mundo tempestuoso dos "Spin doctors" O
Um novo estudo do "spin
doctoring",
Um tema muito
FERNANDO
SOBRAL
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alguns anos, Alas-
tair
Há
"spin
o Campbell, doctor" de
Tony Blair, questionou o treinador Alex
Ferguson (um conselheiro habitual de Blair) sobre onde colocaria Gordon Brown no ter-
reno de jogo. Ferguson respondeu: "No meio-campo." E
Blair questionou
Campbell: "No ataque." Compreende-se
melhor porque Campbell e Blair (com Peter Mandelson, o "príncipe
das trevas") foram
uma equipa temível. Num New Labour obcecado com o controlo dos media e da sua agenda, Campbell era o carro de assalto. Antigo jornalista de
tablóides, Campbell lutava contra qualquer notícia (mesmo que fosse uma exclamação num título), contestava qual-
quer frase atribuída a uma "fonte", desafiava qualquer análise. Os media não tinham tempo para respirar. Quando o conheci, anos mais tarde, percebi o seu poder: a sua figura, alta e seca, impunha respeito. O seu olhar, ou as suas fra-
quando falava de futebol, eram certeiros. E não se desviavam do alvo. ses, mesmo
Entre 1994 e 2004, era ele o homem em quem Tony Blair confiava para controlar a agenda doméstica, actuando em vez de reagir, usando
todos os meios possíveis. A crueldade da política é o que a
torna atraente para alguns. E isso ficou visível quando lembrou esses Campbell anos, como o verdadeiro pingalim de Blair para a comuni-
cação social, em "The Blair Years". "Spin doctor" foi um
termo muito utilizado na década de 1980 nos EUA, mas foi durante o período de Blair que se tornou um termo que todos conheciam.
Vasco Ribeiro,
docente, investigador e assessor de imprensa de muitas personalidades e organizações em Portugal ao longo dos anos, devota a
Campbell (e a Blair) muito do centro da sua análise sobre a
forma como
os "spin doctors, políticos e jornalistas moldam a opinião pública portuguesa". Há, de alguma maneira, algum
fascínio sobre eles. Tema interessante numa altura em que o papel das chamadas redes sociais e da internet, e a sua in-
fluência na imprensa e na televisão, transformaram o universo da relação do poder com
procura
mostrar
inclusive
interessante
os cidadãos.
Lendo o que escreve VasRibeiro fica-se com a noção co de que o autor considera que a im-
hoje, pragmaticamente, prensa é o carteiro das cartas escritas alhures: "Aactividade dos jornalistas
depende, em larga medida, da informação desejavelmente qualificada e credível obtida junto de pessoas ligadas aos acontecimen-
nomeadamen-
tos noticiáveis,
te 'spin doctors'.
a relevância
na política
dos últimos
no Portugal
nestes dias de intenso
anos. debate.
na informativa, revelar a 'verdade dos factos' - se nos é permitido o chavão."
Ao longo do livro, o autor faz uma descrição e análise da comunicação política no mundo e em Portugal, que enqua-
dram bem o tema e são um bom ponto de reflexão sobre este universo. No meio, apareço como aparente membro de uma "campanha negra" contra Manuel Maria Carrilho. Aí
autor viu uma floresta em
Ou seja, a produção noticiosa, sobretudo de natureza política, implica inúr
vez de um pinheiro.
meras vezes um relacionamento interactivo dos jorna-
sencial este livro merece ser lido è debatido, w
o
Mas essa
é outra questão, porque no es-
listas com fontes que procuram obter vantagens no espaço mediático para determinadas organizações ou indivíduos." Donde: "Mesmo que
genuinamente animada por uma vontade de servir a causa pública, a política é sempre um exercício de conquista e manutenção
do poder. E nes-
entra o 'spin doctoring', que, grosso modo, mais não é do que um conjunto de acções ou técnicas tendentes a moldar a informação dos media a determinados interesses políticos. Por seu turse exercício
no, compete ao jornalista, enquanto motor de uma máqui-
VASCO RIBEIRO "Os Bastidores
do Poder"
Almedina, 191
páginas, 2015
actual