O lugar do framing nas sociedades complexas

May 31, 2017 | Autor: Joao Carlos Correia | Categoria: Critical Theory, Media Studies, Social Media, Democracy and Citizenship Education
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O lugar do framing, nas sociedades complexas Com o declínio da objetividade como conceito central das teorias que abordam o jornalismo e a comunicação politica, a reacção protagonizada pela academia traduziu-se em larga medida na ideia de construção social da realidade. De acordo com a perspectiva construtivista da teoria dos efeitos as audiências fundamentam a sua percepção da realidade a partir da experiência pessoal, da interacção com pares e interpretação de selecções efectuadas pelos media (cf. Neuman et al., 1992, p. 120). Nas últimas décadas

a análise da percepção mediatizada centrou-se

consideravelmente nas análises de enquadramento (framing). Este tipo de estudos evoluiu como um paradigma em estado embrionário para uma sistematização mais profunda traduzindo-se na verdadeira constituição de um paradigma com um corpo representativo de autores. Finalmente, evoluiu, para um autoquestionamento de natureza reflexiva que enfrenta novos desafios e modos novos de agir e pensar, induzido pelas transformações culturas e tecnológicas. O enquadramento (framing) tornou-se uma das áreas mais populares de estudo para académicos de comunicação, psicologia, economia comportamental, ciência política e sociologia. Fazendo uma amostragem de jornais académicos como Political Comumunication e Journal of Communication constata-se facilmente a proeminência crescente do conceito: esses dois jornais de referência neste campo académico publicaram um total de 15 papers sobre framing na década de 90 comparativamente a 38 entre 2000 e 2009. De acordo com uma pesquisa lançada pelo portal bibliográfico Dialnet, em Espanha nos anos decorridos entre Janeiro de 2008 e Abril de 2015, o número de artigos publicados nas revistas abrangidas (38) é quase o triplo dos artigos sobre o mesmo tema publicados em toda a década anterior entre 1997-2007 (14). Outra análise incidiu na média e conclui que a média de artigos por ano sobre framing para o período para o período 2008-2015, foi de 4.56 por ano, contrastando com apenas 1.40 por ano na década anterior. Apesar da consolidação do conceito no seio da comunicação, constatou-se a persistência de ambiguidades que conduziram à identificação indevida com outros tipos de modelos de efeitos. (Scheufele and Tewksbury 2007).

Introdução Com o declínio da objetividade como conceito central das teorias que abordam o jornalismo e a comunicação politica, a reacção protagonizada pela academia traduziu-se em larga medida na ideia de construção social da realidade. De acordo com a perspectiva construtivista da teoria dos efeitos, influenciada por leituras do interaccionismo e da fenomenologia, as audiências fundamentam a sua percepção da realidade a partir da experiência pessoal, da interacção com pares e interpretação de selecções efectuadas pelos media (cf. Neuman et al., 1992, p. 120). O efeito de framing não se refere tanto a diferenças sobre aquilo que é comunicado, mas antes em variações acerca do modo como a informação é apresentada ou enquadrada e percepcionada no discurso público. Nas últimas décadas, o enquadramento (framing) evoluiu como um paradigma em estado embrionário para uma sistematização mais profunda traduzindo-se na verdadeira constituição de um paradigma com um corpo representativo de autores. Finalmente, evoluiu, para um autoquestionamento de natureza reflexiva que enfrenta novos desafios e modos novos de agir e pensar, induzido pelas transformações culturas e tecnológicas. Primeiro, verificou-se um conjunto de trabalhos primordiais de Bateson e de Goffman (1974), o segundo dos quais reflete, por sua vez, intuições vislumbradas nos conceitos de William James e de Alfred Schutz (1967; 1975; 1976) divulgados por Peter Berger e Luckman (1973). Deve-se ao antropólogo e epistemólogo da comunicação anglo-americano Gregory Bateson a introdução da noção de «frame» nas ciências sociais e humanas. Num dos seus mais célebres papers, «A Theory of Play and Fantasy» (1954; 1972), Bateson analisa os

