O neointegralismo e a questão da organização partidária

June 13, 2017 | Autor: Odilon Caldeira Neto | Categoria: Partidos políticos, Neofascism, Integralismo
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21/01/2016

O Neointegralismo e a questão da organização partidária

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O NEOINTEGRALISMO E A QUESTÃO DA ORGANIZAÇÃO PARTIDÁRIA Like

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O  integralismo,    movimento  e  partido  político  brasileiro  de  inspiração fascista surgido oficialmente em 1932 ­ sob o nome de Acção Integralista

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Brasileira  (AIB)  ­,  viveu  um  período  de  maior  relevância  política justamente  a  partir  de  sua  fundação  oficial  (em  07  de  outubro  de  1932) até  o  momento  de  extinção  oficial  do  partido,  em  1937,  por  meio  do decreto­lei  nº  37  de  Getúlio  Vargas,  momentos  após  a  consolidação  do golpe  do  Estado  Novo.  Durante  este  período  de  tempo,  a  AIB  notabilizou­se  pela  disseminação  a  nível  nacional  e

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sobretudo pelo enorme contingente de membros, assim como sua atuação política no cenário nacional.     Abstract:  This  article  seeks  to  analyze  the  integralism,  fascist  political  movement,  guidance  in  view  of  proposed political party, seeking in this way to discuss the motivations and implications for a non implementation of an political

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party proposal of the integralism in the last decades of the twentieth century and early years of the XXI century, i.e. neointegralism. Keywords: Integralismo, Neointegralism, political party.

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Palavras­chave: Integralismo, Neointegralismo, partido político A  AIB  contou  com  uma  militância  que  variou,  segundo  estimativas,  entre  500  e  800  mil  membros.  Dentre  os milhares  de  camisas  e  blusas  verdes  (uniformes  integralistas),  havia  a  presença  de  importantes  intelectuais  do período, sobretudo na alta hierarquia do movimento. Além de Plínio Salgado, fundador do integralismo, jornalista e escritor que havia participado da Semana de Arte Moderna de 1922, os integralistas tiveram suporte de intelectuais como Miguel Reale (jurista e escritor), Gustavo Barroso (romancista, fundador do Museu Histórico Nacional, além de membro e presidente da Academia Brasileira de Letras), Abdias Nascimento, Câmara Cascudo, entre outros. Evidentemente, toda a significação em ser integralista naquele período não pode nem deve ser determinada por uma análise  anacrônica  que  tome  em  conta  os  resultados  da  Segunda  Guerra  Mundial  e  do  fascismo  em  âmbito

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internacional,  sobretudo  do  caso  alemão  e  italiano.  É  possível  notar,  inclusive,  que  diversos  militantes  oriundos  do integralismo estabeleceram longa trajetória em setores esquerdistas da política brasileira após a atuação nas fileiras do Sigma, com foi o caso, por exemplo, de Dom Hélder Câmara. Todavia, o integralismo nos anos 1930, mesmo com um  forte  discurso  conservador  e  com  marcante  apelo  religioso  (espiritualista),  apresentava­se  como  uma  nova alternativa perante as políticas supostamente arcaicas presentes na sociedade brasileira de então, o que explica, em parte, a adesão à AIB de vários intelectuais emergentes do período.

HISTÓRIA ORAL

Dentre a trajetória da AIB nos anos de 1932 e 1937, é possível delimitar um grande marco de distinção, que foi a transformação  do  movimento  que,  no  início  tinha  como  configuração  expressa  o  caráter  cívico­cultural  para,  após deliberações realizadas no âmbito do  II Congresso Nacional Integralista (realizado em 1935), foi transformado em partido político, ou Partido da Acção Integralista Brasileira. Esta transformação, evidentemente, foi consequência do próprio  crescimento  e  fortalecimento  do  integralismo  que,  enquanto  maior  organização  fascista  além­europa

