O MOVIMENTO PUNK E A GRANDE IMPRENSA CEARENSE: UMA ANÁLISE DO DISCURSO

September 16, 2017 | Autor: Italo Gomes | Categoria: Punk Studies, Historia, Análise do Discurso
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O MOVIMENTO PUNK E A GRANDE IMPRENSA CEARENSE: UMA ANÁLISE DO DISCURSO








Ítalo Carneiro Gomes













FORTALEZA - CE
2008
Ítalo Carneiro Gomes











































































Nós lidamos com música... lidamos com
caos.


Steve Johnes,
integrante do Sex Pistols








RESUMO



Esta monografia teve como objetivo historiar o movimento punk no mundo e em
particular no contexto da sociedade cearense e ao mesmo tempo investigar as
impressões da mídia jornalística do Estado do Ceará a respeito do citado
movimento sócio-cultural. Para tanto, procurou-se conceituar o que é punk
dentro da perspectiva das diversas tendências estéticas-políticas
contemporâneas, sua origem e evolução bem como caracterizar os elementos
culturais que o singularizam na cena juvenil. Ou seja, o que tem de novo na
estética, no comportamento, no pensar e no agir e o que em termos locais se
diferencia ao ponto de se poder falar de um punk cearense. No tocante a
visão da grande imprensa foram investigados os jornais Diário do Nordeste,
O Povo, Tribuna do Ceará e o Estado, no dia a dia das edições no período de
1980 a 1994. Verificou-se a importância dado ao punk pelo número de
matérias publicadas e o conteúdo das mesmas, utilizando-se das teorias da
análise do discurso e da dialética na perspectiva do materialismo histórico
como metodologias complementares e apropriadas para se desvendar os
indicadores da ideologia que impõe aos textos jornalísticos em estudo uma
determinada modalidade. Os resultados revelam um discurso com propósitos
claramente persuasivos, direcionando e manipulando modos de ser e de ver na
sociedade, deixando-se interpretar como parte interessada na manutenção da
ordem social vigente.


Palavras chave: Punk; Rock; Juventude; Movimento Social; História.





















INTRODUÇÃO




A juventude, desde os anos 50 do século próximo passado tem marcado
no cenário histórico mundial a sua presença de forma contundente e
original. Ao longo do meio século dado, surgiu uma cultura jovem
propriamente dita, responsável pelo surgimento de um forte segmento
mercadológico (indústria cultural) e, sobretudo, tornou-se
internacionalista, graças ao processo de globalização capitalista ora em
curso, através do qual uma série de práticas juvenis se estendem pelo
mundo. Por tudo isso o jovem deixou de ser visto como um adulto em
potencial, considerado a partir de então como alguém em idade de pleno
desenvolvimento humano.


Essa mutação juvenil de grande amplitude se concentrou em um
questionamento global de todos os valores culturais e espirituais do
ocidente, fato não observado em nenhum outro momento da história da
humanidade. Surgem nesse contexto movimentos artísticos, estudantis,
teorias e práticas juvenis, por exemplo, a geração beat e o rock-roll nos
anos 50, os movimentos hippie, rock, estudantil, negro e feminista, pop-art
nos anos 60, heavy-metal, reggae nos anos 70, hip hop e o punk nos anos 80
entre outros. Teóricos do porte de Marcuse, Sartre, Debort, Vaneique, Reich
etc, cujos pensamentos se voltaram para a análise de uma sociedade fundada
sobre a libertação das instituições repressivas, proclamando não somente
salvar o mundo, mas acima de tudo "mudar a vida", tendo a juventude como
protagonista de suas reflexões.


No entanto, o capitalismo e seus tentáculos aliciadores conseguiram
através da indústria cultural canalizar a rebeldia juvenil e a
contracultura passou a fazer parte do sistema contribuindo de forma
significativa com o aumento do seu poder econômico e político.
Coincidentemente nesse momento a estrutura produtiva do capital conhecia
uma nova era – o toyotismo – com desdobramentos profundos em sua relação
com o trabalho, inaugurando o modelo neoliberal sob os escombros do estado
de bem estar.


Todavia, esse mundo capitalista da desregulamentação do trabalho,
do fim do emprego estável, da exclusão em massa, viria a encarar uma nova
forma de contestação juvenil, desta feita grosseira, violenta, podre, punk,
o objeto de estudo da presente monografia.
Neste trabalho busca-se, pois, o conhecimento e a compreensão do
fenômeno sócio-cultural punk desde a sua inserção na história,
primeiramente nos grandes centros do mundo capitalista – E.U.A. e Reino
Unido, investigando os motivos e as consequências de sua existência
histórica bem como a sua expansão para os centros periféricos do terceiro
mundo, inclusive no Brasil e no Ceará.


Por razão de um certo mínimo de trabalhos acadêmicos anteriores a
este ter o punk como temática, vêm-se a necessidade de investigá-lo sob um
prisma diferente, daí a ideia de conhecer a visão burguesa de um movimento
que tem a classe do capital e o seu modelo social como inimigo público
número um. E o modo escolhido foi analisar as impressões da mídia
jornalista cearense acerca do punk, contidas nas matérias publicadas no
período de 1980 a 1994 nos jornais locais – O Povo, Diário do Nordeste,
Tribuna do Ceará e O Estado, veículos existentes ao longo do tempo dado.


A delimitação do tempo se deu em virtude de corresponder uma
história social e cultural do Ceará à origem, evolução e arrefecimento do
punk cearense. Quanto à limitação temática, esta se justifica a partir do
entendimento de que o pesquisador é o primeiro objeto de sua pesquisa
(BARUS-MICHEL, 1980, p. 801-804)[1] e no caso do perseguidor deste
trabalho, deve-se confessar que várias paixões pessoais, por exemplo, a
paixão pela a história, pelo o jornalismo e a paixão pela transgressão das
regras e normas sociais burguesas levou o pesquisador ao punk e à mídia
jornalística cearense. Sem dúvida é por demais intrigante e instigante a
maneira de pesquisar proposta por Barus-Michel, que é perguntar sem se
incluir na resposta, buscar os outros e encontrar a si, insistir na
significação para desvendar o objeto de sua pesquisa, através de
questionamentos tipo Por que pesquisa e pesquisador? Para quem pesquisa? O
que privilegia? O que pode ser dito sobre o que, de alguma forma, ele
previamente sabe?


Para o alcance dos objetivos propostos, o presente estudo foi
dividido em três capítulos. No primeiro, intitulado "O que é Punk", no qual
pensa-se o sentido, a essência e as raízes do fenômeno punk, busca-se um
defrontar-se com os problemas últimos que esse pensar levanta; no segundo
capítulo, denominado "Cultura Punk", realiza-se uma síntese da cena punk,
isto é, de acordo com Janotti Júnior (1994)[2], o território existencial
punk, composto de locais específicos, do conjunto de elementos visuais –
roupas e adereços e da estética musical e literária própria, o que redunda
numa linguagem específica, articulada e significativa, que é compreendida,
interpretada e recriada pelos indivíduos no processo criativo de
integração; no terceiro capítulo " O Punk na mídia cearense", historia-se o
movimento punk cearense e também faz-se uma análise de conteúdo das
reportagens coletadas para se detectar os pressupostos e os subentendidos
nelas contidos, relevantes para a apreensão da dimensão político-ideológica
dos referidos veículos de comunicação, propriedades de grupos econômicos da
classe burguesa.


Ao se considerar a natureza dos problemas vividos pela população
proletária, no contexto dos quais emerge o indivíduo extrapolar os limites
teóricos da história social e cultural e trabalhe com conhecimentos de
outras ciências sociais como Sociologia, Antropologia, Economia, Etnologia,
Ciência Política, Comunicação Social e Linguística. Para Carvajal
(1994)[3], categorias como movimento social, movimento popular, cultura,
cultura popular, grupo social, classe social, luta de classes, ideologia,
comunicação, autogestão, poder e desenvolvimento entre outros são
fundamentais para se empreender uma pesquisa como esta. Ressalte-se que
todos os autores e respectivas obras investigadas estão devidamente citadas
e relacionadas em Bibliografia, parte integrante do presente trabalho.


Esta pesquisa é uma proposta próxima das configurações da nova
história, que tem em Lucien Febvre, Marc Bloch, Jacques be Goff, Philippe
Ariès, George Derby e Le roy Ladurie seus mais loquazes teóricos. A nova
história, ao introduzir as mentalidades e o cotidiano para o campo do
conhecimento histórico, tornou-se a expressão mais característica da
historiografia atual.


Quanto ao método utiliza-se a dialética nas perspectivas do
materialismo histórico, do existencialismo sartreano e da análise do
discurso na busca de entender como os atores sociais obtêm uma apreensão
ideologicada do mundo social.





CAPÍTULO I


1. MOVIMENTO PUNK


1. Do termo "Punk"

O que é PUNK? A pergunta é simples, mas, a resposta é bastante
complexa, pois como observava Demétrio[4], perguntar pelo ser de algo é
buscar saber o que ele é, seu sentido, sua essência, sua raiz, é compreendê-
lo e interpretá-lo na perspectiva de um pensamento radical da realidade.
Implica um defrontar-se com os problemas íntimos que esse pousar levanta.


A maioria das pessoas mais ou menos inteiradas do assunto,
questionadas a respeito responde que ser punk "é ser contra a sociedade,
contra tudo. É protestar, curtir a vida da melhor forma possível". [5]


De acordo com Essinger[6], o termo punk foi utilizado pela primeira
vez por Shakespeare, na época da primeira rainha da Inglaterra – Elizabeth
Primeira – para designar a "prostituta". Hoje o termo é usado
coloquialmente para se referir ao o que é feio, esquisito, grosseiro,
agressivo, sujo, desagradável, violento, fedorento.


Para os mais entendidos, punk é o rock do no future (não futuro),
da autodestruição, o que não pode ser bem-sucedido, se não for não é
punk.[7]. Na opinião de Caiafa (1985):


"Punk" foi a denominação dada às bandas inglesas que em
76/77 começaram a fazer um tipo de som que arremessava o
rock para novas direções e numa virada tão extrema que
tornou nostálgica qualquer retomada. Pela atitude musical
e política, isso: o punk veio para não salvar nada (e nem
a si mesmo).[8]
Na visão de Abramo[9] (1996), são grupos fundados em atitudes como
a rejeição de aparatos grandiosos e de conhecimento acumulado, em troca da
utilização da miséria e aspereza como elementos básicos de criação, o uso
da dissonância e da estranheza para causar choque, o rompimento com os
parâmetros de beleza e virtuosismo, a valorização do caos, a cacofonia de
referências e signos para produzir confusão, a intenção de provocar, de
produzir interferências perturbadoras da ordem. Uma postura anarquizante.


Nos reportamos a Bivar[10], quando repassamos que a palavra punk
apareceu pela primeira vez em letra de rock em 1973, na música Wizz Kid, do
grupo Mott the Hoople. A letra diz "o pai dela era um punk das ruas e a
mãe, uma bêbada." Mas aí a palavra é usada como substantivo e não referente
ao punk como uma expressão social, coletiva, comportamento em comum de um
grupo histórico e culturalmente determinado. Nesse mesmo ano a palavra é
empregada várias vezes na imprensa especializada.


Punk geralmente era aquela gente que "não prestava",
criaturas marginalizadas que serviam de inspiração às
letras das músicas de Lou Reed (cantor de rock americano):
drogados, sadomasoquistas, assaltantes mirins, travestis,
prostitutos adolescentes, suicidas, sonhadores, enfim,
estrelinhas cadentes de certa barra pesada de Nova Iorque,
gentinha com a irresistível (para a época) aura de
santidade maldita.[11]


Nos Estados Unidos dos anos 70, o termo se espalhou nos postes, em
cartazes que anunciavam que "Punk vem ai!", na verdade uma revista que
passou a divulgar o que estava acontecendo nos points de Nova Iorque
(CBGB'S; MAX'S KANSAS CITY)[12], espalhando esta palavra mágica e
subversiva para o mundo, já que também na época se usava esta palavra em
seriados de TV, como Kojak, para chamar os bandidos insignificantes, ou os
professores para ralhar com os alunos imprestáveis. "Tudo o que a maioria
hipócrita considerava errado era Punk".[13]


Se procurarmos, nos dicionários de língua inglesa, encontraremos
uma gama de significados para a palavra. Desde "madeira usada para acender
facilmente um fogo", até "vagabundo de pouca idade".
Embora até o momento não se têm um conceito definitivo para esse
verbete, Ferreira (2006), de forma dicionária diz que punk é "indivíduo em
geral jovem, rebelde e contestador, que adota diversos sinais exteriores de
provocação, por completo desprezo aos valores estabelecidos pela
sociedade".[14]


Apesar de muitas caras, o Punk registrado, em sua maioria, pelos
livros e jornais desde o seu surgimento e suas diferentes mutações possui
semelhanças históricas, sociais, políticas e culturais que vamos considerar
como elementos para a posterior análise das matérias jornalísticas,
objetivo de conhecimento deste trabalho.


Neste trabalho o indefinido termo punk será entendido e usado como
um movimento social de natureza internacional, que a respeito de suas
origens e diferente mutações nacionais, tal e qual os demais movimentos
sócio-culturais contemporâneos (feminista, estudantil, negro, indígena,
gay, hippie, rock etc.) possui semelhanças históricas, sociais, políticas e
culturais.




2. Do contexto

Para fazer o óbvio ulular, começamos esta contextualização do
movimento punk dizendo que ele não surgiu do nada, ou, dito de outra forma,
que não surgiu independentemente de espaço social e histórico específico.
Lidamos aqui, portanto, com uma investigação de uma expressão do ser social
numa situação histórica particular. Justifica-se assim a necessidade de uma
investigação do punk numa situação histórica particular, determinada.


Não queremos dizer com isso que os indivíduos, sejam de qual época
for, compreendem com clareza sua situação social e que têm sempre a exata
consciência dos seus papéis que dela decorrem. Tampouco afirmaríamos que os
indivíduos são meros produtos de sua época.


Sobre estas observações preliminares, Plekhanov (1990), nos diz
que:


os homens fazem sua história, não para marchar, em
absoluto, por um caminho de progresso traçado de antemão,
nem porque devam submeter-se às leis de uma evolução
abstrata. Os homens fazem a sua história procurando
atender suas necessidades. Evidentemente, estas
necessidades são determinadas em sua origem pela
natureza; logo, porém, transformam-se de modo
considerável, quantitativa e qualitativamente, por
influência do meio social. As forças produtivas que os
homens têm à sua disposição condicionam todas as suas
relações sociais.[15]


Junto às primeiras manifestações conscientes dos punks, surgiram os
primeiros rivais do processo de globalização do capitalismo. A União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas agonizava, afogada em suas próprias
contradições, estendendo sua irreversível crise aos países do leste
europeu. Começava o fim de tudo: do trabalho para toda a vida, das utopias
e da história.


No centro da incipiente Aldeia Global – América anglo-saxônica e
Europa Ocidental – procurava-se meios de controle social para a
concretização das medidas neo-liberais extremamente concentradora de
riquezas e poder das classes proprietárias e ao mesmo tempo e da mesma
forma, excludente com as classes de trabalho.


Nesse sentido observa Ximenes[16] (2001),


Inaugurava-se na Inglaterra e nos EUA, o modelo
neoliberal, decorrente da falência do Estado de bem-
estar. Segundo seu ideário. Era preciso diminuir gastos,
privatizar estatais, cortar o quadro de funcionários,
encurtar o poder de intervenção do Estado sobre as leis
do mercado.
Por outro lado, o mundo Ocidental encontrava-se
mergulhado em uma de suas maiores crises, fruto de um
aumento abusivo no preço do barril do petróleo decretado
pela OPEP. Portanto, os países do Ocidente sofriam com o
crescimento do desemprego, da violência, da prostituição
e da falta de perspectiva.
No campo cultural, os astros que restaram da
contracultura estavam todos acomodados em seus luxuosos
castelos, comprados com os dólares da indústria cultural.