«paradoxos de abstracção da comunicação verbal» (1972: 177), a nível metalinguístico e metacomunicativo, utilizando o termo «frame» como conceito psicológico que relaciona com a noção de «contexto». Para este autor, enquadrar significa delimitar um conjunto de mensagens (ou acções significativas) que adquirem sentido na situação partilhada pelos interlocutores. É o enquadramento que nos permite, por exemplo, distinguir simulação de realidade; distinguir o jogo do seu referente real. A noção de «frame» apresenta-se, assim, como conceito central da possibilidade de abstracção da comunicação, operando ao nível da metacomunicação: é o enquadramento da situação que organiza a estrutura de sentidos das mensagens e acções. «Qualquer mensagem que explícita ou implicitamente defina um enquadramento – explica Bateson – ipso facto dá ao destinatário instruções ou ajudas na sua tentativa de perceber as mensagens inseridas no enquadramento. O inverso também é verdade. Toda a mensagem metacomunicativa ou metalinguística define, explícita ou implicitamente, o conjunto de mensagens sobre as quais comunica, i.e., toda a mensagem metacomunicativa é ou define um enquadramento psicológico» (1972: 188). James e Schutz (1967: 1976) falam da fragmentação da realidade social em províncias de significado finito que implicam relações diversas com a realidade, atenção específica à vida social (que pode ser mais ou menos intensa), e diferentes significações: por exemplo, os domínios de significado e dos sonhos. Baseando-se sobre a discussão de William James acerca do sentido da realidade, Schutz sustenta que há várias províncias de significado finitas no mundo da vida. Para ampliar essa transição dicotómica entre um espaço da razão transcendental, caracterizado pela dúvida radical, e a atitude natural, reino da certeza acrítica, Schutz propõe que os agentes percebem o mundo, não como uma ou duas, mas como uma multiplicidade de realidades A verdade é que não parece estulto supor que esta ideia se encontrava já em Husserl: “O homem na multiplicidade dos seus interesses práticos vive num mundo circundante prático, que supõe uma unidade, como no seu horizonte prático universal. Nele estão incluídos todos os horizontes especiais que surgem em relação às correspondentes actividades típicas. O homem encontra-se centrado na unidade vigilante do seu horizonte profissional, mas pode também transferir-se de um horizonte para outro” (Husserl apud Morujão, 1961: 28).

Também não é incorrecto dizer-se que a ideia posteriormente amplificada de forma muito decidida e mais precisa se encontrava em embrião em Bergson designadamente quando se refere a existência de pelo menos dois planos: o da duração e o do conceito, imaginando-se uma pluralidade de situações diversas marcadas pelo estilo cognitivo (cf. Schutz, 1982). Schutz proporá passar a denominar os sub-universos de William James como províncias de significado finito (finite provinces of meaning) porque o que constitui a realidade é o significado da nossa experiência e não a estrutura ontológica dos objectos (cf. Schutz, 1975 a: 230). A cada uma destas províncias ou âmbitos de significado finito, correspondem determinados modos de relação entre a consciência e o mundo, linguisticamente mediada. A passagem entre estes diversos âmbitos de significado finito opera-se através de um choque graças ao qual transcendemos os limites daquilo que considerávamos real. É o que acontece com a experiência religiosa, com a experiência estética, com um ruído que interrompe certas cogitações internas e nos desperta para a quotidianidade (cf. Schutz, 1975 a: 231). Numa leitura fenomenológica, quando um alguém assiste a um filme, participa de um culto religioso, faz de mãe num jogo em que a boneca é a filha, pinta ou frui de um quadro, ou dança euforicamente numa festa, a sua consciência vive realidades específicas com uma estrutura interna também específica. Durante o desempenho de uma peça ou a projecção de um filme, Hamlet é Hamlet e Scarlett O’hara é Scarlett O´Hara e não o actor ou a actriz que desempenham o papel de Hamlet ou de Scarlett O’Hara (cf. Schutz e Luckmann, 1973: 22). Quixote é efectivamente um cavaleiro e Sancho o seu escudeiro. Terminado o filme, a peça, o jogo de «faz de conta», a experiência estética ao nível da fruição ou da produção, a festa ou o culto o mesmo agente assumirá as condutas típicas da vida quotidiana (assim como era capaz de lançar mão das condutas típicas, para cada uma daquelas realidades por ele percebidas). A distinção dos mundos do sono e da vigília é talvez a mais forte ilustração das transições de uma consciência entre mundos específicos. “todas as experiências que pertencem a uma província de significado finito apontam para um estilo particular de experiência vivida- um estilo cognitivo. No que diz respeito a este estilo 1, tais experiências estão todas em harmonia mútua e estão compatíveis umas com outras. (…) Harmonia e compatibilidade quanto a este estilo, estão

