O NOVO ANO LETIVO E A VELHA RELAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA

May 24, 2017 | Autor: Márcio Cenati | Categoria: Sentido Del Aprendizaje Escolar, Escola, professores e família
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O NOVO ANO LETIVO E A VELHA RELAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA

Parece clichê falar que estamos em meio a uma mudança de paradigma. Porém, estamos sim. O que está mudando não é apenas a relação econômica, política e social. As relações familiares não estão imunes a constante mudança pela qual passa a sociedade. Como já refletia o filósofo Heráclito: “Nada permanece...”, “...a única permanência é a mudança...” Estamos “condenados” a constância das transformações. É nesse contexto que a família toma novas configurações. Culpar a “falta de estrutura” da família em relação ao acompanhamento do educando e da sua vida escolar já ficou chato e não corresponde totalmente à realidade, ainda mais se considerarmos como família somente aquela tradicional composição: “pai, mãe e filhos”. A família ganhou composições diversas: irmãos de pais diferentes, padrastos, madrastas, avós que criam os netos, pais separados, pais ausentes, filhos adotivos e mais recentemente pais de mesma orientação sexual. O atual modelo de família extrapola a concepção tradicional. Mas, no que isso afeta a relação da família com a escola, com a vida escolar do educando, com as relações sociais da comunidade e a instituição escola? Acredito que a composição familiar “convencional” ou “não-convencional” pouco diz respeito à relação família-escola porque na mesma proporção em que as composições familiares mudaram, houve uma mudança geral no comportamento humano nas últimas décadas. A realidade mais urbana que rural, a apressada vida da cidade, o bombardeio do mercado sobre os desejos humanos, isto é, o ter para ser, o crescente individualismo, a exacerbação dos direitos e o silêncio para com os deveres, dentre outros fatores que tem origem no egocentrismo humano, acabaram por moldar pessoas mais indiferentes em relação ao outro. Mas de quem é então a culpa na ineficaz relação família-escola? Os pais culpam a escola, o Estado culpa os professores e os professores culpam a família. Para essa questão menciono um trecho da música “Toda Forma de Poder” do grupo de rock nacional Engenheiros do Hawaii: “Quem ocupa o trono tem culpa, quem oculta o crime também, quem duvida da vida tem culpa e quem evita a dúvida também tem”. Não interessa se a família é desse tipo ou daquele, o que realmente faria a diferença é o comprometimento dessa família com a vida escolar do educando. As pessoas de hoje estão apáticas, voltadas para dentro de si mesmas, bombardeadas pelo interesse mercadológico, incapazes de se colocarem no lugar do outro, de praticarem a solidariedade e a alteridade. O “eu” tornou-se imperador das vontades. Já vi mãe revoltada com a reunião de pais, pois, “iria perder a novela”. Já vi mãe revoltada, pois, a reunião de pais era apenas uma “entrega de notas” e assinar boletim. O que realmente importa na relação família-escola é uma palavra da qual todos têm medo, e quando digo todos refiro-me a nós professores, equipe de gestão, poder público, pais e educandos. Ah... sim, qual é a palavra? Compromisso. Assim, a transformação da relação escola-família requer o sério compromisso de todos. A mudança na relação família-escola passa antes pela mudança de mentalidade e de atitude de cada um envolvido no processo de ensino-aprendizagem. Preciso me transformar interiormente para transformar aquilo que está a minha volta. Se o professor não muda de atitude porque “dá trabalho”, se o poder público não muda porque não é interessante ter pessoas bem informadas atuando na comunidade, se a escola não muda porque o relacionamento com a comunidade “dá mais trabalho ainda”, se os pais não acompanham a educação dos filhos porque não têm tempo, então todo mundo tem culpa e a educação permanece a mesma num mundo que já não é o mesmo. É uma realidade cruel, pois, adia a oportunidade de tornar esse mundo mais justo do ponto de vista social e econômico, justiça essa que somente poderá vir através de um compromisso concreto de todos com o educando, tendo como objetivo uma verdadeira Educação de qualidade.

Marcio José Cenatti É professor efetivo no Ensino Médio da Rede Estadual de Educação, Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e Licenciado em Filosofia. Publicado no Jornal “Correio Popular” Pag. A2 Campinas, sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

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