Como vimos, o mundo nos anos 70 estava dando uma guinada total para
um conservadorismo, uma não extremo-direita, ou uma espécie de ressaca
histórica dos anos 60 cheios de esperanças, sonhos, utopias, ingenuidades.
Segundo Lennon[17] (1980):


[...] os anos 70 foram terríveis, todo mundo se
maquilando e dançando na discoteca. A coisa que os anos
60 fizeram foi nos mostrar as responsabilidades e as
possibilidades que todos nós tínhamos. E nos anos 70
todos fizeram nhá, nhá, nhá, mas eu não negos os anos 70,
apesar de ter sido um tipo de moda. Apenas o sonho
acabou.


O sonho acabou e o pesadelo começava com os anos 80. A
contracultura completamente absorvida pela indústria cultural, os
movimentos sociais diluídos, a ideia de uma revolução jovem desconstruída.
O establishment gloriava-se de sua hegemonia capitalista. No entanto, os
paradoxos da realidade logo de manifestaram e o pesadelo deixou de ser só
das classes proletária e média. Os donos do poder global se viram frente a
frente, na então apática arena da história, com novos bandos, semelhantes
àqueles que proliferaram no imediato do pós-guerra. Sem propor nenhuma
transformação social, mas almejando a destruição da sociedade com seus
valores nacionais e suas verdades absolutas, eis em cena, nas ruas, nos
palcos alternativos, saídos do subterrâneo, entre outros, os punks.




3. Precursores

Não seria exagero de nossa parte supor que as raízes primeiras do
movimento punk estejam na Inglaterra, em princípio do século XIX, mais
precisamente nos chamados "destruidores de máquinas" ou "Luddistas". Sobre
este movimento, que também pode ser considerado berço do movimento
operário, Ferrer (1998), observa que:


Tudo começou em 12 de abril de 1811. À noite, trezentos e
cinquenta homens, mulheres e crianças investiram contra
uma fábrica de tecidos de Nottingramshire, destruindo os
teares com golpes de maça e incendiando as instalações. A
fábrica pertencia a William Cartwright, que era naqueles
anos um cogumelo novo na paisagem que se distinguia do
habitual trabalho realizado em pequenas oficinas. Logo em
seguida se deslocaram até os condados de Derby,
Lancashire e York, então coração da Inglaterra, centro
gravitacional da Revolução Industrial. Durante dois anos
foram perseguidos por um exército de dez mil soldados,
número superior ao que Wellington comandava quando
iniciou sua campanha contra Napoleão a partir de
Portugal.[18]



Reforçam nossa aludida suposição dois aspectos: primeiro por
considerarmos no campo político o Punk como nascido no ceio da classe
operária moderna. Segundo, pelas características da ação política dos
ludistas. Para ilustrar tal afirmação, recorremos novamente a Ferrer, que
nos diz:


Os Ludditas destacaram-se na arte de pichações de paredes
e na composição de canções de guerra, que chamavam hinos.
Num dos poucos resgatados é possível ainda escutar: "Ela
tem um braço/ E mesmo só tendo um/ Há magia neste único
braço/ Que crucifica milhões/ Destruímos o Rei Vapor, o
Selvagem moloch". E em outra: "Noite após noite, quando
tudo estiver calmo/ E a lua já tiver ultrapassado a
colina / Marcharemos para realizar nossa vontade/ Com
machado, foice e fuzil/ Em frente, bravos homens, com
machado, foice e fuzil". [19]




Para comprovar que não se trata de vaga suposição, a letra de
Anarchy in the U. K., primeiro sucesso da banda punk Sex Pistols, comparada
às canções ludditas não deixa nenhuma duvida sobre os "destruidores de
máquinas", como antecedentes primeiros dos punks:


Eu sou um anticristo
Eu sou um anarquista
Não sei o que quero
Mas sei como chegar lá
Eu quero destruir quem passa por mim
Porque eu quero ser anarquia – e não um cão
Eu quero ser anarquia – entenda o que eu digo
Porque quero ser um anarquista – me defender e destruir.
[20]




Pela alusão ao anarquismo contida no citado trecho da letra dos Sex
Pistols, não é também simples exercício de imaginação afirmar que o segundo
pilar histórico, que diz respeito à origem do Punk foi o socialismo e,
dentro deste, o Anarquismo. Esta corrente do socialismo internacional, ou
seja, as ideias anarquistas de seus principais teóricos nortearam o modo de
vida agressivo dos indivíduos, gangs e pequenas organizações juvenis, que
começaram, então, a organizar jovens de várias partes do mundo, para travar
uma espécie de guerrilha urbana contra o sistema, que tinha nas atitudes,
no som e nas ideias anarquistas suas armas. Sobre o Anarquismo, Passeti
(1999) é quem dá o tom:


[...] O Anarquismo é um movimento social, uma forma de
pensar criticamente a sociedade, um governo de si pautado
na liberdade dos indivíduos que dispensa a entitade
estatal. Expressa a verdade das sociedades sem soberanos;
não pretende uma sociedade única, mas uma miríade de
sociedades. Volta-se contra o poder centralizado, esteja
ele na família, na escola, no Estado. Para ele é
insuportável tolerar prisões, manicômios, internatos de
qualquer gênero. Por isso estimula todas as experiências
que potencializam a liberdade e reduzem os exercícios de
autoridade.[21]
Nesse sentido, a partir dos anos 80, os punks do mundo inteiro,
unidos ou não, passaram a se assumir anarquistas, surgindo assim a
denominação anarco-punk. Tal influência trouxe varias mudanças políticas,
filosóficas e comportamentais ao movimento punk, apesar de lutar pela causa
anarquista a sua maneira.


Na busca histórica que empreendemos aqui, chegamos de um salto aos
anos 50 do século XX e lá encontramos a Geração Beat como outro
acontecimento, desta feita de natureza cultural, que pode, sem sombra de
dúvida, ser considerada como precursor do Punk.


Alguém menos desavisado poderia nos questionar sobre em que os
beats, um grupo de intelectuais burgueses, universitários, que buscavam
transmitir em sua arte literária a ideia de beatitude, isto é, purificação
do espírito, ser agendado como um movimento precursor do Punk.
Responderíamos que, preconceitos à parte, os beatniks ou a Beat Generation,
para começo de conversa, assim como o Punk: (Brandão e Duarte, 1990).


Não designa um movimento organizado em torno de um
programa de objetivos preestabelecidos, mas referem-se a
escritores (Kerouac, Borroughs, Ginsberg, Ferlinghetti,
Corso, Snyder entre outros) que, varavam a América, de
ponta a ponta, nos anos 50. Tinham um estilo de vida
desregrado, aproveitando-se da opulência material do
american way of life. [...] Ser beat significava,
portanto, ausência de normas na vida e na arte e também a
busca de um envolvimento profundo que traz arte,
liberdade e prazer, na procura da realidade marginal das
minorias raciais e culturais da sociedade americana. [22]


No entanto, a grande influência da Geração Beat, assim como a todos
os movimentos jovens de contestação, a partir da década de 50, foi o fato
observado por Cook (2002):


Antes da parição dos beats não havia, nos jovens da
época, qualquer relação entre seus mundos e suas mentes.
Essa relação entre drogas, comportamentos e criação, pelo
menos na modernidade ocidental foi inaugurada por
Borroughs e sua turma. Eles foram os primeiros a usar e
escrever sobre drogas. Depois deles, álcool, maconha,
heroína, LSD, e substâncias afins passaram a embalar
intimamente a criação artística posterior e negar essa
relação é tão ingênuo quanto ainda acreditar que o sol
gira ao redor da terra.[23]


Para confirmar de vez a descendência direta do Punk da Geração
Beat, temos em Mcneil e Mcgain (1997), que:
[...] Sabe, tem um trecho maravilhoso, em Junky de
Borroughs, em que Willian e Roy estão roubando os bêbados
no metrô e há dois jovens por perto. Eles passam e dizem
um monte de ofensas pra Roy, e Roy diz: "Punks fedidos
acham que é engraçado. Não vão achar tanta graça quando
estiverem cumprindo cinco-vinte-e-nove na ilha![24]


Saindo dos beats, adentramos, então, na Geração Beatles - Rolling
Stones, isto é, nos famosos anos 60. Encontramos aqui uma séria de novos
movimentos sociais, quase todos juvenis e de transformação social. Estamos
falando é óbvio dos movimentos estudantil, rock, hippie, negro, gay e
outros mais. Vemos que se "há muito são os jovens que adoecem"[25], são os
jovens que, também, há muito contestam, rebelam-se e revolucionam o mundo.
É a época da Contracultura, que se caracterizou segundo Marcuse (1966) por
um forte sentimento de revolta:


É revolta contra os falsos pais, falsos professores,
falsos heróis [...] a revolta interna contra a própria
pátria parece sobretudo impulsiva, suas metas difíceis de
definir: náusea causada pelo "sistema de vida", revolta
como uma questão de higiene física e mental. O corpo
contra a "máquina" - não contra o mecanismo construído
para tornar a vida mais segura e benigna, para atenuar a
crueldade da natureza, mas contra a máquina que sobrepujou
o mecanismo: a máquina política, a máquina dos grandes
negócios, a máquina cultural e educacional que fundiu
benesses e maldiçoes num todo racional [...] [26]


Para encerrarmos este tópico ressaltamos que sem existência
histórica desses movimentos brevemente historiados não seria possível o
surgimento do Punk na década de 70.


4. Das origens


A origem do punk é bastante polêmica. Há os que afirmam ser a
Inglaterra o berço da "podridão". Outros dizem ser os Estados Unidos. Em
outro aspecto, há aqueles que consideravam determinados grupos renovadores
do rock como expressão primeira da, então, nova expressão de revolta social
juvenil. Outros dizem que tais bandas apenas canalizaram a agressividade e
a beleza rústica da juventude operária anglo-saxônica, que naquele momento,
após décadas de excessos materiais e de sonhos de progresso permanente,
vivenciava na carne mais uma das cíclicas crises do Capitalismo:
concentração versus exclusão em massa.
Na Inglaterra ou nos Estados Unidos da América, o clima social de
desemprego, pobreza, violência e de falta de expectativas a todos os
prazos, vai ser, em ultima instância, a falta determinante, gerador do modo
de vida punk. A feiúra da realidade social vai expressar na década de 70, a
estética Punk, que é como o poder estabelecido passou a tratar o modo de
vestir, de ser e de compor das bandas de jovens proletários: repelentes,
horrorosos, grotescos, imundos, repugnantes e incompetentes. É por via de
um estilo todo próprio que os punks, saídos das periferias europeias e
norte-americanas, invadem e conquistam espaços urbanos centrais, mostrando
através da imagem pessoal e de expressões artísticas próprias a condição
social do meio em que vivem.


Voltando à questão da polêmica origem do Punk, membros da
comunidade Goulai Polé, coletivo paulista da tendência anarco-punk, assim
se expressam:


Acreditamos que não se pode determinar a origem geográfica
do Punk. Surgiram, no início da década de 1970, grupos de
jovens que já podem ser identificados como punks em
localidades diferentes, tanto no Reino Unido como nos EUA.
Se não há um fato ou registro que determine data ou local
de seu nascimento, tampouco se pode utilizar como marco a
criação de uma banda ou zine.[27]


Polêmicas à parte, assim como nos anos 50 o rock-roll e nos anos
60, o rock foram os principais elementos de renovação cultural de
aglutinação dos jovens insubmissos e transgressores, na segunda metade da
década de 70 o punk-rock cumpriu este papel. A partir de 1975 começaram a
surgir diversas bandas na periferia dos grandes centros urbanos do Primeiro
Mundo que assumiram as feições Punks, rompendo com o fazer artístico
vigente. Ao invés de domínios técnicos acessíveis a virtuoses, foi
concedida a qualquer um a possibilidade da criação artística. Nada de apuro
técnico, de estética elaborada, mas, sim, espelhar o cotidiano de
violência, repressão policial, desemprego e coisas parecidas, uma espécie
de estética de existência.


Ainda que a cultura punk não tenha se limitado à música, foi
através do rock que os jovens canalizaram toda a indignação e insatisfação
à sociedade. A partir do contexto com grupos de pares em clubes onde se
apresentavam bandas desconhecidas, mas com um som peculiar, visceral, vai
se formando uma realidade nova, unindo arte e vida.


Nesse sentido não há como discordar da importância de duas bandas
punks: Sex Pistols no Reino Unido e Ramones, nos E. U. A., as quais, diga-
se de passagem, são as primeiras bandas de punk-rock, primazia que pode ser
concedida aos grupos Dictadors, Stooges, New York Dolls, Siouxsie & The
Banshees e Buzzcoks.


Os Sex Pistols e os Ramones, de fato, abalaram novamente as
estruturas das conservadoras sociedades que os produziram e promoveram uma
nova revolução musical, o punk-rock. Com uma estética fortemente agressiva,
passaram a levar pequenas multidões aos seus shows, tão exóticos quanto
eles próprios, ao ponto que as pessoas comuns evitavam a todo custo os
encontrar. Observa Corrêa (1989), a este respeito:


Quem não é afeito ao rock, dificilmente poderia suportar
as características realmente grosseiras de um punk [..]
mas ele não poderia ter outra atitude.[...] surgido no
bojo de uma realidade cruel, tornou-se fiel a imagem de
'rato de porão'.[28]


Os clubes onde as bandas se apresentavam transformavam-se em
espécies de templo, ou melhor, anti-templos para aqueles bandos de jovens
caracterizados da cabeça aos pés. Esses locais retornaram em "lócus"
fundador da identidade cultural punk.


Em 1977 o punk já se constituía em um novo movimento social.
Segundo Warren[29] (1993), a designação "novo" aplicada a determinados
movimentos sociais aponta em duas direções: na primeira, explicita-se o
agir político fora dos espaços instituídos (partidos e sindicatos). Na
segunda, uma nova visualização da sociedade civil: ativa, palco de práticas
associativas e de lutas.


De qualquer forma, o punk-rock renovou a música mundial, trazendo
de volta a energia que estava faltando ao rock, além de servir de
referência para uma juventude se mostrar como condição social.


Na opinião de Caiafa (1985), o rock tem esse poder renovador
especialmente por seu caráter estrangeiro.


Ele passa por muitos lugares, vindo de longe, ele entra em
contrato com os ritmos autóctones, transformando-os, de
toda forma modificando um equilíbrio anterior, inoculando
sempre um estrangeirismo numa suposta genuinidade
original. Música que pode ser ouvida nos mais diferentes
cantos do mundo e entendida, sentida, desejada – uma
prodigiosa gíria universal. Marcadamente jovem, e uma
cultura que articula esta língua jovem, intencionalmente.
Assim, em seu percurso, o rock é quase sem origem, ele
funciona mais como um hino mesmo de jovens, música do
planeta Terra. Com isso o rock tem, de princípio, uma
função política: ao impor essa estranheza em qualquer
lugar. No entanto, essa potencialidade natural do rock
pode de diluir por uma situação de comércio e
capitalização, banalizando-o, fazendo dele mera marca
vendável, moda, onda. [30]


Segundo Morin[31] (1986), isto ocorre por que o punk é cultura
jovem criada no interior da cultura de massas e, por isso, da indústria
cultural. Mas, por outro lado, estimula o surgimento de uma situação
ambivalente de integração e desintegração.


[...] Uma estrutura ambivalente condiz, por um lado, ao
consumo estético-lúdico e à fruição individualista da
civilização burguesa; mas, ela não contém, ao mesmo tempo,
as ferramentas de uma adesão a este mundo adulto que traem
o tédio burocrático, a mentira, a morte.

































CAPÍTULO II


2. Cultura Punk


2.1 Preliminares

A cultura punk se insere no bojo da cultura juvenil global, noção
surgida nos anos 50, q agrega todas as tendências comportamentais de
rebeldia, expressas principalmente através de manifestações artísticas
(literatura, música, cinema etc.), portanto, partilhada pelos diferentes
grupos que formam a juventude.


Segundo Hobsbawm[32], esta cultura acrescenta três importantes
aspectos. Primeiramente, a juventude deixa de ser um adulto em potencial e
passa a ser vista etapa plena do desenvolvimento humano. Em segundo, ela se
configura determinante no mercado cultural, desenvolvido, pelo poder de
compra constituído basicamente por jovens de diferentes classes sociais e
por último, consequência direta dos dois primeiros aspectos ela rompe
fronteiras e se torna internacionalista, em termos urbanos.


