O Mundo Fashion se Volta para A Cultura

June 13, 2017 | Autor: Lucia Leiro | Categoria: African Diaspora Studies, Moda, Fashion, Ancestralidade
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O mundo fashion se volta para a cultura
Por Lúcia Leiro
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Recentemente no desfile São Paulo Fashion Week, um dos eventos de moda mais badalados do sudeste, vimos a presença do artesanato nas passarelas. Mas o que há de novidade nisso? Nenhuma. Sempre que a moda fashion precisa se reinventar, os estilistas se aventuram em pesquisas, chegando mesmo a viajar para lugares distantes a fim de buscar inspiração para produzir as suas coleções.

Acontece que vivemos neste início de século XXI um movimento diferente do que até então era representado em revistas de moda. Com a maior participação de afrodescendentes na elaboração de políticas públicas, nos cursos técnicos e universitários de moda, o protagonismo nos setores produtivos neste setor também mudou. Essa mudança que vem sendo construída há séculos, ganhou consistência organizacional com os terreiros de candomblé e com os blocos afros (associações formadas por candomblecistas), lugares de resistência da cultura africana na Bahia, e lugar de onde partiu um trabalho de preservação dos elementos do vestuário que hoje usamos para fins sociais, além de litúrgicos.

O turbante, por exemplo, é uma dessas peças cuja origem remonta aos ojás usados nos terreiros de candomblé e que, graças a essa preservação nos rituais religiosos, é trazido de forma estilizada, criativa, para o Carnaval a fim de ser usado como moda - já que fora do espaço litúrgico -, porém, mantendo a referência ancestral. O turbante afro-baiano se projetou para o mundo como sinônimo de nobreza e de beleza, considerando que as deusas e rainhas dos blocos afros fazem uso desta peça que nos lembra muito uma coroa feita de tecido. Do Carnaval para o uso cotidiano, social, foi um longo caminho. Hoje as mulheres e homens usam turbantes para reivindicar a ancestralidade africana, usando a amarração em diferentes situações com dignidade e respeito. São inúmeras oficinas presenciais e tutoriais nas redes sociais que ensinam as mulheres e os homens a fazerem turbantes, desde os mais simples aos mais sofisticados, variando não apenas o tamanho, mas as cores, as texturas e o desenho. As redes sociais foram fundamentais neste processo de capilarização do movimento estético afro-referenciado que vivemos, facilitando a informação e organização das pessoas, sobretudo mulheres.

E o turbante combina com o verão? O turbante foi feito para ser usado em qualquer estação e momento. No inverno, nos protege do frio, no verão do ressecamento capilar causado pelo sol e vento. Além disso, é uma peça charmosa e sofisticada que deixa as mulheres e os homens mais elegantes e com a autoestima fortalecida, podendo ser usado em casamentos, formaturas, entre outros. Mas se lembrem de que os tecidos de algodão são os mais confortáveis porque ventilam, não comprimem e secam rápido, a exemplo da chita e demais tecidos como a tricoline.

É por reconhecer o impacto das peças ancestrais na população afrodescendente - que tem hoje mais acesso à informação e faz parte de uma classe média consumidora - que as(os) estilistas estão se voltando para os símbolos identitários. É importante dizer que as(os) representantes dos povos tradicionais usam há séculos os elementos de sua cultura para fins comerciais como forma de subsistência e de preservação da cultura, principalmente a gastronomia. Com a expansão da moda étnica, podemos degustar agora a culinária ancestral bem vestidos como manda o figurino afro-referenciado.

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