consequentemente restringidas a uma província de significado finito. Em caso algum o que é compatível dentro da província finita de significado P é também compatível com a província de significado Q. Pelo contrário, visto desde aquilo que P estabeleceu como real, Q, aparece, conjuntamente com as experiências particulares que pertencem a Q, como puramente fictícias, inconsistentes e invertidas. É por essa razão que estamos justificados em falar de províncias finitas de significado. Não há possibilidade de reduzir uma província de significado finito noutra com o auxílio de uma fórmula conversacional.” (Schutz &Luckmann, 1973: 23-24). Apesar de o estudo sistemático dos frames jamais surgir na obra de Schutz, há uma relação entre os conceitos de frame e o de realidades múltiplas. A noção cognitiva de frame (quadro) surge geralmente como um conjunto de pressuposições e critérios avaliativos, dentro dos quais a avaliação pessoal de um determinado assunto se processa. Quando Schutz refere a um esquema de interpretação prevalecente que permite diferenciar a província de significado finito do mundo imaginado da cavalaria experimentada por D. Quixote da província do senso comum vivida por Sancho, esse esquema predominante delimita o que pertence ao interior e ao exterior de cada uma dessas províncias: isto é o que pode ser considerado fácil ou verdadeiro dentro delas também depende do esquema organizador de cada uma das províncias e dos princípios que permitem a definição de uma determinada experiência social. Os documentos e testemunhos recolhidos por Quixote só comprovam a continuada existência do universo de cavalaria eram que ele se encontra imerso. Porém, isso só acontece porque são abordados dentro deu determinado esquema. A relação que Quixote tem com a realidade permite-lhe ver que os moinhos de vento são gigantes mágicos e quando sancho Pança lhe chama a atenção para a questão Qujote diz que os mágicos transformaram os moinhos em gigantes para o ludibriarem. No início de Frame Analysis (1986) Goffman procede um caminho conceptualmente imaginativo. Recorda os textos de James, Gurwitsch e Schutz que determinam a existência de uma pluralidade de realidades possíveis: sub-universos no caos de William James, ordens da existência no caso de Gurwitsch e de províncias de significado finito no caso de Alfred Schutz. Qualquer destes autores enfatiza uma atenção selectiva que permite falar de um domínio de realidade ou de uma província de significado. Porém, enquanto Alfred Schutz enfatiza uma certa relação entre o sujeito e o mundo que depende primordialmente do primeiro – afinal, o que interessa não é o mundo ou a realidade mas o mundo de uma pessoa em particular – Goffman realça o princípio de organização social, dando mais ênfase ao elemento estrutural do que ao elemento subjectivo. A constituição destes

