O MOVIMENTO SEM TERRA EM BRASÍLIA: notas etnográficas sobre uma mobilização nacional do MST

September 2, 2017 | Autor: Marcos Paulo Campos | Categoria: Ethnography, Political Mobilization, MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
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O Movimento Sem Terra em Brasília: notas etnográficas sobre uma mobilização nacional do MST Marcos Paulo Campos IESP-UERJ

Brasília. 22 de agosto de 2012. Aproximadamente, 8h e 15min. Desembarco no Aeroporto Internacional de Brasília e sigo, imediatamente, em busca de um táxi para chegar, o mais rápido possível, à Esplanada dos Ministérios. Isso porque lá ocorria a marcha que encerrava o Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas. Ainda em direção à Esplanada, nas proximidades da Biblioteca Nacional, começo a perceber o trânsito engarrafado. Comento com taxista: “Brasília é, de fato, a capital brasileira. Igual às outras cidades do país, o trânsito não anda!”. Então, o taxista diz: “nesse horário é até melhor, mas parece que tem uns sem terra fazendo manifestação, sei lá... tá tudo parado”. Ao ouvir isso, digo: “senhor, quanto foi a corrida? Vou ficar por aqui mesmo”. A decisão de sair do táxi e seguir aqueles que foram reconhecidos pelo taxista como os „sem terra‟ se deu em virtude do desejo de exercitar a produção de dados etnográficos sobre um momento de forte exposição simbólica por parte dos agentes da luta pela terra. A marcha nacional aqui anotada é um campo fecundo à realização desse desejo intelectual. Mais que isso, as questões metodológicas postas pela pesquisa de campo etnográfica numa situação em que tanto os sujeitos pesquisados como o sujeito pesquisador estão deslocados dos territórios nos quais regularmente se socializam são o foco deste trabalho, bem como as indicações que o trabalho etnográfico pode apresentar na compreensão da relação entre o MST e o governo brasileiro na atual conjuntura política do país.

O outro, a etnografia e o(s) mundo(s) contemporâneo(s) A prática etnográfica nasceu como forma de conhecimento do outro. Esse outro era aquele que foi encontrado/achado/descoberto pelo processo de expansão econômica europeia ocorrida do século XV em diante e que precisava ser descrito para ser compreendido (ou dominado?). Contudo, a etnografia como abordagem científica não

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surgiu concomitante ao período das Grandes Navegações, embora os relatos dos viajantes e os textos produzidos naquele momento possam ser aproveitados pela reflexão sistemática que tem por objeto a alteridade. Judith Cortesão (2002) afirma que os feitores dos mapas de navegação utilizados para guiar as rotas dos navios europeus naquele momento eram os letrados disponíveis. Isso quer dizer que jornalistas, literatos e filósofos participaram da redação de mapas que tinham na descrição dos espaços já vistos um importante referencial cartográfico. Nesse sentido, a feitura dos tais mapas incorporava narrativas sobre a vegetação, os riscos, os mitos e os povos distantes que apareciam ou poderiam aparecer aos embarcados. Judith Cortesão afirma que o encontro com o território hoje denominado Brasil alimentou uma enorme produção narrativa, talvez a maior de todos os tempos, bem como instalou um problema teológico e político. Segundo a pesquisadora, encontrar uma terra de beleza inalcançável em que vivia um povo nu e sem motivo para o decoro e a vergonha seria, para os quadrantes interpretativos europeus daquele momento, encontrar o „paraíso terrial‟. Aqueles que chegavam a naus – portanto, os próprios europeus – seriam os expulsos do paraíso, visto que desconheciam o lugar e, sobretudo, porque viviam „do suor do seu rosto‟. A alternativa para solucionar o impasse posto à exploração econômica das novas terras, segundo Cortesão, foi tornar „expulsos‟ os ocupantes das terras encontradas. O trabalho de Judith Cortesão ilustra bem como a narrativa do outro não é um ofício exclusivo do etnógrafo, nem surgiu com ele. Contudo, a anotação do outro com pretensão de validade demonstrável assume lugar no processo de conformação das ciências sociais, com destaque para a antropologia, desde meados do século XIX. Bronislaw Malinowski (1884-1942) é reconhecido como o elaborador da primeira teoria sobre o trabalho de campo e a abordagem etnográfica. Para Malinowski, o trabalho de campo etnográfico é caracterizado pela anotação descritiva das observações da vida nativa obtidas em contato prolongado com o outro. No caso desse pesquisador, a longa temporada entre os nativos das ilhas Trobriand permitiu a descrição de um sistema econômico e cultural chamado Kula. E mais, permitiu também pensar e propor o próprio fazer do trabalho de campo etnográfico. Portanto, etnografia nesse momento consistia na descrição das ocorrências observadas pelo etnógrafo que se deslocava ao encontro dos nativos de uma distinta e distante (territorialmente falando) organização social e por lá permanecia por longo período de tempo. Segundo Malinowski, descrever anotando as 3