A referida globalização da cultura jovem nos centros urbanos do
mundo inteiro, inclusive em Fortaleza (ver cap. III), ocorrem ao longo dos
últimos cinquenta anos pelos mais diversos meios:


Difundiam-se através dos discos e depois fitas, cujo o
grande veículo de promoção, então como antes e depois,
era o velho rádio. Difundiam-se através da distribuição
mundial de imagens através dos contatos internacionais do
turismo juvenil, que distribuíam pequenos mas crescentes
fluxos de rapazes e moças de jeans por todo o globo;
através da rede mundial de universidades, cuja a
capacidade de rápida comunicação internacional se tornou
óbvia na década de 1960. Difundiam-se ainda pela força da
moda na sociedade de consumo que agora chegava às massas,
ampliada pela pressão dos grupos de seus pares.


Duas décadas após ter se originado, ou seja, no começo dos anos de
1970, a cultura jovem começava a dar sinais de enfraquecimento em duas
direções: na capacidade de consumir e no caráter contestatório. A primeira
encontrava sua razão de ser na profunda crise do capitalismo, que se abatem
principalmente sobre as periferias, expressa em desemprego e empobrecimento
externo, cujo setor etário mais afetado era a população jovem. (ver cap.I);
e a segunda, que mais interessa ao objeto de estudo deste capítulo,
supostamente se explicava pelo controle da contracultura via indústria
cultural, particularmente da indústria fonográfica:


Afinal, tratava-se de um grande negócio, refletido no
impressionante crescimento da indústria fonográfica,
justamente na década que marcou a decadência do rock como
forma de expressão. Já em 1972, 2 bilhões de dólares em
discos e fitas eram vendidos nos Estados Unidos: 3,3
bilhões no mundo inteiro. E a indústria chegou ao final
da década com um faturamento de 4 bilhões – em dólar por
habitante do planta gasto em discos só nos Estados
Unidos.[33]


A inconciliável contradição entre crise econômica profunda e
números astronômicos de consumo é apenas aparente. Na realidade, a
contracultura assimilada pelo sistema, já não se voltava mais para o
público jovem e se tornou objeto de consumo de outros segmentos sociais,
especialmente dos setores dominante, para quem não existe crise econômica.


Foi justo nesse momento histórico em que as manifestações culturais
jovens suavizaram o seu ímpeto rebelde, contestatório e os grandes nomes,
principalmente do mundo do Rock, tornavam-se monstros sagrados e como tal,
voltavam-se para os espetáculos gigantescos e esbanjavam fortunas, que a
reação juvenil se fez e se fez pelo o nome de punk, buscando o resgate da
contestação ao estabelecido, da busca do novo ao invés da novidade, do
confronto da realidade pela realidade o invés de fugas místicas,
consciência cósmica, romantismo adocicado e manifestações épicas:


Em meados dos anos setenta [...] as grandes bandas de
rock estavam praticamente estagnadas em suas fórmulas
musicais e não surgiam novas bandas com propostas
renovadoras; apenas se limitavam a reprodução destas
outras [...] Quanto ao público, este sentia o
distanciamento cada vez maior da essência do rock'n'roll:
o conteúdo destas bandas já não mais se identificava com
os jovens, tanto de classe média (sendo que parte desta
já em vias de proletarização) como os de classe
popular.[34]


Mas, o que apresentava de novo, de diferente o punk, para que se
possa falar efetivamente de uma cultura punk? Quais são as características
dessa cultura? O que singulariza a sua estética?


Para se responder a tais questionamentos, necessário se faz
recorrer a recursos metodológicos, como por exemplo, o método
indiciário[35], pelo qual pequenos detalhes e pequenas pistas são grandes
demais para o pesquisador reconstruir uma determinada realidade histórica,
seus sujeitos, suas relações e suas culturas.


A opção pelo método ginzburgiano, deu-se em virtude de aspectos
obscuros, sobretudo relativos aos primeiros tempos da história do punk
(1973-1980), quando o sistema capitalista crente de que a energia rebelde e
contestatória do rock havia sido absolutamente controlada, viu-se frente a
frente com uma nova forma de contestação e rebeldia juvenil. E a primeira
reação, surgida pelo próprio nome punk, foi considerá-la algo tosco,
grosseiro, de extremo mau-gosto e incompetência idem.


Esta reação se deu pela avassaladora fúria que provinda daquela
nova expressão roqueira, violência sonora ímpar, reflexo puro da sua
existência e que se multiplicava em uma velocidade estonteante. Não é
preciso dizer que o tiro dado pelo sistema saiu pela culatra, apesar de que
ainda hoje ainda se tem a falsa ideia de que o rock punk consiste apenas em
três notas em acordes distorcidos e frenéticos, portanto, pobre em
musicalidade e que artistas e plateia punks não passam de "pequenos
espíritos malignos com cabelos pintados de vermelho cintilante e rostos
brancos, cheio de correntes e coisas trincadas na cabeça [...][36]


Esta foi de fato a tentativa mais contundente do sistema para
abortar aquilo que se fortificaria e se transformaria no movimento punk, ou
seja, a batalha pelo controle do imaginário popular jovem para recria-lo
dentro dos valores conservadores:


A elaboração de um imaginário é parte integrante e
legítima de qualquer ser social. É por meio do imaginário
que se podem atingir não só a cabeça mas, de modo
especial, o coração, isto é, as aspirações, os medos e as
esperanças. É nele que as sociedades definem suas
identidades e objetivos, definem seus inimigos, organizam
seu passado, presente e futuro.[37]


Na esteira desse pensamento, pode-se dizer que a manipulação do
imaginário popular assume importância sem igual em momentos de redefinição
de identidades coletivas, isto é, momentos de mudança não só política e
social, mas também cultural. Diga-se de passagem, quando esse intento não é
alcançado, como no caso do movimento e da cultura punk, o sistema apela par
anovas armas, das quais uma delas pode ser sintetizada em "quando não se
pode com o inimigo, junta-se a ele".[38] Desnecessário dizer que o efeito
desta feita foi devastador para descaracterizar o teor anarco-
revolucionário do punk ao longo dos anos de 1980, repetindo-se o mesmo que
aconteceu com os movimentos contra-culturais que o antecederam.


A tarefa que se propõe a partir de agora é analisar mais a fundo as
principais características da cultura punk, como por exemplo, sua arte, sua
ideologia, seus símbolos, sua moda e seu modo de vida.



2.2 A música


A música punk é o punk-rock, composta e executada por conjuntos de
baixo, guitarra e bateria, tocados por jovens maltrapilhos e dementes, de
cabelos espetados e alfinetes traspassando a pele e correntes nos pulsos e
pescoço. Segundo a crítica burguesa e mesmo para a maioria dos críticos
simpatizantes, uma música composta e tocada por jovens analfabetos em
música e que, quando muito, conheciam os acordes de lá, mi e sol maior.
Essa suposta incompetência instrumental, vocal e o comportamento indecente
viraram mito em torno do punk-rock:


De um lado, Dee Dee, michê, traficante e viciado. De
outro, Joey, com passagens por hospitais psiquiátricos.
Em comum, a vontade de montar uma banda. O primeiro
pegou, canhestramente, um baixo. A guitarra ficou com um
amigo dos dois, Johnny. Joey tentou tocar bateria e não
conseguiu, passando a tarefa para o agregado Tommy. Os
quatro tentaram ensaiar canções conhecidas e que não
fossem muito difíceis. Mais fracasso. Então começaram a
compor algo que conseguissem tocar. [...] A guitarra era
uma sujeira só. [...] As canções, de três acordes,
pareciam um tosco resumo da história do pop radiofônico –
Beach Boys, Motown, bubblegum.[...] As músicas pareciam
uma só e começavam com o baixista gritando 'one, two,
three, four', como para que a banda não saísse do
andamento. E os shows duravam no máximo20 minutos, porque
os músicos só sabiam tocar oito canções.[39]


Por incrível que pareça Essinger se refere, nada mais nada menos à
banda norte-americana Ramones e à gravação do seu primeiro álbum (LP
Ramones, 1976), ambos ícones da iconoclastia punk. Este disco foi na última
virada de milênio incluído entre os cem mais importantes da história geral
do rock.


O fato do punk-rock ser o mais básico possível, principalmente se
comparado às demais correntes do rock nos anos 70 – rock progressivo, heavy
metal, rock-roll etc., que tornaram o rock em um ritmo pasteurizado,
burocrático e sofisticado ao extremo, não significa que fosse um rock de
quinta categoria, pois "riqueza de recursos e domínio técnico não
representam, por si, positividade criativa".[40]


Admitindo-se que o punk fosse uma música composta e executada em
apensas três notas e de duração de três minutos, o que é verdade de modo
geral, mas por razão da incompetência e do desleixo dos seus músicos, não
seria absurdo supor que as bandas de punk-rock teriam sido todas, bandas de
um disco só. Com raras exceções, das quais o exemplo mais famoso é o grupo
Sex pistols e por razões outras e não por essas aqui questionadas, todas as
bandas punks famosas – Ramones, The Clash, Buzzoocks, The Jam, Siouxsie and
the Banchees entre outras, foram grandiosas em termos quantitativo e
qualitativo, em sua produção musical.


Polêmicas à parte, a música punk ou o estilo punk-rock tradicional,
ao longo de sua curta história, ou seja, de sua origem aos dias atuais, tem
apresentado variações, que apesar de manter certas características sonoras,
possuem uma identidade própria como o hardcore, oil, grindcore etc. Isto
sem falar da influência direta em outros estilos; ska punk, reggae punk
entre outros e do punk-rock nacional e regional, por exemplo, o punk-rock
brasileiro, cearense etc. (ver cap.III).[41]


Sobre esta variação da música punk, Damasceno (2004, p.198),
observa que:


[...] a música se alterou numa reação à apropriação
operada pela indústria fonográfica, identificada por
eles, como parte do sistema contra o qual lutavam e
lutam, e como já havia ocorrido antes, assumiu uma
perspectiva ainda mais radical de manifestação musical,
no sentido de evitar a apropriação e manter a estilização
do gosto que lhe era peculiar e comum.[42]


Acerca de uma dessas variações, no caso o hardcore:


As bandas fazem um som mais rápido ainda, as músicas
duram segundos. Cada vez mais hard. Esses punks já são
contra aquele primeiro som que se fazia em 77,
considerado antigo e já superado. O hardcore enxugou o
rock de qualquer harmonia, tirou toda a música.[43]


A música, assim como as demais manifestações artísticas punk-
literatura, moda, etc., é norteada pelo princípio do faça você mesmo, uma
forma de repúdio à cultura vigente, inclusive à contracultura como um todo.


Tal paradigma servia para romper "com o ideário de que o "fazer
arte" necessitava obrigatoriamente de domínios técnicos acessíveis a poucos
virtuoses [...] permitindo a qualquer um a possibilidade de criação
artística".[44] Na verdade, em fins dos anos de 1970, a arte punk,
particularmente a música revelou que a maneira de se fazer as coisas
importava mais do que a coisa feita.


Enfim, como disse Steve Jones, um dos Sex Pistols "não lidamos com
música, lidamos com caos".[45] Mas nem por isso, afirma Johnny Rotten,
outro Sex Pistols, "a música deve ser deprimente. Se o tema é a estagnação,
a música deve apontar saídas".[46] Ambas citações, demonstram claramente
que a música punk não é coisa feita assim, de qualquer jeito, conforme
interpretada equivocada e propositalmente pela a crítica especializada.


2.3 Literatura


Na análise que se pretende aqui sobre literatura punk, porta-se-á
tão somente aos tipos de literatura produzida pelos próprios membros desse
segmento juvenil. Isto significa que não faz parte do objeto de estudo a
literatura produzida sobre o movimento punk, que hoje possui um acervo
considerável, tanto no mundo acadêmico quanto no mundo do entretenimento
cultural.


Assim, apresenta-se nas próximas linhas breves considerações sobre
fanzine, letras, títulos das bandas e frases de efeito, próprios da cultura
punk.




2.3.1 Fanzine


O termo fanzine é uma aglutinação da expressão inglesa "fanatic
magazine", formado pela junção da primeira sílaba de fanatic e as duas
últimas da segunda palavra, sílabas estas que servem também para designar
costumeiramente esse tipo de publicação gráfica.


Pelo próprio termo, fanzine ou zine, percebe-se que de um modo
geral que é uma publicação feita por fãs, e que pode ser definida como
"revista do fã".


Em termos de conteúdo o fanzine é constituído de textos,
informações sobre bandas e shows punks, HQs, poesia, colagem etc.


Sobre a origem do fanzine, sem grandes discordâncias:


Zineiros de carteirinha afirmam sem pestanejar, que o
fanzine surgiu no final da década de 70, junto com o
movimento punk na Inglaterra. Nada mais justo do que uma
publicação independente, que preza pela liberdade de
expressão e a anarquia de conteúdo, tenha sido incubada
naquele que, no início, foi o mais independente,
anárquico e anti-qualquer coisa dos movimentos culturais
juvenis do século XX".[47]


Por mais anárquica que seja a cultura punk do zine, vale ressaltar
que cada zine tem suas equipes editoriais bem definidas: editores,
colaboradores etc, que encontram um espaço gráfico para a criação e
divulgação de ideias e ideais punks.


Tudo que não é possível fazer nos meios de comunicação
tradicionais, principalmente na grande imprensa é possível se fazer nas
páginas de um fanzine. Além desta característica, outras como pequenas
tiragens mimeografadas, vida efêmera, inexistência de uma periodicidade
fixa de publicação, diferenças de números de páginas a cada edição, a
publicação prazeirosa sem visar lucros, distribuição gratuita são outras
singularidades dos zines.
Retornando à questão da origem histórica do fanzine, em consonância
com o que já foi aludido neste tópico, lê-se em Essinger que:


A primazia foi de um entediado bancário inglês chamado
Mark Perry. Impressionado pelo exemplo de anarquia dos
Sex Pistols, ele sentiu a necessidade de passar sua
experiência para o pael, mas não achava quem pudesse
publicar seus textos sobre bandas desconhecidas. Daí ele
teve a ideia de fazer um fanzine (contração de fan e
magazine, revista), informativo sobre o qual pudesse ter
ocntrole editorial, a fim de atingir aquele novo povo
roqueiro. O nome – Sniffin' Glue (Cheirando Cola) – foi
tirado de uma canção do primeiro disco dos Ramones.[48]


O primeiro dos fanzines é assim descrito em termos gráficos: "Com
letras escritas à mão e fotos coladas de qualquer maneira, o Sniffin' Glue
circulava em cópias erocadas e destoava completamente da imprensa
alterantiva de rock que havia nos anos 60 – era deliberadamente tosco".[49]


A origem inglesa do fanzine, tal e qual a origem do punk como um
todo é contestada pelos anglo-americanos. Os que defendem esse ponto de
vista dão primazia à revista americana cujo título "punk" deu nome ao
movimento. (ver cap.I), Legs Mcneil em parceria com John Holmstron.


Assim surgia a mídia punk, primeiro com uma revista que
seria quase um fanzine – a punk, e, quase
simultaneamente, também com o que é considerado o
primeiro fanzine punk – o Snnifin'glue. A novidade era a
constituição de um tipo de mídia barata, feita de forma
artesanal.[50]


Como se percebe, desde a origem, o fanzine é produzido em completa
consonância com os princípios punks do-it-yourself (faça você mesmo) e no
future (não futuro), este expresso na pouca duração, como é o caso do
"cheirando cola" que chegou somente a doze números. Se, como foi visto no
subitem música deste trabalho, para fazer punk-rock era necessário apenas
uma guitarra, um baixo e uma bateria e saber apenas três acordes, para se
fazer um fanzine não era preciso mais do que caneta, fotos para colagem,
criatividade e dinheiro para fotocopiar. Desnecessário se torna dizer que
assim como todo punk, o fanzine abstrou-se pelo o mundo, encontrando no
Brasil um terreno fértil à sua prática (ver em anexo relação de títulos dos
principais fanzines internacionais, brasileiros e cearenses). E tanto lá
como cá o fanzine tornou-se porta-voz dos diversos movimentos jovens
contemporâneos: Hip hop, Skin head, Thrasher, Rochabillies, Darks etc.




