O Movimento LGBT no Agreste Pernambucano e suas Características: Desafios e possibilidades

June 1, 2017 | Autor: Cleyton Feitosa | Categoria: Movimentos sociais, Homofobia, Movimento Lgbt
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XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL DA ALAS 6 A 11 de setembro de 2011, UFPE, Recife-PE Grupo de Trabalho: 20 - Sociedade civil: protestos e movimentos sociais

O MOVIMENTO LGBT NO AGRESTE PERNAMBUCANO E SUAS CARACTERÍSTICAS: DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Cleyton Feitosa Pereira – UFPE/CAA Allene Carvalho Lage – UFPE/CAA (Orientadora)

INTRODUÇÃO

A

questão

da

homofobia

tem

provocado

inúmeras

formas

de

discriminação, preconceito, injustiças, desigualdades, exclusão e violência verbal, física e simbólica, que culminam na condição de subalternização do sujeito LGBT. Neste cenário, muitas iniciativas tem surgido da sociedade civil organizada e Movimentos Sociais que tratam da liberdade sexual e do respeito às pessoas independente de suas diferenças. Desde o período da redemocratização1, a atuação do Movimento LGBT no Brasil vem crescendo e conquistando visibilidade político-social, através de conferências, palestras, encontros, debates, pressão popular, manifestações, ações preventivas, apoio psicológico, jurídico e de outras naturezas e, a mais conhecida por todos/as, a parada da diversidade. O que nos intriga é o fato de vivermos em um Estado Democrático de Direito que garante em sua Constituição Federal2 a igualdade e a liberdade entre as pessoas, princípios estes pensados na Revolução Francesa e difundidos mundo afora. Apesar disto vivemos numa situação de discriminação e opressão cotidianas. O Brasil, através das lutas e reivindicações da comunidade LGBT, tem alcançado muitas conquistas que se traduzem em políticas públicas de proteção ao sujeito homossexual, como o Programa Brasil Sem Homofobia34 do governo federal5 e, mesmo assim, ainda padece da opressão causada pelas forças conservadoras que determinam o que é certo, rejeitam as orientações sexuais diferentes da heterossexual, disseminam ódio e aversão entre as pessoas, fortalecendo condutas homofóbicas. Sob o olhar de Junqueira, o programa Brasil Sem Homofobia

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Iniciada em 1985. De 1988, quando foi decretada uma nova constituinte que saía das sombras da Ditadura Militar e que foi construída com a participação de diferentes segmentos sociais. 2

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O Programa Brasil Sem Homofobia busca o reconhecimento e a reparação da cidadania da população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, inegavelmente uma parcela relevante da sociedade brasileira, que sofre com o preconceito e a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, além de outros como de raça, etnia, gênero, idade, deficiências, credo religioso ou opinião política. Informações extraídas do sítio http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sedh/brasilsem/. Acessado em 17/10/2010. 5

Na gestão Lula.

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Traz, no seu cerne, a compreensão de que a democracia não pode prescindir do pluralismo e de políticas de equidade e que, para isso, é indispensável interromper a longa seqüência de cumplicidade e indiferença em relação à homofobia e promover o reconhecimento da diversidade sexual e da pluralidade de identidade de gênero, garantindo e promovendo a cidadania de todos/as. (JUNQUEIRA, 2009: 15 e 16)

Diante deste cenário este exercício de pesquisa pretende oferecer reflexões para a seguinte pergunta: Quais as características do Movimento LGBT no Agreste Pernambucano e de suas estratégias de luta? Com

o

problema

apresentado,

pretendemos

refletir

sobre

as

características e as estratégias de luta do Movimento LGBT no Agreste de Pernambuco para a desconstrução da homofobia e emancipação social. 2. O Movimento LGBT: desafios, possibilidades e conquistas O movimento LGBT vem se consolidando de maneira mais contundente no Brasil após o período de redemocratização do país, em 1985, quando a então ditadura militar acabou devido à forte pressão popular. Este

movimento

agrega

um

conjunto

de

organizações

com

características bastante específicas, como por exemplo, ONGs (Organizações Não Governamentais) que trabalham com travestis, auxilando-as a aprender uma profissão como a de costureira ou cabeleireira, alfabetizando-as ou ainda cuidando de sua saúde física e mental. Existem organizações que trabalham exclusivamente com transexuais, apoiando-as na decisão da cirurgia peniana, ou profissionalizando-as. Há ainda organizações que trabalham com pais de homossexuais, auxiliando-os psicologicamente para a aceitação da natureza sexual de seus/suas filhos/as, o que é bastante louvável, pois como bem sabemos, os pais sofrem bastante com a orientação sexual de seus filhos/as. Não porque sejam filhos/as más/us, mas porque diante da subalternização construída sócio-culturalmente em relação os/as LGBT, os ascendentes têm vergonha, culpa ou sentimentos de rejeição para com seus filhos e sofrem um conflito bastante intenso no período de descoberta da homossexualidade de seus/uas herdeiros/as até a aceitação deles/as propriamente dita.Ainda existem associações que tratam do gay e da lésbica em vários aspectos de sua vida como a jurídica, a psicológica, a saúde física e até a moradia de pessoas que foram enxotadas de casa pelos seus familiares, entre outras situações. A 2