relações vistas era fundamental em razão de estar o etnógrafo diante de sociedades sem escrita e historiografia. A longa permanência seria necessária porque não haveria um código de leis escrito e transparente, nem mesmo os nativos poderiam enunciar/explicar a completude de seu sistema cultural, devendo o pesquisador acompanhar o cotidiano para que os “casos reais” revelassem as regras coletivas. E mais, a ampla permanência entre os nativos possibilitava aprender e dominar algo fundamental: a língua local. A prática do etnógrafo, tal como pensada por Malinowski, assume uma dimensão clássica nos estudos sobre o outro. Esse caráter clássico reúne dois elementos: 1) deslocamento do pesquisador a uma comunidade cultural bastante diferenciada em relação àquela em que o mesmo foi socializado e 2) amplo período de contato entre o pesquisador e os nativos. Além disso, o resultado desse contato seria uma descrição dos sistemas simbolicamente organizados na sociedade nativa expressos nas anotações cotidianas feitas pelo pesquisador em seu caderno de campo. Aquele que anota, o pesquisador, registra as ocorrências dos outros tal como são vividas por eles e, implícita e pretensamente, tal como ele supunha serem com ou sem a sua presença. A postura clássica alimentou a possibilidade de que o conhecimento do outro fosse pensado como um ato linear em que o polo conhecedor dirige-se ao polo conhecido e, mesmo diante do fato de um direcionar-se ao outro, ambos continuariam sendo os mesmos. Portanto, a interação entre o pesquisador e o pesquisado não entra na análise nem demanda uma problematização sobre o ato de anotar o outro. Se, para Malinowski, a possibilidade clássica pareceu fecunda, para outros pesquisadores, a questão da etnografia precisou ser repensada. Isso ocorreu por dois motivos consorciados: mudanças no mundo dos outros e alterações do padrão interpretativo sobre a alteridade. Neste caso, os processos desencadeados pela colonização constituíram uma situação distinta para a etnografia. Se o outro já foi encontrado em estado nativo (puro?) por quaisquer pesquisadores, depois dos contatos ocorridos entre o mundo europeu e os povos encontrados isso não mais pode ser dito. Intensas relações econômicas, sociais, culturais, sexuais e simbólicas entre colonizadores e povos colonizados alteraram os espaços de socialização do outro e tais alterações impõem a reflexão sobre a interação entre o pesquisador e aqueles que estão sendo por ele observados e anotados. Além disso, as 4

primeiras etnografias produzidas sobre os nativos passaram a constituir alguma anotação histórica sobre eles e permitiram romper as limitações do presente etnográfico, ou seja, a temporalidade própria ao contato direto entre o etnógrafo e os etnografados pode ser ampliada intelectualmente. Diante das mudanças no mundo dos outros, Max Gluckman fez uma releitura dos trabalhos de Malinowski e expôs o risco de anotar a vida nativa como sendo um sistema humano homogêneo, padronizado e fechado em seu funcionamento interno. Essa perfeição organizativa seria muito mais uma percepção do outro anotado segundo um olhar informado pela ideia de ordem social do que uma ocorrência própria ao mundo nativo. Esse mundo nativo seria muito menos regularizado que a anotação feita sobre ele. Para Gluckman (1975, p. 65), sob certos aspectos, ele [Malinowski] travou e venceu uma batalha importante, durante a qual elevou a pesquisa de campo etnográfica à categoria de uma arte profissional. Lutou para convencer que a vida e as instituições primitivas eram mais complexas, muito mais complexas, do que os teóricos anteriores pensavam. (...) A tragédia pessoal de Malinowski foi a de continuar essa mesma batalha, depois de tê-la vencido (...). O trabalho de Malinowski, ao focar nas complexidades internas à vida nativa, acabou por fechar-se nelas. Portanto, a crítica de Max Gluckman inspira uma nova abordagem para o material etnográfico e outra postura para o trabalho de campo. Nessa direção, o método do caso desdobrado (extended case method) se coloca como alternativa à postura clássica por reconhecer o trabalho de pesquisa sobre a alteridade como a anotação de um estágio da dinâmica cultural encontrada no presente cuja elaboração remonta a um passado também dinâmico e para a qual o futuro está aberto e não pode ser deduzido da situação presente anotada. Esta proposta interpretativa informou os estudos sobre as relações entre os nativos e o poder colonial como renovação analítica e também como renovação da prática etnográfica em que a anotação do outro passa a considerar quem anota. Embora os observados continuem sendo anotados nas suas interações entre si, os ocorridos entre eles e o pesquisador também ganham espaço na escrita etnográfica e na