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(GRIFFIN, 2006), previa a possibilidade de conquista do poder institucionalizado, inclusive pela via democrática. Foi, inclusive, de acordo com estratégias de aproximação junto ao poder estatal, que os integralistas se alinharam a Getúlio  Vargas  e  apoiaram  a  iniciativa  golpista  do  Estado  Novo.  Previa­se  que  a  demonstração  pública  da  força integralista (por meio de marcha realizada na capital federal, que buscava mimetizar o fenômeno da Marcha sobre Roma,  dos  fascistas  italianos),  auxiliaria  a  efetivação  de  um  prévio  acordo  entre  o  chefe  estatal  e  os  líderes integralistas,  que  teriam  possibilidade  de  inserção  ideológica  dentro  do  futuro  regime.  A  estratégia,  contudo, mostrou­se  inócua,  e  após  a  consumação  do  golpe,  a  AIB  foi  posta  na  ilegalidade,  juntamente  com  os  demais partidos políticos então existentes.

GRUPO DE PESQUISA

A  primeira  iniciativa  dos  integralistas  na  busca  de  reorganização  pós­AIB,  foi  a  criação  da  Associação  Brasileira  de Cultura (ABC), que teria como propósito a volta às origens não partidárias do integralismo, atuando no âmbito cívico­ cultural, enquanto as condições assim fossem determinantes. No entanto, a ABC foi marcada pela efemeridade, pois não garantiu legitimidade perante o Estado Novo. Neste momento, alguns militantes integralistas já haviam deixado

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não garantiu legitimidade perante o Estado Novo. Neste momento, alguns militantes integralistas já haviam deixado a  vinculação  ideológica  com  os  camisas­verdes,  tendo  alguns  manifestado  apoio  (ou  mesmo  inserção)  junto  às