finalidade destas instituições é promover a cidadania e a inclusão destes sujeitos que de alguma forma sofrem devido a alguma situação extrema em função de sua sexualidade e seu modo próprio de ser. De toda forma, as ações mais conhecidas do Movimento LGBT, através de suas diversas organizações, são as paradas da diversidade ou marchas gay. Como o nome diz, trata-se de uma grande passeata na qual os ativistas discursam em favor da comunidade LGBT, denunciam a violência que estas pessoas sofrem e reivindicam direitos. Nelas, trios desfilam com músicas festivas como o Dance ou música eletrônica. Elas reúnem uma grande quantidade de pessoas que saem para lutar pela causa ou simplesmente para ver como se comportam as pessoas presentes. É curioso, mas as paradas já demonstraram atrair a presença das pessoas não-homossexuais seja para apoiar a causa, por considerarem-na legítima ou simplesmente para matar a curiosidade acerca das pessoas gays, lésbicas, bissexuais, travestis ou trangêneros. De todo modo, as paradas tem sido bem-sucedidas ao unir militância política e festa num só evento, conquistando visibilidade social e política. Não é raro ver políticos em cima dos trios apoiando a causa gay, seja por acharem justo ou por ver que a quantidade de eleitores e eleitoras gays é enorme. Para Simões e Facchini as paradas são

Expressões concentradas da arrebatadora visibilidade que o próprio mundo LGBT tem alcançado [...] Nas paradas, essas exibição exuberante e sedutora do universo LGBT assume a forma de uma visibilidade em massa, potencializando-se, desse modo, como meio de angariar solidariedade social. (p. 18 e 19)

Neste sentido, o movimento vem conseguindo avanços no que diz respeito à legitimação de sua causa. Os homossexuais têm lutado no sentido de influenciar as instituições científicas para fazê-las reconhecer suas preferências nos relacionamentos afetivo-sexuais como fazendo parte da natureza humana. Ao mesmo tempo, essas lutas têm se direcionado para os poderes executivo, legislativo, e judiciário, para buscarem leis que garantam a legitimidade dos relacionamentos homoafetivos. Veja-se o exemplo do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Combate à Discriminação, que lançou em 2004 o programa “Brasil

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Sem Homofobia”, com o objetivo de promover a cidadania dos 6 GLBT e combater a violência contra eles. (GOUVEIA, 2007: 34)

A pesquisa do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no ano de 2010 incluiu em uma de suas pautas do questionário a pergunta qual a relação de parentesco ou convivência com a pessoa responsável pelo domicílio? Tendo como uma das 20 opções de resposta cônjuge ou companheiro(a) do mesmo sexo. Isto já significa um avanço, na medida em que este tipo de relação já conquistou visibilidade social tanto para o movimento LGBT como para os milhões de homossexuais brasileiros. Significa um reconhecimento do Estado Brasileiro das uniões homoafetivas. Podemos compreender, assim, que a relevância do ativismo LGBT não reside apenas em sua resistência às formas de degradação, intolerância, perseguição e mesmo criminalização da homossexualidade, ou em seu esforço de tornar públicas e visíveis experiências minoritárias, silenciadas ou marginalizadas (o que não é pouco). Ela está, sobretudo, em sua potencialidade de desafiar os saberes convencionais e as estruturas de poder inscritos na sexualidade que alicerçam a vida institucional e cultural de nosso tempo (SIMÕES E FACCHINI, 2009: 35)

De fato, concordamos com estas considerações de Simões e Facchini. Nelas fica claro a importância da militância e da organização social dos diversos segmentos sociais para a conquista de direitos e garantias que possibilitem uma vida digna e justa, defendida nos artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 3. METODOLOGIA Nosso exercício de pesquisa se dá pelo viés qualitativo, pois entendemos que esta abordagem é a ideal para pesquisas na área das ciências humanas e sociais. Na compreensão de Gonsalves

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Na época da escrita desta Tese de Doutoramento a sigla para indicar os não-heterossexuais e suas lutas era GLBT. Com a I Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais em Junho de 2008 a sigla mudou para LGBT em consideração ao movimento de lésbicas no intuito de dar visibilidade a este movimento em particular.

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A pesquisa qualitativa preocupa-se com a compreensão, com a interpretação do fenômeno, considerando o significado que os outros dão às suas práticas, o que impõe ao pesquisador uma abordagem hermenêutica (GONSALVES, 2003: 68)

Concordamos com Gonsalves ao afirmar que a pesquisa qualitativa se preocupa com a compreensão e interpretação dos fenômenos. Quando tratamos de abordar questões que não podem ser classificadas e quantificadas, comum nas Ciências Exatas e da Natureza, só poderíamos utilizar uma abordagem qualitativa de pesquisa, pois as opiniões, sentimentos e colocações dos sujeitos não poderiam ser mecanicamente classificados ou estaríamos reduzindo seus significados e tolhendo a rica possibilidade de interpretações que nos cabe refletir e inferir. Desta forma, Minayo diz que Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes (2008: 21)

