O Lifecasting como estratégia de vigilância na sociedade conectada 24/7

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

O Lifecasting como estratégia de vigilância na sociedade conectada 24/7 1 Lilian Cristina Monteiro FRANÇA2 Diego Lima FERREIRA3 Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE

Resumo O presente paper pretende estudar o lifecasting, transmissão contínua por vídeo através da internet, como estratégia de vigilância na sociedade conectada 24/7. Para tanto, além da pesquisa de cunho bibliográfico foram analisadas as atividades de lifecasting em dois momentos: com os pioneiros (Jennicam (1998), CollegeBoysLive (1998), HereAndNow.net (1999), Quiet: We Live in Public (1999), DotComGuy (2000), Justin Kan (2007), Justine Ezarik – (2007), Janetv (2007), Jody Gnat (2007) e Lisa Batey (2007)) e com os lifecasters contemporâneos: o americano Frank Taylor e o finlandês Ari Aarne Antero Kivikangas (Cyberman). O objetivo foi mostrar que, numa sociedade conectada 24/7, os sistemas de vigilância e a exposição da vida pessoal encontram no lifecasting um exemplo extremo. Palavras-chave: lifecasting; vigilância; sociedade conectada 24/7.

Introdução A expansão do acesso à internet aliada ao desenvolvimento de dispositivos móveis (tablets, smartphones), ampliou as possibilidades de conexão constante, algumas vezes ininterrupta, delineando o que Crary (2014) denominou de sociedade conectada 24/7. Dentre os diversos modos de conexão o lifecasting, forma de transmissão de vídeo em fluxo contínuo através da internet (processo conhecido como streaming), vem experimentando significativo crescimento, apropriando-se das TIC para criar funções diferentes das inicialmente projetadas. Um primeiro exemplo de streaming foi a chamada "música de elevador" (lift music) que consistia na transmissão de conteúdo musical para os alto-falantes dos elevadores, mas o termo pode ser aplicado a outras mídias além do vídeo e do áudio, como por exemplo: "closed captioning" ao vivo, "ticker tape", "real time text", que são considerados 1

Trabalho apresentado no GP Ciberculturas do XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2

Dra. Em Comunicação e Semiótica. Professora do Departamento de Comunicação Social da UFS, email: [email protected]. 3Mestre

em Comunicação pelo PPGCOM/UFS, email: [email protected].

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streamings de texto, além da "televisão na internet", atualmente, uma forma comum de streaming (JANANI et al., 2011, p. 46)4. As primeiras ações de lifecasting datam do final da década de 1980, quando o pesquisador Steve Mann, considerado o pai da "wereable computing", utilizou os recursos do lifecasting para criticar os sistemas de vigilância e propor formas de resistência e contravigilância. Na década de 1990 destacam-se as atividades de lifecasters como Jennifer Ringley – Jennicam (1998), CollegeBoysLive (1998), HereAndNow.net (1999), Josh Harris - Quiet: We Live in Public (1999), Mitch Madoxx - DotComGuy (2000), Justin Kan (2007), Justine Ezarik – iJustine (2007), Jane D.S. – Janetv (2007), Jody Gnat (2007) e Lisa Batey Nekomimi Lisa (2007), entre outros. Em 2007, Justin Kan criou o Justin.tv, primeira comunidade de lifecasters e lifeviewers (público que assiste às transmissões), que funcionou até 2014, quando encerrou as suas atividades e transformou-se no Twitch, plataforma de jogos on-line, vendida para a Amazon. A Justin.tv ajudou a popularizar o lifecasting, tornando-se porta de entrada para grande parte dos lifecasters e disseminando a sua prática. Um tipo de lifecasting que se tornou popular foi o do tipo 24/7, ou seja, aquele em que a transmissão acontece de modo ininterrupto, expondo a rotina do lifescater por completo. Tal fato levou à investigação da prática do lifecasting como uma estratégia de vigilância no contexto de uma sociedade conectada 24/7, ou seja, um dos motivos que levaram os lifecasters a expor completamente as vidas suas teria sido a necessidade inicial de buscar mais segurança, contando com os olhos atentos de um público fiel. Para a realização desta pesquisa foi feita, inicialmente, uma revisão bibliográfica, retomando temas clássicos, tais como: o "Big Brother" de George Orwell (de 1948), a matriz Panóptica de Foucault (de 1975) e as suas revisões (Machado (1990), Norris e Armstrong (1999), Lyon (2007), Marx (2001 e 2002), McGrath (2004), Trottier (2012), Bruno (2006 e 2013), entre outros), discutindo, ainda, o conceito de privacidade e os desdobramentos desse quadro estrutural para o lifecasting. Numa segunda etapa foram analisados os principais lifecasters da história, considerando dois momentos: os pioneiros, que faziam suas transmissões com um número menor de interdições, expondo inclusive momentos íntimos (Jennifer Ringley – Jennicam (1998), CollegeBoysLive (1998), HereAndNow.net (1999), Josh Harris - Quiet: We Live in Public (1999), Mitch Madoxx - DotComGuy (2000), Justin Kan (2007), Justine Ezarik – 4

