O Lobolo do Cadáver: Uma Apreciação Sobre a Evolução

July 8, 2017 | Autor: Samuel Ngovene | Categoria: Culture
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Índice Resumo ................................................................................................................................................ 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 2 Delimitação do Tema ........................................................................................................................... 3 Problematização ................................................................................................................................... 4 Hipóteses .............................................................................................................................................. 4 Justificativa .......................................................................................................................................... 5 Objectivo Geral .................................................................................................................................... 6 Objectivos específicos ......................................................................................................................... 6 Metodologia de Investigação ............................................................................................................... 6 Enquadramento Teórico ....................................................................................................................... 8 Estrutura do Trabalho ........................................................................................................................ 10 CAPÍTULO I .................................................................................................................................. 12 SURGIMENTO E PRÁTICA DO LOBOLO NO SEIO DO GRUPO ETNO-LINGUÍSTICO .... 12 1.1 Conceptualização ......................................................................................................................... 12 1.2 Origem do Lobolo ........................................................................................................................ 14 1.2.1 Da Troca de Objectos à Capitalização do Lobolo .................................................................... 15 1.3 Procedimentos a Observar na Prática do Lobolo ......................................................................... 15 1.4 Valor Social do Lobolo ................................................................................................................ 16 CAPÍTULO II ................................................................................................................................ 18 A PRÁTICA DO LOBOLO DO CADÁVER E SUA EVOLUÇÃO NA CIDADE DE XAI-XAI ........................................................................................................................................................ 18 DE 2009 A 2011............................................................................................................................. 18 2.1 Premissas do Lobolo do cadáver.................................................................................................. 18 2.2 Procedimentos do Lobolo do cadáver .......................................................................................... 19 2.2.1 O Papel dos Pais no Lobolo do cadáver.................................................................................... 21 2.3 Evolução do Lobolo do cadáver na Cidade de Xai-Xai, de 2009 a 2011 .................................... 22 CAPÍTULO III ............................................................................................................................... 24 PERCEPÇÃO SOCIAL DO LOBOLO DO CADÁVER NA CIDADE DE XAI-XAI ................ 24 3.1 O Lobolo do cadáver Como Oportunismo, Educação ou Castigo. .............................................. 24 3.2 Posicionamento dos Religiosos sobre o Lobolo do cadáver ........................................................ 25 3.3 Enquadramento Legal e Institucional do Lobolo do Cadáver ..................................................... 26 3.3.1 Enquadramento Legal ............................................................................................................... 26 3.3.2 Enquadramento Institucional .................................................................................................... 27 3.4 Impacto Social e Cultural do Lobolo do Cadáver ........................................................................ 28 CONCLUSÃO ............................................................................................................................... 30 SUGESTÕES ..................................................................................................................................... 32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 34 APÊNDICES E ANEXOS ................................................................................................................. 36

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Samuel Francisco Ngovene Título: O Lobolo do Cadáver: Uma Apreciação Sobre a Evolução e Sua Legitimação Social na Cidade de Xai-Xai (2009-2011).

Resumo A presente monografia, intitulada “O lobolo do cadáver: Uma Apreciação sobre a Evolução e sua legitimação Social na Cidade de Xai-Xai (2009 a 2011) ”, retrata uma nova vertente da prática do lobolo que tende a ganhar espaço nos últimos anos no seio do grupo etno-linguístico Changana. Trata-se do lobolo do cadáver, fenómeno que surge quando uma mulher que viveu com seu marido sem que se tenha realizado o lobolo perde a vida e, a família dela exige que seja realizado o lobolo como condição para poder-se proceder com o funeral. Para a melhor percepção do conteúdo, o trabalho está dividido em três capítulos, onde no primeiro versa-se sobre o historial da origem e evolução do lobolo, no segundo discute-se as premissas para a realização do lobolo do cadáver a sua frequência e, no terceiro procura-se o nível de legitimidade social que o fenómeno ostenta. A principal conclusão deste trabalho sustenta que o lobolo do cadáver não é legitimado pela sociedade, é visto como um oportunismo das famílias praticantes. Palavras-Chave: Lobolo, Cadáver, legitimidade, evolução.

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INTRODUÇÃO O lobolo, uma instituição sócio-cultural do Sul de Moçambique, tradicionalmente surge como um elo de coesão de duas famílias e, para mostrar o poder do homem sobre a mulher que se associa ao orgulho que o casal tem em ter passado deste ritual de casamento tradicional. A partir da década de 80 do século XX, o lobolo mostra uma tendência do seu fundamento tradicional, inclinando-se cada vez mais na alimentação dos anseios capitalista, perdendo, deste modo, significado político familiar, no exercício do poder do Homem sobre a mulher, com a evolução das sociedades. É nesta linha de pensamento que se multiplicam casais que não passam dessa cerimónia, por um lado, por se determinar valores altíssimos de lobolo, por outro, aliado ao facto de se deparar com uma economia basicamente virada ao consumo, que não sustenta as grandes despesas do nível das exigências do lobolo e, ainda, ligado à delapidação dos valores político-familiares que este outrora era atribuído. Nesse âmbito, surge a obrigação do lobolo do cadáver que, muitas das vezes, é tido como condição para o funeral da noiva, assunto que constitui objecto de análise para o presente trabalho, com tema “O Lobolo do Cadáver: Uma Apreciação Sobre a Evolução e Sua Legitimação Social na Cidade de Xai-Xai (2009-2011)”. Nesta perspectiva, procura-se saber em que contexto surge o lobolo do cadáver e, será que esta prática concorre para alguma educação ou se trata de mero castigo para os sobreviventes e para o próprio cadáver? Procura-se ainda entender a legitimidade do lobolo do cadáver na sociedade diversificada na actualidade, em muitos pontos de vista, como a económica, social e religiosa. As questões de pesquisa acima esboçadas delimitam o próprio problema de investigação do presente trabalho que indaga a realização deste acto, partindo da constituição do vínculo matrimonial susceptível ao lobolo do cadáver, até aos procedimentos da sua efectivação. A escolha do presente tema prende-se, fundamentalmente, com a dinâmica e frequência que o fenómeno ganhou no período em análise, sem despertar a comunidade académica, facto que se ilustra pela exiguidade, tanto dos autores, como dos legisladores moçambicanos que se interessaram no assunto, o que implica muita das vezes uma resolução local, por vezes agressiva ou uma jurisprudência. Com esta abordagem, pretende-se contribuir para a minimização destes actos que ferem as normas de convivência social e resgatar o respeito pelos mortos. A presente pesquisa é qualitativa, pois o seu substrato funda-se na observação e valoração subjectiva da realidade cultural e tradicional vigente em Moçambique, com recurso a regras da experiência dos que vivenciaram o acto e a revisão bibliográfica sobre a matéria, objecto de análise.

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Por esta tipificação na sua elaboração, adoptou-se o método indutivo, tendo como ponto de partida a Cidade de Xai-Xai e, os resultados colhidos nesta área delimitada, serão válidos para todas as comunidades do grupo etno-linguístico Changana, que observam o lobolo e, em alguns casos negligentes tenha lugar o lobolo do cadáver. A compreensão da questão do lobolo do cadáver deve radicar na concepção dos valores que a sociedade moçambicana atribui à esta instituição cultural ao longo do tempo, tendo em consideração o pensamento, o sistema político, económico, social e cultural de cada época. Procedeu-se, portanto, à análise das obras que versam sobre o lobolo de modo a conhecer a evolução que a instituição conheceu em Moçambique. Para o efeito a interpretação da informação foi feita com recurso ao método Hermenêutico, que permitiu fixar o seu sentido e alcance, combinado com os métodos de abordagem histórico e comparativo que facultaram o conhecimento da evolução que o objecto de análise conheceu no tempo, na Cidade de Xai-Xai e noutros ordenamentos territoriais.

Delimitação do Tema A presente monografia tem como tema: o lobolo, uma instituição cultural que no Sul do Save simboliza a saída de uma mulher da sua casa paternal para viver junto à casa do seu marido, com vista a criação da família. O objecto desta temática é o lobolo do cadáver, fenómeno que surge pela morte da mulher que se juntara ao seu marido sem que tenha passado pela prática do lobolo, que é típico das sociedades patrilineares, e como reacção da família da noiva, obriga que se efectue o acto antes da realização do funeral. O aspecto em análise é a apreciação da evolução e legitimidade social que o lobolo do cadáver ostenta no seio da comunidade da Cidade de Xai-Xai, no período de 2009 a 2011.

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Problematização O lobolo é uma forma simples e isenta da burocracia do Estado de contrair matrimónio acessível para pessoas de todos os estatutos sociais, tanto nas zonas urbanas, como rurais. Tem funções claras dentro de uma sociedade patrilinear, que são: uma forma tradicional de celebração de matrimónio; uma forma de mostrar o amor que um homem sente por uma mulher; de mostrar o respeito pela família da futura esposa; união de duas famílias em redor da construção de uma nova família; garante a atribuição do apelido do marido aos filhos; serve para mostrar um sentimento de gratidão da família que vai se beneficiar do convívio e trabalho desta nova filha que passará a pertencer à família do noivo. Na história política o lobolo é visto como meio de legitimação do poder que o Homem tem sobre a sua esposa na família (HONWANA, 2002). Actualmente, há um fenómeno que se resume no lobolo do cadáver, feito com o corpo a espera do seu funeral, facto que se relaciona com o condicionalismo para autorização do funeral deste corpo. É na análise das funções do lobolo, com particular realce, o de unir as duas famílias dos noivos, a partir da ligação de duas pessoas vivas, que urge a seguinte questão de partida para a pesquisa: Até que ponto evoluiu e é legitimada a prática do lobolo do cadáver na Cidade de Xai-Xai?

Hipóteses

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filha perecida.