Ou seja, o conjunto de aspirações, desejos, sentimentos, crenças, valores, atitudes, motivações (MINAYO, 2008) formam o espectro humano a qual jamais poderia ser quantificado e classificado, conforme a abordagem quantitativa de pesquisa se concretiza. Esse conjunto de significados - para Minayo e concordamos - é parte da realidade social. 3.1. Tipo de Estudo Nosso exercício de pesquisa será do tipo exploratória e explicativa. Segundo a contribuição de Gil (2008: 27) “as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”. Para Gonsalves (2003: 65) A pesquisa exploratória é aquela que se caracteriza pelo desenvolvimento e esclarecimento de idéias, com objetivo de oferecer uma visão panorâmica, uma primeira aproximação a um determinado fenômeno que é pouco explorado. Esse tipo de pesquisa também é denominada “pesquisa de base”, pois oferece dados elementares que dão suporte para a realização de estudos mais aprofundados sobre o tema.

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Já as pesquisas explicativas no olhar de Gil São aquelas que têm como preocupação central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Este é o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas. Por isso mesmo é o tipo mais complexo e delicado, já que o risco de cometer erros aumenta consideravelmente (2008: 28)

De maneira sucinta a pesquisa explicativa “pretende identificar os fatores que contribuem para a ocorrência e o desenvolvimento de um determinado fenômeno. Buscam-se aqui as fontes, as razões das coisas” (GONSALVES, 2003: 66). É a partir das contribuições de Gil e Gonsalves que delimitamos o nosso tipo de estudo, por entender serem estes os mais indicados para a nossa temática que carece de exploração e explicação, por se tratar de uma questão emergente. É nesta direção que pretendemos dar visibilidade a luta política dos militantes LGBT e refletir sobre as práticas educativas que perpassam sua ação. 3.2. Método da Pesquisa Embasamo-nos a partir do método do caso alargado (SANTOS, 1983) que consiste, segundo este autor, em alargar a realidade através de um caso particular estudado e estender as conclusões desse estudo a casos mais amplos. Não se trata de mera generalização, mas sim de encontrar singularidades e elementos estruturais em comuns que unam o caso conhecido aos não-conhecidos. Desta forma, para estudarmos as práticas educativas que perpassam o movimento LGBT precisamos de um campo empírico específico, caso contrário não seria possível dar conta de todas as organizações que travam a batalha por reconhecimento e respeito no Brasil. Em linhas gerais: a curiosidade da pesquisa é voltada para um movimento, que é amplo. Sendo assim, precisamos de um campo empírico, um espaço concreto e acessível. A partir do estudo desse caso é possível, através do método do caso alargado, estender a outros campos contemplando, assim, o movimento LGBT como um todo, haja visto que sua pauta de reivindicações 6

possui a mesma natureza e atuam de forma parecida num espaço geográfico enorme que é a área do Brasil, através dos municípios. 3.3. Delimitação e Local da Pesquisa Este exercício de pesquisa foi idealizado no âmbito da disciplina Pesquisa e Prática Pedagógica 3 onde se objetiva estudar/observar as práticas educativas presentes nos movimentos sociais. Ela foi realizada entre os meses de Agosto a Novembro de 2010, tendo como percurso desenvolvido o levantamento bibliográfico e teórico, até a coleta de dados e sua análise. A pesquisa de campo foi realizada especificamente em Caruaru e estendida até Recife, capital pernambucana, pois uma das ações da organização pesquisada se deu na cidade citada. Vale ressaltar que essa ação consistia em levar os militantes do Agreste a Recife no intuito de participarem de uma Marcha LGBT7 ocorrida nesta cidade. O campo empírico pesquisado se deu em espaços de atuação do Grupo de Resistência Gay de Caruaru – GRGC – uma vez que esta organização ainda não possui sede própria, sendo uma de suas lutas atualmente a conquista, através de regularização jurídico-legal e recursos financeiros, de uma sede própria. Como se vê na fala do secretário da organização O GRGC luta hoje por uma sede, um local onde as pessoas possam se dirigir. A gente quer ir pra rua, a gente quer aparecer. A nossa dificuldade atual é essa, conquistar a nossa sede. Porque fica difícil pra gente agir. A gente vem sendo aceito pelos políticos sim, mas nem tanto, estamos avançando, demos o pontapé inicial, pelo menos (SECRETÁRIO GRGC, Setembro, 2010)

Desta maneira, fomos a 9ª Parada da Diversidade de Pernambuco, nas escolas, faculdades e outros espaços a qual o grupo atuou. 3.4. Fontes de Informação As principais fontes de informação são pessoas próximas à entidade (sujeitos beneficiados pelas ações do grupo ou que participaram de seus eventos no período pesquisado) e os próprios sujeitos do GRGC que ao informarem suas ações, estratégias, experiências, objetivos, conquistas e limitações estavam contribuindo para o desenvolvimento deste exercício de pesquisa e da reflexão do 7

9ª Parada da Diversidade de Pernambuco. Realizada em Recife, capital de Pernambuco, Bairro de Boa Viagem em 12 de Setembro de 2010.