Todas as traduções dos textos originais em inglês utilizados neste artigo foram feitas pelos autores.

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iJustine (2007), Jane D.S. – Janetv (2007), Jody Gnat (2007) e Lisa Batey - Nekomimi Lisa (2007), entre outros) e os contemporâneos de maior destaque: o americano Frank Taylor, e o finlandês Ari Aarne Antero Kivikangas (Cyberman), cujas transmissões se restringem à rotina trivial, incorporando estratégias de vigilância por parte de um público fiel. O lifecasting na sociedade conectada 24/7 Antes de apresentar o conceito de sociedade conectada 24/7 e seus desdobramentos, é importante deixar claro que, no âmbito desta pesquisa, o lifecasting representa a exacerbação de alguns dos processos que vêm mantendo parte da sociedade, a que já se encontra incluída no universo digital, conectada quase que ininterruptamente. A ampliação do acesso à internet, o aumento da velocidade de conexão, o desenvolvimento de suportes (como os smartphones e tablets) que facilitam a mobilidade, foram alguns dos fatores que permitiram o progressivo aumento do tempo de conexão. A necessidade de manter a visibilidade pessoal “em alta” está presente nas redes sociais digitais (Facebook, Twitter, Youtube, Instagram, entre outras), nos aplicativos de mensagens instantâneas (Whatsapp e suas variações), nas plataformas de transmissão de vídeo (Ustream, Vaughnlive.tv, por exemplo) e numa série de novos recursos, com destaque para aqueles voltados à transmissão instantânea por vídeo (Meerkat, Periscope, entre outros). A expressão "sociedade conectada 24/7” pretende significar um tempo contínuo e sem intervalos, com a possibilidade de acessar e “ser acessado” a qualquer instante. Tal perspectiva cria um sistema de integração, mas, ao mesmo tempo, de controle. Piscitelli (2009), argumenta que, com as mídias digitais, as gerações mais novas, os ”nativos digitais”, mas não somente eles, se submetem a uma “dieta cognitiva” decorrente do consumo dos meios de comunicação que têm alterado os modos de produção do conhecimento. Para o autor, a necessidade de retorno permanente do networking a que estamos circunscritos permeia todas as atividades, determinando a manutenção dos relacionamentos que se estruturam em rede em detrimento daqueles que se formam de modo analógico (PISCITELLI, 2009, pp. 48-50). Com vistas a precisar o conceito de novas mídias, cabe aqui apresentar o ponto de vista de Manovich (2001, p.44), para quem, elas são resultado de um processo de convergência entre computadores e mídia. O emprego desses meios subjaz a maior parte das atividades realizadas durante o dia a dia.