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É provável que o lobolo do cadáver não seja legitimado pela comunidade e a sua evolução seja movida pelo oportunismo das famílias que o exigem, para prosseguir com o funeral da



É possível que a obrigação do lobolo do cadáver seja justificada pelo sancionamento do noivo por não ter cumprido com o lobolo da noiva em vida, apesar da família ter 1 demonstrado o interesse de integrá-lo na família.

A referida pressão para que o noivo faça o lobolo, é geralmente feita através de esteriotipagem do noivo, chamando –o de Mukwaxe (designação de um genro fracassado, inútil, sem prestígio).

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Justificativa Constitui motivação para a escolha do tema, o facto de assistir, por vezes repetidas, fenómenos em que a família do noivo, que não tenha lobolado a sua nora, se dirigir á família da noiva para comunicar a triste notícia da perca da vida desta mulher e, aquela família ser recebida por um outro pesadelo mais forte que a perda da sua nora, do tipo «só se realiza o seu funeral depois do lobolo». Outro factor que contribuiu para a escolha do tema, centra-se no facto de não ter-se encontrado estudos anteriores que retratam sobre o lobolo do cadáver. Os autores que já debruçaram sobre o tema do lobolo, cingiram-se em muitos outros aspectos que não seja, necessariamente, do lobolo do cadáver. A título de exemplo, Junod (1974), interessou-se na origem e evolução do lobolo e, evoca em algum momento a questão do lobolo de defuntos, que ocorre, geralmente, muito depois do funeral, como meio de busca de sorte para os filhos, o que contribui que muitas das vezes a prática do lobolo da mãe (já falecida), seja feita pelos próprios filhos; Granjo (2005), direccionou o seu estudo aos procedimentos a observar no lobolo e na comparação do lobolo ora com o velho idioma, ora com uma nova tradição moderna, mas em nenhum momento referenciou a particularidade do lobolo do cadáver; Honwana (2002), ao se deter no lobolo, focaliza o factor de mudança das modalidades das exigências do lobolo, colocando o emprego dos moçambicanos nas minas da África do Sul, como fundamento para o início da monetarização do lobolo, mas não se refere ao lobolo do cadáver; Tembe (2005), apesar de ter feito a sua pesquisa na mesma área de estudo (Cidade de Xai-Xai), focalizou o aspecto da legitimidade do próprio lobolo na actualidade e não buscou nenhum elemento que liga com o lobolo do cadáver que surge, a prior, quando se ignora este lobolo normal. Deste modo, esta monografia se insere no tema do lobolo, trazendo como novidade, o estudo do fenómeno do lobolo do cadáver, visto como uma prática nova na sociedade e na comunidade académica, facto provado pela escassez da literatura específica sobre o fenómeno. A área de estudo, Cidade de Xai-Xai, foi escolhida pelo facto do autor deste trabalho ser residente desta urbe há mais de dez anos, o que possibilitou a observação do fenómeno em estudo e, também, pelo facto da urbe ser predominantemente do grupo etno-linguístico Changana pois, segundo INE (2007), constitui 68% da população total da urbe. Para este grupo, o lobolo constitui algo que, tradicionalmente, dignifica e dá direito ao exercício de poderes do homem perante a sua mulher, a família da sua mulher e para a sociedade, no geral.

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A escolha do tempo, 2009-2011, prende-se com o facto da frequência do fenómeno neste período, pois no primeiro Semestre de 2009 foram identificados dois casos e, no segundo Semestre de 2011 identificar-se dez, numa linha evolutiva, dentro dos semestres inseridos neste intervalo. Este trabalho justifica-se pelo facto de despertar a necessidade de se precaver do fenómeno do lobolo do cadáver, que tem uma tendência crescente de proliferação e pelas estratégias que nele se avança para diminuir o campo de aplicação desta prática.

Objectivo Geral Esta monografia visa, fundamentalmente, compreender a evolução do Lobolo do cadáver e sua legitimação social na Cidade de Xai-Xai.

Objectivos específicos

 

 



Descrever o surgimento e a prática do lobolo no grupo etno-linguístico Changana; Contextualizar a prática e evolução do lobolo do cadáver na Cidade de Xai-Xai;





Demonstrar  a percepção social sobre a legitimidade do lobolo do cadáver na Cidade de XaiXai.

Metodologia de Investigação Para o alcance dos objectivos preconizados no trabalho fez-se uma combinação dos métodos, de acordo com as circunstâncias, tendo como ponto de partida, a revisão bibliográfica. Os documentos consultados foram submetidos à críticas de veracidade, autenticidade e credibilidade, com recurso à heurística e hermenêutica, dada a sua relevância em temáticas de história. Para as fontes orais que, devido à natureza prática da pesquisa, dominam o trabalho, a veracidade é apurada pela repetitividade das questões aos mesmos aludidos, em tempos diferentes, completada pelo cruzamento destas questões a diferentes indivíduos. Foi usado o método indutivo, partindo-se da análise do fenómeno do lobolo do cadáver na Cidade de Xai-Xai, para generalizar os resultados da pesquisa a todo o grupo etno-linguístico Changana, pois Gil (1999:28), afirma que neste método, parte-se do particular e coloca a generalização como produto posterior do trabalho de colecta de dados particulares.

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A colecta de informação envolveu, na primeira etapa, a pesquisa bibliográfica. As principais fontes de informação consultadas, nesta etapa, foram trabalhos sobre o casamento tradicional, com destaque aos trabalhos de Honwana (2002), Junod (1974 e 1996), Granjo (2005) e Tembe (2005) sustentados pela legislação moçambicana e notícias da imprensa.

Em relação a esta técnica usada, Beuren (2004) afirma que: “A pesquisa Bibliográfica é desenvolvida mediante material já elaborado…abrange todo o referencial teórico tornado público em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, dissertações, teses, entre outros” (.:87).

Simultaneamente à pesquisa bibliográfica, recorreu-se a observação simples. Para tal, observou-se quatro ocasiões em que a mulher perde a vida antes de se efectivar o lobolo e foi submetida a essa condição, com maior atenção à justificação dada pela família da noiva e os mecanismos usados pelo noivo para superar esse momento de dor a dobrar. Gil (1999:117) realça que neste método o pesquisador permanece alheio à comunidade ou situação que pretende estudar, observa de maneira espontânea os factos que aí ocorrem. Este método é tido como um dos mais modernos, dado que possibilita o mais elevado grau de precisão nas ciências sociais. No decurso do trabalho, pautou-se pelas Entrevistas Semi-estruturadas, também conhecidas por entrevistas informais, que só se distinguem da simples conversação por ter como objectivo básico a colecta de dados, a indivíduos que já sofreram o fenómeno em análise ou ainda que não tenham sido vítimas, mas que tenham acompanhado ao vivo. A entrevista informal permite a obtenção de uma visão geral do problema pesquisado, bem como a identificação de alguns aspectos da personalidade do entrevistado (Ibid.:119). Com recurso a esta técnica foram abarcados 16 indivíduos, sendo quatro secretários dos bairros, na proporção de um para cada Posto Administrativo, três viúvos submetidos ao fenómeno do lobolo dos corpos das suas esposas, três líderes religiosos, entre cristãos e reformistas, duas famílias promotoras de submissão ao lobolo do cadáver, um gestor público e três agentes da Autoridade Policial, de modo a se apurar a legitimidade do fenómeno em vários estratos da sociedade da Cidade de Xai-Xai. A característica dos entrevistados é ilustrada na tabela 1. Paralelamente à entrevista, a recolha de dados também consistiu num inquérito dirigido à uma amostra cujo o universo considerado compreende a todas famílias que vivem ou viveram com as noras sem realizar a cerimónia tradicional do Lobolo, na Cidade de Xai-Xai. Como população de

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estudo, delimitou-se o conjunto de famílias que perderam as suas noras antes de efectivarem o lobolo. Da população acima referida, seleccionou-se, aleatoriamente, uma amostra de 41 famílias cujas noras perderam a vida antes de lobolo, para se verificar o grau de repetitividade do lobolo do cadáver e apurar delas as causas comuns. A pesquisa na Internet foi outra forma não menos privilegiada que se recorreu para a busca de informação. Tabela1. Características dos Entrevistados Designação

Sexo

Faixa etária

Quantidade

Secretário do bairro

Masculino

37 a 50

3

Secretária do bairro

Feminino

40 a 45

1

Viúvos

Masculino

25 a 40

3

Líderes Religiosos

Masculino

45 a 55

3

Gestor Público

Masculino

50 à 55

1

Protagonista

Feminino

45 a 50

1

Protagonista

Masculino

50 a 60

1

Autoridades

Masculino

35 a 55

3

28 a 60

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Policiais Total

-

Fonte: Elaborado na Base dos Dados da Pesquisa, 2012.

Enquadramento Teórico O trabalho é analisado à luz da teoria do Dinamismo Cultural, defendido por Marcel Mauss, segundo a qual a manifestação cultural das comunidades inseridas numa sociedade em contínua modernização é dinâmica e acompanha a própria sociedade (MALINOWSKI, 1975:112). Marcel Mauss, precursor da escola antropológica francesa, inspirou-se aos ideais do seu tio Émile Durkheim, opondo-se ou resignificando os seus conceitos. É no concernente a reabordagem dos conteúdos que Marcel Mauss trata o facto social, abordado por Émile Durkheim como coisa, por Facto Social Total. Na sua obra “O Ensaio Sobre a Dádiva de 1923” argumenta que os fenómenos sociais devem ser analisados de forma versátil em prismas social, cultural, económico, psicológico, bem como técnico-científico, de acordo com o lugar e o tempo.