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problema levantado, pois conforme Gonsalves (2003) reflete, o sujeito investigado é produtor de realidade e de conhecimento. 3.5. Técnicas de Coleta A principal estratégia de técnicas de coleta serão os encontros, através da observação participante que é, segundo Minayo (2008), aliada às entrevistas, o que caracteriza essencialmente a abordagem qualitativa de pesquisa. Para Gil (2008: 100) “a observação constitui elemento fundamental para a pesquisa”. No nosso caso, utilizamos a técnica da Observação Participante que consiste Na participação real do conhecimento na vida da comunidade, do grupo ou de uma situação determinada. Neste caso, o observador assume, pelo menos até certo ponto, o papel de um membro do grupo. Daí por que se pode definir observação participante como a técnica pela qual se chega ao conhecimento da vida de um grupo a partir do interior dele mesmo (GIL, 2008: 103)

Pensamos assim, ser a observação participante um componente imprescindível para estudar as práticas educativas que acontecem no interior da luta do grupo. Ninguém duvida que observar, participando na estrutura da cultura que se estuda como uma maneira de a aprender para elaborar o documento, seja um método científico, uma vez que permite abstrair os factores constantes da conduta, e compara-los com outras variáveis. Mas um tal procedimento é também uma forma de construir o objecto de pesquisa por meio da aculturação progressiva e da endoculturação permanente do investigador, na aprendizagem do conhecimento do grupo que estuda como se fosse membro do grupo em questão (ITURRA, 1983: 157)

De fato, a técnica da observação participante constitui-se um método científico. Lage enriquece esta técnica ao dizer que A observação participante é uma técnica para o trabalho de campo que proporciona grande aproximação à realidade sociológica. De fato, o estar no campo proporciona muitas oportunidades de aprendizagem, de novas compreensões e permite essencialmente o pesquisador entrar em contato com a realidade, que está à mão numa imensa variedade de possibilidades de interações, articulações e também contradições. Oferece ainda a oportunidade de espaços de inserção - e aceitação - em universos simbólicos, em formas de organização social e saberes sociais presentes no cotidiano dos grupos sociais (LAGE, 2009: 8)

Concordamos com a autora quando esta aponta a observação participante como técnica que aproxima o/a pesquisador/a à realidade sociológica e proporciona inúmeras oportunidades de aprendizagem e novas compreensões, essenciais à

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natureza das pesquisas sociológicas. Da mesma forma a entrevista também é uma técnica da maior importância no que se refere à pesquisas de cunho qualitativo, e como tal não poderíamos deixá-la de lado na nossa coleta de dados. Para não constranger de alguma maneira os sujeitos e não forçá-los a dar respostas ensaiadas optamos pela entrevista informal que trata-se do tipo “menos estruturado possível e só se distingue da simples conversação porque tem como objetivo básico a coleta de dados” (GIL, 2008: 111). Desta maneira, confrontamos as teorias, levantadas através de bibliografias especializadas no tema estudado, e as contribuições do referencial teórico citado anteriormente, com o campo empírico, buscando produzir novas formas de conhecimento e de saberes acerca do movimento LGBT, suas especificidades e a educação praticadas por essa organização. Ainda registramos por meio de fotografias alguns dos momentos de atuação política e educativa da organização. 3.6. Registro do campo A fim de trazer um recorte o mais fiel possível das situações do campo empírico observado, anotamos em nosso diário de campo as impressões, rituais, sentimentos, falas, descrições de pessoas, de ambiente, de acontecimentos e tudo o mais considerado importante para elucidar o problema levantado em nosso estudo. O Diário de Campo se constitui como objeto crucial no que tange ao registro da pesquisa e Nada mais é que um caderninho, uma caderneta, ou um arquivo eletrônico no qual escrevemos todas as informações que não fazem parte do material formal de entrevista em suas várias modalidades. Respondendo a uma pergunta freqüente, as informações escritas no diário de campo devem ser utilizadas pelo pesquisador quando vai fazer análise qualitativa. (MINAYO, 2008: 71)

Ou seja, no Diário de Campo tem-se uma liberdade maior para escrever o que considerarmos, num primeiro momento, como considerável para o estudo em questão. Essa técnica é interessante e útil na medida em que posteriormente pode-se retirar o que nele há de mais importante e contributivo no sentido de refletir sobre a pergunta da pesquisa, ficando assim um rico compêndio de

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informações que auxiliarão o pesquisador na análise e sistematização de dados. Esse objeto para Lage é um instrumento não só de registro, mas fundamentalmente um instrumento de análise de todo o trabalho de campo. É ainda, um instrumento de trabalho diário, literalmente diário, e por isso mesmo um incansável e por vezes saturante trabalho, que exige disciplina mas que proporciona ao próprio pesquisador(a) uma grande satisfação à medida que vai sendo construído e redescoberto a cada consulta que se faz dos passos dados. Tal como um álbum de fotografias, que nos leva ao reencontro das descobertas quotidianas (LAGE, 2005: 452). (...) Nesta medida, torna-se imprescindível o registro da experiência por meio de diários de campo, onde deverão ser anotadas em suas páginas a vivência da pesquisa e o universo que se acessou - de entrevistas à conversas informais, de sentimentos à dados quantitativos, de momentos de tensão até cânticos, marchas e encontros, para além das observações e reflexões do pesquisador/a. Com isto pretendemos admitir a importância de se criar novas possibilidades de narrativas das experiências de campo, oferecendo aos interessados uma imersão tão profunda quanto possível sobre os casos estudados, dando espaços e possibilidades para novas interpretações e descobertas para novos estudos (LAGE, 2009: 10)