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Quando lista os "streamings de vídeo" entre as atividades corriqueiras, Manovich (2001, p. 77) ajuda a compreender como a atividade já se enraizou nas práticas contemporâneas, incluindo a exposição em tempo real de cada minuto vivido, representando de forma extrema a necessidade de constante conexão e exposição. Partindo de um quadro conjuntural mais amplo, que apresenta diversos projetos de prorrogação do dia, quer seja pela utilização de fármacos para inibir o sono até a instalação de mecanismos de reflexão da luz do sol, Crary (2014) traça um paralelo entre os objetivos do capitalismo tardio e a necessidade de manter a sociedade “acordada”, acarretando, segundo o autor um “custo humano para sustentar a sua eficácia” (p. 18). As críticas do autor a este modus operandi ressaltam a excessiva exposição pública: “[...] vivemos em um momento histórico no qual essa condição nua de exposição foi desarticulada de sua relação com formas comunais que, ainda que de maneira tímida, ofereciam salvaguarda ou proteção (CRARY, 2014, pp. 30-31),

assim, a falta de

privacidade se configura como uma questão complexa: “Sem o espaço ou o tempo da privacidade, ‘longe da luz implacável e crua da constante presença de outros no mundo público’, não se pode alimentar a singularidade do eu, um eu que pudesse fazer uma contribuição substancial para os debates a respeito do bem comum" (CRARY, 2014, p. 31) . Nesse sentido, como pondera Crary (2014): "Mercados 24/7 e infraestrutura global para o trabalho e o consumo contínuos existem há algum tempo, mas agora está sendo criado um assunto que diz respeito a seres humanos para fazê-los coincidir mais intensamente" (p. 13) e "A maioria das necessidades aparentemente irredutíveis da vida humana — fome, sede, desejo sexual e recentemente a necessidade de amizade — foi transformada em mercadoria ou investimento" (p. 20). O lifecasting do tipo 24/7 se enquadra nessa nova lógica, integrando-se a um contexto em que a conexão ininterrupta se apresenta de diversas maneiras. De modo pioneiro a Coffe Pot Cam (câmera instalada em 1991 pelos pesquisadores do Grupo de Sistemas da Universidade de Cambridge para vigiar a máquina de café e saber quando estava disponível), a Fishcam (instalada em 1994 e apontada para um aquário situado na então iniciante Netscape e que tem sido atualizada continuando em operação), e a Fogcam (que desde 1994 transmite em tempo real da San Francisco State University), funcionam como marco desse processo ininterrupto, transmitindo as atividades cotidianas a partir de um contexto institucional e obtendo a adesão de um público movido, inicialmente, pela curiosidade e depois criando diferentes tipos de vínculos com a exibição.

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Essa sociedade conectada 24/7 constitui-se também em uma sociedade da vigilância, entre outras denominações, em função da necessidade de se repensar alguns conceitos que se cristalizaram ao longo do tempo. A preocupação com os sistemas de vigilância deu origem à teoria que trata da Sousveillance, uma forma de inverter o controle vigilante/vigiado. Para Mann (1995), através do lifecasting seria possível compreender melhor a natureza humana, sua integridade, honestidade, corrupção, desmistificando a hipocrisia que cerca a sociedade (MANN, 2003). No caso de Steve Mann, as câmeras estavam apontadas para os outros (Figura 1), uma vez que elas estavam acopladas a seu corpo, deixando-o sempre atrás da lente e fora do foco, remetendo à emergência de novas formas de vigilância que passavam a influenciar o cotidiano de modo cada vez mais intenso. Figura 1 – Steve Mann em uma de suas experiências com lifecasting

Fonte: http://blog.allstream.com/is-your-body-your-next-mobile-device/.