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Deste modo, o trabalho enquadra-se nesta teoria, na medida em que o lobolo, analisado a partir dos seus primórdios, sofreu uma dinâmica, acompanhando a evolução da sociedade, desde a entrega de 2

produtos da machamba, como tihaka , para enxadas, mais adiante para manadas de bois, até altos valores que de forma subjectiva implicam, actualmente, a exigência do lobolo do cadáver. São pouquíssimos os estudos encontrados que se interessaram na perspectiva sobre o lobolo do cadáver e, os que singraram a sua abordagem na grande temática do lobolo pouco analisaram este fenómeno, tido como novo nesta instituição cultural. Fazendo uma analogia das ideias de alguns, autores nota-se neles uma divergência do pensamento em prol da evolução e legitimidade do lobolo, embora não especificando, concretamente, o lobolo do cadáver. Granjo (2005), antropólogo que acompanhou o casamento do seu amigo, em Maputo, refere, na sua obra, Um Velho Idioma para Novas Vivências Cojungais, que os contornos do lobolo vão desde a formação dos noivos até ao nível de vida das suas famílias, passando, com efeito, pelas exigências socioeconómicas. Antes da massificação do uso da moeda como meio de aquisição de bens de uso e consumo, no sul de Moçambique havia outras modalidades que simbolizavam a passagem da mulher para a família do esposo, sendo usados por exemplo em algumas partes a fruta de “kakana”, conhecida por “tihaka” e nas linhagens ronga, chamado também de “tihakana”. A entrega deste elemento simbólico, não visava a “compra da mulher” e muito menos a transição desta, como fonte de prazer sexual masculino e fonte de reprocriação familiar, mas sim o reconhecimento da união. Nesta perspectiva, dificilmente podia se falar do lobolo do cadáver, porque, por um lado, Granjo olha na formação académica e o nível de vida económica de cada família envolvente, portanto, nestas condições, as famílias estão numa disponibilidade imediata para cumprir as exigências do lobolo, porém, o autor fornece ferramenta sobre as etapas a observar na prática do lobolo. Junod (1974), um padre suíço, porque viveu em tempos do respeito de tradição e que entende o lobolo como uma prática oriunda dos Grandes Lagos, que, com o fenómeno de aculturação, expandiu-se em muitas regiões do mundo, afirma que em Moçambique conheceu-se com a chegada dos Bantus nos Séculos I e IV. Para este autor, na sua obra, Usos e Costumes dos Bantus, exalta o carácter promissor dos Bantus por serem agricultores e com técnicas metodológicas de fundição de ferro e, encontra neles alto espírito do trabalho, factor que contribui bastante para o cumprimento das exigências tradicionais. Nesta obra, busca-se a chegada da prática do lobolo na nossa sociedade, bem como os contornos históricos que este foi assumindo no decurso do tempo.

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Frutas de cacana, uma planta rastejante, cujas folhas servem de carril no Sul do Save e de Remédio para o Norte do Save

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Cipire (1996), que escreveu o livro, A Educação Tradicional em Moçambique, mostra a importância e o significado do lobolo, referindo-se às suas vantagens e desvantagens. Menciona como vantagens, a moralidade que este traz para com os filhos do casal que passou do ritual, na protecção que a mulher lobolada tem na família do seu marido e na recompensa que os seus pais se beneficiam para garantir a legitimidade da sua união. No lote das desvantagens, o autor evoca o facto de o lobolo ganhar contornos capitalistas, que inicia com o trabalho migratório, a partir de 1890, nas minas da África do Sul, que este perde o valor simbólico e passa a custar valores elevados, associados à satisfação das necessidades económicas das famílias que cobram o lobolo. Para Tembe (2005), em sua monografia intitulada “A Legitimidade do Lobolo nos Últimos 30 anos em Moçambique: O Caso da cidade de Xai-Xai” indica que na Cidade de Xai-Xai, em cada 60 jovens unidos maritalmente com idade compreendida entre 18 a 30 anos, escolhidos aleatoriamente, 36 vivem com as suas esposas sem antes realizar a cerimónia tradicional de lobolo (Anexo 1). Apesar das diferenças visualizadas pelo pensamento dos autores acima referenciados, algo de comum se extrai no seu posicionamento, pois todos eles foram unânimes em colocar as metamorfoses do lobolo como fruto da evolução da sociedade e, havendo uma necessidade de acompanhamento, esta instituição tinha que passar das fases referenciadas. Ao mesmo tempo, os autores não encontraram um enquadramento do lobolo do cadáver na estruturação do tecido social durante essa linha evolutiva.

Estrutura do Trabalho O presente trabalho apresenta, na sua estrutura, três capítulos, expostos em rol, desde o surgimento e evolução do lobolo até à prática do lobolo do cadáver e a sua legitimação na Cidade de Xai-Xai, sendo: Capítulo I: Surgimento e Prática do Lobolo no Seio do Grupo Etno-Linguístico Changana, onde se aborda a origem do lobolo e o seu percurso, desde o uso de produtos agrícolas como símbolo do lobolo à sua monetarização.

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Capítulo II: A Prática do Lobolo do cadáver na Cidade de Xai-Xai, de 2009 à 2011. Versa sobre as premissas do lobolo do cadáver e a sua evolução, mostrando a sua tendência crescente, de 2009 à 2011. Capítulo III: A Prática do Lobolo do cadáver na Cidade de Xai-Xai, de 2009 à 2011. É neste capítulo que se esgota a sensibilidade da legitimação social do lobolo do cadáver na Cidade de XaiXai e diferentes visões e estractos sociais. A terminar descreve-se as conclusões a que se chegou com a pesquisa e, as recomendações, subdivididas em curto e longo prazos.

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CAPÍTULO I SURGIMENTO E PRÁTICA DO LOBOLO NO SEIO DO GRUPO ETNO-LINGUÍSTICO CHANGANA O grupo etno-linguístico Changana instalou-se no Sul do Save vindo da região do Natal pela fuga 3

das grandes convulsões políticas denominadas de M’fecane . É marcadamente conhecido pelo respeito das tradições que transporta desde a origem, com destaque ao lobolo. Neste capítulo aborda-se, sobre a origem do lobolo e a sua evolução, passando de diversas fases de exigência.

1.1 Conceptualização São vários os autores que conceituaram o lobolo, contudo eles encontram algumas diferenças nas suas análises, facto justificado pelas áreas de formação, o tempo histórico, a localização geográfica, bem como as perspectivas de análise de cada autor. Nas definições de Malinowski e Junod, pode se ler: Lobolo como uma forma pela qual a união entre um homem e uma mulher é socialmente reconhecida (Malinowski, 1975: 87). Por seu turno, Junod (1974) vê o lobolo como troca entre as unidades colectivas que compõem um clã. Uma unidade adquire novo membro (mulher) e a unidade doadora exige a recomposição através de uma compensação que lhe permita adquirir outra mulher. Destas definições, pode se afirmar que o lobolo é uma forma simples e isenta da burocracia do Estado de contrair matrimónio acessível para pessoas de todos os estatutos sociais, tanto nas zonas urbanas, como nas zonas rurais. Esta forma de legitimação do casamento tradicional é muito mais do que um costume antigo, ela é o 4

símbolo da aceitação do xiloso do marido para os futuros filhos. É também uma forma de introduzir os filhos junto aos antepassados da família, para que os mesmos sejam aceites e se estabeleça essa ponte de ligação dos novos membros com o sobrenatural. O lobolo é tido como uma instituição sócio-cultural, daí o interesse de discutir o conceito de cultura. Lima (1991:36), define cultura como um sistema simbólico de um grupo humano, que só poderá ser apreendido por outro grupo por meio de interpretação e não por mera descrição. Não fugindo muito, Malinowski (1975:76), define cultura como um sistema estrutural em que o eixo de tudo é a 3

Movimento dos Ngunis, do qual faz parte Sochangane, da região da Zululândia em direcção ao Sul de Moçambique em fuga dos ataques do Chaka Zulu, pela disputa dos espaços aráveis para agricultura e pastorícia (Serra, 2000) 4 Designação do apelido em língua Tsonga.

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bipolaridade “ natureza-cultura”, tendo como campos privilegiados da sua concretização o mito, a arte, a língua e o parentesco. E, ainda, define-se cultura como um conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes e várias outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade (TAYLOR apud LERMA, 2009:45). Em função das necessidades para o presente trabalho, pode se definir cultura como sistema de padrões de comportamento, de modos de organização económica e política de tecnologias, em permanente adaptação com vista o relacionamento dos grupos humanos com seus respectivos ecossistemas. A partir desses conceitos pode se chegar à conclusão de que a cultura não é algo biológico, mas sim adquirida, através da interacção das sociedades, daí que ganha o carácter dinâmico. Por sua vez, a cultura funda-se na tradição, que é o conhecimento que provém da transmissão oral de hábitos durante um longo espaço que passa de geração em geração. O termo foi originalmente aplicado pelos cristãos às crenças centrais transmitidas através da instrução nas coisas religiosas (AAVV., 2011, captado a 26 de Novembro). Para Giddens et all (1997:80), tradição é a cola que une as ordens sociais pré-modernas, e envolve, de alguma forma, controle do tempo, ou seja, é uma orientação para o passado, de tal forma que o passado tenha uma pesada influência ou, mais precisamente, seja constituído para ter uma pesada influência para o presente. Portanto, tradição é um conjunto de ideias, sentimentos, costumes e aptidões transmitidos de geração em geração aos membros duma sociedade humana, quer através da linguagem verbal, quer através dos próprios actos. No seu sentido mais amplo, que é o que interessa para o presente estudo, tradição quer dizer o culto dos valores que os antepassados nos legaram. Todo o grupo social, toda a nação tem sua própria escala de valores e é essa escala que torna os povos distintos entre si. A tradição inspira muitas vezes o respeito, simplesmente, através da autoridade que nela se alicerça que é a tradicional. Portanto, representa, normalmente, o padrão ou modelo de referência, sendo por isso, particularmente respeitada pelos conservadores, por um lado e, por outro lado, atacado por não conservadores, como obstáculos à mudança. De qualquer forma, apenas as crenças mais rígidas, como o lobolo, são incapazes de ver a tradição como processo crescente e cumulativo e as revoluções mais radicais tentaram romper completamente com todas as ligações ao passado, em fim, tradição é tudo aquilo que do passado não morreu.