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estruturas  do  governo  federal,  por  notarem  algumas  bandeiras  em  comum  entre  as  propostas  integralistas  e  os programas estadonovista.  A liderança integralista oscilava entre tentativas de aproximação com Getúlio Vargas, numa perspectiva de barganha política, e críticas públicas contra a traição do chefe da nação. Começaram a surgir, então, iniciativas que pleiteavam o efetivo rompimento entre os remanescentes integralistas e o governo federal. A radicalização destes setores foi um dos motivos preponderantes para a formação da iniciativa golpista de integralistas contra o governo federal, no que foi  conhecido  como  a  tentativa  de  putsch  integralista,  em  maio  de  1938.  Aliando­se  à  setores  políticos  diversos, inclusive  liberais,  assim  como  militares,  militantes  integralistas  tentaram  tomar  de  assalto  o  Palácio  Guanabara, visando a derrubada do governo federal, o que, consequentemente, poderia proporcionar uma investida integralista sobre o poder. O  completo  fracasso  da  iniciativa,  caracterizada  inclusive  pela  falta  de  preparo  de  seus  líderes  (SILVA,  1964)  foi preponderante  para  a  radicalização  das  medidas  repressivas  dos  aparelhos  políticos  do  Estado  Novo  contra  o movimento  integralista.  Entre  a  apreensão  e  destruição  de  materiais  de  campanha  e  doutrina  integralista,  houve também perseguições e prisões de militantes e, sobretudo, a pressão sobre os líderes da AIB. Plínio Salgado, chefe nacional  dos  integralistas,  lançou­se  (forçado)  ao  exílio  em  Portugal,  de  onde  só  retornou  em  1946,  após  o  fim  do Estado Novo e no momento de consolidação de sua nova empreitada integralista, sob configuração diversificada: o Partido de Representação Popular (PRP). O PRP esteve em formação mesmo antes do retorno de Plínio Salgado ao Brasil, buscando, num primeiro momento, a desvinculação com os antecedentes integralistas. Entretanto, logo após o retorno de Salgado, o chefe integralista assumiu  a  presidência  do  partido,  evidenciando  a  permanência  do  discurso  integralista  no  PRP,  embora  algumas modificações fossem evidentes nesta nova iniciativa integralista. Uma das maiores modificações do integralismo no período perrepista foi a tentativa de desvinculação do integralismo com os movimentos fascistas da década de 1930, justamente por conta do panorama pós­guerra, que impunha limites às manifestações ideológicas semelhantes (ou comparáveis) ao fenômeno do fascismo internacional. Para  distanciar  desta  condição,  o  integralismo  do  PRP  abandonou  grande  parte  de  seu  referencial  doutrinário  e simbólico  que  tornavam  evidente  a  ancestralidade  fascista,  sobretudo  o  uso  de  uniforme,  alguns  símbolos, organizações internas ou mesmo festividades. Este abandono aos referenciais da AIB não eram bem vistos por uma parcela da militância integralista, gerando inclusive pressões internas para o retorno destes referenciais ou mesmo, em  casos  mais  extremados,  iniciativas  de  rompimento,  com  proposta  de  criação  de  um  partido  “explicitamente” integralista. A  trajetória  do  PRP,  como  observa  Calil  (2010),  foi  marcada  por  constantes  tentativas  de  retomar  alguns  dos pressupostos  tidos  como  essenciais  do  integralismo,  ao  mesmo  tempo  em  que  havia  a  necessidade  de  articulá­los com a existência partidária de então. Algumas reivindicações da militância foram aceitas, como a volta da utilização do Sigma (?) como símbolo partidário, ou mesmo de alguns ritos e cerimoniais semelhantes aos tempos integralistas dos anos 1930. Tudo isto, contudo, havia de coexistir com uma lógica partidária que previa – ou mesmo impunha – recuos  estratégicos,  alianças  e  concessões  partidárias  e  outros  diversos  posicionamentos  que  evidenciavam  o  quão problemática  era  a  relação  entre  o  ideal  e  anseios  de  