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reflexão sistemática sobre a alteridade. E mais, o caráter processual das ocorrências nativas assume centralidade interpretativa. Reconhecendo em Evans-Pritchard e Mitchelli a autoria dos trabalhos renovadores da antropologia social inglesa pelo uso da abordagem desdobrada, Gluckman considera que, por meio dessas etnografias, “tomamos conhecimento de que os indivíduos agem por conta própria, estabelecem diferentes alianças ao sabor da mudança de pressões, recorrem a um vaticínio após outro de forma a sustentar suas ambições e satisfazer seu sentido de justiça” (1975, p. 71). Por sua vez, Michael Buroway afirma que o método do caso desdobrado traduz nas ciências sociais a proposta de ciência reflexiva. Para Buroway (1998), essa proposição de ciência é a model of Science that embraces not detachment but engagement as the road to knowledge. Premised upon our own participation in the world we study, reflexive science deploys multiple dialogues to reach explanations of empirical phenomena. Reflexive science starts out from dialogue, virtual or real, between observer and participants (p.5) É perceptível, portanto, a emergência do postulado científico no qual as relações entre o pesquisador e os pesquisados – e não somente entre esses últimos – assumem enorme relevância entre os cientistas sociais a ponto de constituir disputas internas à produção antropológica. No caso da antropologia inglesa, houve certa distinção entre aqueles que apostavam na possibilidade de conhecer o outro enquanto tal e aqueles que sustentavam a impossibilidade de conhecer os nativos, sobretudo a partir de pesquisas na África, sem considerar o poder colonial inglês vigente em seu território. É ilustrativa dessa discussão a produção etnográfica sobre o tema da “zambianization”. Esse termo designa os estudos realizados sobre a situação pós-colonial no país africano Zâmbia. O estudo etnográfico sobre a Zâmbia é retomado por Buroway para demonstrar que a pesquisa segundo a ciência reflexiva põe em questão os quatro princípios básicos da ciência positivista. Contudo, o autor afirma que mesmo os surveys não estão imunes aos “context effects” porque o indivíduo que responde a um questionário é o mesmo que está sob observação do etnógrafo. Além disso, se a possibilidade de observação neutra do outro 6

é desmontada pelo contato etnográfico (e/ou também pela análise dos surveys?), outra ruptura proposta pelo método do caso desdobrado informado pela ciência reflexiva é a relação entre elementos particulares, locais ou nativos (micro) e aqueles gerais, nacionais ou cosmopolitas (macro). O fluxo permanente das relações sociais sob observação etnográfica dificulta, ou mesmo impede, a manutenção de esquemas rígidos de análise inspiradores de um (im)possível analista neutro. Os estudos pós-coloniais revelam não só esse fluxo como seus jogos de poder internos, pois põem lupa sobre as táticas de hegemonia e contra-hegemonia acionadas pelos observados. Isso, segundo Buroway, faz o método do caso desdobrado questionar as mesmas forças que revela, sendo a militância política o limite de sua desejável objetividade. Na esteira dos estudos sobre a situação pós-colonial em Zâmbia, reúnem-se trabalhos diversos cujo interesse comum é entender como se deu a passagem da situação colonial para a situação de país independente e, principalmente, como essa passagem alterou as relações de poder entre os zâmbios nas escalas local, nacional e global. James Ferguson toma o desdobramento da relação entre o campo e a cidade em Copperbelt ii para pensar a “zambianization”. Nesse sentido, Ferguson (1999) refuta o entendimento no qual a urbanização é um pacote fechado (whole package) da industrialização e do desenvolvimento capitalista. Para entender a conformação dos espaços urbanos, o autor problematiza a representação da relação campo-cidade, pois a urbanização, segundo James Ferguson, é um processo multidimensional marcado por mudanças permanentes nos sentidos atribuídos ao espaço. Por um lado, o termo “campo” indica o natural, o puro e o moral e, por outro, o termo “cidade” contrapõe o primeiro nas acepções de artificial, corrupto e imoral. O autor demonstra, portanto, como essas representações são pontos de convergência de sentidos constituintes das mudanças sociais, econômicas e políticas próprias ao desenvolvimento capitalista em Copperbelt. O início da urbanização em Zâmbia foi acompanhado de uma percepção do campo como algo puro. Isso tem relação com o fato de os homens serem atraídos das regiões agrárias para os centros de exploração do cobre e de lá remeterem recursos para suas famílias – que estavam onde eles desejavam retornar. A mineração e os negócios do cobre eram os fatores econômicos centrais na Zâmbia daquele momento e constituíram uma forte 7

urbanização. Contudo, em momentos posteriores às primeiras migrações campo-cidade para o trabalho nas minas de cobre, a cidade assume a acepção de lugar do progresso em oposição ao campo como lugar do atraso. Para Ferguson, a relativa progressão econômica dos negócios do cobre ajuda a entender esse deslocamento de sentido glorificativo em direção ao urbano. Por fim, o momento contemporâneo – no qual o declínio econômico do cobre e, por conseguinte, do espaço urbano são fatos – impulsionou um necessário retorno ao campo. Nesse retorno, surge uma terceira percepção: o campo como lugar do egoísmo (selfish). James Ferguson afirma ser essa representação um indicativo da má recepção ofertada aos retornados. A ausência de relações de confiança entre os retornados (trusting each other) e os habitantes das regiões rurais pode estar estruturada em diversas questões, entre as quais, a competição em situação de redução de rendas e ganhos e as tensões no relacionamento entre os que migraram para a cidade e os que ficaram no campo durante os afortunados anos do cobre. Segundo Ferguson, não seria raro ouvir dos trabalhadores das minas (com os quais teve contato) relatos negativos sobre o fato de sentir certa obrigação em remeter recursos às áreas rurais onde estavam suas mães e esposas. A intensidade dos fluxos de representação é parte da intensidade dos fluxos da vida nativa em interação direta com os impulsos de um sistema econômico que não nasceu naquele território e nem tem nele seu centro de dinamização global. Se, para Ferguson, o desdobramento das ocorrências em uma territorialidade limitada nacionalmente, embora amplamente relacionada ao plano internacional, foi fecundo ao trabalho etnográfico e à compreensão das relações constantemente mutáveis da vida nativa na qual não se apresentam nem o isolamento nem a reprodução pura e simples de qualquer saber ou cultura local, para Arjun Appadurai e George Marcus, a desterritorialidadeiii dos fluxos contemporâneos em tempos de globalização aparece como um novo leito para a anotação do outro que deságua na etnografia e conflui a abordagem reflexiva e a globalização contemporânea. Como diria Appadurai, there is an urgente need to focus on the cultural dynamics of what is now called deterritorialization. This term applies not only to obvious examples such as transnational corporations and money markets, but also to ethnic groups, sectarian movements, and political formations, which increasingly operate in ways that 8