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O Cadáver, no presente trabalho, refere-se ao corpo moribundo que se espera o seu funeral em seus procedimentos locais. Ligando os dois conceitos, por um lado, o lobolo e por outro, o cadáver, lobolo do cadáver vai significar a obrigação do procedimento do casamento tradicional entre um homem vivo e uma mulher morta, ainda em corpo antes de se realizar o funeral. Assim, fica perceptível que o lobolo do cadáver é um fenómeno que surge quando a noiva perde a vida antes da devida realização da cerimónia do casamento tradicional, feita pelo noivo. Para o presente trabalho, noivo refere-se ao marido da falecida.

1.2 Origem do Lobolo No Estado Natural onde não havia propriedade privada, todos tinham direito a tudo, embora o usufruto desse direito punha a força como condição, era a lei do mais forte. Neste Estado, todas as mulheres eram também para qualquer homem. Foi quando o homem cercou um espaço e declarou que “isto é meu”, isolou uma mulher como sua propriedade e daí gerou filhos (as) legítimos que para possuí-las necessitava de alguma troca, começando, assim, a propriedade privada (HOBBES, 1651:253). Desta forma, o lobolo nasceu do princípio de uma condição que tinha que existir um instrumento legal que testemunhasse a celebração do contrato de casamento entre filhos de determinadas famílias (CIPIRE, 1996:55). Antigamente, o instrumento eficaz que podia simbolizar a ligação de duas famílias sem nenhum vínculo consanguíneo era o lobolo. Esta prática, tem a sua origem nos Grandes Lagos e, com o fenómeno de aculturação expandiu-se em muitas regiões do mundo, mas em Moçambique, conheceu-se com a chegada dos Bantus, nos Séculos I e IV. No início dessa prática, as trocas eram feitas em géneros alimentícios, como Tihakas e mais tarde em produtos artesanais e objectos metalúrgicos, como enxadas (JUNOD, 1974). Com a evolução da actividade de criação de gado bovino, o lobolo começou a ser pago por meio de cabeças de gado que, era condicionada a sua devolução, juntamente com as suas crias, no caso da perca do lar.

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1.2.1 Da Troca de Objectos à Capitalização do Lobolo Em Moçambique, há três tipos de casamentos: Civil (do Registo Civil), Tradicional (lobolo) e Religioso (da Igreja) e, geralmente, os indivíduos procuram contrair os três tipos para que a sociedade diversificada considere-os casados (CIPIRE, 1996). O lobolo ganha contornos capitalistas a partir da segunda metade do século XIX (1890), quando se celebrou um acordo entre Moçambique e África do Sul para se albergar naquele país a mão-de-obra moçambicana no trabalho das minas e receber em troca, o dinheiro. Com este dinheiro, para mostrar a supremacia masculina e, também, para demonstrar o grau de poderio no que diz respeito ao sustento de uma mulher, tinha que pagar um valor à família da noiva (HONWANA, 2002). Nessa época, o lobolo era uma forma de agradecer a família da esposa, a honra dada ao rapaz e, além de ser uma forma de informar aos espíritos dos antepassados que a jovem ia sair de casa paterna e, ainda, como uma prova de que o pretendente está suficientemente preparado para prestar cuidados à sua noiva. Com a dinâmica económica, social, cultural e política, os valores cobrados pela família da noiva iam crescendo, variando de lugar, nível económico das famílias, grau de formação da mulher pretendida, entre outros factores.

1.3 Procedimentos a Observar na Prática do Lobolo O lobolo na sua plenitude obedece vários momentos, desde a recepção da carta que faz a relação das exigências da família da noiva até à despedida da delegação do noivo no próprio dia do acto que, 5

esta é recebida de volta à casa do noivo, geralmente por uma canção de “hoio-hoio mati ”, ou simplesmente bem-vindo à mais um elemento para nos dar água (GRANJO, 2005). Assim, o lobolo apresenta os seguintes momentos principais: recepção da carta feita pela família da noiva, que faz a relação dos requisitos para o lobolo; preparação do jovem para aquisição completa dos bens exigidos; entrega de dinheiro e artigos à família da noiva; a declaração da concordância da noiva; os pais da noiva vestem o que receberam; ela é saudada e felicitada pelo novo estatuto social que adquiriu e, as duas famílias se unem para consolidação de nova relação que ambas contraíram. A concordância da noiva consiste em tirar algum dinheiro daquele valor do lobolo oferecer ao pai ou tio paterno dizendo “pode usar o dinheiro, vou passar o resto da minha vida nesta família e trabalhar para compensar” (Idem).

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Expressão Tsonga para significar bem-vinda a água, transportada desde o período em que a mulher servia apenas para funções domésticas.

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Na prática actual, a concordância da noiva não implica a submissão da noiva ao marido, nem o compromisso de trabalhar em compensação do valor monetário, como era antes, mas sim um consentimento da relação conjugal. Fig.1 Momento da declaração de concordância da noiva .

Foto tirada pelo Autor, 2011.

Fig.2 A noiva veste roupa comprada pelo noivo e é saudada pelos convidados.

Foto tirada pelo Autor, 2011

1.4 Valor Social do Lobolo O lobolo serve de mecanismo protector da mulher e dos seus filhos em caso de uma fatalidade que a deixe sem recursos. A mulher lobolada e com filhos, em caso da morte do marido, passa a ser um encargo da povoação onde vive, isto é, sente-se protegida e para ela, a situação do lobolo é um amparo nas contingências da vida (CIPIRE, 1996:60). Outro valor social e político-familiar é que o lobolo é o meio para o homem se sentir chefe perante a sua mulher e a família o que concorre para a admissão deste homem nos fóruns de liderança local, partindo do princípio de que se já tem poderes familiares, então pode assumir, também, poderes locais (Apêndice 16, Q2, I2). Portanto, o valor social do lobolo, busca-se a partir do fundamento da existência desta instituição cultural, que se resume na necessidade de legitimar, tradicionalmente, as uniões dos cônjuges e comunicar aos espíritos a movimentação de um membro de uma família para a outra, a protecção desta mulher em todas as circunstâncias, conferir o direito do uso de poderes do homem sobre a mulher na família e na sociedade. Na prática estes valores concorrem a desuso devido à vários factores, dentre estes, a liberalização do namoro e as revoluções tendentes à emancipação da mulher.

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A crescente proliferação da capitalização do lobolo trouxe uma banalização desta instituição cultural, alicerçada na legitimação tradicional, tanto das alianças dos noivos, como da paternidade dos filhos que o casal irá gerar. São várias as razões associadas a este facto, contudo Tembe (2005:38), avança as seguintes: - A indisponibilidade dos valores cobrados pela família da noiva em situação da baixa renda do noivo; - A associação do lobolo à compra da noiva; - A facilidade encontrada para se unir com a sua mulher sem realizar o lobolo, dada pelos próprios pais. A actual ideia de considerar o lobolo como compra da noiva é chocante e fere o padrão dos nossos ideais culturais (MELLO, 2008:337). Esta tendência concorre para o desvio do valor social do lobolo, para uma explicação económica e financeira. Em relação aos valores atribuídos ao lobolo pela sociedade, Granjo (2005) avança os seguintes: - Garante a comunicação dos espíritos de ambas famílias que a mulher sai da sua família biológica e passa a pertencer à família de aliança, que é do marido, portanto, a primeira família não deve mais dar falta da sua existência e, por sua vez, a família do marido deve lhe receber e contar-lhe como membro integrante desta. - Garante o reconhecimento do apelido do marido aos filhos que saírem do ventre da mulher lobolada. - Garante a protecção da mulher na família do marido em caso de morte deste homem. -Permite o reconhecimento e legitimidade da sua união e moralidade dos casais que se sentem orgulhosos por terem cumprido o ritual do lobolo. Na verdade, o lobolo seguiu uma linha evolutiva de mutações, acompanhando as modificações da própria sociedade, facto que foi modificando o seu valor social, perdendo, deste modo, algum peso na sociedade, como é o caso do poder do homem sobre a mulher. Este facto concorre na desestimulação da necessidade de cumprir com o dever tradicional, de lobolar a mulher, o que vai desaguar no lobolo do cadáver.

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CAPÍTULO II A PRÁTICA DO LOBOLO DO CADÁVER E SUA EVOLUÇÃO NA CIDADE DE XAI-XAI DE 2009 A 2011 Actualmente, uma nova forma da prática do lobolo começa a ganhar espaço nas sociedades patrilineares. Trata-se do lobolo do cadáver, que surge pela não realização do lobolo em tempo útil. Por isso, este capítulo irá debruçar-se sobre a evolução do fenómeno do lobolo do cadáver na Cidade de Xai-Xai.