De fato, trata-se de um instrumento riquíssimo para a realização da análise dos dados coletados, afinal seria impossível para nós memorizarmos todas as informações e acontecimentos que surgem no decorrer do campo empírico. Concordamos com Lage quando esta traz a parte saturante da escrita do diário, pois descrever e escrever as percepções obtidas in loco é um exercício de disciplina, empenho e disposição de observação e registro. Suas observações são riquíssimas e retratam com clareza a importância desta técnica de registro de campo. A imersão dos interessados nos escritos revelam o potencial comunicativo-científico da língua e como ela pode servir para vários estudos em questão. 3.7. Análise e Sistematização de Dados Uma primeira aproximação da técnica de Análise de Conteúdo foi a opção metodológica escolhida para o tratamento dos dados coletados. Para Amado (2000: 53, grifo nosso) a técnica de análise “trata-se de uma técnica que procura “arrumar” num conjunto de categorias de significação o conteúdo manifesto dos mais diversos tipos de comunicações”. Desta forma,

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buscamos dar um tratamento científico, mas não uma cientificidade fechada em classificações e rotulações numéricas como acontece na abordagem quantitativista, inadequada para pesquisas deste tipo, pelo contrário, a fim de refletir sobre a pergunta inicial de nossa investigação definimos três categorias de base que possam esclarecer nossa inquietação. Como este artigo é resultado de um estudo mais amplo, que definiu três categorias de análise, trataremos aqui apenas dos estudos sobre o Movimento LGBT e sua natureza no agreste pernambucano.

3.8. Auto-reflexividade: A experiência do campo na formação do pesquisador/a A experiência do campo na área de movimentos sociais e organizações afins, proporcionou um enriquecimento acadêmico, político, cívico e de humanização na medida em que víamos as dificuldades enfrentadas injustamente pela população LGBT e o modo como era combatida. Sensibilizávamo-nos com a legitimação da causa. A ação coletiva desse movimento servia para repensarmos a nossa individualidade e egocentrismo impulsionados pelo projeto neoliberal de vida, na qual as pessoas são movidas apenas por interesses pessoais e a competitividade é um fator preponderante para a falta de solidariedade de uns para com o outros. Como pesquisador, este trabalho proporcionou um rico empoderamento da metodologia das ciências sociais e humanas e a elaboração do diário de campo. Tivemos como principal facilidade o modo como fomos recebidos na organização. Podemos dizer que da melhor forma possível. A acolhida do presidente e o tratamento dos demais sujeitos da pesquisa surtiram como forças motivadoras a dar seqüência a este aprofundamento hermenêutico. A temática da diversidade sexual também foi algo que nos alegrou em tratar na medida em que alguns dilemas se confundiam com a nossa trajetória de vida, trazendo assim um ar de familiaridade com o objeto de estudo. A principal dificuldade foi, sem sombra de dúvida, conciliar as atividades do

exercício

de

pesquisa

às

atividades

acadêmicas

obrigatórias

e

extracurriculares como a participação em projetos de extensão, em eventos e em atividades de monitoria da Universidade Federal de Pernambuco/Centro Acadêmico do Agreste. Neste caso, demandou-se um esforço e disciplina 11

enormes, pois entendemos que quando falamos em ensino público, estamos falando de um projeto social que tem por objetivo o desenvolvimento das pessoas e da sociedade em geral. A negligência às atividades deste espaço se constitui como uma atitude de arrogância e desrespeito para com as demais pessoas que almejam um país mais justo e menos desigual. Uma universidade pública é o resultado de conquistas do povo na busca pela educação de qualidade e como tal deve ser valorizada. As dificuldades foram superadas com bastante esforço e empenho, negociando, quando possível, os horários e aproveitando as madrugadas como horários “livres”. Empenho este que por vezes surpreendia a nós mesmos e que nos dava a sensação de alegria a cada etapa realizada. As aprendizagens do campo foram inúmeras, de tal sorte que não podemos dizer que saímos deste exercício de pesquisa igual como entramos. Em vários aspectos do nosso ser ficamos mais ricos e preparados para outros desafios educativos que nos acometerão no transcorrer de nossas vidas, pois percebemos que a educação não está presente somente na sala de aula de uma escola do Estado ou de uma instituição privada, mas que o fenômeno educativo, o conhecimento e os saberes fazem parte de um todo cultural mais amplo, complexo e rico e que esta educação pode, de fato, contribuir para a formação de sujeitos críticos e transformadores das mazelas e injustiças sociais. Percebemos nesta investigação que também somos sujeitos transformadores, não só reprodutores de cultura mas também produtores de cultura.