2.3.2 Letras, nomes de bandas, frases de efeito etc.


Por não se querer entrar na histórica polêmica dos críticos
literários acerca da distinção entre poesia e letra musical é que se
intitulou o presente tópico de letras para se referir à poética punk.


Os versos das canções punks são diretos, nus e crus, o que não
significa isentos de elementos poéticos. A rude poética dessa juventude
dita transviada é assim para servir de suporte ao poderoso riff dos
distorcidos acordes das guitarras, poética iconoclasta como ainda não se
havia lido e cantado antes e mais ainda para transmitir a mensagem punk,
sempre coerente com seus princípios.


Nesse sentido é emblemática a letra seguinte acerca do repúdio punk
ao pretenso culturalismo oriental dos hippies, dos Beatles e Rolling
Stones, tão em voga na época:


Viagem conosco no Expresso Oriente
Venha conhecer as maravilhas das arábias
onde as crianças brincam no front
o melhor brinquedo são as armas importadas
Veja este exemplo de fé e devoção
soldados do Irã e do Iraque
marchando direto pro caixão
conheça de perto as lindas ruínas do Líbano
Bronzeie-se no Saara às margens do Nilo
Viajando no expresso oriente
conheça um pouco da cultura palestina
se hospedando nos campos de Saalua e Chatila
onde o chão amanheceu coberto de corpos
a triste lembrança da noite dos mil mortos
num oásis do deserto um show pra você
com dançarinas árabes que desconhecem o prazer
na despedida o coral de mutilados da Santa Guerra
cantará uma canção chamada paz na Terra
Viajando no Expresso Oriente".[51]


Recursos poéticos como o uso da negação através da afirmação, da
negatividade convertida em positividade, voltando-as contra a ordem social
exploradora e expressa são constantes nas letras punks, inclusive em um dos
seus hinos:


Deus salve a Rainha – e o regime fascista
Ele o tornou um imbecil – bomba H em potencial
Deus salve a rainha – Ela não é um ser humano
E não há futuro – nos sonhos da Inglaterra
Deus salve a Rainha – turistas são dinheiro
Nossa figura principal – não é o que parece ser
Deus salve a história – salve a parada louca
O Senhor tenha piedade – todos os crimes são pagos
Quando não há futuro, como pode haver pecado?
Nós somos as flores na lata de lixo
Nós somos o veneno na máquina
Nós somos o romance atrás da tela
Deus salve a Rainha – é sério, cara!
Nós amamos nossa Rainha – Deus salve.
Não há futuro, não há futuro para você.[52]


A respeito desta letra, observa Essinger: "God Save the Queen foi
uma última análise da Inglaterra executada com bisturi, a sangue-frio, com
uma poesia que não dispunha de meios-termos". [53]


As letras punks induzem a uma reflexão sobre a vida, o dia a dia
nas periferias urbanas, nos bairros pobres, aspecto que levou a radical-
chick crítica musical Ana Maria Bahiana, assumidamente anti-punk dizer que:


A maioria das letras punks é excepcionalmente boa,
algumas são brilhantes e de todo modo muito mais plugadas
no nosso tempo e lugar que as baboseiras romântico-
ecológicas que transitam por nosso rádio. Levantar
perguntas, mesmo sem respostas, já é um grande feito
nesses nossos tempos contentes. [...][54]
Nas palavras de Caiafa, "os temas das letras punks em todo o mundo
e inclusive aqui no Brasil são a exploração econômica, o desemprego, a
guerra, a violência, a corrupção do governo, a pobreza e o perigo pelas
ruas".[55]


Em completo acordo, afirma Abramo: "o centro do significado é a
própria ideia de autor, de fazer alguma coisa, mostrar-se ativo, afirmar
uma presença que expresse insatisfação e não aceitação do estado das
coisas".[56]


E quem comprova tudo isso é a banda Ratos de Porão:


Por quê?
Por que o sistema quer acabar com a gente?
Por que somos novos e nem tão inocentes
Estamos do lado dos pobres e dos carentes
Vivo e eles vão morrendo
Sobrevivo e eles vão apodrecendo
Por que o sistema quer acabar com a gente?
Só porque nós punks estamos colocando pra fora
O que a gente sente
Nada disso vai ajudar
Porque na verdade eles querem nos emburguesar.[57]


Nesta letra percebe-se que os punks possuem em sua poética um quê
de profecia, pois o que o último verso aborda realizou-se em relação aos
seus próprios autores e principalmente ao mentor da banda, João Podre,
alcunhado de gordo, o qual logo em seguida passou a ser presença frequente
nas MTV's da vida, pertencente a arqui-odiado sistema globo de comunicação.


Outro tema constante nas letras punks é a visão apocalíptica,
anunciadora do fim do mundo:


O mundo explodirá com ódio e ambição
E levará consigo mesmo toda a ilusão
E levará consigo mesmo toda a ilusão
Fim do mundo, fim do mundo, fim do mundo.[58]


Tudo o que foi dito até aqui aplica-se, sem tirar nem por, às
outras manifestações literárias punks, como os nomes das bandas e as frases
de efeito, estas geralmente grafitadas nos muros e paredes dos centros
urbanos e expressas nas camisetas.
Os nomes das bandas, constituídos por termos depreciativos,
expressões repletas de negatividade, como por exemplo, Germs, Ratos de
porão, Garotos podres, Restos de nada, indigente, Carne podre, nós
acorrentados do inferno, Condutores de Cadáver, lixomania, Descarga
suburbana, UK Subs, Dead Boys, denotam a busca e uma autocaracterização, um
desejo de assumir as origens, a situação sócio-econômica:


A construção da própria imagem com sinais negativos não
tem caráter auto-compungente nem de auto-aniquilação.
Pelo contrário, tem o intuito de produzir uam acusação,
por meio do espelhamento: a realidade é que é indigente,
a sociedade é que está podre..."[59]


Por outro lado ao se denominarem como grupos musicais tipo Sex
Pistols, Exploited, Dead Kennedys, Coquetel Molotov, Fogo Cruzado, Caos,
Paz Armada, Napalm Death revelam umaintenção de posicionamento político,
revolucionário, portanto, de rebeldia e agressividade através da música.


Quanto as frases de efeito – "Viva rápido, morra cedo, deixe um
belo cadáver"; "Faça você mesmo"; "No future"; "Eu odeio Pink Floyd"; "Não
lidamos com música, lidamos com caos"; "o punk não morreu" etc – são belos
condensados de sabedoria, ricos em imagens, que expressam os princípios
estéticos e ideológicos do movimento punk.




2.4. Dança


A dança punk foi batizada na Inglaterra, em 1976, de pogo e sua
praticidade é concedida a Sid Vicious, que no palco, já como um dos Sex
Pistols, mostrava-se extremamente agitado, pulando sem parar, girando uma
corrente, e como eram palcos diminutos, sem sair do lugar. Logo o público
que lotava os pequenos clubes londrinos passou a repetir tais gestos como
numa espécie de frenesi coletivo no qual não dava para distinguir artistas
e plateia: "Todos dançam e cantam as letras e de alguma forma estão ali
atuando, a banda está entre eles, além de qualquer um saber que poderia
estar tocando também. Essa é uma novidade que o punk trouxe para o rock em
todo o mundo".[60]


Além disso, enquanto dançavam e cantavam, e mais uma vez por
inspiração pioneira de Sid Vicious:


Adotaram um agressivo ritual que consistia em regar o
público com cervejas e cusparadas. Um dos talentos mais
notórios de Sid Vicious era vomitar em cena e ele acabou
fazendo escola. A plateia por sua vez retribuía estas
amabilidades arremessando latas e garrafas sobre os
ídolos.[61]


Como se percebe o papel da dança Pogo é fundamental para a
performance punk, aliás como a dança o é para todo tipo de rock, tanto pela
transgressão como pela identificação do movimento. Embora cada um possa
diferenciar o movimento, em geral ele consiste em fustigar o chão com os
cintos e correntes, inclinando para a frente e para trás, girando para os
lados como que demarcando um território: Mas é possível dançar sem sair
machucado, como quando se aprende uma luta. Uma das coisas é saber se
esquivar dos golpes [...] Essa dança-luta não tem nenhum movimento mais
ameno, nenhum volteio [...] no ritmo ríspido do som, a violência da dança.
(CAIAFA, op. p.29)[62]


Ou como observa Bivar (op. p.60):


Arrancar as correntes e dançar segurando-as fortemente na
mão e dando correntadas diretas em volta de seu espaço. É
claro que, existindo sentimento, a coreografia é natural e
espontânea, e só fere quando a justiça é chamada, porque
[...] quem está acordado sai de perto. Alguns masoquistas
rígidos oferecem suas costas, seus físicos, às
correntadas.é um pouco aquilo que os gregos chamavam de
'catarse': soltar os demônios para começar de novo.[63]




2.5 A ideologia


Na análise que se pretende da ideologia punk, busca-se contrapor
duas noções: essência e aparência na tentativa de revelar o pensamento punk
e ao mesmo tempo desvelar as falsas representações da crítica burguesa
especializada, sobre o movimento punk, os punks em si mesmos, isto é, sobre
o que eles são e como se comportam individual e socialmente:


Os pensamentos da classe dominante são em cada época os
pensamentos dominantes, ou seja, a classe que é o poder
material dominante da sociedade é concomitantemente o seu
poder espiritual dominante. A classe que dispõe dos meios
de produção material dispõe por isso também dos meios de
produção espiritual, de tal modo que, com isso, ao mesmo
tempo e de modo geral, as ideias daqueles aos quais
faltam os meios de produção espiritual sejam submetidos a
essa classe dominante. As ideias dominantes nada mais são
do que a expressão ideal das relações materiais
dominantes, são, portanto, a expressão das relações que
fazem de uma classe a classe dominante, e assim, as
ideias de sua dominação. (MARX, 1999, p. 79)[64]


Eis a razão da importância da ideia punk "faça você mesmo". Não dá
para se deduzir que os punks tivessem conhecimento do marxismo, mas por
essa ideia eles perceberam a importância de produzir e divulgar, de forma
independente sua arte e seu pensamento, seja através das letras musicais,
dos fanzines, dos grafites e da pintura corpórea. Quem se deixar levar
somente pelo o que os meios mediáticos das classes dominantes referem-se
aos punks. Certamente absorverão as ideias de que os punks são tão somente
uns bandos de dementes, pervertidos, toxicômanos, vagabundos e, sobretudo,
videntes e alienados.


Voltando a referência a Marx, em um estudo sobre a ideologia punk,
explica-se mais esta aparente inconciliável contradição pelo fato de que
esse tema, apesar de apresentar uma longa tradição na história da
filosofia, encontrou em Marx a sua formulação por assim dizer clássica.
Tornou-se necessário o dito agora, pois é sabido da repulsa que os
segmentos mais politizados do movimento punk, principalmente os anarco-
punks têm em relação do marxismo:


O movimento punk derrubou o mito de que ser anti-
autoritário significava necessariamente ser militante de
qualquer um dos diversos grupelhos-pentelhos marxistas
que se encontravam em casa sala de aula. Superando a
miopia marxista, os punks perceberam, sem necessidade de
teorias totalizadas, que o poder não é exercido apenas em
alguns poucos lugares facilmente identificados, mas
permeia nosso cotidiano. (BORGES e COVRE. Op. p.32).[65]


Na verdade a filosofia anarquista é a norteadora do movimento punk
como um todo e isto está expresso de forma explícita nos nomes das bandas e
fanzines, nas letras de suas músicas, nos poemas e textos dos fanzines, até
mesmo na forma irônica e debochada de se apropriar, por exemplo, de
símbolos fazi-nazista: a suática, os cuturnos etc e mais ainda na expressão
"faça você mesmo", autogestionária por excelência:
O punk é contra a direita, contra o centro, contra a
esquerda. E a favor da exteriorização de um sentimento
muito forte que vem do âmago da revolta contra todo o
erro humano, toda a exploração, toda a opressão, todos os
equívocos, desonestidades, mentiras, enganos, enfim,
contra tudo que acua e tortura as pessoas
desprevilegiadas como eles.[66]


A partir dos anos de 1980, ao se assumir ideológico e
comportalmente segundo os preceitos do anarquismo (Bakunin, malatesta,
Proudho etc), o que já não nada bem visto pela imprensa burguesa e pelos
aparelhos repressores policiais do Estado burguês, acelerou o ódio dos
racionários e a repressão policial se intensificou, através do falso
discurso de combate à violência dos punks: "[...] começaram a pintar os
punks como uma ameaça ao Estado. Como impedir que as pessoas comprassem os
discos era impossível, começaram os ataques físicos perpetrados por
anônimos que se deixavam levar pelo discurso 'puna os punks'".[67]


Diga-se de passagem que Essinger se refere à violência da extrema-
doreita, que então controlava o Estado inglês, contra os membros das bandas
punks, por exemplo Jamie Reid, Lydon, Paul Cook, Johnny Rotten entre
outros. No entanto, o ódio dos odiados pelos punks generalizou-se e se
voltou contra todo e qualquer punk e sempre na justificativa da defesa do
bem comum e da paz social. E isto não só na Inglaterra e nos Estados
Unidos, mas em todos países do mundo onde o punk tinha uma grande
representatividade, inclusive no Brasil e no Ceará. (ver cap. III)


A ideologia anti-punk das classes proprietárias se tornou tão
eficiente que passou a levar as pessoas comuns a atravessar a rua para não
os encontrar, conseguindo assim agregar aos punks o estigma da violência,
estigma este que os persegue em qualquer parte do mundo.


Não se quer dizer aqui que os punks são jovens inofensivos, o que
seria uma grande ofensa aos próprios. Mas, na verdade, a violência barata e
sem causa não tem qualquer relação cultural, política e filosófica de vida
proposta pelo movimento punk. A violência punk tem a ver, sim, com a
destruição radical do sistema social vigente. E por causa disso, qualquer
caso de violência envolvendo uma punk logo é multiplicado pro mil pela
média burguesa:


A partir desta vinculação midiática do punk com a
violência, é perceptível a tentativa de criminalização do
movimento Punk como um todo, como se fosse possível
atribuir este tipo de violência como característica de
todo um grupo. Termos como "grupo raivoso", ataques de
punks" ou comparações de semelhança entre o Punk com
grupos fascistas tem pantado um discurso que, para além
de deturpar nossos princípios e ideais, passam a
justificar a repressão a todos os punks.[68]


Supõe-se que nada disso é gratuito e pode ser explicado por ser o
punk um movimento de origem proletária, periférico, a nata do lixo, mas ao
mesmo tempo consciente de seu papel revolucionário na construção de uma
sociedade constituída de indivíduos livres e iguais. Isto a burguesia
jamais perdoou, até por ter surgido em um dado momento histórico em que as
classes governantes, através dos seus incontáveis tentáculos de persuasão e
controle social, pensava ter adormecido e adocicado o ímpeto rebelde e
radical dos movimentos juvenis. E mais imperdoável ainda é seu caráter
internacionalista e ao mesmo tempo de extraordinária adaptação às
realidades nacionais e regionais, todos oriundos das periferias, termo
entendido aqui não em seu aspecto geográfico, mas ideológico:


Se você é um office-boy, você ta fodido. Aí, se você vira
punk, você é alguém; todo mundo vai te identificar. Se
alguém olha pra você, já sabe o que você acha da
sociedade, você não precisa falar mais nada. Você
encontra uma identidade – você fica orgulhoso; sou punk.
Era um barato, as pessoas ficavam assustadas.[69]


Faz-se se agora um gancho entre o que foi dito até aqui neste
subitem e a citação de Marx. Por coincidência ou por ciência o movimento
punk atendeu o que Marx enunciou sobre a produção de ideias e a formação da
opinião pública e descartou radicalmente o uso dos meios burgueses de
comunicação:


Nada de imprensa oficial. As notícias eram transmitidas
de fá pra fá. Os fanzines eram seu meio de divulgação,
(...) os selos independentes surgiam em toda parte. Não
era preciso assinar com gravadoras multinacionais para
produzir discos, nem subornar jornalistas para ser
divulgado. Artista e público era uma coisa só.[70]


E para provar que Marx tinha mesmo razão:


[...] o jornal Estado de São Paulo publicou uma série de
reportagens chamada "geração abandonada". Numa das
matérias, o jornalista Luiz Fernando Emediato abordava a
movimentação dos punks, dizendo que tais desocupados se
divertiam "assaltando velhinhas no metrô e adoravam
"beber leite com limão".