alguns  militantes  integralistas  dos  anos  1930  e  a  lógica partidária do mundo pós­guerra. Todas  as  disputas  existentes  entre  a  memória  integralista  e  a  prática  perrepista  eram  aparentemente,  e  em  certo sentindo  concretamente,  solucionadas  por  conta  da  presença  e  liderança  de  Plínio  Salgado  frente  aos  integralistas, fossem eles remanescentes dos anos 1930 ou oriundos dos quadros do PRP. Era à partir da figura de Plínio Salgado que  repousavam  os  anseios  dos  integralistas  e  a  permanência  na  militância  do  ex  camisas­verdes,  mesmo  que aparentemente menos radicais. O processo de formação do PRP contou, inclusive, com a total centralização na figura de  Salgado,  tendo  em  vista  que  os  outros  dois  maiores  líderes  integralistas  (Miguel  Reale  e  Gustavo  Barroso)    já haviam abandonado a defesa do ideal do sigma, restando, além de Salgado, a presença de figuras intermediárias da AIB, como chefes provinciais, entre outros. De  qualquer  modo,  até  a  primeira  metade  da  década  de  1960,  grande  parte  de  atuação  dos  integralistas  esteve circunscrita na prática partidária, ou em outras organizações também sob controle/influência de Plínio Salgado, como a  Confederação  dos  Centros  Culturais  da  Juventude  (CCCJ),  que  tinha  como  objetivo  a  formação  intelectual  da juventude  –  chamados  de  águias  brancas  ­sob  as  bases  integralistas  dos  anos  1930.  A  crença  na  liderança  de Salgado dava coesão às iniciativas pós­AIB, mesmo que em muitos aspectos diametralmente opostas aos discursos do primeiro período integralista. Plínio  Salgado,  o  PRP  e  diversos  integralistas  apoiaram  de  prontidão  o  processo  golpista  de  1964,  que  veio  a consolidar  a  ditadura  civil­militar.  O  chefe  integralista  foi,  inclusive,  um  dos  oradores  das  “Marchas  da  Família  por Deus  e  pela  Liberdade”,  realizada  em  São  Paulo  (19  de  março  de  1964).  Com  a  consolidação  do  golpe,  o  PRP  foi extinto, juntamente com os demais partidos políticos e, diferentemente do ocorrido quando do golpe do Estado Novo, neste episódio a questão fora facilmente solucionada, tendo em vista que Plínio Salgado e outros membros do PRP participaram  da  estrutura  ditatorial,  sendo  que  o  chefe  integralista  chegou  a  ocupar  o  cargo  de  deputado  federal, como membro da ARENA (1966). Isto, contudo, não significou o alvorecer ou mesmo ou mesmo a permanência da estruturas de algumas organizações integralistas do período, sobretudo a CCCJ. Ainda que a CCCJ tenha continuado a existir, perdera bastante do fôlego do período de coexistência junto ao PRP. Plínio Salgado, neste período, continuava a exercer a liderança perante os remanescentes  integralista  tendo,  inclusive,  manifestado  que  o  integralismo  teria  mantido  muito  de  seu  poder, mesmo nas estruturas da ditadura pós­1964. Estas afirmações necessitam ser vistas com resalvas, sobretudo por se tratarem de artifícios propagandísticos e de mobilização, possivelmente estratégias de alocação de Plínio Salgado – e demais integralistas – nas disputas políticas existentes na estrutura da ditadura civil­militar. De qualquer modo, é inevitável constatar que, desde o fim da AIB em 1937 até os momentos que antecederam o seu falecimento,  Plínio  Salgado  consolidou­se  como  marco  referencial  e  político  para  as  diversas  gerações  de integralistas, fossem eles camisas­verdes, águias­brancas ou perrepistas. Após o falecimento do “chefe nacional”, em dezembro  de  1975,  os  integralistas  viram­se  órfãos  desta  unidade,  abrindo  espaço  então  para  disputas  entre diversos  atores  políticos,  em  busca  da  herança  e  o  legado  integralista  de  Plínio  Salgado,  assim  como  de compreensões e possibilidades da atuação partidária do integralismo após a morte de Salgado. É neste momento que se dá o surgimento do que é tratado aqui como neointegralismo.