mundos depende não de uma estrutura ontológica dos objectos, como sucedia em James, mas antes do significado da nossa experiência (Ervin Goffman, 1986: 4-5). A questão para Garfinkel, Goffman e outras foi assim a pesquisa sobre as condições que permitiam que um determinado mundo, dotado de um estilo cognitivo próprio, fosse constituído. A significação da actividade quotidiana dependeria de um conjunto finito e fechado de regras, cujo conhecimento seria uma arma poderosa de compreensão da realidade social. É este conjunto finito e fechado de regras que se designaria por frame. Os trabalhos de Bateson, de Wittgenstein, ou os trabalhos de John Austin e de Peter Winch na sequência de Wittgenstein lidariam afinal com o mesmo problema que consiste esse conjunto: frame para Goffman é, afinal, a situação de natureza simbólica que permite delimitar “o algo” que entendemos por real. Assim frames seriam os princípios básicos de organização que orientam os eventos (Goffman, 1986:11). São afinal esquemas de interpretação graças aos quais determinados acontecimentos aos quais prestamos atenção são tornados visíveis e organizados. Por sua vez, o strip – tira – funciona antes como determinadas ocorrências sociais sobre os quais incidimos a nossa atenção (Goffman, 1986: 11).

II Desenvolvimentos teóricos Segue-se aos percursores um percurso que contribuiu para a sua propagação que prosseguiu na (Gamson, 1991, 1998) economia (Kahneman & Tversky, 1979), linguística cognitiva (Lakoff e Johnson, 1981) e comunicação (Entman, 1991; Iyengar, 1991). Por causa destas raízes interdisciplinares, o paradigma tem sido caracterizado por problemas de identificação que tornaram complexo o seu uso, conforme se verificará numa sucinta apresentação de alguns dos percursos, debates e derivas que caracterizam a respetiva história. Surgiram, seguidamente, com cada vez mais frequência e ambição, estudos bem direcionados e que constituem uma bibliografia fundamental sobre o conceito de enquadramento: Tuchman (1978), Gitlin (1980), Entman & Rojeky (1993), Entman (1994), Gamson (1995), Gamson e Meyer (1997), McCombs, Shaw e Weaver (1997), (1999, Gandy Jr. & Grant (2001), Entman & Rojeky (2001), Gandy Jr. (2001), Porto (2001), Iyengar (2002), Entman (2003), Tversky (2003), Scheufele (2003), Scheufele and Nise (2003), Kahneman (2003), Cacciatore, Scheufele e Iyengar (2016).

O enquadramento (framing) tornou-se uma das áreas mais populares de estudo para académicos de comunicação, psicologia, economia comportamental, ciência política e sociologia. Fazendo uma amostragem de jornais académicos como Political Comumunication e Journal of Communication constata-se facilmente a proeminência crescente do conceito: esses dois jornais de referência neste campo académico publicaram um total de 15 papers sobre framing na década de 90 comparativamente a 38 entre 2000 e 2009. De acordo com uma pesquisa lançada pelo portal bibliográfico Dialnet, em Espanha nos anos decorridos entre Janeiro de 2008 e Abril de 2015, o número de artigos publicados nas revistas abrangidas (38) é quase o triplo dos artigos sobre o mesmo tema publicados em toda a década anterior entre 1997-2007 (14). Outra análise incidiu na média e conclui que a média de artigos por ano sobre framing para o período para o período 2008-2015, foi de 4.56 por ano, contrastando com apenas 1.40 por ano na década anterior. Apesar da consolidação do conceito no seio da comunicação, constatou-se a persistência de ambiguidades que conduziram à identificação indevida com outros tipos de modelos de efeitos. (Scheufele and Tewksbury 2007). Uma parte considerável dos estudos de enquadramento fundam-se na convergência em torno da definição deste conceito como informação que permite várias perspectivas sobre um acontecimento ou sobre um tema. Esta tradição é geralmente designada como “emphasis” framing, uma vez que os efeitos de enquadramento se verificam através de diferenças na apresentação do acontecimento ou tema. Se a principal diferença consiste apenas na enfatização, inclusão ou exclusão de determinados atributos pode verificar-se uma regressão não intencional para o velho modelo do paradigma dos efeitos, verificável nas hipóteses que se propõem considerar o enquadramento como um efeito secundário do agendamento (agenda –setting). Diversos estudos aplicarão o enquadramento em combinação como o agendamento e ou o priming (McCombs, Shaw e Wever, 1999), propondo a integração de ambos os modelos. (McCombs, Llamas, López-Escobar y Rey 1997) .

