O Palácio Enciclopédico 55ª edição da Bienal de Veneza

July 22, 2017 | Autor: A. da Silva Retto... | Categoria: Bienal de Veneza
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como citar RETTO JUNIOR, Adalberto da Silva. O Palácio Enciclopédico. 55ª edição da Bienal de Veneza. Arquiteturismo, São Paulo, ano 07, n. 076.01, Vitruvius, jun. 2013 . A Breath do escultor Marc Quinn atualmente instalada na ilha de San Giorgio, compõe o ponto distal do cenário da Praça de San Marco da República Sereníssima e presentifica outro tempo na composição lagunar. Ao afirmar a axialidade da Torre do Relógio, propicia uma dilatação do ponto de fuga a partir do olhar em diagonal à esquerda, ao mesmo tempo em que aponta na direção dos Giardini, palco central da 55ª Bienal de Arte. Apresentada pela primeira vez na abertura dos Jogos Paraolímpicos, em Londres, e inspirada na história real de Alison Lapper, que apesar de suas condições físicas, levou adiante sua gravidez dando à luz um filho sadio, anuncia uma experiência estética inquietante, quase repulsiva quando comparada às pinturas da Veneza de Canalletto ou na cena Palladiana. Il Bacino Afinal, como frisa Manfredo Tafuri, a área marciana não se limita ao perímetro da Piazza di San Marco. di SanEla se alarga a todo o perímetro “del bacino di San Marco”, cuore pulsante do porto de Veneza. É por Marco isso, que em torno ao baricentro do Molo com as duas colunas constitui-se em algumas décadas um de fundo arquitetônico com a realização de três obras realizadas por Andrea Palladio: San Giorgio Maggiore Antonio Canaletto, (1565-1610), ao lado do qual a escultura Breath está localizada, Zitelle, Basilica del Santissimo c. Redentore e, sucessivamente a construção da Basílica di Santa Maria de la  Salute e a Dogana: todos 1733 foram concebidos como fragmentos de uma cena que tem como ponto de vista o Molo entre as duas Reprodução

colunas. A Biennale di Venezia possui um calendário amplo que, resgata em certa medida, o clima da cidade dos mercadores, navegadores e exploradores do Ocidente e do Oriente, decantado por Shakespeare na célebre obra Il Mercante di Venezia: de 01 de junho a 24 de novembro – Bienal de Arte; de 28 a 30 de junho – Bienal de Dança; de 01 a 11 de agosto – Bienal do Teatro; de 28 de agosto a 07 de setembro – Bienal do Cinema; e de 04 a 14 de outubro – Bienal de Música. Mapa de Apesar das duas mostras principais da Bienal de Arte de 2013 se localizarem nos Giardini e Veneza Arsenale/Corderie, outras mostras reconfiguram espaços sacros, públicos e privados da cidade, Google Maps reafirmando sua real dimensão, como uma obra de arte viva – a venere strappata al mare. Logo da A 55ª edição tem por tema Il Palazzo Enciclopedico, curada por Massimiliano Gioni: uma 55ª Bienal“mostra-pesquisa”, nas palavras do curador. A proposta da curadoria, como evocado no título, de inspira-se na obra de Marino Auriti, que, em 1955, propôs o projeto de um Palácio Enciclopédico: um Arte: museu que não foi construído, mas que deveria conter todos os saberes da humanidade, com 136 Il andares e 700 metros de altura, ocupando uma área de aproximadamente 16 quadras da cidade de Palazzo Enciclopedico Washington. Bienal de AO Veneza maquete Page 1Livro ofA 3 maquete

do museu abre a Mostra Internacional do Arsenale, e na entrada principal, pelo06:55:52PM Giardini MDT May 06, 2015

http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/07.076/4782 maquete Livro A maquete do museu abre a Mostra Internacional do Arsenale, e na entrada principal, pelo Giardini Vermelho do Palazzo dedela Biennale, o curador apresenta o livro vermelho de Carl Gustav Jung: um manuscrito ilustrado, Enciclopedico Carlno qual, o célebre psicólogo trabalhou por 16 anos. As duas entradas – Um livro e um Desenho – Gustav na neste ensaio se configuram em dois percursos complementares e sem hierarquias: percurso 01 55ª Jung Giardini e percurso 02 Arsenale, e transformam-se em motes para discussão da condição da arte Bienal Foto Adalberto de contemporânea: de um lado, a necessidade de sistematização e catalogação enciclopédica do Arte Retto de Jrconhecimento humano, a partir de um museu; e do outro, as portas do imaginário interior e do sonho, protagonizados pelo livro de Jung, apresentado pela primeira vez na Itália. Veneza 2013 Bienal Percurso 01: de Embora o desenho de Auriti remontar formalmente os arquitetos revolucionários da Académie Royale Veneza Planta