4. O CASO DO GRUPO DE RESISTÊNCIA GAY DE CARUARU – GRGC Para dar conta do método do caso alargado e analisar o problema de pesquisa precisávamos de um campo empírico concreto, a qual fosse possível no plano real fazer nossas observações, entrevistas e registros. Optou-se então, por pesquisar o Grupo de Resistência Gay de Caruaru GRGC, presidido por Erison Ferreira; um militante que teve em sua trajetória de vida as mais diversas subalternizações impostas, devido à sua orientação sexual e que hoje luta contra a discriminação à LGBTs. O Grupo de Resistência Gay de Caruaru deu início às suas ações no ano de 2006, na cidade de Caruaru,

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localizado no Agreste de Pernambuco, sendo um grupo recente mas bastante ativo para o pouco tempo de existência. O grupo conta com a atuação, além do presidente, de dois secretários e um tesoureiro que tratam das atividades que objetivam conscientizar o público LGBT como sendo sujeitos de direitos e o público não-LGBT a terem uma visão sem preconceitos ou pelo menos que possam ter informações para decidirem suas posições políticas sobre esta comunidade, estimulando assim uma cultura de paz no agreste pernambucano. O grupo GRGC não possui sede própria nem documentação legal que o legitime como ONG, e por isto precisou do apoio da ONG Leões do Norte, da cidade do Recife que já conquistou direitos importantes na capital pernambucana, para dar seus passos iniciais. No entanto, O GRGC busca independência, necessária para dar cabo das demandas que surgem no cotidiano caruaruense e das cidades circunvizinhas onde o grupo atua. De fato, com o reconhecimento legal desta organização, o grupo poderá conquistar mais autonomia (inclusive financeira e política), dando celeridade e maior eficácia às suas ações.

4.1 Movimento LGBT

O movimento LGBT tem forte atuação no país e em todo o globo terrestre sendo apoiada por diversas pessoas, instituições, associações, ONGs entre outros. No entanto, ainda padece de muitas dificuldades. Entre elas está a pouca consciência política dos próprios homossexuais, bissexuais e transgêneros em se fazer presente na luta política e no tensionamento da democracia, a fim de alargar seus limites e ampliar seus horizontes.

O que tem que acontecer são os gays se juntarem, participar dos acontecimentos, das paradas, abrir a bandeira, gritar mesmo e sair pra rua sem medo, porque quem não deve, não teme. Muitos vão a parada por uma diversão, eles vêem como uma diversão, mas pra pessoa que vai sempre como a gente, a gente vai lutar pelos nossos direitos (SECRETÁRIO GRGC 1, Diário de Campo: 12/09/2010)

A partir das declarações de um dos militantes do GRGC é possível observar a não-participação de parte do público LGBT na luta pelo

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reconhecimento de suas sexualidades e da cidadania que lhes é de direito. O regime democrático pressupõe a participação política no que diz respeito às decisões que afetam a vida das pessoas, portanto, é fundamental que uma comunidade, grupo ou segmento subalternizado no âmbito da cultura, da política, da economia, etc. lute para melhoria não apenas em benefício próprio mas de um coletivo e, por conseguinte, da sociedade. Se todos homossexuais lutassem por essa causa, a situação hoje seria outra. Se você não sai de casa, não vai à luta como pode exigir respeito? Respeito não se ganha, se conquista (SECRETÁRIO GRGC 1, Diário de Campo: 12/09/2010)

Um dos sujeitos chega a hipotetizar como seria a sociedade caso toda a comunidade LGBT reivindicasse respeito e dignidade. Dando sequência, ele nos aponta uma das causas de não-participação nesta luta, alegando que “tem gays que não vão por causa da família, do meio social que é muito forte” (SECRETÁRIO GRGC 2, Diário de Campo: 12/09/2010). Para ele, a influência da família é tão forte a ponto de inibir ações de pessoas que se sentem injustiçadas pela realidade, criando assim uma esfera na qual as relações de poder falam alto e determinam ações. Outra dificuldade apontada é a falta de comprometimento com a causa e com o Movimento. Outro militante do GRGC diz que muitas pessoas não vão às paradas da diversidade no intuito de reivindicar e se manifestar em prol das questões LGBT, mas sim para se divertirem e aproveitarem o momento de aglomeração do público LGBT e se inclui nesse grupo: “Eu, na parada, mal escuto os direitos, não vou mentir. As pessoas vão mais pra beber, pra curtir a festa. Mas o fato de estarem ali, já é muito bom” (SECRETÁRIO GRGC 2, Diário de Campo: 12/09/2010). Em sua fala percebe-se uma ressalva afirmando que o fato de ter muita gente já é algo bom para esta ação, garantindo visibilidade e apoio à marcha. Desta forma, vale ressaltar que o movimento LGBT não é homogêneo e é também marcado por conflitos. Conflitos de idéias, interesses, ideologias, ações, entre outros. No caso do GRGC as diferenças surgem na relação com outras organizações locais, embora seja possível perceber a tentativa de união das organizações no intuito de fortalecer o Movimento, o que não é fácil quando o que está em jogo são visões diferenciadas acerca das ações de cada

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grupo. Em uma reunião na qual estive presente e o embate de idéias e quereres entre as organizações estavam um tanto conflituoso, com acusações e gritos, o presidente do GRGC aconselhou “vamos esquecer o passado e olhar para o presente” (PRESIDENTE GRGC, Diário de Campo: 16/11/2010). Neste direção, o militante continuou “ou a gente trabalha em conjunto ou não conseguiremos

avançar”