III – Framing e Agendamento Para Kim, Scheufele y Shanahan (2002), tais tentativas de combinar enquadramento (framing), priming e agendamento apenas acentuam a imprecisão dos

conceitos. Salientam que as diferenças terminológicas e semânticas são mais significativas na constituição de um enquadramento do que a pura e simples enfatização selectiva dos atributos de um acontecimento ou assunto. Os efeitos de agenda variam pela repetição nos media e pela acessibilidade na mente do receptor. (Scheufele, 2000). Os efeitos do enquadramento por seu lado, não se determinam pela acessibilidade, mas pela capacidade de gerar esquemas de interpretação que podem aplicar-se a muitas situações. Nesse sentido, a ideia não é apenas enfatizar, mas enfatizar de certo modo, a sua capacidade de construção activa da realidade. Ou seja, respondendo a McCombs e Shaw, o framing distingue-se do agendamento pelo facto de este ser particularmente eficaz a dizer sobre o que pensar enquanto o framing nos diz mais sobre como pensarmos (embora de uma forma complexa que remete mais para a cognição do que para a manipulação). Ou seja, não deve confundir-se o efeito de framing com manipulação ideológica, mas com princípios de organização de sentido. Alguns argumentos do raciocínio de Scheufele com os quais obviamente estamos de acordo: A.1. A necessidade de não se referir apenas a um tipo de frames, mas considerar a existência de uma taxinomia aplicável a vários tipos de quadros (frames) bem como a necessidade de o repensar no plano mais abrangente dos desafios e transformações colocados pelos novos. A.2. destaque-se o apelo desenvolvido por Entman (1993: 56) no sentido de desenvolver uma tipologia quede framing que distingue os frames de audiência dos frames mediáticos. A.3. Concretizando melhor a hipótese de Entman os quadros (frames) não dizem apenas respeito a dispositivos retóricos e discursivos incorporados no discurso público (isto é, frames mediáticos) mas também como estruturas internas da mente que guiam os indivíduos e os grupos no processamento da informação. Nesse sentido, são susceptíveis de serem associados a modelos mentais e a ideologias. A.4. A esta distinção entre frames mediáticos e frames individuais junta-se a classificação dos frames como variáveis dependentes e independentes. Quanto aos frames mediáticos, nas abordagens que os analisa como variáveis dependentes, consideram-se os factores intrínsecos e extrínsecos que influenciam a selecção e processamento de

informação as normas e os valores sociais, os constrangimentos organizacionais as pressões exercidas por grupos de interesses, as rotinas jornalísticas e as orientações politicas e ideológicas dos jornalistas, a imagem que os profissionais têm dos seus públicos. (Tuchman, 1978). A estes podem acrescentar-se ainda a presença de definidores primários.