transcend specific territorial boundaries and identities. Deterritorialization (…) affects the loyalties of groups (especially in the context of complex diasporas), their transnational manipulation of currencies and other forms of wealth and investment, and the strategies of states. The loosening of the bonds between people, wealth, and territories fundamentally alters the basis of cultural reproduction. (1991, p. 192 e 193) Em sua experiência pessoal, o autor viveu implicações da tendência cosmopolita que delineia acima. Segundo Arjun Appadurai, em viagem familiar pela Índia no ano de 1988, ele, nascido em Mumbai/IN e radicado nos E.U.A., e Carol Breckenridge, sua esposa, nascida nos E.U.A. e estudiosa da Índia, foram visitar o Meenaksi Temple que fica localizado no distrito de Madurai em Tamil Naduh na Índia. Ao chegar ao referido templo e perguntar pelo chefe religioso do local, Thangam Bhattar, Appadurai recebeu a seguinte resposta: “Thangam Bhattar is in Houston”. E mais, o autor afirma ser essa ida de Bhattar aos E.U.A. um dado inserido num circuito amplo de relações, pois “the indian communities in Houston, like many communities of Asian Indians in the United States, had built a Hindu temple, this one devoted to Meenaksi, the ruling deity in Madurai”. Contudo, para além da dimensão evidentemente religiosa do fenômeno, o fluxo em questão relaciona-se também a outras questões. Segundo Appadurai, Thangam Bhattar had been persuaded to go there [Houston], leaving his family behind. He leads a lonely life in Houston, assisting in the complex cultural politics of reproduction in an overseas Indian community, presumably earning some dollars, while his wife and children stay on in their small home near the temple. The next morning, my wife and niece visited Thangam Bhattar‟s home, where they were told of his travails in Houston, and they told the family what had gone on with us in the intervening years. There is a transnational irony here, of course: Carol Breckenridge, American historian, arrives in Madurai waiting with bated breath to see her closest informant and friend, a priest, and discovers that he is in faraway Houston, which is far away even from faraway Philadelphia (1991, p. 201). A ironia transnacional de que fala Appadurai está no desmonte do distanciamento outrora presente na relação entre Breckendridge e seu principal informante nativo, pois o referido templo fora estudado por ela anos antes. Agora, o nativo está no e/ou é parte do 9

mundo de quem o pesquisa! Além disso, longe de ser uma exclusividade do caso narrado por Appadurai, as comunicações entre o mundo antes percebido como “nativo” e o mundo daqueles que a ele se dirigiam na qualidade de pesquisadores se reinventaram e, portanto, exigem uma reformulação nos modos de anotação e compreensão do outro. Nesse sentido, se apresenta a possibilidade (ou a necessidade?) de uma etnografia multissituada. Para George Marcus, “the heart of contemporary ethnographic analysis is not in the reclamation of some previous cultural state or its subtle preservation despite changes, but rather in the new cultural forms to which changes in colonial subaltern situations have given rise” (1995, p. 96). Os estudos na África, por exemplo, constituem um panorama das mudanças que estruturam os fluxos do(s) mundo(s) contemporâneo(s), segundo Marcus, e apontam para uma prática de anotação do outro informada pela ruptura do presente etnográfico outrora alicerçado no contato entre um polo conhecedor deslocado a um polo conhecido fixado num território delimitado. Sobre isso, George Marcus sustenta que “this mode [multi-sited ethnography] defines for itself an object of study that cannot be accounted for ethnographically by remaining focused on a single site of intensive investigation” (1995, p. 96). Portanto, se o mundo contemporâneo é um fluxo constante espraiado em territorialidades múltiplas, a etnografia como forma de anotação interpretativa do outro deve seguir esse fluxo e assumir essa multiplicidade territorial na prática de pesquisa e na compreensão das informações anotadas. George Marcus aponta caminhos possíveis ao seguimento dos fluxos atuais, são eles: seguir pessoas, seguir coisas, seguir um enredo, seguir metáforas, seguir uma biografia, seguir conflitualidades. Dentre essas possibilidades, o “follow the people” me parece o indicativo metodológico adequado à interação que desenvolvi para etnografar o MST na capital federal. Isso porque seguir pessoas, segundo George Marcus, seria a forma básica de etnografia multilocalizada na qual a ampliação dos espaços por quais passa o fluxo interessante às analise exige que o analista o acompanhe e, portanto, desloque-se tanto quanto os sujeitos observados. A próxima sessão apresenta um exercício etnográfico consubstanciado em anotações sobre seguir o MST em Brasília.