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O Neointegralismo e a questão da organização partidária

Os  primeiros  grupos  neointegralistas  que  se  organizaram  logo  após  a  morte  de  Plínio  Salgado  podem  ser  tomados como  reflexos  concretos  desta  falta  de  unidade  presente  entre  os  neointegralistas  (e  integralistas  remanescentes). Em  1978,  Jader  Medeiros,  que  havia  sido  membro  de  uma  pequena  organização  integralista  (Appolo  Sport  Club), criou o jornal “Renovação Nacional”, que provavelmente seria o carro­chefe da Cruzada de Renovação Nacional, que tinha,  de  acordo  com  reportagem  veiculada  na  revista  Veja  (08  de  abril  de  1981),  um  aspecto  peculiar:  dentre  os membros  da  Cruzada,  haveria  um  médium  encarregado  em  incorporar  o  espírito  de  Plínio  Salgado,  além  de psicografar cartas do chefe integralista, todas endereçadas a Jair Medeiros. No  ano  de  1979,  alguns  ex  águias­brancas  (Gumercindo  Rocha  Dórea,  Holanda  Cunha,  entre  outros)  tentaram,  de acordo com Delcio Lima (1980) recriar a Associação Brasileira de Cultura, que teria como finalidade a atuação da AIB tal  qual  sua  primeira  configuração,  isto  é,  numa  perspectiva  não  partidária.  Outra  organização  que  buscou  a rearticulação integralista foi o Movimento Popular de Apoio à Fundação Plínio Salgado (MPAPS), fundada em 1979, no estado do Maranhão, também sem expressas finalidades partidárias. A Associação Cívico­Cultural Minuano, surgida em  1957,  originária  das  estruturas  do  PRP,  buscava,  após  o  falecimento  de  Salgado,  estabelecer  um  espaço  para conservação da memória militante, longe de iniciativas partidárias, como foi o caso também da Casa Plínio Salgado, fundada  em  São  Paulo,  no  ano  de  1981,  por  ex  águias­brancas  e  militantes  integralistas  advindos  de  outras organizações. Estes movimentos, evidentemente, estavam limitados de ambições partidárias por conta da própria estrutura política do período. Porém, é pertinente ressaltar a existência, desde os primeiros momentos, de uma fragmentação política entre os neointegralistas, que seria uma das futuras causas preponderantes para a não viabilização de um “partido integralista”.  No  ano  de  1984,  no  contexto  da  campanha  pelas  “Diretas  Já!”  e  dos  indícios  do  processo  de  redemocratização  da política  brasileira,  houve  o  primeiro  caso  da  possibilidade  da  reorganização  de  um  partido  essencialmente integralista. Anésio de Lara Campos Jr., ex membro do PRP, criou naquele ano a Ação Nacionalista Brasileira (ANB), que  projetava  a  possibilidade  futura  de  uma  tentativa  partidária.  A  efemeridade,  contudo,  foi  a  principal característica desta organização, tendo em vista que cessou atividades no ano seguinte. Em  1985,  Anésio  Lara  registrou  a  Ação  Integralista  Brasileira  em  seu  nome,  buscando  congregar  os  militantes integralistas  então  dispersos,  sob  sua  liderança.  Esta  iniciativa,  entretanto,  ainda  que  na  legalidade  (a  AIB  estava disponível  para  registro  em  cartório,  pois  havia  sido  extinta  ainda  durante  o  Estado  Novo),  provocou  diversas disputas  entre  os  neointegralistas,  que  acusaram  Anésio  Lara  de  usurpação  da  sigla.  O  fato  acabou  por  gerar  o envolvimento direto de D. Carmela Salgado, viúva de Plínio, que era tida como a herdeira direta (ou legitimadora) da liderança do chefe integralista. Outro fator que gerou a cisão entre os neointegralistas foi a relação entre a AIB de Anésio Lara e o Partido de Ação Nacionalista  (PAN),  partido  efêmero  –  sequer  registrado,  que  buscou  cooptar  os  integralistas,  além  de  criticar organizações como a Casa de Plínio Salgado, tida pelos dirigentes do PAN como uma organização demasiadamente contemplativa.  