Esse horizonte deixou de ser exclusividade de instituições e de pesquisadores para intrigar o indivíduo comum, que passa a mergulhar nesse complexo universo de controle e vigilância. A lifecaster Jennifer Ringley, por exemplo, fez história transmitindo a sua vida e tornou-se uma celebridade. Jennicam, como era chamada, começou a transmitir de modo experimental, em 1996, enviando flashs a cada 15 minutos e depois transmitindo ininterruptamente. Submetida a uma situação de extrema transparência, e consequente vigilância, passou a conquistar o público, e em 1998 começou a cobrar pelo acesso premium através do PayPal. Em 2003, Jennicam deixou a internet. Os motivos envolvem o final de uma relação, exibida através de seu lifecasting e a política anti nudez do PayPal, que limitou a sua transmissão. Knibbs (2015) afirma que após anos de vida pública, Jennifer, esgotada pelo controle constante de seu público, decidiu retomar a vida privada e não mantém,

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atualmente, nenhuma rede social ou ponto de exposição na internet, procurando se afastar dos tempos em que vivia num "aquário". Nesse sentindo, enfatizando o desgaste de uma sociedade da vigilância, Crary (2014) enfatiza as mudanças no curso do capitalismo e seus desdobramentos na organização da vida, avaliando como a estrutura capitalista vem, desde o seu surgimento, conformando o espaço da vida, em que o lifecasting se configura como uma exponenciação da conexão ininterrupta, como um exemplo extremo das formas de interação nessa sociedade. Outro exemplo dessa natureza foi o conjunto de transmissões do lifecaster Josh Harris, criador do Big Brother para a CBS, ao iniciar o Quiet: We Live in Public, lifecasting criado a partir de sua prática empreendedora. Conhecido como “Warhol of the Web”, Harris tem um histórico de fundação de empresas: Jupter Communication, Pseudo.com, Operator11, Wired City, entre outros. Na virada do milênio criou a sua própria versão do Big Brother, reunindo cem pessoas num bunker em Nova Iorque, para acompanhar a "virada" e o possível "fim do mundo". A experiência com a transformação de sua vida em um tipo de reality show levou Harris a um colapso mental, que o fez perder quase toda a fortuna acumulada e a se mudar para a Etiópia, entre outros lugares. De acordo com Harris (em entrevista a Schonfeld, 2010), trocar a privacidade pela exposição pública foi uma necessidade de reconhecimento e, ainda, uma forma de estudar os desdobramentos do uso da conexão 24/7. O documentário We Live in Public, dirigido por Ondi Timoner, conta a experiência de Harris e de sua namorada nos seis meses de lifecasting, recebendo o Grande Prêmio do Juri no Sundance Festival de 2004 e integrando a mostra permanente do MOMA – Nova Iorque, indica o que esperar quando o mundo virtual assume o controle da vida "real". As experiências pioneiras apresentadas, apontam para a organização de um sistema de vigilância estruturado a partir da atividade de lifecasting, como se pretende discutir mais detalhadamente a seguir. O lifecasting como estratégia de vigilância na sociedade conectada 24/7 George Orwell (1948), em seu "1984", concebeu um mundo vigiado por um olho onipresente, centralizador e controlador, que "nada deixava passar". O "Big Brother" ("Grande Irmão").

