O OCASO DO PETRÓLEO E A RUINA DA PETROBRAS

June 13, 2017 | Autor: Fernando Alcoforado | Categoria: Energy Policy, Energy and Environment, Oil and gas, Shale gas
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O OCASO DO PETRÓLEO E A RUINA DA PETROBRAS Fernando Alcoforado* O principal recurso da matriz energética mundial desde a Segunda Revolução Industrial é o petróleo seguido do carvão e do gás natural. No final do século XIX, com a invenção do automóvel com motor de combustão interna, o petróleo passou a ser uma das principais fontes de energia do mundo. Na segunda metade do século XX, com a expansão do meio urbano-industrial e, consequentemente, o crescimento populacional, houve o aumento exponencial da demanda energética. Por se tratar de um produto com alto risco de contaminação, o petróleo provoca graves danos ao meio ambiente pelo fato de emitir gases do efeito estufa e afetar o meio ambiente quando entra em contato com as águas de oceanos e mares ou com a superfície do solo. Vários acidentes ambientais envolvendo vazamento de petróleo (seja de plataformas ou navios cargueiros) já ocorreram nas últimas décadas. Quando ocorre no oceano, as consequências ambientais são drásticas, pois afeta os ecossistemas litorâneos, provocando grande quantidade de mortes entre peixes e outros animais marítimos. A industrialização em vários países no decurso do século XX está marcada pela ascensão do petróleo como a mais importante fonte de energia primária, e dos seus derivados como os mais essenciais combustíveis para os transportes e a produção termoelétrica (gasolina, óleo diesel, óleo combustível e querosene) e essenciais matérias-primas para as petroquímicas (as "naftas", os BTX e vários elementos químicos). O petróleo convencional é aquele de que o mundo afluente vem utilizando desde o princípio do século XX e que na década de 1960 ultrapassou o carvão como principal fonte de energia. Porém, acumula-se a evidência de que a capacidade de produção de petróleo "convencional" está a atingir os seus limites. Situação mais problemática ainda é a dos xistos betuminosos (shale gas). Os recursos de petróleo não convencional são comparáveis com os de petróleo convencional, mas a fração convertível em reservas exploráveis ascende, nas hipóteses otimistas, a não mais que 20% desses recursos e a custos técnicos, econômicos e ambientais substancialmente mais elevados do que os custos do petróleo convencional. O ritmo de descoberta de novas jazidas de petróleo convencional tem diminuído e as grandes jazidas vão escasseando. À escala global, o ritmo de consumo já ultrapassou e vem excedendo, desde 1981 as descobertas de novas províncias petrolíferas. O pico das descobertas à escala mundial ocorreu em 1964. Como o ritmo das descobertas deixou de compensar o ritmo de consumo, o balanço é negativo, e as reservas restantes têm diminuído persistentemente. O "crescimento de reservas", ou seja, a reavaliação em alta das reservas das províncias petrolíferas já conhecidas tem decrescido também, e será no futuro mais reduzido do que no passado. A região do Golfo Pérsico detém a maior fração das reservas de petróleo existentes. A OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) assegura atualmente uma fração próxima de 40% do comércio mundial. A Rússia e a bacia do Cáspio detêm 15% das reservas mundiais de petróleo convencional. A Rússia mais a bacia do Cáspio forneceram em 2001 11% da produção mundial de petróleo convencional. Essa produção poderá aumentar ainda 50%, durante os próximos anos, podendo contribuir então com 15% da produção mundial. Quanto à Europa Ocidental, a província petrolífera do Mar do Norte já ultrapassou a sua produção máxima e entrou em declínio. Descoberta essa província em