Some-se a reformulação de valores proposta pelo movimento punk à
recusa radical de colaborar com a grande imprensa para se entender a
distorção, para não dizer avacalhação, da mídia burguesa. E com toda razão
eles não só se recusavam como produziram seus próprios meios, pois
entendiam que se cedessem nesses aspectos logo seriam cooptados e
absorvidos pelo o sistema. Em outras palavras, comprados:


No início de 1983, o Fantástico, após meses de tentativas
infrutíferas, conseguiu fazer sua tão almejada matéria
sobre o movimento punk de São Paulo. Pagaram cerveja a um
grupo de moleques na Estação são Bento (SO) e
entrevistaram não só psicólogos que desdenhavam da
"rebeldia adolescente" mas também transeuntes que estavam
horrorizados com as roupas dos jovens. O tom da matéria
foi que existe uam tribo esquisita que copia um modelo
inglês, que se acha revolucionária, mas que não passa de
um bando de meninos ingênuos e mimados querendo mostrar a
língua.[71]


O poder dominante na produção de ideias e na formação da opinião
pública é tão operante que em quinze minutos, no caso o programa do
Fantástico quase destruíram um trabalho de anos. Não é difícil supor que no
dia seguinte, punks se viram demitidos de empregos, expulsos de escolas e
quem sabe, até mesmo de casa.


A questão da relação movimento punk e imprensa burguesa será
aprofundada no capítulo final deste trabalho, tendo como foco a cidade de
Fortaleza.


Passa-se, então, para encerrar o presente tópico, a outro ponto
essencial da ideologia punk que é o "no future", frase expressa sempre aos
urros nos shows das bandas punks e que reflete uma compreensão miilista[72]
do mundo, responsável direta pela incorporação da concepção anarquista ao
modo de vida punk.


Nesse sentido, no future:


é a dramatização de uma percepção real. O desencanto, a
falta de otimismo, são reais; são poré, exacerbados,
dramatizados, convertidos em elementos de encenação.
[...] não é uma desistência, um impulso de morte, não é
indiferença. É um diagnóstico, uma declaração de falta de
confiança nas medidas e soluções disponíveis para o
encaminhamento do futuro social, e há uma luta contra
isso que se desenvolve através da sua atuação: uma
convocação, um chamado ao combate, um modo de tentar
provocar a reação capaz de inverter o estado das coisas.
(ABRAMO, op. p.115)[73]
A despeito de uma possível hipótese equivocada do No future, visto
a rejeição, a repulsa do punk em relação as concepções religiosas
orientais, defende-se aqui uma interpretação presentista desse pensar punk,
ou seja, o desejo de se viver só por hoje, um dia de cada vez da forma mais
intensa possível sem pensar no amanhã, "porque se você parar para pensar na
verdade não há". Em outras palavras, a defesa do poder do agora, como se
cada dia fosse o último, o que tem muito de pensamento oriental, fato que
contribuiu para o ódio dos punks aos hippies, aos Beatles e todos aqueles
que enveredaram pelo caminho das meditações espirituais.




2.6 Moda

Na linguagem Punk, no intuito de evitar o entendimento do termo
moda como modismo, usa-se a palavra estilo e mais ainda visual com o
significado de imagem como afirmação pessoal e identificação grupal, imagem
e identificação estas que se completa através de: "[...] posturas
agressivas, e em uma rebeldia estampada em uma negação completa de qualquer
etiqueta estabelecida socialmente, em uma quebra constante de padrões que
se revelam na forma divertida e solta de se comportarem entre si."[74]

O estilo ou visual punk além da roupa é reconhecido pelo corte de
cabelo e no uso abusivo de alfinetes, piercings, tatuagens, bottons assim
como no uso de coturnos.


Esta combinação de elementos, não aleatória, diga-se de passagem,
sofre modificações no tempo da história do punk, consequência do surgimento
de novos sub-gêneros musicais punks e também por influências ideológicas de
correntes políticas e comportamentais de outras culturas juvenis que em
dados momentos dividiram o mesmo espaço com o punk.


Nesse sentido é ilustrativo o exemplo do uso da suástica, símbolo
que indubitavelmente, a partir do surgimento do nazismo na Alemanha, nos
anos 30, associa-se a essa doutrina política racista e totalitária, de
extrema-direita. Nos primeiros tempos punks esse símbolo era parte
integrante do visual punk, ainda que:


Para os punks "isto não é uma suástica" seria uma negação
do vínculo representativo enquanto signo-símbolo, o que
equivaleria a dizer: "a suástica não representa o
nazismo", negação da correspondência inequívoca entre o
que se mostra com uma forma e o que dizendo se nomeia.[75]



Apesar da apropriação e da identificação indissolúvel da suástica
com o nazismo não se pode esquecer que o símbolo é secularmente anterior à
ideologia hitlerista. Além do que não há nada na ideologia punk que a
identifique com o nazismo. O seu uso, supõe-se aqui, tenha se dado como
forma de evitar que a indústria da moda se apropriasse do visual punk,
ambos anti-moda por excelência ou também para esvaziá-la do seu conteúdo
nazista através da vulgarização do uso. Enfim, os punks se aproveitaram da
suástica por ela ter uma carga explosiva justo por ser uma suástica.


No entanto, é com a aproximação estreita do punk com o anarquismo
que a suástica é abolida definitivamente do visual anarco-punk, devido a
inconciliável contradição entre as doutrinas nazista e anarquista. Para os
anarco-punk não havia razão alguma que pudesse justificar o uso da suástica
por um punk.


No tocante à roupa, elemento fundamental do estilo punk, ela ajudou
em muito a reforçar o caráter vanguardista do punk, pois punk ao criar o
seu próprio visual, revelou a sensibilidade punk para o momento histórico e
social e pressentir os esgotamentos estilísticos em via de se processar no
mercado de moda. Fica o dito agora como impressões, mais do que afirmações,
porém, é evidente que a criação individual do visual é a marca registrada
do movimento punk; apesar de que:


A moda é na maioria das vezes o elemento que desencadeia
divergências e brigas, pois a combinação arbitrária de
elementos costuma não ser bem vista, sendo interpretada
como uma demonstração de ignorância sobre os costumes, a
aparência e a ideologia punk ou fruto do estilo punk. Este
desentedimento pode culminar no desprezo, ridicularização
ou hostilidades físicas.[76]


A roupa punk, independente da questão de gênero, em geral, é de cor
preta, sendo o verde musgo, o cáqui e o azul desbotado, sendo
preferencialmente de couro ou jeans. Suas peças são o jacó, a jaqueta punk,
a camiseta, a calça surrada e com rasgões à vista, propositais ou não. Não
é preciso dizer que as peças que compõem a roupa punk são compradas de
segunda mão e apesar do seu estado de desgaste são ainda rasgadas aqui, ali
e acolá além do acrescento de manchas e mensagens, para evitar o aspecto
hippie e a caretice:

Por isto, em contraposição aos "terninhos bem passados e
roupinhas de boutique", comportadas e limpas, um outro
padrão se estabelecia, assumindo o que queria esconder e
negar esta sociedade alvo de suas críticas: a sujeira de
um mundo excludente, de miséria e desigualdade. [77]

Outro elemento básico do visual punk é o cabelo no corte moicano,
quebra abrupta dos padrões vigentes, inclusive nos mundos do rock e hippie
e de outros movimentos juvenis.


A singularidade do corte moicano começa a partir da fonte na qual o
punk foi se mirar: a nação moicana, povo indígena que na época da expansão
marítima europeia (séculos XV-XVII) foi uma das forças de maior resistência
à presença inglesa no que se convencionou chamar de América do Norte. Vale
ressaltar que a heróica luta armada dos moicanos levou este povo a um
completo genocídio e etnocídio. Esta suposição é mais uma evidência de que
nada é mais falso em relação aos punks do que a acusação de alienados.


O corte moicano consiste no cabelo raspado no zero de lado e a
parte do meio, que vem da testa e contorna o crânio até a parte de trás é
ouriçada com sabão ou fixador até ficar em pé, espetado, em uma altura que
pode chegar a um palmo. Além do aspecto estético, esse tipo de corte de
cabelo facilita a lavagem e o penteado e serve como defesa, pois com,
grande parte do couro cabeludo raspado os inimigos das ruas e a polícia não
tem o que agarrar:

O cabelo curto do punk é a higiene das cidades contra a
intransigência votiva do hippismo, contra a fuga para os
acampamentos [...] o cabelo tosado é contra o crescimento
natural do cabelo, ele é de certa forma uma desfiguração
do corpo humano. [78]

Vê-se assim que o cabelo moicano tal e qual a roupa de couro, os
pinos, os pregos e as correntes serve para proteger o corpo, escapar mais
facilmente de possíveis ataques e a atacar se for preciso.


Apesar da preocupação do movimento punk com a absorção pelo sistema
das suas coisas culturais, o mundo da moda vai se apropriar do jeito punk
de se vestir e se adornar lançando a moda new wave que é a visão comercial
do punk, incorporando elementos coloridos e referências à cultura pop e
abandonando o caráter ofensivo e controverso em favor de uma imagem bem
humorada e caricatural, tornando-se muito aceita, especialmente com o
advento da MTV, nos anos de 1980.




2.7 Comportamento

Neste tópico busca-se analisar diversas facetas do comportamento
punk entre as quais as relações familiares, escolares, produtivas e de
lazer, naquilo que há em comum nos jovens que se identificam como punks, na
quase totalidade conforme já dito, jovens habitantes das periferias
urbanas, filhos de famílias das classes do trabalho sem perspectivas de
futuro, inconformadas com uma sociedade que não é capaz de responder aos
seus anseios e inquietações.


A crer na grande imprensa, a despeito do seu visual e atitudes
sociais rebeldes e agressivas, dentro de casa, na relação com os familiares
o jovem punk é um bom e bem comportado filho:

Maria Perpétua Mustafá, 56 anos, de Salvador, não se
incomoda de ser alvo de olhares curiosos quando sai com
seu caçula, Neio Lucio, 18 anos, uma atração com sua
cabeleira exótica de índio moicano. Ele não sai de casa
sem beijar a sua mãe, mesmo que pouco depois se disponha a
negar verbalmente o gesto, dizendo-se contra os padrões
estabelecidos, contra as normas sociais e a família. [79]

Na mesma reportagem lê-se o depoimento de outra mãe, desta feita de
uma punk, de 24 anos, Lesley ou Lele: "Ela ainda é minha filhinha. Ela
assiste às novelas da televisão e até tem jeito para dona de casa".
Na verdade a grande imprensa jamais olhou para o movimento punk com
a intenção de retratar, sem manipulação ideológica (ver subitem II.5 e Cap.
III) a realidade punk. Tal aversão se explica pela reciprocidade do punk
diante do sistema no todo e em especial à indústria cultural e à mídia, em
esforço monumental para não ser cooptado. É óbvio quando um veículo burguês
como a revista referida, esforça-se para mostrar os punks em sua relação
com a família como "ovelhas brancas", generalizando a partir de um ou dois
exemplos, o intuito nas entrelinhas é transmitir a ideia de que
literalmente não passa de fantasia a atitude rebelde e transgressora do
punk.


Por outro lado não se quer aqui cair no mesmo erro afirmando que
são de fato conflituosos e incompatíveis as relações familiares entre pais
e filhos punks. Como há muito já se disse que em toda regra há exceções,
não é grande disparate supor que em geral, coerente com sua ideologia,
urrada em versos e prosa dissonantes, os punks têm no lar um espaço de
conflito.


Acredita-se também o mesmo ocorrer nas relações escolares, muito
embora a inexistência de pesquisa nessas duas áreas tornem as observações
mais uma vez impressões ao invés de afirmações. É difícil imaginar um punk
todo a caráter em relação harmoniosa com os agentes escolares – gestores,
coordenadores, professores e até mesmo com os iguais discentes. Se a
sociedade não lhe reconhece existência individual e coletiva a não ser
segundo a modalidade da delinquência, muito menos a escola. E como já foi
observado os punks têm seu reino nos clubes onde acontecem os shows punks,
na rua e no tumulto, ambientes em completo contraste com o cotidiano
escolar.


Em consequência da sua condição de filho da classe proletária, o
punk é naturalmente destinado à escola pública, que tal e qual a escola
privada, está a serviço da conservação do status quo burguês e como tal
deseja um alunato gentil, manso e resignado, respeitoso e discreto, que não
cuspa nem arrote em qualquer lugar, não questione e não brigue por qualquer
coisa. A escola quer distância do jovem torpe e rude das ruas, rebelde e
iconoclasta como o jovem punk. Por mais inclusiva que seja a escola o seu
ideal é o ideal burguês da ordem e do progresso, repudiado em gênero,
número e grau pelo punk.


A impressão que se tem quanto à escolarização dos punks é que só
ocorre por consequências da imposição legal[80] e por exigência do mercado
de trabalho. Tal constatação leva a suposição de uma relação complexa, pois
o repúdio é mútuo entre escola e punk.


Uma vez na escola não é nenhum absurdo creditar ao punk sucesso
escolar e tanto é assim que não poucos punks chegam ao ensino
universitário. A verve poética e literária das letras e dos fanzines, a
participação em outros espaços educativos como partidos, coletivos,
sindicatos etc, são indícios de que os punks são jovens capazes de
aprendizagem acadêmica: "Fui lendo, fui me informando. Ser punk é se
politizar, se informar e ser contra o sistema".[81]


Nas ruas os punks vivem em bandos, ao todo não se sabe quantos são
eles em termos de população absoluta no mundo, no Brasil e no Ceará, mas
repete-se: são pobres, quando não desempregados vivem de salário mínimo e
morem nos subúrbios em casas populares. Eles se agrupam em determinados
lugares das cidades, seja Lourdes, São Paulo ou Fortaleza. São tribos
unidas, afetuosas, socialmente integradas e abertas:

Aqui tem de tudo. Só não tem bandido. Se o sujeito se
chega, se interessa, quer informação, eu dou minhas
coisas. Se ele sumir com meus discos, pode escrever que
não é um punk de verdade. A gente não recusa ninguém. Quer
ser adepto, tudo bem. Quer arrumar briga, confusão, isso
não é ser punk. [82]


Segundo Damasceno:

É interessante observar que pequenos clubes aglomeram o
lazer destes jovens pobres de periferia e que o rock aos
poucos passa a ser percebido em sua diversidade, na medida
em que mais grupos aparecem, mais pequenas festas são
realizadas, em que troca de ideias e informações são
estabelecidas de forma sistemática. [83]

Como se percebe esses bandos de princípio não eram muito
organizados. Ao redor de um núcleo junta-se uma camada de "flutuantes" que
aderem ou largam o núcleo conforme as circunstâncias. Entre estes estão
aqueles alcunhados pelo vocabulário punk de laranjas, ou seja, os que se
chegam fantasiados de punk nos fim de semana não são de fato contra o
sistema. Na verdade são punks de boutique. Com o passar do tempo surgiu uma
maior preocupação com a estruturação dos grupos, com embasamento teórico,
desenvolvimento de atividades políticas com outros grupos e organizações
sociais. Começou, então, a se desenvolver os "coletivos", que trabalham com
temas específicos como o racismo, o homofobismo, o movimento estudantil, o
movimento zapatista e sem terra etc:

Vagando pelas ruas
Tentam esquecer
Tudo o que os oprime
E impede de viver
Mas será que esquecer
Seria a solução
Pra esquecer o ódio
Que eles têm no coração?
Vontade de gritar
Sufocada no ar
O medo causado pela repressão
Tudo isso tenta impedir
O garoto do subúrbio de existir
Garoto do subúrbio
Você não pode desistir de viver. [84]

A droga é uma questão polêmica dentro e fora do movimento punk e
que serve ao sistema para jogar a opinião pública contra ele. Embora os
punk não estejam um pouco sequer preocupados com a opinião alheia, há
grupos de punks que não usam drogas ilícitas justamente para não dar
motivos à repressão policial, pois motivo para tanto já existe que é o
desprezo pela sociedade estabelecida e por conseguinte a toda e qualquer
forma de autoridade.