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Transcorridas seis décadas após a escrita original de Orwell, em 1948, o "Big Brother" encontra sua face nos rostos de cada um de nós, na medida em que temos, de certa forma, nos tornado mais vigilantes e controladores acerca da vida do outro, ao menos quando lançamos mão dos recursos disponíveis numa sociedade conectada 24/7. O mundo distópico concebido por Orwell, em que Winston Smith personifica o vigiado que se rebela contra o sistema, presentifica-se na sociedade contemporânea, repleta de olhos que vigiam e de corpos que se oferecem ao olhar. À matriz "orwelliana" somam-se os escritos de Michel Foucault, em especial no "Vigiar e Punir", instaurando outros parâmetros para pensar a vigilância. Escrito em 1975, tornou-se literatura básica para grande parte dos estudos sobre vigilância. As ideias de Foucault (1988) concentram-se em torno de uma vigilância hierarquizada, estruturada na sociedade do século XVIII, articulada em torno das ideias de Jeremy Bentham, momento em que se iniciava uma cultura da vigilância pautada na disciplina. Na sociedade contemporânea, entretanto, pensando-se de um modo mais amplo, são muitos os pontos de convergência, descentralizando a noção de vigilância que, por vezes, vê subvertida a sua postura de tudo controlar quando encontra mecanismos que quebram a sua lógica impositiva. McGrath (2004), ao avaliar a efetividade dos circuitos de vigilância, pontua que as cidades já não são mais panópticas, podendo ser caracterizadas, muito mais, como um conjunto de “Little Brothers” (p.7). Um exemplo pioneiro de “Little Brother” pode ser atribuído a Lisa Batey, Nekomimi Lisa, seu nome como lifecaster, que começou a transmitir em 1999, a partir da iniciativa do site HereAndNow.net para retratar o cotidiano do Oberlin College, onde estudava. Com o encerramento das transmissões, passou a manter um canal próprio. Sua frase "A vida é livestreaming e livestreaming é a vida", reflete a sua motivação para transmitir 24/7, complementando as imagens em tempo real com posts publicados em seu site no Livejournal, intensificando, assim, o processo de conexão e de controle de seu cotidiano. De acordo com seu perfil no Blurb5, datado de janeiro de 2009, o contínuo interesse em comunicar sua interpretação do mundo através de várias formas de mídia levou a criação do Project Life!, voltado para a documentação de todas as suas atividades. Lisa Batey descreve a sua profissão como Autobiógrafa Digital. O contexto em que Lisa começou a transmitir era o de expansão dos CCTV (Closed Circuit Television). A articulação dos CCTV, como indicam Norris e Armstrong (1999), em 5

Disponível em: http://www.blurb.com/user/NekomimiLisa. Acesso em: abril de 2016.

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nome da segurança, da prevenção do crime, indicou, na época do estudo, uma aceitação da presença das câmeras, embora, como afirmam os autores, não houvessem resultados significativos acerta de sua efetividade enquanto medida profilática, gerando, dessa forma, impactos sociais em geral não contabilizados. Tal aceitação incentivou, em certa medida, as atividades de lifecasting, transformando-o, também, numa atividade rentável. A profissionalização do lifecasting como negócio se deu com a criação do Justin.tv, por Justin Kan em 29 de março de 2007, tornando-se um importante democratizador do lifecasting e criando estratégias para aumentar a sua visibilidade. Justine Ezarik, a segunda lifecaster do Justin.tv, foi convidada por Justin Kan para transmitir a sua vida através do canal, como estratégia para atrair mais público. Em depoimento ao SocialMedia.Biz, iJustine, como ficou conhecida, afirmou que não repetiria a experiência de se transmitir ao vivo 24/7, pois esse tipo de transmissão "[...] muda o modo como o mundo nos vê e muda o modo como vemos o mundo" (LASICA, 2008). A lifecaster destacou o quanto o processo de controle a que foi submetida impactou o seu dia a dia. Atualmente iJustine tem presença marcante na TV e nas redes sociais digitais, registrando cerca de 500 milhões de visualizações no YouTube, 1,7 milhão de seguidores no Twitter, 3,3 milhões de assinantes em três canais pessoais, com uma audiência composta principalmente por gamers e nerds (TAKAHASHI, 2015). O canal de Justine alavancou a sua vida profissional. Apoiado num contexto fabricado, diferente do caso de outros lifecasters, valeu-se do reconhecimento da existência de um interesse crescente em vigiar o outro. Também preocupada com a vida profissional, Jody Gnant foi outra lifecaster que, em 2007, transmitiu a sua vida 24/7. Música, uma semana após começar o lifecasting, teve seu álbum como o terceiro mais visto no MySpace, 186.000 visualizações, ganhando fama e audiência internacional (OSBORNE, 2007). Nesse sentido, cabe refletir com Bruno (2013, p. 61): "Noutras palavras, tudo é artifício [...] a efetividade da vigilância é garantida pela sua aparência, por seu caráter ao mesmo tempo visível e inverificável [...]. Deste modo, a vigilância se torna constante [...] A aparência excede a realidade". Os seguidores de Justine e Jody Gnant, não conheciam o "pano de fundo", os motivos que a levaram a transmitir, apenas aderiram ao projeto, acompanhando as suas transmissões. Machado (1990), intrigado com a proliferação de câmeras de vigilância, as "máquinas de vigiar", revisitou Benthan (1829) e Foucault (1988) propondo uma