2.1 Premissas do Lobolo do cadáver O Lobolo do cadáver é um facto novo na nossa sociedade Changana e, particularmente, na Cidade de Xai-Xai, pois no passado havia muito respeito com as formalidades deste ritual, razão pela qual, quase todos os casais se encontravam em situações regularizadas e, associado às facilidades que as condições naturais ofereciam, tornava cada vez mais fácil a aquisição dos bens exigidos pela família da noiva, mesmo para os que não tinham um trabalho muito rentável (Apêndice16, Q1, I2). Na actualidade, há uma tendência de proliferação das uniões sem observar os ditames culturais, tradicionalmente aceites nesta sociedade, o que concorre para uma imposição de lobolar o cadáver. O fenómeno tem frequência nos jovens, que segundo INE, (2007), constitui mais de um terço da população da Cidade de Xai-Xai. Geralmente, esta faixa etária vive, em média, três anos maritalmente, sem antes realizar o lobolo e, este período se justifica, por um lado, pela facilidade encontrada de viver com a mulher, sem antes lobolar e, por outro, pelas exigências dos requisitos do lobolo acima das capacidades (Apêndice 2, Q2 e Q3). Os casos de interdição do funeral da noiva, impondo o lobolo do cadáver como condição daquele, são uma manifestação de insatisfação dos pais da noiva em relação ao seu genro por ter lhes tratado mal quando a sua filha estava em vida. Mas, esta posição não é extensiva a todos os casos, pois geralmente quando em vida o genro convive com os seus sogros, mesmo nestas situações tidas como ilegais (SERRA, 2008:7). Para Serra, as principais razões que levam as famílias a submeterem os seus genros ao ritual do lobolo de um corpo moribundo são: 

“A mercantilização do lobolo aliada ao oportunismo das famílias. Em vida as famílias das noivas esperavam um retributo pela saída de um membro da sua família para constituir uma 

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mais-valia noutra família, isto é, a do noivo. Com a sua morte, uma situação do desespero lhes move a se vingar pela cobrança do corpo;





Para mostrar a necessidade de respeitar as vontades dos sogros em tempo útil, quando estes requererem as formalidades do lobolo; 



Para mostrar que é preciso ter uma responsabilidade para viver com uma mulher sem formalização tradicional do casamento, através do lobolo” (Idem). 

São várias as razões que concorrem para esta prática na sociedade changana, contudo, todas elas, bem analisadas, entram em contradição com as funções do lobolo descritas no capítulo anterior, porque o lobolo é fundamentalmente para a união de dois indivíduos vivos. 2.2 Procedimentos do Lobolo do cadáver Falar dos procedimentos do lobolo do cadáver remete-nos a revisitar os procedimentos do lobolo no grupo etno-linguístico Changana, abordados no primeiro capítulo, para permitir uma comparação e seu enquadramento nesta instituição cultural. Um dos entrevistados, submetido ao lobolo do cadáver, aborda sobre os procedimentos observados para a efectivação desta prática: “Quando a minha esposa faleceu, no dia 23 de Dezembro de 2010, mandamos a minha tia para comunicar a sua família sobre o sucedido e, em reacção, a família da noiva disse que não era possível, para além de que não conheciam nenhuma família para dar essa informação. Passados quatro horas depois de voltar a tia Carlota, chegou uma delegação composta por dois senhores e uma senhora que vinham informar que o funeral só podia decorrer depois do lobolo no valor de 14.000,00Mt (Catorze mil meticais). Consegui o valor exigido dentro de quatro dias, que foi mandado por quatro elementos da família no dia 27, somente com o dinheiro que foi entregue, mas sem cerimónia de oficialização do casamento e nem alegria” (Apêndice10, Q3, E1). Neste caso, deixa-se bem claro que no lobolo do cadáver, o mais importante é valor o monetário e exclui-se todas as formalidades basilares que a cerimónia obedece na sua regra geral, como a confirmação através da declaração da noiva para a recepção dos bens do noivo pelos pais, a saudação da noiva pelo novo estatuto de casada, e a satisfação das duas famílias. Num estrato do Jornal Notícias (2009:14), descreve-se um acto similar, quando aborda-se sobre a família Tovela, residente no Bairro 5 Koca-Missava, da Cidade de Xai-Xai que foi, a 20 de

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Novembro de 2009, impedida de realizar o funeral, pelo facto de a malograda ter perdido a vida antes da relação marital ser devidamente autorizada por via do lobolo. Para esta família, por não se dispor do valor exigido de 20.000, 00Mt (vinte mil meticais), contou que houve intervenção da polícia para permitir o funeral, mediante uma declaração do compromisso do lobolo que prometia faze-lo dentro de 30 dias. Contactada a família, explicou que, findos os trinta dias, mandou-se três elementos ligados à família com apenas o valor exigido sem vestes nem bebidas (Apêndice 10, Q4, E7). Para responder às exigências de lobolo com o corpo moribundo, por se tratar de situações urgentes e extraordinários, recorre-se à empréstimos, à poupanças familiares, porém, há circunstâncias em que tanto o primeiro, como o segundo caso não respondem à condição, demorando-se mais dias para a efectivação do funeral, facto que leva à intervenção das autoridades (Apêndice 2, Q7). Tanto no primeiro, como no segundo caso, colocou-se o problema da família da mulher que perdera a vida não conhecer o esposo dela e uma situação de se cobrar, basicamente, o dinheiro do lobolo, como se tratasse de compra de cartão de funeral. Fig.3 Transmissores de informação ignorados.

Fig.4 Corpo da Noiva na Morgue

pela família da falecida

do HPXX

Foto Tirada pelo Autor, 2011

Foto Tirada pelo Autor, 2011

Facto curioso é que o casal pode viver anos sem os pais se pronunciarem sobre a exigência do lobolo e, ainda, a conviverem felizmente com o seu genro ilegal, paradoxalmente, no caso da morte da noiva, os pais exigem que se efective a prática deste ritual antes que se proceda o funeral

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2.2.1 O Papel dos Pais no Lobolo do cadáver No sistema patrilinear, os filhos devem respeito e obediência ao patriarca, razão pela qual, mesmo casados, estes tem maior influência na criação e condução dos seus lares. Neste sistema, as raparigas são dirigidas pelos pais ou na sua falta, pelos irmãos mais velhos do pai. Este princípio, como isola na generalidade as mães, faz com que nos casos de negociações de assuntos de grande relevância na família, como o lobolo, gravitem poderes enormes nos tios paternos, relativamente aos pais (FERREIRA, apud CIPIRE, 1996:54). Neste diapasão, um dos entrevistados que protagonizou a cerimónia do lobolo do cadáver, conta que todo o processo de lobolo da sua filha (já falecida), fora dirigido pelo seu irmão mais velho, porque ele estava na África do Sul em serviço e, quando foi comunicado o incidente, via telefone, ordenou que tudo devia ser à decisão do seu irmão. Este, por sua vez, colocou o lobolo do cadáver, como condição para o funeral (Apêndice 12, Q1, E9). Situação similar foi encontrada na segunda família que também protagonizou o fenómeno em Abril de 2011. Diferentemente da primeira, em que o chefe da família estava ausente, quando se procedeu a obrigação de lobolo do cadáver da sua filha, ele explicou que quando recebeu a notícia, estava em casa, mas foi aconselhado para não se pronunciar, delegando o seu irmão mais velho, porque ele podia poupar o seu genro (Apêndice 12, Q1, E10). Com estas posições, constata-se que os pais legítimos geralmente entram com poucas possibilidades de decisão, respeitando o princípio do patriarcado que reserva a supremacia dos tios paternos. Este princípio, para o caso concreto desta análise, é a razão de ocorrência deste fenómeno, porque conclui-se que os tios não têm a profunda afeição sentimental com os sobrinhos, comparativamente aos pais em relação aos seus próprios filhos, portanto são raros os casos de submissão directa dos pais. Neste caso, o papel dos pais é de opinar sobre os procedimentos do funeral da filha não lobolada, cabendo aos tios a decisão final e, no caso de não concordância dos pais sobre a execução do acto decidido pelos tios, aqueles são rotulados de modernos que transgridem a tradição e ainda mais tarde são culpados pela falta de sorte dos filhos da falecida, devido à não realização do lobolo. Outro papel fundamental dos pais, em situação de convivência marital dos seus filhos, antes do lobolo, é de procurar manter uma ligação contínua entre as duas famílias, apesar de não ter reconhecimento. Por falta desta comunicação, algumas vezes as famílias só se conhecem quando for para comunicar a notícia do falecimento da noiva, o que implica ignorar aos transmissores da notícia (Apêndice 2, Q5).

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2.3 Evolução do Lobolo do cadáver na Cidade de Xai-Xai, de 2009 a 2011 O levantamento feito nos quatro postos Administrativos que compõem a Cidade de Xai-Xai, no intervalo do início de 2009 até ao primeiro semestre de 2011, com o objectivo de se apurar o grau de repetitividade do fenómeno de lobolar os cadáveres, com a ajuda dos secretários dos bairros, mostrou que dos 41 casos de mortes das noivas antes do lobolo, 22 famílias dos noivos foram submetidas ao lobolo do cadáver antes do funeral, conforme ilustra a tabela abaixo (Apêndice 2, Q1 e Q7). Tabela2. Frequência do Lobolo do cadáver Posto Administrativo

Mortes antes Lobolo

do Obrigação lobolo do cadáver

do Quantidades percentuais

de

lobolo de cadáver

Posto Sede

08

04

50%

Inhamissa

13

08

61,5%

Patrice Lumumba

15

10

66,7%

Praia de Xai-Xai

5

0

0%

Total

41

22

53,7%

Fonte: Elaborado na base dos dados do Inquérito, 2011.

O fenómeno tende a ganhar contornos alarmantes no Posto Administrativo de Patrice Lumumba que se associa ao oportunismo dos protagonistas. Este Posto lidera na prática de obrigação do noivo a lobolar o cadáver com 45,4% de casos em relação ao total dos que foram submetidos a esta prática ao nível da Cidade de Xai-Xai. O lobolo de cadáver também pode ser associado à atitude exacerbada da juventude actual em banalizar o lobolo enquanto em vida as suas esposas (Apêndice 8, Q7, E4). Esta banalização pode se vislumbrar também na afeição de Tembe (2005) pois há mais uniões sem lobolo na faixa etária de 18 aos 30 anos e, este comportamento vai diminuindo com o aumento da idade (Anexo 1). A afirmação dos que olham o fenómeno como uma prática da actualidade é confirmada pelo inquérito lançado à amostra referenciada, pois evidencia uma multiplicação massiva do lobolo do cadáver, analisado desde o primeiro semestre de 2009 até o primeiro semestre de 2011. Com esta crescente intenção, Serra (2008), encontra o seu enquadramento na dinâmica da própria conjuntura económica, que exige uma adaptação quantitativa diária. Há cada vez mais famílias a aderirem a esta prática, agora do que antes.