d’Architecture, nos anos de 1780, onde o museu foi pensado pela primeira vez como projeto, na dos Giardini perspectiva utilitarista das Luzes, o clima do pós-guerra, no qual o museu foi concebido, torna-se uma dela chave interpretativa relevante para a problemática colocada pela curadoria: nos anos de 1950, tempos de Biennale reconstrução após a guerra, é também, o momento da redefinição do papel dos museus, da restauração Veneza Desenho e reestruturação de coleções e obras, entre outros. Taís Schiavon Percurso 02:Como também, são os anos que paulatinamente firmou-se uma ruptura conceitual no campo Planta domuseológico com a criação dos primeiros de arte moderna, através dos arquitetos da vanguarda (Museu para uma pequena cidade 1942-1943 do arquiteto Ludwig Mies van der Rohe, Museu Guggenheim de Arsenale-Corderie Veneza New York 1943-1959 do arquiteto Frank Lloyd, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro 1953-1958 e Desenho 1967-1968 do arquiteto Affonso Eduardo Reidy, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo Assis Taís Chateaubriand 1956-1968 da arquiteta Lina Bo Bardi) que definitivamente rechaçaram a ideia do museu Schiavon historicista, propondo uma profunda modificação em sua fisionomia e função. Além de seu Mundaneum de 1929, Le Corbusier desenvolveu entre 1930 e 1939 o projeto de uma machine à exposer: le musée à croissance illimitée. Sala deO Livro e a Maquete do Projeto de Auriti, quando cruzados com as outras obras do ambiente entrada dogeometricamente estruturado por meio de círculos das duas entradas, seja pelas páginas soltas, expostas em um ambiente sombrio envolvendo o livro de Jung, ou através das fotos dos penteados de Percurso 01negras africanas, no caso do segundo percurso, conduzem-nos a um ambiente conflituoso que, com – exercício de imaginação, faz emergir a figura do Labirinto acionando historicamente o mundo arcaico, o Giardini clássico, e a condição da arte contemporânea, na tentativa de construir “a imagem de um mundo, quando dela Biennale ele mesmo é feito de imagens”. Foto Adalberto Sala Retto deAfinal, desde os primórdios, o Labirinto foi um dispositivo construído para confundir, colocar à prova, Jr entrada doproduzir o desaparecimento e o encantamento. Todavia, reduzindo-o ao desenho geométrico, que carrega intrinsecamente a ideia de um espiral, como também a representação do espaço no plano, ele Percurso 02expressa o nascimento da planta como descrição e representação do mundo. – Arsenale e O Labirinto é a primeira arquitetura complexa que organiza um lugar circunscrito, separando-o Corderie intencionalmente da referência com o espaço circundante. O edifício construído por Minosse, para Foto esconder o Minotauro, é um grande interior fragmentado por corredores e percursos, que rejeita o olhar Adalberto do todo, e constantemente reporta a atenção sobre o lugar em que se está. Retto Jr Minotauro noMas, labirinto,

se as tramas construídas pela curadoria, em um primeiro momento, nos remete à figura do

pintura Labirinto, Page 2 of 3

a verticalidade de Babel explicitada na obra de Auriti, que se contrapõe à May extrema 06, 2015 06:55:52PM MDT

http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/07.076/4782 pintura Labirinto, a verticalidade de Babel explicitada na obra de Auriti, que se contrapõe à extrema da horizontalidade do Labirinto, permite a amplificação da tensão das duas primeiras salas das entradas,  Catedral deintensificando o diálogo entre constructo mental e individualidade extrema na construção dos penteados Chartres, das negras; entre natureza e artifício; entre a força da razão das instituições e aquelas obscuras e século irracionais do mundo subterrâneo, retratado nas páginas de Jung. XV Reprodução

Afinal, o fio de Ariadne reúne cruzamentos explorados e conhecidos; torna-se uma conexão de pontos nodais, como um traçado que visualiza o percurso, mas que também, assegura um retorno. Na sua desordem, nos perdemos como em uma floresta, e sua travessia, torna-se um desafio, um rito misterioso e uma experiência iniciática.

Torre deVale ressaltar também que, o Labirinto não é resultado do caos, nem sinônimo de desordem, mas sim, de Babel, uma ordem superior, de um sistema complexo cujas regras subliminares, escapam do desvelamento do pintura detodo. O ciclo irrestringível da vida e a sua estabilidade eram regidas sobre essas duas realidades, sobre a pintor sua indivisível unidade. holandês anônimo, Assim, perder-se na desordem, aceitá-la passivamente ou procurar na confusão um sentido, uma século XVIestrutura submersa em grau de orientar a arte, eis o papel assumido por Ariadne, e talvez, seja esse o Reprodução

mote para pensarmos, a partir dessa bienal, o papel da arte contemporânea.

sobre o autor Adalberto da Silva Retto Júnior é professor de Desenho Urbano e História do Urbanismo na Universidade Estadual Paulista – Unesp Bauru e Visting Schoolar do Programa Erasmus Mundus Sorbonne I (Paris, Evora, Pádua). Doutor pela USP/IUAV de Veneza e Pós Doutorado no Doutorado de Excelência do IUAV de Veneza.

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