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ressignificação da teoria do panóptico e o surgimento de um "panóptico universal", exercendo, dessa forma, “[...]o mesmo papel paradoxal da máquina benthamiana, produzindo os efeitos de disciplina propostos por Foucault. Tal como o panóptico de Bentham, os dispositivos eletrônicos de vigilância generalizam para toda a sociedade métodos de coerção nascidos no interior de presídios ou antes apenas localizadamente, na investigação ou repressão policial” (MACHADO, 1990, p. 95). Essa generalização é percebida de modo mais contundente quando se constata que o lifecasting eleva o nível de exposição, uma vez que o público que se engaja no evento e começa a seguir constantemente os lifecasters passa a exercer uma forma de controle e vigilância. Considerando-se outra perspectiva de transmissão, Jane D.S., conhecida como JaneTv, esclarece: "[...] eu comecei [a transmitir] porque estava entediada, mas, rapidamente, desenvolveram-se amizades e uma interessante rede de relações. Agora ele me oferece um meio de compartilhar a minha vida e se transformou numa paixão" (QUESTIONÁRIO JANE, 2014). Sempre transmitindo 24/7, Jane informou que nunca recebeu ajuda financeira dos canais através dos quais transmitia e que a maior parte do apoio vem de doações, venda de carteiras ou pequenos patrocínios (QUESTIONÁRIO JANE, 2014). Acerca da exposição de sua vida e do sentimento de invasão, Jane afirmou que nunca se sentiu moralmente exposta, afinal, foi ela quem optou com compartilhar a vida, mas informou ter tido alguns problemas com stalkers (QUESTIONÁRIO JANE, 2014). Um dos mais importantes lifecasters da atualidade, o americano Frank Taylor, 50 anos, passou a transmitir buscando mais segurança (Figura 2). Figura 2 – Print Screen do Lifecasting de Frank Taylor

Fonte: Arquivo Pessoal. Capturado em 25/04/2015.

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Antes de fazer transmissão como lifecaster, ainda na década de 1990, Frank já utilizava câmeras de segurança em sua casa e em sua loja para carros e as transmitia em sites on-line com a finalidade de monitoramento (de acordo com informações do próprio Frank em seus perfis). Na época utilizava o site Camarades.com para transmissão. Em texto disponível on-line, Frank comenta acerca do início do lifecasting: "A transmissão à época não era nada como existe hoje, com baixa qualidade e pouca abertura para acesso às câmeras, cerca de 10 conexões". Cabe mencionar que o público que assiste a Frank Taylor costuma conversar sobre detalhes de sua vida: avisam que a comida do gato terminou, perguntam por que não está assistindo a algum programa (por exemplo aos lançamentos do Cabo Canaveral, quando ele morava na Flórida), informam que a câmera ou o chat não funcionam adequadamente, questionam o que ele vai comer, perguntam por que fez ou não fez determinada coisa. Depreende-se daí que a atividade do lifecaster e de seus seguidores instaura uma forma de vigilância, reproduzindo em nível micro o que se passa no macro, ou seja, as práticas de vigilância, intensificadas na sociedade contemporânea, a que somos submetidos, naturalizam-se de tal forma que parecem desaparecer, tornando-se ubíquas: câmeras para vigiar o bebê na creche, os filhos na escola, a casa, a rua, convivem com câmeras em aeroportos, vias públicas, lojas, restaurantes, justificadas pelo paradigma da segurança (BRUNO, 2013). Seria natural, então, incorporar às práticas cotidianas mais algumas atividades de vigilância? Vigiar o lifecaster do mesmo modo que somos vigiados? Tais questões podem ser melhor compreendidas à luz do conceito de vigilância distribuída, proposto por Bruno (2013): [...] o termo vigilância distribuída pretende designar tanto um modo de funcionamento da vigilância quanto o seu pertencimento ao contemporâneo, indicando em ambos os casos que tanto as vias de captura quanto as vias de escape passam por este caráter distribuído, e não por um exterior qualquer que lhe faria oposição (p. 26).