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É preciso, também, olharmos que a função política do lobolo no seio da família que já se perdeu acaba influenciando a fraca aderência, dado que o lobolo ficou apenas com o valor simbólico social, perdendo o seu peso de exercício da autoridade do homem na família. O gráfico abaixo ilustra a evolução do lobolo do cadáver em cinco semestres numerados de 1 a 5 respeitante ao primeiro semestre de 2009 até ao primeiro semestre de 2011, respectivamente.

Fonte: Elaborado na base dos dados do Inquérito, 2011.

Assim, pode-se entender que esta atitude depende de uma família para outra, havendo famílias que inequivocamente submetem o genro a este ritual e outras que ficam indiferentes. A generalização deste fenómeno requer um estudo paralelo com este, que procura interpretar as origens linhageiras de cada família, com vista a encontrar fundamentos para esta prática (Apêndice 8, Q4, E8). Nota-se, portanto, que o lobolo do cadáver surge, quando uma mulher que viveu maritalmente com o seu marido, sem realizar o lobolo, morre. Nem todas as famílias nesta sociedade Changana exigem o lobolo do cadáver, porém há uma minoria delas que colocam este ritual como condição para o funeral do corpo. Isto ocorre porque os pais legítimos, no respeito pelas normas tradicionais do patriarcado, não tem o direito de decidir em situações do género, sobre os destinos dos filhos, deixando para os tios e, por sua vez, estes não agem em concordância com a liderança comunitária. Com esta tendência crescente, pode se afirmar que num futuro muito próximo todo o homem que perder a sua esposa antes do lobolo, inevitavelmente, poderá passar do lobolo do cadáver, como condição para o funeral da sua companheira marital.

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CAPÍTULO III PERCEPÇÃO SOCIAL DO LOBOLO DO CADÁVER NA CIDADE DE XAI-XAI Na introdução deste trabalho referiu-se que o lobolo é abrangente para pessoas de todos os níveis e status sociais, seja para as zonas rurais e urbanas. É daí que neste capítulo irá-se buscar a percepção da sociedade em diferentes perspectivas, como a religiosa, a jurídica, administrativa e social sobre a legitimidade desta prática, na Cidade de Xai-Xai.

3.1 O Lobolo do cadáver Como Oportunismo, Educação ou Castigo. O lobolo de pessoas mortas, outrora era aceite quando tratar-se de uma reivindicação espiritual do apelido dos filhos. Nesta vertente, o lobolo significava para comunicação aos espíritos que os filhos em causa apesar de nascerem do ventre da mulher passam a pertencer a família do marido com quem os gerou e, consequentemente, o seu apelido (JUNOD, 1996, passim). Os procedimentos para este fenómeno não significam, necessariamente, a interdição do funeral, para além de não se dar um prazo para a sua efectivação e, ainda, pode ser feito pelos próprios filhos. No entanto, a obrigação do lobolo do cadáver é encarada por uma minoria do grupo alvo inquirido, que corresponde a 12,2%, como uma forma de reeducação coerciva, para os jovens que não acataram as normas da sociedade de forma espontânea (Apêndice 2, Q8 e Apêndice 16, Q2, I3). Contrariamente, com a reeducação, a prática está intimamente ligada ao oportunismo em momento impróprio, imoralidade, insensibilidade, irracionalidade, apropriação de hábitos sem fundamentos (SERRA, 2008). “Penso que os pais e toda a família têm o papel de educar os seus filhos a respeitar as normas e regras sociais. Se a família da rapariga exige o lobolo é preciso respeitar isso, porque não é saudável esperar que ela morra para resolver o problema do lobolo que não foi feito quando ela esteve viva. Esta prática relaciono com oportunismo da parte da família da noiva” (Apêndice 16, Q2, I2).

O inquérito que incidiu nas 41 famílias escolhidas aleatoriamente, dentro de muitas que perderam as suas noras antes de efectuar o lobolo, mostra que 26 famílias, correspondentes 63,4% encaram o lobolo do cadáver como um oportunismo e 10 famílias que representam 24,4% olham como um castigo para o noivo e para o próprio cadáver (Apêndice 2, Q8). A percepção oportunista do lobolo do cadáver também é evidenciada pelo comportamento dos obrigados, pois das 22 (vinte e duas) só menos que metade, ou seja, 9 (nove) satisfizeram a imposição, como ilustra o gráfico 2.

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Gráfico 2. Resultados do Inquérito Sobre Imposição do Lobolo do Cadáver

Fonte: Elaborado na base dos dados do Inquérito, 2011.

Face ao significado do lobolo do cadáver, 63,4% dos inquiridos, correspondentes a 26 famílias, afirmaram que este acto é um autêntico oportunismo das famílias protagonistas (Apêndice 2, Q8). No seu argumento, os inquiridos são unânimes em aferir que o acto não constitui meio de educação para o lobolo normal, porque o aumento dos casos de submissão de lobolo do cadáver devia desestimular a banalização do lobolo, mas pelo contrário, à medida que aumenta a obrigação do lobolo do cadáver assiste-se uma aceleração desenfreada dos casos de união marital sem lobolo (Apêndice 2 e Apêndice 12, Q4, E10). Assim, pode se afirmar que os argumentos tendentes à classificação do lobolo do cadáver como oportunismo dominam a amostra, o que conduz a uma inferência da necessidade de revisão desta prática.

3.2 Posicionamento dos Religiosos sobre o Lobolo do cadáver A religião, de um modo geral, admite a possibilidade de uma continuidade da vida pela alma após a morte do corpo físico, o que a priori remete-nos à necessidade do tratamento saudável deste cadáver. A Bíblia Sagrada, no evangelho de Lucas 9:60 ostenta, “deixa os mortos enterrar os seus mortos”(AAVV., 2000). Os que exigem o lobolo do cadáver tem um excesso de paganismo e ainda não renunciaram a vida mundana e, essas pessoas são espiritualmente mortas, portanto, podem tratar esses assuntos (Apêndice 14, Q5, E18). Esta posição, ainda atenção bíblica, é fundamentada por Eclesiastes que compara a necessidade do funeral digno com um aborto nos seguintes moldes:

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“Se um homem gerar cem filhos, e viver muitos anos e os dias dos seus anos forem muitos e a sua alma se não

furtar

do bem e além disso não tiver um enterro, digo que um aborto é melhor do que ele” (AAVV., 2000).

Os mentores desta prática não fazem ao acaso, mas sim vem ambicionando a usurpação dos bens do seu noivo e naquele momento encontram um espaço em que o seu noivo não tem outra preocupação, se não de se concentrar nos últimos momentos de despedida da sua amada e realizar um funeral, unido com as duas famílias criadas por alianças (Apêndice 14, Q3, E6). O lobolo pode se fazer, mas não, precisamente, no momento de grande consternação e dor, porque é preciso notar que este já não é para o corpo moribundo que se espera o seu enterro, mas sim para a conexão dos seus filhos, com os antepassados espirituais da família do marido (Apêndice 14, Q3, E5). Com esta posição, fica claro que a prática de se submeter os corpos moribundos à cerimónia do lobolo fere directamente o conteúdo da Bíblia Sagrada, que é o guião mor da religião cristã, na medida em que aquele dossier orienta o funeral dos seus ente queridos e, de forma metafórica compara, com maior equilíbrio, entre a falta deste ritual com um aborto. Com esta metáfora, pretende-se aferir que vale apenas não ter nascido do que carecer ou ser dificultado o funeral.

3.3 Enquadramento Legal e Institucional do Lobolo do Cadáver 3.3.1 Enquadramento Legal A constituição da República de Moçambique, no seu número 4, do artigo 110, reconhece o casamento tradicional ou, simplesmente, o lobolo e protege os indivíduos que o contraíram, porém, o mesmo artigo, no número 3, consagra que dentro das relações sociais assentes no respeito pela dignidade da pessoa humana, o casamento se baseia no livre consentimento (CRM, 2004). Segundo a Lei da Família (2004) no seu artigo 21, a convivência conjunta de um casal sem se realizar o casamento tradicional se resume na promessa do casamento e, no caso de não efectivação desta promessa pela morte de um dos promitentes, o promitente sobrevivo pode conservar os donativos do falecido, mas nesse caso, perde o direito de exigir os que por sua parte lhe tenha feito. Com esta posição, o espírito da lei se funde no direito de herança dos bens do falecido, mas, também, deixa bem claro que não é legal a exigência ao falecido das promessas que não se efectivou ou ainda dos feitos que o sobrevivente tenha feito a favor do falecido. Nas promessas inclui-se o lobolo, que durante a convivência conjunta constituía um sonho para ambos.

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Nos requisitos para o lobolo, plasmados no artigo 51 da Lei 10/2004 de 25 de Agosto, constata-se que é indispensável para a realização do casamento tradicional a presença: - Dos contraentes; - Da Autoridade Comunitária; - De duas Testemunhas. Ainda, é juridicamente inexistente o casamento em cuja celebração tenha faltado a declaração da vontade de um ou de ambos os nubentes ou do procurador de um deles (Ibid.) Neste contexto, a lei não considera válido o lobolo do cadáver, como casamento reconhecido, pois, nele não se presenciam ambos nubentes, isto é, não há noiva, consequentemente não há declaração do consentimento deste cadáver.