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1969, a taxa de descoberta atingiu o seu máximo em 1974 e a taxa de produção o seu apogeu em 2000. A Europa terá agora de importar uma crescente quota de petróleo num mercado mundial incerto. Quanto ao gás natural do Mar do Norte, ele assegura agora 50% do gás natural consumido na União Europeia. Descoberto em 1965, atingiu o máximo de descoberta em 1979 a sua produção atingiu o apogeu em 2005, para entrar depois em declínio também. A Europa depende já, e crescentemente no futuro, do aprovisionamento de gás natural proveniente do Norte de África e da Rússia. A Noruega dispõe ainda de recursos adicionais de hidrocarbonetos no Ártico, particularmente gás natural que permitirá manter e mesmo acrescentar a sua capacidade produtiva, o que atenuará, mas não substituirá a pressão para as importações de fora da Europa Ocidental. Prevê-se que a produção mundial de petróleo convencional iniciará então um declínio irreversível que terá enorme repercussão em todo o mundo. À luz do conhecimento atual, na base dos atuais dados relativos a reservas e a recursos, descobertos e ainda previsivelmente por descobrir, a produção mundial deve ter atingido o seu ponto máximo por volta de 2010. O declínio que se antevê na produção de petróleo convencional resulta do esgotamento de suas reservas, da produção de shale gas, concorrente do petróleo convencional especialmente nos Estados Unidos e da queda na demanda mundial de petróleo convencional, principalmente devido à desaceleração da economia chinesa. A consequência disso tudo é a redução do preço do barril de petróleo convencional que depois de atingir um pico de US$ 115/ barril em junho de 2014 alcançou recentemente US$ 30/ barril. A decisão da OPEP, em novembro de 2014, de não reduzir sua produção a fim de reduzir os preços do barril de petróleo e torná-lo mais competitivo com o shale gas também está pesando sobre o mercado. Em seu relatório, a AIE (Agência Internacional de Energia) informou que a ascensão da produção norteamericana de shale gas é uma das principais responsáveis pelo excesso de oferta no mercado de petróleo. A oferta norte-americana até o momento mostra muito poucas indicações de desaceleração. A produção total dos Estados Unidos atingiu a média de 12,6 milhões de barris diários em fevereiro, ante a média de 11,8 milhões de barris ao dia (b/d) em 2014 (Ver o artigo Preço do petróleo ainda deve sofrer solavancos afirma agência do setor disponível no website ). A expectativa é a de que o preço do barril de petróleo atinja US$ 20/ barril. Enquanto a situação do mercado mundial de petróleo é de crise profunda, a Petrobras se defronta com a necessidade de superar a crise gerada pela incompetência gerencial e pelo assalto de que foi vítima durante 12 anos de governos petistas. A Petrobras chega à pior situação de sua história como a petroleira mais endividada do planeta. A disparada do dólar, que atingiu a maior cotação desde o Plano Real, agravou ainda mais a situação financeira da Petrobras. Diante da alta na cotação do dólar, o endividamento da Petrobras atingiu R$ 513 bilhões ao final de setembro. Com mais de 70% de sua dívida em moeda estrangeira, a Petrobras ficou extremamente vulnerável à variação cambial. A explosão da dívida da Petrobras decorre da ingerência política na estatal que, para conter a inflação o governo Dilma Rousseff, impediu o reajuste no preço dos combustíveis. Entre 2011 e o meados de 2014, enquanto o consumo de gasolina e diesel crescia e o preço internacional do petróleo subia, a Petrobras era obrigada a importar combustíveis para atender o mercado interno, mas tinha de revendê-los aqui a um preço 2

mais baixo gerando prejuízos. Para manter investimentos, a Petrobras recorreu a crédito externo. Entre outubro de 2014 e fevereiro de 2015, a Petrobras perdeu mais de 60% de seu valor de mercado. Embora a perda também tenha sido influenciada pela queda global no preço do barril de petróleo, ela foi mais acentuada do que a de outras empresas do gênero por causa da corrupção revelada pela operação Lava Jato. O endividamento é a principal questão da Petrobras há muito tempo e só tem uma solução, que é o aumento de capital. Diante do descalabro administrativo da Petrobras e da queda de seu valor de mercado, trata-se de uma tarefa difícil atrair interessados em investir na Petrobras, haja vista que investidores privados teriam muito receio de colocar mais recursos na empresa com esse histórico de ingerência política, corrupção e crescente endividamento. O próprio governo federal não poderia aumentar sua participação acionária na Petrobras porque está extremamente endividado e com uma situação fiscal difícil. O ocaso do petróleo no mercado mundial e a crise que afeta a Petrobras colocam na ordem do dia a necessidade de repensar os investimentos na exploração do petróleo na camada pré-sal. Há dois grandes problemas da Petrobras em relação ao pré-sal: o primeiro é sua viabilidade econômica num cenário de baixa dos preços do petróleo, já que a extração das reservas do pré-sal é tecnologicamente complexa e cara. Com a perspectiva de que o preço do barril de petróleo caia ainda mais para US$ 20/barril, a viabilidade do Pré-sal seria colocada em xeque haja vista que, segundo a Petrobras, sua exploração só seria viável com a cotação do barril de petróleo em US$ 45/ barril. O segundo resulta do fato de que as denúncias de corrupção e a situação administrativa da empresa dificultarão a captação de recursos para o financiamento dos projetos. Além de protelar ou abandonar os investimentos na exploração do Pré-sal, a Petrobras deveria promover desinvestimentos para fazer frente à gigantesca dívida por ela contraída e salvar a empresa da bancarrota. * Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).

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