A aplicabilidade de tal conceito ao caso do lifecasting se justifica quando a autora enumera os atributos desta forma de vigilância, enfatizando, entre outros, seu caráter ubíquo e o fato de que a vigilância distribuída pode ser vista como “uma função potencial ou um efeito secundário de dispositivos que são projetados inicialmente para outras finalidades” (BRUNO, 2013, p. 32).

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O próprio Frank Taylor afirma que a atividade de lifecaster teve início, em 2008, após ter colocado câmeras de segurança em sua casa. Dessa forma, a decisão de Frank surge num contexto marcado pelo advento das estratégias de vigilância, lançando mão da tecnologia para criar um ambiente mais seguro. Pode-se dizer, no caso de Frank, que o lifecasting foi decorrente da necessidade de buscar ajuda para vigiar a sua casa, sem nenhuma outra perspectiva inicial. O interesse gerado pelas transmissões de Frank pode ser constato pelo número de visualizações em seu canal principal, vaughnlive.tv/franktaylorlive, onde estão registrados 1.028 seguidores e 2.330.440 visualizações (10/07/2016). O segundo lifecaster mais atuante na contemporaneidade, o finlandês Ari Aarne Antero Kivikangas (Cyberman), aposentado por sofrer de epilepsia, passa a maior parte do dia em casa, na internet, transmitindo sua vida quase integralmente nos últimos cinco anos. Apesar de viver sozinho e aparentar gostar da solidão, Cyberman se considera uma pessoa muito sociável e que gosta de interagir (CYBERMAN apud CLIFTON, 2014), inclusive sempre deixou claro que um dos seus maiores sonhos é ter uma família e pessoas para se importar. Um dos acontecimentos mais importantes da história do lifecaster encontra-se no dia em que um espectador salvou a sua vida: no dia 19/02/2014. O lifecaster sofreu um ataque epiléptico em sua casa, porém um visitante on-line que estava assistindo naquele momento chamou uma ambulância que chegou a tempo de salvá-lo (Figura 3). Segundo o próprio Ari, “É um fato, se eu não tivesse uma câmera sobre mim eu teria morrido, com certeza” (CYBERMAN apud SUMITRA, 2014). A vigilância funcionou, nesse caso, como expediente protetor, o que o fez manter a transmissão como uma forma de se manter seguro, amparado pelos seus lifeviewers. Figura 3 – Print Screen - Matéria sobre o socorro prestado a Cyberman

Fonte: http://www.odditycentral.com/pics/real-life-truman-show-finnish-man-broadcasts-everyminute-of-his-life-via-webcam.html.

