O Paleolítico no Vale do Lis

EstóriasdanossaHistória Ricardo Charters d'Azcvcdo

o Paleolítico no Vale do Lis I Têm-se encontrado vestígios paleoantropológicos na região do Oeste de Portugal, como, por exemplo, um fóssil de .um crânio humano de 400 mil anos encontrado na Gruta da Aroeira, no complexo arqueológico do Almonda, em Torres Novas, ou um esqueleto infantil no Vale do Lapedo [Leiria], achado em 1998, aqui tão perto de Leiria, datado de há cerca de 30 mil anos. Este continua a ser o fóssil mais completo alguma vez encontrado em Portugal. Sabemos que a ocupação da bacia hidrográfica do rio Lis pelo homem remonta ao Paleolítico Inferior, período durante o qual ele terá chegado pela primeira vez ao atual território português. Os vestígios da sua presença nesta região encontram-se há muito . devidamente documentados, pela descoberta de inúmeros utensílios líticos, quase sempre elaborados a partir do talhe intencional de seixos rolados de quartzite e de quartzo, com as quais desempenhava boa parte das atividades inerentes à economia de caça e recoleção, em que se baseava a sua subsistência. O Prof. Manuel Heleno fez há alguns anos uma recolha de achados na área do vale do Lis, mas o espólio permanece ainda em grande parte inédito no Museu Nacional de Arqueologia, sendo hoje dificil identificar os locais exatos onde foram recolhidos, por muito que oportunisticamente a Oficina de Arqueologia da CMLeiria nos aponte alguns locais. Por outro lado, é reconhecido que muitos dos artefactos reunidos poderiam ter vindo de estações

\Jomal de Leiria 13 de Abril de 2017

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"Estas e outras peçasencontram-se

inexpUcavelmente ainda emUsboa.no Museu de Arqueologia e bemgostaría-

mos que viessem para o nosso Museu deLelria"

Biface com dorso.

Biface amigdalóide

típico.

mais a nascente como a do Quinta do Cônego/Pousias. Sabemos que o facto de dois ou mais objetos talhados terem sido encontrados numa determinada camada estratigráfica de um terraço fluvial, por exemplo, não permite deduzir a sua contemporaneidade, já que eles podem ter sido arrastados de locais diferentes pela própria dinâmica de formação do respetivo depósito geológico, como qualquer arqueólogo sabe. Se ainda considerarmos que nós últimos 50 anos os processos de movimentação de terras para a

agricultura foram muito agressivos pelo uso de maquinaria, poderá concluir-se que muito do que se descobrir não poderá ser convenientemente datado ou situado. Mostramos nos desenhos anexos peças que foram encontradas, ao que se diz, na Quinta de Vale de Lobos junto à estrada que liga Leiria às Cortes, e que foram publicados por Cunha Ribeiro nas atas do "lI Colóquio sobre a História de Leiria e a sua Região", em 1995. Estas e outras peças encontram-se inexplicavelmente ainda em Lisboa, no Museu de Arqueologia e bem gostaríamos que viessem para o nosso Museu de Leiria. E já agora acompanhadas pelas ossadas descobertas na Praça Rodrigues Lobo, quando lá se fizeram umas obras. Tratando-se de materiais que não são "monumento nacional" (como o é o "menino do Lapedo") podemos reivindicar a sua transferência. Deveríamos igualmente exigir que o Município receba a cópia dos relatórios que foram então elaborados. Não os "projetos de relatório", mas os relatórios finais, que foram elaborados pelas empresas de arqueologia/arqueólogos, pois foram pagos para os fazer com dinheiros públicos. Em muitos casos, como o do espólio reunido aquando das escavações realizadas no largo Rodrigues Lobo há dez anos, o Município de Leiria pagou os trabalhos e nem o espólio está em Leiria nem os relatórios finais existem! Só nos mostram relatórios preliminares! O leiriense gostaria naturalmente de conhecer quem eram os seus antepassados que foram enterrados junto da antiga igreja de São Martinho. Texto escrito de acordo com a nova ortografia