3.3.2 Enquadramento Institucional Segundo o jornal Notícias (2008:15), um jovem abandonou o corpo da sua esposa, na Casa Mortuária do Hospital Provincial de Gaza e, fugiu para um lugar desconhecido porque este não tinha legalizado a cerimónia do lobolo e, na família da falecida é frequente a submissão do genro ao lobolo do cadáver, como condição para o funeral. Como o Governo Municipal tem, como uma das competências, garantir a saúde pública, em situações do género, tem que criar condições para se proceder ao funeral, através de mecanismos previamente criados. A morgue é um lugar transitório num período normal de cinco a sete dias mas, é frequente reservar-se corpos até dezoito dias para se tratar de assuntos tradicionais como o lobolo, complicando, deste modo, os serviços desta Instituição Pública. Como a Morgue tem uma capacidade de conservar dezoito corpos, quando situações de género complicarem o funcionamento normal, os Serviços Sociais encarregaram-se em custear as despesas do funeral depois de fracassar as tentativas de localização dos familiares do corpo, ou quando se confirmar que a família é tanto carente, quanto às despesas do funeral (Apêndice 6, Q6, E17).

Este fenómeno da demora do corpo na morgue, que para além de dificultar o exercício normal da instituição, devido ao congestionamento, se fundamenta na procura pressionada do dinheiro requerido no curto intervalo de tempo, que durante a vida da mulher, o marido não conseguiu. Apesar do esforço desencadeado no sentido de prover aos utentes um serviço de qualidade, a demora exagerada no levantamento dos corpos constitui um atentado à saúde dos funcionários da

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Instituição e dos beneficiários deste e doutros corpos aí depositados e, o risco se arrasta até aos participantes no funeral deste, generalizando-se a proliferação da saúde pública.

3.4 Impacto Social e Cultural do Lobolo do Cadáver Para Junod (1996), desde os tempos mais longínquos os mortos são respeitados pelos seus entes e pelos demais próximos a ele. Neste contexto, o respeito é aquele de cunho reverencial, religioso, abarcando os dogmas que foram se edificando através dos tempos e das mais diversas culturas. Assim, ainda actualmente, remanesce a preocupação de oferecer aos mortos algo que, nestas condições, possa honrá-los. Todavia, embora essa veneração aos mortos seja revestida de respeito e religiosidade, não são esses os motivos que determinam a tutela moral em relação ao respeito pelos mortos que está-se tratando, mas sim, os valores sociais e éticos que envolvem a questão, não importando, portanto, se o morto ou seus familiares eram religiosos ou se esses estariam interessados em respeitar o defunto e todo o ritual de que normalmente é procedido a morte. É interessante relatar que grande parte dos doutrinários entende que os artigos integrantes do respeito aos mortos foram idealizados, somente, para assegurar o sentimento de respeito que os vivos guardam pelos mortos, já que, segundo eles, os defuntos não são sujeitos de direito, posto que não mais subsistem. Contrariamente, os moralistas encaram o tratamento degradativo dos cadáveres como um autêntico atentado contra a humanidade, passível de penas naturais que vão desde a reputação negativa à exclusão social sem recorrer a nenhuma estância judicial. Sob tais aspectos, os tipos de atentados que ferem o respeito aos mortos propõem-se a proteger, principalmente, os sentimentos dos familiares e amigos do morto, desde a cerimónia funerária, passando pela violação de sepultura, destruição, subtracção ou ocultação de cadáver, até o vilipêndio a cadáver. Destes actos, vai-se deter no impedimento ou perturbação da cerimónia funerária colocando o lobolo como condição. O escopo desta visão tem a intenção de oferecer tranquilidade aos que acompanham o morto, com o intento de evitar qualquer forma de obstar, interromper, atrapalhar ou desassossegar o andamento do cerimonial, objectivando resguardar o sentimento de respeito pelos mortos.

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É necessário que se faça conceituar o que vem a ser a cerimónia funerária, distinguindo-a do enterro que, na óptica do Junod (1996), cerimónia funerária é a solenidade religiosa que se realiza em homenagem póstuma ao morto, enquanto o enterro é a condução do corpo do defunto ao local em que será definitivamente sepultado ou cremado. Frequentemente, o funeral de um cadáver precedido pelo Lobolo não observa as cerimónias fúnebres na sua dignidade, conforme ilustra a figura. Consta que depois da morte da mulher, há uma necessidade imperiosa de se guardar o corpo na morgue, para se proceder a colecta das dádivas do lobolo e, de seguida, a família do noivo dividese, enquanto uns vão em busca do corpo para o funeral, outros vão efectuar o lobolo, do mesmo e daí vão se encontrar no cemitério, facto que carecia das cerimónias fúnebres (Apêndice 14, Q6, E6). Figura 5: Percurso do Cadáver Morgue do HPXX Morte da Mulher não lobolada

Lobolo em Casa do cadáver que se encontra na

Cemitério

Morgue Fonte: Elaborado na base das Entrevistas, 2012.

A atitude afecta fortemente a moral, se o agente agir com dolo para, de alguma forma, impedir ou perturbar a cerimónia, o cortejo fúnebre ou o sepultamento e cremação com a finalidade de ofender o sentimento de respeito aos mortos, atendendo que em nossa tradição a morte é algo sagrado.

30

CONCLUSÃO Após a análise da evolução e legitimação social do lobolo do cadáver na Cidade de Xai-Xai, conclui-se o seguinte: O lobolo, na Cidade de Xai-Xai, seguiu uma linha evolutiva, desde a troca de géneros alimentícios até à sua monetarização, que surge com o emprego dos moçambicanos nas minas da República da África do Sul. É no contexto da capitalização que surge o lobolo do cadáver, na medida em que guarda-se uma expectativa monetária nas filhas e, com a sua morte, surge um desespero total dos pais até ao ponto de exigirem o lobolo antes do seu funeral. O lobolo do cadáver acontece quando uma determinada mulher vive, maritalmente com o seu marido antes de se realizar o lobolo e, perde a vida. O facto de convivência marital fora do lobolo associa-se às exigências do lobolo acima das capacidades imediatas dos interessados e ao desuso dos valores sociais do lobolo pela sua capitalização e a emancipação da mulher que já não permite com que, através do lobolo, o homem exerça, inquestionavelmente, o poder no seio da família e da sociedade. O facto que agudiza a prática deste fenómeno é a falta de diálogo entre as famílias unidas por este laço, havendo algumas que só procuram conhecer a casa da sua nora quando esta perde a vida, portanto, só para comunicar a notícia da morte. Esta prática não se generaliza em todas as famílias, havendo umas que exigem e outras que não se importam com o fenómeno, encaram a morte como algo natural. O lobolo do cadáver tem algum lado positivo, pois com o medo de passar em situações idênticas, a sociedade tem em mente a necessidade do lobolo, porém, esta vantagem é consumida pelos fundamentos negativos que o lobolo do cadáver transporta ao ferir a constituição, a lei da família, a religião, bem como a própria tradição que, alguns praticantes do fenómeno defendem o conservadorismo e o guardião do lobolo na base dele, porque, tradicionalmente, a morte é algo sagrado e, não permite a exposição e objecto de discussão do cadáver. O lobolo do cadáver está, mais inclinado ao oportunismo das famílias praticantes, do que à educação para o lobolo normal, facto que concorre à não legitimação pela sociedade. Esta posição se justifica, por um lado pela proporcionalidade directa entre o lobolo do cadáver e as uniões maritais sem lobolo, o que devia ser o inverso e, por outro lado, pela pouca assunção da responsabilidade dos praticantes deste fenómeno. Os protagonistas, num momento se responsabilizam pelo acto, como forma de resgatar a prática do lobolo, mas noutro, arrependem-se, culpando a orientação do patriarcado.

31

Assim, fica claramente comprovada pelo estudo a hipótese do lobolo do cadáver ser um oportunismo das famílias praticantes, por esta se identificar com a maioria da amostra. A segunda que vê o lobolo de cadáver como sançionamento não teve um peso significativo na explicação deste fenómeno.

32

SUGESTÕES Com o presente trabalho, como se referiu nos capítulos anteriores, não se pretende abolir, nem criticar a prática do lobolo, mas sim o fenómeno específico, dentro do lobolo, que é o do cadáver. Para tal, avança-se com três grandes sugestões que submetem a sociedade actual num desafio para reduzir as constatações e, dividem-se em dois planos, sendo curto e médio prazos.

Curto Prazo Para os pais, tanto do noivo, como da noiva, deveriam colaborar com os filhos de forma a considerar o lobolo como um mecanismo de união familiar, e não uma compensação financeira. Há necessidade de diálogo permanente entre as famílias cujos filhos se juntaram sem lobolo para que os sensibilizem a cumprir com esta norma costumeira.

As famílias das noivas deveriam envolver as suas filhas na definição dos bens necessários para o acto do lobolo que estejam em consonância com o nível de vida que ela leva com o marido, de forma a evitar as desistências para a prática. Todos os jovens deviam valorizar o lobolo, como forma de preservação da identidade cultural do grupo etno-linguístico changana, para não sofrerem represálias que actualmente estão sendo estabelecidas pelos guardiãs da cultura. O poder local que vive esses casos no concreto, através das esquadras, da comunidade, dos Hospitais, entre outros actores, devia criar um mecanismo, junto com a própria comunidade, através de palestras, para desincentivar o lobolo do cadáver. Admitindo que se faça o lobolo de pessoas mortas, este não pode decorrer com o corpo à espera do funeral, muito menos imposto como senha para o funeral, pois nestes moldes o lobolo é basicamente a compra da condição funerária.