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Os pioneiros do lifecasting, assim como Frank Taylor e Cyberman são exemplos paradigmáticos em uma sociedade que revisa suas práticas e seus conceitos e subverte lógicas estabelecidas. Gary Marx (2002) afirma que as tecnologias eletrônicas de vigilância não acarretam mudanças significativas, mas, sim, mudanças de grau, destacando a intensificação dos processos de controle. O autor discute a máxima "a privacidade está morta", adotada por uma vertente dos estudiosos da vigilância, por jornalistas e pelo senso comum, considerando que as fronteiras do que é considerado privado vem sendo cruzadas na contemporaneidade. Desse modo, Marx (2001) propõe que o conceito de privacidade seja tratado de modo multidimensional, contínuo e relativo, de modo contextualizado. A discussão de Marx (2001; 2002) se mostra profícua para pensar o lifecasting, uma vez que não se trata de uma invasão de privacidade, já que os lifecasters expõem as suas vidas voluntariamente, levando a considerar que, para eles, os conceitos do que é público e o que é privado possuem significados específicos, não cabendo, portanto, a aplicação de uma conceitualização generalizada. Do mesmo modo, Lyon (2007) procura superar as discussões existentes sobre a privacidade: A partir do final do século XX, uma resposta comum para o enorme crescimento dos sistemas de vigilância no norte do globo tem sido perguntar se estamos assistindo ao "fim da privacidade". O que significa isso? Por um lado, como muitos autores socialmente críticos afirmam, existem cada vez menos lugares para se esconder'' (ver, por exemplo O'Harrow, 2005), no sentido de que algum registro dos sistemas de vigilância podem monitorar ou rastrear muitas de nossas atividades e comportamentos diários, de modo que, ao que parece, nada do que fazemos está isento de observação. Por outro lado, um diferente conjunto de autores vê o 'fim da privacidade' como algo para comemorar, ou pelo menos para não lamentar. Em face do crescente comércio elecrônico e da consequente massa de dados pessoais que circulam, Scott McNealy, da Sun Microsystems, a mais famosa empresa da área, declarou: "A privacidade está morta. Esqueça!" (LYON, 2007, p. 75)6.

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No original: "From the late twentieth century a common response to the massive growth of surveillance systems in the global north has been to ask whether we are witnessing the ‘end of privacy’. What is meant by this? On the one hand, as many socially critical authors assert, there are fewer and fewer ‘places to hide’ (see, e.g. O’Harrow 2005) in the sense that some surveillance systems record, monitor or trace so many of our daily activities and behaviours that, it seems, nothing we do is exempt from observation. On the other, a different set of authors see the ‘end of privacy’ as something to celebrate, or at least not to lament. In the face of growing e-commerce and the consequent mass of personal data circulating, Scott McNealy, of Sun Microsystems, most famously declared, ‘Privacy is dead. Get over it!’ "(LYON, 2007, p. 75).

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As inúmeras formas de rastreamento e acompanhamento da vida pessoal permitem inserir a atividade de lifecasting nesse contexto mais amplo, constituindo-se numa das formas de disponibilização de dados pessoais. Embora de maneira mais radical, o lifecasting 24/7 insere-se no escopo das mudanças que cercam o conceito de privacidade, podendo, portanto, ser tratado como uma das manifestações contemporâneas dentro do universo de exposição da intimidade. Trottier (2012) por sua vez, a partir do estudo do Facebook, discorre sobre os processos de vigilância na rede: A adoção das mídias sociais põe em perigo a privacidade, e isso incomoda aos usuários. Mas a privacidade não é claramente definida. Em termos mais simples, a vigilância é um processo e a privacidade é um valor que está ameaçado por este processo. Perda de privacidade significa exposição indesejada, uma incapacidade de gerir a reputação e o comprometimento do eu virtual (Trottier, 2012, p. 321)7.

Nesse sentido, o lifecasting 24/7 apoia-se numa exposição consentida das informações pessoais, tornando mais complexo pensar em termos de violação da privacidade. O lifecaster se expõe voluntariamente, fazendo indagar o que o motiva a fazêlo. O lifecasting se realiza através da exposição de quem se mostra e de quem se dispõe a assistir, constituindo-se num sistema de vigilância em que a ideia de segurança atrela-se a uma necessidade de estar sempre em evidencia, visível, compartilhando os fatos mais corriqueiros, alimentando os bancos de dados que, por sua vez, mantém a máquina capitalista em ação. Com isso a distância entre o público e o privado torna-se mais sutil.

REFERÊNCIAS

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No original: "Social media adoption endangers privacy, and this troubles users. But privacy is not clear-cut. In its simplest terms, surveillance is a process, and privacy is a value tbat is endangered by this process. Loss of privacy means unwanted exposure, an inability to manage one's reputation, and a compromised virtual self (TROTTIER, 2012, p. 321).

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