Isto pode soar contraditório pelo que é público aos integrantes das
famosas bandas punks, como por exemplo Sid Vicious da Sex Pistols, e Darby
Crash da The Games e Kurt Cobain entre outros dependentes de heroína e
cujas mortes têm uma estreita relação com o uso abusivo dessa substância.
Mas até nisto os punks se diferenciam, pois ao contrário dos hippies e dos
grandes astros do rock-roll, pois "fizeram da droga um fim em si mesmo,
nada de "expandir a mente" ou de "beijar o céu". Drogas eram diversão".
[85]
Por outro lado, ou melhor, pelo lado dos que defendem o não uso de
drogas, nota-se pela citação seguinte que a ideia que se tem de droga no
movimento punk diz respeito às substâncias ilegais: A maioria [dos punks]
não consome drogas justamente porque falamos em consciência e com elas
estaríamos nos contradizendo, mas fumamos como todo mundo, bebemos nossa
cervejinha, nosso vinho. Uísque não, é muito caro. (Calegari) [86]


Para mostrar como é polêmico o assunto droga no envolvimento punk é
ilustrativo o exemplo dos fanzines. Enquanto o nome do primeiro deles fazia
a apologia ao uso da cola de sapateiro, intitulado "cheirando cola", outro
traz fotos de seringas e ampolas com a caveira da morte no rótulo e os
dizeres "esqueça a fantasia e caia na verdade".[87]


Sobre o uso ou não uso de drogas Caiafa arremata:


Há punks que não usam e não gostam de drogas. Outros punks
usam drogas e gostam. Outros mostram tão-somente alguma
reserva. Outros ainda ao mesmo tempo usam e criticam. Pode-
se dizer contudo que o Movimento não se apoia na droga,
ela não é definidora e deflagadora de atitudes punks.[88]


E para encerrar o capítulo, vale ressaltar que toda a cultura punk
é uma reação à negação do jovem proletário como indivíduo, visto apenas
como uma peça produtiva descartável a ser dobrada aos ritmos da disciplina
dos senhores do mercado e ao seu reconhecimento apenas em idade do serviço
militar e época de eleições políticas partidárias. O sistema tanto teme o
jovem punk porque ele se recusa a obedecer e se calar e ser cooptado.























Capítulo III




3. O MOVIMENTO PUNK NO CEARÁ E A MÍDIA IMPRESSA CEARENSE




3.1 Procedimentos metodológicos


Na investigação proposta, ou seja, as impressões da grande imprensa
cearense sobre o movimento punk no Ceará e mais precisamente em Fortaleza,
optou-se pela Teoria da Análise do Discurso. Supõe-se esta como instrumento
adequado para analisar a ligação entre a linguagem apresentada nas
reportagens previamente relacionadas e a ideologia nelas incutidas. Sua
metodologia torna possível revelar intenções secretas ou interesses
encobertos ou escusos em veicular ideias condenatórias ao movimento punk, o
qual como foi visto nos capítulos anteriores, assume um caráter
contestatório, radical e, portanto, revolucionário diante da sociedade
burguesa. Sob esse prisma afirma Baudrilhard[89] (apud KEMP, 1993, p.28)
que "os conteúdos transgressivos da ordem social estabelecida, passam pela
mídia mas não sem serem sutilmente esvaziados, ficando em seu lugar apenas
a forma".[90]


As premissas básicas desta teoria apoiam-se na concepção da
linguagem possuir um modo de constituição profundamente histórico, não
sendo possível dissociá-lo do conjunto das práticas humanas. Eis porque
saber quem fala, para quem fala, em que situação, de que lugar da
sociedade, com que intenções, são elementos de suam importância no processo
comunicativo.


Nas chamadas ordens do discurso (FOUCAULT, 1971)[91] expressam-se
determinadas condições sócio-históricas que permeiam as formações
discursivas, enquanto conjunto de regras limitadas no tempo e no espaço e
que definem as condições de exercício da função enunciativa.
Essas ideias chaves permitem a compreensão da ideologia e das
injunções de poder no discurso sobre os punks cearenses. Inventariando esse
discurso no espaço dado onde se articulam linguagem e ideologia, é possível
destacar os processos de significação que regem o imaginário social sobre o
movimento punk.


Assim, na análise contextual dos textos jornalísticos sobre o
movimento punk no Ceará é relevante para os propósitos aqui pretendidos a
apreensão dos sentidos implícitos o exame dos pressupostos e dos
subentendidos. Assim, querendo dizer mais do que se diz ou silenciando
sentidos de aspectos importantes do punk, é possível produzir
representações convenientes a uma determinada formação social e a sua
classe dominante. Nesse sentido afirma Arnaldi (1990, p.145), que: "O não-
dito, por exemplo, sob a vertente do implícito (diz "x" querendo dizer "y")
e aquela do anti-implícito (diz "x" querendo silenciar "y"), pode
determinar certas significações ocultadas no discurso "oficial".[92]


No ensejo de clarear a trama discursiva que sustenta as ideias da
mídia cearense sobre o punk no Ceará e apontar os elementos usados para
"desfamiliarizar"[93] a opinião pública rumo ao entendimento maior da
questão em estudo, são colocadas na base da investigação perguntas como,
entre outras: que elementos são articulados para se chegar a uma
representação ideologicamente orientada do punk? que dados são silenciados,
quais outros superdimensionados? que relações de poder estão em jogo?


Ressalta-se que é importante a retomada do contexto histórico do
qual emerge o projeto teórico-metodológico em seus diversos aspectos, pois
é esse o chão que dá sustentação e possibilita o estudo das práticas
discursivas. Ao se aplicar esta concepção à discussão sobre o movimento
punk no Ceará, pode-se formular a hipótese segundo a qual os textos
analisados, ainda que produzidos em diferentes jornais, constituem na mesma
formação discursiva, incorporam toda uma ideologia anti-punk, plataforma
para se divulgar e implantar medidas repressivas de controle social do
fenômeno punk, considerado, no referido prisma ideológico, como socialmente
indesejável. (OLIVEIRA, 1992).[94]
3.2. O movimento punk no Ceará


Para uma melhor análise dos textos jornalísticos selecionados,
necessário se faz historiar e caracterizar o movimento punk cearense, na
intenção de conhecer o contexto histórico-social que o originou, bem como
suas perspectivas e visões de mundo, suas semelhanças e singularidades em
relação ao punk mundial e brasileiro, suas articulações com a sociedade
civil organizada e com os demais grupos de estilo jovem.


Conforme visto no Capítulo I deste trabalho, o punk surgiu de forma
simultânea na Inglaterra e nos Estados em meados dos anos de 1970, como
reação de significativo percentual dos jovens proletários aos "carecimentos
radicais"[95] de toda ordem, resultado da crise estrutural do capitalismo e
no plano artístico como crítica radical à glamourização e estagnação do
rock e ao pacifismo quietista dos hippies.


Pois é, no Ceará tem punk, sim! Esta constatação que à primeira
vista parece causar perplexidade, muito inquietou Araújo (2001), o qual no
texto introduzido de sua monografia de licenciatura, assim se expressou:


[...] uma pergunta surgia e me inquietava – o que havia
levado esses jovens filhos de trabalhadores de baixa renda
e, portanto, marginalizados socialmente a se identificar
com um Movimento também marginalizado e originário de uma
realidade sócio-cultural tão diferente da nossa, de países
como Estados Unidos e Inglaterra. Um movimento
genuinamente musical (cultural), mas que havia adquirido
conotações de caráter social e político considerável. Qual
seria o motivo da identificação?[96]


Para quem crer que não há motivo para tal de identificação, é bom
recorrer ao apelo de Marx e Engels ([1848] 2000, p.109) que diz "os
proletários nada tem a perder, a não ser as suas correntes. Têm um mundo a
ganhar. Proletários de todo o mundo, uni-vos!"[97] Resposta esta bem de
acordo com aquela dada pelo punk cearense "Grilo", um dos entrevistados do
citado Araújo (op.2001): "(...) a miséria universal (...) por que (o punk)
ficar só num canto?"[98]


O punk surgiu em Fortaleza simultaneamente à sua origem no centro
urbano-cultural do país (São Paulo e Rio de Janeiro), ou seja, na passagem
para a década de 1980, fato que só veio a ser divulgado pela primeira vez
na imprensa cearense em 1982[99], quando há pelo menos três anos o punk já
dava sinais de vida na capital alencarina.


Tal descompasso de tempo é assim explicado por Damasceno (op.,
2004, p.43)


[...] as matérias sobre grupos como os punks, e mesmo
sobre o funk ou hip hop, não só faziam parte das
experiências de vida do público leitor de jornais voltados
para as camadas médias urbanas, como não se constituíam em
'pauta interessante' para jornalistas, editores e
repórteres, deste período.[100]


De princípio o fator gerador e aglutinador foram os bailes ou
festas de rock, realizados geralmente em clubes suburbanos, por exemplo,
entre outros, Tiradentes no Parque Araxá, Internacional no Monte Castelo,
Grêmio Recreativo no Conjunto José Walter. Mênfis no Antônio Bezerra,
Apache I e II, respectivamente no Jardim Iracema e Nova Assunção e
principalmente o Creve, na Vila Ellery.


Em regra não eram festas exclusivamente punks, mas de rock e iam do
rock propriamente dito ao punk, passando pelo heavy-metal. Assim como em
São Paulo e no Rio de Janeiro, esses locais de festas de fins de semana
para jovens de periferia proliferaram em fortaleza e com o passar do tempo
muitos locais se tornaram centros de aglutinação de punks e
consequentemente de aproximação interindividuais, de transgressão de normas
sociais (VIANA, 1997, p.51)[101] passos essenciais para que um dia se
compreendessem como um movimento.


Chega-se assim aos anos 80, década que, apesar da promiscuidade
cronológica, encontrava-se longe do sonho de um mundo de paz e amor,
sonhado por rockeiros, hippies e cultuadores em geral da contracultura. No
Brasil, no entanto, saía-se de um pesadelo peso-pesado que era a ditadura
militar instalada em 1964. Vivia-se o clima de um novo processo de
redemocratização burguesa, ao mesmo tempo em que uma crise econômica social
sem precedente. Na visão punk era o "Começo do fim do mundo".[102]


Em Fortaleza, os garotos podres, aqueles que odeiam os Beatles,
Rolling Stones, Pink Floyd assistiam indiferentes, no plano político, a
ascensão dos "caras pintadas" e a luta por "Diretas já". Nestas alturas dos
acontecimentos, já cientes e conscientes de sua condução de movimento, os
punks cearenses incorporam de corpo e alma a doutrina anarquista, gerando
assim o movimento Anarco-Punk. A este respeito diz Damasceno (op.p.11):


No caso do movimento Punk, havia em todo o Brasil uma
especialização do movimento, que gerou o movimento Anarco-
Punk, fruto de uma incorporação do anarquismo e de
contatos sistemáticos com os anarquistas. Essa
particularização não foi feita sem algum atrito entre os
membros do próprio movimento, que não compreendiam, ou
mesmo não aceitavam esta "mutação.[103]


Também como fruto dessa incorporação ao anarquismo surgem os
núcleos coletivos. O movimento anarco-punk, instrumentalizado com as ideias
anarquistas assumem o repúdio a toda e qualquer forma de poder e
autoridade. Entre os núcleos coletivos se destacam o Consciência Libertária
(NCCL), Coletivo Anarquista de Fortaleza (C.A.F.), Ruptura e Lua.


A década de 80 se inicia em Fortaleza com uma forte efervescência
cultural. O Hip Hop organizado do Ceará (MH2O) e o Movimento Cultura de Rua
(MCR). No rock se destacam as bandas O Peso, Os Fargós e Gang da Cidade,
Perfume Azul, Mônica Gadelha, No Pop, e o pessoal do Ceará (Fagner,
Ednardo, Belchior etc.) e o Movimento Massafeira, no qual se destacam novos
grupos, compositores e intérpretes. No heavy-metal bandas como Obskure, à
esquerda de tudo isso, em posição bem extremada e simultaneamente, surgia a
cultura punk cearense em forma musical e literária. Começam a surgir bandas
e fanzines que se denominavam de acordo com suas próprias condutas e
atitudes: Ramortes, Repressão X, Zueira, Dsnutrição, Resistência Desarmada,
Ruptura etc. Entre os zines Estado Indigente, Ecos Suburbano, Anarco-Punk,
Raízes da Violência. (ARAÚJO, op., p. 63-64)[104].
O punk cearense, a partir dos anos 80, adentrou o mundo
universitário na forma de objeto de estudo de monografias de graduação, de
dissertação de mestrado e tese de doutorado. Ainda que não sejam muitos, é
crescente o número desses estudos ao longo do tempo dado. Entre outros,
pode-se citar os trabalhos de Cavalcante (1986); Silva (1986); Vieira
(1994); Damasceno (1994 e 2004); Ramalho (1997); Ximenes (1998); Araújo
(2001) e Oliveira (2002). Ressalte-se que estes estudos estão todos
devidamente citados na relação bibliográfica desta monografia, até porque,
sem exceção, foram objetos de investigação.


A presença do movimento punk cearense também se fez presente no
mundo acadêmico através de eventos, isto é, da produção de acontecimentos
construído pelo próprio movimento. Ou seja: na medida em que eram
realizados, realizava-se o movimento. Entre os eventos universitários cita-
se, entre outros, a IIª Semana Libertária, no Centro de Humanidades da
UECE, respectivamente de 06 a 10 de agosto de 2002 e 06 a 08 de agosto de
2003, promovidos pelos Coletivos Ruptura e Luma; Grupo de Estudos sobre
Anarquismo, em 2003, no Centro de Humanidades da U.F.C. e o lançamento do
Coletivo Anarquista de Fortaleza, em 1986, também no CH da U.F.C.


Sobre a IIª Semana Libertária assim de refere Damasceno (op.,
p.241):


Esta atividade foi muito concorrida, contando com a
presença de punks da Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e
São Paulo. Além de anarquistas destes estados, presentes
para proferir palestras e cursos (...) tudo transcorrendo
no clima mais punk possível. [105]


No entanto, mais constantes e contundentes foram os eventos punks
nos diversos espaços da cidade de Fortaleza; os quais se caracterizaram
pela abertura à participação de outros movimentos juvenis e populares em
geral.


Na década de 80 mereceu destaque o Seminário Estratégico do Comitê
de Solidariedade às Comunidades Zapatistas do Ceará; Campanha contra o
Serviço Militar obrigatório e o Dia da Independência; Iª Mostra de Cultura
Libertária; seja punk ou morra tentando e Consciência Distorcida; na década
de 90 a Manifestação contra o Racismo e pela Liberdade de Mumia Abu Jamal e
Dia de Difuzão de Contra-Kultura.
A trajetória Punk no Ceará também foi marcada pela publicação de
notas e/ou panfletos, por exemplo os manifestos Filosofia Punk; Movimento
Anarco-Punk; Nossos salários não aumentam todo mês; Fora aumentos, chega de
exploração, coletivos grátis já!; Vote nulo, não sustente parasitas; Carta
de Princípios do Núcleo Coletivo de Consciência Libertária – NCCL; Falar de
Movimento e Fazer Movimento.


No entanto, a presença mais marcante do punk, supõe-se arquitetura
sido a realização em sete edições do festival "Nordeste em Caos" ocorridos
quase anualmente, apesar dos restritos patrocínios para não se dizer
inexistentes.


A este respeito, segundo Araújo (op., p.63):


O primeiro ocorreu em dezembro de 1987, no CSU do bairro
Conjunto Ceará. (...) O segundo ocorreu em dezembro de 89,
no Ginásio Paroquial do Carlito Pamplona (...); o terceiro
realizou-se em 1990, no Pirata Bar (casa de shows na Praia
de Iracema). O quarto realizou-se no ano seguinte (1991),
no Menphis Clube de Antônio Bezerra (...) Nessa versão do
festival, por questões econômicas, só houve participação
de bandas locais e começaram a ser introduzidos debates à
respeito de vários assuntos tais como: violência, pena de
morte e assuntos relacionados ao anarquismo, um sintoma já
do apoio do NCCL (...). O quinto realizou-se em 1992, no
mesmo local do anterior; o sexto só se efetivaria em 1994,
numa chácara no Icaraí. A sétima e última versão ocorreu
em 1995, no Excelência Bar, na Praia de Iracema.[106]


Em meados dos anos 90 o punk cearense conhece o seu ocaso, porém
sem deixar de existir. No entanto sua curta e marcante história,
identificada com os "carecimentos radicais"[107] e sua superação não
mereceu o devido destaque da parte da mídia cearense, o que pode ser
comprovado no tópico logo a seguir.