(PRESIDENTE

GRGC,

Diário

de

Campo:

16/11/2010), o que nos mostra o esforço para fortalecer o Movimento. Os conflitos se deram em torno de uma polêmica que existe dentro do movimento LGBT: o da politização ou banalização das reivindicações no momento da Parada da diversidade. Essa reunião tinha justamente como ponto de pauta principal os ajustes deste evento para a cidade de Caruaru. Noutra ocasião, o secretário do GRGC deu declarações que podem esclarecer mais essa questão Não sei se você sabe mas Caruaru tem duas paradas: a nossa que é oficial e a do dono de uma boate, só que a parada dele não é pra lutar por direitos. Ele fala quem quer macho? Quem gosta de mulher? Isso pra mim não é lutar por direitos, isso é vulgarizar a causa. (SECRETÁRIO GRGC 1, Diário de Campo: 12/09/2010)

Desta maneira o Movimento em Caruaru apresenta-se dividido, rechaçado. Um grupo luta por políticas e ações sociais e de solidariedade e assistencialismo em benefício daqueles sujeitos que não conhecem seus direitos de cidadãos/ãs. Um segundo grupo não prioriza as questões sociais e políticas do movimento e demonstraram um certo desconhecimento de suas causas8, a intenção deste segundo grupo se reduz à organização da parada da diversidade, e de maneira mais festiva, o que divergia das intencionalidades do GRGC. Este segundo grupo discordava porque queria que a artista Gretchen, conhecida como a “rainha do rebolado”, fosse contratada para ser a madrinha da parada da cidade de Caruaru do ano de 2010 e o GRGC refutava essa idéia. O GRGC alegou “trabalhamos com o público LGBT, logo devemos trabalhar com militância e politização, não com shows sem intenção política”

8 quando o presidente do GRGC perguntou a este segundo grupo se eles sabiam dos últimos atos de homofobia ocorridos no Brasil e as declarações homofóbicas do atual papa - Bento XVI - eles não tinham conhecimento.

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(PRESIDENTE GRGC, Diário de Campo: 16/11/2010). De certa forma, achamos coerente a posição do Grupo de Resistência Gay de Caruaru, pois a artista em questão não possui um histórico consistente de apoio à pauta de reivindicações desta comunidade. Saindo das divergências políticas e entrando no âmbito das paradas, compreendemos que estas se constituem como ricos momentos de militância na qual a educação configura-se como uma estratégia de conscientização, formação política e transformação social. (...) foi ótimo. Todos participaram panfletando, correu tudo bem, veio uma drag queen, deu depoimentos sobre a vida dela, foi muito emocionante. A gente não só pôs música, a gente falou da importância de se respeitar as pessoas independente da orientação sexual (SECRETÁRIO GRGC 1, Diário de Campo: 12/09/2010)

Assim, diante das afirmações é possível perceber a importância das paradas para o GRGC, na medida em que estas trazem consigo visibilidade, ausente na mídia e no dia-a-dia face o medo e a vergonha que acometem a comunidade LGBT diante da opressão dos padrões hegemônicos. Ainda sobre a Parada A primeira parada gay foi muito boa porque os políticos viram que nós existimos, a igreja católica, a população, então foi ótimo por isso. [portanto] a importância é a aceitação da população. A importância pra gente é isso, a gente quer que aceite. A gente quer ser visto como pessoas normais. Pessoas como outra qualquer. Respeitos iguais, sem diferença (SECRETÁRIO GRGC 1, Diário de Campo: 12/09/2010)

A luta por igualdade de tratamento é uma das características estruturantes na organização. Deste modo, pode-se afirmar diante da reação das pessoas, relatado pelo secretário do GRGC, a dificuldade destas em olhar para os militantes com naturalidade como a um cidadão e a um ser humano iguais a eles. Nesse primeiro momento foi bem chocante, foi como se tivesse aberto as portas do inferno (risos) porque é como se a gente fosse diabólico, como se fosse uma coisa que não vem de deus é como uma coisa ruim, inferior... (SECRETÁRIO GRGC 1, Diário de Campo: 12/09/2010)

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Embora haja dificuldades em quebrar a fronteira entre as sexualidades, a ação se mostrou bem-sucedida, porque “depois as pessoas viram que não tem nada demais, elas reagiram bem” (SECRETÁRIO GRGC 1, Diário de Campo: 12/09/2010) o que demonstra que os preconceitos podem ser rompidos quando há informações que subsidiem as análises das pessoas. 5. ANÁLISE DO CASO Para fins do exercício de aproximação desta técnica e da riqueza do trabalho de campo, os dados serão analisados a partir da categoria, refletida no item seguinte.