A  ligação  do  PAN  com  a  AIB  de  Anésio  Lara  não  resumia  apenas  a  tentativa  de  cooptação  dos neointegralistas, pois Antônio Carlos Meirelles congregava o cargo de secretário geral do PAN e uma das lideranças da “nova” AIB. Além do envolvimento do grupo de Anésio Lara com o PAN, houve ainda, de acordo com Dreifuss (1989), a discussão da  hipótese  de  criação  do  Partido  de  Ação  Integralista  (PAI),  que  ficaria  também  sob  controle  do  grupo  –  e  do próprio – Anésio Lara. Esta alternativa partidária, surgida no bojo da redemocratização e das novas possibilidades de atuação  política,  dentre  as  quais  justamente  a  via  partidária,  não  resultaram  fascínio  entre  os  neointegralistas, sobretudo  pelo  descontentamento  com  o  grupo  de  Anésio,  que,  além  de  serem  acusados  de  usurpação  da  sigla, haviam tentado direcionar o neointegralismo a um partido alheio, além de relações com grupos ultrarradicais, como os “Carecas do Subúrbio” e alguns grupos neonazistas. No aspecto da relação do grupo de Anésio com neonazistas, a questão partidária veio novamente à tona, por meio da vinculação de Anésio Lara com Armando Zanine Jr., que buscava criar o Partido Nacional Socialista Brasileiro (PNSB), de óbvia inspiração nazista e defensor de teses negacionistas (negação do holocausto), as quais Anésio corroborava, inclusive  em  inserções  de  mídia  de  alcance  nacional.  Neste  momento,  além  das  tensões  geradas  pela  suposta usurpação  da  AIB,  havia  a  tentativa  de  rearticulação  dos  neointegralistas  em  outros  meios,  sobretudo  de conservação da memória militante, como o caso da Casa Plínio Salgado e do Centro Cultural Plínio Salgado (fundada por Arcy Lopes Estrela, ex membro da AIB dos anos 1930), como observa Márcia Regina Carneiro (2007). O panorama neointegralista durante as décadas que sucederam a morte de Plínio Salgado até o limiar do Século XXI foi marcado por uma intensa fragmentação dos grupos e a recusa quase por completo de uma alternativa partidária que  congregasse  todos  os  grupos  neointegralistas  existentes.  A  principal  alternativa  de  reorganização  dos neointegralistas  foi  traçada  somente  no  ano  de  2004,  quando  da  realização  do  “1º  Congresso  Integralista  para  o Século  XXI”,  na  cidade  de  São  Paulo.  Na  ocasião,  estiveram  presentes  diversos  representantes  de  grupos neointegralistas,  assim  como  de  outros  grupos  simpatizantes  da  extrema­direita  do  período,  como  a  TFP,  a  União Nacionalista Democrática, a União Católica Democrática, entre outros. Na ocasião do evento, que contou inclusive com a participação de Anésio Lara, fora decidida a criação do Movimento Integralista  Brasileiro  (MIB),  que  sucederia  os  diversos  grupos  então  existentes,  e  proporcionaria  uma  articulação concreta  de  reorganização  conjunta  e  uníssona  dos  neointegralistas.  Na  reunião,  fora  escolhido  o  nome  (MIB), redigido os estatutos e assinada a ata da criação da organização. No entanto, quando tentaram registrar a sigla em cartório,  descobriu­se  que  esta  já  havia  sido  registrada  anos  antes,  justamente  por  Anésio  Lara,  que  não  havia mencionado a questão no evento. Desta maneira, todos os esforços para união entre os grupos neointegralistas teve não somente um resultado pouco satisfatório, como acabou por gerar diversas dissidências entre o fracassado MIB. Se, desde o primeiro momento dos grupos  neointegralistas,  a  organização  partidária  era  uma  possibilidade  remota,  quase  inviável,  após  tal  episódio tornara­se  ainda  mais  distante.  A  partir  de  2004,  houve  o  surgimento  de  três  grupos  neointegralistas  que reivindicam  para  si  o  postulado  da  legítima  herança  do  integralismo  de  Plínio  Salgado  (sobretudo  dos  anos  1930), que  são  a  Frente  Integralista  Brasileira  (FIB),  o  Movimento  Integralista  e  Linearista  Brasileiro  (MIL­B)  e  a  Ação Integralista Revolucionária (AIR). Tais  grupos  divergem  sobre  vários  aspectos  na  visão  sobre  o  integralismo  histórico  e  as  possibilidades  de organização político partidária. A Frente Integralista Brasileira busca manter o espírito do integralismo dos anos 1930 de  maneira  quase  intacta,  tanto  na  utilização  de  elementos  simbólicos  e  doutrinários,  quando  da  possibilidade  de atualização  da  doutrina  integralista.  São  contrário  à  qualquer  crítica  ao  arcabouço  doutrinários  dos  camisas­verdes