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Seguindo o MST em Brasília Os estudos rurais brasileiros têm tradição em pesquisas marcadas pelo deslocamento dos pesquisadores aos lugares dos sujeitos pesquisadosiv. Portanto, convergiriam em muitos sentidos com os problemas metodológicos da etnografia clássica e podem ser trazidos à reflexão contemporânea sobre a pesquisa social em situações nas quais tanto o pesquisador como os sujeitos pesquisados estão em deslocamento porque os intensos fluxos atuais também se apresentam aos processos agrários e demandam novas posturas metodológicas. Iniciei minha experiência de pesquisa sobre o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) exercitando esse caminho clássicov. Para entender a elaboração da memória relativa à primeira ocupação de terra realizada pelo Movimento no estado do Ceará - que fora objeto de minha dissertação de mestrado - fiz cinco viagens ao assentamento resultante da referida ocupação nas quais produzi anotações das ocorrências presenciadas e vinte e três entrevistas narrativas com os agentes do processo em foco. Além disso, a pesquisa documental na seccional do INCRA vi daquele estado, bem como nos arquivos públicos de jornais locais permitiram desdobrar a primeira ocupação de terra do MST no Ceará, ocorrida em 1989, como parte de um processo histórico mais amplo de transformações políticas marcadas por três fatores simultâneos: o ocaso da política coronelística local, a redemocratização e a emergência de renovados agentes do campo político nacional e estadual. Nesse sentido, o exercício aqui desenvolvido visa anotar outra dimensão do Movimento Sem Terra - no caso, uma marcha nacional - e pensar sobre a própria forma de contato feita com o Movimento para anotá-lo nessa circunstância. Isso exige breves apontamentos sobre a particularidade dessa ação coletiva, o MST. O Movimento Sem Terra surge no contexto da redemocratização e sua formação pode ser compreendida como uma aglutinação popular, organizada como movimento social, frente à política de modernização da produção agrícola impetrada pelos militares. Segundo Carlos Porto-Gonçalves (2005), o MST se apresenta como uma síntese criativa de experiências contestatórias tecidas na história brasileira recente. Sob o regime militar, ocorreram dois processos fundantes do Movimento: a modernização conservadora da agriculturavii e a aproximação dos elementos da ideologia socialista com a teologia cristãviii. Como marco do surgimento do MST, Porto-Gonçalves e Bernardo Fernandes (2000) 11

apontam o encontro ocorrido em Cascavel (PR) no ano de 1984. Participaram deste encontro mais de cem trabalhadores rurais vindos de 13 estados, principalmente do sul, sudeste e centro-oeste. A mobilização foi realizada pela Comissão Pastoral da Terraix e contou com apoio de bispos e padres católicos ligados à corrente progressista, pastores luteranos, sindicatos de trabalhadores rurais, intelectuais e partidos políticos. Vale ressaltar, a chamada da fase de gestação do MST, ou seja, a ocorrência de diversas lutas e enfrentamentos anteriores ao encontro de Cascavel que mobilizaram contingentes sociais de população sem terra na luta contra o latifúndio antes mesmo da formação do Movimento Sem Terra. Após três dias de debates, ficou acertado que o MST deveria ser construído pelos próprios trabalhadores sem terra, independentemente da Igreja Católica, dos sindicatos e dos partidos políticos, deveria estar aberto a toda família e ser um movimento de massas com vistas a garantir que a terra seja de quem nela trabalha e dela viva. Desde então, o MST atua na luta pela terra e tem sido o responsável pela retomada da questão agrária no debate público e pela realização da reforma agrária a partir de ocupações e acampamentos. No referido encontro, houve a decisão de expandir nacionalmente a ação do MST. Quase três décadas após o encontro de Cascavel, o Movimento está presente em 22 estados do país. No contexto contemporâneo, o MST mantém estratégias de ação de massas e participa de articulações em escala mundial como a Via Campesina e o Fórum Social Mundial. Outro elemento importante para compreender o MST é o caráter contestatório de suas ações. A estratégia central de ação política do Movimento é o questionamento da concentração de terra por meio de ocupações de grandes propriedades consideradas improdutivas. Segundo Stédile, coordenador nacional do MST, as ocupações de terra são “a principal forma de pressão de massas que os camponeses têm para, de forma prática, fazer a reforma agrária avançar e terem acesso direto à terra para trabalhar” (1999, p.117). A enorme repercussão das ações do Movimento nas grandes mídias confirma sua relevância como ator político no cenário nacional. E mais, segundo Lygia Sigaud, ocupar terras e nelas montar acampamentos tornou-se, nos últimos vinte anos, a forma apropriada para reivindicar a reforma agrária no Brasil. Dela se valem o