3.3 Os textos analisados


Os textos aqui em análise correspondem ao período de 1980 a 1994,
um total de 15 anos que corresponde à origem, evolução e arrefecimento do
movimento punk no Ceará. Foram coletados em uma pesquisa de dia a dia do
tempo dado, nas sedes dos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo". As
matérias do jornal Gazeta de Notícia foram obtidas nos arquivos
hemerográficos da Biblioteca Pública Municipal Moisés Pimentel, posto que
este veículo jornalístico foi extinto em fins de década de 90. Quanto ao
outro grande jornal existente – O Estado – não se encontrou nenhuma matéria
relativa ao punk cearense.


Como a temática Movimento Punk no Ceará não consiste em assunto
cotidiano da imprensa cearense, não houve dificuldades maiores para
operacionalizar a coleta de material disponível nem a necessidade de
estabelecer critérios prévios. Isto porque os textos selecionados são os
únicos existentes nas páginas dos órgãos citados.


Na "exploração do material" para se usar uma expressão de Bardin
(1977)[108] destacaram-se as seguintes características, induzindo à escolha
das unidades de pesquisa e das categorias de referência: Silenciamento
acerca das questões sociais que concorrem para a eclosão do movimento punk
no Ceará; Desconsideração da motivação individual e grupal do punk, da sua
dimensão subjetiva; Simplificação do fenômeno punk, apontando elementos
unidimensionais na etiologia do movimento no Ceará; Associação frequente
entre sexo, droga e punk; Omissão do fato de que o movimento punk pode
propiciar, um profundo enriquecimento de líderes jovens; Descaso a respeito
da indumentária punk, explorando sempre a questão pelo aspecto do exótico e
crença na intervenção desinteressado do aparelho repressor policial para
livrar a sociedade da violência e das drogas.


De acordo com a prevalência desses temas, nem sempre é lógico de
modo explícito pode-se agrupar os textos como partes de um mesmo processo
de divulgação ideológica.


Os textos postos em análise, na ordem cronológica são:


- Punks: a rebeldia dos anos 80. Jornal Diário do Nordeste.
Fortaleza, de 08 de outubro de 1982, p.28.
- Punks: eles surgem em Fortaleza e têm como lema curtir e chocar.
Jornal Diário do Nordeste. Fortaleza, de 26 de julho de 1983.
Caderno 3, p.18.
- Os jovens: (Des)caminhos do futuro. Jornal O Povo. Fortaleza, de
19 de janeiro de 1984. Caderno 2, capa.
- "É proibido proibir" na Festa Anarquista. Jornal O Povo.
Fortaleza, de 21 de maio de 1986, 2º caderno, p.03.
- Punks de Fortaleza: mais que agressivos, contestadores das
injustiças sociais. Jornal Tribuna do Ceará. Fortaleza, de 02 de
agosto de 1986.
- Protesto Punk da Periferia. Jornal O Povo. Fortaleza, de 26 de
dezembro de 1987. 2º caderno, p.05.
- Uma repressão mais profissional. Jornal O Povo. Fortaleza, de 01
de agosto de 1988. 2º caderno, p.4.
- Punks da Periferia. Jornal o Povo. Fortaleza, de 22 de novembro
de 1990. Caderno Vida e Arte, p.21.
- Feliz Aniversário, punks – 15 anos de uma onda que pode voltar.
Fortaleza, Jornal O Povo, de 03 de fevereiro de 1991. Caderno Vida
e Arte, p.14-b.
- Punk rock em festa de agito. Jornal O Povo. Fortaleza, 06 de
junho de 1991, p(?).
- Festival de Punk revela uma Fortaleza diferente. Jornal O Povo.
Fortaleza, 26 de dezembro de 1991. Caderno Vida e Arte, p.13.
- Como é bom ser punk. Jornal Tribuna do Ceará. Fortaleza, de 28 de
setembro de 1993, p.14.
- Movimento Anarco-Punk. Jornal O Povo. Fortaleza, de 27 de março
de 1994. Caderno Tribos, s/p.


Com base na interpretação e explicação da estrutura argumentativa e
dos implícitos desses textos, supõe-se ser possível aprender os elementos
cruciais da ideologia que fomenta a sua produção e os sustenta.




3.4 Resultados da análise


Há uma série de regularidades discursivas comuns nos textos
analisados que se ligam entre si, contribuindo no foco de sentidos
ideologicamente comprometidos. Estes, por sua vez, propiciam práticas que
sugerem às necessidades de controle social e de permanência de certos
padrões do status quo.
Os textos, mesmo quando se mostram à primeira vista "simpáticos" ao
mundo punk, remetem o leitor a uma visão preconceituosa, repressora e, por
vezes, moralista, objetivando aceitação nos setores políticos e públicos
que se destacam seja pelo desconhecimento de causa, seja pelas tendências
conservadoras ou reacionárias.


As operações verbais dirigidas aos leitores são marcadas pelo o
autoritarismo e a monossemia com objetivos persuasivos, ensejando
influenciar decisivamente sobre as suas representações, tal e qual qualquer
discurso de propaganda ou de publicidade. Termos expressivos estão voltados
para a construção de um sentido dominante. Palavras carregadas de conteúdos
negativos como chocar, assaltos, roubos, drogas, agressivos, crime, morte e
outros são usadas comumente para se alcançar um teor passional e assim
dificultar uma compreensão sóbria e mais verdadeira do punk.


O recurso do argumento de autoridade, capaz de promover o discurso
como consensual, colaboram para levar o leitor à concepção proposta. Por
exemplo, enunciados do tipo: "Em meio às estranhas figuras formadas pelos
jovens de cabelos desgrenhados e blusões sem mangas e desbotados está o
delegado do Monte Castelo. Veio não só para vigiar a festa, mas para
policiar o uso de drogas e prender dois punks que andaram assaltando por
aqui".[109], introduzem personagens importantes como estratégia de
valorização da mensagem.


Os números e os dados estatísticos presentes nos textos são
decisivos para a função de criar um "efeito verdade", apresentados sem a
citação de fonte. Por exemplo, "... centenas de jovens entre 16 e 24 anos
pulam, berram, saltam..."[110] ou "pesquisas mostram que o uso de drogas
entre os punks é dez vezes mais prevalente do que em outras tribos
urbanas".[111]


Vê-se, pois, mensagens que não tem por objetivo informar, mas
convencer, impossibilitando a elaboração de uma concepção própria por parte
do leitor, o que está bem explícito nos títulos de cada uma das matérias
jornalísticas analisadas. Assim sendo, os textos induzem uma verdadeira
subordinação intelectual: o leito mergulha de cabeça no movimento anti-punk
sem se dar conta, uma vez que este é apregoado nas linhas e nas entrelinhas
como caminho único para que o leitor e os seus entes familiares e amigos
não queiram saber a respeito do punk.
O tom aparentemente cordial, mas autoritário no seu mediato traz
como resultado a ideia de um saber único e acabado. A tendência de se
apresentar como detentora da verdade está presente nos textos tanto pela
força dos argumentos quanto pelo caráter formal de produção. Como diz
Fiorin (1990, p.145):


O discurso autoritário é o campo da certeza, do imperativo
categórico que manifesta um saber supremo, levando o
interlocutor a aceita-lo como verdade. Impede-se, por
conseguinte, a expansão de um pensamento mais crítico,
seja individual, seja social ou comunitário.[112]


A publicação na íntegra do manifesto Anarco-Punk no Caderno Tribos,
remete à questão do espaço de publicação da matéria, uma das técnicas
fundamentais para alcançar o silenciamento, que consiste em se revelar um
espírito democrático, aberto a todas as tendências, mas ao mesmo tempo,
publica-se em parte do jornal pouco lidas pela maioria dos leitores, no
intuito proposital de omitir deliberadamente algo.


Outro recurso usado pelos produtores dos textos em questão é abusar
do emprego de verbos que exprimem atitudes de convicção, marcando a posição
autoritária do emissor.


Reforça tal análise a presença de termos como violência, polícia,
repressão, vagabundo, marginalidade, opressão, vandalismo etc., insinuando
conflito e sofrimento como se isso fosse próprio e exclusivamente referente
aos punks. Vale repetir: termos sempre associados a droga e sexo para
provocar um clima de repúdio incondicional. Este é o recurso do
"paralelismo"[113], que consiste em se repetir uma certa estrutura para
reforçar uma ideia, acentuando o seu efeito (a violência, a marginalidade,
a prostituição, a auto-destruição etc.) para fazer dessa forma emergir o
sentido de que o punk é, senão é único, o fator determinante, hoje, de
problemas urbanos juvenis.


Mais uma ideia chave e presente em quase todos os textos postos em
estudo diz respeito à apresentação do punk como um jovem indefeso, perdido,
carente e necessitado de orientação e proteção: "... mas não sabem dizer
quando começaram a mudar de comportamento..."[114] ou ainda: "... Porém, o
relacionamento com os pais não é tão infeliz..."[115]. E mais: "o que é que
jovens cearenses da periferia têm a ver com um movimento de jovens
proletários ingleses?"[116]; "Já tivemos mesmo um mártir, o Dedé Podre, que
foi covardemente assassinado..."[117]. Enfatiza-se dessa forma o
relacionamento paternalista, associado à perfeição com o modelo da
"sociedade disciplinar"[118],conceito elaborado por Foucault (1988), cuja
racionalidade estimula o controle institucional, o enquadramento dos
indivíduos considerados como sua participação criativa, sem
responsabilidade civil e sem pensamento crítico, características que os
punks cearenses e do mundo inteiro são possuidores em demasia.


Os autores dos textos em análise expressam, ora de forma explícita
ora implícita uma visão maniqueísta do mundo, ou seja, o mundo divide-se em
dois blocos compactos e inconciliáveis – o dos bons e o dos maus, e eles, é
claro, fazem parte do primeiro, protetores que são dos "bons cidadãos"
cujos comportamentos correspondem às expectativas de normalidade, enquanto
que os punks, é claro também, fazem parte do segundo, desviantes e
assumidos que são de normas e regras, ameaçadores da ordem social vigente.


Em suma, os textos analisados indicam formas de um processo
disciplinar referentes a um contexto autoritário, discriminatório e
repressivo[119]. Eles estão a serviço do trabalho político de sujeição do
cidadão ao ideário de harmonia social, ajudando a encobrir as contradições
inerentes à sociedade brasileira no todo e em particular a sociedade
cearense. Os discursos em pauta se constituem, portanto, na
disciplinarização das pessoas. Apontando-se, segundo FOUCAULT (1988)[120],
a possibilidade e a ameaça de condutas desviantes, exóticas, repulsivas,
funda-se a prescrição normativa que desencadeia o controle, a intervenção e
a exclusão.










CONSIDERAÇÕES FINAIS




A complexidade, a singularidade do punk, quer como movimento quer
como expressão artística e os fatores sócio-político-histórico-culturais do
envolvimento de consideráveis segmentos de jovens proletários em todo o
mundo, no Brasil e em particular no Estado do Ceará foram destacados em
diversas partes deste trabalho, assim como a sua afinidade a outros
contemporâneos movimentos de estilo[121] e a sua adesão à práxis (teoria +
prática) anarquista.


Mostra-se também ao longo das páginas desta pesquisa as diversas
estratégias de atuação do movimento punk, acionadas por diferentes
protagonistas, tudo dentro dos princípios do "Faça você mesmo" e "não
futuro", paradigmas do punk: bandas musicais, fanzines, panfletos,
manifestos, festas, shows, festivais, passeatas etc. Tais práticas,
articuladas em torno da rebeldia, da revolução, na luta contra o sistema,
politizam a arte punk ao mesmo tempo que estetizam a política, ou seja,
"fundam política, estética e ética, numa criação inusitada". (DAMASCENO,
op.p.438)[122]


O punk foi uma das forças primordiais para o renascimento de uma
subjetividade política no mundo ocidental na década de 80, reinventando a
política, mostrando que "sem homens vivos, não há história"[123] e isto
justo em um momento em que se pensava, em termos burgueses, que a juventude
em geral havia sido desmobilizada pelos atrativos da industria cultural e
pela ação alienante da mídia, esquecendo-se que a juventude será sempre
considerada a idade privilegiada para questionamentos, rebeldias e
transgressões.


A disseminação do punk pelos quatro cantos da "Aldeia Global"[124],
fazendo-o chegar até ao Estado do Ceará, resultou em grande parte da
própria lógica capitalista, fundamentada na ideia de que sua permanência e
hegemonia se deve à produção e ao consumo intenso, sem importar a maneira
do estímulo.
Sob esse prisma capitalista era imprescindível a difusão de
culturas e bens culturais e a reinvenção dos mesmos da parte de quem os
recebe e utiliza. Assim toda a vida social se transformou, bem como a
maneira de pensar, especialmente da juventude. Segundo Mchuhan, "a mídia
que uma sociedade utiliza determina a personalidade de base, da mesma forma
que o comportamento do homem desta sociedade".[125]


O punk cearense, ao contrário do vinculado pela mídia alencarina
não é produto de uma mentalidade colonizada, para a qual tudo que advém dos
centros do poder mundial é bom e bonito e deve ser imitado. O punk cearense
nesse processo de apropriação do punk anglo-americano acrescentou elementos
próprios da cultura cearense, fusão esta que lhe garantiu uma identidade
própria. É como diria mira (1994, p.138) "é no próprio interior da
globalização da mídia que se desenhou suas contratendências".[126]


Não se considera aqui os meios de comunicação de massa
necessariamente como instrumentos todo-poderosos, capazes de determinar
inexoravelmente a forma como as pessoas pensam e agem. O punk cearense é
uma forma viva do processo de apropriação e seleção dos conteúdos
significativos, o que elimina a ideia de passividade.


Neste trabalho vê-se, portanto, que para os punks o sonho não
acabou em 1968. Não que o sonho punk tenha algo a ver com o sonho juvenil
dos anos 60, a não ser a própria condição de sonho de uma juventude. Não há
ingenuidade na utopia punk, porque produto direto da realidade perversa do
modo de vida capitalista a partir dos anos 80, quando se inicia a exclusão
das massas em massa, especialmente dos seus segmentos jovens. O punk
praticamente quase nada herdou dos rockeiros e hippies e construíram eles
próprios sua cultura e os riscos de quem se atreve a desafinar o coro dos
próprios descontentes.


De volta à questão da mídia são se pode negar que ela tem um
potencial imensurável na formação dos valores que fundamental uma leitura
da realidade, mas esse poder está longe de ser onipotente o onipresente
como muitos querem fazer crer. E o punk cearense mais uma vez é uma prova
real e concreta do dito agora. Nota-se que se fosse pelo poder da mídia
cearense, o punk aqui não teria florescido e nem teria tido a força que
teve e tem, ainda que ultimamente arrefecida.


Ao se privilegiar as impressões da mídia sobre o movimento punk do
Ceará ao se analisar o conteúdo das reportagens jornalísticas não se tem a
pretensão de definir modos de acompanhamento, pois o autor desta pesquisa
sabe que isso também varia de acordo com o tempo e o lugar. O que se quer é
chamar a atenção para a necessidade de um empenho social e político mais
decidido nesse aspecto. O que se pretendeu foi tentar mostrar, em como é
que o acontecimento "punk" foi criado e ao tempo só, pela relação que dele
fora feita pela grande imprensa cearense. A história do punk, no mundo e no
Ceará desconstrói a ideia de que o fato histórico só existe quando se torna
notícia. Em outras palavras, "o fato é o que fazemos ser".[127]


Ressalta-se, também, nestas linhas conclusivas, que não se passa
pela cabeça do autor negar o papel do primeiro plano desempenhado pelo
jornalismo no fazer história e historiografia. Seria o mesmo que negar a
sua importância, em dois fatos recentes entre outros, que foram no plano
geral o escândalo Watergate e a Campanha Direitos Já, no plano brasileiro.