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O Neointegralismo e a questão da organização partidária

atualização  da  doutrina  integralista.  São  contrário  à  qualquer  crítica  ao  arcabouço  doutrinários  dos  camisas­verdes em sua primeira fase, assim como buscam desqualificar as iniciativas reformadoras. Sobre o aspecto partidário, não se  posicionam  contrários  à  uma  futura  investida  neste  âmbito,  mas  este  é  provavelmente  uma  das  menores reivindicações da FIB.  No  entanto,  no  âmbito  partidário  a  FIB  foi,  dentre  os  grupos  neointegralistas  analisados,  que  estabeleceu  contato mais  próximos  com  partidos  políticos,  especificamente  o  Partido  de  Reedificação  da  Ordem  Nacional  (PRONA), fundado por Enéas Ferreira Carneiro, que, de acordo com Victor (2004), chegou inclusive a manifestar apreço pelos integralistas  (“Todos  os  nacionalistas  amam  igualmente    seu  país”),  em  entrevista  veiculado  no  jornal  New  York Times. Não por acaso, a Frente Integralista Brasileira chegou a direcionar os votos de seus militantes para o PRONA, tido  como  “única  legenda  digna  de  votos  pelos  brasileiros  conscientes”  1,  ao  fato  que  o  PRONA  teria  absorvido grande parte dos ideais sociais e nacionalistas do integralismo. O Movimento Integralista e Linearista Brasileiro que é pautado pela busca da atualização da ideologia integralista dos anos  1930  para  bases  científicas  e  filosóficas  da  atualidade  (que  resultaria  no  que  o  grupo  chama  de  filosofia linearista), tem uma posição bastante crítica aos partidos políticos e a liberal democracia como um todo. Partindo de uma linha de análise próxima de autores integralistas e antissemitas como Gustavo Barroso, o MIL­B afirma que a democracia é nada mais que uma farsa gerada por um complô de dominação mundial, para escravização dos países e a manutenção da opressão sobre os povos. O discurso deste grupo neointegralista evidencia, vez ou outra, o forte elemento  antissemita  deste  discurso,  que  praticamente  reduz  o  panorama  político  a  uma  criação  judaica  de escravização dos povos. Já  a  Ação  Integralista  Revolucionária  tem  uma  visão  extremamente  crítica  não  somente  referente  ao  sistema partidário como um todo, mas inclusive perante algumas deliberações do integralismo de Plínio Salgado e da AIB dos anos 1930. Na concepção de Jenyberto Pizotti, criador e chefe da AIR, o seu suposto conhecimento sobre a ideologia integralista  condicionaria­o  a  perceber  erros  da  militância  não  somente  da  atualidade  (sobretudo  da  fragmentação, que  seria  solucionada  por  sua  liderança  total),  como  do  integralismo  histórico.  Para  Pizotti,  as  deliberações  dos integralistas  (e  sobretudo  de  Salgado)  em  1935,  que  transformaram  o  movimento,  que  até  então  tinha  caráter cívico­cultural,  em  partido  político,  acabaram  por  “legitimar”  a  atitude  de  Getúlio  Vargas,  ao  colocar  a  AIB  na ilegalidade. Para  o  chefe  da  AIR,  o  integralismo  em  sua  essência  seria  encontrado  no  período  de  1932  a  1935,  quando  não estaria  limitado,  condicionado  e  contaminado  pelo  jogo  de  interesses  dos  partidos  políticos.  Seria  portanto,  na perspectiva  inicial  do  integralismo,  de  uma  revolução  interior,  de  costumes,  espiritualistas,  que  estaria  o  caminho ideal  de  atuação  do  integralismo,  tanto  do  início  do  Século  XX,  quanto  para  o  desenrolar  do  Século  XXI.  Eis, portanto, a necessidade de uma ação integralista revolucionária. As disputas internas entre os neointegralistas, referentes à qual grupo seria o legítimo herdeiro do integralismo após a  morte  de  Plínio  Salgado  e  também  no  Século  XXI  explicam,  em  parte,  a  desvinculação  e  a  não  efetivação  de projetos políticos partidários para o integralismo pós PRP.  No  entanto,  é  necessário  levar  também  em  conta  diversos  aspectos  do  panorama  político  nacional  e  internacional, que  se  consolidaram  como  entraves  iniciais  (e  que  merecem  uma  atenção  futura,  mais  detalhada)  para  esta configuração. Sob um primeiro aspecto, há de ser ressaltado toda a significação que as tendências políticas fascistas tiveram no pós­guerra. Se, por um lado, no início do Século XX, o fascismo despontava como uma nova perspectiva para a direita mundial, após a Segunda Guerra Mundial, o fascismo foi tomado, com razão, como uma das causas de inúmeros conflitos e atos arbitrários de diversos países e militantes, não somente daqueles diretamente envoltos nos conflitos bélicos. Há de se compreender, portanto, a recepção de setores da sociedade, sobretudo político, que leva movimentos neofascistas, como os neointegralistas, como a síntese de um atraso ideológico, permeado por ambições anacrônicas. Em outro sentido, é inevitável a constatação que, desde o fim da Segunda Guerra Mundial e também da Guerra Fria, o panorama político, partidário e das relações internacionais possibilitou – e determinou – o surgimento de diversas práticas e representações políticas que buscam inserir novos debates no cerne das propostas políticas, buscando um maior compreensão do objetivos e limitações dos partidos políticos no Século XXI. Desta maneira, ainda que muitos partidos  políticos  utilizem  elementos  ideológicos  oriundos  de  movimento  fascistas  ou  neofascistas  (como  o ultranacionalismo, ou mesmo apelos estéticos, ideológicos e discursivos), a possibilidade de alguns destes partidos e movimentos  políticos  serem  relacionados  a  algumas  das  diversas  formas  de  fascismo  pode  gerar  um  entrave  às ambições  destes,  tornando,  portanto,  necessário  um  distanciamento  oficial,  ainda  que  as  similaridades  estejam evidentes  em  vários  momentos,  sob  diversos  aspectos,  mas  auxiliando,  ainda  assim,  a  não  ocorrência,  até  dado momento, de um novo partido integralista na política nacional.