A.5. Ainda nos frames mediáticos, nos casos em que estes são abordados como variáveis independentes, tal implica o seu estudo sob o ponto de vista do impacto nas atitudes, nas opiniões e nos frames individuais: (a) as estruturas sintáticas e s padrões de organização frásica; (b) as estruturas associadas ao potencial noticioso (newsworthiness) de um acontecimento bem como a intenção de comunicar acontecimentos que transcendem a limitada experiência sensorial dos das audiências (c) as estruturas temáticas, que refletem que reflectem a tendência dos jornalistas para estabelecer relações de causalidade, seja sob a forma direta e explicita seja sob a forma de relacionamento com as citações diretas de uma fonte; e (d) as estruturas retóricas que implicam as escolhas estilísticas feitas pelos jornalistas em função dos efeitos pretendidos. Estes trabalhos identificam ainda mais cinco elementos nos enunciados mediáticos que tem um impacto no processamento de informação pelos membros das audiências e dos públicos: (a) julgamentos sobre a relevância; (b) agenciamento ou atribuição da responsabilidade pela acção; (c) identificação com vítimas potenciais (d) categorização ou escolha de etiquetas para os incidentes; e (e) generalização para um contexto nacional mais vasto. Esta será a questão que aparecerá mais adiante, operacionalizada de uma forma que parece reflectir tais preocupações na análise de discurso de van Dijk, na sua formulação elaborada já no final da década passada. Por seu lado, estudos sobre frames sociais à luz da dicotomia varável dependente – independente (Gamson, 1992; Iyengar, 1987, 1989, 1991; Price et al., 1995) estes são olhados como resultados provenientes de frames mediáticos específicos. O tipo de estudos realizado mede a variável dependente e produz variações experimentais na variável independente. Admite-se a hipótese de que o tipo de enquadramento mediático influencia o modo como os membros da audiência procedem à atribuição da responsabilidade. (Iyengar, 1987, Iyengar, 1991, p. 28). Na mesma linha, destaque-se um elaborado estudo

sobre o impacto das escolhas narrativas nas respostas cognitivas individuais. (Price et al., 1995, p. 5), examinando a influência de determinadas características na activação de ideias e sentimentos e consequentemente para a própria mobilização política

A.6. Uma outra tipologia que julgamos interessante apresentar é a distinção entre os frames episódicos e frames temáticos: Frank Durham usou o trabalho de Frederic Jameson, consideravelmente impulsionado por Adorno e pela Teoria Crítica para destacar a ideia de narrativas sociais, insistindo em que os frames socialmente censurados nos podem dizer mais sobre o próprio processo de enquadramento como um todo. Esta posição contempla os próprios frames como um processo de reificação que traduz uma classificação artificial do mundo, na medida em que impede as diversas ligações que existem dentro da estrutura social, delimitando, de um modo que é considerado positivista, as realidades sociais como se fosse estanques e não agissem de um modo consideravelmente interligado. (Beraching, 2001: 125-26). Por exemplo, a distinção entre enquadramento episódico ou temático do problema dos refugiados pode ser extremamente produtiva. Um elemento que é também chamado à atenção por diversos autores é o seguinte: A pesquisa mais recente sobre o feito de framing tem vindo a chamar a atenção para o facto de este solicitar novas leituras graças à evidência crescente de um ambiente mediático fragmentado. Tal ecossistema permite conferir um novo enfâse à informação que coincide com as suas crenças prévias, pelo que os efeitos mediáticos se traduzem prioritariamente num reforço. O reforço baseado na preferência é relacionado por três fenómenos relacionados: a) a motivação entre as plataformas mediáticas para afunilar a informação para públicos fragmentados ideologicamente (Maddow, 2010) ou mesmo para indivíduos específicos como sucede no caso dos media sociais (Scheufele & Nisbet, 2012) com vista à criação de ambientes publicitários mais atrativos s; (b) a tendência entre os membros da audiência não apenas para selecionar e interpretar informação consistente com as crenças prévias mas também para depender de redes sociais online seleccionadas de modo altamente endógeno – as quais são frequentemente comparadas com câmaras de eco (Sunstein, 2007) e que ainda estreitam mais o leque de informação disponível e a sua interpretação; (c) um

novo interface entre medias e audiências como os resultados fornecidos à medida pelos motores de busca (Ladwig, Anderson, Brossard, Scheufele, & Shaw, 2010) ou por agregadores de notícias personalizados que conduzem à informação cada vez mais e mais estreita.

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