preocupação do Estado está na sua sobrevivência e no bem-estar de seus cidadãos. Entre os Estados, a ideia de harmonia de interesses segue a lógica de que os interesses de uma nação são os mesmos que os interesses de toda a humanidade. O livre comércio se justifica no fato do interesse econômico de cada nação intensificar-se com o interesse econômico do mundo inteiro. No entanto, o liberalismo econômico gerou o acirramento pelas disputas por mercados e o Imperialismo. Mais tarde, Kenneth Waltz irá aprofundar as percepções de Carr, ao afirmar que as intensas relações comerciais que a Alemanha tinha com a Inglaterra, com a França e com a União Soviética não a impediram de entrar em conflito com esses países, pois havia outros 2

interesses em jogo além dos econômicos. A partir da perspectiva do poder, a guerra passa a ser percebida como um fenômeno inevitável, dada a insegurança intrínseca da condição anárquica do sistema internacional. Pensamento de Carr Pós Segunda Guerra A partir da década de 1950, Carr assumiu a cadeira de docente na Universidade de Cambridge, o que lhe possibilitou o desenvolvimento de diversas pesquisas sobre história contemporânea, especialmente da União Soviética. Simpático às ideias socialistas e esquerdistas, ele buscou na URSS alternativas para as contradições presentes no capitalismo. Alguns dos seus estudos sobre os soviéticos foram publicados no Brasil sob o título de A revolução russa de Lenin a Stalin, pela editora Zahar na década de 1970. A concepção de história de Carr é outro aspecto marcante em sua obra. Publicadas sob o título Que é história?, as conferências realizadas na Universidade de Cambridge entre janeiro e março de 1961 trazem uma crítica à história tradicional. Ao historiador é imputado um papel central na construção da história, sendo ele o responsável pelos recortes no tempo, pela seleção dos fatos, pela análise crítica e pela construção do conhecimento. No entanto, ele está inserido em um processo histórico particular, único, que o constrói e influencia. Não há imparcialidade nem neutralidade, impedidos pelo uso da linguagem .

Pode ser encontrado na Amazon Dentre os estudos menos explorados de Carr encontram-se seus escritos sobre o Nacionalismo. Entre os anos de 1937 e 1939, Edward Hallet Carr foi membro de um grupo de estudos do Royal Institute of International Affairs, onde desenvolveu uma pesquisa relacionada à questão do nacionalismo. Seus estudos, apontados no prefácio da primeira edição deVinte anos de crise, foram publicados em 1945, no livro Nationalism and after. Entre as décadas de 1980 e 1990, diversos centros de pesquisa promoveram releituras críticas das obras de Carr, como destacam Charles Jones (1998) e Maikel Trento (2008). O legado intelectual deixado por Carr e a influência do marxismo em suas obras, torna difícil classificá-lo em uma escola teórica, especialmente a realista. No entanto, sua importância segue inquestionável. 3

Referências CARR, E.H. Nationalism and after. London: Macmillan, 1945. CARR, E.H. Que é história? 7 reim. São Paulo: Paz e Terra, 1996. CARR, E.H. Vinte anos de crise: 1919-1939. 2.ed. Brasilia: UNB, 2001. JONES, Charles. E.H.Carr and International lie. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.

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TRENTO, Maikel. O tema da guerra na escola inglesa das relações internacionais. Contexto Internacional, Rio de Janeiro, v.30, n.1, p.171-208, jan-abr.2008. DINIZ, Eugênio. Política internacional: guia de estudos das abordagens realistas e da balança de poder. Belo Horizonte: Ed. PUC MINAS, 2007. GRIFFITHS, Martin. 50 grandes estrategistas das relações internacionais. São Paulo: Contexto, 2005. WILSON, Peter. Introduction: the twenty years’ crisis and the category of ‘Idealism’ in International Relations. IN: LONG, David; WILSON, Peter (ed). Thinkers of the twenty years’ crisis: inter-war idealism reassessed. Oxford: Clarendon Press, 1995. (p.1-24). TEXTO PUBLICADO NO BLOG DIÁLOGOS INTERNACIONAIS. Endereço do texto: http://www.dialogosinternacionais.com.br/2015/01/olegado-de-edward-hallet-carr-para-as.html

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