Notas 1. A Frente Integralista Brasileira: O Integralismo em defesa do Brasil. Disponível em: (acesso em 14 jun. de 2011).  A relação do PRONA com grupos neointegralistas e outras organizações merece pesquisas aprofundadas, e pretende­ se fazê­lo num futuro próximo.   Referências bibliográficas CALIL, Gilberto Grassi. Integralismo e Hegemonia Burguesa: a intervenção do PRP na política brasileira (1945­1965). Cascavel: Edunioeste, 2010. CARNEIRO, Márcia Regina da Silva Ramos. Do sigma ao sigma – entre a anta, a águia, o leão e o galo – a construção de memórias integralistas. Tese de doutorado (História) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2007. DREIFUSS, René. O jogo da Direita. Editora Vozes: Rio de Janeiro, 1989. GRIFFIN,  Roger.  Introduction.  p.22.  In:  BLAMIRES,  Gregory  (org.).  World  fascism:  a  historical  encyclopedia.  Santa Barbara: ABC Clio Inc., 2006.   LIMA, Delcio Monteiro de. Os Senhores da Direita. Rio de Janeiro: Edições Antares, 1980.   “Os diferentes rostos da direita radical”. Revista Veja, 08 de Abril, 1981

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O Neointegralismo e a questão da organização partidária

“Os diferentes rostos da direita radical”. Revista Veja, 08 de Abril, 1981 SILVA, Hélio. 1938: Terrorismo em Campo Verde. O Ciclo Vargas, Vol. X. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1964. VICTOR,  Rogério  Lustosa.  O  integralismo  nas  águas  do  Lete:  história,  memória  e  esquecimento.  Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2004.   CALDEIRA NETO, Odilon. O Neointegralismo e a questão da organização partidária. Revista Eletrônica Boletim do TEMPO, Ano 6, Nº18, Rio, 2011 [ISSN 1981­3384]

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