5.1 Movimento LGBT Para análise desta categoria embasamo-nos do pensamento de Simões e Facchini que fundamentaram este trabalho. Para esses teóricos [...] a relevância do ativismo LGBT não reside apenas em sua resistência às formas de degradação, intolerância, perseguição e mesmo criminalização da homossexualidade, ou em seu esforço de tornar públicas e visíveis experiências minoritárias, silenciadas ou marginalizadas (o que não é pouco). Ela está, sobretudo, em sua potencialidade de desafiar os saberes convencionais e as estruturas de poder inscritos na sexualidade que alicerçam a vida institucional e cultural de nosso tempo (SIMÕES E FACCHINI, 2009: 35)

Os autores vêem o movimento LGBT como uma luta legítima, carregado de responsabilidades sociais e enfatiza a luta do Movimento em sua característica transformadora das subjetividades, seu potencial de ressignificar os valores e os sentimentos das pessoas acercas das diversas sexualidades e das forças estruturantes que está posta na sociedade9 por conta da homofobia internalizada, devido à homofobia social que fora construída historicamente através de instituições religiosas, jurídicas e científicas (BORRILO, 2010). No sentido de confrontar a teoria com a realidade, vejamos o depoimento de um dos militantes do GRGC acerca do Movimento LGBT. Ele

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incluindo a própria comunidade LGBT que por vezes apresenta atitudes de preconceito e hostis com seus diversos sujeitos numa espécie de micro guerra civil.

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utilizou o contexto da marcha da diversidade para explicitar a importância da atuação do Movimento A primeira parada gay foi muito boa porque os políticos viram que nós existimos, a igreja católica, a população, então foi ótimo por isso. [portanto] a importância é a aceitação da população. A importância pra gente é isso, a gente quer que aceite. A gente quer ser visto como pessoas normais. Pessoas como outra qualquer. Respeitos iguais, sem diferença (SECRETÁRIO GRGC 1, Diário de Campo: 12/09/2010)

A partir da teoria e da prática, verificamos a legitimidade e a essência do existir do Movimento LGBT. O confronto aparece de maneira coerente e real, na medida em que a fala e o sentimento do sujeito militante vai ao encontro do pensamento dos teóricos, revelando assim uma legitimidade credível e um existir pertinente do Movimento LGBT. Sua essência tem como características dar visibilidade às diversas manifestações da sexualidade existente, combater o preconceito e a discriminação denominada de homofobia, denunciar as práticas homofóbicas, garantir atendimento psicológico, solidário e ofertar assistência à saúde do público LGBT, reivindicar respeito e lutar por conquista de direitos afirmando desta forma sua cidadania, etc. Fica evidente através deste trabalho que o Movimento LGBT tensiona a democracia ao expandir seus limites quando luta, possibilitando assim um horizonte mais digno e igualitário para muitos. 6. CONCLUSÕES PRELIMINARES Retomando a nossa pergunta inicial - Quais as características do Movimento LGBT no Agreste Pernambucano e de suas estratégias de luta? Obtivemos as seguintes conclusões. Observou-se sua importância, características, dilemas e possibilidades, na medida em que confrontávamos os teóricos e os sujeitos da pesquisa. O Movimento LGBT é recente mas já apresenta grandes conquistas se levarmos em consideração o pouco tempo de existência, no agreste pernambucano e no Brasil. Foi possível perceber sua legitimidade e responsabilidade diante das mais diversas dificuldades como os conflitos políticos, a burocratização no reconhecimento legal de sua fundação como organização e a aquisição de

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recursos para poder executar suas ações com maior atuação e poder de alcance, além da exposição, pois se expor no contexto de discriminação que vivenciamos torna-se um risco que põe em conta a própria vida dessas pessoas. No entanto são essas dificuldades e resistências que impulsionam e são o sentido de existir do Movimento no intuito de promover uma cultura de paz e respeito entre os seres humanos, compromisso social do qual o grupo não abre mão, por serem protagonistas de sua história e de seu grupo social. Face a isto o problema é respondido na medida em que percorremos os objetivos almejados e estudamos as questões postas inicialmente. As práticas educativas apresentaram-se como elementos imprescindíveis e fundamentais no combate às percepções homofóbicas e na construção de uma sociedade harmônica que tenha o respeito e o princípio da alteridade como eixos norteadores de sua organização. Deste modo, através do método do caso alargado foi possível estender ao Movimento LGBT algumas características estruturantes deste Movimento, a partir das ações do Grupo de Resistência Gay de Caruaru, sem lhe tirar as especificidades que lhe caracterizam, pois assim como todo ser humano é único, a organização também o é. É desnecessário dizer que este exercício de pesquisa apenas esclarece alguns pontos que podem (e devem) ser aprofundados por outros trabalhos que objetivem estudar a democracia, os direitos humanos, a diversidade sexual, os preconceitos e discriminações sofridos por estas pessoas e outras questões que estão intrinsecamente ligados a população LGBT.

7. REREFÊNCIAS AMADO, João da Silva. A Técnica de Análise de Conteúdo. Revista Referência. In: http://www.esenfc.pt/rr/rr/index.php?id_website=3&d=1&target=DetalhesArtigo&id_artigo=2049&i d_rev=5&id_edicao=20. Acesso em: 26/10/2010. BORRILO, Daniel. Homofobia: história e crítica de um preconceito. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 2008. 6ª ed. GONSALVES, Elisa Pereira. Conversas sobre iniciação à pesquisa científica. Campinas, SP: Alínea. 2003. 3ª ed.

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