O mistério do tubo perdido [póster]

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O Mistério do Tubo Perdido Ana Caldeira, Paulo Maurício e Nuno Martins Ferreira Escola Superior de Educação de Lisboa - IPL [email protected] [email protected] [email protected]

Introdução A Escola Superior de Educação de Lisboa (ESELx) é detentora de uma coleção de instrumentos científicos e didáticos cujo estudo está, no essencial, por realizar. Encontrando-se esses instrumentos dispersos, estão em condições que exigem uma intervenção no sentido de os preservar, organizar e disponibilizar para a comunidade científica. Os trabalhos epistemológicos de Hacking (1983) e de Baird (2004) tomaram, ainda que com abordagens diversas, os instrumentos científicos como agentes do empreendimento científico. Assim, uma nova abordagem historiográfica emergiu com o material turn da década de 1990: o estudo da materialidade da ciência, seja pela prática dos seus atores seja pelos instrumentos que a mediavam, adquiriu um espaço próprio na historiografia da ciência. Também a investigação em educação tem integrado a história da ciência no desenvolvimento de um ensinoaprendizagem mais relevante, contextualizado, e onde esteja presente o ensino da natureza da ciência (Höttecke, Henke, & Riess, 2012; Matthews,1994). Dentre as estratégias usadas para o uso da História e Filosofia da Ciência na educação, conta-se o uso, sob diversas formas, de instrumentos ou réplicas de instrumentos históricos (Höttecke et al., 2012). Por fim, a investigação em educação tem revelado o interesse da integração de espaços não formais e informais de ensino, como museus, jardins, aquários e centros de ciência, com o ensino formal (Faria, Pereira, & Chagas, 2012). O presente trabalho, utilizando um espaço museológico dentro de uma Escola onde se desenvolve a formação inicial de professores, procura articular as experiências de ensino-aprendizagem atrás mencionadas usando o trabalho sobre instrumentos antigos como estratégia central.

Metodologia Como quadro metodológico para a abordagem aos instrumentos científicos e didáticos, usámos o modelo de Winterthur, desenvolvido por Fleming (1974) e aperfeiçoado por Anderson et al. (2013), para estudo de instrumentos científicos por não especialistas em ambientes não formais. Lourenço e Gessner (2014) desenvolveram uma sistematização que incorpora muitas das modificações de Anderson et al. (2013) (figura 1).

Aspetos Singulares Descrição “material” do objeto: ❖ Partes constituintes ❖ Forma, montagem ❖ Medidas (tamanho, peso) ❖ Materiais Análise ❖ Inscrições Sincrónica ❖ Ornamentos ❖ Sinais de utilização ❖ Objetos relacionados ❖ Defeitos e partes em falta ❖ Estado atual (proprietário, região e valor de mercado) ❖ (...)

Biografia do objeto: ❖ Lugar e data de fabrico ❖ Pessoas envolvidas no fabrico Análise ❖ Sequência da sua diacrónica utilização ❖ Proprietários anteriores ❖ Utilizadores anteriores ❖ Mudanças ocorridas

Aspetos Gerais Princípios de funcionamento

❖ Itens que partilham do mesmo princípio de funcionamento ❖ Descrição científica atualmente aceite ou princípio de funcionamento ❖ Modo comum do seu uso na atualidade Figura 2. Fotografia de um dos tubos realizada pela autora com vista à inventariação.

Contextos de descoberta, conceção e uso: ❖ Variações de usos ao longo do tempo ❖ Representações históricas ❖ Explicações históricas (fontes textuais) ❖ Habilidades e conhecimento envolvidas no uso do objeto ❖ Papel e impacto na história (objeto raro ou comum)

Figura 1. Grelha de estudo do objeto, desenvolvida por Lourenço e Gessner (2014).

Figura 3. Outro dos tubos de Geissler da coleção. Estes tubos de descarga caraterizam-se por elétrodos em forma pontiaguda, por contraste com os tubos de Crookes.

Resultados O trabalho de estudo e inventariação aqui reportado decorreu em torno dos tubos de descarga, identificados por um dos autores (aluna) como sendo tubos de Geissler. Seguindo o quadro metodológico, foram identificados aspetos singulares sincrónicos de cada um dos 2 tubos de descarga (cf. Figuras 2 e 3). Por consulta bibliográfica, a aluna verificou a diferença essencial que permitia distinguir os tubos de Geissler dos tubos de Crookes, também presentes no espólio, a saber, a forma pontiaguda dos elétrodos nos primeiros tubos. No entanto, foi no passo seguinte, a da análise diacrónica dos aspetos gerais, que, por comparação e confronto com exemplares em outras coleções, se percebeu que dois dos tubos de Geissler faziam parte de uma coleção de três (figura 5). O sítio web onde foi encontrada a caixa com os três tubos está em migração e indisponível neste momento (http: //chsi.harvard.edu/), no entanto, outras fontes permitem verificar que o próprio Crookes desenvolveu atividades experimentais com os 3 tubos (Crookes, 1879), encontrando-se o conjunto à venda em catálogos. O facto de, num processo de inventariação por uma aluna, termos obtido um resultado que ajuda a compreender que a coleção foi, de algum modo, danificada desde o seu início, mostra as potencialidades da metodologia e inspira-nos a prosseguir o trabalho.

Figura 4. Esboço realizado pela aluna, do tubo de descarga da figura 2. No esboço, verifica-se a existência de um elemento de ligação dos elétrodos ao vidro que não está visível na foto. Por outro lado, parece existir uma pequena saliência para o exterior do tubo na zona dos cátodos. Essa saliência não é clara na foto.

Figura 5. Montagem com três tubos de vidro diferente: (a) Vidro urânio, (b) vidro Inglês e (c) vidro Alemão (Crookes, 1879). Crookes pretendia evidenciar que “a matéria radiante exerce um forte efeito fosforescente sempre que colide contra os materiais e em particular o vidro (Esquerda). Catálogo com o número e a escala da peça (direita)

Bibliografia Anderson, K., Mélanie, F., Neswald, E., & Trim, H. (2013). Reading Instruments, Objects Texts and. Science & Education, 22(5), 1167– 1189. Baird, D. (2004). Thing Knowledge: A Philosophy of Scientific Instruments. London: University of California Press. Faria, C., Pereira, G., & Chagas, I. (2012). D. Carlos de Bragança, a Pioneer of Experimental Marine Oceanography: Filling the Gap Between Formal and Informal Science Education. Science & Education, 21(6), 813–826. Fleming, E. M. (1974). Artifact Study: A Proposed Model. Winterthur Portfolio, 9, 153–173. Hacking, I. (1983). Representing and Intervening. Cambridge: Cambridge University Press. Höttecke, D., Henke, A., & Riess, F. (2012). Implementing History and Philosophy in Science Teaching: Strategies, Methods, Results and Experiences from the European HIPST Project. Science & Education, 21(9), 1233–1261. Lourenço, M. C., & Gessner, S. (2014). Documenting Collections: Cornerstones for More History of Science in Museums. Science & Education, 23(4), 727–745. Matthews, M. R. (1994). Science Teaching: The Role of History and Philosophy of Science. New York, NY: Routledge.

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