Médio e Longo Prazos No Currículo Local, deveria ser introduzido um capítulo denominado “Respeito das Tradições Sociais” que de entre vários pode englobar temas como: - O significado e importância do Lobolo;

33

- Os riscos do desrespeito à ordem marital tradicional; Esta recomendação irá, certamente, incutir aos adolescentes e jovens de ambos sexos, tidos como os mais vulneráveis ao lobolo do cadáver, à necessidade de respeitar os modos vivendus tradicionais e a interpretação do lobolo de forma mais detalhada e metódica ao ponto de olhar esta instituição tradicional como uma norma costumeira importante, pois garante a ligação dos ancestrais das famílias. Feito isto, estaria preparado, logo nos mais novos, um ambiente para incontornar o lobolo e, consequentemente, limita o campo da acção do lobolo do cadáver, porque este só tem espaço quando o lobolo normal não ocorrer até à morte da noiva. Deveria ser criada uma equipe multi-sectorial, composta pelo menos, pelo Hospital Provincial, Comando Provincial da PRM de Gaza e pelas Autoridades Tradicionais para elaborar um “Manual de Educação dos Pais e Responsáveis pelas Famílias sobre o Lobolo” que contenha a experiência que estas instituições usam para dirimir este fenómeno quando chega àquele nível que, geralmente, tem terminado. Para além desta experiência, o manual deveria conter temas como:  Educação sobre o Lobolo;    Aconselhamento dos filhos sobre a necessidade de lobolar;    Posição a tomar perante os filhos que se juntam antes do lobolo;    Medidas a tomar para os casais que não observam o lobolo – mas antes de morrer a noiva. 

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Fontes Primárias AAVV. Enciclopédia Universal. [online] Disponível na www.enciclopédiauniversal.com/tradição acessado a 26 de Novembro de 2011.

Internet

via

AAVV. Bíblia Sagrada. 2ª Edição, São Paulo, Geográfica, 2000. JORNAL NOTÍCIAS, Maputo, 2008. Jornal Diário de 21 de Novembro, pág.14 República de Moçambique. Constituição da República de Moçambique. Imprensa Nacional de Moçambique, Maputo, 2004. República de Moçambique. Boletim da República: Lei 10/2004 que aprova a Lei da Família e Revoga o Livro IV do Código Civil em Moçambique In: Boletim da República, Nº 34/2004 de 25 de Agosto de 2004. SERRA, Carlos. “Diário de um Sociólogo”. O País: a Verdade como Notícia. Jornal Diário de 24 de Outubro, Maputo, Imprensa Nacional, 2008. P7

Fontes Secundárias Anthony, GIDDENS; Ulrich, BECK, e Scott, LASH,. Modernidade reflexiva: trabalho e estética na ordem social moderna. São Paulo: Unesp, 1997. BEUREN, Ilse Maria. Como Elaborar Trabalhos Monográficos em Contabilidade. 2ª Edição, São Paulo, Editora Atlas, 2004. CIPIRE, Felizardo. A Educação Tradicional em Moçambique. 2 ª ed., Maputo, Publicações Emedil, 1996. CONCELHO MUNICIPAL DE XAI-XAI. Plano Estratégico do Município da Cidade de Xai-Xai, 2009-2019. Xai-Xai, 2009. GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5ª Ed., São Paulo, Atlas, 1999. GRANJO, Paulo. O Lobolo Em Maputo: Um Velho Idioma para Novas Vivências Cojungais. 1ª Ed., Porto, Campo das Letras Editores S.A., 2005. HOBBES, Thomas. O Leviathan. Magdalen College, Oxford, 1ª Ed., 1651. (Tradução Portuguesa).

35 44

HONWANA, A. S. Espíritos vivos, Tradições Modernas: Possessão de Espíritos e Reintegração Social Pós-Guerra no Sul de Moçambique. Maputo, Promédia, 2002. JUNOD, H. A. Usos e Costumes dos Bantus, Maputo. Imprensa Nacional de Moçambique, Vol.1, 1974. JUNOD, H. A. Usos e Costumes dos Bantu. Maputo, Arquivo histórico de Moçambique, vol. 2, 1996. LIMA, A. M. et al. Introdução à Antropologia Cultural. Lisboa, Presença, 1991. MALINOWSKI, B. Uma teoria científica da cultura. Rio de Janeiro, Zahar, 1975. MARTINEZ, Francisco Lerma. Antropologia Cultural. 6ª Ed., Paulinas Editora, Maputo, 2009. MELLO, Luíz Gonzaga De. Antopologia Cultural: Iniciação, Teoria e Temas. 15ª Ed., Petrópolis, Vozes, 2008 TEMBE, Maria Atália. A Legitimidade do Lobolo nos Últimos 30 anos em Moçambique: O Caso da cidade de Xai-Xai. Tese de licenciatura em Antropologia. Faculdade de Ciências Sociais, Maputo, Universidade Eduardo Mondlhane, 1993. 63p.

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APÊNDICES E ANEXOS Apêndice 1 Inquérito O presente inquérito visa a colecta de dados para a elaboração de Monografia Científica para a obtenção do grau académico de Licenciatura em História Política e Gestão Pública na Universidade Pedagógica. É dirigida à famílias que viveram com suas noras e que elas morreram antes do lobolo. Os dados recolhidos serão exclusivamente usados para fins académicos, portanto, não será revelada a identidade dos inquiridos.

1. Onde é que reside? a)Posto da Sede

b)Patrice Lumumba

c)Inhamissa

d) Praia de Xai-Xai

2. Quanto tempo a família viveu com a falecida sem ter efectuado o lobolo? a) ≤ 2 anos

b) 3 anos

c) 4 anos

d) ≥5 anos

3. O que levou a família a não efectuar o lobolo?

a) Pedimos a relação dos requisitos mas não tivemos resultados estavam acima do nosso alcance outros factores

c) Ainda estávamos a preparar

b) As exigências do lobolo os bens exigidos

______________________________

4. Qual foi a via usada para comunicar a família da nora sobre a perca da vida da filha? a)Por via de anciãos c) Por via de telefone

b)Envio de carta de comunicado com um membro da família d) Por outras vias

____________________________

5. Qual foi a atitude da família da noiva perante a informação da perda de vida da sua filha?

a) Com naturalidade e desespero

b) Atribuição de culpa à família do noivo

c)

Ignorância à informação por falta de reconhecimento do laço familiar com os emissores da informação d) Outras ________________

37

6. O que é que a família da noiva fez para que se pudesse realizar o funeral? a) Autorizou o funeral

b) Uniu-se com a família do noivo para realizar o funeral

c) Obrigou que houvesse o lobolo do cadáver antes do funeral

d) Exigiu que a sua filha fosse

enterrada na sua família

7. Para o caso da obrigação do Lobolo de Cadáver antes do funeral, como é que resolveu o problema? a) Satisfação das exigências por via de empréstimo poupanças

b) Satisfação das exigências por via de

c) Solicitação da intervenção das autoridades

d) Realização do

funeral face à fuga do noivo

8. Qual é o significado que atribui ao lobolo do cadáver? a) Oportunismo

b) Castigo por inobservância dos hábitos culturais

c) Educação para o cumprimento das normas culturais d) Outros significados

_________________________________

9. Acha que o Lobolo do cadáver deveria ser considerado legítimo pelas autoridades? a) Sim

b) Não

c) Não tenho ideia

d) Depende do contexto

38

Apêndice 2 Mapa de Resultados do Inquérito Questões

Respostas Nº

1.Inquiridos

Sede

8 2.Tempo que

%

19.5%



%



%

Patrice

Praia de Xai-

Lumumba

Xai

15

5

≤ 2 anos

3 anos

13

19

36.6%

12.2%



%

Inhamissa

13

31.7%

≥ 5 anos

4 anos

viveu com a falecida

31.7%

46.3%

7

17.1%

2

4.9%

A espera da resposta do 3.Razões para

pedido de

não lobolar

requisitos

3

7.3%

4.Via para comunicar a

Requisitos

Ainda em

acima das

preparação

Outros

capacidades 10

24.4%

25

61%

3

7.3%

Por um Por Anciãos

membro da

Por telefone

Outras vias

2

1

família

família da falecida 32

78%

6

14.6%

4.9%

5.Atitude da

Com

Atribuiu culpa

Ignoraram por

família da

naturalidade

á família do

ilegitimar os

noivo

transmissores

noiva perante

2.4%

Outros

a informação 10

6.A família da

24.4%

23

56.1%

17.1%

1

2.4%

Autorizou o

Colaborou no

Obrigou o

Reivindicou o

funeral

funeral

lobolo do

corpo da falecida

noiva

cadáver 12

7. Forma de

7

Por

29.3%

4

9.8%

Por poupanças

22

53.7%

Intervenção das

3

7.3%

Fuga do noivo

39

resolver o

empréstimos

autoridades

problema do Lobolo do

5

22.7% 4

18.5% 10

45.5%

3

13.6%

cadáver 8.Signifificado

Oportunismo

Castigo

Educação

Outros

do Lobolo do Cadáver

26

63.4% 10

9.Legitimidade É legítimo

24.4% 5

Não é legítimo

12.2%

Sem ideia

0

0%

Depende do caso

do Lobolo do Cadáver

5

12.2% 36

87.2% 0

Fonte: Elaborado na base dos dados do inquérito, 2012

0%

0

0%

40

ANEXOS Anexo1 Índice de Uniões Maritais sem Lobolo dos 18 a 50 Anos Idade (em

Total da

anos)

Amostra

Lobolados

Não Lobolados

Percentagem de Não lobolo

18-20

20

5

15

75%

21-25

20

8

12

60%

26-30

20

11

9

45%

31-35

20

16

4

20%

36-45

20

17

3

15%

46-50

20

18

2

10%

Mais de 50

20

20

0

0%

Total

140

95

45

32%

Fonte: Tembe, 2005 p35.

41

ANEXO 2 Mapa de Localização da Cidade de Xai-Xai

Distrito de Xai-Xai

Mapa de Moçambique

Fonte: Plano Estratégico do Município de Xai-Xai, 2009.

Município de Xai-Xai

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