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Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o movimento sindical e outras tantas organizações existentes no mundo rural (2005, p. 255). Além do exposto, Sigaud afirma que o Estado brasileiro, pós-redemocratização, passou a conferir legitimidade às práticas dos movimentos por conta das desapropriações encaminhadas pelo INCRA como resultado das ações dos demandantes. Desapropriar terras e constituir assentamentos de famílias parceleiras tem sido a tônica da política agrária nacional. Nesse caso, o MST assume destaque por ter nas ocupações sua estratégia central de luta por reforma agrária. Contudo, em seu repertório de ação (TILLY, 1978), a ocupação de terras é uma entre muitas formas de luta acionadas politicamente. Acampamentos, permanência de grande contingente de sem terras em prédios públicos, caminhadas, interrupção de estradas, obstrução de ruas, seminários e marchas figuram como um caleidoscópio de estilos de mobilização variáveis conforme as circunstâncias políticas e os objetivos em jogo. As marchas nacionais se notabilizaram entre as demais formas de ação constituintes do repertório do Movimento pelo amplo número de participantes e pela repercussão pública (midiática e política) que receberam. A “Marcha Nacional por Reforma Agrária, Emprego e Justiça” - realizada em 1997 pelo MST e anotada em etnografia feita por Cristine Chaves (2000) - contou com mobilização comparável aos comícios pela redemocratização. Para Chave, a Marcha foi um “fato criador de fatos, visava fazer notícia e constituir opinião” (2000, p. 11). Por conseguinte, este trabalho, ao anotar as ocorrências da marcha de 2012, não inaugura a escrita etnográfica sobre uma marcha realizada pelo MST, mas reúne-se a outros trabalhos em preocupação próxima e pensa a prática de pesquisa aqui exercitada a partir da etnografia multi-sited. Como já disse, desembarquei nas proximidades da Biblioteca Nacional e passei a seguir os caminhantes. Logo percebi que a marcha estava visivelmente avermelhada, por conta da presença de muitas bandeiras do MST e de outros movimentos e sindicatos rurais em que a tal cor predomina. A mobilização nacional era composta de homens e mulheres bastante diversificados do ponto de vista geracional e étnico-racial. Havia um carro de som à frente que guiava o conjunto dos presentes, embora não se conseguisse ouvir ao final, onde eu estava, o que estava sendo dito no início da marcha. Por conta disso, muitas 13

palavras de ordem foram entoadas ao longo da caminhada. Destaco uma delas, entoada em ritmo de marchinha carnavalesca por jovens vestidos com camisas do MST que estavam presentes, dizia assim: Ô Dilma, ô Dilma, a culpa é sua... ...de todos do campo estarem na rua. Como se pode ver, os versos responsabilizam a presidenta da república pela insatisfação dos trabalhadores rurais reunidos em marcha. Isso repõe certa tradição do MST em dirigir ao executivo federal, ente constitucionalmente responsável pela realização (ou não) da reforma agrária, suas reivindicações. Depois de ouvir a marchinha, caminhei mais um pouco entre os presentes e encontrei um grupo significativo de pessoas identificadas com uma camisa em que estavam escritas, na parte das costas, as seguintes palavras: “Acampamento Frei Henri – Pará”. Um pouco mais à frente, encontro os militantes do MST do Ceará. Devo dizer, não estavam presentes aqueles cujas entrevistas informaram o trabalho que fiz anteriormente já citado aqui. Os presentes eram, principalmente, aqueles que se encontravam em acampamentos à beira das estradas, aguardando a desapropriação de terras próximas, e os membros da coordenação estadual do MST cearense. Encontrar membros de ocupações do Pará e do Ceará evidencia a dimensão nacional que eu esperava encontrar. A esses indicativos se somam camisetas, faixas e bandeiras dispostas ao longo da marcha com siglas e indicações de Sergipe, Bahia, Maranhão, Roraima, Mato Grosso, Goiás, Minas, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Além dessa participação ampliada, vale ressaltar que nem o encontro, nem a marcha foram realizados exclusivamente pelo MST. A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), a Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (FETRAF-BRASIL), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) e outras organizações de luta no campo estavam conjuntamente organizando a marcha e o encontro que a antecedeu. Isso indica certa mudança no repertório do Movimento cujas ações, por vezes, foram dirigidas e executadas em comando único. E mais, poderia ser considerado um dado particular ou novo revelado neste evento.