Buscou-se incessantemente na análise dos textos jornalísticos sobre
o punk no Ceará denunciar o silêncio militante da mídia e a sua perspectiva
burguesa de classe média, o seu fazer o jogo do poder, para quem não existe
nada pior do que a junção de pobreza, proletariado, consciência política e
disposição para a luta, tudo o que o punk representa.

















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[1] BARUS-MICHEL, J. O pesquisador, primeiro objeto da pesquisa. In:
Boletim de Psicologia, v. 39, n. 37, p. 801-804, 09/10/1980.
[2] JANOTTI JÚNIOR, Jeder S. Heavy metal: o universo tribal e o espaço dos
sonhos. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Comunicação
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[3] CARVAJAL, Carlos. Psicologia social comunitária: uma discussão aberta.
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[4] DEMÉTRIO, Lígia Maria Aderaldo. Horizontes em história e sociologia.
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[5] MACHADO, Ana Lúcia. Punks: eles surgem do Fortaleza e têm como lema
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[6] ESSINGER, Silvio. PUNK: Anarquia planetária e a cena brasileira. São
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[7] FRANÇA, JAMARI. Anarquia. Jornal do Brasil. São Paulo. 07 de outubro de
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[8] CAIAFA, Janice. Movimento PUNK na cidade: A invasão dos bandos sub. Rio
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[9] ABRAMO, Helena Wendel. Punks e Darks no espetáculo urbano. São Paulo:
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[10] BIVAR, Antonio. O que é Punk. 4. ed. São Paulo; Brasiliense, 1988.
[11] BIVAR, Antonio. Op.cit. p.40
[12] CBGB's (originalmente um bar de blues) e MAX'S KANSAS CITY foram bares
localizados em Nova York onde as primeiras bandas de Punk rock começaram a
tocar e ser ponto de encontro constante de jovens para ouvir este tipo de
música.
[13] ESSINGER, Silvio. op. cit. P. 32
[14] FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da
língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira S.A., 2006
[15] PLEKHANOV, G. A concepção materialista da história. São Paulo: Paz e
Terra, 1990.
[16] XIMENES, Amaudison. A música underground em Fortaleza: resistência ou
crise de identidade.
[17] LENNON, John. In Revista John Lennon. Reprodução da entrevista
concedida à Revista Rolling Stones, em 08/12/80, quatro horas antes de ser
assassinado. São Paulo: Editora Três, 1989.
[18] FERRER, Christian. Os destruidores de máquinas. Revista Libertária,
nº4, dezembro de 1998. São Paulo: Editora Imaginário, 1998, p.6.
[19] FERRER, Christian. Op. Cit, p.7
[20] PISTOLS, Sex. Anarchy in the U.K. In Never Mind the Bollocks. Virgin
Records. 1977
[21] PASSETI, Edson. Anarquismos. Revista Libertária, nº5, dezembro de
1999. São Paulo: Editora Imaginário, p.6
[22] BRANDÃO, Antônio Carlos e DUARTE, Milton Fernandes. Movimentos
Culturais de Juventude. São Paulo: Moderna, 1990.
[23] COOK, Bruce. A Geração Beat. Porto Alegre: L&PM, 2002.
[24] McNEIL, Legs e McCAIN, Gillian. Mate-me por favor. Porto Alegre: LePM,
1997.
[25] RUSSO, Renato, Trecho da canção "Há Tempos".
[26] MARCUSE, Herbert. Eros e civilização. Rio de Janeiro: Guanabara –
Koogan. 1996
[27] POLÉ, Goulai. Anarco-Punks. In Revista Libertária. Nº5. São Paulo:
Editora Imaginário. 1999.
[28] CORRÊA, Tupã Gomes. Rock: Nos passos da moda: mídia, consumo x mercado
cultural. São Paulo: Papirus, 1989.
[29] WARREN, Ilse Sherer. Redes de movimentos sociais. São Paulo: Loyola,
1993.
[30] CAIAFA, Janice. Op. Cit. P.11
[31] MORIN, Edgar. Cultura de massas do séc. XX: O espírito do tempo. Rio
de Janeiro. 1986
[32] HOBSBAWM, Erik. A era dos extremos – o breve século XX (1914-1991).
São Paulo: Cia. das Letras, 1995.
[33] MUGIATI, Roberto. História do Rock. V.3/4. São Paulo: Editora Três,
1983.
[34] PEDROSO, Helenrose. SILVA, Aparecida da e SOUZA, Hélder Cláudio
Augusto de. Absurdo da realidade: o movimento Punk. Campinas (SP): Cadernos
IFICH-UNICAMP, 1983, p.10.
[35] Método criado por GINZBURG, Carlo, exposto na obra Mitos, emblemas e
sinais. São Paulo: Cia. das Letras, 1989. Segundo o autor, "se a realidade
é opaca, existem zonas privilegiadas – sinais, indícios que permitem
decifrá-la. O ofício de conhecidos ou diagnosticados não pode se limitar a
por em prática regras pré-existentes" (op.cit.p.177)
[36] McNEIL, Legs. E McCAIN, Gillian. Mate-me por favor. Uma história sem
censura do Punk. Porto Alegre: L&PM, 1997, p.262.
[37] CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas – O imaginário da
república no Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 1998, p.10.
[38] Adágio popular ainda hoje em dia muito em voga.
[39] McNEIL, Legs e McCAIN, Gillian. Mate-me por favor. Porto Alegre: LePM,
1997.
[40] ANTUNES, Arnaldo. 40 escritos. São Paulo: Iluminures, 2000.
[41] http://pt.wikipedia.org/wiki/punk.
[42] DAMASCENO, F.J.G. Sutil Diferença: o movimento punk e o movimento hip
hop em Fortaleza – Grupos mistos no universo citadino contemporâneo.
Dissertação de doutorado apresentada a Pontífice Universidade Católica de
São Paulo, 2004.
[43] CAIAFA, Janice. Movimento punk na cidade: A invasão das bandas sub.
Rio de Janeiro: Zahar editor, 1985, p.76.
[44] BORGES, Paulo e COVRE, Rafael. Tribos Urbanas. In Revista literárias,
nº4. São Paulo: Imaginário, 1999.
[45] Jornal New musical Express, s/n, s/d. Apud Essinger. Op.cit.p.41.
[46] BIVAR, Antônio. O que é punk. São Paulo: Brasiliense, 1982.
[47] Fanzine: rotulando o in-rotulável. In
www.mood.com.br/3a01/zine.asp.58k.
[48] Essinger, Silvio.op.cit.p.62.
[49] Idem.op.cit.p.idem.
[50] DAMASCENO, F.J.G. op.cit.p.353.
[51] INOCENTES, Expresso oriente. LP Pânico em SP. WEA, 1986.
[52] SEX PISTOLS, God save the queen. LP Never Mind the Bollocks: Here's
the Sex Pistols; Virgin, 1977.
[53] Essinger, Silvio.op.cit.p.49.
[54] Baiana, Ana Maria.. Punkinhos de estimação. Revista Somtrês. 1982,
p.27.
[55] CAIAFA, Janice.op.cit.p.37.
[56] ABRAMO, H.W.op.cit.p.105.
[57] RATOS DE PORÃO. Por quê? LP Crucificados pelo Sistema. São Paulo: Punk
Rock, 1984.
[58] PSICOSE. Fim do mundo. Coletânea: O começo do Fim do Mundo. São Paulo:
Punk Rock, 1983.
[59] ABRAMO, H.W.op.cit.p.101-102.
[60] CAIAFA, Janice.op.cit.p.29.
[61] MUGGIATI. Roberto. Rock: o grito e o mito. A música pop como forma de
comunicação e contracultura. Petrópolis, RJ: Vozes, 1983. p.113.
[62] CAIAFA, Janice.op.cit.p.29.
[63] BIVAR, Antônio. op. cit. p.60
[64] MARX, Karl. A ideologia Alemã. São Paulo: Cultrix, 1999.
[65] BORGES e COVRE. Op.cit.p.32.
[66] BIVAR, Antõnio.op.cit.p.60
[67] ESSINGER, Silvio.op.cit.p.52
[68] Trecho da Carta Resposta O Movimento Punk e a vinculação com a
violência. Extraído de http://www.overmundo.com.br/blogs/carta-resposta-o-
movimento-punk-e-a-vinculação-com-a-violência.
[69] ABRAMO, Helena Wendell. Cenas Juvenis: punks e Darks no espetáculo
urbano. São Paulo: Scritta, 1994.
[70] ALEXANDRE, Ricardo. Dias de luta: o rock e o Brasil dos anos 80. São
Paulo: DBA, 2002.p.50.
[71] ALEXANDRE, Ricardo.op.cit.p.66.
[72] Doutrina filosófica segundo a qual nada existe de absoluto, não há
verdade moral nem hierarquia de valores e que o progresso social só é
possível após a destruição da sociedade estabelecida. Sua origem remonta à
filosofia grega pré-socrática e percorre toda a história da filosofia.
Dentre os niilistas modernos mais próximos da concepção punk estão Bakunin,
Kropotkin, Heidegger e Sartre.
[73] ABRAMO, H.W. op.cit.p.115.
[74] DAMASCENO, F. J. G. Op. cit., p. 28
[75] CAIAFA, Tanice. Op. cit, p. 81.
[76] Moda Punk. http://pt.wikipedia.org.wiki/moda_punk.
[77] DAMASCENO, F. J. G. Op. cit., p. 124
[78] Revista Veja. As ovelhas negras. Ed. 16.07.1986. p. 74-75.
[79] Revista Veja. As ovelhas negras. Ed. de 16/07/1986, p. 74-75.
[80] A Lei 9.394 de 1996 que estabeleceu as diretrizes e bases da Educação
Nacional determina sob pena de sanções, a obrigatoriedade do ensino escolar
dos 7 aos 14 anos de idade, limite máximo que coincide com a idade em que
geralmente o jovem inicia-se no movimento punk.
[81] Depoimento de Aranha ou Rosali à Ana Maria Bahiana, formada em Turismo
e estudante de línguas e fala russo e alemão fluentemente. Jornal O Globo.
Ed. de 3 de maio de 1983.
[82] Idem. Idem. Idem.
[83] DAMASCENO, F.J.G. Op. cit, p. 35.
[84] Inocentes. Garotos do subúrbio. LP Adeus carne: WEA, 1987.
[85] Essinger, Sílvio. Op. cit, p. 25.
[86] Idem. Idem. p. 116.
[87] Fanzine Descarga Suburbana, editado pelo paulista Roger nos anos de
1980.
[88] CAIAFA, Janice. Op. cit, p. 37.
[89] A Teoria do Discurso foi sistematizado inicialmente por Percheu (1969)
e acrescido com a contribuição de autores como Baudrilhard, Bakhtin,
Foucault, Ducrot e Fair clough entre outros.
[90] KEMP. Kênia. Grupos de estilo jovem: o rock underground e as práticas
(contra) culturais dos grupos punk e trash em São Paulo. Campinas:
dissertação de Mestrado em Antropologia. UNICAMP, 1993.
[91] FOUCAULT, M. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1988.
[92] ORNALDI, E.P. Terra à vista: discurso do confronto: velho e novo
mundo. Campinas: Cortez, 1990.
[93] Termo utilizado por Mary Jane Spink que o prefere ao termo
"desconstrução", pois segundo esta autora "dificilmente" desconstruímos o
que foi construído. Criamos espaço, sim, para novas construções, mas as
anteriores ficam impregnadas nos artefatos da cultura, constituindo o
acervo de repertórios interpretativos disponíveis para dar sentido ao
mundo. (Spink, M.J. 2001, p.33). Práticas discursivas e produção de
sentidos no cotidiano: aproximações teóricas e metodológicas. São Paulo:
Cortez, 2001.
[94] OLIVEIRA, S.R.M. Ideologia no discurso sobre as drogas. Brasília,
1992. Dissertação de mestrado. Universidade de Brasília.
[95] Agnes Heller compreende por carecimentos radicais "todas as carências
nascidas na sociedade capitalista, em consequência do desenvolvimento da
sociedade civil mas que não podem ser satisfeitos dentro dos limites dessa
sociedade. Portanto, os carecimentos radicais podem ser fatores de
superação da sociedade capitalista." HELLER, Agnes. Para mudar a vida. São
Paulo: Brasiliense, 1982, p.133.
[96] ARAÚJO, Francisco Cláudio da Costa. A Formação do Movimento Punk de
Fortaleza (CE): O surgimento de um movimento de "resistência" de classe.
Monografia apresentada ao Curso de História da Universidade Estadual do
Ceará – UECE, 2001.
[97] MARX, Karl; ENGELS, Friederich. Manifesto do Partido Comunista.
Coleção Universidade Popular, v.1. São Paulo: Global, 1987.
[98] ARAÚJO, F.C. da Costa.op.cit.p.01 da introdução.
[99] Punks: A rebeldia dos anos 80. In: Jornal Diário do Nordeste. Edição
de 08.10.1982.
[100] DAMASCENO, F.J.G. op.cit, p.43.
[101] VIANA, Hermana. Galeras Cariocas. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997.
[102] Nome dado ao festival punk ocorrido no Sesc Pompeia, em São Paulo, em
1982, reunindo grupos como Olho Seco, Cólera, Ratos de Porão etc; chamando
a atenção da polícia e da mídia para esse movimento de jovens suburbanos.
[103] DAMASCENO, F.J.G. op.cit, p.11.
[104] ARAÚJO, F.C. da C. op.cit, p.63-64.
[105] DAMAESCENO, F.J.G. op.cit.p.241.
[106] ARAÚJO, F.C.C. op.cit, p.63.
[107] Agnes Heller compreende por "carecimentos radicais" as carências
nascidas na sociedade capitalista, em consequência do desenvolvimento da
sociedade civil nas que não podem ser satisfeitos nos limites dessa
sociedade. HELLER, Agnes. Para mudar a vida. São Paulo. Brasiliense, 1982,
p.133.
[108] BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
[109] In: Jornal Diário do Nordeste, Fortaleza 26.07.83, p.18.
[110] Idem Ibdem.
[111] In: Jornal O Povo, Fortaleza, 22.11.90, p21.
[112] FIORIN, J.L. Linguagem e ideologia. São Paulo, Ática, 1990..
[113] Categoria usada por Fairclough, N.: Linguagem e Poder. Lisboa:
Edições 70, 1989.
[114] In. Jornal Diário do Nordeste. Fortaleza, 26.07.83, p.18.
[115] In. Jornal Tribuna do Ceará. Fortaleza, 02.08.86, p(?).
[116] In. Jornal O Povo. Fortaleza, 22.11.90, p.21.
[117] In. Jornal O Povo. Fortaleza, 03.02.91. p.14-b.
[118] FOUCAULT. M. Vigiar e Punir. Petrópolis, Vozes, 1988.
[119] Vale lembrar que a origem do movimento punk no Ceará coincide com o
tempo final da ditadura militar de 1964.
[120] FOUCAULT, M. op.cit.
[121] Segundo Bourdieu, "o estilo de vida é um conjunto unitário de
preferências distintivas que exprimem, na lógica específica de cada um
dos subespaços simbólicos, mobília, vestimentas, linguagem ou héxis
corporal, a mesma intenção expressiva, princípio da unidade do estilo que
se entrega diretamente à intuição e que a análise destrói ao recortá-lo
em universos separados. In BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de
Janeiro: Difel, 1989, p.p.83-84.
[122] DAMASCENO, F. J. G. op.cit.2004.
[123] SARTIRE, J.P. Questão ao método. São Paulo: Difel, 1997, p.142.
[124] Expressão criada por Mashall Mchuhan nos anos 60.
[125] McHUHAN, Mashall. Os meios de comunicação como extensão do homem. São
Paulo: Cultrix, 1996
[126] MIRA, Maria Celeste. O global e o local: mídia, identidade e usos da
cultura. In. Margem 3. Condição Planetária. São Paulo: Educ, 1994.
[127] KRAVETZ, Marc. Os jornalistas "fazem" a história. Lisboa: Teorema,
1989.
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