O MUNDO EM 2016 E OS CONFLITOS INTERNACIONAIS

June 13, 2017 | Autor: Fernando Alcoforado | Categoria: International Relations, Social Sciences, War and Peace
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O MUNDO EM 2016 E OS CONFLITOS INTERNACIONAIS Fernando Alcoforado* Na história da humanidade, houve três tentativas de estabelecer uma governança internacional que contribuísse para a construção da paz. A primeira tentativa ocorreu em 1648 com a celebração da Paz da Vestfália na Europa que marcou o fim do primeiro grande conflito europeu, a Guerra dos Trinta anos. A segunda tentativa foi a constituição da Liga das Nações ou Sociedade das Nações criada em 1919 com o Tratado de Versalhes que colocava termo à Primeira Guerra Mundial. A terceira e última tentativa foi a constituição da Organização das Nações Unidas (ONU), ou simplesmente Nações Unidas que foi estabelecida em 24 de outubro de 1945, após o término da Segunda Guerra Mundial com a intenção de impedir outro conflito como aquele. Na sua fundação, a ONU tinha 51 estados membros e hoje são 193. De acordo com uma matéria publicada pelo jornal The Washington Post, desde o fim da Segunda Guerra Mundial o mundo conheceu 160 guerras, onde morreram cerca de 7 milhões de soldados e 30 milhões de civis. O ex-secretário de Estado norte-americano, Zbigniew Brzezinski, fez uma estimativa abrangendo todas as "megamortes" ocorridas desde 1914 e chegou a um total de 187 milhões de mortos. Em 2016, continua a escalada dos conflitos internacionais. No contexto internacional atual, é possível identificar nove grandes conflitos mundiais os quais estão descritos nos parágrafos a seguir. O conflito entre os Estados Unidos e aliados ocidentais e a Rússia resulta da tentativa das potências ocidentais de impedir o revigoramento da Rússia como grande potência mundial e da recuperação geopolítica da Rússia graças à afirmação de um projeto nacionalista de recuperação do Estado russo por parte de Wladimir Putin. O conflito entre os Estados Unidos e a China resulta da necessidade de os Estados Unidos impedirem a ascensão da China à condição de potência hegemônica no planeta. Para tanto, foi adotada uma nova estratégia militar global dos Estados Unidos que passou a se concentrar na região Ásia-Pacífico para fazer frente à ameaça proveniente da China. Por sua vez, a China promove rápida modernização das forças armadas cujos gastos militares vão ultrapassar os orçamentos combinados das doze outras grandes potências da região Ásia-Pacífico. O conflito entre Israel e Palestina coloca em confronto os povos palestino e judeu pela ocupação do mesmo território em disputa. Além de assumir a dimensão local, o conflito Israel- Palestina se insere como um conflito regional no contexto do conflito ÁrabeIsraelense que é um longo conflito na região do Oriente Médio, que ocorre desde o final do século XIX. O conflito entre Israel e Irã resulta do fato de Israel pretender evitar que o Irã se transforme em uma potência nuclear que possa ameaçar sua sobrevivência como nação. O conflito entre sunitas e xiitas resulta da rivalidade entre a Arábia Saudita, de maioria sunita, e o Irã, a grande potência xiita no Oriente Médio. O conflito na Síria é uma guerra civil que teve início em 2011 e se transformou em guerra regional envolvendo vários países (Estados Unidos, seus aliados ocidentais e a Arábia Saudita que apoiam os rebeldes na derrubada do regime de Bashar al-Assad e a Rússia e Irã que apoiam Bashar al-Assad).

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O choque de civilizações foi previsto por Samuel Huntington no livro Choque de Civilizações (HUNTINGTON, Samuel. O Choque de Civilizações. Objetiva, 1997) que apontou uma divergência profunda entre as civilizações Ocidental e Islâmica. É nesse contexto que se insere o Estado Islâmico que tem por objetivo expandir o seu califado por todo o Oriente Médio e estabelecer conexões na Europa e outras regiões do mundo, com o propósito de realizar atentados que lhes possam conferir autoridade através do terror. O conflito entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul representa a continuidade da Guerra da Coreia (1950-1953) que foi encerrado com a assinatura do Tratado de Panmunjom. Apesar disto, Coreia do Sul e Coreia do Norte continuam oficialmente em guerra até hoje. Pelo exposto, é dramática a situação atual do planeta. O mundo em que vivemos virou um caos ingovernável no qual as grandes potências só pensam em poder e riqueza. Enquanto prevalecer esta situação no mundo a guerra tende a proliferar em todos os quadrantes da Terra. Como construir um novo cenário de paz e cooperação entre as nações e os povos do mundo inteiro? Este é um desafio antigo e pensado por muitos filósofos como é o caso de Immanuel Kant ao abordar este tema em sua obra A paz perpétua que propõe os fundamentos e os princípios necessários para uma livre federação de Estados juridicamente estabelecidos os quais não adotariam a forma de um Estado mundial, pois isso resultaria em um absolutismo ilimitado. Deveria haver uma federação de Estados livres em que todos possuíssem constituições republicanas. O fim último desta federação seria o da promoção do bem supremo, que é a verdadeira paz entre os Estados, acabando com o funesto guerrear, para o qual todos os Estados sempre voltaram seus esforços, como fim principal. A proposta de Kant foi levada à prática com a constituição da Liga das Nações em 1919 e da ONU em 1946 as quais não foram capazes de viabilizar a paz mundial. Tudo o que acaba de ser relatado aponta no sentido de que a humanidade deva constituir um governo mundial como condição indispensável para colocar um fim às guerras e fazer prevalecer a paz mundial. Com um governo mundial, será possível mediar os conflitos, combater a guerra e acabar com o banho de sangue que tem caracterizado a história da humanidade ao longo da história. O governo mundial deve ser representativo de todos os povos do mundo. A sobrevivência da humanidade dependerá da capacidade de se celebrar um Contrato Social Planetário representativo da vontade da maioria da população do planeta. * Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).

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