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Desde 1997, o MST realiza o “Abril Vermelho”. Essa estratégia reúne um conjunto de ocupações de terras, estradas e prédios públicos para rememorar o massacre ocorrido em Eldorado dos Carajás (PA)x e pressionar o governo de plantão a desapropriar fazendas. Ao longo de quase duas décadas de realização do “Abril Vermelho”, o MST, quase sempre, realiza os atos exclusivamente com seus membros. Estar em parceria com outras organizações não é uma situação nova para o MST, mas assume forte significado devido à amplitude da mobilização. Além disso, convém dizer que fazer pressão em conjunto significa não ter monopólio da negociação com o governo federal no momento de processar as demandas apresentadas. Isso difere a marcha aqui anotada daquela ocorrida em 1997 e etnografada por Cristine Chaves, pois essa última assumia o caráter exclusivo de direção e mobilização pelo MST. Seguimos caminhando pelo Eixo Monumentalxi e, antes de chegarmos todos ao Palácio do Planalto, lugar de despacho presidencial, era possível perceber que o início da mobilização alcançava o referido Palácio enquanto os últimos participantes não haviam ainda feito a última curva. Isso demonstra a extensão da mobilização dos trabalhadores rurais na capital federal. Eu havia retornado ao final da marcha e pude ouvir quando as pessoas começaram a comentar entre si. Uma senhora que segurava uma faixa dizia: “olha, gente, como tá bonito”. Um homem que caminhava com a blusa do MAB disse: “nós tamo chegando pra falar com a Dilma”. Outra mulher comentou: “Brasília precisa disso toda semana”. As falas expressam certa celebração da ação coletiva que em nada pode ser considerada como exclusiva dessa marcha. Os espaços de mobilização popular, por vezes, reuniram pessoas em torno de questões políticas e acompanharam essas reuniões de simbolizações do coletivo. Essa articulação entre símbolos políticos e outros universos simbólicos ocorreria, segundo Claude Rivière, porque “certas manifestações públicas ritualizadas, ao afirmar a integração de uma coletividade, exibem uma identidade e expressam um desejo de existir em comunhão com certos ideais” (1988, p. 7). Portanto, a integração coletiva por sentidos políticos que toma forma de movimento social reivindicativo não exclui, ao contrário, agrega outras simbolizações, inclusive aquelas que festejam o próprio fato de estar num coletivo, afirmando sua importância pela celebração do “nós”.

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Ao chegar a frente ao Palácio do Planalto, aplausos efusivos e palavras de ordem acompanharam a movimentação das lideranças da marcha que formaram uma comissão para apresentar a pauta de reivindicações ao secretário-geral da presidência, Gilberto Carvalho. Uma dessas palavras de ordem dizia: “se o campo não faz a roça, a cidade não almoça”. Se, para a comissão de diálogo foram aplausos, para o Batalhão de Choque, que chegou logo depois dos manifestantes e ficou de prontidão na área interna do Palácio, foram vaias. O MST e os movimentos sociais e sindicais ali reunidos são alvos históricos de violência policial. Não é de se estranhar a hostilidade. Ao sair da reunião com o ministro, que durou cerca de meia-hora, Carmem Flora, membro da CONTAG e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores, declarou: “Nós viemos dizer ao governo que queremos fortalecer a agroecologia e a reforma agrária que alimentam esse país. No jogo agronegócio-reforma agrária, o agronegócio está ganhando e o juiz e o bandeirinha estão com eles”. Essas declarações foram dadas aos repórteres da imprensa nacional que, em suas mais diferentes expressõesxii, estavam acompanhando as ocorrências. Depois das declarações à imprensa, os manifestantes se dirigiram à área próxima ao prédio do Congresso Nacional e finalizaram a marcha com as falas dos líderes dos mais diversos movimentos presentes feitas em um carro de som. O encerramento ocorreu pouco depois de 14h.

Comme d’hab, uma conclusão A recomendação de George Marcus, como se pode ver, rende um rico agregado de fatos anotados. Seguir pessoas é uma atitude etnográfica interessante, mas arriscada. Ao final, quero concluir afirmando que esse exercício só me pareceu aproveitável por conta do amplo leque de informações sobre o MST que eu já dispunha antes de segui-lo. Contudo, mesmo o maior leque de informações anterior não torna desinteressante o contato direto com os sujeitos pesquisados em uma situação tão distinta, considerando seu repertório de ação coletiva. Em verdade, o enriquecedor exercício de “follow the people” depende de que as informações prévias sirvam de bússola a um pesquisador aberto aos redemoinhos postos pelo acompanhamento das relações sociais em plena navegação. E mais, a constituição da 16

anotação etnográfica a partir do deslocamento rende um material que pode ser explorado analiticamente de variadas formas. Contudo, acredito ser necessário dar relevo ao pensamento relacional em qualquer vertente de exploração analítica do material obtido pela via multi-sited. Isso para ser fiel à abordagem proposta e não desembocar numa interpretação no-sited. NOTAS

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Esse pesquisador estudou uma única aldeia Yao por seis anos.

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Importante área de mineração em Zâmbia.

iii

Este termo é aqui utilizado para referir-se aos processos que extrapolam territórios, ou mesmo, ocorrem em vários territórios ao mesmo tempo ou em tempos diferenciados e não poderiam ser apreendidos pela observação limitada a apenas um desses espaços de ocorrência. Além disso, o termo traduz em português algo próximo à palavra “deterritorialization”. Esse último, nem de longe pode ser compreendido como “não território”, “não territorialização” ou “sem territorialidade”. iv

Sobre isso, consultar BARREIRA (1992), HEREDIA (1979), PALMEIRA (2009) e SIGAUD (2004).

v

O resultado da pesquisa orientada por essa referência pode ser conferido em CAMPOS (2011).

vi

Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.

vii

Para maior aprofundamento, consultar SILVA (1982).

viii

Dessa aproximação nasceu a Teologia da Libertação cujas formulações impulsionaram um campo religioso e político com atuação voltada a combater a desigualdade social e o autoritarismo político. ix

Organismo de ação social da Igreja Católica que atua em conflitos agrários.

x

O massacre de Eldorado dos Carajás (PA) foi a ocorrência de 19 assassinatos de sem terras num conflito com a Polícia Militar do Pará em abril de 1996. xi

Avenida que se localiza no centro do Plano Piloto de Brasília e possui dezesseis quilômetros de extensão que interligam a Rodoferroviária de Brasília e a Praça dos Três Poderes. xii

TVs: SBT, Globo, BAND, TV Brasil. Jornais: Folha de São Paulo e Correio Braziliense. Rádio: CBN.

REFERÊNCIAS APPADURAI, Arjun. Global Ethnoscapes. “Notes and queries for a transnational anthropology”. In: Recapturing Anthropology. Working in the present. 1991. 17

BARREIRA, César. Trilhas e Atalhos do Poder. Conflitos sociais no sertão. Rio de Janeiro: Rio Fundo, 1992. 193 p. BUROWAY, M. The Extended Case Method. In: “Sociological Theory”, 16: 1, 1998. CAMPOS, Marcos Paulo. Quando os Assentados Chegaram. Tempo e experiência social no MST. 2011. 75f. Dissertação (MESTRADO EM SOCIOLOGIA) – UFC. CHAVES, Cristine de A. A Marcha Nacional dos Sem Terra: um estudo sobre a fabricação do social. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000. 446 p. CORTESÃO, Judith. Intérpretes do Brasil. Portugal-Brasil. (DVD). FERGUSON, James. “The country and the city on the Copperbelt”. In: Culture, Power, Place: Explorations in Anthropology, p. 137-154, 1999. FERNANDES, Bernardo M. ; STÉDILE, João Pedro. Brava Gente. A trajetória do MST e a luta pela terra no Brasil. 3º ed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1999. 167p. FERNANDES, B. M. A Formação do MST no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2000. 318p. GLUCKMAN, Max. “O material etnográfico na Antropologia Social Inglesa”. In: ZALUAR, Alba (org.). Desvendando Máscaras Sociais. Editora Francisco Alves, 1975. HEREDIA, Beatriz M. H. A Morada da Vida: trabalho familiar de pequenos produtores do nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. 164 p.

18

MARCUS, George E. (1995) “Ethnography in/of the World System: The Emergence of Multisited Ethnography”. Annual Review of Anthropology. W. Durham, E.V. Daniel, and B. Schieffelin, eds. Palo Alto: Annual Reviews, Inc. Pp.: 95-117. PALMEIRA, Moacir. “Desmobilização e conflito: relações entre trabalhadores e patrões na agroindústria pernambucana”. In Fernandes; Medeiros e Paulilo (orgs). Lutas camponesas contemporâneas: condições, dilemas e conquistas. Vol. I O campesinato como sujeito político nas décadas de 1950 a 1980. São Paulo: Unesp. 2009. Col. História Social do Campesinato. PORTO-GONÇALVES, Carlos Valter. “A Nova Questão Agrária e a Reinvenção do Campesinato: o caso do MST”. Revista del Observatório Social de América Latina. [S.I.], ano IV, n ° 16, p. 23-34, ene. /abr. 2005. RIVIÈRE, Claude. Les Liturgies Politiques. Presses Universitaires de France. 1988. SIGAUD, Lygia. “Armadilhas da honra e do perdão: usos sociais do direito na mata pernambucana”. Mana. vol.10 no.1 Rio de Janeiro Apr. 2004. SIGAUD, Lygia. “As Condições de Possibilidade das Ocupações de Terra”. Tempo Social. Revista de Sociologia da USP. São Paulo, v.17, n° 1, p. 255-280, 2005. TILLY, Charles. From Mobilization to revolution. Cambridge: Cambridge Press, 1978. RESUMO As marchas nacionais se notabilizaram no repertório de ação do Movimento Sem Terra no Brasil pelo amplo número de participantes e pela repercussão pública (midiática e política) que receberam. A “Marcha Nacional por Reforma Agrária, Emprego e Justiça” realizada em 1997 pelo Movimento é um exemplo dessa tendência. Nesse sentido, o trabalho aqui 19

proposto volta-se ao fazer da marcha realizada pelos sem terra em conjunto com outras frentes de luta pela terra no encerramento do Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas ocorrido em Brasília entre os dias 20 e 22 de agosto de 2012. O exercício etnográfico experimentado visa compreender a atribuição de sentido à política por parte dos integrantes do Movimento num contexto de forte expressão simbólica e condensação visível de sua luta. O trabalho experimenta as indicações metodológicas da etnografia multilocalizada cuja recomendação de "seguir grupos" é fecunda para a construção de dados no contato direto entre sujeito pesquisador e sujeitos pesquisados durante a ocorrência de uma ação coletiva de reivindicação. O trabalho busca compreender a experiência social anotada para interpretação numa situação em que tanto o pesquisador como os pesquisados estão deslocados, ou seja, estão em movimento. ABSTRACT This article exercising the production of ethnographic data from a time of strong symbolic statement of the struggle for land agents organized by the Landless Workers Movement (MST). The national march to Brasilia MST serves experimentation of multi-sited ethnography. Methodological issues raised by ethnographic field research in a situation where both the researcher and the researched subjects subject are displaced from territories where they socialize regularly are the focus in this work. In addition, there are links between the recorded stuff when the researcher was following the MST in Brasilia and intellectual production on repertoires of collective action of social movements struggling for land.

e-mail: [email protected]

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